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Supremo Tribunal Federal

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.197.058 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


RECTE.(S) : OLIVERIO BORGES JUNIOR
ADV.(A/S) : AURY CELSO LIMA LOPES JUNIOR
ADV.(A/S) : VIRGINIA PACHECO LESSA
ADV.(A/S) : VITOR PACZEK MACHADO
RECTE.(S) : ENDRIGO JORGE POSSENTI
ADV.(A/S) : JOSE ROBERTO CURTOLO BARBEIRO
RECTE.(S) : SANDRINE DE OLIVEIRA TAVARES
ADV.(A/S) : JOSE ROBERTO CURTOLO BARBEIRO
RECDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

DECISÃO:
Trata-se de agravo interposto por Oliverio Borges Junior que tem
por objeto decisão que inadmitiu recurso extraordinário interposto contra
acórdão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, do qual se extrai da
ementa o seguinte trecho:

“PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÕES


CRIMINAIS. TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS.
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE DROGAS. INÉPCIA DA
DENÚNCIA: INOCORRÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA
POR INDEFERIMENTO DE PROVA PERICIAL: NÃO
VERIFICADA. IRREGULARIDADE NO MANDADO DE
BUSCA E APREENSÃO: NÃO CONFIGURADA.
ILEGALIDADE DA PROVA DECORRENTE DAQUELAS
COLHIDAS EM BUSCA E APREENSÃO: INOCORRÊNCIA.
NULIDADE DO FEITO POR AUSÊNCIA DE DECISÃO DA
AUTORIDADE SANITÁRIA: INOCORRÊNCIA. PRELIMINAR
DE INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL REJEITADA.
PRELIMINAR DE ILICITUDE DA PERÍCIA REJEITADA.
PRELIMINAR DE ILICITUDE DA PROVA PRODUZIDA
ATRAVÉS DA QUEBRA DE SIGILO FISCAL NÃO
CONHECIDA. MATERIALIDADE E AUTORIAS
DEMONSTRADAS PARA OS RÉUS ENDRIGO, SANDRINE,
WALTER E OLIVÉRIO. AUTORIA IMPUTADA AO RÉU

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CELSO NÃO DEMONSTRADA. REJEITADO O PEDIDO DE


"DESCLASSIFICAÇÃO" DO CRIME DO ARTIGO 14 PARA O
ARTIGO 18, III, DA LEI 6.368/1976. NÃO CONFIGURAÇÃO
DOS CRIME DO ARTIGO 280 DO CP E ARTIGO 37 DA LEI
11.343/2006. INOCORRÊNCIA DE DELAÇÃO PREMIADA.
[…]”

O recurso busca fundamento no art. 102, III, a, da Constituição


Federal. A parte recorrente alega ofensa aos arts. 1º, III, 5º, LIV, LV, LVI,
LVII, LII, XXXIX, XLI, XLVI, 129, I, e 93, IX, da CF, bem como à CADH.
Afirma que:
(i) não houve “uma decisão da autoridade sanitária competente
reconhecendo a infração decorrente das condutas narradas na denúncia”;
(ii) “não demonstrada a internacionalidade, a competência é da justiça
estadual”;
(iii) “o recurso da acusação não deveria ser conhecido por ausência de
interesse recursal”;
(iv) “uma vez que já reconhecida a ilicitude da prova em sede de sentença, é
obrigatório o desentranhamento desta dos autos”;
(v) “está-se diante de uma perícia realizada por pessoas que não são peritos
e que participaram ativamente das investigações, carregadas de juízos valorativos
e desprovidos de qualquer lastro legal e/ou técnico”;
(vi) “no caso sub judice há manifesta atipicidade da conduta pois é
pacificamente conhecido no ramo farmacêutico que a venda de medicamentos
controlados é regulada pela Portaria 344/96 da ANVISA, onde consta desde o
que é considerado entorpecente até as exigências para fabricação, venda,
transporte, etc”;
(vii) “errônea valoração probatória, pois os Desembargadores julgaram
como dolosa a conduta, quando na verdade é flagrantemente culposa”;
(viii) não de poderia exigir conduta diversa do ora recorrente;
(ix) “ao majorar a pena-base, o fez com circunstâncias ínsitas ao próprio
delito”;
(x) “houve confusão hermenêutica por parte do magistrado a quo, que
condenou o recorrente nas penas do art. 71 do CP motivando e não

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fundamentando”.

