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Editorial.............................................................................................................................. 7
DOUTRINA
Artigos
NOTAS E COMENTÁRIOS
RESENHAS
MOREIRA, Alberto Camiña; ALVAREZ, Anselmo Prieto; BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.).
Panorama atual das tutelas individual e coletiva: estudos em homenagem ao Professor
Sérgio Shimura. São Paulo: Saraiva, 2011.
Marcelo José Magalhães Bonicio .............................................................................. 243
MIRANDA NETTO, Fernando Gama de; ROCHA, Felippe Borring (Org.). Juizados
especiais cíveis: novos desafios. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
Lúcio Delfino ............................................................................................................... 249
1
GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e teoria do processo. Rio de Janeiro: Aide, 1992. p. 184.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 7-8, jan./mar. 2011
Os Diretores
2
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do
processo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 24.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 7-8, jan./mar. 2011
1 Introdução
O conceito de impedimento e suspeição no processo administrativo
é o mesmo aplicável ao processo judicial, ou seja, são institutos que visam
a atestar a isenção do julgador, essencial a qualquer atividade processual.
Em se tratando de processos administrativos, mais se avoluma a necessi
dade de ser garantida a imparcialidade, em face dos princípios da isono
mia, da moralidade e da impessoalidade que, pela dicção da Carta Magna,
são regedores da atividade administrativa.
A Lei nº 9.784/99 trata do assunto nos arts. 18 a 21 e tem por funda
mento o princípio constitucional da imparcialidade do julgador, cujas
bases encontram-se nas garantias constitucionais da impessoalidade, do
contraditório e da ampla defesa.
Pelo princípio da impessoalidade, o servidor público deve aten
der ao interesse público e à finalidade que orienta o exercício de sua
competência. O reflexo desse princípio é a exigência da imparcialidade
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
2 Casuística do impedimento
Conforme determina a Lei nº 9.784/99, em seu art. 18, está impe
dido de atuar no processo administrativo o servidor ou autoridade que:
a) tenha interesse direto ou indireto no objeto do processo; b) tenha
participado ou venha a participar do processo como perito, testemu
nha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao cônjuge,
companheiro ou parente e afins até o terceiro grau; c) esteja litigando
judicial ou administrativamente com o interessado ou respectivo cônjuge
ou companheiro.
O impedimento ocorre na presença de uma situação de incapaci
dade absoluta do servidor ou autoridade para atuar em processos admi
nistrativos, tendo este natureza objetiva, ou seja, não se questiona sobre
1
CARVALHO, Iuri Matos de. Do impedimento e suspeição no processo administrativo (arts. 18 a 21). In:
FIGUEIREDO, Lúcia Valle (Coord.). Comentários à lei federal de processo administrativo: (Lei 9.784/99). Belo
Horizonte: Fórum, 2004. p. 127.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
dos Santos Carvalho Filho, tal situação não irá se converter em configuração
de falta grave. Assim se dá porque a arguição do impedimento pelo
interessado não provoca automaticamente a responsabilidade funcional
do agente.5
A opinião do mestre põe-se de acordo com a solução adotada pelo
Código de Processo Civil em situação análoga. No citado diploma, acha-se
previsto que o juiz tem o dever de abster-se e que, em caso de julgamento
de procedência da exceção será condenado às custas, conforme arts. 137
e 314. Contudo, o art. 313 admitiu a possibilidade de ser a exceção
acolhida de plano pelo próprio magistrado sem a incidência de qualquer
punição, certamente por entender que, até o instante da arguição formal
pelo interessado, plausível é a suposição de que inexiste malícia por
parte do julgador.
3 Casuística da suspeição
Os casos de suspeição são tratados no art. 20 da Lei nº 9.784/99. O
dispositivo legal estipula que pode ser arguida a suspeição de autoridade
ou servidor que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum
dos interessados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes
e afins até o terceiro grau.
No dizer de Francisco Xavier da Silva Guimarães, a suspeição provém
da noção de lealdade e isenção, na instrução e julgamento processual que
repousam na afeição, que é instintiva, e não na razão, que é intelectiva.6
Em sendo assim, o afeto ou o desafeto entre o servidor e os inte
ressados, ou com seus respectivos cônjuges, companheiros, parentes e
afins, opõem-se à imparcialidade que o julgamento do processo requer.
Percebe-se que as leis e também a doutrina têm tratado os impe
dimentos com maior rigor do que a suspeição. A diferença reside no
fato de que os impedimentos referem-se a fatos e circunstâncias de natu
reza objetiva, diretamente relacionados ao processo. Já na suspeição,
as situações externas ao processo podem ser deduzidas pelo interessado
e dependem de avaliações subjetivas, podendo ou não influenciar na
decisão da controvérsia.
A lei fala em amizade íntima e inimizade notória, como se a
amizade, não sendo íntima, ou a inimizade, ainda que não seja notória,
5
CARVALHO FILHO, op. cit., p. 144.
6
GUIMARÃES, op. cit., p. 95.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
7
CARVALHO FILHO, op. cit., p. 145.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
8
CARVALHO, op. cit., p. 131.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
Conclusão
Em arremate às explanações contidas neste trabalho, conclui-se
que as normas que tratam da competência no processo administrativo
constituem garantia para seus participantes.
A competência é matéria de interesse público e, via de consequên
cia, a violação às regras legais que lhe são aplicáveis afeta não apenas os
objetivos das partes, mas toda a coletividade. Daí por que o assunto não
deve ser tratado como mera formalidade processual. Neste ponto, então,
há de se entender que a competência administrativa segue a direção
apontada pelas normas processuais aplicáveis à jurisdição, muito embora
não se confunda com a competência jurisdicional.
A Constituição da República a todos assegurou o contraditório e
a ampla defesa, a imparcialidade e isenção, necessários na condução e
julgamento dos processos administrativos. São os mesmos fundamentos
empregados para fixar a competência jurisdicional no processo judicial.
Sem eles, o juiz ou administrador encarregado de decidir fica impedido
ou, no mínimo, é suspeito para exercer a sua função, pois a possibilidade
de que não decida conforme o disposto na lei, ou conforme o que reco
menda o interesse público, passa a existir.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
Referências
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo administrativo federal: comentários à Lei nº
9.784/99. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001.
CARVALHO, Iuri Mattos de. Comentários à lei federal do processo administrativo. Belo Horizonte:
Fórum, 2004.
DALLARI, Adilson Abreu; FERRAZ, Sérgio. Processo administrativo. 2. ed. São Paulo:
Malheiros, 2007.
GUIMARÃES, Francisco Xavier da Silva. Direito processual administrativo. Belo Horizonte:
Fórum, 2008.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 13. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 11-21, jan./mar. 2011
I Introdução
1 O Decreto-Lei nº. 108/2006, de 8 de Junho, veio estabelecer um
regime processual experimental aplicável às acções declaratórias cíveis
a que não corresponda processo especial e às acções especiais para o
cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos.1
Procura este Decreto-Lei nº. 108/20062 nos termos do seu preâm
bulo, criar um processo civil mais simples e flexível, visando lutar contra
a morosidade processual.3
Para esse efeito, é criado uma nova forma de processo, com prazos
mais curtos e com a simplificação/supressão de certas formalidades,
cuja bondade apreciaremos mais adiante.
1
Estas são, grosso modo, acções declarativas cíveis particularmente simplificadas na sua marcha.
2
Doravante, indistintamente, Decreto-Lei nº. 108/2006 ou RPCE (Regime Processual Civil Experimental).
3
Integra-se, assim, num rol já largo de medidas de alteração da marcha do processo com o mesmo propósito
que consideramos esgotadas na sua eficácia uma vez que a demora dos processos não se prende já com os
prazos para a prática dos actos processuais ou com certas formalidades mas sim com a orgânica judiciária
e os bloqueios que derivam, p.ex., do recurso a alguns meios de prova – mormente a pericial e a obter no
estrangeiro, por carta rogatória — e da necessidade de citar o Réu para acção.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
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5
Artº. 265 do CPC, nºs. 2 e 3, que se trancrevem:
“2 – O juiz providenciará, mesmo oficiosamente, pelo suprimento da falta de pressupostos processuais
susceptíveis de sanação , determinando a realização dos actos necessários à regularização da instância ou,
quando estiver em causa alguma modificação subjectiva da instância, convidando as partes a praticá-los.
3 – Incumbe ao juiz realizar ou ordenar, mesmo oficiosamente, todas as diligências necessárias ao apuramento
da verdade e à justa composição do litígio quanto aos factos de que lhe é lícito conhecer”.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
A) Agregação de acções
5 Nos termos do nº. 1 do artº. 6º do Decreto-Lei nº. 108/2006:
“Quando forem propostas separadamente no mesmo tribunal
acções que, por se verificar os pressupostos de admissibilidade do litis
consórcio, da coligação, da oposição ou da reconvenção, pudessem ser
reunidas num único processo, pode ser determinada, a requerimento
de qualquer das partes e em alternativa à apensação, a sua associação
transitória para a prática conjunta de um ou mais actos processuais,
nomeadamente actos da secretaria, audiência preliminar, audiência final,
despachos interlocutórios e sentenças.”
Parece-nos esta disposição de sentido positivo, ainda que a opor
tunidade da sua aplicação não seja frequente.
Mas, quando a situação se coloca, parece-nos adequado, p.ex.,
que se não realizem várias audiências com as mesmas testemunhas, ou
parte delas, a repetirem os seus depoimentos sobre os mesmos factos,
sendo preferível que as testemunhas deponham uma única vez e que
esse depoimento seja aproveitado nos vários processos para que pode
ser pertinente.
A agregação é, nomeadamente, susceptível de evitar contradição de
julgados que é um dos factores que acarretam desprestígio para a justiça.
Apenas nos parece que a previsão da lei podia ser muito mais
ampla, admitindo sem qualquer restrição a prática conjunta de actos
processuais concernentes a acções diversas desde que tal se configurasse
como conveniente, independentemente de as acções poderem estar reu
nidas num único processo por ocorrerem os pressupostos do litisconsór
cio, da coligação, da oposição ou da reconvenção.
6 Merece menção que a agregação de acções possa ocorrer não
só a requerimento de qualquer das partes como, nos processos que
pendem perante o mesmo juiz, possa ser determinada oficiosamente, sem
audição das partes (nº. 3 do mesmo artº. 6º).
E está ainda previsto que a secretaria — a hipótese configura-se para
os tribunais de maior movimento, com mais do que um juiz — informe
mensalmente o presidente do tribunal e os magistrados dos processos
que se encontrem em condições de ser agendados ou apensados (nº. 7 do
artº. 6º).
A decisão de agregação é susceptível de ser impugnada mas apenas
no recurso que venha a ser interposto da decisão final (nº. 6 do artº. 6º).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
IV Marcha do processo
9 Já vimos acima (nº. 3, in fine) o esquema da marcha do processo
comum ordinário de declaração, utilizada hoje para as acções de valor
superior a €14.963,94.
6
Nos termos do nº. 1 do artº. 383º do CPC “o procedimento cautelar é sempre dependência da causa que
tenha por fundamnento o direito acautelado e pode ser instaurado como preliminar ou como incidente de
acção declarativa ou executiva”.
7
De acordo com o nº. 4 do artº. 383º do CPC “nem o julgamento da matéria de facto, nem a decisão final
proferida no procedimento cautelar, têm qualquer influência no julgamento da acção principal”.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
8
E também para resposta à reconvenção, caso em que se mantem (artº. 8º, nº, 3 do RPCE).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
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9
Ao arrepio, aliás, de arreigada tradição portuguesa.
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pela parte vencida, das custas de parte e, se o autor for a parte vencedora,
a procuradoria é fixada no máximo legal”.
A apresentação conjunta implica que o processo tem carácter
urgente, precedendo os respectivos actos qualquer outro serviço judicial
não urgente, sempre que as partes não tenham requerido a produção
de prova testemunhal ou a partir do momento em que apresentem a acta
de inquirição por acordo de todas as testemunhas arroladas (nº. 5 do
artº. 9º citado).
Em acréscimo, nos termos do artº. 18º do RPCE, a apresentação
conjunta acarreta também que a taxa de justiça (despesas judiciais) seja
reduzida a metade.
Certo é, porém, que, não obstante estes estímulos, não se alcança
que a apresentação conjunta, que já estava em vigor10 sem qualquer
tipo de sucesso, o venha a ter agora.11
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
VII Conclusões
Vimos, ao longo do texto, que o Decreto-Lei nº. 108/2006, como
acto legislativo, é passível de críticas substanciais, a saber:
• limitado caracter inovador, face à lei vigente (CPC): p.ex., o
agora denominado “dever de gestão processual” existe desde há
muito,12 a marcha do processo agora estipulada também nada
inova em relação às formas de processo existentes (na verdade
limita-se a simplificar o processo comum) e a utilização dos meios
informáticos é já uma realidade.
12
Com a designação de “poder de direcção do processo”, terminologia que, aliás, nos parece claramente preferível
à de “gestão”, conceito que, a importar-se da economia, faria mais sentido aplicado a conjuntos de processos
e não a um só.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
13
Sendo que a última alteração de paradigma, digna desse nome, é a resultante da Reforma de 1995/96.
14
Prevê-se, até, que o juiz tenha, nestes casos, que intervir ao abrigo do seu dever de gestão, no sentido de
repôr a antiga marcha do processo comum ordinário, intervenção que, paradoxalmente, acarretará, por si só,
perdas significativas de tempo!
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
os meios para isso disponíveis e garantindo às partes uma decisão com base
nessa verdade, ou se, porventura, o Estado/juiz se deve limitar a decidir
a causa como ela resulte da iniciativa das partes e da observância estrita
das formas pré-estabelecidas, ainda que a incompetência ou limitações
de uma e a rigidez das outras determinem uma situação final que cla
ramente afronta a desejada verdade.
Sendo inquestionável que os cidadãos, quando recorrem a tribunal,
querem que a causa seja decidida conforme a verdade material, é obvio
que o Estado se tem que preocupar em que a decisão seja sentida pelas
partes e pela comunidade como justa e não como aleatória. Haverá
situação mais desprestigiante para as instituições judiciárias do que
o sentimento geral de que a justiça não foi feita — vide, p.ex., caso O. J.
Simpson?
De resto, é óbvio que, quem pretende que se julgue sem que se
esgotem todos os meios para descobrir a verdade, aí se incluindo a
intervenção do juiz, é quem sabe não ter razão e por isso vê na possibili
dade de não se apurar a verdade real, uma via de ganhar indevidamente
a causa.15
Uma última observação:
Os defensores da não co-responsabilização do juiz no iter condu
cente à decisão acabam sempre por socorrer-se de paralelismos fute
bolísticos, querendo assimilar o juiz ao árbitro de um jogo de futebol.
É uma comparação que demonstra o contrário do que pretendem. Na
verdade, entre um jogo de futebol e um processo, a similitude acaba
na existência circunstancial de duas partes em confronto e de um árbitro/
juiz, uma vez que o que é decisivo é que, no futebol, qualquer resultado,
por mais aleatório que seja, satisfaz os fins do jogo, enquanto que num
processo judicial só um resultado é aceitável: a descoberta de uma verda
de que o precede (e não a que das suas regras possa resultar).
