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Bruno de Oliveira Carneiro

Ensaio sobre questão da mulher e gênero

O capitalismo, modo de produção contemporâneo, se


desenvolve historicamente a partir das sociedades pré-capitalistas
se aproveitando de muitas das relações existentes anteriormente. A
submissão histórica da mulher ao gênero masculino, com origens
nos fins da sociedade comunal e no surgimento da propriedade
privada, é apropriada pelos capitalistas nesse novo modo produtivo
que emerge sendo funcional à sua dominação. A burguesia
aprendendo com a história das classes dominantes passadas utiliza
da máxima romana “dividir para conquistar”, e insufla conflitos
internos na sociedade, cria divisões artificiais no interior da
sociedade para desse modo poder dominar mais facilmente e
exercer sua hegemonia. A submissão da mulher se apresenta sob
essa óptica na sociedade contemporânea. É muito funcional aos
capitalistas modernos que metade dos seres humanos pertençam à
uma categoria inferior pois desse modo estão justificados os baixos
salários pagos às mulheres, justifica-se que estas se encontrem nos
postos de trabalho mais precário, como as que fazem o trabalho de
limpeza, as empregas domésticas, as que se encontram no trabalho
terceirizado, naturaliza-se assim o desemprego das mulheres,
rebaixa-se o salário geral dos trabalhadores, enquanto milhares se
sentem obrigadas a se prostituir para ter algum sustento, é tornado
natural também uma certa essência feminina que a condicionaria ao
trabalho doméstico, dessa forma pode-se relegar as mulheres à
cumprir as funções domésticas da casa sem receber nenhum
salário, assim uma função essencial à reprodução da vida dos
trabalhadores(que é o trabalho domestico) e conseqüentemente
essencial à reprodução do próprio sistema capitalista é exercida de
graça por milhares de mulheres, o que as impede de poder trabalhar
e de participar com igualdade na vida publica como os homens,
enquanto as que conseguem um trabalho são obrigadas a exercer
uma dupla jornada de trabalho (o emprego e o trabalho doméstico).
A divisão social de homens e mulheres impede a unidade e
camaradagem destes em uma ação revolucionaria que busque
construir uma nova sociedade emancipada, a rivalidade entre
homens e mulheres é estimulada, tal ocorreu na época da
introdução das mulheres no trabalho industrial onde se constituiu um
anti-feminismo proletário que era contrário à participação das
mulheres no mundo do trabalho pois trabalhavam por menos e
rebaixavam o nível geral dos salários. A divisão social entre homens
e mulheres portanto é funcional a ordem capitalista e facilita sua
dominação. Somente uma ação revolucionaria - baseada na
hegemonia do proletariado - onde as próprias mulheres sejam
protagonistas e em aliança com outros setores, como negros,
LGBTs, pobres urbanos, pequena burguesia progressista - é que é
capaz de por fim às formas capitalista de propriedade e às relações
delas decorrentes (sendo a submissão das mulheres uma delas).
Porém não basta o fim da propriedade privada para que
imediatamente desapareçam as relações e preconceitos capitalistas,
é necessário que o ser humano se auto-construa democraticamente
e vá superando as formas capitalistas nessa auto-construção. A
experiência dos bolcheviques nos primeiros anos da revolução russa
nos é muito instrutivo a respeito do caminho a ser percorrido para a
emancipação da mulher. Nessa atmosfera revolucionária, era
debatido ardentemente as formas que tomaria a sociedade socialista
do futuro, nesse sentido também foram debatidas as questões da
emancipação da mulher e do fim que levaria a família. A visão
bolchevique previa que para que as mulheres pudessem alcançar
igualdade real com os homens, estas precisam ser libertas das
obrigações do trabalho domestico, o que seria possível através de
lavanderias públicas, creches e restaurantes públicos, ou seja o
plano era passar para a esfera pública o trabalho doméstico privado,
essa era a condição essencial para libertação das mulheres. Outras
condições preconizadas pelos bolcheviques para emancipação da
mulher eram que esta tivesse direito a trabalhar e receber um salário
igual a de um trabalhador do sexo masculino tivesse direito de se
divorciar quando quisesse (o que foi garantido pela legislação da
família de 1918) e também o definhamento da família era algo
teorizado pelos revolucionários no primeiros anos da revolução. O
sociólogo S. Ia. Vol’fson escreveu em 1929 “a família será enviada
ao museu de antiguidades para que descanse ao lado da roca de
fiar, do machado de bronze, da carruagem a cavalo e do motor a
vapor e do telefone com fio.”

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