Decido.

O recurso é inadmissível, tendo em vista que, por ausência de


questão constitucional, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou
preliminar de repercussão geral relativa à controvérsia sobre suposta
violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa, dos limites da
coisa julgada e do devido processo legal (ARE 748.371-RG, Rel. Min.
Gilmar Mendes - Tema 660).
O STF também já decidiu tratar-se de matéria infraconstitucional a
questão relativa à afronta ao princípio do juiz natural. Nessa linha, vejam-
se o AI 839.398, Rel. Min. Joaquim Barbosa; o AI 735.009, Rel. Min. Cezar
Peluso; o AI 681.668-AgR, Relª. Minª. Ellen Gracie; o AI 845.223 AgR-ED,
Rel. Min. Luiz Fux; e o RE 255.639, Rel. Min. Ilmar Galvão.
No caso, a parte recorrente se limita a postular a análise da
legislação infraconstitucional pertinente e uma nova apreciação dos fatos
e do material probatório constante dos autos, o que não é possível nesta
fase processual. Nessas condições, a hipótese atrai a incidência da Súmula
279/STF.
Quanto à necessidade de reavaliação dos fatos subjacentes,
confiram-se os seguintes trechos do voto condutor do acórdão recorrido:

“[...]
DA APELAÇÃO DOS RÉUS CELSO e OLIVÉRIO e do
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (quanto ao crime de
tráfico).
Considerando que a apelação do MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL limita-se a pedir a condenação dos réus CELSO e
OLIVÉRIO com o reconhecimento do dolo direto quanto ao
crime de tráfico e a condenação de ambos no crime de
associação para o tráfico, e considerando ainda que as apelações
dos réus pleiteiam, entre outros itens, a absolvição, ambos os
recursos serão analisados conjuntamente, quanto ao crime de

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tráfico, vez que em ambos deve ser feita a mesma análise do


conjunto probatório relativos aos réus.
Inicialmente, registro ainda trata-se de caso deveras
inusitado - apelação da Acusação contra a sentença que
condenou os réus por dolo eventual, pedindo o reconhecimento
do dolo direto. Embora duvidoso o interesse recursal do MPF
em apelar contra sentença condenatória, pedindo a condenação
por outro fundamento, na particularidade do caso dos autos,
entendo que o recurso comporta conhecimento.
Isso porque a sentença condenatória foi explícita em
fundar a condenação dos réus CELSO e OLIVÉRIO pelo crime
de tráfico no dolo eventual. Assim, é de se entender possível
que o MPF apele, pedindo o reconhecimento do dolo direto, a
fim de se evitar que, na hipótese da análise da apelação da
Defesa concluir pela ausência de dolo eventual, sejam os réus
absolvidos.

Feitas essas considerações, passo à análise dos recursos.

Rejeito a preliminar de nulidade do feito por ausência


de decisão da autoridade sanitária reconhecendo a infração
imputada, pois não se discute a existência de autorização da
empresa Licimed para a comercialização de medicamentos,
abrangidos os de uso controlado.
Depreende-se do teor da inicial acusatória, que a questão
posta nos autos diz respeito à venda de medicamentos de
maneira ilegal, para pessoa física, em verdadeira simulação de
uma venda comercial regular para pessoa jurídica - Hospital
Antonio Pedro, vinculado à Universidade Federal Fluminense -,
com remessa dos remédios para endereços desvinculados a
qualquer filial ou "campus" da Universidade Federal
Fluminense, em nome de pessoas físicas, bem assim com
estornos dos valores das vendas em nome de terceiros/pessoas
físicas também desvinculadas da pessoa jurídica supostamente
adquirente, a qual constava da nota fiscal emitida pela Licimed,
condutas enquadradas pelo Ministério Público Federal no tipo