De facto, a descoberta da verdade é o fim do processo e é-lhe tão
fundamental que todos os meios devem ser alocados para esse efeito, aí
se incluindo a competência do juiz, sem prejuízo do seu posicionamento
imparcial, imparcialidade que não é nem por aparência posta em causa,
antes sobressai, no exercício de iniciativa na procura da verdade. Manter
15
Não é, por isso, surpreendente ver os advogados que se consideram competentes sustentar a passividade
do juiz como meio de, com ou sem razão quanto ao fundo, retirarem vantagem da menor competência do
advogado da parte contrária (que eventual intervenção do juiz poderia suprir).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
Alguma bibliografia
Brito, Rita. Colectânea de decisões e práticas judiciais ao abrigo do regime processual civil
experimental. CEJUR (2009).
Faria, Paulo Ramos de. Regime processual civil experimental comentado. Almedina
(2010).
16
Assim contribuindo, nomeadamente, para evitar que, no futuro, alguém se permita recorrer aos Tribunais sem
ter razão, procurando uma decisão que, por mero acaso, lhe seja favorável uma vez que conhece precedentes
em que esse resultado perverso ocorreu!
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
Mendonça, Luis Correia de. ”Processo civil líquido e garantias (o regime processual
experimental português)”, em Revista de Processo (IBDP), n. 170, ano 34, Abril 2009,
p. 215-250.
Ricardo, Luis Manuel de Carvalho. Regime processual experimental anotado e comentado.
CEJUR (2007).
Silva, Paula Costa e. “A ordem do Juízo de D. João III e o regime processual experimental”,
em Revista da Ordem dos Advogados, ano 68, vol I (2008), p. 255-273.
Sousa, Miguel Teixeira de, “Um novo processo civil português: a la recherche du temps
perdu”, em Revista de Processo (IBDP), n. 161, ano 33, Julho 2008, p. 204-220.
SILVA, Carlos Manuel Ferreira da. O regime processual civil experimental do Decreto-Lei
nº. 108/2006, de 8 de Junho. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo
Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 23-39, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
1 Considerações iniciais
Em sede de juizados especiais cíveis estaduais, a questão envolvendo
os recursos — e os outros meios de impugnação dos provimentos judiciais
— demanda especial atenção dos operadores do Direito, tendo em vista
a clara incompletude na regulamentação do tema pela Lei nº 9.099/95,
somente se podendo falar em um sistema minimamente estruturado
de impugnação por conta da atividade desenvolvida pela doutrina e,
principalmente, pela jurisprudência ao longo dos tantos anos de vigência
da lei.
Em verdade, pode-se afirmar que com a edição da Lei nº 9.099/95,
procurou o legislador federal regulamentar o art. 98, I da Constituição
da República, através da criação de um órgão especializado no julga
mento de causas de menor complexidade, por meio de um procedimento
a que denominou “sumariíssimo”. A estruturação deste procedimento,
porém, seguiu velha regra observada no nosso direito quando da criação
de procedimentos especiais, vale dizer, a utilização do procedimento
ordinário como base/estrutura mestra e a simples alteração de um ou
outro dispositivo, pretendendo-se, com esta técnica, a veiculação de um
novo procedimento, resolvendo-se eventuais omissões pela aplicação
subsidiária do Código de Processo Civil.1 Ocorre, porém, que a atividade
nem sempre se revela exitosa...
Especificamente em relação aos juizados especiais, a maior dificul
dade parece ter sido a ausência de percepção, por parte do legislador,
de que não se cuidava tão somente da criação de um novo procedimento,
mas sim de toda uma nova modalidade de prestação jurisdicional,
revelando-se a prática muito mais fecunda e inovadora do que a tímida
previsão legislativa previra. Um novo “microssistema” era assim forjado,
com princípios próprios e estrutura bastante diferenciada do que até
então se encontrava em termos de jurisdição civil, não tendo sido, os
59 (cinquenta e nove) artigos da parte cível da Lei nº 9.099/95, capazes
de regulamentá-lo em sua inteireza, especialmente em relação ao tema
dos recursos e dos meios de impugnação das decisões ali proferidas.
Com efeito, em relação ao sistema recursal que pretendeu instituir,
a lei limitou-se a dedicar ao tema duas únicas seções, a saber: a seção
1
Observe-se que a lei dos juizados especiais fez tal previsão ao final da disciplina dos juizados especiais criminas,
sem seu art. 92, mas não o fez em relação aos juizados especiais cíveis e o Código de Processo Civil (art.
92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo Penal, no que não forem
incompatíveis com esta Lei.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
2
Todos os enunciados do FONAJE são extraídos de reuniões sistemáticas e programadas de juízes em atuação
nos juizados especiais cíveis estaduais por todo o Brasil e disponibilizados no sítio <www.fonaje.org.br>.
Apesar de não serem vinculativos (podendo haver turmas recursais de determinados estados que em um ou
outro aspecto não os sigam), valem como orientação segura diante das omissões legislativas.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
optando o legislador, sem qualquer motivo aparente, por não lhe atribuir
esta nomenclatura.3
Nos limites a que se destina o presente trabalho, porém, será man
tida a nomenclatura observada pela maioria dos autores e, em especial,
pela jurisprudência de nossos tribunais, a saber: “recurso inominado”,
sendo características gerais desta modalidade recursal:
a) prazo de 10 dias, contados da ciência da sentença, devendo ser
interposto através de petição escrita (art. 42 da lei);
b) não são dotados de efeito suspensivo, havendo apenas a possi
bilidade de o juiz sentenciante, a fim de evitar dano irreparável
à parte, reconhecer-lhe tal característica, evitando a produção
imediata dos efeitos da sentença (art. 44 da lei);
c) são julgados por órgão colegiado também de primeira instân
cia, a exemplo do juiz sentenciante, composto de 3 (três) juízes
togados;
d) seu preparo, independentemente de quem tenha sucumbido,
deverá ser feito no prazo de 48 (quarenta e oito) horas após a
interposição do recurso e inclui todas as despesas4 que foram dis
pensadas da parte autora quando do ajuizamento da demanda.5
Como segunda das modalidades de recurso prevista na Lei nº
9.099/95 encontram-se os embargos de declaração, que possuem, em
essência, as mesmas finalidades de seu correlato regulado no art. 535
do Código de Processo Civil, com algumas peculiaridades adiante
analisadas.
Com efeito, a primeira das diferenças refere-se à presença da
“dúvida” como causa/fundamento para oposição dos embargos de decla
ração. Trata-se de figura já prevista na redação original do CPC e que já
tivera sido objeto de severas críticas por parte da doutrina processual,
resumidas em uma consideração absolutamente simples: a dúvida não é
um vício propriamente da decisão judicial, mas sim a consequência
3
Há autores que, diante da inexistência de motivos razoáveis para a distinção, chamam também a este recurso
“inominado” de apelação. Por todos, Alexandre Câmara (CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados especiais cíveis
estaduais e federais: uma abordagem crítica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 142).
4
Art. 54, parágrafo único. “O preparo do recurso, na forma do § 1º. do art. 42 desta Lei, compreenderá todas
as despesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, ressalvada a hipótese
de assistência judiciária.”
5
Consideração absolutamente relevante faz Alexandre Câmara, sobre o preparo do recurso inominado como
forma de desestimular sua interposição e as pessoas a quem atinge o dispositivo: “O grande inibido, porém,
é o sujeito de classe média (já que as pessoas das classes economicamente inferiores serão beneficiárias da
assistência judiciária gratuita, o que as dispensará do preparo, enquanto as pessoas das classes economicamente
superiores não são inibidas pela necessidade de gastar dinheiro).”
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
6
Art. 535. “Cabem embargos de declaração quando: I – houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou
contradição; II – for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou o tribunal.”
7
“Art. 538. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por
qualquer das partes.”
8
Trata-se, à evidência, da clássica distinção entre suspensão e interrupção de prazos, aqui tratada apenas para
efeito de encadeamento dos temas tratados.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
9
“Art. 50. Quando interpostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para
recurso.”
10
E assim deve ser porque não há qualquer interpretação histórica ou sistemática que autorize o recorrente a
não observar que o prazo está efetivamente suspenso e não interrompido.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
11
O teor do Enunciado nº 15 acabou sendo alterado, para que fossem acrescentadas as hipóteses previstas no
tópico seguinte.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
12
Art. 557. “O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado
ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal
Federal, ou de Tribunal Superior.”
13
Art. 557, §1º-A: “Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência
dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao
recurso.”
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
14
Art. 557, §1º “Da decisão caberá agravo, no prazo de 5 (cinco) dias, ao órgão competente para o julgamento
do recurso e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido
o agravo, o recurso terá seguimento.”
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
16
Afirme-se, por oportuno, que a utilização dos embargos pressupõe a existência de efetiva omissão do tribunal,
o que exige a alegação prévia da parte acerca da questão constitucional que entende violada, somente não
se exigindo este requisito de alegação anterior ao acórdão quando a violação da Constituição somente vem a
ocorrer no momento em que é proferido o acórdão.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
Enunciado 125 – “Nos juizados especiais, não são cabíveis embargos declara
tórios contra acórdão ou súmula na hipótese do art. 46 da Lei 9.099/95, com
finalidade exclusiva de prequestionamento, para fins de interposição de recurso
extraordinário.” (Aprovado no XXI Encontro – Vitória/ES)
17
Art. 541. “O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão
interpostos perante o presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido (...)”
18
Trata-se de competência que os regimentos internos, em regra, atribuem ao(s) vice-presidente(s).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
24
Na Constituição de 1988, o mandado de segurança é previsto no capítulo dos direitos e garantias fundamentais,
no art. 5º LXIX, cuja redação é a seguinte: “Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido
e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso
de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público”.
25
Pouco importando, sob esse aspecto, a natureza que ostente o ato impugnado (penal, trabalhista, eleitoral
etc.).
26
Sobre a natureza eminentemente processual do mandado de segurança, os ensinamentos de Moreira, para
quem “O mandado de segurança, embora consagrado na Constituição, como se consagra na Constituição a
ação popular, hoje a ação civil pública, e vários outros institutos, de cuja natureza jurídica ninguém até agora
teve a ousadia de duvidar, embora seja um instituto de assento constitucional, de base constitucional, é um
remédio processual, um instituto evidentemente processual. Trata-se de um processo” (MOREIRA, José Carlos
Barbosa. Mandado de segurança: uma apresentação. In: GONÇALVES, Aroldo Plínio (Coord.). Mandado de
segurança. Belo Horizonte: Del Rey, 1995. p. 83).
27
MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de segurança. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 21.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
28
Como é o caso sempre citado dos reitores de universidades ou diretores de faculdades privadas.
29
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Mandado de segurança: ato coator e autoridade coatora. In: GONÇALVES,
Aroldo Plínio (Coord.). Mandado de segurança. Belo Horizonte: Del Rey, 1995. p. 147.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
30
FERRAZ, Sérgio. Mandado de segurança: (individual e coletivo): aspectos polêmicos. São Paulo: Malheiros,
1992. p. 68.
31
Dos quais são exemplos a licitação para a realização de obras na edificação em que sediado ou tribunal,
ou mesmo a simples nomeação de servidor ou sua apenação através de procedimento administrativo
disciplinar.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
32
FERRAZ, op.cit., p. 85.
33
A bem da verdade, o ato impugnável pode provir de autoridade de qualquer dos três poderes, só não sendo
admissível, em princípio e na esteira dos ensinamentos de Helly Lopes Meirelles, contra atos meramente
normativos (lei em tese), contra a coisa julgada e contra os atos interna corporis de órgãos colegiados (MEIRELLES,
op. cit., p. 37).
34
A redação do dispositivo revogado e tantas vezes analisadas pela doutrina era a seguinte (art. 5º, II da Lei nº
1.533/51): “Art. 5º. Não se dará mandado de segurança quando se tratar (...) II – de despacho ou decisão
judicial, quando haja recurso previsto nas leis processuais ou possa ser modificado por via de correição.”
35
De se observar que a restrição legal é hoje bem menor do que na redação anterior. Nos estritos limites do texto
legal revogado, não se daria mandado de segurança se houvesse recurso previsto em lei (a restrição por certo
foi mitigada pela jurisprudência), ao passo que a restrição da lei em vigor é limitada à hipótese em que haja
recurso e tenha este recurso efeito suspensivo.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
36
PASSOS, J. J. Calmon de. O mandado de segurança contra atos judiciais. In: GONÇALVES, Aroldo Plínio (Coord.).
Mandado de segurança. Belo Horizonte: Del Rey, 1995.
37
Na doutrina de Sérgio Ferraz, “cabe mandado de segurança contra o ato jurisdicional que, praticado com
ilegalidade ou abuso de poder, ameace ou viole direito líquido e certo. E só! A irreparabilidade do dano ou da
inexistência de recurso com efeito suspensivo não são critérios de admissão em tese do mandamus” (op. cit.,
p. 86).
38
Cita-se, como exemplo de restrição infraconstitucional hígida, a questão do prazo limite para impetração
(120 dias), também regulado na legislação de regência a despeito de qualquer previsão constitucional neste
sentido. O Supremo Tribunal Federal, através do Enunciado nº 632 da súmula de sua jurisprudência, entendeu
como plenamente constitucional a limitação prevista na Lei nº 1.533/51. Este o teor do Enunciado nº 632: “É
constitucional a lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de segurança.”
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
estabeleceu: “É admissível, no caso de lesão grave e difícil reparação, o recurso de agravo de instrumento no
juizado especial cível”.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
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43
A Constituição da República exige, em seu art. 105, III, para o cabimento do recurso especial, que a decisão
atacada tenha sido proferida por Tribunal (de Justiça dos Estados ou Regional Federal), o que impede a revisão
de acórdãos proferidos pelas turmas recursais dos juizados especiais cíveis, já que, apesar de serem órgãos
colegiados, não ostentam esta qualificação.
44
De se observar, ainda, que a parte não poderá nem mesmo ajuizar ação rescisória, já que esta é incabível no
âmbito dos juizados especiais, conforme expressamente dispõe o art. 59 da Lei nº 9.099/95, in verbis: “não
se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento instituído por esta Lei”.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
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O mandado de segurança que lhe deu origem foi impetrado contra decisão de
Turma Recursal de Juizado Especial, e não contra decisão de juiz singular. Foi
justamente porque estavam esgotadas todas as vias ordinárias no âmbito do
Juizado Especial que se abriu a excepcional via do mandado de segurança. Não
fosse assim, estar-se-ia permitindo que qualquer decisão de juiz singular, sobre
competência, fosse atacada diretamente por mandado de segurança perante o
Tribunal de Justiça. Isso importaria transformar o mandado de segurança em
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
48
Art. 105. “Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I – processar e julgar, originariamente
f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;”
49
Sob a natureza jurídica da reclamação constitucional, verifique-se a conclusão a que chegou o Supremo Tribunal
Federal no julgamento da ADI nº2212/CE, relatora a Min. Ellen Gracie, assim sintetizada: “A natureza jurídica
da reclamação não é a de um recurso, de uma ação e nem de um incidente processual. Situa-se ela no âmbito
do direito constitucional de petição previsto no artigo 5º, inciso XXXIV da Constituição Federal.”
