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Direito do Trabalho I (Dia)

Exame – Época de Coincidências


22 de janeiro de 2018 – 09h00 – Duração: 2h00

O Hotel A integra a Associação de Empresas de Hotelaria e Turismo do Distrito de Lisboa


(AEHTL), que celebrou com o Sindicado dos Profissionais de Hotelaria e Turismo (SPHT)
uma convenção coletiva nos termos da qual se dispunha que os trabalhadores
abrangidos por aquele instrumento teriam direito a 21 dias úteis de férias por ano.
Em 1 de março de 2017, o Hotel A acordou oralmente com Bernardo, sindicalizado no
SPHT, a celebração de um contrato de trabalho a termo certo, para o exercício das
funções de rececionista, por um período de seis meses, uma vez que o Hotel A pretendia
avaliar se Bernardo tinha de facto as competências necessárias para o exercício da
função.
Em setembro de 2017, Bernardo foi condenado, num processo crime iniciado em 2016,
a uma pena de prisão efetiva de seis meses pela prática do crime de condução com
álcool, tendo deixado de comparecer ao serviço quando iniciou o cumprimento da pena.
Em outubro de 2017, Carlos, proprietário do Hotel A, decidiu trespassá-lo, comunicando
a todos os trabalhadores que o novo proprietário pretendia admitir uma nova equipa e
que, por esse motivo, os contratos de trabalho cessariam por ocasião do trespasse.
Inconformado, Daniel, trabalhador do Hotel A, enviou ao jornal local um email no qual
afirmava que o hotel de Carlos não cumpria quaisquer regras de higiene e que utilizava
produtos depois de esgotado o respetivo prazo de validade, tendo o jornal publicado
uma extensa notícia sobre o assunto.
Enquanto isso, a empresa que pretendia adquirir o hotel de Carlos iniciou um processo
de recrutamento para cozinheiros, tendo Francisco apresentado a sua candidatura. Na
entrevista, Francisco foi questionado acerca da sua confissão religiosa. Tendo afirmado
ser católico, foi excluído do processo de recrutamento, com o fundamento de que o
hotel passaria a servir apenas comida árabe.

1. Caracterize a convenção coletiva celebrada entre a AEHTL e o SPHT e pronuncie-


se sobre a licitude da respetiva cláusula e a sua aplicabilidade ao contrato de
trabalho celebrado entre o Hotel A e Bernardo. 4 valores
2. Pronuncie-se sobre a validade do contrato de trabalho a termo certo celebrado
entre o Hotel A e Bernardo. 3 valores
3. Como qualifica as faltas dadas por Bernardo em virtude do cumprimento da
pena de prisão? 2,5 valores
4. Poderiam os contratos de trabalho cessar em consequência do trespasse do
hotel A? 3 valores
5. Pronuncie-se sobre a conduta adotada por Daniel. 2,5 valores
6. Pronuncie-se sobre a licitude da exclusão de Francisco do processo de
recrutamento, considerando o motivo invocado. 3 valores

Ponderação global: 2 valores


Direito do Trabalho I (Dia)
Exame – Época de Coincidências
22 de janeiro de 2018 – 09h00 – Duração: 2h00
Tópicos de Correção

1. Análise da convenção coletiva em causa (contrato coletivo) e sua definição (art.


2.º/1, 2 e 3, al. a), do CT).
Análise da relação entre IRCT e lei. Conclusão pela invalidade da cláusula, em
face do disposto no art. 3.º/3, al. h), do CT, que apenas permite o afastamento
das normas legais sobre a duração mínima do período anual de férias (art.
238.º/1 do CT) por IRCT que disponha em sentido mais favorável aos
trabalhadores.
Princípio da filiação – art. 496.º do CT – e conclusão pela aplicação do contrato
coletivo ao trabalhador, filiado no sindicato outorgante e trabalhador de uma
empresa filiada na associação de empregadores outorgante.

2. Análise dos requisitos de admissibilidade da celebração de contrato a termo,


designadamente, a existência de uma necessidade temporária da empresa – art.
140.º/1 e 2, para o termo certo – e exceções previstas no art. 140.º/4 (não
aplicáveis ao caso).
Preterição da forma e formalidades previstos no art. 141.º do CT.
Consequências: nos termos do art. 147.º/1, b) e c), o contrato considera-se
celebrado sem termo.
Alusão ao período experimental (arts. 111.º ss) como período destinado à análise
do interesse das partes na manutenção do contrato.

3. Conceito de falta (art. 248.º/1 do CT) e violação do dever de assiduidade (art.


128.º/1, b) do CT).
Conceito de faltas justificadas e injustificadas e suas consequências.
Análise do conceito de “impossibilidade de prestar trabalho devido a facto não
imputável ao trabalhador, nomeadamente […] cumprimento de obrigação legal”
referido no art. 249.º/2, d) do CT e sua eventual aplicação ao caso vertente.

4. Conceito de transmissão de estabelecimento.


Análise dos efeitos da transmissão do hotel nos contratos de trabalho dos
trabalhadores – art. 285.º do CT e transmissão automática dos contratos de
trabalho para o adquirente.
Referência à imperatividade do regime.
Responsabilidade solidária do adquirente e alienante pelas responsabilidades
emergentes dos contratos de trabalho nos termos do art. 285.º/2 do CT.

5. Enquadramento da conduta adotada como eventual violação do dever de

Ponderação global: 2 valores


Direito do Trabalho I (Dia)
Exame – Época de Coincidências
22 de janeiro de 2018 – 09h00 – Duração: 2h00
lealdade (art. 128.º/1, f) do CT).
Ponderação deste dever com a liberdade de expressão do trabalhador (art. 14.º
do CT) e relevância do interesse de terceiros na divulgação da informação.

6. Ilicitude da pergunta colocada na entrevista – informação incluída na esfera


íntima do trabalhador.
Requisitos previstos no art. 17.º/1, al. a) – a informação solicitada não seria
necessária nem relevante para avaliar da aptidão para a execução do contrato.
Discriminação no acesso ao emprego – art. 24.º/1, e 2, al. a) do CT.

Ponderação global: 2 valores


Direito do Trabalho I (Dia)
Exame – Época de Recurso – TÓPICOS DE CORREÇÃO
14 de fevereiro de 2018 – 09h00 – Duração: 2h00

Em junho de 2017 foi publicada uma convenção coletiva celebrada entre a


Associação de Restaurantes de Portugal (ARP) e o Sindicato dos Trabalhadores de
Restauração (STR), nos termos da qual, entre outras cláusulas, foi estabelecido que:
a) Não pode ser celebrado contrato de trabalho a termo certo por período
inferior a seis meses;
b) Presume-se a existência de contrato de trabalho sempre que a atividade seja
realizada em local pertencente ao beneficiário e o prestador receba,
periodicamente, uma quantia certa como contrapartida da sua atividade;
c) A transferência temporária, prevista no artigo 194.º do Código do Trabalho,
não pode exceder um ano.
No início de julho de 2017, Ana, empregada de mesa do Restaurante Barriga
Cheia, membro da ARP, informou Bento, gerente, que estava grávida, prevendo-se o
nascimento no final de agosto e que iria usufruir de licença parental de 150 dias.
Indignado, Bento considerou que não foi avisado a tempo, pelo que, quanto muito,
apenas poderia gozar 120 dias de licença parental, alertando ainda Ana que cometera
uma infração disciplinar ao esconder a gravidez.
Em 1.8.2017, o Restaurante Barriga Cheia celebrou com Catarina um contrato
de trabalho a termo certo, por cinco meses, com início imediato, para substituir Ana,
tendo invocado como fundamento na minuta do contrato o seguinte: “substituição de
trabalhadora em licença parental”. Em meados de novembro, Catarina filiou-se no STR
e considera que, por esse motivo, o seu contrato apenas irá cessar em 31.1.2018.
Em outubro de 2017 o Restaurante Barriga Cheia emitiu um regulamento
interno no qual estabeleceu que podia exigir a prestação de 2h adicionais de trabalho,
para além das 9h diárias prestadas por todos os trabalhadores, desde que o fizesse com
48h de antecedência, sendo essas horas pagas com um acréscimo de 20%. Daniel,
trabalhador do Restaurante Barriga Cheia, enviou um email a Bento, informando que
não estava disponível para esta prestação adicional.
Responda às seguintes questões autónomas:

1. Caracterize a convenção coletiva e pronuncie-se sobre a validade das respetivas


cláusulas. 5 valores
2. Terá Bento razão em relação ao comportamento de Ana? 3 valores
3. Aprecie a validade do contrato celebrado entre o Restaurante Barriga Cheia e
Catarina. 3 valores
4. Pronuncie-se sobre os efeitos da filiação de Catarina e aprecie o vínculo
contratual desta com o Restaurante Barriga Cheia, atendendo a que,
atualmente, Catarina se mantém ao serviço. 3 valores
5. Aprecie a situação referente ao período normal de trabalho dos trabalhadores
do restaurante e indique quantas horas de trabalho diárias está Daniel obrigado
a realizar. 4 valores

