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Exmo.

Senhor
Instrutor do Processso Disciplinar nº011

JONAS PAPORO MUNHANHALA, em resposta à nota


de culpa que lhe move a empresa ARKHÊ Risk Solutions,
Lda, vem, ao abrigo do disposto na alínea b) do n.º 2 do
artigo 67 da Lei do Trabalho deduzir a sua defesa,
socorrendo-se das seguintes razões de FACTO e de
DIREITO:

Questão prévia

I. POR EXCPEÇÃO

i. Dispõe a alínea a) do n.º 2 do artigo 67 da Lei do Trabalho (Lei n.º 23/2007, de 1


de Agosto) que: a) fase de acusação- após a data do conhecimento da infracção, o
empregador tem trinta dias, sem prejuízo do prazo de prescrição da infracção, para
remeter ao trabalhador e ao órgão sindical existente na empresa uma nota de culpa,
por escrito, contendo a descrição detalhada dos factos e circunstâncias de tempo,
lugar e modo do cometimento da infracção que é imputada ao trabalhador (nosso
sublinhado).

ii. Da nota de culpa entregue ao trabalhador consta-se que a infracção ocorreu no dia 06
de Dezembro de 2023 e de acordo com o arguido a infracção ocorreu no dia 06 de
Novembro de 2023, dia em que tornou-se conhecimento sobre a mesma e de acordo
com o artigo 67 n.° 2, alínea a) da Lei do Trabalho a) fase de acusação: após a data
do conhecimento da infracção, o empregador tem 30 dias, sem prejuízo do prazo de
prescrição da infracção, para remeter ao trabalhador e a nota de culpa foi entregue
no dia 23 de Janeiro de 2024, passados trinta dias desde a infracção, a infracção
caducou.
iii. Da nota de culpa entregue ao trabalhador consta-se uma omissão, mormente à falta de
comunicação ao órgão sindical da empresa, pois não consta qualquer evidência de que
a mesma tenha sido remetida ao órgão sindical da empresa, uma vez que não foi
apensado o respectivo documento que comprova a sua remessa, em obediência ao
estabelecido na alínea a) do n.º 2 do artigo 67 da Lei do Trabalho, conjugado com o
n.º 1 do artigo 342 do Código Civil.

iv. As disposições legais relativas a instauração, instrução e conclusão do processo


disciplinar possuem um carácter injuntivo e, as formalidades legais do mesmo são de
cumprimento obrigatório. Da leitura das alíneas a), b) e c) do nº 2 do artigo 67 da Lei
do Trabalho, facilmente se chega à conclusão de que o processo disciplinar é remetido
ao órgão sindical da empresa três vezes, nomeadamente, na fase da acusação, na fase
da defesa e na fase da decisão. É evidente que a remessa da nota de culpa ao órgão
sindical da empresa é uma formalidade que constitui uma exigência imposta pelo
próprio legislador e, por se tratar de uma norma processual não pode ser afastada pelos
seus destinatários, não sendo admissível que o empregador ou o instrutor do processo
disciplinar prescinda da mesma.

v. Sendo os requisitos da nota de culpa uma formalidade legal e essencial, estes não
devem prescindidos, afastados ou ignorados, ao que, o não cumprimento da sua
remessa ao órgão sindical, a não descrição detalhada dos factos, a não descrição do
lugar e o modo de cometimento, não podem conduzir à outro fim senão a invalidade do
respectivo processo disciplinar e, por conseguinte, tem como consequência a não
produção dos efeitos jurídicos pretendidos, conforme estabelecido na alínea a) n.º 1
do artigo 68 da Lei do Trabalho.

vi. Destaca-se ainda, o facto de na respectiva nota de culpa não se terem realizado as
diligências de prova necessárias, uma vez que não constam da nota de culpa as provas
dos factos alegados pela entidade empregadora. Da leitura do nº 1, do artigo 342 do
Código Civil, “Àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos
constitutivos do direito alegado.” E caberia à entidade empregadora fazer prova dos
factos por ela alegados, o que não ocorreu; não podendo os factos serem levados em
consideração por terem a devida prova para os susterem.