50
À semelhança do que ocorre com as Turmas de Uniformização da Jurisprudência, previstas na Lei nº 10.259/01
para os juizados especiais federais.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
5 Conclusão
À guisa de conclusão, pode-se afirmar que o objetivo do presente
ensaio foi proceder a uma análise — tão minuciosa quanto possível — do
sistema de impugnação das decisões proferidas no âmbito dos juizados
especiais cíveis, traçando-se, num primeiro momento, os contornos regu
ladores da estrutura recursal prevista na Lei nº 9.099/95 e integrada, em
suas omissões, pela jurisprudência das turmas recursais e dos tribunais
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
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Referências
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crítica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.
CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis estaduais e federais. 8.
ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Mandado de segurança: ato coator e autoridade coatora.
In: GONÇALVES, Aroldo Plínio (Coord.). Mandado de segurança. Belo Horizonte: Del Rey,
1995.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 41-79, jan./mar. 2011
1 Introdução
A superação da hermenêutica jurídica clássica, o ganho teórico
proporcionado pelo giro linguístico e o movimento de constitucionali
zação do direito são fatores que contribuíram para a derrocada da visão
instrumentalista de processo e a inovação da teoria processual.
A lógica idealizada por Bullow no final do século XIX, que trans
formou o processo em instrumento de jurisdição, limitando assim a
atividade decisória à consciência do julgador ou à forma como ele supos
tamente interpreta o fato, apreende os valores sociais e passa a adequar
o direito à realidade (LEAL, 2008, p. 25), já não encontra guarida na
atualidade. Na segunda metade do século XX, a instrumentalidade
processual perdeu espaço para o modelo constitucional de processo.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 81-95, jan./mar. 2011
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Não há dúvida de que o réu se defende de fatos, não de números, mas a verdade
é que a classificação incorreta dada aos fatos pode acabar prejudicando a defesa,
que no processo penal — não se pode esquecer — não é apenas defesa, simples
defesa, mas ampla defesa.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 81-95, jan./mar. 2011
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4 Considerações finais
Em vista da crescente influência exercida pelas novas teorias do
processo na pós-modernidade, o processo penal tem sido revisitado
para que nele também se opere o giro linguístico e filosófico que trouxe
a lume a fragilidade dos fundamentos que justificaram o culto à instru
mentalidade há mais de um século no ordenamento jurídico brasileiro.
As novas percepções teóricas de processo impelem o operador do
direito a rever na seara criminal os conceitos de instituições arcaicas, não
mais ajustáveis ao cenário constitucional e democratizante do presente
estágio de evolução e efetivação dos direitos fundamentais dos cidadãos.
Neste contexto, o complexo ato de julgar, antes confundido como
um privilegiado momento de inspiração sobrenatural, submete-se à con
formação de um processo constitucionalizado que tenderia a reconhecer
como legítimas, tão somente, aquelas decisões que fossem decorrentes
da efetiva participação discursiva dos sujeitos processuais.
É precisamente com base na premissa da dialogicidade das partes
que os fenômenos da emendatio libelli e da mutatio libelli também devem
ser reapreciados para que, desta feita, sejam de igual modo adequados
às novas perspectivas da Ciência processual e do Direito Processual.
Somente por meio da adoção de critérios estritamente objetivos de satis
fação e realização do contraditório, poder-se-á assegurar às partes a cer
teza mínima de que o resultado colimado pela atividade jurisdicional,
especialmente nas hipóteses mitigadoras do princípio da congruência,
não se viu atrelado a predicados ou a qualidades pessoais do juiz ad causam,
independentemente, por melhores que sejam, de quais possam vir a ser
as suas intenções.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 81-95, jan./mar. 2011
Referências
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Tribunais, 2001.
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atualizada com a “Reforma Processual Penal” (Leis 11689/2008, 11690/2008 e 11719/2008)
e Videoconferência (Lei 11900/2009). Niterói, RJ: Impetus, 2009.
FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal constitucional. São Paulo: Revista dos
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GARAPON, Antoine. O juiz e a democracia: o guardião das promessas. Tradução de Maria
Luiza de Carvalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 1999.
GIACOMOLLI, Nereu. Reformas (?) do processo penal: considerações críticas. Rio de Janeiro:
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GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e teoria do processo. Rio de Janeiro: Aide,
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HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Tradução de Flávio
Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997a. v. 1.
HÄBERLE, Peter. A sociedade aberta dos intérpretes da Constituição: contribuição para a
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Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1997.
LEAL, André Cordeiro. Instrumentalidade do processo em crise. Belo Horizonte: Mandamentos;
Faculdade de Ciências Humanas/FUMEC, 2008.
LOPES JR., Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. 3. ed. rev. e atual.
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DONATO, Jânio Oliveira; MARQUES, Leonardo Augusto Marinho. Proposições teóricas aos
institutos da emendatio libelli e da mutatio libelli: superação do processo como instrumento
de jurisdição. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 19,
n. 73, p. 81-95, jan./mar. 2011.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 81-95, jan./mar. 2011
1 Introdução
É uniforme o sentimento de que o funcionamento do Poder Judiciário
brasileiro, por diversas razões, não tem atendido plenamente aos anseios
que a sociedade dele espera. De uma maneira geral, os processos têm
trâmites morosos1 e os feitos alcançam o seu término em tempo superior
àquele que seria socialmente esperado, tornando a tutela jurisdicional
inapta a produzir efeitos no plano prático e a possibilitar a fruição do
bem jurídico pela parte vitoriosa.
Essa ineficiência, não raro, obstaculiza ou, quiçá, dificulta o acesso
ao consumidor da Justiça ao Poder Judiciário, constituindo em verdadeira
1
A propósito, o problema não é apenas brasileiro, sendo certo que inúmeros outros países, até mesmo os
chamados de “primeiro mundo”, se encontram em situações calamitosas quanto ao problema da duração
dos feitos. A esse respeito, Barbosa Moreira chama de mito (rectius: submito, segundo o autor) a crença
materializada em pensar que este problema seja exclusivamente brasileiro (MOREIRA, José Carlos Barbosa. O
futuro da justiça: alguns mitos. In: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de direito processual: oitava série.
São Paulo: Saraiva, 2004. p. 2).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 97-118, jan./mar. 2011
2
Nesse particular, é de se cogitar se existe ou não uma relação de consumo entre o jurisdicionado (consumidor)
e o Estado-juiz (fornecedor), na medida em que há um serviço a ser prestado (Jurisdição). A se adotar a tese
de relação de consumo, há consequências interessantes no que diz respeito à falha na prestação, diante dos
eventuais danos causados aos consumidores da Justiça. O tema, a despeito de sua relevância, não pode ser
enfrentado nesta oportunidade, por fugir do escopo deste trabalho. Mas, de todo modo, é um incentivo à
reflexão.
3
WATANABE, Kazuo. Acesso à justiça e sociedade moderna. In: GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO,
Candido Rangel; WATANABE, Kazuo (Coord.). Participação e processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988.
p. 128.
4
A moderna doutrina propõe a mutação da consagrada expressão, proveniente do sistema norte-americano
da ADR (alterative dispute resolution), para “meios propícios a solução de conflitos” (TEIXEIRA, Sálvio de
Figueiredo. A arbitragem no sistema jurídico brasileiro. Revista de Processo, São Paulo, v. 22, n. 85, p. 194,
jan./mar. 1997).
5
Carmona assevera que a autonomia da vontade é a “(...) bandeira maior da Lei 9.03/1996 (...)” (CARMONA,
Carlos Alberto. A arbitragem no Brasil no terceiro ano de vigência da Lei 9.307/96. Revista de Processo, São
Paulo, v. 25, n. 99, p. 86, jul./set. 2000).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 97-118, jan./mar. 2011
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“as três ondas renovatórias do acesso à justiça”, que são soluções práticas
para os problemas do acesso à Justiça.10
Inicialmente, fez-se necessário lutar pela assistência judiciária
gratuita, pois é notório que a prestação desta atividade é dispendiosa,
o que dificulta o acesso a este serviço dos economicamente necessitados.
Este obstáculo sempre dificultou à maioria da população a buscar a
prestação jurisdicional, o que lhes retirava ou criava estorvos concretos
de qualquer expectativa de acesso à Justiça. Então, o primeiro obstáculo
a ser ultrapassado na busca do pleno acesso à ordem jurídica justa era,
justamente, permitir que todos, tenham ou não condições econômicas,
possam demandar perante os órgãos do Poder Judiciário.
Constatou-se, ainda, que, apesar da possibilidade de todos pode
rem levar suas demandas ao Poder Judiciário, independentemente da
sua situação econômica, nem todos os interesses e posições jurídicas
de vantagem eram ainda passíveis de proteção através da prestação
jurisdicional, em virtude de o Direito Processual ter sido construído com
base em um sistema filosófico, político e jurídico dominante na Europa
dos séculos antecedentes, no qual se instituiu um culto ao individualismo.
Por este motivo é que, pela estrutura tradicional do Direito Proces
sual europeu, só se permitia que alguém fosse a juízo na defesa de seus
próprios interesses.
Pareceria que pelo fato de todos terem acesso ao Poder Judiciário
independentemente da sua situação econômica, o objetivo alcançado pela
primeira onda do acesso à justiça poderia ter resolvido este problema.
Mas não foi bem assim, pois persistia o problema com os denominados
interesses supraindividuais, já que estes, por estarem acima dos indivíduos,
não são próprios de ninguém, o que impedia que qualquer pessoa levasse
a juízo demanda em que manifestasse a pretensão de defendê-los.
Assim sendo, permaneciam desprotegidos os denominados inte
resses coletivos e difusos, os quais não podem ser adequadamente tute
lados por intermédio dos mesmos instrumentos de tutela dos interesses
individuais. Desta sorte, a proteção dos interesses transindividuais foi o
10
Resumidamente assim se manifesta Cappelletti sobre as três ondas renovatórias: “(...) a primeira ‘onda’ desse
movimento novo — foi a assistência judiciária; a segunda dizia respeito às reformas tendentes a proporcionar
representação jurídica para os interesses ‘difusos’, especialmente nas áreas de proteção ambiental e do
consumidor; e o terceiro — e mais recente — é o que nos propomos a chamar simplesmente ‘enfoque de
acesso à justiça’, porque inclui os posicionamentos anteriores, mas vai muito além deles, representando, dessa
forma, uma tentativa de atacar as barreiras ao acesso de modo mais articulado e compreensivo” (CAPPELLETTI,
op. cit., p. 31).
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13
PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Mecanismos de solução alternativa de conflitos: algumas considerações
introdutórias. Revista Dialética de Direito Processual, São Paulo, v. 17, p. 10, 2004.
14
PINHO, op. cit., p. 10.
15
Idem.
16
TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. A arbitragem no sistema jurídico brasileiro. Revista de Processo, São Paulo,
v. 22, n. 85, p. 193, jan./mar. 1997; SANTOS, Francisco Cláudio de Almeida. Considerações gerais sobre a
arbitragem e seu reordenamento. Revista de Processo, São Paulo, v. 22, n. 85, p. 200, jan./mar. 1997.
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17
TIBÚRCIO, Carmen. A arbitragem no direito brasileiro: histórico e Lei 9.307/96. Revista de Processo, São Paulo,
v. 26, n. 104, p. 80, out./dez. 2001. Não obstante, a jurista reconhece que as Ordenações Filipinas já previam
a arbitragem (Ibidem, loc. cit., nota 1).
18
“Art. 160. Nas civeis, e nas penaes civilmente intentadas, poderão as Partes nomear Juizes Arbitros. Suas
Sentenças serão executadas sem recurso, se assim o convencionarem as mesmas Partes” (sic).
19
Assim, “todas as questões que resultassem de contratos de locação mercantil (CCo, art. 245), que envolvessem
matéria societária (CCo, art. 294), ou em casos de naufrágios (CCo, art. 739), avarias (CCo, art. 783) e quebras
(CCo, art. 846) eram solucionadas obrigatoriamente pela via arbitral” (TIBÚRCIO, op. cit., p. 81). No tocante
ao Regulamento nº 737, o art. 411 previa o juízo arbitral compulsório se a causa fosse comercial (TEIXEIRA,
op. cit., p. 195).
20
TIBÚRCIO, op. cit., p. 81; TEIXEIRA, op. cit., p. 195. A respeito desta Lei de 1866, Roberto Rosas escreve que
“a Lei 1.350, de 14.09.1866 (art. 14), foi o primeiro diploma legal que dispôs sobre o arbitramento; texto
repetido pela Lei 221, de 20.11.1894 (art. 87), organizadora da Justiça Federal pelo Dec. 3.084, de 05.11.1898”
(ROSAS, Roberto. Arbitragem: importância do seu aperfeiçoamento: o papel do advogado. Revista dos
Tribunais, São Paulo, ano 86, v. 746, p. 79, dez. 1997). Por fim, logo após a disciplina da Lei nº 1.350/1866,
que aboliu a arbitragem obrigatória, foi editado o Decreto nº 3.900, de 1867 (Lei Processual Mercantil), que
contemplou o juízo arbitral facultativo do comércio, conforme menciona a doutrina especializada (LIMA, Cláudio
Vianna de. Notícia da arbitragem no direito positivo. Revista Forense, Rio de Janeiro, v. 92, n. 334, p. 44-45,
abr./jun. 1996).
21
Lima, se baseando nos posicionamentos de José Carlos Barbosa Moreira e Carlos Alberto Carmona, entretanto,
já reconhecia a revogação da disciplina da arbitragem no Código Civil quando da entrada em vigor do Código
de Processo Civil de 1973, que cuidou inteiramente da matéria (LIMA, op. cit., p. 44).
22
À época da possibilidade de competência de edição de codificação processual pelas unidades da federação, isto
é, até a Constituição de 1937, a legislação de São Paulo voltou a tornar obrigatória a arbitragem em algumas
causas (TIBÚRCIO, op. cit., p. 81, nota 2).
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23
Quando da vigência do regime arbitral na norma codificada, Lima escreveu: “causa acentuada espécie o
posicionamento da arbitragem entre os procedimentos especiais de jurisdição contenciosa do CPC (arts.
1.072 a 1.102). Isto sem relevar a impropriedade, igualmente visível, da sua disciplina no CPC, notoriamente
destinado ao processo estatal, público” (LIMA, op. cit., p. 43).
24
Segundo informação de Almeida Santos, “o Projeto de Lei foi fruto da operação denominada Arbiter desenvolvida
pelo Instituto Liberal de Pernambuco, sob a coordenação do Dr. Petrônio R. G. Muniz, com o apoio do Instituto
Brasileiro de Direito Processual, e de debate no Seminário Nacional sobre Arbitragem, realizado em Curitiba
(PR), em abril de 1992, sendo a Comissão Relatora do Anteprojeto constituída pelos Profs. Selma M. Ferreira
Lemes, Carlos Alberto Carmona e Pedro Batista Martins” (SANTOS, Francisco Cláudio de Almeida. Considerações
gerais sobre a arbitragem e seu reordenamento. Revista de Processo, São Paulo, v. 22, n. 85, p. 203, nota 12,
jan./mar. 1997).