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do artigo 12 da Lei 6.368/1976, na modalidade de venda de


entorpecentes.
Nesse panorama, revela-se prescindível a manifestação da
autoridade sanitária a respeito das transações efetuadas e tidas
na denúncia como criminosas, exatamente porque a questão
transborda, segundo a inicial acusatória, do aspecto de
irregularidade administrativa na tramitação das vendas, vindo
a constituir crime, equiparado a hediondo.
Nesse prisma, as autoridades policial e judiciária não
ficam vinculadas a qualquer manifestação da autoridade
sanitária, sendo dever de ofício prosseguir nas investigações, a
fim de se apurar a ocorrência ou não de delito, dada a
independência entre as instâncias administrativa e penal. Nesse
sentido colaciono os precedentes do Supremo Tribunal Federal
e do Superior Tribunal de Justiça (…)
[…]
Rejeito a preliminar de incompetência da Justiça
Federal, argüida ao argumento de ausência de demonstração
da internacionalidade da conduta.
Aos réus CELSO e OLIVÉRIO foi imputada a conduta de
fornecer medicamentos à quadrilha liderada por Alessandro
Peres Fávaro, réu na ação penal nº 2006.61.06.005846-0, o qual
revendia os medicamentos a terceiros, enviando-os pelo Correio
a destinatários no exterior. Assim, segundo a denúncia, tratava-
se de uma cadeia de ações delitivas, tendo como finalidade
última o abastecimento do "mercado negro" estrangeiro com os
remédios fornecidos pela empresa Licimed a Alessandro Peres
Fávaro.
Portanto, a competência da Justiça Federal está bem
delineada, tendo a questão sido decidida no julgamento da
Apelação Criminal interposta por Alessandro Peres Fávaro, nos
autos nº 2006.61.06.005846-0, na sessão de 15.10.2013, perante
esta Primeira Turma (…)
[…]
Rejeito a preliminar de ilicitude da perícia encartada às
fls. 3912/3917, ao argumento de a elaboração de "Relatório de

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Análise" pelos policiais federais Marques e Willian consistiu em


"nova perícia" realizada por pessoas que não são peritos.
O Laudo de Exame de Dispositivo de Armazenamento
Computacional nº 167/2007 de fls. 3912/3917 foi devidamente
confeccionado por dois peritos criminais federais.
Observa-se do item IV-EXAMES (fls. 3915/3916) a
indicação de que no dispositivo de armazenamento
computacional examinado continha mensagens de correio
eletrônico trocadas entre "Marco Aurélio" e a empresa Licimed,
entre "Marco Aurélio" e funcionários da Licimed, arquivos
referentes a Robson e caixa de e-mail do réu OLIVÉRIO.
Logo, a simples transcrição do conteúdo já desvendado
pelos peritos no laudo 167/2007 não constituiu nova perícia,
mas apenas referência à prova já produzida.
[…]
Não conheço da preliminar de ilicitude da prova
produzida através da quebra de sigilo fiscal, consistente na
requisição pelo Ministério Público Federal à Delegacia da
Receita Federal em Porto Alegre/RS de cópias das Declarações
de Imposto de Renda da pessoa jurídica Licimed (fls.
4705/4714), por falta de interesse, porque a questão já foi
acolhida em preliminar de sentença (fls. 5325):

II.1.5. Quebra de sigilo fiscal sem determinação


judicial - prova ilícita
Alega a defesa dos réus Celso e Olivério ser ilícita a
juntada aos autos dos documentos de fls. 4704/4714 (vol.
16), que dizem respeito a dados fiscais da empresa
Licimed, na medida em que tais informações foram
requisitadas diretamente pelo Ministério Público à
Autoridade fiscal.
Embora de forma não unânime, prevalece no
Supremo Tribunal Federal o entendimento de que
somente é legítima a quebra de sigild de dados
diretamente requisitada pelo Ministério Público quando a
questão a ser dirimida envolver dinheiro ou verbas

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públicas (MS 21.729-4/DF, Relator Ministro Sepúlveda


Pertence).
Esta ponderação em virtude de uma colisão entre um
direito individual e o interesse público não ocorre no
presente caso. Assim, adotando o posicionamento
prevalente da jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, até o presente momento, acolho a preliminar
argüida para considerar ilícita a prova em questão.
No entanto, cumpre salientar que tais documentos
não têm relevância para o deslinde desta ação penal e já
adianto que não serão considerados em meu processo de
convencimento sobre os fatos narrados na denúncia, razão
pela qual entendo desnecessário o seu desentranhamento
dos autos.

