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Cassio Scarpinella Bueno J.J. Calmon de Passos (in memoriam) Maria Elizabeth de Castro Lopes
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Alvaro Pérez Ragone (Chile) Miguel Teixeira de Sousa (Portugal) Juan Montero Aroca (Espanha)
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Editorial .......................................................................................................................................................................... 7
DOUTRINA
Artigos
Arbitragem no Brasil
Felipe Scripes Wladeck, Paulo Osternack Amaral ...................................................................................... 131
1 Arbitragem................................................................................................................................................ 131
1.1 Considerações iniciais........................................................................................................................... 131
1.2 Arbitrabilidade......................................................................................................................................... 132
1.2.1 Requisitos objetivos............................................................................................................................... 132
1.2.2 Requisito subjetivo................................................................................................................................. 132
2 Como instituir uma arbitragem no Brasil....................................................................................... 133
2.1 Compromisso arbitral e cláusula compromissória...................................................................... 133
2.2 A suficiência da cláusula compromissória e a sua execução específica.............................. 134
2.3 O entendimento da jurisprudência a respeito da suficiência da cláusula arbitral.......... 136
2.4 A autonomia da cláusula compromissória.................................................................................... 136
3 Os árbitros.................................................................................................................................................. 137
3.1 Equiparação dos árbitros a juízes estatais...................................................................................... 137
3.2 Relação dos árbitros com os juízes estatais................................................................................... 137
3.3 A escolha dos árbitros........................................................................................................................... 138
3.4 Os deveres dos árbitros........................................................................................................................ 139
4 Arbitragem nos contratos administrativos.................................................................................... 140
4.1 Cabimento e autorização legal.......................................................................................................... 140
4.2 Aspectos processuais............................................................................................................................. 141
4.3 Limites: respeito à publicidade e à legalidade............................................................................. 141
4.4 Tendência legislativa e jurisprudencial: cabimento de arbitragem para resolver
conflitos derivados de contratos administrativos....................................................................... 142
5 O procedimento arbitral....................................................................................................................... 143
6 Sentença arbitral e os instrumentos para o seu controle ........................................................ 144
6.1 A estrutura, os efeitos e a autonomia da sentença arbitral .................................................... 144
6.2 O cabimento de embargos de declaração contra a sentença arbitral................................. 145
6.3 O controle judicial da sentença arbitral.......................................................................................... 145
6.3.1 Controle judicial das sentenças arbitrais estrangeiras.............................................................. 146
6.3.2 Controle judicial das sentenças arbitrais nacionais.................................................................... 146
6.3.3 Tendência jurisprudencial: prestígio à arbitragem..................................................................... 147
7 A adesão do Brasil à Convenção de Nova Iorque........................................................................ 148
Parecer
NOTAS E COMENTÁRIOS
DIRETO AO PONTO
foram dois dias felizes, iluminados, de muita reflexão, iniciados com as palavras
sábias do professor Humberto Theodoro Júnior e encerradas com a excelente
palestra de Alexandre Freitas Câmara. Foram dois dias em que fomos provo
cados intelectualmente, que trouxeram, em alguns momentos, angústia pelas
dificuldades e, em outros, motivação e inspiração para prosseguirmos nos
aprimorando cada vez mais.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 7-8, abr./jun. 2011
8 Editorial
Os Diretores
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 7-8, abr./jun. 2011
DOUTRINA
Artigos
O Poder Judiciário como legislador
José Maria Tesheiner
Professor de Processo Civil nos cursos de pós-graduação da Faculdade de Direito da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Ex-Consultor Geral do Estado do Rio Grande do Sul.
Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 11-17, abr./jun. 2011
12 José Maria Tesheiner
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 11-17, abr./jun. 2011
O Poder Judiciário como legislador 13
§2º O tribunal, quer no caso da alínea a, quer no da alínea b, deste artigo. Marcará prazo para que os interessados
se manifestem.
§3º Na decisão do tribunal haverá recurso ex-officio para a Câmara de Justiça do Trabalho do Conselho Nacional
do Trabalho”.
2
Emenda Constitucional nº 16, de 1965
“Altera dispositivos constitucionais referentes ao Poder Judiciário.
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal promulgam, nos têrmos do art. 217, §4º, da
Constituição Federal, a seguinte emenda ao texto constitucional:
Art. 2º As alíneas c, f, i e k do art. 101, inciso I, passam a ter a seguinte redação:
(...)
k) a representação contra inconstitucionalidade de lei ou ato de natureza normativa, federal ou estadual,
encaminhada pelo Procurador-Geral da República”.
3
Código de Processo Civil, art. 469. “Não fazem coisa julgada:
I – os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença;
Il – a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;
III – a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo”.
4
“Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
(...)
X – suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do
Supremo Tribunal Federal.”
5
Constituição Federal, art. 101, “§2º: As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal,
nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
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14 José Maria Tesheiner
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45,
de 2004).
6
Lei nº 9.868/1999: “Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria
de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia
a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado”.
7
Lei nº 8.078/1990 (Código do Consumidor, art. 81, parágrafo único: “A defesa coletiva será exercida quando
se tratar de:
I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
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O Poder Judiciário como legislador 15
II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária
por uma relação jurídica base;
III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum”.
8
Constituição Federal, “art. 103-A: O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula
que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do
Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como
proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)
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16 José Maria Tesheiner
§1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das
quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete
grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
§2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá
ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
§3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar,
caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo
ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da
súmula, conforme o caso”.
9
“Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, o
recurso especial será processado nos termos deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008)
§1º Caberá ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais recursos representativos da controvérsia,
os quais serão encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça, ficando suspensos os demais recursos especiais
até o pronunciamento definitivo do Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).
§2º Não adotada a providência descrita no §1º deste artigo, o relator no Superior Tribunal de Justiça, ao
identificar que sobre a controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao
colegiado, poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais a
controvérsia esteja estabelecida. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008)
§3º O relator poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de quinze dias, aos tribunais federais
ou estaduais a respeito da controvérsia. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008)
§4º O relator, conforme dispuser o regimento interno do Superior Tribunal de Justiça e considerando a relevância
da matéria, poderá admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia.
(Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008)
§5º Recebidas as informações e, se for o caso, após cumprido o disposto no §4o deste artigo, terá vista o
Ministério Público pelo prazo de quinze dias. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008)
§6º Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais Ministros, o
processo será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial, devendo ser julgado com preferência sobre
os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus. (Incluído pela Lei nº
11.672, de 2008)
§7º Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados na origem: (Incluído
pela Lei nº 11.672, de 2008)
I – terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a orientação do Superior
Tribunal de Justiça; ou (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).
II – serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da
orientação do Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008)
§8º Na hipótese prevista no inciso II do §7º deste artigo, mantida a decisão divergente pelo tribunal de origem,
far-se-á o exame de admissibilidade do recurso especial. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008)
§9º O Superior Tribunal de Justiça e os tribunais de segunda instância regulamentarão, no âmbito de suas
competências, os procedimentos relativos ao processamento e julgamento do recurso especial nos casos
previstos neste artigo” (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).
10
Lei nº 9.868/1999: “Art. 9º Vencidos os prazos do artigo anterior, o relator lançará o relatório, com cópia a
todos os Ministros, e pedirá dia para julgamento.
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O Poder Judiciário como legislador 17
TESHEINER, José Maria. O Poder Judiciário como legislador. Revista Brasileira de Direito
Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 11-17, abr./jun. 2011.
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Desafios e avanços do novo CPC diante
da persistente insegurança jurídica –
A urgente necessidade de estabilização
da jurisprudência1
Arthur Mendes Lobo
Doutorando em Direito Processual pela PUC-SP. Mestre em Direitos Coletivos e Função Social
do Direito pela Universidade de Ribeirão Preto-SP. Professor da pós-graduação lato sensu da
FAFIBE-SP. Ex-professor da UFJF.
1 Introdução
O mundo contemporâneo tem como marca a complexidade e o
nascimento de novas demandas. A revolução tecnológica, a democratização
da comunicação por meios eletrônicos, a preocupação com o meio
ambiente, são os novos valores que conduzem às pressões da sociedade
sobre as instituições de direito.
Por isso, nesses novos tempos, é inexorável a interdiscursividade e
intertextualidade na expressão linguísticas do direito,2 como nos ensina
1
O Projeto de Lei do Senado nº 166/2010 (Projeto do novo CPC) é por nós designado, simplesmente, como
Novo CPC.
2
Na Semiótica, utiliza-se o termo “texto” para se referir ao plano da expressão, enquanto o termo “discurso”
é utilizado para esclarecer o plano de conteúdo.
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20 Arthur Mendes Lobo, João Batista de Moraes
3
MANCUSO, Rodolfo Camargo. Divergência jurisprudencial e súmula vinculante. 3. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007. p. 133-134.
4
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. A uniformidade e a estabilidade da jurisprudência e o Estado de direito: civil
law e common law. Idéias e Opiniões, ano VII, n. 15, p. 02, out. 2009.
5
TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. A jurisprudência como fonte do direito e o aprimoramento da magistratura.
Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/dspace/handle/2011/1916>. Acesso em: 06 dez. 2006.
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Desafios e avanços do novo CPC diante da persistente insegurança jurídica – A urgente necessidade... 21
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22 Arthur Mendes Lobo, João Batista de Moraes
anglo-saxônicos. In: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de direito processual: sétima série. São Paulo:
Saraiva, 2001. p. 24.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 19-39, abr./jun. 2011
Desafios e avanços do novo CPC diante da persistente insegurança jurídica – A urgente necessidade... 23
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24 Arthur Mendes Lobo, João Batista de Moraes
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. A uniformidade e a estabilidade da jurisprudência e o Estado de direito: civil
11
law e common law. Idéias e Opiniões, ano VII, n. 15, p. 04, out. 2009.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 19-39, abr./jun. 2011
Desafios e avanços do novo CPC diante da persistente insegurança jurídica – A urgente necessidade... 25
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26 Arthur Mendes Lobo, João Batista de Moraes
12
CARVALHO, Paulo de Barros. Poesia e direito. In: HARET, Florence; CARNEIRO, Jerson (Coord.). Vilém Flusser e
juristas: comemoração dos 25 anos do grupo de estudos Paulo de Barros Carvalho. São Paulo: Noeses, 2009.
p. 62.
13
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Estudos de filosofia do direito: reflexões sobre o poder, a liberdade, a justiça
e o direito. São Paulo: Atlas, 2002. p. 116.
14
DINIZ, op. cit., p. 485.
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Desafios e avanços do novo CPC diante da persistente insegurança jurídica – A urgente necessidade... 27
15
DINIZ, op. cit., p. 486.
16
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Jurisprudência conflitante: desarmonia e ofensa à isonomia. In: WAMBIER,
Teresa Arruda Alvim (Coord.). JORNADAS DE DIREITO PROCESSUAL DO INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO
PROCESSUAL, 8. Vitória-ES, 21 a 24 de junho 2010. Palestra.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 19-39, abr./jun. 2011
28 Arthur Mendes Lobo, João Batista de Moraes
Porém, na prática, não raro, a orientação não é seguida pelos órgãos judiciários
de primeiro e de segundo grau. Em razão dessa oscilação jurisprudencial, os
jurisdicionados se vêem motivados a tentar uma solução mais compatível com a
sua própria concepção a respeito da tese jurídica em questão. Vale dizer, diante
da instabilidade do sistema, o cidadão busca uma interpretação que mais favoreça
seus interesses, o que aumenta o número de demandas e recursos no Judiciário.
17
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Jurisprudência conflitante: desarmonia e ofensa à isonomia. In: WAMBIER,
Teresa Arruda Alvim (Coord.). JORNADAS DE DIREITO PROCESSUAL DO INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO
PROCESSUAL, 8. Vitória-ES, 21 a 24 de junho 2010. Palestra.
18
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Jurisprudência conflitante: desarmonia e ofensa à isonomia. In: WAMBIER,
Teresa Arruda Alvim (Coord.). JORNADAS DE DIREITO PROCESSUAL DO INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO
PROCESSUAL, 8. Vitória-ES, 21 a 24 de junho 2010. Palestra.
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Desafios e avanços do novo CPC diante da persistente insegurança jurídica – A urgente necessidade... 29
19
PELUSO, Cezar. “Ninguém lê 10.000 ações!”. Veja, 05 jul. 2010. Disponível em: <http://www.espacovital.com.
br/noticia_ler.php?id=19404>. Acesso em: 09 jul. 2010. Entrevista concedida a Laura Diniz.