25
A Lei de Arbitragem revogou expressamente os dispositivos do CPC que cuidavam do juízo arbitral (arts. 1072
a 1102), embora tenha realizado, em menor escala, alguma alteração pontual no texto do CPC, com o objetivo
de adaptar a norma codificada à nova lei. Por exemplo: a Lei de Arbitragem (art. 41) deu nova redação aos
arts. 267, VII e 301, IX, ambos do CPC.
26
A esse respeito, Santos reconhece que “pelo menos dois entraves se apresentavam inafastáveis na legislação
revogada, a dificultar a adoção da arbitragem: a ausência de reconhecimento de efeitos coercitivos na chamada
‘cláusula compromissória’ e a necessidade de homologação da sentença arbitral pela jurisprudência” (SANTOS,
Francisco Cláudio de Almeida. Considerações gerais sobre a arbitragem e seu reordenamento. Revista de
Processo, São Paulo, v. 22, n. 85, p. 206, jan./mar. 1997). Em relação à cláusula compromissória, Teixeira
salienta que esta se constituía mera promessa de contratar, não ensejando execução específica com o objetivo
de alcançar o resultado pretendido, mas apenas a resolução em perdas e danos. Percebe-se, assim, que o
regime antigo era, inequivocamente, inoperante.
27
STF. SE-AgR nº 5.206/EP – Espanha, Rel. Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 12.12.2001,
DJ, p. 29, 30 abr. 2004.
28
Sobre o tema da constitucionalidade da arbitragem, cf. PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Teoria geral
do processo civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 381-383; TIBÚRCIO, op. cit., p. 97-99;
TEIXEIRA, op. cit., p. 197-198.
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29
REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Aspectos do instituto da arbitragem. Revista dos Tribunais, São Paulo, v.
86, n. 743, p. 69, set. 1997.
30
Nesse sentido: RICCI, Edoardo F. Reflexões sobre o art. 33 da Lei de Arbitragem. Revista de Processo, São
Paulo, v. 24, n. 93, p. 49, jan./mar. 1999; ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria geral do processo. 10. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2005. p. 79.
31
DINAMARCO, Cândido Rangel. Limites da sentença arbitral e de seu controle jurisdicional. In: DINAMARCO,
Cândido Rangel. Nova era do processo civil. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 28. Pinho sustenta a natureza
paraestatal da arbitragem (PINHO, op. cit., 2007, p. 377).
32
Luiz Guilherme Marinoni escreve que “(...) a atividade arbitral não pode, ao menos segundo as teorias de
jurisdição que se costuma adotar atualmente, ser tida como jurisdicional” (MARINONI, Luiz Guilherme;
ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
p. 764).
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da vontade das partes em determinar o duplo grau de jurisdição arbitral, a fim de que a sentença seja por outro
árbitro revista ou por um colégio de árbitros. O órgão estatal é que não intervirá no procedimento enquanto
não encerrado” (SANTOS, op. cit., p. 209).
34
Paulo Cezar Pinheiro Carneiro recomenda “(...) que esta manifestação contenha a) o objeto do litígio; b)
proposta para indicação de árbitros; c) lugar onde se desenvolverá a arbitragem e será proferida a respectiva
sentença e o prazo para tanto; d) o procedimento a ser adotado; e) modo de fixar os honorários dos árbitros,
além da responsabilidade pelo pagamento dos mesmos e das despesas e, se for o caso, propor o julgamento
por eqüidade ou outras alternativas já examinadas constantes do artigo 2º, §§1º e 2º, da nova lei” (CARNEIRO,
Paulo Cezar Pinheiro. Aspectos processuais da lei de arbitragem. Revista Forense, Rio de Janeiro, v. 339,
p. 129, 1991).
35
“Trata-se, na realidade, de um processo de conhecimento com rito próprio fixado na nova lei (art. 7º), aplicando-
se, no que couber, subsidiariamente, as regras do Código de Processo Civil” (CARNEIRO, op. cit., p. 130). Aliter,
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 97-118, jan./mar. 2011
Gajardoni defende cabalmente que o rito desta ação é o da Lei nº 9.099/1995 (GAJARDONI, Fernando da
Fonseca. Aspectos fundamentais de processo arbitral e pontos de contato com a jurisdição estatal. Revista de
Processo, São Paulo, v. 106, n. 27, p. 213, abr./jun. 2002).
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36
Nesse sentido: THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil. 39. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2008. v. 3, p. 352. O autor mineiro escreve que “essas medidas, porém, não podem nascer de deliberação ex
officio do árbitro. Cabe à parte requerê-las e, sendo julgadas cabíveis e necessárias, seu deferimento ocorrerá,
ainda, no âmbito do juízo arbitral, sendo a execução solicitada, em seguida, ao juízo ordinário. Por outro lado,
não é dado à parte dirigir-se diretamente ao juiz togado para requerer-lhe medida preventiva a ser aplicada
sobre os bens e direitos disputados no procedimento extrajudicial” (THEODORO JR., op. cit., p. 352). Pinho
também não admite a postulação direta pelas partes ao juiz togado para a concessão de medidas cautelares
(PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Teoria geral do processo civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2007. p. 389). Ademais, Luiz Guilherme Marinoni escreve que a arbitragem não tem por objetivo trabalhar
com situações de urgência, caso em que não se pode admitir a concessão de medidas cautelares (MARINONI,
op. cit., p. 773). Em sentido contrário, em posicionamento isolado, é o entendimento de Paulo Cezar Pinheiro
Carneiro, para quem, diferente do sistema anterior, a nova lei, segundo o jurista, não tem dispositivo expresso
vedando a concessão de medidas de urgência pelo árbitro. O Professor Titular da UERJ entende até mesmo
que é possível que as próprias partes postulem diretamente ao magistrado togado a concessão de medidas
urgentes, se a convenção de arbitragem não dispuser sobre o tema (CARNEIRO, op. cit., p. 138-139).
37
MARINONI, op. cit., p. 777.
38
A Lei de Arbitragem, ao invés de mencionar a expressão deslocamento do feito ou correlata, menciona que
“serão as partes remetidas ao órgão do Poder Judiciário competente para julgar a causa”.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 97-118, jan./mar. 2011
39
No sistema do Juizado Especial Cível, a arbitragem não prescinde de homologação, a teor do disposto no art.
26 da Lei nº 9.099/1995. Sobre o tema, cf. CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizado especiais cíveis estaduais e
federais: uma abordagem crítica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 102-105; e ROCHA, Felippe Borring.
Juizados especias cíveis. 4 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 129-131.
40
VIGORITI, Vicenzo. Em busca de um direito comum arbitral: notas sobre o laudo arbitral e sua impugnação.
Revista de Processo, São Paulo, v. 23, n. 91, p. 25, jul./set. 2002.
41
Em sentido semelhante, escreve Didier Jr. que “há possibilidade de controle judicial da sentença arbitral, mas
apenas em relação à sua validade (arts. 32 e 33, caput, Larb). Não se trata de revogar ou modificar a sentença
arbitral quanto ao seu mérito, por entendê-la injusta ou por errônea apreciação da prova pelos árbitros, senão
de pedir sua anulação por vícios formais” (DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 6. ed. Salvador:
JusPodivm, 2006. v. 1, p. 91).
42
Com idêntica conclusão: Dinamarco, para quem “(...) no sistema brasileiro as decisões arbitrais jamais se
sujeitam ao controle jurisdicional estatal no que se refere à substância do julgamento, ou seja, ao meritum
casae e possíveis errores in judicando; não comportam censura no tocante ao modo como apreciam fatos e
provas, ou quanto à interpretação do direito material ou aos pormenores de sua motivação” (DINAMARCO,
op. cit., 2004, p. 33).
43
“A sentença arbitral, que não se sujeita à homologação judicial, produz os mesmos efeitos da sentença proferida
por órgãos do Poder Judiciário (art. 31), dentre eles: coisa julgada material, salvo a previsão de recurso no
próprio âmbito do procedimento arbitral, só podendo ser desconstituída pela ação anulatória de que trata
o art. 33, da nova lei (...)” (CARNEIRO, op. cit., p. 137). Também defendendo a existência de coisa julgada
material na arbitragem: TIBÚRCIO, op. cit., p. 91; GAJARDONI, op. cit., p. 205. Em sentido contrário, não
admitindo coisa julgada na arbitragem: MARINONI, op. cit., p. 762.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 97-118, jan./mar. 2011
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48
Gajardoni sustenta que o rol do art. 32 da Lei de Arbitragem não é taxativo, mas meramente exemplificativo
(GAJARDONI, op. cit., p. 211).
49
Luiz Guilherme Marinoni, em curiosa construção acadêmica, defende que melhor fortuna teria o legislador se
colocasse a sentença arbitral em categoria apartada, eis que não se cuida de título executivo judicial, tampouco
extrajudicial. Sendo assim, o autor defende que melhor seria enquadrá-la em “(...) categoria exclusiva, à qual
se poderia denominar de título semi-judicial” (MARINONI, op. cit., p. 783).
50
THEODORO JR., op. cit., p. 355, nota 21; MARINONI, op. cit., p. 782.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 97-118, jan./mar. 2011
Pública, conforme prevê o art. 741 do CPC, com redação atribuída pela
referida lei.51 52
Em outro aspecto, saliente-se a possibilidade de homologação
de sentença arbitral estrangeira, perante o Superior Tribunal de
Justiça (art. 34). No tocante à sua execução, processar-se-á perante a
Justiça Federal (art. 109, X, da CRFB) e, evidentemente, será possível,
também, a decretação de nulidade por meio da impugnação, conforme
salientado acima.
Por fim, não se pode deixar de mencionar que a existência da
convenção de arbitragem é obstáculo processual para que a matéria seja
discutida em juízo. Cuida-se, segundo Didier Jr.,53 de um pressuposto
processual negativo, de modo que para o desenvolvimento válido e regular
do processo rumo a um provimento de mérito é imprescindível que não
esteja presente tal causa impeditiva da análise do objeto litigioso em juízo.
Assim, alegando o réu em preliminar de contestação a existência
de convenção de arbitragem (art. 301, IX, do CPC),54 o reconhecimento
do pacto arbitral pelo órgão jurisdicional acarreta a extinção do processo
sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, VII, do CPC.55
5 Conclusão
A arbitragem se apresenta como excelente método de solução de
conflitos. A despeito da timidez e desconfiança em seu uso diuturno no
51
ALMEIDA, Marcelo Pereira. A tutela coletiva e o fenômeno do acesso à justiça. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
2007. p. 28.
52
Antes da reforma de 2005, o meio de resistência à execução então vigente eram os embargos do executado.
E neste instrumento o devedor deveria formular sua defesa de forma mais ampla ou limitada, dependendo da
natureza do título, se judicial ou extrajudicial. Os embargos à execução, fundados em título judicial, só poderiam
versar sobre as matérias elencadas no art. 741 do CPC, que, basicamente, se referiam às questões atinentes
às nulidades ou causas de extinção da execução, ao passo que na execução fundada em título extrajudicial
os embargos poderiam apontar qualquer matéria que seria lícito deduzir em processo de conhecimento,
justamente por não ter sido antecedida de processo de cognitivo. Assim, com o advento da Lei nº 11.232/05,
a execução fundada em sentença quando a obrigação é por quantia passou a ser resistida por um instrumento
denominado pelo legislador de impugnação, conforme prevê o artigo 475-J, §1º do CPC, mas permaneceu a
limitação das matérias que poderiam ser veiculadas.
53
DIDIER JR., op. cit., p. 219.
54
O art. 301, §4º, do CPC, dispõe que o magistrado não pode conhecer de ofício do compromisso arbitral,
dependendo sempre, pois, de alegação da parte. Contudo, a legislação é omissa quanto à possibilidade (ou
não) de o magistrado conhecer de ofício da cláusula compromissória em juízo, sendo certo que há tendência
doutrinária em ampliar a impossibilidade de conhecimento de ofício pelo magistrado também relação à cláusula
compromissória. Nesse sentido: GAJARDONI, op. cit., p. 194.
55
A extinção do processo sem resolução do mérito por parte do magistrado diante da convenção de arbitragem
não se dá por ser ele (rectius: o juízo) supostamente incompetente para causa, como pensa Fernando da
Fonseca Gajardoni (op. cit., p. 194). A questão de impossibilidade de julgamento da causa pelo juiz togado
liga-se com maior precisão à via eleita (ou como pensa Didier Jr. a um pressuposto processual negativo). Isto
é, considerando que as partes renunciaram à via judicial e buscam solucionar a controvérsia pelo método
paraestatal, não há sequer interesse jurídico para a apreciação da matéria pelo Poder Judiciário, embora, em
tese, seja o juízo competente.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 97-118, jan./mar. 2011
Referências
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2008. v. 3.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 97-118, jan./mar. 2011
FREITAS FILHO, João Bosco Won Held Gonçalves de; ALMEIDA, Marcelo Pereira de. Algumas
notas sobre o controle jurisdicional da arbitragem. Revista Brasileira de Direito Processual
– RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 97-118, jan./mar. 2011.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 97-118, jan./mar. 2011
Introdução
A ideia de uma concepção cooperativa do processo civil — tema que
começa a inspirar relevante produção científica na doutrina brasileira1
— suscita um olhar renovado sobre os institutos processuais, um ponto
1
Indica-se, por todas, a obra de Daniel Mitidiero — Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos
e éticos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009 —, que, a par do exame aprofundado da cooperação em todo
o procedimento processual civil, apoia-se em farta bibliografia sobre o tema.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
2
MARINONI, Luiz Guilherme. Da ação abstrata e uniforme à ação adequada à tutela dos direitos. In: MACHADO,
Fábio Cardoso; AMARAL, Guilherme Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva
das relações entre direito e processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 209.
3
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 76.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
4
Ovídio Baptista da Silva sublinha a contradição inerente ao discurso dos cultores dessa fase metodológica
da ciência processual: “ninguém se questiona como a ‘ação’ processual, que eles concebem como sendo
uma e abstrata, poderia ter conteúdo declaratório, ou constitutivo ou condenatório, sem tornar-se ‘azioni della
tradizione civilistica’. O prodígio de alguma coisa que, não tendo substância, por ser igual a si mesma, e a todos
indistintamente concedida, possa ser declaratória, constitutiva ou condenatória é uma contradição lógica que
não chega a ofender a racionalidade dos juristas que lidam com processo” (SILVA, Ovídio Araújo Baptista da.
Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. 2. ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p. 179).
5
MITIDIERO, Daniel Francisco. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Memória Jurídica, 2004. t.
I, p. 47.
6
MACHADO, Fábio Cardoso. Jurisdição, condenação e tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.
p. 122.