Ponderação global: 2 valores


Direito do Trabalho I (Dia)
Exame – Época de Recurso – TÓPICOS DE CORREÇÃO
14 de fevereiro de 2018 – 09h00 – Duração: 2h00

1. Caracterize a convenção coletiva e pronuncie-se sobre a validade das respetivas


cláusulas. 5 valores
Identificação da fonte específica de Direito do Trabalho (artigo 1.º CT e artigo
56.º, n.º 3, da Constituição). Caracterização (artigo 2.º, n.º 1 e n.º 3, alínea a), do
CT; convenção coletiva vertical). Determinação dos âmbitos de aplicação no caso
concreto (âmbito pessoal – artigo 496.º, n.º 1; âmbito temporal – artigo 499.º;
âmbitos geográfico e material – artigo 492.º, n.º 1, alínea c), do CT).
Relação entre fontes: aplicação e explicitação dos artigos 3.º, n.º 1 e n.º 3 e 478.º,
n.º 1, alínea a), do CT.
Admissibilidade da cláusula a), com fundamento no artigo 3.º, n.º 1 e no artigo
139.º, do CT; referência ao contrato a termo como exceção ao artigo 53.º da
Constituição.
Problematização da admissibilidade de uma presunção de qualificação num
IRCT; referência à norma como contendo ou não uma verdadeira presunção.
Relativamente à cláusula c), explicitação do princípio da inamovibilidade – artigo
129.º, n.º 1, alínea f), do CT – e da possibilidade de afastamento por IRCT – artigo
194.º, n.º 3 e n.º 6, do CT.

2. Terá Bento razão em relação ao comportamento de Ana? 3 valores


Reserva da vida privada e respetiva proteção constitucional e legal (artigos 26.º
e 36.º da Constituição e artigos 16.º e 17.º do CT); articulação com os deveres de
informação na vigência do contrato previstos no artigo 109.º, n.º 3, do CT e com
o artigo 36.º, n.º 2, do CT. Problematização acerca da relevância da alteração,
com base no princípio da boa fé (artigo 126.º do CT).
Em todo o caso, direito da trabalhadora a gozar a licença parental inicial (artigo
40.º do CT).

3. Aprecie a validade do contrato celebrado entre o Restaurante Barriga Cheia e


Catarina. 3 valores
Contrato a termo resolutivo enquanto exceção ao princípio da segurança no
emprego; artigo 53.º da Constituição e artigos 139.º e seguintes do CT.
Aplicação dos pressupostos materiais (artigo 140.º, n.º 1, n.º 2, alínea a) e n.º 5,
do CT) e dos pressupostos formais (artigo 141.º, em especial o n.º 3, quanto à
insuficiência na explicitação do motivo com a consequente aplicação do artigo
147.º, n.º 1, alínea c), do CT).

Ponderação global: 2 valores


Direito do Trabalho I (Dia)
Exame – Época de Recurso – TÓPICOS DE CORREÇÃO
14 de fevereiro de 2018 – 09h00 – Duração: 2h00

4. Pronuncie-se sobre os efeitos da filiação de Catarina e aprecie o vínculo


contratual desta com o Restaurante Barriga Cheia, atendendo a que,
atualmente, Catarina se mantém ao serviço. 3 valores
Explicitação do Princípio da Filiação – artigo 496.º, n.º 1 e n.º 3, do CT – e
problema da aplicação no tempo da convenção. Artigo 13.º do CC e artigo 7.º,
n.º 1, da Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro.
Não aplicabilidade do artigo 149.º do CT, atendendo à invalidade e conversão
em contrato sem termo.

5. Aprecie a situação referente ao período normal de trabalho dos trabalhadores


do restaurante e indique quantas horas de trabalho diárias está Daniel obrigado
a realizar. 4 valores
Imposição de limites à duração do trabalho – artigo 59.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2,
alínea b), da Constituição, em articulação com a Diretiva 2003/88/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de novembro de 2003, relativa a
determinados aspetos da organização do tempo de trabalho.
Artigo 203.º, n.º 1, do CT: consequências da inobservância dos limites ao PNT;
discussão acerca do valor da retribuição a receber em relação à 9.ª hora de
trabalho prestada em cada dia, designadamente se há direito ao acréscimo
previsto no artigo 268.º do CT.
Apreciação do regulamento interno (artigos 99.º e 104.º do CT).
Identificação da proposta de regime de banco de horas (artigo 208.º-A do CT) e
explicitação do respetivo regime jurídico. Impossibilidade de exceder a prestação
de 10h diárias. Admissibilidade da oposição do trabalhador Daniel, nos termos
dos artigos 205.º, n.º 4 e 208.º-A, n.º 2, do CT.

Ponderação global: 2 valores


Direito do Trabalho I (Dia)
Exame – Época de Recurso de Coincidências
21 de fevereiro de 2018 – 09h00 – Duração: 2h00

Em janeiro de 2017, a empresa de transporte de mercadorias A, Lda. celebrou


uma convenção coletiva com o Sindicato dos Motoristas Portugueses (SMP), onde se
convencionou que o trabalho suplementar seria pago pelo valor da retribuição horária
com acréscimo de 50%, por hora ou fração, em dia útil.
No entanto, a empresa A convencionou com Bernardo, seu motorista,
sindicalizado no SMP, que o trabalho suplementar seria pago pelo valor da retribuição
horária com acréscimo de 100%, por hora ou fração, em dia útil.
Em janeiro de 2018, a empresa A celebrou com a empresa C um contrato de
utilização de trabalho temporário, pelo prazo de 10 meses, para fazer face a um
acréscimo excecional de atividade, em virtude do início de uma nova rota, que A
asseguraria durante esse período.
No âmbito deste contrato, C cedeu a A, pelo mesmo prazo, o motorista Duarte,
sem filiação sindical, que se apressou a exigir que lhe fosse aplicada a tabela salarial
constante da convenção coletiva celebrada entre a empresa A e o SMP.
Em fevereiro de 2018, o gerente da empresa A descobriu, por consulta dos
registos do GPS dos veículos da empresa, que Bernardo não cumpria as rotas que lhe
eram determinadas diariamente pela empresa, confrontando-o.
Descontente com o confronto, Bernardo comunicou que exigiria à empresa A o
pagamento do subsídio de deslocação correspondente às retribuições dos períodos de
férias, subsídios de férias e Natal, que nunca tinham incluído tal subsídio.

1. Pronuncie-se sobre a licitude do acordo celebrado entre a empresa A e Bernardo


quanto ao valor do pagamento do trabalho suplementar. 5 valores
2. Aprecie a validade do contrato celebrado entre A e C. 3 valores
3. Pronuncie-se sobre a legitimidade da exigência de Duarte. 3 valores
4. Aprecie a licitude da prova obtida mediante consulta dos registos do GPS. 3
valores
5. Pronuncie-se sobre a legitimidade da exigência de Bernardo. 4 valores

Ponderação global: 2 valores


TÓPICOS DE CORREÇÃO

1. Pronuncie-se sobre a licitude do acordo celebrado entre a empresa A e Bernardo


quanto ao valor do pagamento do trabalho suplementar. 5 valores

Análise da convenção coletiva em causa (acordo de empresa) e sua definição (art.


2.º/1, 2 e 3, al. c), do CT).
Princípio da filiação – art. 496.º do CT – e conclusão pela aplicação do acordo de
empresa ao trabalhador, filiado no sindicato outorgante e trabalhador da
empresa outorgante.
Análise da relação entre lei e IRCT (art. 3.º/1 do CT) e admissibilidade da cláusula
do IRCT sobre o valor da retribuição de trabalho suplementar (art. 268.º/1 e 3 do
CT).
Análise da relação entre IRCT e contrato de trabalho.
Conclusão pela admissibilidade do acordo, nos termos do art. 476.º do CT, na
medida em que estabelece condições mais favoráveis para o trabalhador.
Ponderação da eventual violação do princípio da igualdade salarial (art. 59.º/1,
a) da CRP e art. 270.º do CT) em relação aos outros trabalhadores.

2. Aprecie a validade do contrato celebrado entre A e C. 3 valores

Definição de trabalho temporário e seu regime (arts. 172.º ss do CT).


Definição de contrato de utilização de trabalho temporário (arts. 172.º, c) e 175.º
ss) e seus requisitos.
Ponderação do fundamento concretamente invocado e da duração do contrato
– arts. 175.º/1, 2 e 3 e 140.º/2, f).