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30 Arthur Mendes Lobo, João Batista de Moraes
20
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Jurisprudência conflitante: desarmonia e ofensa à isonomia. In: WAMBIER,
Teresa Arruda Alvim (Coord.). JORNADAS DE DIREITO PROCESSUAL DO INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO
PROCESSUAL, 8. Vitória-ES, 21 a 24 de junho 2010. Palestra.
21
MANCUSO, op. cit., p. 131.
22
MANCUSO, Rodolfo Camargo. Divergência jurisprudencial e súmula vinculante. 3. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007. p. 131.
23
PASSOS, J. J. Calmon de. Súmula vinculante. Revista de Direito Processual Civil, São Paulo, n. 06, set./dez.
1997. p. 633.
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Desafios e avanços do novo CPC diante da persistente insegurança jurídica – A urgente necessidade... 31
A vida não pára, nem cessa a criação legislativa e doutrinária do direito. Mas
vai uma enorme diferença entre mudança, que é frequentemente necessária,
e a anarquia jurisprudencial, que é descalabro e tormento. Razoável e possível
é o meio termo, para que o STF [atualmente o STJ] possa cumprir o seu
mister de definir o direito federal, eliminando ou diminuindo os dissídios
de jurisprudência.
24
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. v. 1, p.
15. Sobre o tema, também vale conferir: CAMBI, Eduardo. Jurisprudência lotérica. Revista dos Tribunais, São
Paulo, n. 786, abr. 2001.
25
SANTOS, Evaristo Aragão. Técnicas diferenciadas de sumarização procedimental e cognição exauriente: das
providências preliminares, julgamento “antecipado” do processo e do procedimento monitório. Revista de
Processo, São Paulo, n. 181, p. 58, 2010.
26
RTJ, n. 37, p. 163.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 19-39, abr./jun. 2011
32 Arthur Mendes Lobo, João Batista de Moraes
Relator da COMISSÃO TEMPORÁRIA DA REFORMA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, sobre o Projeto de Lei do
27
Senado nº 166, de 2010, que dispõe sobre a reforma do Código de Processo Civil, e proposições anexadas.
Disponível em: <http://professormedina.files.wordpress.com/2010/11/novocpc-substitutivo.pdf>. Acesso em:
27 dez. 2010.
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Desafios e avanços do novo CPC diante da persistente insegurança jurídica – A urgente necessidade... 33
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34 Arthur Mendes Lobo, João Batista de Moraes
No que tange aos recursos, o Novo CPC prevê que o relator deve
negar provimento a recurso que contrariar: i) súmula do Supremo Tri
bunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
ii) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de casos repetitivos; iii) entendimento
firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assun-
ção de competência. Por outro lado, o relator deve dar provimento ao
recurso se a decisão recorrida contrariar: i) súmula do Supremo Tribunal
Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; ii) acór-
dão proferido pelo Supremo Tribunal Federal, ou pelo Superior Tribunal
de Justiça em julgamento de casos repetitivos; iii) entendimento firma-
do em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção
de competência (art. 888).
O Novo CPC também privilegia o entendimento do STF e a econo
mia processual ao estabelecer que os órgãos fracionários dos tribunais
não submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de incons
titucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário
do Supremo Tribunal Federal sobre a questão (art. 902).
O Novo CPC propõe a potencialização da jurisprudência do STJ e
do STF notadamente em se tratando de demandas que contemplem teses
repetitivas. Institui-se o chamado incidente de resolução de demandas
repetitivas, para solucionar controvérsia com potencial de gerar relevante
O art. 883 ainda esclarece que “Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos: I – o
28
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Desafios e avanços do novo CPC diante da persistente insegurança jurídica – A urgente necessidade... 35
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36 Arthur Mendes Lobo, João Batista de Moraes
5 Conclusão
O sistema processual brasileiro enfrenta uma desestabilidade em
função de abruptas mudanças de interpretações sobre determinadas
questões previstas nas normas jurídicas gerais e abstratas que formam
o ordenamento.
Como produto da linguagem jurídica competente, o direito inter
pretado pelos tribunais tem como característica marcante a regência
da teoria dos valores nas decisões, que se tornam precedentes que con
ferirão intertextualidade ao discurso para futuras decisões em casos
análogos e, consequentemente, para a previsibilidade das condutas
intersubjetivas.
Pela característica da bipolaridade, a todo valor corresponde um
desvalor. Assim, ao desconsiderar um precedente predominante ou uma
súmula do STJ, o Ministro ou órgão julgador deve fazê-lo excepcional
mente e com uma fundamentação robusta, tendo a consciência de que
a mudança de paradigma irá desestabilizar o sistema e ferir, em certo
grau, o princípio da isonomia.
Sabe-se que a evolução da jurisprudência é inevitável e inerente
ao sistema, eis que o direito reflete a evolução da sociedade e seu dina
mismo. Contudo, a mudança de um entendimento isolado tem que
conduzir a uma reconstrução da norma jurídica aplicada, ou seja, o
dissenso deve gerar consenso para que se possa falar em estabilização
do sistema.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 19-39, abr./jun. 2011
Desafios e avanços do novo CPC diante da persistente insegurança jurídica – A urgente necessidade... 37
29
Presidida pelo Ministro Luiz Fux, sob a relatoria de Teresa Arruda Alvim Wambier.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 19-39, abr./jun. 2011
38 Arthur Mendes Lobo, João Batista de Moraes
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Desafios e avanços do novo CPC diante da persistente insegurança jurídica – A urgente necessidade... 39
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abr./jun. 2011.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 19-39, abr./jun. 2011
O caso da COFINS das sociedades
profissionais: análise da legitimidade da
aplicação da teoria da transcendência
dos motivos determinantes da sentença
à ADC nº 1-DF
Cynara Monteiro Mariano
Doutora em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza. Mestre em Direito Público
(Ordem jurídico-constitucional) pela Universidade Federal do Ceará. Professora e Pesquisadora da
Universidade de Fortaleza nas áreas de Direito Constitucional, Processo Constitucional e Direito
Administrativo. Advogada. Ex-Presidente da Fundação Escola Superior de Advocacia do Ceará
(FESAC) e da Comissão de Estudos Constitucionais da OAB/CE.
1 Introdução
Após a edição da Súmula nº 176 do STJ, confirmando a isenção da
COFINS para as sociedades civis (hoje simples) de prestação de serviços
próprios das profissões regulamentadas em lei, prevista no art. 6º, II, da
Lei Complementar nº 70/91, observou-se no cenário jurídico que vários
contribuintes provocaram o Poder Judiciário objetivando assegurar o
gozo da referida isenção e a repetição do indébito.
Conforme acórdãos proferidos nos autos dos Recursos Extraor
dinários nºs 377.457/PR e 381.964/MG, ambos relatados pelo Ministro
Gilmar Ferreira Mendes, o Supremo Tribunal Federal, contudo, acos
tando-se à tese sustentada pela Fazenda Nacional, entendeu que a
isenção conferida pelo art. 6º, II, da Lei Complementar nº 70/9, fora
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 41-53, abr./jun. 2011
42 Cynara Monteiro Mariano
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O caso da COFINS das sociedades profissionais: análise da legitimidade da aplicação da teoria... 43
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44 Cynara Monteiro Mariano
1
FERRAZ, Anna Cândida da Cunha. Processos informais de mudança da Constituição. São Paulo: Max Limonad,
1986. p. 130.
2
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 316.
3
HART, Herbert L. O conceito de direito. Tradução de A. Ribeiro Mendes. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2007. p. 155.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 41-53, abr./jun. 2011
O caso da COFINS das sociedades profissionais: análise da legitimidade da aplicação da teoria... 45
4
MARTINS, Ives Gandra da Silva; MARONE, José Ruben. Da isenção da COFINS contida no art. 6º, inciso II da Lei
Complementar 70, de 3 de dezembro de 1991, e do direito de recuperação judicial, por via da compensação
dos valores indevidamente recolhidas a esse título. Revista Dialética de Direito Tributário, n. 103, São Paulo,
p. 74-75, 2004.
5
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1981.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 41-53, abr./jun. 2011
46 Cynara Monteiro Mariano
BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2004. p.
6
185-186. Nesse mesmo sentido, conferir CLÈVE, Clèmerson Merlin. Fiscalização abstrata de constitucionalidade
no direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 307.
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O caso da COFINS das sociedades profissionais: análise da legitimidade da aplicação da teoria... 47
STJ, 1ª Turma, EARESP nº 488892/RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros. DJU, p. 264, 1º dez. 2003.
7
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48 Cynara Monteiro Mariano
É cediço que, em qualquer decisão judicial, o que faz coisa julgada não é a
fundamentação, mas sim o dispositivo. O mesmo ocorre com a Ação Direta
de Constitucionalidade, cujo efeito vinculante e eficácia erga omnes alcan
çam apenas a declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade pela
Corte Máxima.
In casu, se o que se está a discutir é a isenção concedida pelo artigo 6º da Lei
Complementar n. 70/91 às sociedades civis, e não a matéria objeto da ADC
(os artigos 1º, 2º, 10 e 13 da LC 70/91), não se pode admitir sua interferência
na presente demanda.
Na verdade, pretende a embargante a reapreciação do agravo regimental, o que
é inviável no presente momento processual.
Embargos de declaração rejeitados.8
STJ, 2ª Turma, Edcl no AgRg no Ag nº 375021/RJ, Rel. Min. Franciulli Neto. DJU, p. 224, 20 nov. 2004.
8
Excerto de decisão monocrática proferida pelo Min. Carlos Velloso na Rcl 2475 MC/MG, DJU, p. 00032, 26.
9
nov. 2003.
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O caso da COFINS das sociedades profissionais: análise da legitimidade da aplicação da teoria... 49
Excerto de decisão monocrática proferida pelo Min. Joaquim Barbosa na RCL nº 2517/RJ, DJU, p. 00015, 25
10
fev. 2004.
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50 Cynara Monteiro Mariano
11
RE nº 197.917/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ, p. 8, 07 maio 2004.
12
HC nº 82959/SP, Rel. Min. Marco Aurelio de Mello, j. 23.02.2006 (Inf. 418/STF).
13
Conferir, nesse sentido, BUZAID, Alfredo. Da ação direta de declaração de constitucionalidade no direito
brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1958. p. 23-24.
14
Ver ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2001. p. 135-136.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 41-53, abr./jun. 2011
O caso da COFINS das sociedades profissionais: análise da legitimidade da aplicação da teoria... 51
3 Conclusões
Ao apreciar os Recursos Extraordinários nºs 377.457/PR e 381.964/
MG, ambos relatados pelo Ministro Gilmar Mendes, o Supremo Tribunal
15
Ver Informativo 454/STF.
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52 Cynara Monteiro Mariano
16
Cf. BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 206.
17
Cf. MARIANO, Cynara Monteiro. Legitimidade do direito e do poder judiciário: (neo)constitucionalismo ou
poder constituinte permanente?. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 41-53, abr./jun. 2011
O caso da COFINS das sociedades profissionais: análise da legitimidade da aplicação da teoria... 53
that the Supreme Court, accepting the treasury thesis, applied, in the case,
the transcendence theory of the determining motives to the passage of the
rapporteur’s vote, Minister Moreira Alves, in the ADC nº 1-DF, thus promoting
an illegitimate constitutional mutation.
Key words: Abrogation of the COFINS of professional societies. Transcendence
theory of the determining motives. Constitutional Mutation.
Referências
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 41-53, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o
cumprimento da tutela antecipada
Marlon Tomazette
Mestre e Doutorando em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Professor de
Direito Comercial do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), da Escola Superior do Ministério
Público do Distrito Federal. Procurador do Distrito Federal. Advogado.
1 Introdução
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, XXXV, assegura
a todos o acesso à justiça, garantia esta que deve ser entendida como o
acesso efetivo à justiça, vale dizer, como o direito a uma tutela jurisdicio
nal adequada, eficaz e tempestiva. Todavia, tais contornos da garantia
constitucional ainda não são a realidade, competindo ao legislador intro
duzir mecanismos que sejam aptos a assegurar à jurisdição o melhor
desempenho de suas funções.
Nesse mister, o legislador deve identificar os óbices à efetividade
do processo, e buscar meios de superá-los, como vem ocorrendo nas
reformas do Código de Processo Civil levadas a cabo nos últimos anos.
O maior óbice a uma tutela jurisdicional efetiva talvez seja a duração do
processo, que o torna desacreditado perante a população, por ocasionar
muitas vezes o perecimento do direito sem a sua efetiva satisfação. Para
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56 Marlon Tomazette
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 57
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleeth. Porto Alegre:
1
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
58 Marlon Tomazette
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998. p. 454.
2
DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 156.