7
O formalismo-valorativo coincide em muitos de seus pontos com a visão instrumentalista, que o antecedeu, mas sua
especificidade, além de uma consideração acentuada pelo valor dos direitos fundamentais, está em ver no núcleo
do fenômeno processual o conflito entre efetividade e segurança, sem que a nenhum destes caiba, isoladamente,
a posição de “sol que ilumina todo o sistema processual” (AMARAL, Guilherme Rizzo. Cumprimento e execução
da sentença sob a ótica do formalismo-valorativo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 21).
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8
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Direito material, processo e tutela jurisdicional. In: MACHADO, Fábio
Cardoso; AMARAL, Guilherme Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das
relações entre direito e processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 295.
9
MITIDIERO, Daniel Francisco. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Memória Jurídica, 2004. t.
I, p. 110.
10
MITIDIERO, Daniel Francisco. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Memória Jurídica, 2004. t.
I, p. 96.
11
MITIDIERO, Daniel Francisco. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 112.
12
MITIDIERO, Daniel Francisco. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 113.
13
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Direito material e processo. In: MACHADO, Fábio Cardoso; AMARAL, Guilherme
Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das relações entre direito e processo.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 61.
14
MITIDIERO, Daniel Francisco. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 113.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
15
MITIDIERO, Daniel Francisco. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Memória Jurídica, 2004. t.
I, p. 102.
16
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Direito material e processo. In: MACHADO, Fábio Cardoso; AMARAL, Guilherme
Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das relações entre direito e processo.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 70.
17
ZANETI JÚNIOR, Hermes. Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2007. p. 210.
18
MITIDIERO, Daniel Francisco. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Memória Jurídica, 2004. t.
I, p. 93.
19
MITIDIERO, Daniel Francisco. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 113.
20
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Direito material e processo. In: MACHADO, Fábio Cardoso; AMARAL, Guilherme
Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das relações entre direito e processo.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 68.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
21
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. 2. ed. rev. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1998. p. 180.
22
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Direito material e processo. In: MACHADO, Fábio Cardoso; AMARAL, Guilherme
Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das relações entre direito e processo.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 73.
23
AMARAL, Guilherme Rizzo. Cumprimento e execução da sentença sob a ótica do formalismo-valorativo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 106.
24
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
p. 50.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
25
MARINONI, Luiz Guilherme. Da ação abstrata e uniforme à ação adequada à tutela dos direitos. In: MACHADO,
Fábio Cardoso; AMARAL, Guilherme Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva
das relações entre direito e processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 248.
26
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.
89-90.
27
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Direito material, processo e tutela jurisdicional. In: MACHADO, Fábio
Cardoso; AMARAL, Guilherme Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das
relações entre direito e processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 310. Conforme acentua Michele
Taruffo, a conexão entre situações de direito material e técnicas de tutela está na base de um princípio de
adequação, que vincula a atuação executiva do Poder Judiciário às necessidades específicas do caso concreto
(A atuação executiva dos direitos: perfis comparatísticos. Tradução de Teresa Celina de Arruda Alvim Pinto.
Revista de Processo, São Paulo, v. 15, n. 59, p. 78, jul./set. 1990).
28
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
p. 137.
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33
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 61.
Em sua crítica à teoria que prestigia a noção da “tutela”, Ovídio Baptista da Silva acentua o caráter “perigoso
de tal concepção, que reduziria o processo a pira técnica, “instrumento vazio constituída por ‘formas’ de
tutela” (Curso de processo civil. 6. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008. v. 1, t. II, p. 46-47).
34
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
p. 95-96.
35
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
p. 113.
36
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Direito material, processo e tutela jurisdicional. In: MACHADO, Fábio
Cardoso; AMARAL, Guilherme Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das
relações entre direito e processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 288.
37
Idem, ibidem.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
38
ZANETI JÚNIOR, Hermes. Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2007. p. 217.
39
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 106.
Para os adeptos da teoria dualista, por outro lado, a convivência com as tutelas substanciais é relativamente
confortável, pois sempre defenderam a associação das eficácias processuais a elementos do direito material.
A contribuição das tutelas materiais estaria na maior flexibilidade e atualidade do conceito, que permite
estruturar uma relação menos esquemática entre direito e processo do que ocorre com a ação material. Para
quem defende a teoria dualista da ação, o acento metodológico permanece sempre mais no plano material
do que no processual.
40
MITIDIERO, Daniel Francisco. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2009. p. 144.
41
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Direito material, processo e tutela jurisdicional. In: MACHADO, Fábio
Cardoso; AMARAL, Guilherme Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das
relações entre direito e processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 289.
42
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 192.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
43
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 195.
44
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 123.
45
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 193.
46
MARINONI, Luiz Guilherme. Da ação abstrata e uniforme à ação adequada à tutela dos direitos. In: MACHADO,
Fábio Cardoso; AMARAL, Guilherme Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva
das relações entre direito e processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 213.
47
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Direito material, processo e tutela jurisdicional. In: MACHADO, Fábio
Cardoso; AMARAL, Guilherme Rizzo (Org.). Polêmica sobre a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das
relações entre direito e processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 288.
48
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 283.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
49
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil: comentado artigo por artigo. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 426.
50
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 288.
51
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil: comentado artigo por artigo. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 425.
52
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 205.
53
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 310, 323.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
67
Direito material e processo. In: MACHADO, Fábio Cardoso; AMARAL, Guilherme Rizzo (Org.). Polêmica sobre
a ação: a tutela jurisdicional na perspectiva das relações entre direito e processo. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2006. p. 80.
68
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. 2. ed. rev. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1998. p. 17.
69
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 72.
70
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 171.
71
AMARAL, Guilherme Rizzo. Cumprimento e execução da sentença sob a ótica do formalismo-valorativo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 138.
72
Neste sentido MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. rev. atual. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2008. p. 101.
73
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 173.
74
MACHADO, Fábio Cardoso. Jurisdição, condenação e tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.
p. 124.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
75
ZANETI JÚNIOR, Hermes. Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2007. p. 218-219; SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Jurisdição e execução na tradição romano-
canônica. 2. ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p. 171.
76
AMARAL, Guilherme Rizzo. Cumprimento e execução da sentença sob a ótica do formalismo-valorativo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 132.
77
MITIDIERO, Daniel Francisco. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Memória Jurídica, 2004.
t. I, p. 104-105.
78
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
p. 183.
79
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de processo civil. 6. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008. v. 1,
t. II, p. 253-254.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
84
Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Memória Jurídica, 2004. t. I, p. 106.
85
Em sentido diverso, restringindo a tutela executiva lato sensu às obrigações de dar coisa e deveres de restituir
coisa, cf. OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense,
2008. p. 191.
86
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
p. 152.
87
AMARAL, Guilherme Rizzo. Cumprimento e execução da sentença sob a ótica do formalismo-valorativo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 127-128.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
com o pedido mediato do autor, ou seja, com o bem da vida por ele buscado
no processo. Desta forma, “se o autor postula a entrega de um objeto,
um fazer ou um não fazer por parte do réu, desinteressa se pediu man
damento ou execução, pois a técnica de tutela empregada será aquela
mais adequada para o alcance do bem da vida — objeto, ou fazer ou
um não fazer — ao demandante. O juiz estará adstrito, assim, ao pedido
mediato, mas não à técnica de tutela jurisdicional, que, como manifestação
do poder estatal, encontra limites nas normas aplicáveis ao processo (…)
e não no pedido imediato — ou, diríamos mais coerentemente, nas
sugestões de técnicas de tutela — feitas pelo autor.”88 Acrescente-se, de
forma oportuna, que o sistema admite, eventualmente, o desligamento
da tutela até mesmo do próprio pedido mediato do autor, como ocorre, por
exemplo, na hipótese de conversão do pedido de tutela específica em
perdas e danos.
88
AMARAL, Guilherme Rizzo. Cumprimento e execução da sentença sob a ótica do formalismo-valorativo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 137.
89
Paradigmas, na acepção de Thomas Kuhn — referenciada por Ovídio Baptista da Silva — constituem-se em
pressupostos ou premissas de construção de uma concepção científica, permitindo-a estruturar-se como ciência
“normal”, em oposição a uma “ciência revolucionária” (Processo e ideologia: o paradigma racionalista. Rio de
Janeiro: Forense, 2004. p. 30).
90
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Processo e ideologia: o paradigma racionalista. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
p. 132-133.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
91
MITIDIERO, Daniel. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Memória Jurídica, 2004. t. I, p. 34.
92
Ovídio Baptista da Silva assim distingue entre a actio e os interdicta: “havia em direito romano dois institutos
de proteção e defesa dos direitos, capazes de ser invocados perante os magistrados: a actio e os interdicta
(…) tidos estes, porém, especialmente os interditos, como providências de natureza administrativa, exercidos
pelo praetor romano, distintas da verdadeira jurisdição” (Jurisdição e execução na tradição romano-canônica.
2. ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 25).
93
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Processo e ideologia: o paradigma racionalista. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
p. 132-133.
94
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. 2. ed. rev. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1998. p. 24.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
99
MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009. p. 146.
100
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. 2. ed. rev. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1998. p. 44.
101
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Processo e ideologia: o paradigma racionalista. Rio de Janeiro: Forense,
2004. p. 189.
102
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. 2. ed. rev. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1998. p. 157.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
103
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. v. 4,
p. 56.
104
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito
constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 240.
105
CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998.
p. 408.
106
Como faz recordar Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, “a conformação e a organização do processo e do
procedimento nada mais representam do que o equacionamento de conflitos de princípios constitucionais
em tensão” (O processo civil na perspectiva dos direitos fundamentais. Revista de Processo, São Paulo, ano
29, n. 113, p. 9-21, jan./fev. 2004).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
109
Note sul diritto alla condenna e all’esecuzione. Revista de Processo, São Paulo, ano 32, n. 144, p. 83-84, fev.
2009.
110
A intervenção judicial e o cumprimento da tutela específica. Revista Jurídica, Porto Alegre, v. 57, n. 385, p.
47, nov. 2009.
111
MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2009. p. 147.
112
MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2009. p. 147.
113
AMARAL, Guilherme Rizzo. Cumprimento e execução da sentença sob a ótica do formalismo-valorativo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 132.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
114
ASSIS, Araken de. Cumprimento da sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 33.
115
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. v. 4,
p. 524-525.
116
Em relação ao dispositivo mencionado, comenta Daniel Mitidiero que “cumprir com exatidão” e “não criar
embaraços à efetivação”, para além da distinção evidente de contemplarem uma conduta positiva e a uma
negativa, não apresentam entre si qualquer diferença que permita ligá-las à atuação da eficácia mandamental
ou executiva da decisão (Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Memória Jurídica, 2004. t. I, p.
176). Não obstante, parece defensável a ideia de que a noção de cumprimento remete à atuação da tutela
mandamental (como, aliás, está expresso no texto); enquanto que a vedação de criar embaraços mais se
afeiçoa ao cumprimento da tutela executiva, a qual atua por meios sub-rogatórios, em relação aos quais a
posição do réu certamente não é a de cumprir, mas sim de abster-se, deixando que os mecanismos judiciais
aperfeiçoem-se completamente.
117
MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2009. p. 149.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
118
ARENHART, Sérgio Cruz. A intervenção judicial e o cumprimento da tutela específica. Revista Jurídica, Porto
Alegre, v. 57, n. 385, p. 49, nov. 2009.
119
ARENHART, Sérgio Cruz. A intervenção judicial e o cumprimento da tutela específica. Revista Jurídica, Porto
Alegre, v. 57, n. 385, p. 55, nov. 2009.
120
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. v. 4,
p. 529-530.
121
Cumprimento da sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 230-231.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
122
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. v. 4,
p. 529-530.
123
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. v. 4,
p. 550.
124
AMARAL, Guilherme Rizzo. Cumprimento e execução da sentença sob a ótica do formalismo-valorativo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 204.
125
AMARAL, Guilherme Rizzo. Cumprimento e execução da sentença sob a ótica do formalismo-valorativo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 205-206.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
Conclusão
Sabe-se hoje que a ciência processual do início do séc. XX afastou-
se do compromisso com o direito material. A elaboração teórica da ação
abstrata levou à concepção de uma tutela jurisdicional única, neutra e
indiferenciada, informada pelo paradigma da ordinariedade. A ciência
contemporânea busca resgatar a construção de procedimentos informa
dos pelo direito material, colocando ênfase em institutos como a “ação
de direito material” e a “tutela material”. Para além de reconhecer a
grande influência do direito material sobre o processo, o que importa
ter presente é que a escolha da tutela não é definida exclusivamente pelo
direito substancial. A decisão judicial é marcada pela soberania e por
princípios próprios do processo como efetividade e segurança, que
interferem na escolha das formas e técnicas do plano processual.
Tutelas materiais e processuais são conceitos importantes e com
plementares, que interagem entre si. A exploração do tema lança luzes
sobre as decisões judiciais não autossuficientes e sobre a atividade
judicial que as segue, voltada para a adequação da realidade sensível ao
126
MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2009. p. 147.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
Referências
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 119-150, jan./mar. 2011
1 Introito
O conceito de fato processual é tema que tem despertado discussões
doutrinárias. Sua análise exige digressão ao plano da Teoria Geral do
Direito e um cotejo com a teoria dos fatos jurídicos. Os atos processuais
ganham posição de destaque nesse debate, embora não esgotem os tipos
de fatos processuais.
Nosso objeto aqui é fornecer um esboço de solução para dois
problemas importantes: i) o da amplitude da noção de fato processual,
para saber se realmente seria possível cogitar de outras espécies além
dos atos processuais, o que exige a adoção de uma classificação dos
diferentes tipos; ii) o da delimitação da abrangência do conceito de fato
processual, para saber se seria relevante, do ponto de vista teórico e
prático, considerar a existência de fatos jurídicos processuais localizados
fora do processo enquanto procedimento.
* E-mail: <pedro.henrique@ofm.com.br>.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
1
VILANOVA, Lourival. As estruturas lógicas e o sistema do direito positivo. São Paulo: Max Limonad, 1997.
p. 103-104.
2
Segundo Lourival Vilanova (Cf. As estruturas lógicas e o sistema do direito positivo. São Paulo: Max Limonad,
1997. p. 89), o suporte fático “é construção valorativamente tecida”. Por isso, o fato em sua inteireza não
entra na composição da hipótese normativa, mas apenas aquela porção “recortada” da realidade empírica.
3
VILANOVA, Lourival. As estruturas lógicas e o sistema do direito positivo. São Paulo: Max Limonad, 1997.
p. 71-72.
4
MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro: Borsói, 1955. v. 1, p. 11.
5
A incidência da norma jurídica, sem a qual a conduta prevista no seu consequente não poderá ser considerada
como prescrita, pressupõe (i) a vigência da norma e (ii) a concretização dos fatos previstos na hipótese
normativa. Portanto, é perfeitamente possível haver norma com força de incidência (pertencente a um dado
ordenamento jurídico-positivo), sem, ainda, incidir (v.g. norma em vacatio legis), mesmo porque essa não
incidência provisória é resultado da incidência de outra norma jurídica, pertencente ao mesmo ordenamento
jurídico, que pré-exclui o incidir imediato da primeira norma.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
6
Alguns autores têm proposto uma noção mais restrita de incidência, concedendo-a como produto da ação
humana no ato da positivação do direito. Para eles, a incidência não ocorreria abstratamente, no plano
conceptual, como entende Pontes de Miranda, mas seria decorrência direta da intervenção humana ao
relatar em linguagem competente a ocorrência dos eventos descritos na hipótese normativa. Sem esse relato
linguístico, não haveria incidência, nem, por conseguinte, fato jurídico. Sobre o assunto, conferir: IVO, Gabriel.