II. POR IMPUGNAÇÃO

A. Dos factos

1.º
O arguido no presente processo disciplinar celebrou um contrato de trabalho com a empresa
ARKHÊ Risk Solutions, Lda, sita na rua Daniel Napatima, n.º 241, bairro da Sommershield, em
Maputo, exercendo funções da categoria profissional de Vigilante C, titular do n.° 14708.

2.º
Importa frisar que, o arguido sempre exerceu a sua actividade com zelo, diligência e lealdade ao
empregador, respeitando os seus deveres profissionais previstos na Lei do Trabalho como um
bonus pater familae, tanto é que o seu vínculo laboral com a empresa supracitada perdura já há
quase 4 (quatro) anos.

3.º

No dia 23 de Janeiro de 2024, o arguido foi notificado da Nota de Culpa remetida a si pela entidade
empregadora, que se junta em anexo, no âmbito do Processo disciplinar n° 011.

4.º
Consta da nota de culpa que o arguido no dia 06 de Dezembro de 2023, por volta das 00h:10min,
o arguido proferiu palavras injuriosas e de muita falta de respeito na rádio de comunicação em uso
na empresa, tendo sido testemunhado pelos colegas. No entanto, não constitui verdade que o facto
tenha ocorrido no dia 06 de Dezembro de 2023, o facto ocorreu no dia 25 de Novembro de 2023.

5.º
Consta da nota de culpa que o arguido proferiu palavras injuriosas e de muita falta de respeito e
consta ainda que alguns testemunhram, mas não há provas do ocorrido, sendo que as testemunhas
não são arroladas e nem os seus depoimentos.

6.º
B. De Direito
Conforme o estabelecido no artigo 58 da Lei do Trabalho, é dever do trabalhador cumprir com
as obrigações ali dispostas. Ora veja-se, desde o momento que o arguido começou o seu vínculo
contratual com a empresa, nunca passou por algum processo disciplinar, significando isso, que
este sempre cumpriu com os seus deveres.

7.º
É verdade que o acto pelo qual o arguido é acusado consubstancia a infracção disciplinar prevista
no artigo 66, nº 1, alínea e), conjugado com artigo 58, alínea c), ambos da lei do trabalho,
entretanto, tenha-se em consideração o disposto no artigo 64 da mesma lei, mormente nos números
2 e 5, ora veja-se:
8.º
De acordo com o nº 2 do artigo 64, a medida disciplinar deve ser proporcional à gravidade da
infracção cometida e atender ao grau de culpabilidade do infractor, à conduta profissional do
trabalhador e, em especial, às circunstâncias em que se produziram os factos, o facto de terem
ligado várias vezes sem resposta para a sala de controlo. Da conduta pela qual o arguido é acusado,
pese embora possa ter causado constrangimentos, o arguido cumpriu no mesmo dia com a sua
actividade de forma íntegra como em todos os outros dias, associado à isso, pelo disposto nº 5, no
qual estabelece que, a infracção disciplinar considera-se particularmente grave sempre que a sua
prática seja repetida, intencional, comprometa o cumprimento da actividade adstrita ao
trabalhador, e provoque prejuízo ao empregador ou à economia nacional ou por qualquer outra
forma, ponha em causa a subsistência da relação jurídica de trabalho, o que não se vislumbra no
caso.

9.º
O arguido lamenta pelo que lhe é acusado na nota de culpa e compromete-se à não repetição da
situação em concreto.

10.º
A antiguidade do trabalhador na empresa, o facto de ser um actor primário consubstanciam
também circuntâncias atenuantes.

Do pedido
Nestes termos e nos demais de Direito, tendo em conta as excepções levantadas, as circunstâncias
atenuantes, o arguido vem requerer o arquivamento do processo pelas razões que supra expostas.

Maputo, aos 30 de Janeiro de 2024

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Jonas Paporo Munhanhala

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