3
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 59
podemos afirmar que o processo será tão mais efetivo quanto mais justo
for, porquanto estará apto a atingir sua finalidade que é a promoção do
bem comum. O processo já não pode ser apenas extrinsecamente igual
e justo, isto é, formalmente igual e justo, devendo ser também intrin
secamente igual e justo.4
A partir dessa busca da efetividade é que devem ser interpretadas
as reformas do processo civil, numa visão teleológica.
4
COMOGLIO, Luigi Paolo. “Garanzie Costituzionale” e “Giusto Processo” (Modelli a confronto)”. Revista de
Processo, São Paulo, n. 90, p. 95-150, abr./jun. 1998. p. 105.
5
DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 273.
6
DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 274-275.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
60 Marlon Tomazette
7
DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 283-293.
8
COMOGLIO, Luigi Paolo. “Garanzie Costituzionale” e “Giusto Processo” (Modelli a confronto). Revista de
Processo, São Paulo, n. 90, p. 95-150, abr./jun. 1998. p. 105.
9
MARINONI, Luiz Guilherme. Novas linhas do processo civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 2.
10
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleeth. Porto Alegre:
Sergio Antonio Fabris, 1988. p. 20.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 61
11
TUCCI, José Rogério Cruz e. Garantia do processo sem dilações indevidas. In: TUCCI, José Rogério Cruz e
(Coord.). Garantias constitucionais do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 239.
12
TUCCI, José Rogério Cruz e. Garantia do processo sem dilações indevidas. In: TUCCI, José Rogério Cruz e
(Coord.). Garantias constitucionais do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 240.
13
TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 123.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
62 Marlon Tomazette
DIAS, Beatriz Catarina. A jurisdição na tutela antecipada. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 35.
14
MARINONI, Luiz Guilherme. Novas linhas do processo civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 30.
15
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 63
16
ANDOLINA, Ítalo. Cognizione ed esecuzione forzata nel sistema della tutela giurisdizionale. Milano: Giuffrè,
1993. p. 15-17.
17
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela antecipatória, julgamento antecipado e execução imediata da sentença. 3.
ed. São Paulo, 1999. p. 18.
18
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 30.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
64 Marlon Tomazette
5 A tutela antecipada
O legislador nacional, atentando para a postura instrumenta lista,
passou a proceder a uma série de minirreformas Código de Processo
Civil, trazendo inúmeras inovações para o direito processual brasileiro,
com o intuito de atingir a almejada efetividade do processo. Neste mister,
o legislador nacional vem privilegiando o escopo social da jurisdição,
introduzindo novas técnicas capazes de aumentar a satisfação da pres
tação jurisdicional. Dentre tais inovações se destaca a antecipação de
tutela, dos artigos 273 e 461, §3º do Código de Processo Civil, como meio
poderosíssimo de se tentar solucionar o conflito entre tempo e processo,20
enquanto medida de aceleração da tutela jurisdicional.
A tutela antecipada não é uma novidade nos ordenamentos estran
geiros. Na Itália, o artigo 700 do Código de Processo Civil além de per
mitir medidas conservativas, cautelares atípicas, similarmente ao artigo
798 do nosso Código de Processo Civil, permite também a antecipação
no todo ou em parte dos efeitos da decisão de mérito.21 O professor José
Ovalle Favela22 nos noticia a presença da tutela antecipada no Peru, em
Portugal e no Uruguai.
A introdução da antecipação de tutela de modo genérico no
ordenamento pátrio, pela Lei nº 8.952 de 13 de dezembro de 1994, per
mitiu que o juiz antecipasse, atendidos os requisitos legais do artigo 273
do Código de Processo Civil, por meio de provimentos embasados na
técnica de cognição sumária, o que os jurisdicionados só obteriam após
o longo caminho da cognição exauriente. Em termos análogos, o artigo
461 do Código de Processo Civil, que disciplina a tutela específica nas
obrigações de fazer e não fazer, permite em seu parágrafo terceiro que o
juiz antecipe liminarmente o provimento final.
19
DIAS, Beatriz Catarina. A jurisdição na tutela antecipada. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 38.
20
DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma do Código de Processo Civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p.
140.
21
DINI, Enrico A.; MAMMONE, Giovanni. I provvedimenti d’urgenza nel diritto processuale civile e nel diritto del
lavoro. 7ª ed. Milano: Giuffrè, 1997. p. 427.
22
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BELTRAME, Adriana (Org.). Temas atuais do direito processual ibero-americano: compêndio de relatórios e
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 65
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
66 Marlon Tomazette
23
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461 do CPC). In: TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (Coord.). Reforma do Código de Processo Civil. São Paulo:
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24
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25
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A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 67
26
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68 Marlon Tomazette
30
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31
DINI, Mario. I provvedimenti d’urgenza. 3ª ed. Milano: Giuffrè, 1961. p. 179.
32
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Tutela antecipada. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos
polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 196.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 69
33
DINI, Enrico A.; MAMMONE, Giovanni. I provvedimenti d’urgenza nel diritto processuale civile e nel diritto del
lavoro. 7ª ed. Milano: Giuffrè, 1997. p. 320.
34
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 131.
35
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 137
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
70 Marlon Tomazette
36
ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação da tutela. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 77.
37
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 163-166.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 71
quando fala que a tutela não poderá ser concedida quando houver perigo
de “irreversibilidade do provimento antecipado” — o que nada tem a
ver, repita-se, com irreversibilidade dos efeitos práticos do provimento —
são determinadas declarações e constituições provisórias”.38
Não obstante à autoridade e lógica da argumentação deduzida
pelo processualista paranaense, acreditamos que tal interpretação não é
a mais adequada.
Caso a reversibilidade exigida fosse tão somente do provimento e
não dos efeitos práticos do mesmo, o parágrafo segundo do artigo 273
seria dispensável, porquanto o provimento em si, isto é, a decisão ante
cipatória é sempre reversível, uma vez que pode ser revogada a qualquer
tempo (art. 273, §4º).39 Ora, assim sendo, a interpretação mais adequada
que pode ser dada, é aquela que não torna a exigência legal letra morta,
não havendo, pois, dúvida que, apesar da inexatidão terminológica, a re
versibilidade exigida é dos efeitos práticos do provimento antecipatório,40
ou seja, não se poderá conceder a antecipação se as coisas não puderem
voltar ao estado anterior, por absoluta impossibilidade física da restituição
in natura, ou da compensação do dano sofrido.41
Tal requisito é uma imposição das garantias processuais estampa-
das na Carta Magna de 1988, que asseguram aos litigantes o contraditó-
rio, a ampla defesa e o devido processo legal, e um consectário da provi
soriedade da medida antecipatória. Permitir-se em termos gerais uma
antecipação de tutela que não seja reversível, seria uma violação frontal
às garantias constitucionais citadas, porquanto se permitiria antecipa
damente a consolidação de uma situação, outorgando-se ao autor o bem
da vida pretendido, sem uma sentença, ou seja, sem a obediência ao
devido processo legal, sem assegurar ao réu o exercício da ampla defesa e
do contraditório efetivo, além de se afrontar o núcleo essencial do direito
à segurança jurídica.
Além disso, caso fosse permitida uma antecipação de tutela, cujos
efeitos fáticos fossem irreversíveis, haveria uma afronta à segurança
38
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 166.
39
ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação da tutela. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 97.
40
ALVIM, José Eduardo Carreira. Tutela antecipada na reforma processual. 2. ed. Curitiba: Juruá, 1999. p. 98;
FADEL, Sérgio Sahione. Antecipação da tutela no processo civil. São Paulo: Dialética, 1998. p. 32; CARNEIRO,
Athos Gusmão. Da antecipação de tutela no processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 59; DINAMARCO,
Cândido Rangel. A reforma do Código de Processo Civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 148; BELINETTI,
Luiz Fernando. Irreversibilidade do provimento antecipado. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos
polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 250.
41
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Da liberdade do juiz na concessão de liminares. In: WAMBIER, Teresa Arruda
Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 542.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
72 Marlon Tomazette
42
ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação da tutela. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 88; FUX, Luiz. Tutela de segurança
e tutela de evidência: fundamentos da tutela antecipada. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 351.
43
BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência: tentativa
de sistematização. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 326-327; MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da
tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 171; CARNEIRO, Athos Gusmão. Da antecipação de tutela no
processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 61; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Da liberdade do juiz na
concessão de liminares. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos da antecipação de
tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 542.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 73
44
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 170.
45
TJSC, Ag. de Inst. 2148-5, Florianópolis, Rel. Des. Pedro Manoel Abreu, Julg. em 22.08.96. Jurisprudência
Brasileira, v. 183, p. 238.
46
DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma do Código de Processo Civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 1998.
p. 383.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
74 Marlon Tomazette
8 Objeto da antecipação
Uma vez preenchidos os requisitos legais para a concessão da
medida antecipatória, a mesma deve ser concedida, a fim de satisfazer
total ou parcialmente o direito afirmado pelo autor. Não se antecipa
uma sentença, mas seus efeitos práticos, antecipa-se a sua eficácia social
e não a jurídico-formal.47 Presentes os requisitos, poderá ocorrer a
antecipação, não da tutela, mas dos efeitos da tutela pretendida, uma vez
que de nada adianta um provimento jurisdicional, enquanto o mesmo
não produz efeitos. Não interessa à parte a decisão jurisdicional, mas
tão somente os efeitos que ela possa produzir para outorgar-lhe o bem
da vida pretendido.
Não obstante às controvérsias doutrinárias, é certo que tal anteci
pação é admissível em qualquer classe de ações. Adotada a classificação
quinária das ações, tendo em vista a natureza predominante da pro vi
dência pleiteada, uma vez que não existem ações puras, é certo que a
antecipação de tutela é admissível tanto nas ações declaratórias, quanto
nas constitutivas, nas mandamentais, nas executivas lato sensu e nas
condenatórias, senão vejamos.
Nas ações declaratórias, o que se busca é a declaração de existên
cia ou de inexistência de dada relação jurídica, vale dizer, “a elimina-
ção da incerteza em torno da existência ou inexistência de uma dada
relação jurídica”.48 Ora, se tal é a tutela pleiteada, inviável se mostra a
antecipação dos efeitos declaratórios, porquanto é ilógica a outorga pro
visória da certeza jurídica, a qual somente pode ser alcançada com a
decisão definitiva.
Todavia, conforme muito bem ressaltado pelos Professores Nelson
Nery Junior, José Roberto Bedaque e Luiz Guilherme Marinoni há
que se perquirir sobre a viabilidade e utilidade da antecipação diante dos
vários casos concretos que se apresentem, sendo perfeitamente viável o
adiantamento de consequências práticas relacionadas ao comando da
sentença declaratória.49
47
ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação da tutela. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 48
48
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de processo civil. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. v. 1,
p. 162-163.
49
NERY JÚNIOR, Nelson. Procedimentos e tutela antecipatória. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.).
Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 395-396; BEDAQUE,
José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência: tentativa de
sistematização. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 344-345; MARINONI, Luiz Guilherme. A tutela antecipatória
nas ações declaratórias e constitutivas. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos da
antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 273.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 75
50
CARNEIRO, Athos Gusmão. Da antecipação de tutela no processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 42;
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Tutela antecipada. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos
polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 189, ZAVASCKI, Teori Albino.
Antecipação de tutela e colisão de direitos fundamentais. In: TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (Coord.). Reforma
do Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 159.
51
MARINONI, Luiz Guilherme. A tutela antecipatória nas ações declaratórias e constitutivas. In: WAMBIER, Teresa
Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
p. 275-276.
52
CARNEIRO, Athos Gusmão. Da antecipação de tutela no processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 42.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
76 Marlon Tomazette
53
CARNEIRO, Athos Gusmão. Da antecipação de tutela no processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 37.
54
ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p. 79.
55
CARNEIRO, Athos Gusmão. Da antecipação de tutela no processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 42;
MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Tutela Antecipada. 2. ed. São Paulo: Oliveira Mendes, 1998. p. 499-
503; MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 41-42.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 77
vale dizer, são antecipados os efeitos práticos da decisão, pois é isso que
interessa em termos de efetividade da tutela jurisdicional. Todavia, em
relação a determinadas eficácias das ações são necessárias transforma
ções no mundo físico, são imprescindíveis atividades complementares,
extrínsecas ao ato decisório.
Nas ações declaratórias e constitutivas a própria decisão judicial é
apta a satisfazer o interesse da parte, não sendo necessárias outras pro
vidências externas ao processo. Assim sendo, a antecipação das eficácias
declaratória e constitutiva prescinde de atos exteriores, e consequente-
mente prescinde de efetivação, vale dizer, a decisão por si só já é apta
a satisfazer os interesses postos em jogo.