Norma jurídica: produção e controle. São Paulo: Noeses, 2006. p. 42-62; CARVALHO, Paulo de Barros. Direito
tributário: fundamentos jurídicos da incidência. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 96-100 passim, dentre outros.
7
MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro: Borsói, 1955. v. 1, p. 74 passim.
8
MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro: Borsói, 1955. v. 1, p. 5-6.
9
Sobre o assunto, mais amplamente: NOGUEIRA, Pedro Henrique Pedrosa. Teoria da ação de direito material.
Salvador: JusPodivm, 2008. p. 40-42.
10
Segundo Marcos Bernardes de Mello, as situações jurídicas podem ser assim classificadas: a) básicas; b) simples
(ou unissubjetivas); c) complexas, estas subdivididas em c.1) unilaterais e c.2) relações jurídicas (MELLO, Marcos
Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da eficácia. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 78 et seq.).
11
VILANOVA, Lourival. Causalidade e relação no direito. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 238.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
12
Assim: SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v.
1, p. 285; GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Novo curso de direito processual civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2008. v. 1, p. 228; THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil. 48. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2008. v. 1, p. 250, dentre outros.
13
ROSENBERG, Leo. Tratado de derecho procesal civil. Tradução Angela Vera. Buenos Aires: Ed. Juridicas Europa-
América, 1955. v. 1, p. 8.
14
Tratar o processo como procedimento não significa afirmar que o processo não possa ser encarado como uma
relação jurídica. A concepção tradicional de relação jurídica processual, sistematizada na segunda metade do
século passado por Bülow (BÜLOW, Oskar von. Teoria das exceções e dos pressupostos processuais. Tradução
e notas de Ricardo Rodrigues Gama. 2. ed. Campinas: LZN, 2005. p. 5-12) não é incompatível com a ideia
de processo como fato jurídico. São enfoques distintos. A confusão é apenas semântica: usa-se o mesmo
signo (processo) para designar realidades distintas. Assim, pertinente a constatação de Foschini: “la nostra
conclusione è che il processo: a) da un punto di vista (astratto) normativo è un rapporto giuridico complesso;
b) da un punto di vista (concreto) statico è una situazione giuridica complessa; c) da un punto di vista (pur
esso concreto ma) dinamico è un atto giuridico complesso” (FOSCHINI, Gaetano. Natura giuridica del processo.
Rivista di Diritto Processuale, Padova, v. 3, parte 1, p. 110, 1948).
15
CONSO, Giovanni. I fatti giuridici processuali penali. Milano: A. Giuffrè, 1955. p. 124.
16
PASSOS, J. J. Calmon de. Esboço de uma teoria das nulidades aplicadas às nulidades processuais. Rio de Janeiro:
Forense, 2005. p. 83.
17
DIDIER JR., Fredie. Pressupostos processuais e condições da ação: o juízo de admissibilidade do processo. São
Paulo: Saraiva, 2005. p. 18.
18
Sobre essa problemática, conferir: SILVA, Paula Costa e. Acto e processo: o dogma da irrelevância da vontade
na interpretação e nos vícios do acto postulativo. Coimbra: Coimbra Ed., 2003. p. 123 et seq.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
19
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Tradução de Paolo Capitanio. Campinas: Bookseller,
1998. v. 3, p. 20.
20
Embora o próprio Chiovenda admitisse a existência de fatos jurídicos processuais em sentido estrito (CHIOVENDA,
Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Tradução de Paolo Capitanio. Campinas: Bookseller, 1998. v.
3, p. 22), não houve de sua parte uma preocupação classificatória de tratar as variantes de fatos processuais
em relação de gênero e espécie.
21
REDENTI, Enrico. Diritto processuale civile. Milano: A. Giuffrè, 1957. v. 1, p. 198.
22
ZANZUCCHI, Marco Tullio. Diritto processuale civile. Milano: G. Giuffrè, 1964. v. 1, p. 401.
23
LIEBMAN, Enrico Tullio. Manual de direito processual civil. Tradução e notas de Cândido Rangel Dinamarco.
3. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. v. 1, p. 286. No mesmo sentido, dentre outros: SILVA, Ovídio Baptista da.
Curso de processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. v. 1, p. 195.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
ao sujeito (só é ato processual aquele praticado por quem integra a relação
processual) e à sede (só é ato processual o ato do procedimento).
Calmon de Passos foi além e passou a considerar outro dado
adicional como relevante para caracterizar um ato como “processual”:
a necessidade de que o ato apenas no processo possa ser praticado.
Define o ato processual, assim, como “aquele que é praticado no pro
cesso, pelos sujeitos da relação processual ou do processo, com eficácia
no processo e que somente no processo pode ser praticado”.24
Da mesma forma, Pontes de Miranda restringe a noção de ato
processual para abranger apenas aqueles que integram o procedimento
como sequência sucessiva de atos.25
Interessante também se mostra a concepção de Paula Costa e
Silva, para quem o ato processual (“acto de processo”) seria todo o
26
24
PASSOS, J. J. Calmon de. Esboço de uma teoria das nulidades aplicadas às nulidades processuais. Rio de Janeiro:
Forense, 2005. p. 43.
25
Análoga é a posição de Satta, que, embora reconheça a relevância e os efeitos de certos fatos jurídicos para o
processo, não os adjetiva de “processuais”: “não se pode negar existirem atos indubitavelmente não processuais,
que têm importantíssimos efeitos processuais e firmam lances indispensáveis ao exercício da jurisdição, tanto
que a própria lei processual o considera para firmar as condições e as raias de sua eficácia. Tais, p. e., a eleição
de domicílio, a anuência, expressa ou tácita, à sentença, a derrogação consensual à competência” (SATTA,
Salvatore. Direito processual civil. Tradução e notas de Ricardo Rodrigues Gama. Campinas: LZN, 2003. v. 1,
p. 278).
26
SILVA, Paula Costa e. Acto e processo: o dogma da irrelevância da vontade na interpretação e nos vícios do
acto postulativo. Coimbra: Coimbra Ed., 2003. p. 171.
27
SILVA, Paula Costa e. Acto e processo: o dogma da irrelevância da vontade na interpretação e nos vícios do
acto postulativo. Coimbra: Coimbra Ed., 2003. p. 172.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
28
SILVA, Paula Costa e. Acto e processo: o dogma da irrelevância da vontade na interpretação e nos vícios do
acto postulativo. Coimbra: Coimbra Ed., 2003. p. 173.
29
Apresenta-se, assim, com toda pertinência a advertência feita por Fredie Didier Jr.: “é preciso identificar e
agrupar os fatos que possam ter relevância para o direito processual, pois esses é que compõem o objeto do
excerto da ciência jurídica dedicada ao estudo do processo” (DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual
civil. 9. ed. Salvador: JusPodivm, 2008. v. 1, p. 244).
30
VERDE, Giovanni. Profili del processo civile. Napoli: Jovene, 2002. v. 1, p. 306.
31
CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil. Tradução de Hiltomar Martins Oliveira. São Paulo:
Classic Book, 2000. v. 3, p. 102.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
32
Não se quer sustentar, obviamente, que a extinção do processo possa decorrer pura e simplesmente da convenção
arbitral, mas sim que o direito de exigir a extinção (situação jurídica processual) é um efeito jurídico-processual
da convenção de arbitragem.
33
BRAGA, Paula Sarno. Primeiras reflexões sobre uma teoria do fato jurídico processual: plano de existência.
Revista de Processo, São Paulo, v. 32, n. 148, jun. 2007. p. 309.
34
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 9. ed. Salvador: JusPodivm, 2008. v. 1, p. 243.
35
CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil. Tradução de Hiltomar Martins Oliveira. São Paulo:
Classic Book, 2000. v. 3, p. 102.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
Não obstante, o art. 158 do CPC enuncia: “Os atos das partes,
consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade, produ
zem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de
direitos processuais”.
Trata-se de enunciado que esclarece ser a criação, modificação ou
extinção de direitos de natureza processual uma consequência da prática
de atos processuais praticados pelas partes. A proposição, como se vê,
é incompleta, pois permite sugestionar a interpretação segundo a qual
os atos do juiz (que também são manifestações de vontade) não teriam
a mesma propriedade dos atos das partes, o que, por óbvio, estaria em
pleno desacordo com a realidade.
A incompletude também resulta de uma falsa relação de necessi
dade entre os atos processuais das partes e a extinção de direitos proces
suais, pois a eliminação de poderes processuais do mundo jurídico,
não raro, tem por causa uma simples conduta omissiva da parte para
cuja prática a vontade é absolutamente irrelevante, como se dá com a
preclusão temporal, enquadrada como um ato-fato jurídico.36 A criação,
modificação ou extinção de situações jurídicas processuais (e não apenas
de “direitos processuais” como está dito no art. 158 do CPC)37 pode se
originar de fatos jurídicos não volitivos, como bem percebeu Moniz de
Aragão, porquanto “a inatividade ou a morte podem implicar modifica
ção ou extinção de situações processuais”.38
É possível perceber no enunciado do art. 158 do CPC a influência
da definição encontrada no art. 81 do Código Civil de 1916,39 que tomava
o ato jurídico em função das consequências por ele produzidas, conceito
esse criticado por Marcos Bernardes de Mello.40
Visível também no dispositivo a influência do pensamento de
Chiovenda, que aparentemente buscou transpor para o Direito Processual
36
Para Pontes de Miranda, os atos-fatos são a classe de fatos jurídicos em cujo suporte fático está uma
conduta humana, com abstração da vontade. A conduta é um ato, mas recepcionada como um fato, por ser
desconsiderada pelo direito a relação entre ato e vontade (MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado.
4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1974. v. 2, p. 373).
37
“Direitos processuais, no art. 158, são quaisquer situações jurídicas processuais em que estejam as partes,
sejam direitos, poderes ou faculdades” (MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. 4.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. v. 3, p. 61).
38
ARAGÃO, E. D. Moniz de. Comentários ao Código de Processo Civil. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. v.
2, p. 25.
39
Art. 81. Todo ato lícito, que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir
direitos, se denomina ato jurídico.
40
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
p. 92.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
45
FAZZALARI, Elio. Instituições de direito processual. Tradução de Elanie Nassif. Campinas: Bookseller, 2006.
p. 416.
46
Admitem também a existência de negócios processuais, embora com algumas variações conceituais: MICHELI,
Gian Antonio. Curso de derecho procesal civil. Tradução Santiago Sentís de Melendo. Buenos Aires: Ed. Juridicas
Europa-América, 1970. v. 1, p. 293-294; ECHANDÍA, Devis. Teoría general del proceso. 3. ed. Buenos Aires:
Universidad, 2004. p. 379, dentre outros. Negam-na: DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito
processual civil. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. v. 2, p. 481; GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil
brasileiro. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2, p. 6; CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual
civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. v. 1, p. 248.
47
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 9. ed. Salvador: JusPodivm, 2008. v. 1, p. 238-241.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
48
GOLDSCHMIDT, James. Principios generales del proceso. Buenos Aires: Ed. Juridicas Europa-América, 1961. t.
I, p. 25.
49
GOLDSCHMIDT, James. Principios generales del proceso. Buenos Aires: Ed. Juridicas Europa-América, 1961. t.
I, p. 57-58.
50
GOLDSCHMIDT, James. Principios generales del proceso. Buenos Aires: Ed. Juridicas Europa-América, 1961. t.
I, p. 60.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
51
GOLDSCHMIDT, James. Principios generales del proceso. Buenos Aires: Ed. Juridicas Europa-América, 1961.
t. I, p. 62.
52
GOLDSCHMIDT, James. Principios generales del proceso. Buenos Aires: Ed. Juridicas Europa-América, 1961.
t. I, p. 65.
53
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do
processo. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 1994. p. 280.
54
No mesmo sentido argumenta Araken de Assis: “parece curial que a relação substantiva — às vezes, por
hipótese, inexistente —, se diferencia daquele vínculo patente no processo” (ASSIS, Araken de. Cumulação de
ações. 4. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 47).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
5 Conclusão
Ao final do exposto, podemos concluir que o processo, entendido
como fato jurídico complexo de formação sucessiva, supõe a existência de
fatos que, integrados entre si, formam o procedimento.
Os fatos processuais (lícitos), procedimentais ou não, podem ser
classificados em: a) fatos processuais em sentido estrito; b) atos-fatos
processuais; c) atos processuais em sentido estrito; d) negócios jurídicos
processuais.
Há fatos jurídicos processuais pertencentes ao procedimento e
outros que, a despeito de se qualificarem como extraprocedimentais,
criam, modificam ou extinguem situações jurídicas processuais.
Referências
ARAGÃO, E. D. Moniz de. Comentários ao Código de Processo Civil. 10. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2005. v. 2.
ASSIS, Araken de. Cumulação de ações. 4. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002.
BRAGA, Paula Sarno. Primeiras reflexões sobre uma teoria do fato jurídico processual:
plano de existência. Revista de Processo, São Paulo, v. 32, n. 148, jun. 2007.
BÜLOW, Oskar von. Teoria das exceções e dos pressupostos processuais. Tradução e notas de
Ricardo Rodrigues Gama. 2. ed. Campinas: LZN, 2005.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2007. v. 1.
CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil. Tradução de Hiltomar Martins
Oliveira. São Paulo: Classic Book, 2000. v. 3.
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. São
Paulo: Saraiva, 2004.
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Tradução de Paolo Capitanio.
Campinas: Bookseller, 1998. v. 3.
jurídico-fundamental, que auxilia na descrição do fenômeno jurídico. É necessário, por outro lado, deixar
assentado que o fenômeno processual também não pode ser reduzido à noção de relação jurídica processual.
Sob o ângulo da dinamicidade, a concepção que se revela mais adequada é a que vê o processo como um
fato jurídico. Admitir a existência de relações jurídicas processuais não implica abandonar a noção de processo
como fato jurídico (ato jurídico complexo de formação sucessiva), nem relegar a utilização da categoria do
ônus processual. Essas noções são todas úteis e não excludentes.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
NOGUEIRA, Pedro Henrique Pedrosa. Teoria da ação de direito material. Salvador: JusPodivm,
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PASSOS, J. J. Calmon de. Esboço de uma teoria das nulidades aplicadas às nulidades processuais.
Rio de Janeiro: Forense, 2005.
REDENTI, Enrico. Diritto processuale civile. Milano: A. Giuffrè, 1957. v. 1.
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SATTA, Salvatore. Direito processual civil. Tradução e notas de Ricardo Rodrigues Gama.