3. Pronuncie-se sobre a legitimidade da exigência de Duarte. 3 valores

Definição de contrato de trabalho temporário (arts. 172.º, a) e 180.º ss do CT) e


contrato de trabalho por tempo indeterminado para cedência temporária (arts.
172.º, b) e 183.º ss) e seus requisitos.
Regime de prestação de trabalho do trabalhador temporário (arts. 185.º ss).
Ponderação da eventual aplicação da tabela salarial constante do acordo de
empresa, nos termos do art. 185.º/5, e do princípio da filiação, considerando que
o trabalhador não é filiado no sindicato outorgante.

4. Aprecie a licitude da prova obtida mediante consulta dos registos do GPS. 3


valores

Apreciação da aplicação do regime dos arts. 20.º e 21.º do CT aos sistemas de


GPS e suas consequências.
Finalidades admitidas para a instalação de meios de vigilância à distância (art.
20.º/2) e impossibilidade de utilização para controlo do desempenho
profissional do trabalhador (art. 20.º/1).
Consequência da eventual violação destas disposições.

5. Pronuncie-se sobre a legitimidade da exigência de Bernardo. 4 valores

Conceito de retribuição (art. 258.º/1 e 2 do CT).


Eventual qualificação do subsídio de deslocação como retribuição, em resultado
da ponderação da presunção prevista no art. 258.º/3 com a exclusão prevista no
art. 260.º/1, a) e suas exceções.
Análise da eventual integração desta prestação:
(i) na retribuição do período de férias, nos termos do art. 264.º/1 –deveria ter
incluído o subsídio de deslocação se este tivesse natureza retributiva;
(ii) no subsídio de Férias, nos termos do art. 264.º/2– só inclui complementos
retributivos que se refiram à própria prestação de trabalho, pelo que não
incluiria o subsídio de deslocação, mesmo que tivesse natureza retributiva, e
(iii) no subsídio de Natal, nos termos dos arts. 263.º e 262.º/1–só inclui
retribuição base e diuturnidades, pelo que não incluiria o subsídio de deslocação.
Possibilidade de o trabalhador exigir o pagamento dos créditos eventualmente
devidos nos termos do art. 337.º.
Tópicos de correção

Faculdade de Direito de Lisboa – Ano letivo 2016/2017


DIREITO DO TRABALHO I (DIA)
Exame – 23 de Janeiro de 2017
Duração: 1 h 30

I
Em 1.10.2016, a Pizaria X, que acabara de abrir ao público, celebrou
com Ana um contrato de trabalho para o exercício das funções de empregada
de balcão, em contrapartida de € 600/mês. Ana, que concluíra o 9.º ano, tinha
então 17 anos. O contrato, celebrado a termo por 2 anos, observou as
formalidades legais. Foi convencionado que Ana trabalharia de 3.ª feira a
sábado, das 12h às 24h, com 2h de intervalo entre as 17h e as 19h.
Cumprindo ordens de Bernardo, gerente, Ana usava o cabelo preso e
um uniforme com o logotipo da Pizaria X.
Em 1.12.2016, aniversário de Ana, Bernardo ouviu-a confidenciar a
Carla, cozinheira, que estava grávida. No dia seguinte, Bernardo comunicou a
Ana que o contrato cessava de imediato, pois não terminara o ensino
secundário, além de que estava ainda em curso o período experimental.
Em 2.12.2016, para compensar a saída de Ana, a Pizaria X celebrou um
contrato a termo com Diana, também por 2 anos, com o seguinte fundamento:
“início de laboração de estabelecimento”. Porém, Diana recusa-se a usar o
uniforme, apesar de concordar com o cabelo preso.
Em 1.1.2017, a Pizaria X foi vendida a Edu. Em 2.1.2017, a primeira
medida de Edu foi denunciar o contrato de Diana, ao abrigo do período
experimental. Entretanto, Ana reclamou a Edu o pagamento de 2h diárias de
trabalho suplementar, desde 1.10 até 1.12. Por sua vez, Diana argumenta que
tem direito a férias e a subsídio de férias de 2016 e de 2017. Edu recusa
ambos os pedidos, considerando que não está obrigado a arcar com as
consequências da má gestão de Bernardo. Quid Iuris?

1. Análise da fundamentação para a contratação a termo e respetiva


duração – artigo 140,º n.º 4, alínea a) e 148.º, n.º 1, alínea b). do Código
do Trabalho.
2. Requisitos da celebração de contrato de trabalho com trabalhador menor
Artigo 68..º e 70.º. do Código do Trabalho
3. Análise do período normal de trabalho e horário de trabalho inscritos no
contrato 73.º, 76.º, 77.º e 203.º. do Código do Trabalho
4. Análise da imposição do empregador à luz dos direitos de personalidade
do trabalhador á luz do artigo 14.º do Código do Trabalho e do artigo
37.º da Constituição.
5. Denúncia durante o período experimental. Aplicação do instituto de
abuso de direito 112.º do Código do Trabalho e 334.º do Código Civil.
6. Análise dos fundamentos da contratação de Diana e a sua duração, bem
como da recusa de Diana à luz da considerações feitas quanto à
situação de Ana.
7. Aplicação do instituto da transmissão da unidade produtiva do artigo
285.º do Código do Trabalho.
II
Em janeiro de 2016, a associação sindical dos Trabalhadores da Saúde
(ASTS) celebrou com o Hospital Viva Mais uma convenção coletiva, nos
termos da qual:
a) É aplicável o regime de banco de horas, tendo o trabalhador direito a
receber um acréscimo de 10% sobre a retribuição. O empregador deve avisar
com a antecedência de 2 horas.
Em outubro, Felisberto, trabalhador do Hospital Viva Mais, filiou-se na
ASTS. Em 2.11.2016 o Hospital exigiu a Felisberto que nesse dia prestasse
mais 4h de trabalho, o que este recusou, pois não tinha mais ninguém para ir
buscar a sua filha ao infantário.
Entretanto, em janeiro de 2017 entrou em vigor uma convenção coletiva
celebrada entre a ASTS e a associação de Hospitais de Lisboa (AHL) nos
termos da qual o trabalho em regime de banco de horas confere direito a
receber o valor da retribuição/hora, sem qualquer acréscimo, pelo que o
Hospital Viva Mais pretende deixar de pagar o acréscimo de 10%. Quid iuris?

1. Qualificação da convenção coletiva – artigo 2.º do Código do Trabalho


2. Análise da cláusula da convenção à luz do artigo 208.º do Código do
Trabalho;
3. Possibilidade de dispensa de banco de horas
4. Aplicação do regime da concorrência de IRCT negociais do artigo 482.º
do Código do Trabalho.

Cotação: I – 10 valores; II - 8 valores; apreciação global – 2 valores.


FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA

Direito do Trabalho (Diurno) – Exame de 23 de fevereiro de 2017

Duração: 90 minutos

I
A empresa X, do ramo da metalurgia, foi constituída no ano de 1994, tendo origem na
fusão de diversas sociedades que exerciam a sua atividade no âmbito do mesmo complexo
fabril. Os trabalhadores destas sociedades passaram automaticamente para a empresa X,
tendo-lhes sido dito na altura que os respetivos contratos de trabalho se mantinham
inalterados, bem como todos os direitos que tinham anteriormente. Nesse contexto, a
empresa X manteve a prática de anos anteriores e até 2013 sempre concedeu,
simultaneamente, o feriado da terça-feira de Carnaval e o feriado municipal de São João,
permitindo aos trabalhadores não terem que trabalhar nestes dias sem que fossem
prejudicados na sua retribuição. No ano de 2014, porém, a empresa X retirou aos
trabalhadores o gozo daqueles dois feriados e considerou injustificada a falta daqueles que
não trabalharam nestes dias. João, dirigente sindical que não compareceu naqueles dias,
reclamou perante a empresa pelo facto de esta lhe ter descontado dois dias de trabalho. A
empresa X, por sua, vez, decidiu instaurar-lhe um procedimento disciplinar por violação de
diversos deveres laborais e dar-lhe uma ordem para que este deixasse de trabalhar no
complexo fabril do Porto e passasse para o complexo fabril de Setúbal, com pagamento das
correlativas despesas de instalação. Simultaneamente, sabendo que os trabalhadores criaram
uma página no Facebook aberta a “todos os trabalhadores do país preocupados com a luta de classes”,
onde expressavam “repúdio pela violação gritante das conquistas dos trabalhadores e pela supressão
ilícita de dois feriados”, a empresa decidiu também intentar procedimentos disciplinares
contra os autores daquela página e os que nela se expressaram contra a supressão legítima
dos referidos feriados.