Nos demais tipos de ações são necessárias transformações no
mundo físico para a realização do direito da parte, podendo-se, portanto,
falar em efetivação da decisão. As medidas antecipatórias das demais
eficácias também dependem destas providências exteriores, ensejando
uma “execução” completa ou incompleta da decisão, conforme as cir
cunstâncias assim o exijam, baseada, todavia, numa cognição sumária.
Poderíamos falar em execução provisória da antecipação de tutela, toda
via preferimos não utilizar a expressão execução provisória da decisão,
seguindo a lição do Professor Luiz Guilherme Marinoni, uma vez que
os atos da execução dita provisória em nada se diferenciam dos atos da
execução dita definitiva, o que é provisório é o título em que se funda a
execução, podendo a execução ser completa ou incompleta.56
Nas ações mandamentais e executivas lato sensu são necessárias
providências exteriores ao processo para a efetivação da decisão, podendo
nestas espécies de ações falar-se efetivação ou atuação da decisão, a
qual, todavia, ocorre dentro do mesmo processo, não exigindo uma nova
estrutura (processo). E diferente não poderia ser em relação à efetivação
da medida antecipatória, que se dará mediante a expedição de mandados
e outros meios executórios cabíveis dentro do mesmo processo.57 A
efetivação de uma liminar concedida na ação de despejo, por exemplo,
ocorre no mesmo processo não dependendo de uma nova estrutura.
Portanto, em relação a tais eficácias, a efetivação de uma medida anteci
patória das mesmas, necessitará de atos exteriores, os quais serão aptas a
56
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela antecipatória, julgamento antecipado e execução imediata da sentença. 3.
ed. São Paulo, 1999. p. 190-193.
57
WATANABE, Kazuo. Tutela antecipatória e tutela específica nas obrigações de fazer e não fazer: arts. 273 e 461
do CPC. In: TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (Coord.). Reforma do Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva,
1996. p. 37.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
78 Marlon Tomazette
58
ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p. 76.
59
STJ – REsp nº 952.646/SC, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 04.11.2008, DJe, 04 ago.
2009.
60
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 178-179; ALVIM,
José Eduardo Carreira. Tutela antecipada na reforma processual. 2. ed. Curitiba: Juruá, 1999. p. 103.
61
FUX, Luiz. Tutela de segurança e tutela de evidência: fundamentos da tutela antecipada. São Paulo: Saraiva,
1996. p. 358-389.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 79
Assim sendo, não temos dúvida em afirmar que não há que se cogitar
de oposição à efetivação da medida por meio de embargos à execução,62
não só pela não sujeição às regras do processo de execução, mas, sobretudo,
pela suspensão imediata da execução, decorrente da tão só oposição dos
embargos. Se a antecipação de tutela tem por objetivo a mais rápida
satisfação do direito da parte, impedir a satisfação de uma parte pela tão
só oposição da outra seria extremamente contraditório. E não se diga que
tal posição conduziria a uma violação ao princípio da ampla defesa, e da
igualdade das partes, uma vez que há outras possibilidades de oposição
à própria concessão da medida antecipatória, como o recurso para o órgão
superior, ou meras petições dirigidas ao juiz da causa, tendo em vista a
possibilidade de revogação da medida a qualquer tempo, garantindo-se
a observância dos referidos princípios.
A atuação das medidas antecipatórias, qualquer que seja a natu
reza do provimento antecipado, dar-se-á no mesmo processo, não se
sujeitando às regras do processo de execução, tendo em vista a executo
riedade intrínseca dos provimentos de urgência, tanto os cautelares como
os antecipatórios,63 devendo o juiz adotar as medidas que sejam mais
aptas à satisfação do direito em disputa.
10 Restrições à efetivação
Asseverada a inaplicabilidade direta das regras do processo de
execução à efetivação da antecipação da tutela, resta-nos interpretar o
comando constante do parágrafo terceiro do artigo 273 do Código de
Processo Civil, o qual condiciona a “execução” da tutela antecipada às
regras do artigo 588 (atual 475-0) do mesmo código, “no que couber”, as
quais se referem à execução dita provisória das sentenças condenatórias.
Tais dispositivos afirmam que na execução provisória não poderá haver
a alienação do domínio, nem o levantamento de depósito em dinheiro
sem a prestação de caução, e que a execução ficará sem efeito, com o
advento de decisão que modifique a decisão exequenda, restituindo-se as
coisas ao estado anterior.
62
MANDRIOLI, Crisanto. Corso de diritto processuale civile. 2ª ed. Torino: Giappichelli, 1978. v. 3, p. 237;
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 181.
63
ALVIM, José Eduardo Carreira. Tutela antecipada na reforma processual. 2. ed. Curitiba: Juruá, 1999. p. 101;
TALAMINI, Eduardo. Tutelas mandamental e executiva lato sensu e a antecipação de tutela ex vi do art. 61,
§3º do CPC. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 145.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
80 Marlon Tomazette
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Da liberdade do juiz na concessão de liminares. In: WAMBIER, Teresa Arruda
64
Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 553.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 81
65
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 207; BUENO,
Cássio Scarpinella. Execução provisória e antecipação de tutela: dinâmica do efeito suspensivo da apelação
e da execução provisória: conserto para a efetividade do processo. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 349; ALVIM,
José Eduardo Carreira. Tutela antecipada na reforma processual. 2. ed. Curitiba: Juruá, 1999. p. 107-108.
66
CARNEIRO, Athos Gusmão. Da antecipação de tutela no processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 54.
67
TJPR – Ag. de Inst. nº 62.895-5, Londrina, Rel. Des. Accácio Cambi, Julg. em 18.02.98. Jurisprudência Brasileira,
v. 183, p. 205.
68
TJSP – Ag. de Inst. nº 19.310-4, São Paulo, Rel. Des. Júlio Vidal, Julg. em 04.09.96, Jurisprudência Brasileira,
v. 183, p. 310 e TJSP – Ag. de Inst. 26007-4, Campinas, Rel. Des. César Lacerda, Julg. em 30.10.96. Jurispru
dência Brasileira, v. 183, p. 316.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
82 Marlon Tomazette
69
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Da liberdade do juiz na concessão de liminares. In: WAMBIER, Teresa Arruda
Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 542;
MARINONI, Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 206-207; BUENO,
Cássio Scarpinella. Execução provisória e antecipação de tutela: dinâmica do efeito suspensivo da apelação e
da execução provisória: conserto para a efetividade do processo. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 348
70
LARENZ, Karl. Metodología de la ciencia del derecho. Traducción y revisión de Marcelino Rodríguez Molinero.
Barcelona: Ariel, 1994. p. 400 (tradução nossa).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 83
11 Conclusão
O direito a tutela jurisdicional é um direito a uma tutela jurisdi
cional adequada, eficaz e tempestiva dos direitos, devendo para que tais
contornos correspondam à realidade, ser superados inúmeros óbices,
dentre os quais o maior talvez seja o fator tempo. Na busca da superação
do tempo como óbice à efetividade do processo, há que se permitir uma
satisfação mais rápida do direito da parte, permitindo-se uma decisão
baseada em um juízo de verossimilhança e probabilidade, evitando os
efeitos perniciosos de uma cognição exauriente.
Atento a tal tendência, o legislador pátrio introduziu de modo
genérico a antecipação dos efeitos da tutela pretendida, assegurando
uma proteção diferenciada aos direitos evidentes e que corram risco de
lesão, permitindo uma mais rápida satisfação dos mesmos, se atendidos
os requisitos legais. Há que se ressaltar, que a antecipação refere-se aos
efeitos práticos da tutela pretendida, e não à sua eficácia jurídico-formal.
Demonstrada a condição da antecipação de tutela como uma
antecipação dos efeitos da tutela pretendida, não se pode negar que
sua efetivação deve ser via de regra satisfativa, vale dizer completa, uma
vez que admitir o contrário seria desvirtuar sua finalidade, qual seja,
garantir uma tutela efetiva a direitos evidentes e que correm risco de
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ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação da tutela. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 88.
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A efetividade da tutela jurisdicional e o cumprimento da tutela antecipada 85
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 55-87, abr./jun. 2011
O processo civil e a execução no
Processo do Trabalho
Gilberto Stürmer
Advogado. Coordenador do Departamento de Direito Público e Social da Faculdade de Direito da
PUCRS. Professor de Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho da Faculdade de Direito da
PUCRS – Graduação e Pós-Graduação. Mestre em Direito pela PUCRS. Doutor em Direito pela UFSC.
1 Introdução
Nos últimos anos o Processo Civil vem sofrendo inúmeras transfor
mações na busca pela sua efetividade que é dar a cada um o que é seu no
menor lapso temporal possível. Entre outras alterações, a Lei nº 11.232,
de 22 de dezembro de 2005, instituiu a fase de cumprimento da sentença,
dando sincretismo entre o processo de conhecimento e o processo de
execução no cível.
Este sincretismo sempre existiu no Processo do Trabalho. A
Consolidação das Leis do Trabalho tem regras próprias para a tramitação
da execução, e o seu artigo 889, dispõe ser aplicável subsidiariamente
ao Processo do Trabalho em matéria de execução, pela ordem, a Lei dos
Executivos Fiscais (Lei nº 6.830 de 22 de setembro de 1980) e o Código
de Processo Civil. Esta aplicação subsidiária, contudo, só tem aplicação
em caso de lacuna na CLT e, desde que as normas supletivas não sejam
incompatíveis com o Processo do Trabalho.
Existem operadores do direito processual laboral que defendem
uma posição que extrapola os limites da boa técnica acerca do tema,
principalmente em sua fase recursal.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 89-98, abr./jun. 2011
90 Gilberto Stürmer
3 Liquidação de sentença
Dispõe o artigo 879 da CLT que, “sendo ilíquida a sentença exe
qüenda, ordenar-se-á, previamente, a sua liquidação, que poderá ser feita
por cálculo, por arbitramento ou por artigos.”
A regra do referido dispositivo não dispõe sobre quem deverá
apresentar os cálculos. Assim, é faculdade do juiz abrir às partes o prazo
para apresentar cálculos ou determinar desde logo que sejam elaborados
por perito do juízo.
Recurso cabível das decisões do juiz de primeiro grau em execuções (art. 897, “a”, CLT).
1
Em relação ao ônus da prova, ver CLT: Art. 818. “A prova das alegações incumbe à parte que as fizer.” Entende-se
2
desnecessária e inaplicável a regra do art. 333 do Código de Processo Civil, por não haver lacuna na matéria,
na Consolidação das Leis do Trabalho: “O ônus da prova incumbe: I – ao autor, quanto ao fato constitutivo do
seu direito; II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 89-98, abr./jun. 2011
O processo civil e a execução no Processo do Trabalho 91
3
Nesse sentido, MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. São Paulo: Atlas, 2006.
4
É este o entendimento majoritário da doutrina nacional. Neste sentido, ver MARTINS, Sérgio Pinto. Direito
processual do trabalho. São Paulo: Atlas, 2006.
5
Artigo 897, alínea a, da CLT.
6
Ver artigo 880 da CLT.
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92 Gilberto Stürmer
4 Legislação vigente
Passa-se a discorrer sobre o tema, à luz da legislação vigente, desde
o trânsito em julgado da sentença relativa ao processo de cognição até
o início da execução propriamente dita.
Com efeito, tecnicamente, ainda que a CLT trate da execução a
partir do artigo 876, esta fase inicia-se somente a partir da citação do
executado, como examinar-se-á mais adiante. O artigo 879 consolida-
do, determina que, sendo ilíquida a sentença exequenda, ordenar-se-á,
previamente a sua liquidação, que poderá ser feita por cálculo, por arbi
tramento ou por artigos.
Não há qualquer dispositivo legal, nem na CLT, nem subsidia
riamente na Lei nº 6.830/80, nem no Código de Processo Civil, a deter-
minar que a liquidação por cálculos deva ser obrigatoriamente elaborada
por perito designado pelo Juízo.7 Desta forma, o juiz pode, entendendo
conveniente, notificar as partes (primeiro o autor e depois o réu) para
que elas apresentem a conta de liquidação.
Usando a prerrogativa que tem de dirigir o processo e, na falta
de previsão legal em sentido contrário, o juiz poderá deferir às partes
a apresentação da conta liquidatória.
Apresentada a conta por perito designado pelo juízo,8 o juiz
poderá, à luz do parágrafo 2º do artigo 879 da CLT, abrir às partes prazo
sucessivo de dez dias para impugnação fundamentada com indicação
dos itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão.
A expressão “poderá”, dá conta de que o juiz não é obrigado a
abrir tal prazo, desde que se convença de que a conta obedece aos limites
da coisa julgada. Todavia, se o juiz entender por abrir o prazo legal, o
mesmo deverá ser de dez dias, primeiro ao autor e depois ao réu. Na
impugnação, as partes deverão necessariamente impugnar itens e valores
objeto de discordância, sob pena de preclusão lógica e consumativa.9
Havendo impugnações, admitidas ou não, o juiz homologa a
conta de liquidação por sentença e, a partir daí, determina a expedição
do mandado de citação ao executado, para que este pague a dívida em
quarenta e oito horas ou garanta a execução.