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TESHEINER, José Maria Rosa. Sobre o ônus da prova. In: MARINONI, Luiz Guilherme
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NOGUEIRA, Pedro Henrique Pedrosa. Uma aproximação dos fatos jurídicos processuais
extraprocedimentais. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte,
ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 151-167, jan./mar. 2011
Introdução
É de conhecimento da comunidade jurídica a necessidade de um
microssistema que permita a adequação e o aperfeiçoamento das normas
processuais vigentes, a fim de que sejam razoavelmente aplicadas aos
litígios em que seja parte, ativa ou passiva, a coletividade.
A tutela jurisdicional coletiva despertou um especial interesse em
todos aqueles que estudam ou necessitam do Direito Processual Civil
para o desempenho de suas atividades profissionais.
Ainda que pouco explorada no ordenamento jurídico brasileiro, a
ação coletiva passiva não é novidade. Os dissídios coletivos na Justiça do
Trabalho e as convenções coletivas de consumo demonstram a necessidade
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
1
Master Martin Rector of Barkway c. Parishioners of Nuthampstead, 1199. In: DONAHUE JR., Charles; ADAMS,
Norma. Select Cases from the Ecclesiastical Courts of the Province of Cantebury c. 1200-1301. London: Selden
Society, 1981.
2
DONAHUE JR., Charles; ADAMS, Norma. Select Cases from the Ecclesiastical Courts of the Province of Cantebury
c. 1200-1301. London: Selden Society, 1981. cap. A, p. 8.
3
YAZELL, Stephen C. From Medieval Group Litigantion to the Modern Class Action. New Haven and London:
Yale University Press, 1987. p. 38.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
4
GIDI, Antonio. A representação adequada nas ações coletivas brasileiras: uma proposta. Revista de Processo,
v. 108, p. 61-62, out./dez. 2002.
5
Conforme salientado pelo próprio professor Daniel Mitidiero, o marco teórico para sua obra foi o formalismo-
valorativo, cuja expressão surgiu na obra de Carlos Alberto Álvaro de Oliveira, Do formalismo no processo civil.
2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
6
MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 23.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
7
MAIA, Diego Campos Medina. Ação coletiva passiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 21.
8
Não podemos deixar de referir as quatro grandes fases metodológicas do direito processual civil referidas com
muita sabedoria por Daniel Mitidiero na obra Colaboração no processo civil: o praxismo, o processualismo, o
instrumentalismo e o formalismo-valorativo.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
9
Através do Class Action Fairness ACT, de 18 de fevereiro de 2005, as possibilidades de ajuizamento de class
action estatais foram reduzidas, aumentando-se significativamente a competência federal, que passou a
ficar determinada para as ações onde a classe ultrapassar 100 pessoas ou o valor da demanda for superior
a US$5.000.000,00 (cinco milhões de dólares americanos), entre outros vários requisitos que tornam a
competência federal quase absoluta para o julgamento das class action.
10
FISS, Owen; BRONSTEEN, John. The Class Actions Rule. Notre Dame Law Review, n. 78, p. 1422.
11
MAIA, Diego Campos Medina. Ação coletiva passiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 33.
12
O objetivo das lides de classe, para o citado jurista, era evitar as demandas inúteis e prevenir a multiplicidade
de processos.
13
Em especial nos dois tratados sobre equidade: Commentaries on equity jurisprudence (1836) e Mommentaries
on equity pleadings (1838).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
14
Semelhante ao Brasil, onde temos as Revistas de jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça, nos Estados
Unidos não e diferente, sendo as decisões da Suprema Corte norte-americana publicadas em livros periódicos
chamados United States Reports.
15
No notório julgamento, a coletividade vinculada figurava justamente no polo passivo de uma ação duplamente
coletiva: seis pessoas, entre as quais figurava Smith (muito embora Smith tenha sido o nome dado ao caso, na
verdade, William A. Smith não foi autor original da ação, havendo ingressado no lugar de Henry B. Bascom,
após seu falecimento), representando aproximadamente 1.500 pastores da Igreja Metodista Episcopal do
Sul (originada da cisão da Igreja Metodista Episcopal nacional), exerceram seu direito de ação em face dos
pastores que restaram na igreja originária da cisão (Igreja Metodista Episcopal nacional), em nome de apenas
três pessoas, entre eles Swoemstedt, que representavam outros mais de 3.000 pastores. O objeto da ação
era a recuperação da propriedade de porção de um fundo, originariamente instituído pela Igreja Metodista
Episcopal nacional antes da cisão e que após a separação, foi negado aos pastores da Igreja do Sul sob o
fundamento de que, se a cisão havia sido voluntária, nada seria devido aos pastores da nova igreja sulista.
16
It is one of the features of an interlocutory injunction that it reaches all Who are parties, whether they have
been served with process of subpoena or not, whether they have appeared or not, whether they have answered
or not; and it binds all Who have notice of it, whether they are parties or not” 90 F. * 598, p. 604, in: 1898
U.S. App. Lexix 2515, p. 16* (Circuit Court, N. D. Ohio, E.D).
17
MAIA, Diego Campos Medina. Ação coletiva passiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 36-37.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
18
Regra 23 (a): Pressupostos para uma Class Action. Um ou mais membros de uma classe podem demandar ou
ser demandados, como partes representantes, em nome de todos, apenas se (1) a classe for tão numerosa
que a reunião de todos os membros seja impraticável, (2) houver questões de direito ou de fato comuns à
classe, (3) os pedidos ou defesas das partes representantes forem típicos pedidos ou defesas da classe, e (4)
as partes representantes protegerem eficaz e adequadamente os interesses da classe.
19
Há algumas peculiaridades importantes, relacionadas ao tema que conhecemos como “legitimidade passiva”:
a) exige-se, para que ocorra a certification — ou seja, a admissibilidade da demanda como class action —,
que o autor comprove tratar-se de ação coletiva, que será ajuizada em face de um dos class members (nas
plaintiff class actions essa incumbência é do representante adequado da coletividade); b) como decorrência
desse ônus, ao autor incumbirá demonstrar a denominada adequacy of representation, ou seja, que o class
member, efetivamente é um representante da classe, apto a representar o grupo na qualidade de demandado
(class representative); nas plaintiff class actions, portanto, a caracterização da representatividade adequada é
ônus do demandante, que dele se desincumbe sob pena de não receber a certification; nas defendant class
actions, o autor da demanda deverá demonstrar que há interesses da classe, contrários ao seu e que o class
member tem condições de representá-la.
Alertam os estudiosos que os tribunais devem cuidar, de forma especial, para que não ocorram eventuais
conluios entre o suposto class representative e o autor da demanda coletiva passiva. Acrescente-se que o
class member demandado pode — e há notícias jurisprudenciais que o confirmam — negar a sua condição
de representante do grupo demandado, surgindo diversas consequências que deverão ser solucionadas pelo
juízo competente (desde a determinação da indicação de outro class member, passando pela denegação da
certification, chegando à determinação da manutenção do class member por entender que há sim, no caso
concreto, a presença da representação adequada).
20
James Morre apud RODRIGUES NETTO, Nelson. Subsídios para a ação coletiva passiva brasileira. Revista de
Processo. v. 32, n. 149, p. 79-103, 2007.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
Apelação cível. Ação civil pública. Meio ambiente. Invasão de terras promovida
pelo MST. Resíduos sólidos deixados na propriedade. Responsabilidade por sua remoção.
Tratando-se apenas de limpar os resíduos sólidos existentes na propriedade do
requerido, deixados pelos integrantes dos movimentos sociais que a ocuparam,
por cerca de quarenta dias, mostra-se viável que ele realize a limpeza da área, pois
a omissão pode levar à perenização da poluição em sua fazenda, representada
por restos de barracas, garrafas pet, latas de óleo e pilhas, fundamentalmente.
Da sentença deve ser excluída apenas a ordem de apresentar laudo técnico,
porque disso o Ministério Público desistiu no curso da lide. Apelação provida
em parte. Voto vencido. (Apelação Cível nº 70025682154, Vigésima Segunda
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rejane Maria Dias de Castro
Bins, julgado em 11.12.2008)
21
TESHEINER, Jose Maria Rosa. Ações coletivas pró-consumidor. Disponível em: <http://www.tex.pro.br/wwwroot/
artigosproftesheiner/coletivs.htm>. Acesso em: 09 set. 2010.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
22
Resp. nº 1.551-MG, relator Ministro Athos Gusmão Carneiro, DJU, p. 2743, 09 abr. 90.
23
Resp. nº 14.180-0/SP, 4ª Turma, relator Ministro Sálvio de Figueiredo, DJU, p. 12895, 28 jun. 93.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
derechos difusos, colectivos e individuales homogêneos: hacia un código modelo para Iberoamérica. Mexico:
Porrúa, 2003. p. 411; GIDI, Antonio. Coisa julgada e litispendência nas ações coletivas. São Paulo: Saraiva,
1995. p. 51-52, nota 128.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
e ADI 464/GO), que têm efeito vinculante, nos termos do art. 28, p.u., da Lei
nº 9.868/99 e do §2º do art. 102 da Constituição da República, com a redação
dada pela EC 45/2004. 6. O efeito vinculante das decisões do STF encontra-se
na ratio decidendi (UK), também chamada holding (USA), isto é, nas razões
constantes na fundamentação. Não há como falar em precedente vinculante
sem compreender qual é a parte da decisão que vincula. “A ratio decidendi,
como já observado, constitui a essência da tese jurídica suficiente para decidir
o caso concreto (rule of law). É essa regra de direito (e, jamais, de fato) que
vincula os julgamentos futuros inter alia” (JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI,
cf. Precedente judicial como fonte do direito. São Paulo: RT, 2004, p. 175). 7. A
indicação específica da lei declarada inconstitucional é mero obiter dictum, pois
quando suprimida não altera o resultado do julgamento. O STF já reconheceu
ser cabível reclamação para preservar o efeito vinculante de suas decisões,
mesmo quando a norma declarada inconstitucional for diversa (obiter dictum),
desde que — é óbvio — as razões da decisão (isto é, a ratio decidendi) sejam
idênticas (Rcl 4906/PA, Relator Ministro JOAQUIM BARBOSA). 8. Demanda
procedente. (TJES, Classe: Ação Declaratória Incidental nº 100070019698,
Relator : Samuel Meira Brasil Junior, Órgão julgador: Tribunal Pleno, Data de
Julgamento: 12.06.2008, Data da Publicação no Diário: 14.07.2008)
29
VIOLIN, Jordão. Ação coletiva passiva: fundamentos e perfis. Salvador: JusPodivm, 2008. p. 79-80.
30
MAIA, Diogo Campos Medina. Ação coletiva passiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 51.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
31
GRINOVER, Ada Pellegrini. Ações coletivas Ibero-Americanas: novas questões sobre a legitimação e a coisa
julgada. Revista Forense, Rio de Janeiro, n. 361, p. 03-12, 2002. (a)
32
Art. 107 – As entidades civis de consumidores e as associações de fornecedores ou sindicatos de categoria
econômica podem regular, por convenção escrita, relações de consumo que tenham por objeto estabelecer
condições relativas ao preço, à qualidade, à quantidade, à garantia e características de produtos e serviços,
bem como à reclamação e composição do conflito de consumo.
33
MAIA, Diogo Campos Medina. Ação coletiva passiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 53.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
34
SANTOS, Ronaldo Lima dos. “Defendant Class Actions”: o grupo como legitimado passivo no direito Norte-
Americano e no Brasil. Boletim Científico da Escola Superior do Ministério Público da União, ano 3, n. 10, p.
139-154, jan./mar. 2004.
35
DIDIER JUNIOR, Fredie. Situações jurídicas coletivas passivas. Disponível em: <http://www.processoscoletivos.
net/artigos/091011_didier_jr_situacoes_juridicas_coletivas_passivas.php>. Acesso em: 13 ago. 2010. Proposta
de classificação aceita pelo Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos, formulado pelo Instituto
Brasileiro de Direito Processual (cap. III). Diogo Maia também se utiliza desta classificação, com outra designação,
porém: ações coletivas independentes e ações coletivas derivadas ou incidentes (MAIA, Diogo. Ação coletiva
passiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 54).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
36
Exposição de motivos que levaram à criação do Código Modelo de Processo Civil para Ibero-América.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
A ação, nesses casos, é proposta não pela classe, mas contra ela. O
Código exige que se trate de (a) uma coletividade organizada de pessoas,
ou que o grupo tenha representante adequado, e que o (b) bem jurídico a
ser tutelado seja transindividual e (c) seja de relevância social.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
A Parte III foi destinada à ação coletiva passiva, que passaria a ser
mencionada expressamente na nova legislação.
A redação prevista no Anteprojeto inicialmente formulado na USP
(Universidade de São Paulo) estabelecia expressamente, em termos de
direitos e interesses individuais homogêneos, que “a coisa julgada atuará
erga omnes no plano coletivo, mas a sentença de procedência não vincu
lará os membros do grupo, categoria ou classe, que poderão mover ações
próprias ou defender-se no processo de execução para afastar a eficácia
da decisão na sua esfera jurídica individual”.
No referido texto, resta consignada, de forma expressa, o que se
denominou “ação coletiva passiva”, senão vejamos:
Art. 42 Ação contra o grupo, categoria ou classe Qualquer espécie de ação pode
ser proposta contra uma coletividade organizada ou que tenha representante
adequado, nos termos do parágrafo 1º do artigo 8º, e desde que o bem jurídico
a ser tutelado seja transindividual (art. 2º) e se revista de interesse social.
Art. 43 Coisa julgada passiva A coisa julgada atuará erga omnes, vinculando os
membros do grupo, categoria ou classe.
Art. 44 Aplicação complementar à ação coletiva passiva Aplica-se comple
mentarmente à ação coletiva passiva o disposto neste código quanto à ação
coletiva ativa, no que não for incompatível.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
Conclusão
Podemos concluir que as ações “contra classes” desenvolveram-se
no sistema norte-americano em razão da homogeneidade de tratamento
dispensada ao autor e ao réu no que concerne à legitimidade para figurar
no processo. Em geral, a estrutura da regra 23 do Código de Processo
Civil norte-americano (Federal Rules of Civil Procedure), que trata das
class actions na Justiça Federal é simétrica, não fazendo distinção entre o
autor e o réu no litígio coletivo.
Convém mencionar que o procedimento adotado nos Estados
Unidos para a defendant class action não difere, substancialmente, daquele
reservado para as plaintiff class actions (as ações coletivas em que a
coletividade se encontra no polo ativo). Ambas são reguladas pela Rule
23, das Federal Rules of Civil Procedure.
No Brasil, o sistema de defesa de direitos coletivos foi estabele
cido como o surgimento dos métodos de solução de conflitos coletivos
do trabalho (conselhos Mistos e Permanentes de Conciliação, 1931), que
evoluíram para os dissídios coletivos. A ação popular também se apre
sentou como forte peça na engrenagem de defesa dos direito coletivos.
No entanto, comente com o advento da Lei da Ação Civil Pública, em
1985, foi inaugurada a maciça tendência de proteção aos direitos transin
dividuais, seguida pela Constituição Federal de 1988 e pelo código de
Defesa do Consumidor, de 1990, que mantiveram a tendência protecio
nista dos movimentos processuais coletivos.