Por outro lado, embora haja entendimento jurisprudencial


no sentido de que o Ministério Público Federal não pode
requerer à Receita Federal declarações de imposto de renda,
sem autorização judicial, a declaração da ilicitude da prova traz
como consequência sua inutilização para o processo.
E, no caso dos autos, as declarações de imposto de renda
não serviram de base à condenação, não exercendo qualquer
influência no convencimento do julgador.

Rejeitadas as preliminares, passo ao exame do mérito.

O réu CELSO figurava como diretor da empresa Licimed


Distribuidora de Medicamentos, Correlatos e Produtos Médicos
e Hospitalares Ltda. à época dos fatos, ao passo que o réu
OLIVÉRIO era o vendedor de medicamentos na empresa
Licimed Distribuidora de Medicamentos, Correlatos e Produtos
Médicos e Hospitalares Ltda. à época dos fatos.
Segundo a denúncia, ‘CELSO LUIS VICARI - sócio e
administrador da empresa LICIMED DISTRIBUIDORA DE
MEDICAMENTOS, CORRELATOS E PRODUTOS MÉDICOS E
HOSPITALARES LTDA (...) foi, pelo menos durante o período

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de fevereiro de 2003 a agosto de 2005, responsável pelo


fornecimento ilícito de grande quantidade de medicamentos de
uso controlado para a quadrilha liderada por ALESSANDRO’.
Segundo a denúncia, ‘OLIVÉRIO BORGES JUNIOR -
funcionário da empresa LICIMED, foi o responsável pela
efetivação do falso cadastro da 'UFF' na empresa, bem como
pelas providências de remeter os lotes de medicamento de
comércio e uso controlado em nome da universidade para
endereço diverso da mesma, e, ainda, por determinar a
transferência de recursos depositados a maior na conta da
LICIMED, pela quadrilha de ALESSANDRO PERES FAVARO,
para a conta de terceiros totalmente estranhos aos quadros da
LICIMED.’

Não há que se falar em atipicidade da conduta, pois a


denúncia descreve comportamentos que se amoldam ao tipo do
artigo 12 da Lei 6.368/1976, modalidade vender e remeter, como
se verifica dos excertos já transcritos no relatório.

A materialidade delitiva do delito de tráfico de drogas


(artigo 12 da Lei 6.368/1976) encontra-se demonstrada pelas
provas coligidas aos autos, como já explanado acima ao analisar
os recursos de apelação dos réus ENDRIGO e SANDRINE,
tópico ao qual me reporto.

A autoria delitiva imputada ao réu OLIVÉRIO pela


prática de tráfico de drogas é comprovada pela prova
produzida sob o crivo do contraditório e da ampla defesa.
Não socorre a alegação da Defesa de que o réu OLIVÉRIO,
na qualidade de vendedor da empresa Licimed, atuava
licitamente fazendo a venda dos remédios a pessoa que se
identificou como "Dr. Marco Aurélio", suposto médico do
Hospital Antonio Pedro, vinculado à Universidade Federal
Fluminense.
Do exame probatório é possível concluir que o réu
OLIVÉRIO tinha pleno conhecimento de que não estava

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efetuando as vendas para um médico chamado Marco Aurélio,


mas sim para outras pessoas físicas, que se passavam por ele, e
compravam numerosa quantidade de medicamentos.
A alegação da Defesa de que houve ‘mero descuido’,
‘ingenuidade’ ou falta de controle mais rigoroso na realização
da checagem dos compradores é desmentida pela prova dos
autos.
[…]
Logo, o fato de a empresa Licimed possuir autorização do
órgão sanitário competente para a venda de medicamentos,
abrangidos os de uso controlado, não é capaz de provar a
inocência do réu OLIVÉRIO, porque as provas coligidas aos
autos demonstram que ele tinha plena ciência que a venda não
estava sendo feita para pessoa jurídica Universidade Federal
Fluminense, mas para pessoas físicas absolutamente
desvinculadas da universidade, em montante bastante acima do
praticado por pessoas jurídicas compradoras, como
universidades, hospitais e secretarias de saúde.
Considerada a fundamentação supra e todas as provas
produzidas sob o crivo do contraditório e da ampla defesa é de
rigor a manutenção da condenação do réu OLIVÉRIO Borges
Júnior pela prática de tráfico de drogas, cometido com dolo
direto, consistente na vontade livre e consciente de efetuar as
vendas de entorpecentes a pessoas físicas, sabedor de que a
emissão de notas fiscais em nome da Universidade Federal
Fluminense era ideologicamente falsa, destinada a dar
aparência de legalidade às vendas.
[…]
DA APELAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
(quanto ao crime de associação para o tráfico).