7
O artigo 607 do CPC determina que na liquidação por arbitramento o juiz nomeará perito.
8
Aí reside o aspecto de celeridade processual, enquanto que na apresentação da conta por uma das partes,
necessariamente haverá o contraditório, mas poderá não haver a despesa processual relativa à verba honorária
do perito.
9
Nesse sentido, a lição de Sérgio Pinto Martins, Direito processual do trabalho. São Paulo: Atlas, 2006.
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O processo civil e a execução no Processo do Trabalho 93
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94 Gilberto Stürmer
Como visto, não há, portanto, falar em aplicação das regras pro
cessuais civis ao Processo do Trabalho.
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O processo civil e a execução no Processo do Trabalho 95
7 Conclusão
1. As fases do processo trabalhista comum dividem-se em cognição,
pré-execução e execução.
2. A fase de cognição ou conhecimento busca a manifestação do
poder judiciário sobre uma pretensão resistida em relação a
uma obrigação. Esta fase termina com o trânsito em julgado da
sentença.
3. A fase de pré-execução inicia com o comando judicial de liquidar
a sentença e termina com a sentença (decisão interlocutória) de
liquidação.
4. A fase de execução inicia com a citação do executado (art. 880, da
CLT).
5. Não havendo pagamento nem garantia do juízo, seguir-se-á
penhora dos bens do executado, a teor do contido no artigo 883,
da CLT.
6. Não se aplicam, portanto, ao Processo do Trabalho, as regras
de cumprimento da sentença do Processo Civil, instituídas pela
Lei nº 11.232, de 22 de dezembro de 2005, especialmente o
artigo 475-J do CPC.
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96 Gilberto Stürmer
Abstract: The paper analyses the labor enforcement proceedings and its
steps, beginning at the decision, its liquidation, the calculation approval
and the formation of the execution instrument, in order to demonstrate that
such proceedings differ from the civil ones. It mainly demonstrates that the
labor enforcement proceedings have not been altered by the enforcement
rules established by the Bill #11.232, of 22nd December 2005, which, among
other changing, established the article 475-J of the Civil Procedure Code.
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98 Gilberto Stürmer
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Direitos fundamentais e Processo Civil
no Brasil: algumas técnicas processuais
compensatórias de desigualdades
sociais e a proteção judicial dos direitos
fundamentais1
Eliana Pires Rocha
Procuradora da República em Brasília. Especialista em Filosofia (UnB). Mestre em Direito Processual
Civil (PUC-SP).
1 Introdução
No curso das últimas décadas, a força normativa conferida à
Constituição provocou uma releitura de todos os ramos do direito. No
direito processual civil, essa releitura pode ser verificada no emprego
de técnicas, inclusive procedimentais, que se mostram mais hábeis para
a realização do direito material. Tais instrumentos podem ser vistos
Texto publicado originalmente em espanhol no Anuario de Derechos Humanos. Nueva Época, v. 11, ano 2010,
1
na Universidad Complutense de Madrid, Espanha, a convite da Professora María José Falcón y Tella.
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100 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
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Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 101
OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Direitos fundamentais à efetividade e à segurança em perspectiva dinâmica.
2
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102 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
3
Ingo Wolfgandg Sarlet chama a atenção para a falta de rigor científico e de uma técnica legislativa adequada,
especialmente no que diz respeito à terminologia empregada no catálogo de direitos fundamentais arrolados
na Constituição Federal brasileira, aspectos que revelam contradições, ausência de tratamento lógico na
matéria, gerando problemas de ordem hermenêutica. Também ressalta que, a despeito da positiva amplitude
do catálogo, foram incluídos no rol desses direitos diversas posições de “fundamentalidade” discutível, com
isso desprestigiando o status por eles gozado (SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais.
5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 79-80, item 4.1.1).
4
SARMENTO. Direitos fundamentais e relações privadas, parte I, cap. 2, p. 85, item n. 5.
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Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 103
CANOTILHO. Direito Constitucional e teoria da Constituição, parte III, tít. I, cap. 2, p. 217, item n. 5.
6
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104 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
7
“§2º – Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.”
8
CITTADINO. Pluralismo, direito e justiça distributiva:..., cap. 1, p. 12.
9
CITTADINO. Pluralismo, direito e justiça distributiva:..., cap. 1, p. 13.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 105
10
OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Direitos fundamentais à efetividade e à segurança em perspectiva dinâmica.
Revista de Processo, São Paulo, v. 33, n. 155, p. 3, jan. 2008.
11
“Art. 154. O abuso de direito individual ou político, com o propósito de subversão do regime democrático ou
de corrupção, importará a suspensão daqueles direitos de dois a dez anos, a qual será declarada pelo Supremo
Tribunal Federal, mediante representação do Procurador Geral da República, sem prejuízo da ação cível ou
penal que couber, assegurada ao paciente ampla defesa.”
12
BARROSO; BARCELLOS. O começo da história: a nova interpretação constitucional e o papel dos princípios no
direito brasileiro, p. 327.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
106 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
108 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
19
SANTOS. Pela Mão de Alice: a política e o social na pós-modernidade, parte 3, p. 161, item n. 7. Vale registrar
que, para estender o acesso à justiça especialmente às camadas mais pobres da população, em 1984 foram
instituídos, no Brasil, os Juizados Especiais de Pequenas Causas — Lei n. 7.244 —, voltados para a resolução
de causas de menor complexidade, cujo pedido não excedesse 20 salários mínimos. O seu procedimento
congregava os princípios processuais da oralidade, da simplicidade, da informalidade, da economia processual
e da celeridade, buscando sempre que possível a conciliação das partes. Reconhecidamente exitoso como canal
de acesso ao Judiciário, esse microssistema resultou na previsão constitucional da criação dos Juizados Especiais
Cíveis e Federais — art. 98 da CF de 1988 —, que foram, ao final, regulamentados pela Lei nº 9.099/1995 e,
posteriormente, pela Lei nº 10.259/2010, respectivamente. É relevante que, entre os critérios para definir a
competência dos Juizados, está o valor da causa de até 60 salários-mínimos, quantia que dá vazão às pretensões
da população de baixa renda. Além disso, não é necessário que as partes se façam representar por advogado.
20
CAMBI, Eduardo. Neoconstitucionalismo e neoprocessualismo. In: FUX, Luiz; NERY JR., Nelson; WAMBIER,
Teresa Arruda Alvim (Org.). Processo e Constituição: estudos em homenagem ao Professor José Carlos Barbosa
Moreira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 674, item n. 2.2.
21
MORELLO. El proceso justo, p. 160, item n. III.
22
DINAMARCO. Instituições de direito processual civil, v. 1, p. 247, item n. 94.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 109
23
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
24
MARINONI. Técnica processual e tutela de direitos, p. 143, item n. 6.1.
25
MARINONI. Técnica processual e tutela de direitos, p. 192, item n. 7.8.1.
26
MARINONI. Técnica processual e tutela de direitos, p. 188, item 7.6.
27
OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. O processo civil na perspectiva dos direitos fundamentais. In: DIDIER JR.,
Fredie; CÂMARA, Alexandre Freitas et al. (Org.). Leituras complementares de processo civil. 6. ed. Salvador:
JusPodivm, 2008. p. 237, item n. 8.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
110 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
28
OLIVEIRA. O formalismo valorativo no confronto com o formalismo excessivo, p. 129, item 3.
29
ALEXY. Teoria de los derechos fundamentales, cap. IX, p. 474, item n. III-5.3.
30
OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Direitos fundamentais à efetividade e à segurança em perspectiva dinâmica.
Revista de Processo, São Paulo, v. 33, n. 155, p. 4, jan. 2008.
31
OLIVEIRA. O formalismo valorativo no confronto com o formalismo excessivo, p. 131, item 3.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 111
32
OLIVEIRA. O processo civil na perspectiva dos direitos fundamentais, p. 236, item n. 7.
33
ALEXY. Teoría de los derechos fundamentales, cap. IX, p. 474, item n. III-5.3.
34
A proposta de compensação como correção é encontrada em autores como: ALEXY. Teoría de los derechos
fundamentales, cap. 8, p. 385, item n. II; FERRAJOLI. Direito e razão: teoria do garantismo penal, parte 5, p.
835, item n. 60; LUHMANN, Niklas. Legitimação pelo procedimento, parte 5, cap. III, p. 195; NAGEL. Igualdad
y parcialidad: bases éticas de la teoría política, cap. 12, p. 143; RAWS. Teoría de la justicia, parte 1, p. 103,
item n. II-17.
35
DINAMARCO. A instrumentalidade do processo, item 31, p. 64.
36
“No freeman shall be taken, or imprisoned, or disseised, or outlawed, or exiled, or in any way destroyed, or
will go upon him, nor will we send upon him, except by the legal judgment of his peers or by the law of the
land” (GRINOVER, Ada Pellegrini. Os princípios constitucionais e o Código de Processo Civil, p. 09).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
112 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
NERY JUNIOR. Princípios do processo civil na Constituição Federal, cap. II, p. 76-95, itens n. 5-8.
37
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 113
ALCALÁ-ZAMORA Y CASTILLO. Causas y efectos sociales del derecho procesal, p. 150, item n. 12; FIX-ZAMUDIO.
38
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
114 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
39
GUEDES. Igualdade e desigualdade no processo civil:...
40
HOFFMAN. Razoável duração do processo, p. 24, item n. 2.1.
41
MOREIRA, José Carlos Barbosa. La igualdad de las partes en el proceso civil. Revista de Processo, São Paulo,
n. 44, p. 176, item n. 1, 1986. A questão está centrada no limite da atuação do juiz e em seu poder de
intervenção.
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Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 115
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
116 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
42
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43
TUCCI, Rogério Lauria; TUCCI, José Rogério Cruz e. Constituição de 1988 e processo: regramentos e garantias
constitucionais do processo, p. 72, n. 20. A garantia da publicidade não implica efetiva presença do público
ou dos meios de comunicação aos atos em que se desenrola o procedimento, embora reclame mais do que
uma “potencialidade” abstrata, como sucede quando se desconhece a data, o local e o horário do ato, o que
reduz a publicidade a um mero nível teórico (op. cit., p. 72).
44
MORELLO. El conocimiento de los derechos como presupuesto de la participación, p. 170-174, item n. II.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 117
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Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 119
colo
niais portuguesas, como uma sociedade rigorosamente estamen
tada, o país ainda apresenta essa característica nos cinco séculos de sua
his
tória. Desde meados do século XX, várias medidas têm sido criadas
para a proteção de grupos em desvantagem, em oposição às poucas alter
nativas anteriores.
a) Crianças e adolescentes
Ademais das prerrogativas contidas no Código de Processo Civil,
as crianças e os adolescentes possuem, em sua defesa, as normas do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/1990. Entre
os benefícios processuais constam regras especiais, como a gratuidade
de justiça e a assistência jurídica, a dispensa de pagamento de despesas
45
Ver, por todos, o estudo sobre desigualdade econômica no Brasil (HENRIQUES, Ricardo et al. (Coord.).
Desigualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2000).
46
A “luta por reconhecimento” social é conceito desenvolvido por Axel Honneth, caracterizada na disputa de
grupos sociais por espaço e por direitos sociais (HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral
dos conflitos sociais).
47
GUEDES, Jefferson Carús. Direito processual social no Brasil: as primeiras linhas. Revista de Processo, São Paulo,
v. 31, n. 142, p. 137-167, 2006.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
120 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
b) Idosos
Os idosos também integram grupo distinto, sendo parte processual
contemplada com uma desigualdade de tratamento por compensação,
de acordo com o Estatuto do Idoso (EI), Lei nº 10.741/2003, no qual
consta título próprio sobre o acesso à Justiça. A compensação é garantia
mediante a observância do procedimento sumário às suas causas, a
criação de varas especializadas em idosos e prioridade na tramitação de
processos e nas diligências processuais.
A tramitação prioritária dos processos de idosos já fora prevista
no Código de Processo Civil desde 2001, quando a doutrina apresen
tou clara defesa em seu favor, ao argumentar que: “[...] é de absoluta
legitimidade constitucional a lei que manda dar prioridade, nos juízos
inferiores e nos tribunais, às causas de interesse de pessoas com idade
igual ou superior a sessenta-e-cinco anos (Lei n. 10.173/2003); toma-se
em consideração que as partes idosas têm menor expectativa de sobrevida
e, na maioria dos casos, mais necessitam da tutela jurisdicional.”48
Desde 2003, o Estatuto do Idoso considera como tal os maiores
de 60 anos, criando uma duplicidade de normas, uma prevendo 60 anos
e outra 65 anos. A ambiguidade foi resolvida recentemente, mediante
alterações promovidas no CPC, que previu, de modo uniforme ao Esta
tuto do Idoso, a prioridade processual aos maiores de 60 anos. O bene
fício, aplicado em todos os graus de jurisdição, permite a aceleração
processual, em vista da notória expectativa de vida menor que os benefi-
ciários possuem.