No Brasil, um dos principais argumentos contra a ação coletiva pas
siva é a inexistência de texto legislativo expresso, fato que pelo Projeto de
Lei nº 5.139/2009 (Modernização da Ação Civil Pública) permaneceria
infelizmente inalterado.
A ausência de personificação jurídica não pode impedir o acesso à
justiça, o que é garantido pelo reconhecimento de capacidade de entes
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 169-195, jan./mar. 2011
Abstract: This article aims to examine the receptivity by the Brazilian legal system
called the class action (defendant class action), of U.S. origin. This procedural
tool allows class action against the group, category or class, provided they are
adequately represented, and that action silent on diffuse and collective rights,
this social interest. At first, it will analyze the emergence of the institute in
comparative law, through the collective protection of the proposal on existing
passive Code Collective Process Model for Latin-America and the blueprint
of the Brazilian Code of Procedure Collective.
Key words: Collective Protection Passive. Defendant class action. Modelo Code of
Collective Latin American. Brazilian Code of Collective Processes.
Referências
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da 2. ed., por Paolo Capitanio. Campinas: Bookseller, 1998. v. 1.
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011
1 Introdução
A eutanásia no Estado de Direito Democrático (paradigma jurídico-
político instituído pela CRFB/1988, em seu artigo 1º, caput) é um tema
de extrema complexidade, que gera polêmicas discussões no âmbito
da medicina, do direito, da religião e da filosofia. No contexto jurídico
atual, tal assunto ainda é interpretado sob a ótica do Estado de Direito
Social — marco teórico que considera a vida como um direito absoluto e
inviolável. No atual paradigma jurídico-político, contudo, há a garantia
não só do direito à vida, mas sim do direito à vida digna (artigo 1º, inciso
III, CRFB/88). Portanto, é a partir desse projeto constitucional de cons
trução de uma sociedade jurídico-política de direito democrático que a
eutanásia deve ser (re)interpretada.
Antes de se buscar a compreensão sobre o atual contexto demo
crático, faz-se imperioso conceituar e diferenciar a prática da eutanásia,
distanásia e ortotanásia, pois cada uma delas tem as suas peculiaridades.
A partir daí, então, é possível verificar o tratamento penal que tais prá
ticas recebem pelo ordenamento jurídico brasileiro e analisar criticamente
se esse tratamento condiz com as expectativas da sociedade pluralista
democrática.
Após esses apontamentos, urge analisar todo o desenvolvimento
dos paradigmas de Estado a fim de se alcançar um entendimento claro
sobre o atual paradigma jurídico-político. Nesse sentido, torna-se impres
cindível testificar a teoria que interpreta o bem jurídico vida como um
dever, e não um direito. Essa testabilidade buscará, também, uma nova
abordagem sobre a titularidade e o conteúdo do direito à vida digna.
Cabe ressaltar que ainda existem pontos de vista nos quais o direito
à vida é interpretado como absoluto e qualquer tentativa de legalização
da prática da eutanásia é tida como inconstitucional. Muitos argumentam
que a regulamentação dessa prática pode dar abertura para atitudes
abusivas que visem somente a jogos de interesse, banalizando, assim, as
condições vivenciadas por pacientes incuráveis e em profunda agonia,
especialmente pelos que já não podem mais expressar a sua vontade.
Esses argumentos, contudo, não podem dar ao Estado o poder
discricionário de impor a um paciente incurável um longo e doloroso
processo de morte. Isso se explica pelo fato de que o enfermo, cujo óbito é
algo inevitável e iminente, sendo o legítimo titular do direito à vida digna,
tem, também, o direito de reinvindicar a prática da eutanásia, via Devido
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011
sagrado à vida, não pode ter uma morte de acordo com o seu conceito de
dignidade humana, mas deve sujeitar-se a uma condição de morto-vivo.
Ronald Dworkin (2003, p. 259) também comenta sobre esse
paradoxo:
4 Paradigmas jurídicos
A interpretação do Direito está intimamente ligada com os para
digmas jurídicos, pois eles refletem a forma pela qual a linguagem se
estrutura num dado contexto (LEAL, 2002, p. 25). Além disso, eles são
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011
Vemos, portanto, nisso tudo, uma imensa obviedade, pois todo Estado, dito
democrático ou não, só poderá ser de Direito. Daí que não se torna interes
sante a utilização da redação do art. 1º da Constituição (Estado Democrático
de Direito), porque referida terminologia apresenta conotação pleonástica. Por
outro lado, é bom lembrar que a democracia deve aparecer como uma espécie
de qualidade, de característica, de paradigma jurídico, de eixo teórico adotado
pela Constituição, pois democrático não é o Estado, mas sim o Direito que rege o
Estado. Quando falamos, na contemporaneidade, em Estado, queremos saber se
esse Estado é regido por um Direito social, liberal ou por um Direito democrático,
pois, de maneira indubitável, há uma acentuada diferença.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011
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conforme prevê o art. 5º, inciso LV da CRFB/88; ele não busca “soluções
justas”, mas assegura às partes construírem, de forma isonômica e em
contraditório, o provimento final.
Esse posicionamento encontra respaldo na Teoria Neoinstitucio
nalista do Processo, elaborada por Rosemiro Pereira Leal (2005, p. 103):
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7 Considerações finais
Do direito à vida decorrem inúmeras reflexões teóricas, filosóficas,
morais e religiosas. Muitos consideram a existência humana como um
bem supremo, inviolável, absoluto e sagrado, mas existem também os
posicionamentos que defendem o aborto, o uso de células embrionárias
para pesquisa e a prática da eutanásia, com o intuito de se alcançar a
liberdade de escolha da mulher, a evolução científica e a autonomia do
ser humano em escolher o momento de sua morte. Todos esses apon
tamentos e divergências refletem a complexidade de uma sociedade
culturalmente multifacetada.
Conforme a lição de André Del Negri (2009, p. 170), “na demo
cracia contemporânea existe a ausência de um ponto de equilíbrio,
uma harmonia definitiva, o que deixa a instituição sempre aberta a rei
vindicações e possibilidades ainda a realizar”. Nesse contexto democrá
tico, o enfrentamento das questões advindas do debate sobre a eutanásia
na busca de novas respostas condizentes com os anseios da sociedade
pluralista torna-se inevitável.
No Estado de Direito Democrático toda a produção e aplicação do
direito não podem ser fundamentadas em valores religiosos e morais, mas
sim em normas jurídicas que passaram pelo Devido Processo Legislativo.
Como aponta Rosemiro Pereira Leal (2005, p. 101):
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011
Referências
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Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 197-226, jan./mar. 2011
Quando se quer algo, deve-se querê-lo com pureza de alma, e, para isso,
é necessário manter puro o pensamento que guia esse querer. Com frequência,
observa-se que, quando alguém quer uma coisa ou quer a um ser, é influenciado
até o delírio pelas paixões do instinto. Desse modo, o querer torna-se impuro, sendo
finalmente rechaçado pela própria natureza do objeto que é motivo desse querer.
Com isto quero dizer que não é bom nem belo nem nobre querer para satisfação
da vaidade ou do egoísmo, ou para alcançar objetivos mesquinhos. Quando estiver
em vias de querer algo, deve consultar sua própria consciência para saber se é
digno desse querer.1
É com este espírito que o Instituto dos Advogados de Minas Gerais,
1ª Seção, e o Centro de Estudos e Promoção ao acesso à Justiça têm a
satisfação de dar início ao Congresso de Direito Processual de Uberaba,
em sua 4ª edição.
Neste momento em que todo o país discute o novo Código de
Processo Civil, e a comunidade jurídica brasileira espera e deseja que
o processo, além de mais rápido e eficiente, seja seguro e portador das
soluções que as variadas demandas reclamam, Uberaba, capital da Escola
de Direito Processual do Triângulo Mineiro, traz a todos este evento,
que, seja pelos juristas que dele têm participado, seja pelos grandes
temas nele tratados, já é considerado um dos mais importantes congressos
do país.
Nesta 4ª (quarta) edição, em homenagem ao Dr. Ernane Fidélis
dos Santos, um dos grandes pensadores da Escola de Direito Processual
do Triângulo Mineiro, estaremos mais uma vez contando com grandes
nomes do Direito nacional. Entre os temas importantes teremos, amanhã,
um fórum especial voltado à discussão do novo Código de Processo Civil.
Temas importantes serão tratados no decorrer deste evento, sempre
com a intenção de prestar serviço e colaboração ao processo em geral.
1
PECOTCHE, Carlos Bernardo González. Concepção do querer – forma de lograr um propósito e comportamento
posterior, diálogo 16. Diálogos.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 229-231, jan./mar. 2011
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 232, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 233-237, jan./mar. 2011
1
Volume I: teoria geral do processo civil, tomo I: a norma processual. Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 4.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 233-237, jan./mar. 2011
todo, como de permitir uma correta exegese dos inúmeros dispositivos legais
que o formam.
Certamente não abrigamos a ilusão de trazer soluções definitivas Con
tud o, entendemos que determinados temas reclamam um contínuo
questionamento.
As normas reitoras do direito processual, onde sua estrutura repousa, é matéria
de difícil manejo, a exigir preciso instrumental em seu tratamento.
As normas de onde provêm os institutos processuais demandam pesquisa
ininterrupta.
O primeiro objetivo de nosso esforço reside em comunicar continuidade
ao estudo destas normas.
Ademais, a análise de uma codificação, onde se procederá ao exame de cada
um dos seus dispositivos, requer, como passo inicial, o estudo de suas normas
reitoras, indispensáveis à exegese de disposições particulares.
Carnelutti, ainda que se referindo aos princípios, precisa a natureza
desta pesquisa ao denominá-la “ricerca del perchè il processo civile è quello
che è”.
Assinala o mestre, ainda, os riscos deste trabalho, ao lembrar: “È anche un
rischio, scavare; rischi che ti crolli adosso quello che hai già costruito”.
Este, esquematicamente, o propósito deste estudo e suas limitações.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 233-237, jan./mar. 2011
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 233-237, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 239-240, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 239-240, jan./mar. 2011
1
Resenha republicada em razão de equívoco em seu texto anterior, constante da edição nº 72 da RBDPro. Houve,
naquela oportunidade, imprecisão no que tange à descrição do título da obra e ao ano de sua publicação.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 243-246, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 243-246, jan./mar. 2011
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Guilherme Botelho
Mestre em Direito pela PUCRS. Especialista em Direito processual civil pela PUCRS. Professor da
Universidade Feevale. Professor convidado em cursos de pós-graduação. Advogado.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 247, jan./mar. 2011
Sempre tive uma relação complicada com os Juizados Especiais Cíveis. Como
jurista, dedicado ao estudo do direito processual civil, a idéia de um sistema
processual rápido, barato, informal, oral e eficiente sempre foi motivo de
encantamento. Como advogado — que fui por quase vinte anos — sempre
tive verdadeiro horror do que via na prática. Afinal, nos Juizados Especiais da
vida real encontrei demandantes aventureiros, conciliadores sem treinamento
adequado, juízes que “interpretavam” as normas de regência do sistema sem
qualquer embasamento teórico, fazendo com que cada Juizado tivesse uma
“lei” própria.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 249-250, jan./mar. 2011
Lúcio Delfino
Advogado. Doutor em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Membro do Instituto dos Advogados de
Minas Gerais. Diretor da Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPRo.
MIRANDA NETTO, Fernando Gama de; ROCHA, Felippe Borring (Org.). Juizados espe-
ciais cíveis: novos desafios. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. Resenha de: DELFINO,
Lúcio. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73,
p. 249-250, jan./mar. 2011.
1
Escrevem na coletânea: Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, André da Silva Ordacgy, Bruno Garcia Redondo,
Delton Ricardo Soares Meirelles, Erick Linhares, Felippe Borring Rocha, Fernando Gama de Miranda Netto,
Gustavo Quintanilha Telles de Menezes, Gustavo Santana Nogueira, Humberto Dalla Bernardina de Pinho,
João Bosco Won Held Gonçalves de Freitas Filho, José Guilherme Vasi Werner, Marcelo Pereira de Mello,
Marcia Cristina Xavier de Souza, Márcia Michele Garcia Duarte, Mario Cunha Olinto Filho, Roberta Barcellos
Danemberg.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 249-250, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 251-254, jan./mar. 2011
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 251-254, jan./mar. 2011
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COLABORAÇÃO NO PROCESSO I
- Ver: Colaboração na concretização da IMPEDIMENTO
decisão da causa. Artigo de: Lívio Goellner - Ver: Impedimento e suspeição no processo
Goron..................................................... 119 administrativo. Artigo de: Alice Ribeiro de
Sousa........................................................ 11
CONCRETIZAÇÃO DA DECISÃO
- Ver: Colaboração na concretização da decisão IMPUGNAÇÃO
da causa. Artigo de: Lívio Goellner Goron... 119 - Ver: O sistema recursal e os meios autô
nomos de impugnação no âmbito dos
CONTROLE juizados especiais cíveis – novos contornos
- Ver: Algumas notas sobre o controle jurisdi- jurisprudenciais. Artigo de: Celso Jorge
cional da arbitragem. Artigo de: João Bosco Fernandes Belmiro..................................... 41
Won Held Gonçalves de Freitas Filho; Marcelo
Pereira de Almeida..................................... 97 INSTRUMENTALIDADE
- Ver: Proposições teóricas aos institutos da
D emendatio libelli e da mutatio libelli – supera-
DEFENDANT CLASS ACTION ção do processo como instrumento de jurisdi-
- Ver: A tutela coletiva passiva do Código ção. Artigo de: Jânio Oliveira Donato; Leonar-
Modelo de Processos Coletivos para Ibero- do Augusto Marinho Marques................... 81
-América e sua aplicação no direito brasileiro.
Artigo de: Rafael Caselli Pereira................ 169 J
JUIZADOS ESPECIAIS
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA - Ver: O sistema recursal e os meios autô
- Ver: A eutanásia na processualidade de nomos de impugnação no âmbito dos
mocrática brasileira. Artigo de: Roberta juizados especiais cíveis – novos contornos
Beatriz Bernardes da Silva; Roberta Toledo jurisprudenciais. Artigo de: Celso Jorge
Campos................................................... 197 Fernandes Belmiro..................................... 41
E M
EMENDATIO LIBELLI MANDADO DE SEGURANÇA
- Ver: Proposições teóricas aos institutos da - Ver: O sistema recursal e os meios autô
emendatio libelli e da mutatio libelli – supe nomos de impugnação no âmbito dos jui
ração do processo como instrumento de zados especiais cíveis – novos contornos
jurisdição. Artigo de: Jânio Oliveira Donato; jurisprudenciais. Artigo de: Celso Jorge
Leonardo Augusto Marinho Marques......... 81 Fernandes Belmiro..................................... 41
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 251-254, jan./mar. 2011
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R
RECLAMAÇÃO
- Ver: O sistema recursal e os meios autônomos
de impugnação no âmbito dos juizados espe-
ciais cíveis – novos contornos jurisprudenciais.
Artigo de: Celso Jorge Fernandes Belmiro... 41
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 251-254, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 255-256, jan./mar. 2011
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 73, p. 255-256, jan./mar. 2011