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Às mulheres trabalhadoras

Todos os dias, a todas as horas, milhares de mulheres travam lutas contínuas pela
dignificação do seu estatuto em sociedade. Mas porque razão se encontram as mulheres
condenadas à luta contínua? Ao cansar sempre presente de uma luta travada para que
sejam consideradas enquanto seres humanos e não como propriedade privada? Para que
sejam entendidas enquanto seres humanos com intenções, vontades, emoções e sonhos e
não como meras máquinas reprodutivas? Nada é coincidência, tudo é presença. A
presença de um sistema capitalista que atinge materialmente a liberdade de ação e opção
da mulher, condenando-a a uma vida de constante sobre-exploração. Alegando supostas
diferenças naturais e biológicas que servem para justificar e consagrar discriminações.
Afinal, a venda da força de trabalho da mulher, é menos rentável para a produção da
mais--valia açambarcada injustamente pelo patrão, pensa o capital.
É necessário que compreendamos que os comportamentos misóginos e
machistas, são eles consequência da manipulação sofrida por muitos homens num
sistema capitalista que julgam benéfico para o seu estatuto. É conveniente que a família
adquira um caráter corporativo, pois permite retirar a mulher dos seus locais de
trabalho, para as encerrar nos quatro cantos da casa para que prepare a restante
corporação (os filhos), futuros explorados pelo grande capital, enquanto deixa para
atrás, os sonhos, aspirações, experiências, estudos e independência nos mais diversos
níveis. Ao mesmo tempo, o sistema capitalista divide a classe, opondo homens e
mulheres, pois enquanto discutem entre si, o sistema permanece intocado.
A criação de consciência de classe e
consciência política (essencial para a tomada de consciência da condição social
desigualitária da mulher), possibilita um traçar específico das reivindicações sociais que
determinam efetivamente uma libertação socioeconómica da mulher. O acesso a um
justo salário, a um horário de trabalho regulado permitindo à mulher a conciliação entre
a vida social, familiar, cultural e política, o acesso a um serviço de saúde público e
gratuito com preocupações relativas ao planeamento familiar e à saúde íntima, à
educação pública e gratuita, à habitação, a serviços públicos e gratuitos, é consequência
de uma luta que deve ser travada contra o grande capital e o sistema de propriedade, que
mina as relações pessoais das mulheres e dos seres humanos em sociedade.
A falta de
independência económica limita as possibilidades de ação da mulher na sociedade,
ficando subordinada ao detentor do capital na relação estabelecida. Assim se fomentam
situações de violência doméstica, em que reina a dependência económica da mulher no
seu abusador (detentor da propriedade e do capital na relação estabelecida), do total
apagamento da mulher enquanto ser humano, cultural, político e social tendo em conta a
dupla jornada de trabalho ao qual se encontra encarregada, a jornada de trabalho no seu
local de trabalho e a jornada de trabalho doméstico, conduzindo a uma situação de
sobre-exploração. A este quadro deve adicionar-se as discriminações laborais sofridas,
nomeadamente, o assédio (consequência do estabelecimento de uma relação hierárquica
de dominação do capital por parte do assediador), os despedimentos em razão de fatores
discriminatórios e o acesso a cargos superiores (de forma a concentrar o grande capital
impossibilitando a emancipação da mulher, perpetuando o ciclo de limitação objetiva
pelo grande capital). Empurra a mulher em situação económica frágil, à mercantilização
do seu corpo, através do recurso à prostituição, diz o grande capital apoiado pelas
feministas liberais, que se trata de uma escolha individual proveniente da liberdade de
cada uma. Mas que liberdade? Num sistema em que se limita a liberdade de ação e
opção das mulheres através da não distribuição da riqueza? E em que não existem
respostas públicas para responder aos seus problemas sociais e económicos?
A mulher é um dos maiores alvos do capitalismo e das empresas
multinacionais, com o contínuo estabelecimento de padrões de beleza e de vida
inatingíveis e com o consequente desenhar de padrões de conduta que são esperados de
acordo com o sexo do recetor da mensagem capitalista. Conduzindo de acordo com a
psicologia de massas do capitalismo, a um verdadeiro sentido de angústia, vazio e
culpabilidade e cuja solução aparece como sendo a sociedade da produtividade doentia e
do consumo. Não obstante ser o maior alvo deste sistema, sofre consequentemente a sua
falha de forma mais aguda, as unidades de maternidade e de saúde feminina são as
primeiras a fechar portas consequência do total desinvestimento no serviço nacional de
saúde, sofrem com a desigualdade salarial, são as primeiras a ser banidas do mercado de
trabalho e com o desinteresse no incentivo à educação pública, especialmente em
relação às creches e escolas primárias.
O esmagamento silencioso da mulher pelo grande capital apenas
pode ser combatido através da tomada dos meios de produção por parte do povo. Por
todas estas razões, é urgente uma verdadeira leitura marxista das condições objetivas da
mulher permitindo a sua total libertação, através de uma luta organizada das mulheres
em unidade. Permitindo a superação do estabelecimento de relações de propriedade
assentes na desigualitária distribuição da riqueza, fator material da sobre-exploração
sofrida pela mulher.
Mulher, toma nas tuas mãos o teu destino e luta pelos teus direitos!
Organiza-te!

Marta Gondar

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