As regras relativas ao processo coletivo permitem que várias
entidades estatais, paraestatais e privadas representem os idosos em juízo,
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do
48
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 121
d) Acidentados em trabalho
Por meio da ação acidentária, prevista na Lei nº 6.376/1976, os
feridos em acidentes de trabalho têm em seu favor uma série de distin
ções processuais, tais como: a modificação da competência do juízo
para o local do fato, a competência da justiça estadual, ainda que o réu
seja autarquia federal (Instituto Nacional de Seguro Social), a presença
do Ministério Público como fiscal da lei, a concessão de jus postulandi
à parte ou ao representante não advogado (dispensa do advogado), o
princípio da verdade real, que dá ao juiz maiores poderes, a mitigação
do princípio dispositivo e do princípio da demanda, a celeridade e a
simplificação pela adoção do procedimento sumário, a gratuidade de
justiça, a valorização da conciliação e a transigibilidade dos interesses.
São vantagens que garantem proteção à parte considerada mais fraca
da relação processual.
O art. 69-A da Lei nº 9.784/1999 (Processo Administrativo), estabelece quais são as doenças graves: (...) “IV –
49
pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível
e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave,
hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação,
síndrome de imunodeficiência adquirida, ou outra doença grave, com base em conclusão da medicina
especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída após o início do processo.”
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122 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
e) Consumidores
Os consumidores de bens e serviços, públicos ou privados, podem
ir a juízo, utilizando todos os meios e espécies de ações (art. 83 do CDC).
O Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei nº 8.078/1990, prevê
regras processuais especiais e estabelece princípios que autorizam a sua
conformação autônoma. Essa conformação se dá, em sua maior parte,
por meio das ações coletivas, que estão cercadas por peculiaridades que
esse sistema possui. Mas tais ações não excluem o processo individual
de consumo, que preserva singularidades, embora seja regido pelas
normas gerais de processo (CPC) e por leis extravagantes. Entre alguns
benefícios processuais está a inversão do ônus da prova, que será descrita
no item seguinte.
g) Agricultores e camponeses
Em alguns poucos casos, os camponeses contam com regras especiais
para a aquisição da propriedade. Ela pode se dar por meio do usucapião
especial agrário (Lei nº 6.969/1981), da ação discriminatória de terras
públicas (Lei nº 6.383/1976) e das imissões possessórias agrárias.
São tipicamente agrárias as demandas de cumprimento, de despejo,
de consignação, de rescisão e de indenização em contratos agrários, de
preferência, de divisão, demarcação e extinção de condomínio agrário,
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 123
i) Mulher casada
O gênero feminino é contemplado com o foro privilegiado em
ações de divórcio e de alimentos. Essas leis processuais brasileiras (CPC,
Lei do Divórcio e Lei de Alimentos) existiam antes da Constituição de
1988 e persistem como normas conformes à Carta. Nessas hipóteses,
há o deslocamento de competência como forma de compensação por
desigualdades, permitindo que a mulher ajuíze a ação de seu interesse no
local que lhe é mais favorável.
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124 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
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Direitos fundamentais e Processo Civil no Brasil: algumas técnicas processuais compensatórias... 125
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128 Eliana Pires Rocha, Jefferson Carús Guedes
6 Conclusão
O processo civil é uma técnica criada para o debate de interesses
controvertidos e para a decisão dessas controvérsias sobre bens e direito
e, como tal, só pode ser útil se se prestar ao seu fim, isto é, à solução do
litígio de modo simples, rápido, eficiente e com baixo custo.
Referências
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 99-130, abr./jun. 2011
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Arbitragem no Brasil1
Felipe Scripes Wladeck
Advogado associado de Justen, Pereira, Oliveira e Talamini – Sociedade de Advogados. Mestrando
em Direito Processual Civil pela USP. Especialista em Direito Processual Civil. Membro do Instituto
Brasileiro de Direito Processual.
1 Arbitragem
1.1 Considerações iniciais
A arbitragem no Brasil constitui meio alternativo e facultativo de
solução de controvérsias, por meio do qual as partes — no âmbito da
autonomia da vontade — investem um ou mais particulares de poderes
para solucionar litígio que verse sobre direitos patrimoniais disponíveis,
O presente texto consiste na versão em português de trabalho já publicado em obra coletiva dirigida ao público
1
estrangeiro (SCRIPES WLADECK, Felipe; OSTERNACK AMARAL, Paulo. Arbitration in Brazil. In: JUSTEN FILHO,
Marçal; PEREIRA, Cesar A. Guimarães. Infraestructure Law of Brazil. Belo Horizonte: Fórum, 2010. p. 221-235).
Por isso, apresenta um caráter meramente informativo da disciplina jurídica do instituto da arbitragem no
Brasil.
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132 Felipe Scripes Wladeck, Paulo Osternack Amaral
1.2 Arbitrabilidade
A Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996) e
o Código Civil brasileiro (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002), que
compõem o regime geral da arbitragem no Brasil, impõem três requi
sitos para que se admita a submissão da resolução de uma controvérsia
ao julgador privado: um de ordem subjetiva e dois de ordem objetiva.
A arbitrabilidade subjetiva consiste na identificação de quem poderá
figurar como parte em um processo arbitral, enquanto a arbitrabilidade
objetiva diz respeito às matérias que poderão ser submetidas à apreciação
dos árbitros.
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Arbitragem no Brasil 133
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Arbitragem no Brasil 135
O referido “adendo” pode, na verdade, ser firmado tenha a arbitragem se fundado em cláusula, tenha ela se
2
fundado em compromisso. Mas é no primeiro caso que sobressai sua importância, haja vista que as cláusulas
arbitrais necessariamente não descrevem o objeto da arbitragem. Com efeito, o adendo se presta especialmente
(mas não apenas) para a definição do objeto da arbitragem.
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136 Felipe Scripes Wladeck, Paulo Osternack Amaral
3
O Supremo Tribunal Federal é o órgão do Poder Judiciário brasileiro a quem compete decidir, em sede de
controle abstrato, sobre a constitucionalidade de leis ou atos normativos federais e estaduais (art. 102, inc. I,
alínea “a”, da Constituição Federal). Entre as suas competências está também a de julgar as causas decididas
por órgãos judiciais inferiores em única ou última instância, quando suas decisões revelarem-se incompatíveis
com a Constituição Federal (art. 102, inc. III).
4
Relatado pelo i. Ministro Sepúlveda Pertence (decisão publicada no Diário de Justiça, 30 abr. 2004).
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Arbitragem no Brasil 137
3 Os árbitros
3.1 Equiparação dos árbitros a juízes estatais
De acordo com o art. 18 da Lei de Arbitragem brasileira, o árbitro
é juiz de fato e de direito. Isso é reforçado pela regra do art. 17 da
Lei, que equipara os árbitros a funcionários públicos para os efeitos
da legislação penal. Esses dispositivos traduzem a ideia de que a ativi
dade desenvolvida pelo árbitro é, em sua substância, idêntica à do juiz
estatal, não havendo qualquer relação de hierarquia ou de subordinação
entre eles.
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Arbitragem no Brasil 139
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Arbitragem no Brasil 141
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142 Felipe Scripes Wladeck, Paulo Osternack Amaral
5
STF, AI nº 52.181, Pleno, relatado pelo Ministro Bilac Pinto, RTJ 68/382.
6
O Superior Tribunal de Justiça é o órgão competente para julgar as causas decididas em única ou última
instância por tribunais inferiores, quando as decisões destes revelarem-se incompatíveis com leis federais (art.
105, inc. III, da Constituição Federal).
7
No âmbito federal, merecem referência as seguintes previsões legislativas: art. 23-A da Lei nº 8.987/1995 (que
dispõe sobre a concessão e permissão da prestação de serviços públicos); art. 93, inc. XV, da Lei nº 9.472/1997
(que dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações); art. 43, inc. X, da Lei nº 9.478/1997 (que
institui a Agência Nacional do Petróleo); art. 35, inc. XVI, da Lei nº 10.233/2001 (que cria a ANTT, a ANTAQ e
o DEINFRA); art. 4º, §§5º e 6º, da Lei nº 10.848/2004 (que dispõe sobre a comercialização de energia elétrica);
art. 11, inc. III, da Lei nº 11.079/2004 (que institui normas gerais para licitação e contratação de parceria
público-privada no âmbito da Administração Pública). Também podem ser destacadas as seguintes leis estaduais
de Parceria Público-Privada, que identicamente preveem a possibilidade de os litígios serem resolvidos por
arbitragem: Lei Mineira de PPP (Lei nº 14.868/2003), Lei Catarinense de PPP (Lei nº 12.930/2004), Lei Paulista
de PPP (Lei nº 11.688/2004), Lei Goiana de PPP (Lei nº 14.910/2004), Lei Gaúcha de PPP (Lei nº 12.234/2005)
e Lei Cearense de PPP (Lei nº 14.391/2009).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 131-148, abr./jun. 2011
Arbitragem no Brasil 143
5 O procedimento arbitral
A arbitragem considera-se instituída com a aceitação da nomeação
pelos árbitros (art. 19).
O procedimento a ser observado será aquele escolhido pelas partes
na convenção de arbitragem. Na convenção, as partes tanto poderão
criar o seu próprio procedimento, como poderão ainda reportar-se ao
regramento de regulamento de determinada instituição arbitral (nacio
nal ou estrangeira) ou, então, determinar que os árbitros nomeados é que
definirão o procedimento a ser seguido. Existe, portanto, ampla margem
de liberdade na definição do procedimento arbitral (art. 21, caput e §1º).
Mas existem princípios fundamentais a serem respeitados em todo
e qualquer procedimento arbitral. Qualquer que seja o procedimento
escolhido, deve-se sempre observar, além dos bons costumes e a ordem
pública (art. 2º, §1º), os princípios do contraditório, da ampla defesa,
da igualdade das partes, da imparcialidade e do livre convencimento
dos árbitros (art. 21, §2º). Exige-se, enfim, o respeito ao devido processo
legal e seus corolários. Será ilegítimo — e dará margem a futuro pleito
de anulação da sentença arbitral (ver o item seguinte) — o procedimento
que não se apresentar em conformidade com tais princípios.
O procedimento escolhido pode ser alterado no curso da arbitra
gem, para adequá-lo às particularidades da causa. O adendo a que se
refere o parágrafo único do art. 19 poderá ser utilizado para tal fim.
Na medida do possível, as alterações procedimentais devem ser feitas
pelos árbitros em conjunto com as partes, a fim de evitar surpresas e
prejuízos a qualquer delas. Mas serão em princípio legítimas as alterações
procedimentais feitas pelos árbitros à revelia ou sem a concordância das
partes, desde que motivadas e imprescindíveis para a boa condução do
processo e a justa solução do mérito da causa.
A Lei nº 9.307 confere aos árbitros amplos poderes instrutórios.
Admite-se que o árbitro — tal como os juízes togados nos processos
estatais — tome o depoimento das partes, ouça testemunhas, determine a
realização de perícia ou a produção de outras provas que julgar necessá
rias, mediante requerimento do interessado ou de ofício (art. 22, caput).
Para garantir a justiça e efetividade de sua decisão, os árbitros
têm, como se disse anteriormente, o poder de conceder medidas de
urgência, conservativas ou antecipatórias dos efeitos da tutela perseguida,
que se mostrem necessárias no curso do processo.
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144 Felipe Scripes Wladeck, Paulo Osternack Amaral
8
A aprovação da Convenção de Nova Iorque, no Brasil, deu-se através do Decreto Legislativo nº 52/2002. Sua
promulgação foi realizada pelo Decreto nº 4.311/2002.
9
Por “data e o lugar em que foi proferida” a sentença deve-se entender a data e o lugar em que a decisão foi
tomada, não em que foi ela escrita/documentada.
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Arbitragem no Brasil 145
O art. 35 da Lei nº 9.307 indica que caberia ao Supremo Tribunal Federal conduzir os processos de homologação
10
de sentenças estrangeiras (judiciais ou arbitrais). Mas isso mudou com a Emenda Constitucional nº 45/2004,
que transferiu a competência para o Superior Tribunal de Justiça. O texto do art. 35 da Lei nº 9.307 ainda não
foi atualizado de acordo com as alterações promovidas pela Emenda Constitucional nº 45.