Quid iuris

Tópicos de correção

A propósito do caso prático do Grupo I os alunos deveriam, pelo menos:

 Aplicar o regime da transmissão de empresa, de onde resulta que em caso de transmissão,


por qualquer título, da titularidade de empresa, transmitem-se para o adquirente a posição
do empregador nos contratos de trabalho dos respetivos trabalhadores, mantendo-se
inalterado o contrato de trabalho quanto ao respetivo conteúdo (artigo 285.º CT);
 Identificar a terça-feira de Carnaval e o feriado municipal da localidade como feriados
facultativos (artigos 234.º e 235.º CT);
 Concluir que neste caso a observância daqueles feriados resulta de um uso laboral, que é
fonte específica do Direito do Trabalho e que consiste numa prática social reiterada a que
não está associada a convicção de obrigatoriedade (artigo 1.º CT);
 Admitir a possibilidade, no caso concreto, de esta prática espontânea e reiterada do
empregador que se prolongou por mais de 10 anos (uso laboral) desembocar numa
vinculação e numa fonte de obrigações para o próprio empregador; admitir
consequentemente e de forma fundamentada a possibilidade de a interrupção dessa prática
ser ilegítima e extravasar o exercício do poder de direção (artigo 97.º CT);
 Qualificar a falta ao trabalho e distinguir faltas justificadas e injustificadas, nomeadamente
quanto aos seus efeitos (artigos 248.º- 249.º e 254.º- 255.º CT);
 Caracterizar genericamente o poder disciplinar e problematizar a eventual violação (ou não)
do dever de assiduidade de João (artigos 98.º e 128.º CT);
 Referir que sendo João dirigente sindical a alteração individual do local de trabalho
dependia do seu acordo (artigos 194.º e 411.º CT);
 Caracterizar a liberdade de expressão e de opinião no local de trabalho e os respetivos
limites e problematizar sobre se o acesso e a utilização pelo empregador para fins
disciplinares de mensagens constantes de uma página do Facebook aberta “a todos os
trabalhadores do país” é lícita à luz do do direito de reserva e confidencialidade relativamente
ao conteúdo das mensagens de natureza pessoal (artigos 14.º e 22.º CT).

II

Em 1 janeiro de 2010, o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos (STM) celebrou com a


Empresa X e com a Empresa Y, ambas do ramo da metalurgia, um instrumento de
regulamentação coletiva de trabalho (IRCT) para o Distrito do Porto, onde se determinava,
nomeadamente, que ambas as empresas deveriam incluir no texto de novos contratos de
trabalho a exclusão do período experimental e que apenas poderiam contratar
trabalhadores de nacionalidade portuguesa, atendendo a que este era a única forma de
assegurar que os trabalhadores podiam operar em fábricas portuguesas. Em contrapartida,
os trabalhadores admitiam trabalhar até 60h por semana sempre que a empresa disso
necessitasse, sendo certo que noutras semanas trabalhariam menos. Em qualquer caso,
admitiam trabalhar uma média de 60h por semana num período de 2 meses.
O Sindicato dos Jovens Metalúrgicos (SJM), que pretendia também negociar um IRCT
similar para beneficiar os seus associados, tentou negociar com a empresa, mas esta disse-
lhe que já não queria negociar com mais ninguém algo de diferente, pelo que se quisessem
teriam que passar a fazer parte daquele IRCT. O SJM gostou da ideia, mas não sabe como
fazê-lo.
Quid iuris

A propósito do caso prático do Grupo II os alunos deveriam, pelo menos:

 Qualificar o Instrumento de Regulamentação Coletiva de Trabalho (IRCT) como uma


fonte específica do Direito do Trabalho; como uma convenção coletiva de trabalho; e
como um acordo coletivo de trabalho (artigos 1.º e 2 º, n. ºs. 1 e 3, alínea b), CT);
 Identificar os âmbitos de aplicação pessoal, geográfico e material do IRCT;
 Analisar a cláusula que determinava a exclusão do período experimental à luz do artigo
111.º, n. º 3, CT, segundo o qual a exclusão só pode ocorrer por acordo escrito entre as
partes;
 Analisar a cláusula que apenas admitia a contratação de trabalhadores nacionais à luz do
princípio da igualdade e não discriminação, afigurando-se existir um caso de discriminação
ilícita e injustificada (artigos 24.º e 25 º CT), sendo a cláusula convencional nula e podendo
um trabalhador ilicitamente excluído ser indemnizado (artigos 26.º e 28.º CT);
 Referir a existência de um regime de adaptabilidade por IRCT e descrevê-lo genericamente
como aquele em que o período normal de trabalho (PNT) pode ser definido em termos
médios, podendo o limite diário do PNT ser aumentado até 4h e a duração do trabalho
semanal atingir 60h (artigos 204.º e 207.º CT);
 Recordar todavia que mesmo em caso de adaptabilidade por IRCT o PNT não pode
exceder 50h em média num período de dois meses(artigo 204.º n. º 2 CT);
 Invocar o princípio da filiação e admitir a possibilidade de o SJM poder celebrar um
Acordo de Adesão com as empresas X e Z (artigos 496.º e 504.º do CT).

Duração da prova: 90 minutos


Cotação: I — 9 valores. II — 9 valores; Sistematização e português – 2 valores
Direito do Trabalho I
Exame final – 9 de Janeiro de 2018 – duração 2 horas

O Hospital X – hospital privado com duas unidades de atendimento, em Lisboa e


Cascais –, para o período de maior incidência da gripe (entre Outubro e Março) precisa
de ter mais médicos e enfermeiros ao serviço.
Para diminuir o afluxo de utentes às urgências, o Hospital X contratou a Empresa
de atendimento Z, que, através de um número telefónico criado para o efeito, com
profissionais especializados (médicos e enfermeiros), recebe chamadas de doentes
durante 24 horas, fazendo o correspondente aconselhamento e indicando, quando se
justifique, a ida à urgência.
A equipa de cirurgia pediátrica do Hospital X, chefiada pelo médico-cirurgião A, é
integrada pela médica anestesista B, sendo que A e B contraíram matrimónio
recentemente.
O Hospital X celebrou um acordo de empresa com o sindicato de enfermeiros do
sul e ilhas. Deste instrumento resultam, nomeadamente, regras quanto a
adaptabilidade, trabalho por turnos e correspondentes acréscimos retributivos.
a) O Hospital X, considerando que seria profissionalmente desadequado que os
cônjuges integrassem a mesma equipa, colocou a médica B como anestesista
da equipa de cirurgia geriátrica. Quid iuris? (3)
b) Por não ter lugar em nenhuma equipa na unidade de Lisboa (onde trabalhava),
o Hospital X transferiu a médica B para a unidade de Cascais, como anestesista.
Quid iuris? (2)
c) O Hospital X mudou a actividade da médica B (anestesista), que passou para o
departamento de investigação da unidade onde trabalhava. Quid iuris? (2)
d) O enfermeiro C não está sindicalizado e pretende saber se tem de cumprir o
horário constante do acordo de empresa e se tem direito ao acréscimo
retributivo. (3)
e) O Hospital X contratou a enfermeira D, mas condicionou a sua contratação ao
preenchimento de um formulário, no qual esta teve que atestar não ter
nenhuma doença infecto-contagiosa, não estar grávida nem pretender
engravidar no espaço de 24 meses. Quid iuris? (2)
f) O enfermeiro E foi contratado pela Empresa Z para fazer atendimento
telefónico e pretende saber se tem contrato de trabalho com esta empresa ou
com o Hospital X. Na resposta a esta questão pode imaginar a factualidade que
lhe pareça adequada a este tipo de trabalho. (3)
g) Através de que meios o Hospital poderia contratar, todos os anos, entre
Outubro e Março, mais médicos e enfermeiros. Indique os pressupostos e o
modo de proceder para atingir tal desiderato. (3)
As questões das diferentes alíneas são autónomas entre si. Acrescem 2 valores de
ponderação geral.
Tópicos de correcção
a) Relação entre poder de direcção no que respeita à boa organização do trabalho
por parte do Hospital X e o direito de personalidade e de não discriminação da
trabalhadora B, penalizada por ter contraído matrimónio com o chefe da equipa;
b) Transferência do local de trabalho (art. 194.º). Transferência individual e
presumivelmente definitiva. Não foi invocado o motivo justificativo que,
faltando, torna ilícita a transferência. Apreciação do prejuízo sério, em especial
tendo em conta a distância.
c) Alteração da actividade (art. 118.º): de uma função prática (anestesista), passa a
exercer uma actividade de investigação científica. É duvidoso que seja afim ou
funcionalmente ligada. A solução seria diversa caso se tratasse de ius variandi
(art. 120.º), mas da hipótese não decorre nem o interesse do Hospital nem a
transitoriedade da mobilidade.
d) Princípio da dupla filiação (art. 496.º). Não aplicação do AE ao enfermeiro, que
não tem de cumprir o regime de tempo de trabalho. Dúvida relativamente à
igualdade salarial, princípio consagrado na Constituição (art. 59.º) e no art. 270.º.
e) Direitos de personalidade (arts. 16.º, 17.º e 19.º). Dúvida quanto à
admissibilidade de a trabalhadora ser questionada quanto certo tipo de doença,
em função da actividade desempenhada e de riscos para colegas de trabalho e
pacientes. Inadmissibilidade da questão colocada quanto à gravidez; justificação.
f) Não há relação contratual entre o Hospital X e o enfermeiro E, não havendo uma
relação de grupo entre o Hospital e a Empresa Z, não se coloca a hipótese de um
contrato de trabalho com o Hospital. Em relação à Empresa Z, o contrato pode
ser de trabalho ou de prestação de serviços, dependendo da factualidade,
podendo atender-se aos parâmetros do art. 12.º.
g) Essencialmente, poderia recorrer-se ao contrato a termo e ao trabalho
temporário (arts. 139.º ss. e arts. 172.º ss). Indicar os pressupostos de ambas as
vias e verificar se poderia adoptar-se qualquer uma das vias. Indicar as vantagens
e inconvenientes das duas vias, nomeadamente no plano da duração dos
vínculos.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito do Trabalho I – 4.º Ano – Dia – Época de Coincidências
25/01/2022. Duração: 90 minutos