A acusação pretende a condenação dos réus CELSO e


OLIVÉRIO no crime de tráfico de drogas, reconhecendo-se que
ambos agiram com dolo direto na conduta.
A pretensão encontra-se parcialmente prejudicada diante
da absolvição do réu CELSO em relação à imputação de tráfico

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de drogas.
Por outro lado, quanto ao crime de tráfico, a pretensão
restou acolhida em relação ao réu OLIVÉRIO, cuja condenação
por tráfico restou mantida neste voto, reconhecendo-se ter ele
agido com vontade livre e consciente de vender ilicitamente os
medicamentos à quadrilha de Alessandro Peres Fávaro.
Resta portanto a análise da pretensão de condenação dos
réus OLIVÉRIO e CELSO por crime de associação para o
tráfico.
[…]
Quanto ao réu OLIVÉRIO, a prova é farta e robusta de
que ele, consciente e voluntariamente, por período extenso de
dois anos, vendeu medicamentos à quadrilha de Alessandro
Peres Fávaro, pagando ‘comissão’ a WALTER pelas vendas.
a) houve a apreensão de agenda pessoal de OLIVÉRIO
onde constava anotação de que o "Dr. Marco Aurélio" era a
pessoa de "Juliana S. Maia" (ré condenada nos autos
2006.61.06.005846-0 pela prática de tráfico internacional de
drogas e esposa do líder da quadrilha Alessandro Peres Fávaro,
também réu condenado naqueles autos), domiciliada em São
José do Rio Preto/SP;
b) massivas remessas de medicamentos em nome de
pessoas físicas - Juliana Maia (esposa de Alessandro e também
condenada nos autos 2006.61.06.005846-0) e Jonas (corréu
condenado na ação penal 2006.61.06.005846-0 juntamente com
Alessandro)- a endereços em São José do Rio Preto/SP, São
Paulo/SP, Praia Grande/SP e São Caetano do Sul/SP, locais
residenciais sem qualquer vinculação ao Hospital Antonio
Pedro - Universidade Federal Fluminense;
c) depósitos de estornos de vendas não realizadas - do
valor da fatura - em nome de pessoa física (Sra. Débora - mãe
do corréu WALTER), sem qualquer vinculação ao Hospital
Antonio Pedro - Universidade Federal Fluminense;
d) pagamentos de comissão a pessoa física (Robson
Gomes Branco, amigo do corréu WALTER e de quem
emprestava a conta bancária para fazer movimentação

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financeira de seu interesse), sem qualquer vinculação ao


Hospital Antonio Pedro - Universidade Federal Fluminense;
Desta feita, como já dito antes, OLIVÉRIO tinha pleno
conhecimento que as compras não eram efetuadas pela
Universidade Federal Fluminense, mas sim por Juliana e
Alessandro, e aderiu à empreitada criminosa por tempo
juridicamente relevante - dois anos - a demonstrar a
estabilidade e a durabilidade das relações criminosas mantidas
com os réus da ação penal 2006.61.06.005846-0 Alessandro,
Juliana e WALTER.
Logo, caracterizada a associação criminosa para a prática
de tráfico de drogas.
[…].”

A controvérsia relativa à individualização da pena passa


necessariamente pelo exame prévio da legislação infraconstitucional.
Nesse sentido: AI 797.666-AgR, Rel. Min Ayres Britto; AI 796.208-AgR,
Rel. Min. Dias Toffoli; RE 505.815-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa.
Cabe registrar o entendimento do STF no sentido de que as decisões
judiciais não precisam ser necessariamente analíticas, bastando que
contenham fundamentos suficientes para justificar suas conclusões (AI
791.292-QO-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes). Na hipótese, a decisão está
devidamente fundamentada, embora em sentido contrário aos interesses
da parte agravante.
Diante do exposto, com base no art. 21, § 1º, do RI/STF, nego
seguimento ao recurso de Oliverio Borges Junior.
Publique-se.

Brasília, 28 de março de 2019.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO


Relator

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