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146 Felipe Scripes Wladeck, Paulo Osternack Amaral
ao Poder Judiciário — sobretudo porque falta aos árbitros o poder de imperium, consistente na capacidade
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Arbitragem no Brasil 147
de realizar praticamente uma decisão mediante o emprego de atos de força, i.e., mediante o emprego da
técnica da sub-rogação. A execução da sentença que condenatória particular ao pagamento de quantia deve
se dar segundo os arts. 475-J e seguintes do Código de Processo Civil. A execução da sentença que condena
a Fazenda Pública ao pagamento de quantia, por sua vez, deve ser realizada na forma do art. 730 do Código.
Por fim, a execução das sentenças condenatórias em obrigação de entrega de coisa e de fazer (ou não fazer)
realiza-se segundo os arts. 621 a 631 e 632 a 643, respectivamente.
12
O art. 33, §3º, da Lei nº 9.307 fala apenas nos embargos do executado. Mas é pacífico, na doutrina e
jurisprudência brasileiras, que a impugnação ao cumprimento de sentença (figura recente no ordenamento
jurídico brasileiro, nele inserida pela Lei nº 11.232/2005) também pode ser empregada como meio de controle
das sentenças arbitrais condenatórias.
13
Disponível em: <http://www.cbar.org.br/bib_pesquisa_fgv_cbar.html>.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 131-148, abr./jun. 2011
148 Felipe Scripes Wladeck, Paulo Osternack Amaral
WLADECK, Felipe Scripes; AMARAL, Paulo Osternack. Arbitragem no Brasil. Revista Brasileira
de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 131-148, abr./jun. 2011.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 131-148, abr./jun. 2011
A magistratura diante da iniciativa
probatória no moderno contexto
processual civil: um confronto entre o
juiz Pilatos versus o juiz contemporâneo
Ana Surany Martins Costa
Bacharela em Direito pelo Centro Universitário Newton Paiva. Advogada militante e Especialista
em Direito Previdenciário.
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150 Ana Surany Martins Costa, Newton Teixeira Carvalho
1 Proêmio
O presente artigo discutirá a iniciativa probatória do juiz, tendo
como cenário a moderna tônica processual civil que se arrima no caráter
publicístico do processo, como procedimento em contraditório e também
considerando que todos, Juízes, Promotores, Advogados, partes etc.,
também são considerados partes e também contribuem à efetividade e
acesso à justiça para pacificar os conflitos que se apresentem à função
judiciária.
Nesta quadra, não obstante o progresso da teoria processual tenha
se passado, de forma predominante, na seara da prova e sua iniciativa,
tendo o Brasil se portado desde o Código de 1939 entre as mais avan-
çadas legislações, a exegese dos poderes do juiz a respeito da instrução
probatória não se fez de forma célere ou amadurecida. Ao revés, o legado
lusitano e romano das noções do sistema dispositivo é que durante largo
tempo influíram na interpretação doutrinária e jurisprudencial. Não que
se negasse a iniciativa probatória do juiz, mas registrava-se uma preo
cupação em limitá-la, com condicionamentos irrazoáveis.
Como substrato à compreensão do tema em tela é que se analisará
sucintamente a senda da prova em seus primórdios, bem como o papel
do juiz ao tomar iniciativa probatória, tendo em vista as visões doutriná
ria e contemporânea do processo, discutindo-se se o magistrado, ao agir
desta maneira, torna-se parcial.
Nesse passo, serão destacados os princípios que envolvem o tema
do artigo em tela, tais como os da demanda, o inquisitivo e o da verdade
real.
Após isso, adentrar-se-á no tema da iniciativa probatória do juiz,
por meio de argumentos voltados para o sentido do processo moderno,
tendo por base o processo não como mero instrumento do formalismo
jurídico, mas, sim, como pacificador dos litígios, com observância estrita
do contraditório, e também como expressão máxima da efetividade e
acesso à justiça. Tais confrontos de ideias serão personificados nas figuras
do juiz Pilatos (que, ao ignorar a necessidade de maior dilação probatória,
lava suas mãos, silenciando a verdade que deve prevalecer no processo)
e do juiz contemporâneo (que não deve medir esforços para desvendar,
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1
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 1656.
2
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 24.
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3
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 24.
4
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 25.
5
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 25.
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6
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 25.
7
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 25.
8
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 26.
9
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 26.
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10
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 27.
11
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 32.
12
NETO, 1982, p. 96 apud CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 1994. p. 32. (Destaque no original)
13
NETO, 1982, p. 96 apud CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 1994. p. 33.
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A magistratura diante da iniciativa probatória no moderno contexto processual civil: um confronto entre... 155
As provas favoreciam amplamente o acusado, que era porém [sic] uma pessoa
de má fama, vida desregrada e torpe, pleno de perfídias e de fraudes, ao
contrário do demandante, que era um homem muito bom, de reconhecida
e comprovada boa fé, e de vida irreprochável, atribuindo-se a ele muitos e
destacados exemplos de probidade e nobreza [Omissis].15
14
NETO, 1982, p. 96 apud CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 1994. p. 33.
15
KARAM, 1980, p. 91 apud NETO, 1982, p. 96 apud CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito
probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994. p. 34.
16
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 35.
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17
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994,
p. 37.
18
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 37.
19
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 38.
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20
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994,
p. 39.
21
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 40.
22
CAMPO, Hélio Márcio. O princípio dispositivo em direito probatório. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1994.
p. 44.
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Nesse viés, defende-se que tal ideal não mais se coaduna com o
processo na atualidade, pois o mesmo se modernizou, volvendo-se para
a noção de processo como meio de acesso e realização da justiça, apar
tando-se do formalismo jurídico, o que atrai a iniciativa probatória
do juiz.
Como confirmação disso, é que se recorda que tal modernização
iniciou seu agigantamento após a Segunda Grande Guerra, tendo como
marco inicial a Revolução Francesa que, a partir de suas ideias das luzes,
encerrou a sociedade feudal e abriu caminho para ditames contem
porâneos, assegurando ser o homem vocacionado ao progresso e ao
autoaperfeiçoamento ético, deslocando o eixo da ordem social de Deus
para o homem racional, dentro da imorredoura ideia de que se deve
viver em Liberté, Egalité, Fraternité.
Ao se expor resumidamente o passado da prova, pretendeu-se
evidenciar que, na Antiguidade, a judicância era hipertrofiada, não
havendo espaço para um juiz mais atuante, sendo que seu desempenho
passou a ser arrimado na máxima Iudex debet judicare secundum allegata
et probata, sendo que tal realidade não deve reinar nos tempos atuais,
sob pena de retorno aos períodos mais primitivos do sistema probatório.
Tal colocação não é absurda, mas libertadora, na medida em que
se levou séculos para se ter um sistema probatório tal qual como o
concebido hoje.
Antes, a prova era calcada na irrazoabilidade, na violência, na
vingança entre as partes, desprezando-se o ser humano em toda a sua
dignidade e plenitude, por não lhe oportunizar a chance para trazer,
ao juiz, elementos probatórios ensejadores de uma possível absolvição.
Destarte, em nome da produção de uma prova em sua forma
mais genuína, promoveu-se a matança (sistema ordálico), o propalar
da mentira e do perjuro (fases do juramento e dos conspurgadores) e
a vingança entre as partes (duelo judiciário). E o pior que tudo isso foi
erigido sob um discurso voltado para o divino, delegando-se a Deus toda
a responsabilidade sobre a descoberta de uma verdade que deveria ser
desvendada somente pelo homem, ou seja, pelo julgador sentenciante
dentro do processo.
Repisem-se as mesmas colocações quanto aos sistemas processuais
probatórios de Roma, que decaem em excelência por serem, em sua
essência, vazios de justiça estatal, representando em gerais linhas, a
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23
SAMPAIO, José Adércio Leite; CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. Hermenêutica e jurisdição constitucional: estudos
em homenagem ao Professor José Alfredo de Oliveira Baracho. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 196.
24
SAMPAIO, José Adércio Leite; CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. Hermenêutica e jurisdição constitucional: estudos
em homenagem ao Professor José Alfredo de Oliveira Baracho. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 196.
25
COUTURE, Eduardo J. Introdução ao estudo do processo civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. p. 19.
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BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Processo constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1984. p. 122.
26
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28
LEAL, Rosemiro Pereira. O garantismo processual e direitos fundamentais líquidos e certos. In: MERLE, Jean
Christophe, MOREIRA, Luiz (Coord). Direito e legitimidade. São Paulo: Landy, 2003. p. 338.
29
CONDENAÇÃO de Jesus Cristo. Infopédia. Porto: Porto Editora, 2010. Disponível em: <http://www.infopedia.
pt/$condenacao-de-jesus-cristo>. Acesso em: 19 set. 2010.
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30
Tendo em vista que nosso Estado é laico, não se pretende com a reprodução da passagem bíblica retro tecer
qualquer apologia à religião católica, o que se pretende é ilustrar que, desde a antiguidade, a prova teve ou
ao menos deveria ter tido o seu lugar.
31
Elucide-se que o Grande Sinédrio, a Suprema Corte Judaica, era a única corte com jurisdição sobre crimes
puníveis com a morte. A criação do Sinédrio é atribuída a Moisés. Foi uma corte de 70 (setenta) membros
composta de um sumo sacerdote como juiz principal, uma Câmara Religiosa de 23 (vinte e três) sacerdotes,
uma Câmara Legal de 23 (vinte e três) escribas, e 01 (uma) Câmara Popular de 23 (vinte e três) anciãos. Era
a essa corte que Jesus se referia quando ele disse que devia ir a Jerusalém e sofrer nas mãos dos anciãos,
sacerdotes e escribas. Ele sabia que pela decisão deles seria morto.
32
Foram aliciadas 08 (oito) testemunhas, porém tão contraditórias que os membros do tribunal a dispensaram,
sendo convocadas mais duas que também não foram concordes.
33
Era costume durante a Páscoa libertar um prisioneiro escolhido pelo povo. Pelo voto popular, as pessoas
poderiam conceder anistia a qualquer um sentenciado à morte.
34
FOGLE, Harry. O julgamento de Jesus. Jurisdictionary Foundation: Flórida, 2000. Disponível em: <http://www.
espirito.org.br/portal/artigos/diversos/evangelho/o-julgamento-de-jesus.html>. Acesso em: 29 set. 2010.
35
LIMA, Múcio de Abreu e. Processo e julgamento de Jesus. Belo Horizonte: Santa Maria, 1949. p. 172, 175
apud MARTINS, Lúcio Urbano Silva. Julgamento de Cristo. Revista Jurídica, Belo Horizonte, ano 12, n. 23, 1º
sem. 2010. (Seção: Direito Penal Histórico).
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36
“Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – constituir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento social nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.”
37
BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. p. 161.
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O processo civil moderno repudia a idéia do juiz Pilatos, que em face de uma
instrução mal feita, resigna-se a fazer injustiça atribuindo a falha aos litigantes. O
art. 399 do Código de Processo Civil dá expressamente ao juiz esse poder-dever
de suprir deficiências probatórias; o art. 33, mandando que o autor adiante os
honorários do perito quando o exame tiver sido determinado de ofício pelo juiz,
confirma a existência desse poder. No art. 342 estabelece-se que o juiz chame
as partes para serem interrogadas, a requerimento do adversário ou de ofício.
38
BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 04 de setembro de 1942. In: ANGHER, Anne Joyce (Org.). Vade mecum
Acadêmico de Direito. São Paulo: Rideel, 2010. Lei de introdução ao Código Civil brasileiro. p. 189.
39
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. v. 1,
p. 224. (Destaque no original)
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Ainda existem vozes doutrinárias contra essa maneira de ver a figura do juiz
no processo, mas o compromisso que todo juiz deve ter com o valor do justo
não pode permitir solução diferente.40
40
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. v. 1,
p. 223.
41
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. v. 1,
p. 223.
42
“Item nº 18: O projeto consagra o princípio dispositivo [omissis], mas reforça a autoridade do Poder Judiciário,
armando-o de poderes para prevenir ou reprimir qualquer ato atentatório à dignidade da justiça (art. 130,
III). [omissis].” Fonte: MÉDICI, Emílio G. Exposição de motivos do Código de Processo Civil: (Lei Nº 5.869,
de 11 de janeiro de 1973). Brasília. Disponível em: <http://www.ombadvocacia.com.br/acervo/CODIGOS/
CODIGOPROCESSOCIVIL.PDF?PHPSESSID=09f6712e2bc1a36bac319854d3da27b1>. Acesso em: 6 out. 2010.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 149-181, abr./jun. 2011
166 Ana Surany Martins Costa, Newton Teixeira Carvalho
TEIXEIRA, Sávio de Figueiredo. Código de Processo Civil anotado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 98.