I
(i) 4 valores / ii) 3,5 valores / iii) 4 valores / iv) 3,5 valores)
Em 1 de julho de 2021, Amílcar foi admitido como operador de caixa no supermercado Fruta Fresca,
a tempo parcial, trabalhando 4 horas por dia, cinco dias por semana, auferindo mensalmente a quantia de €
500,00.
Amílcar pretende agora i) reclamar a diferença entre a retribuição mínima mensal garantida e o valor
de € 500,00, uma vez que o seu contrato não foi reduzido a escrito e ii) faltar no dia 28 de janeiro, para
acompanhar o seu cão ao veterinário.
Entretanto, a Fruta Fresca pretende iii) instalar câmaras sobre as caixas registadoras, de forma a
prevenir a ocorrência de assaltos, e iv) abandonar a prática de conceder aos trabalhadores 25 dias úteis de
férias, em vigor desde 2012, passando a conceder apenas 22 dias úteis.
Amílcar pretende a sua opinião sobre os pontos i) a iv).

II
(4 valores)
Comente a seguinte afirmação:
“A exigência legal da indicação do motivo justificativo é uma consequência do caráter
excepcional que a lei atribui à contratação a termo e do princípio da tipicidade funcional que se
manifesta no art.º 140.º: o contrato só pode ser (validamente) celebrado para certos fins e na medida
em que estes o justifiquem.” (Ac. do TRP, de 8 de março de 2019).

Ponderação global: 1 valor.

Critérios de correção:
I
i. Definição de período normal de trabalho (art. 198.º do CT), por referência ao conceito de tempo de
trabalho (art. 197.º);
Referência ao regime de trabalho a tempo parcial, tendo em conta a respetiva definição (arts. 150.º
ss.);
Requisitos da celebração de contrato de trabalho a tempo parcial, em particular, forma escrita (art.
153.º, n.º 1);
Definição e regime da retribuição mínima mensal garantida (art. 273.º e Decreto‑Lei n.º 109‑A/2020
de 31 de dezembro);
Análise da pretensão de A., tendo em conta o regime da invalidade do contrato de trabalho, em
particular, a regra constante do art. 122.º, n.º 1.
ii. Definição de faltas e respetivo regime, por referência aos arts. 248.º ss.;
Análise da pretensão de A., tendo em conta a diferença entre faltas justificadas e injustificadas (art.
249.º, n.º 1), as justificações legalmente previstas (art. 249.º, n.º 2) e a imperatividade do respetivo
regime (art. 250.º);
Ponderação da aplicação das justificações legais à situação em causa, em particular, a referida no art.
249.º, n.º 1, al. d);
Referência ao procedimento de comunicação e justificação da ausência (arts. 253.º e 254.º);
Efeitos da ausência, em face da conclusão quanto à justificação (arts. 255.º e 256.º).
iii. Análise da pretensão da empresa quanto à instalação das câmaras, tendo presente o regime do art. 21.º
e a finalidade pretendida;
Referência ao Regulamento (UE) 2016/679 do Parlamento e do Conselho, de 27 de abril de 2016, e ao
regime dos arts. 19.º e 28.º da Lei n.º 58/2019, de 8 de agosto.
iv. Apreciação da prática da empresa por referência à definição e regime dos usos laborais e sua
qualificação como fonte (art. 1.º);
Análise da possibilidade de abandono da mesma, com garantia da concessão de 22 dias úteis de férias,
tendo presente a duração mínima legalmente prevista (art. 238.º, n.º 1).

II
1. Enquadramento da excecionalidade da contratação a termo em face da segurança no emprego (art. 53.º
CRP);
2. Referência aos requisitos da contratação a termo, em especial, às situações que permitem o recurso à
contratação a termo (art. 140.º);
3. Referência aos requisitos de forma, em particular, quanto à indicação do termo estipulado e do
respetivo motivo justificativo (art. 141.º, n.º 1, al. e), e 3);
4. Consequências da violação dos requisitos substanciais e formais referidos (art. 147.º, n.º 1, als. b) e
c)).
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Recurso de Direito do Trabalho I (coincidências) – 4.º Ano - Dia
25-02-2022 / Duração: 90m

A 1 de janeiro de 2021, a Tecnologias Lisboa contratou Amílcar, por escrito, para


desempenhar funções de técnico de IT, pelo período de 6 meses, invocando para o efeito a
substituição da trabalhadora Bianca, que se encontrava ausente e que regressou a 15 de maio
de 2021. De acordo com o seu contrato de trabalho, Amílcar estava sujeito a horário de trabalho
com início às 09h e término às 18h, tendo direito a uma hora de intervalo às 13h, estando ainda
estabelecido que, entre as 18h e as 02h, Amílcar poderia ser chamado a qualquer momento às
instalações da empresa, caso a sua presença na empresa fosse necessária.
A 1 de novembro de 2021, Bianca, entretanto promovida a superior hierárquica de
Amílcar, estando a ler os e-mails enviados por Amílcar através do endereço eletrónico
institucional da Tecnologias Lisboa, encontrou um e-mail dirigido à empresa concorrente
Conhecedores de TIC, no qual Amílcar indicava quais os novos softwares que se encontravam
em desenvolvimento pela Tecnologias Lisboa. Não sabendo se poderia intentar um
procedimento disciplinar contra Amílcar, Bianca decide começar a cortar a eletricidade do
computador de Amílcar várias vezes por dia, todos os dias, levando a que Amílcar não consiga
concluir nenhum dos projetos de que é responsável e seja, eventualmente, despedido.
A 1 de janeiro de 2022, a Tecnologias Lisboa e a Conhecedores de TIC celebraram
uma convenção coletiva com o Sindicato dos Técnicos Informáticos, na qual se estabeleceu
(i) que o empregador e o trabalhador podem, por contrato de trabalho, determinar que a perda
de retribuição por motivo de faltas seja substituída por prestação de trabalho em acréscimo ao
período normal, e (ii) que os trabalhadores têm direito a 25 dias úteis de férias por ano, não
podendo o contrato de trabalho estabelecer um número superior de dias úteis de férias.

1. Aprecie a validade do contrato celebrado entre a Tecnologias Lisboa e Amílcar (4


valores).
 Identificação do contrato de trabalho a termo como exceção ao Princípio da Segurança no
Emprego (artigo 53.º da CRP; artigos 139.º e ss do CT);
 Classificação como contrato sujeito a termo resolutivo e certo;
 Admissibilidade do contrato a termo: análise dos requisitos gerais do artigo 140.º, n.º 1 e
n.º 2 al. c); substituição direta de trabalhador ausente; ónus da prova (artigo 140.º, n.º 5);
conclusão pela admissibilidade da aposição do termo;
 Análise dos requisitos formais: artigos 141.º e 147.º, n.º 1, al. c), do CT;
 Análise dos limites temporais do contrato a termo certo: 148.º, n.ºs 1 e 2.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Recurso de Direito do Trabalho I (coincidências) – 4.º Ano - Dia
25-02-2022 / Duração: 90m

 Verificado o termo, aplicação do disposto no artigo 149.º, n.º 2, equacionando a renovação


automática do contrato por igual período; todavia, tendo Bianca regressado, já não se
verificam as condições de admissibilidade do contrato a termo, pelo que este se converte
em contrato sem termo nos termos do artigo 147.º, n.º 2, al. a).

2. Quando Amílcar recebe o seu primeiro recibo de vencimento, verifica que não lhe foi
pago o período de disponibilidade entre as 18h e as 02h, nem as horas em que foi
efetivamente chamado à empresa (4 valores).
 Apreciação da noção de tempo de trabalho prevista no artigo 197.º do CT, em particular,
do alcance da expressão "ou permanece adstrito à realização da prestação", tomando
posição quanto à qualificação do tempo de disponibilidade (entre as 18h e as 02h) como
tempo de trabalho, referindo, para o efeito, a discussão doutrinária e jurisprudencial
(nacional e europeia), bem como os requisitos que têm sido avançados para a qualificação
como tempo de trabalho;
 Independentemente da posição adotada quanto ao tempo de "mera disponibilidade",
qualificar as horas em que foi efetivamente chamado à empresa como tempo de trabalho
(197.º) e, em particular, como trabalho suplementar (artigos 226.º, 227.º e 228.º) e,
eventualmente, como trabalho noturno (223.º, n.º 1, do CT), tendo direito ao pagamento do
trabalho nos termos dos artigos 268.º e 266.º do CT.

3. Pronuncie-se sobre o comportamento de Bianca e se esta poderia, com base no e-mail


de Amílcar, ter intentado um procedimento disciplinar contra este (5 valores).
 Quanto à leitura do e-mail da Amílcar por Bianca: análise do comportamento de Bianca
tendo em conta o direito à confidencialidade de Amílcar tendo em conta o disposto nos
artigos 16.º e 22.º do CT; análise da relevância de se tratar de um e-mail institucional e em
que condições pode ser efetuado o respetivo controlo tendo em conta a ausência de regras
de utilização dos meios de comunicação.
 Enquadrar o comportamento de Amílcar como um ilícito disciplinar, em particular tendo
em conta a alínea f) do n.º 1 do artigo 128.º da CT, bem como enquadrar o poder disciplinar
do empregador (artigos 98.º e 328.º e ss); valoração da apreciação da competência
disciplinar de Bianca para iniciar procedimento disciplinar (n.º 2 do artigo 329.º do CT);
adicionalmente, e com base no ponto anterior, pronunciar-se sobre a possibilidade de o e-
mail em apreço ser valorado em sede de procedimento disciplinar.
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Exame de Recurso de Direito do Trabalho I (coincidências) – 4.º Ano - Dia
25-02-2022 / Duração: 90m

 Quanto ao comportamento de Bianca subsequente à descoberta do e-mail de Amílcar:


análise dos requisitos do assédio e apreciar a possibilidade de qualificar o comportamento
de Bianca como assédio moral, não discriminatório, vertical descendente (artigo 29.º, n.º 1
e 2); indicação dos direitos de personalidade de Amílcar lesados com a atuação de Bianca;
análise da relevância da distinção entre assédio moral discriminatório e assédio moral não
discriminatório (artigo 25.º do CT) e referência aos meios de tutela de Antónia.

4. Identifique o instrumento de regulamentação coletiva e aprecie a validade das suas


cláusulas (5 valores).
 Identificação da fonte coletiva e seu enquadramento (artigos 1.º e 2.º, n.ºs 1 e 2),
qualificando-a como um acordo coletivo face ao artigo 2.º, n.º 3, al. b);
 Relativamente à cláusula (i), mencionar que a alínea b) do n.º 1 do artigo 257.º do CT
admite que o IRCT preveja que a perda de retribuição por motivo de faltas pode ser
substituída por prestação de trabalho em acréscimo ao período normal, desde que dentro
dos limites previstos no artigo 204.º do CT; analisar a possibilidade de a convenção coletiva
não conter tal ressalva e consequências jurídicas (alínea b) do n.º 1 do artigo 257.º do CT,
e artigo 3.º, n.ºs 1 e 3); analisar a possibilidade de a convenção coletiva, em matérias que
apenas permitem intervenção de IRCT (cfr. artigo 3.º, n.º 5, bem como referência às teses
interpretativas desta norma), remeter a regulação para contrato individual de trabalho.
 Relativamente à cláusula (ii), referir que o n.º 1 do artigo 238.º do CT é uma norma
imperativa mínima, pelo que a convenção coletiva pode aumentar o número de dias úteis
de férias (n.º 1 do artigo 238.º do CT e artigo 3.º, n.ºs 1 e 3); analisar a possibilidade de
uma cláusula de convenção coletiva impedir a regulação em sentido mais favorável por
parte do contrato individual de trabalho atendendo ao carácter imperativo ou não do artigo
476.º do CT e às evoluções legislativas do preceito.
 Pronunciando-se sobre a invalidade das cláusulas (artigo 478.º, n.º 1, alínea a) do CT),
apreciar o regime jurídico aplicável.

Ponderação global: 2 valores


Direito do Trabalho I

17 de Janeiro de 2017

Duração: 1 h 30

TÓPICOS DE CORREÇÃO

I
António, engenheiro informático, trabalha na empresa X e adoece
gravemente.
Entre A e a Empresa X existe um contrato de trabalho (ainda que a hipótese
não esclareça a existência de subordinação jurídica – artigo 11.º CT).
A é engenheiro informático (categoria subjectiva).
A doença de A dá origem a faltas (noção – artigo 248.º/1 CT) que, em
princípio, serão justificadas (artigo 249.º/2d) CT, desde que observado o
procedimento constante dos artigos 253.º e 254.º, cujos efeitos se encontram
previstos no artigo 255.º/2a) CT); de referir que, quando por período superior a
30 dias, a ausência determina a suspensão do contrato (artigo 296.º CT).

A empresa contrata em sua substituição Bento, psicólogo, tendo


celebrado com este contrato de trabalho, do qual constam as seguintes
cláusulas:
1) “O contrato inicia-se no dia 1 Fevereiro de 2017 termina no dia 31 de
Janeiro de 2018”;
2) “O contrato é celebrado para substituir um trabalhador ausente por
doença”;
3) O trabalhador tem direito a um telemóvel e um ipad da empresa com
acesso ilimitado de internet”;
4) “O trabalhador deve estar permanentemente contactável para ser
chamado a realizar trabalho de manutenção dos sistemas informáticos”;
5) “O local de trabalho do trabalhador é onde a empresa tem
estabelecimento ou possa vir a ter”.
Quid Iuris?

Aplicabilidade do Código do Trabalho (artigo 7.º Lei 7/2009, de 12/2).

CONTRATO A TERMO
Entre B e a Empresa X é celebrado um contrato de trabalho (artigo 11.º
CT), a termo resolutivo certo – explicitação; artigo 53.º CRP; Diretiva
1999/70/CE; artigos 139.º e seguintes CT;
- Apreciação da existência de motivo justificativo: artigo 140.º/1 CT
– verificação da existência de uma necessidade temporária, correspondente à
ausência de A por doença e à consequente necessidade de substituição;

1
problematização do segundo requisito (pelo período estritamente necessário),
uma vez que não há dados relativos à previsibilidade da recuperação de A. No
entanto, o contrato é celebrado por um ano. Caso o empregador demonstre
(artigo 140.º/5 CT) que era previsível, aquando da celebração, que a ausência
de A se prolongasse durante um ano (ou mais), o contrato poderia ser válido.
Caso contrário, seria nulo – artigo 147.º/1b) CT.
- Ponderação da existência de substituição: relevância ou não da
categoria subjectiva dos trabalhadores; atendendo à diferente profissão de A e
B, deverá ser ponderada a eventualidade de B não ocupar o posto de trabalho
de A – se assim for, o contrato poderá ser nulo pelo artigo 147.º/1a) CT. Contudo,
não é improvável que B seja contratado efectivamente para substituir A, até
porque uma das cláusulas refere a manutenção dos sistemas informáticos; outra
hipótese é tratar-se de uma substituição indirecta, prevista no artigo 140.º/2a)
CT;
- Apreciação dos requisitos de forma: artigo 141.º CT – ausência
de dados quanto à alínea a) e parte da alínea c) do n.º 1 deste preceito (PNT) –
não originam a conversão prevista pelo artigo 147.º/1c) CT. Problematização da
necessidade de explicitar o termo, mencionando expressamente os factos que o
integram e estabelecendo a relação entre o motivo e o termo estipulado (artigo
141.º/3 CT), que no caso não parece acontecer, tendo como consequência a
conversão em contrato sem termo – artigo 147.º/1c) CT.

ACESSO A TELEMÓVEL E IPAD


Explicitação do conceito de retribuição – artigos 258.º/1 e 259.º CT;
consideração deste benefício como parte da retribuição, em espécie, atendendo
à possibilidade de utilização pessoal;
Instrumentos de trabalho, com ausência de limitação quanto à utilização
pessoal (eventual aplicação do artigo 22.º/2 CT, por analogia);

TEMPO DE TRABALHO
Limites ao tempo de trabalho – artigo 58.º CRP; Directiva 2003/88/CE;
artigos 203.º e seguintes CT;
Qualificação como tempo de trabalho, tempo de descanso ou tempo de
terceiro tipo;
Inadmissibilidade da cláusula – artigo 3.º/4 CT, por impor ao trabalhador
uma disponibilidade absoluta de tempo de trabalho;
Obrigatoriedade da existência de períodos de descanso: artigos 203.º/1,
213.º/1, 214.º, 232.º e 233.º CT;
Nulidade – artigos 121.º e 122.º CT;
Nota: não parece estar em causa uma situação de isenção de horário, já
que não se enquadra em nenhuma das alíneas do n.º 1 do artigo 218.º CT.
Porém, poderia estar prevista em IRCT (artigo 218.º/2 CT).

2
LOCAL DE TRABALHO
Princípio da inamovibilidade – artigo 129.º/1f) CT;
Discussão sobre a (in)determinabilidade do local de trabalho – artigos
193.º/1 e 141.º/1c) CT;
Inobservância do artigo 141.º/1b) CT; de referir o artigo 106.º/3b), nos
termos do qual o empregador deve informar o trabalhador o local de trabalho,
ou, não havendo um local fixo ou predominante, a indicação de que o trabalho é
prestado em várias localizações;
Excessiva amplitude da cláusula, indeterminável; discussão sobre a
consequência da indeterminabilidade; ponderação da consequência da
respectiva nulidade – artigos 121.º e 122.º CT e artigo 280.º CC; o local deverá
ser determinado pela integração desta lacuna (artigo 239.º CC), atendendo ao
princípio da boa fé e ao modo de execução da prestação.

II
A Associação Sindical dos Trabalhadores Administrativos (ASTA) celebrou
uma convenção colectiva com a Associação dos Bancos (AB), na qual se previa:
“a presente convenção é aplicável a todos os trabalhadores, independentemente
de filiação”.

FONTES
IRCT negocial; convenção coletiva; contrato colectivo; artigo 56.º/3 CRP;
artigos 1.º, 2.º/1, 2 e 3/a) CT;
Artigo 443.º/1a) CT;
Conteúdo negocial e conteúdo normativo: análise crítica;
Determinação dos âmbitos de aplicação: pessoal (artigo 496.º/1 CT –
trabalhadores filiados no ASTA que tenham celebrado contrato de trabalho com
entidades membros da AB); temporal (artigo 499.º CT); material e geográfico
(artigo 492.º/1c) CT;
Convenção vertical;
Análise do conteúdo: artigo 3.º/1 CT e sua explicitação; o artigo 496.º/1 CT
é uma norma injuntiva absoluta, pelo que a situação se enquadra na parte final
do n.º 1 do artigo 3.º do CT, sendo assim nula a cláusula do CCT, nos termos do
artigo 478.º/1a) CT;

António, não filiado, recusa a aplicação da convenção, na parte em que


esta prevê uma redução da retribuição durante 12 meses, mas aceita
relativamente ao aumento de férias (25 dias).

Artigo 496.º/1 CT: sendo injuntivo, não há utilidade na recusa de aplicação


da convenção, pois esta não é aplicável (o âmbito pessoal não se verifica);
Princípio da unidade: não pode aceitar apenas parte da convenção
colectiva;

3
Relativamente às cláusulas: admissibilidade da cláusula de redução da
retribuição (artigo 3.º/1, 1.ª parte e artigo 129.º/1d) CT); dúvidas quanto à
cláusula referente às férias, já que refere 25 dias, não esclarecendo se são ou
não dias úteis, pelo que, caso não o sejam, a cláusula seria nula, por se tratar
de regime imperativo mínimo (artigo 3.º/1, in fine e 3/h), conjugado com o artigo
238.º/1 CT, sendo também contrária à Diretiva 2003/88/CE)

Por sua vez, Berta, que se filiou na ASTA quando começaram as


negociações, sustenta que a convenção tem um conteúdo menos vantajoso do
que o do seu contrato de trabalho, razão que invoca para não a cumprir.

Artigo 496.º/3 in fine CT: aplicabilidade da CC a B


Artigo 476.º CT: critérios de comparabilidade; prevalência do contrato,
quando mais favorável.

Perante tantas dúvidas, o empregador de António e Berta (Banco


Nacional de Crédito) fez um regulamento interno para as esclarecer, do qual
consta o seguinte:
1) “A convenção colectiva aplica-se também aos não filiados, desde que
estes o aceitem, por escrito”;
2) “As matérias reguladas pela convenção podem ser afastadas, desde
que existam usos mais favoráveis”;
Quid iuris?

Regulamento de empresa: explicitação da controvérsia quanto à natureza


de fonte; conteúdo organizativo (artigo 99.º CT) e conteúdo contratual (artigo
104.º CT);
Identificação do problema: possibilidade de o empregador (que não é
sequer diretamente parte na convenção) estabelecer unilateralmente o sentido
das cláusulas
Quanto aos trabalhadores filiados, aplicabilidade do artigo 476.º CT;
Relativamente aos trabalhadores não filiados, aplicabilidade do artigo 104.º
CT; questão da natureza desta norma: não se afigura haver motivo para a
injuntividade, aplicando-se a regra geral – artigo 3.º/4 CT, sendo assim a cláusula
1 válida, por ser mais favorável, porquanto não dá valor ao silêncio
Cláusula 2: artigo 1.º CT e artigo 3.º CC; relevância dos usos enquanto
fonte de Direito do Trabalho; admissibilidade do afastamento do regulamento
(vertente contratual) para os não filiados; inadmissibilidade de afastamento da
convenção colectiva pelos usos, independentemente de terem ou não carácter
mais favorável.

Cotação: I – 9 valores; II - 9 valores; apreciação global – 2 valores.

4
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito do Trabalho I – 4.º Ano – Dia
17/01/2022. Duração: 90 minutos

I
(4 valores por cada ponto)
Em 1 de julho de 2021, Antónia foi contratada como enfermeira do Hospital Particular de Lisboa
(HPL).
Nos termos do contrato celebrado, Antónia ficou obrigada à prestação de 40 horas semanais, tendo
sido acordado o seguinte horário: 2.ª-feira a 6.ª-feira, das 8 h às 12 h e das 13 h às 17 h.
Atendendo à actual situação pandémica, o HPL: i) alterou o horário de Antónia, passando esta a
realizar a sua prestação no turno nocturno (das 0 h às 9h, com uma hora de intervalo), o que recusou, invocando
motivos familiares; ii) ordenou que Antónia desse algum apoio ao serviço de higienização das salas de
operações, indicação que foi igualmente recusada, sem qualquer argumento; iii) instruiu os recursos humanos
que assegurassem que só os trabalhadores vacinados prestariam a sua actividade; iv) foi comprado pelo grupo
Hospitais de Portugal, que determinou uma reestruturação no modelo retributivo, só salvaguardando a
irredutibilidade relativamente à retribuição base.
Antónia pretende a sua opinião sobre os pontos i) a iv).

II
(3 valores)
Comente a seguinte afirmação:
“O regime legal da retribuição de férias … e do subsídio de Natal prevalece sobre as cláusulas
dos Acordos de Empresa, quando estas estabelecerem regime menos favorável” (Ac. do STJ, de 16 de
Dezembro de 2010).

Ponderação global: 1 valor.

Critérios de correção:
I
i. Definição de período normal de trabalho e horário de trabalho (arts. 198.º e 200.º do CT), por referência
ao conceito de tempo de trabalho (art. 197.º);
Análise do horário de A., tendo em conta os limites máximos do PNT (art. 203.º), o intervalo de
descanso (art. 213.º), descanso diário (art. 214.º) e o descanso semanal (art. 232.º);
Regime da elaboração de horário de trabalho (art. 212.º);
Regime da alteração do horário de trabalho (art. 217.º); em particular, referência à possibilidade de
alteração do horário para horário nocturno por determinação unilateral do empregador e ponderação
da necessidade de acordo do trabalhador; em face disso, ponderação da possibilidade de recusa de A..
Definição de trabalho nocturno e sua aplicação no caso concreto (art. 223.º);
Definição de trabalhador noturno (art. 224.º, n.º 1) e regime de proteção do trabalhador noturno (art.
225.º).
ii. Definição da categoria de A., por referência ao objeto contratual definido pelas partes (art. 115.º, n.º
1);
Apreciação da licitude da ordem de modificação das funções, à luz do regime da polivalência funcional
(art. 118.º) e da mobilidade funcional (art. 120.º, n.os. 1 e 4), e 129.º, n.º. 1, alínea e)) e respectivos
requisitos.
iii. Apreciação da possibilidade de exigência de vacinação para a prestação de trabalho no contexto
concreto (prestação de cuidados de saúde), tendo em conta os deveres do empregador (art. 127.º, n.º 1,
alíneas c), g)), direitos de personalidade e os deveres do trabalhador (art. 128.º, n.º 1, alínea i)) e a
proibição da igualdade e não discriminação (arts. 23.º ss.), ponderando a aplicação do regime do art.
25.º, n.º 2;
Análise da possibilidade de exigência da informação sobre vacinação, à luz do regime dos arts. 16.º e
17.º; em particular, referência ao regime de prestação de informações sobre saúde, tendo em conta os
requisitos definidos no art. 17.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2.
iv. Regime da transmissão de empresa ou estabelecimento (arts. 285.º e ss.); em particular, a consequência
da transmissão da posição de empregador nos contratos de trabalho, com a manutenção de todos os
direitos contratuais e adquiridos, nomeadamente retribuição (art. 285.º, n.º 3); ponderação da eventual
não aplicação do regime da transmissão de estabelecimento, caso se trate de mera operação societária
de aquisição de participações sociais;
Definição e regime da retribuição (arts. 258.º ss.); em particular, definição do conceito de retribuição
e seus elementos essenciais (art. 258.º, n.os 1 e 2);
Definição de retribuição base (art. 262.º, n.º 2, alínea a));
Análise da possibilidade de reestruturação do modelo retributivo, com salvaguarda da retribuição base,
tendo em conta a irredutibilidade da retribuição (129.º, n.º 1, alínea d)).

II
1. Identificação da fonte coletiva e seu enquadramento (arts. 1.º e 2.º, n.os 1, 2, 3, alínea c), e 476.º e ss.);
2. Referência à hierarquia entre fontes e à relação entre IRCT (em concreto, a convenção coletiva) e a lei
(arts. 3.º, n.os 1 e 3, e 478.º, n.º 1, alínea a)).
3. Ponderação da imperatividade (mínima) do regime dos arts. 263.º e 264.º, n.º 2, e respetivas
consequências quanto à invalidade das cláusulas do acordo de empresa.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Exame de Direito do Trabalho I (época especial) – 4.º Ano - Dia
06-09-2022 / Duração: 90m

Em 2 de janeiro de 2022, a Papelaria Jornais celebrou com Ana um contrato de


trabalho, pelo período de 4 meses, para a função de assistente de vendas, com vista à
substituição de Beatriz durante a licença parental inicial desta. O contrato indicava que se
tratava do primeiro emprego, pese embora entre abril e junho de 2021 Ana já tivesse sido
contratada para as mesmas funções pela Papelaria Jornais, com fundamento em acréscimo
excecional de atividade, decorrente de uma campanha que vigorou durante esse período. Em
meados de abril, Carlos, gerente, comunicou a Ana que pretendia continuar a contar com a
sua colaboração, ao que Ana imediatamente acedeu.
No início de maio, foi publicada em BTE uma convenção coletiva celebrada pela
Associação Nacional de Papelarias (ANP) (da qual a Papelaria Jornais é membro) e pelo
Sindicato Nacional de Trabalhadores dos Serviços (SNTS), nos termos da qual, entre outras
cláusulas, ficou estabelecido o seguinte:
(i) Em caso de trabalho suplementar ao Domingo, o trabalhador pode escolher
entre (i) receber um acréscimo de 100% e gozar descanso compensatório num
dos 3 dias seguintes, ou (ii) receber um acréscimo de 150%;
(ii) A remuneração dos assistentes de vendas é de € 1.000,00, podendo metade
deste valor ser pago através de ajudas de custo por despesas de transporte.
No início de junho, Ana discutiu com uma cliente antiga da Papelaria Jornais, que
insistiu em fumar dentro da loja. Em meados de junho, Carlos comunicou-lhe a cessação do
seu contrato, no âmbito do período experimental.

1) Aprecie a validade do contrato celebrado entre a Papelaria Jornais e Ana e a


cessação ao abrigo do período experimental. (6 valores)

- Identificação do tipo contratual (artigo 11.º CT) e da lei aplicável (artigo 7.º Lei 7/2009, de
12/2).
- Caracterização do contrato (termo resolutivo certo) e apreciação dos requisitos materiais e
formais de celebração (artigo 53.º CRP; Diretiva 99/70/CE, respeitante ao acordo-quadro CES,
UNICE e CEEP relativo a contratos de trabalho a termo; artigos 140.º, n.ºs 1, 2, alínea a) e 5,
141.º e 40.º, n.º 1 CT); duração (artigo 148.º, n.º 2, CT); referência à sucessão de contratos a

Ponderação global: 2 valores


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Exame de Direito do Trabalho I (época especial) – 4.º Ano - Dia
06-09-2022 / Duração: 90m

termo (não aplicação do artigo 143.º CT: conceito de posto de trabalho, identificação de
fundamento diverso – artigo 140.º, n.ºs 1 e 2, alínea f) e referência ao facto de o período de
tempo exigido já ter decorrido). Conclusão pela validade do contrato a termo celebrado (caso
os pressupostos formais estejam preenchidos).
- Alteração, por acordo, para contrato de trabalho sem termo (artigo 110.º CT e, quanto à
inadmissibilidade de renovação, artigos 147.º, n.º 2, alínea a) e 149.º, n.ºs 2 e 3, CT).
- Identificação do período experimental: artigo 112.º, n.º 2, alínea b), CT; inaplicabilidade do
artigo 112.º, n.ºs 1 e 4, CT; referência ao facto de, em qualquer caso, não ser aplicável o
regime do artigo 112.º, n.º 1, alínea b), subalínea iii), dado que não se tratava do primeiro
emprego e menção ao Acórdão do TC n.º 318/2021, de 18 de maio.
- Ilicitude da cessação ao abrigo do período experimental e à eventual violação de deveres da
trabalhadora durante a discussão com a cliente (artigo 128.º, n.º 1, alínea a), CT).

2) Ana reclama: (i) que nunca gozou férias, nem recebeu o correspondente
subsídio; (ii) que no dia 1 de junho (quarta-feira) realizou 4 horas de trabalho
suplementar, por indicação de Carlos, o qual nunca lhe foi pago; (iii) que a loja
tem uma câmara de vigilância, que visa a proteção contra furtos, mas que
permite visionar total e permanentemente o espaço onde trabalha, o que é
ilegal. (6 valores)

- Caracterização das férias enquanto direito irrenunciável do trabalhador (artigo 59.º, n.º 1,
alínea d), CRP; Diretiva 2003/88/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de novembro
de 2003, relativa a determinados aspetos da organização do tempo de trabalho; artigos 237.º
ss CT); Identificação do direito a férias no ano de admissão (artigo 239.º, n.º 1, CT, 10 dias
úteis), da data do vencimento (ainda não vencido) e dos efeitos da cessação (artigo 245.º, n.º
1, CT).
- Trabalho suplementar (caracterização, artigo 226.º CT; requisitos de admissibilidade, artigo
227.º CT; autoridade de Carlos, enquanto superior hierárquico, artigo 128.º, n.º 2, CT; limite
de 2 horas diárias excedido, artigo 228.º, n.º 1, alínea d), CT; ilegitimidade (parcial) da ordem,
artigo 128.º, n.º 1, alínea e); efeitos, artigos 268.º, n.º 1, alínea a) e 337.º CT).

Ponderação global: 2 valores


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06-09-2022 / Duração: 90m

- Direitos de personalidade (artigo 26.º CRP, artigos 14.º ss CT); admissibilidade de instalação
de câmara de vigilância com fundamento na proteção e segurança de pessoas e bens (artigos
61.º e 62.º CRP; artigo 19.º da Lei n.º 58/2019, de 8 de agosto; artigo 20.º CT), mas violação
da reserva da vida privada da trabalhadora, dada a colocação com visionamento direto para
o posto de trabalho e não para os locais de acesso.

3) Identifique e caracterize o instrumento de regulamentação coletiva e aprecie a


validade das suas cláusulas. (6 valores)

- Identificação dos IRCT enquanto fontes de Direito do Trabalho (artigo 56.º, n.º 2, CRP; artigos
1.º, 2.º e 476.º ss CT); caracterização (contrato coletivo, artigo 2.º, n.º 3, alínea a), CT);
determinação dos âmbitos (pessoal, artigo 496.º, n.º 1, CT, aplicabilidade aos trabalhadores
filiados no SNTS, com contrato de trabalho com uma entidade que seja membro da ANP;
temporal, artigo 499.º CT; material e geográfico, artigo 492.º CT); convenção vertical; entrada
em vigor (artigo 519.º CT).
- Apreciação do conteúdo do CCT: explicitação do regime presente no artigo 3.º CT; invalidade
(parcial) da cláusula (i), dado o regime injuntivo decorrente do artigo 229.º, n.º 4, CT, mas
admissibilidade do valor diverso do estabelecido no artigo 268.º, n.º 1, alínea b, CT;
admissibilidade de remuneração superior à RMMG (artigos 3.º, n.ºs 1 e 3, alínea j) e 273.º, n.º
1, CT), inadmissibilidade de pagamento através de ajudas de custo (conceito de retribuição:
artigos 258.º e 260.º, n.º 1, alínea a), CT; efeitos da retribuição em vários domínios, tais como
os subsídios de Natal e de férias, prestações por desemprego, reforma, entre outros); nulidade
das cláusulas contrárias a disposições injuntivas (artigos 3.º e 478.º, n.º 1, alínea a), CT).

Ponderação global: 2 valores

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