43
STJ, AgRg no REsp nº 738576/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18 ago. 2005. Disponível em: <http://www.tjmg.
44
jus.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?ano=5&complemento=1&comrCodigo=699&expressao=&palavrasConsul
ta=avalistas&qualquer=&radical=&sem=&sequencial=0&tipoTribunal=1&todas=&txt_processo=54149>.
Acesso em: 04 out. 2010. (Sem destaque no original)
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 149-181, abr./jun. 2011
A magistratura diante da iniciativa probatória no moderno contexto processual civil: um confronto entre... 167
NERY JÚNIOR, Nelson; ANDRADE, Rosa Maria de. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante.
45
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168 Ana Surany Martins Costa, Newton Teixeira Carvalho
“Irmãozinho, conte comigo amanhã no fórum.” Essa mensagem, deixada em uma página pessoal do site
46
de relacionamentos Orkut, foi suficiente para que um juiz caracterizasse o falso testemunho de uma pessoa
que havia negado haver uma relação de amizade com o réu em um processo trabalhista. Fonte: CARVALHO,
Luiza de. Justiça já aceita “provas virtuais”. Valor Econômico. Disponível em: <http://www.tecdom.com.br/
blog/2009/04/20/justica-ja-aceita-%E2%80%9Cprovas-virtuais%E2%80%9D/>. Acesso em: 11 out. 2010.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 149-181, abr./jun. 2011
A magistratura diante da iniciativa probatória no moderno contexto processual civil: um confronto entre... 169
47
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Tradução de J. Guimarães Menegale. São Paulo:
Saraiva, 1965. v. 2, p. 347.
48
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Cadernos de processo civil: jurisdição, ação e processo. São Paulo: Ltr, 1999.
p. 08.
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170 Ana Surany Martins Costa, Newton Teixeira Carvalho
[omissis] é o amparo que, por obra dos juízes, o Estado ministra a quem tem
relação ao bem pretendido ou à situação em razão num litígio deduzido em
processo. Ela consiste na melhoria da situação de uma pessoa, pessoas ou grupo
de pessoas, em relação ao bem pretendido ou à situação imaterial desejada
ou indesejada. Receber tutela jurisdicional significa obter sensações felizes e
favoráveis, propiciadas pelo Estado mediante o exercício da jurisdição.49
A jurisdição hoje está para além do dizer o direito no caso concreto, pois
os tempos atuais clamam por um processo modernizado, o que se pode
cognominar, conforme Dinamarco, de processo civil de resultados, que com-
preende a consciência de que o valor de todo o sistema processual reside
na capacidade, que tenha, de propiciar ao sujeito que tiver razão, uma
situação melhor do que aquela em que se encontrava antes do processo.50
Assim, acesso à justiça não equivale ao mesmo que ingresso em
juízo, pois a própria garantia constitucional da ação seria inoperante e
pobre se se resumisse a assegurar que as pretensões das pessoas cheguem
ao processo, sem garantir-lhes também um tratamento adequado.
“Só tem acesso à ordem jurídica justa quem recebe justiça.”51 E rece-
ber justiça significa ser admitido em juízo, poder participar do processo
e, principalmente, contar com a participação adequada do magistrado
para, ao fim, receber um provimento jurisdicional consentâneo com os
valores da sociedade. Eis aí os contornos do processo justo, ou no dizer de
Dinamarco, processo équo, que é composto pela efetividade de um mínimo
de garantias de meios e de resultados.
Há um novo tempo e uma nova mentalidade sociojurídica. Ao
juiz não mais se admite um comportamento inerte, como o foi o de
Pilatos, posto que a dimensão axiopolítica em nenhum momento se
conformará com um Judiciário acanhado, distante dos fatos. Busca-se um
magistrado agente de transformações sociais, em benefício da própria
sociedade, elevando a tutela jurisdicional como paradigma da própria
democracia (recorde-se que o art. 3º da CF/88, ao enunciar os objetivos
a serem alcançados pelo Estado brasileiro, incluiu ali a jurisdição como
elemento teleológico do processo).
49
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. v. 1,
p. 104.
50
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. v. 1,
p. 108. (Destaque no original).
51
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. v. 1,
p. 115.
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A magistratura diante da iniciativa probatória no moderno contexto processual civil: um confronto entre... 171
52
PAULA, Jônatas Luiz Moreira de. A jurisdição como elemento de inclusão social: revitalizando as regras do jogo
democrático. São Paulo: Manole, 2002. p. 88.
53
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. v. 1,
p. 233.
54
CALDERÓN, Gonzalo M. Armienta. La prueba. In: CALDERÓN, Gonzalo M. Armienta. Homenage al maestro
Hernando Devis Echandía. Colômbia: Instituto Colombiano de Derecho Procesal, 2002. p. 690.
55
“Ação de reintegração de posse – Requisitos do artigo 927 do artigo do CPC – Prova pericial – Indispensabilidade
– Ausência – Nulidade da sentença. À luz do princípio da verdade real, o julgador não pode se contentar
com a mera verdade formal, cumprindo-lhe deferir e determinar a produção de quaisquer provas que possam
contribuir para o esclarecimento dos fatos controversos. Considerando que inexistem elementos técnicos
para concluir se houve o implemento dos requisitos previstos pelo art. 927 do CPC, é imperiosa a anulação
da sentença para realização de perícia, a fim de viabilizar a apreciação da pretensão possessória deduzida na
inicial com a necessária segurança (artigo 130 do CPC)”. Fonte: MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Ap. Cível
nº 1.0232.05.010379-4/002. Comarca de Dores do Indaiá. Apelante: Laércio Fonseca Costa. Apelado: José
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 149-181, abr./jun. 2011
172 Ana Surany Martins Costa, Newton Teixeira Carvalho
Osvander Fonseca. Rel.: Des. Lucas Pereira. D. P.: 05 out. 2010. Disponível em: <http://www.tjmg.jus.br/juridico/
sf/proc_resultado.jsp?comrCodigo=232&numero=1&listaProcessos=05010379&btn_pesquisar=Pesquisar>.
Acesso em: 12 out. 2010.
56
Elucide-se que tal afirmação tem por base pesquisa efetuada junto ao site do Tribunal de Justiça do Estado
de Minas Gerais (TJMG), por meio dos seguinte termo indexador: iniciativa probatória pelo juiz, obtendo-se
como resultado 4.755 (quatro mil setecentos e cinquenta e cinco) acórdãos cíveis e alguns penais. Disponível
em: <http://www.tjmg.jus.br/juridico/jt_/juris_resultado.jsp?numeroCNJ=&dvCNJ=&anoCNJ=&origemCNJ=
&tipoTribunal=1&comrCodigo=&ano=&txt_processo=&dv=&complemento=&acordaoEmenta=acordao&p
alavrasConsulta=iniciativa+probat%F3ria+pelo+juiz&tipoFiltro=and&orderByData=0&relator=&dataInicial
=&dataFinal=16%2F10%2F2010&resultPagina=10&dataAcordaoInicial=&dataAcordaoFinal=&captcha_tex
t=75616&pesquisar=Pesquisar>. Acesso em: 16 out. 2010.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 149-181, abr./jun. 2011
A magistratura diante da iniciativa probatória no moderno contexto processual civil: um confronto entre... 173
57
“Art. 257. As partes têm direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda
que não especificados neste Código, para provar fatos em que se funda a ação ou a defesa e influir eficazmente
na livre convicção do juiz.
Parágrafo único. A inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito será apreciada pelo juiz à luz da
ponderação dos princípios e dos direitos fundamentais envolvidos.”
58
“Art. 260. O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor
que considerar adequado, observado o contraditório.”
59
“Art. 261. O ônus da prova, ressalvados os poderes do juiz, incumbe:
I – ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.”
60
“Art. 262. Considerando as circunstâncias da causa e as peculiaridades do fato a ser provado, o juiz poderá,
em decisão fundamentada, observado o contraditório, distribuir de modo diverso o ônus da prova, impondo-o
à parte que estiver em melhores condições de produzi-la.
§1º Sempre que o juiz distribuir o ônus da prova de modo diverso do disposto no art. 261, deverá dar à parte
oportunidade para o desempenho adequado do ônus que lhe foi atribuído.
§2º A inversão do ônus da prova, determinada expressamente por decisão judicial, não implica alteração das
regras referentes aos encargos da respectiva produção.”
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 149-181, abr./jun. 2011
174 Ana Surany Martins Costa, Newton Teixeira Carvalho
7 Conclusão
Face ao maior sentido publicista que se tem atribuído ao processo
na modernidade, ao juiz se impõe o abandono da postura indolente
diante da instrução probatória, devendo assumir uma posição ativa,
que lhe permita determinar a produção de provas, desde que o faça com
61
“Art. 265. Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas
pela observação do que ordinariamente acontece e, ainda, as regras da experiência técnica, ressalvado, quanto
a esta, o exame pericial.”
62
THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES, Dierle José Coelho; JAYME, Fernando Gonzaga. Novo CPC: mudanças
e permanências. UFMG, 2010. Curso de atualização. p. 15, 16.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 149-181, abr./jun. 2011
A magistratura diante da iniciativa probatória no moderno contexto processual civil: um confronto entre... 175
BENTHAM, Jeremy. Traité des preveus judiciaires. Tradução de Ét. Dumont. Paris: Bossange Frères, 1823. v. 1.
63
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 149-181, abr./jun. 2011
176 Ana Surany Martins Costa, Newton Teixeira Carvalho
GUSMÃO, Aureliano. Processo civil e comercial. São Paulo: Saraiva, 1922. v. 2, p. 102.
64
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A magistratura diante da iniciativa probatória no moderno contexto processual civil: um confronto entre... 177
65
SANTOS, Moacyr Amaral dos. Prova judiciária no cível e comercial. 5. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1983.
p. 6, 7.
66
Registre-se que a magistratura está submetida a um controle cognominado de “Produtividade dos juízes”, onde
o magistrado deve fornecer relatório contendo a quantidade de sentenças proferidas, audiências realizadas,
despachos pendentes etc., além de obedecer aos critérios da Resolução nº 495/2006 (Alterada pela Resolução nº
582/2009), que dispõe sobre o provimento de cargos da Magistratura de carreira, destacando-se, os requisitos
para permuta, remoção e promoção, em seu art. 3º, in verbis: “Para pleitear permuta e concorrer à remoção
e à promoção, o candidato deverá atender os requisitos constitucionais, legais e regimentais, bem como, nos
doze meses anteriores à data da abertura das inscrições:
I – ter mantido residência efetiva na sede de sua comarca, salvo se a Corte Superior expressamente tiver
autorizado a moradia em outra Comarca, e ter estado presente, no expediente forense de todos os dias úteis;
II – estar com o serviço em dia;
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 149-181, abr./jun. 2011
178 Ana Surany Martins Costa, Newton Teixeira Carvalho
III – ter realizado audiências em todos os dias úteis, salvo se a intensidade do serviço forense assim não o exigir;
IV – ter tido freqüência [sic] regular aos cursos e seminários para os quais tenha sido convocado e ter participado,
com regularidade, daqueles em que tenha obtido dispensa da jurisdição.
§1º Para efeitos desta Resolução o candidato, sob a fé de seu cargo, deverá declarar, ao fim de cada semestre
e no requerimento de inscrição, o cumprimento do disposto neste artigo.
§2º O teor das declarações constantes do §1º será objeto de verificação em correições que a Corregedoria-
Geral de Justiça efetivar.” Fonte: TJMG. Disponível em: <http://www.tjmg.jus.br/corregedoria/mapaForense/
produtividadeJuiz.do>. Acesso em: 26 nov. 2010.
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 149-181, abr./jun. 2011
Luces y sombras del proceso seguido
ante la Corte Penal Internacional1
Julio Rojas Chamaca
Mestrando em Direito Processual na Universidad Nacional de Rosario (UNR – Argentina). Professor
de Direito Processual na Universidad de Las Américas, em Santiago. Advogado no Chile.
I Introducción
El Estatuto de Roma de la Corte Penal Internacional — en adelante
CPI — en su preámbulo destaca — entre otros — el compromiso de los
Estados partes en garantizar que “la justicia internacional sea respetada y
puesta en práctica en forma duradera”.2
Para lograr ambos presupuestos, esto es, que la jurisdicción inter
nacional fuere respetada y que además sea duradera, se desarrolló un
largo debate entre los Estados partes, donde cada uno expuso sus visio
nes y aspiraciones, pero donde finalmente fue posible lograr acuerdos,
considerando el fin último del Estatuto, que es, sancionar los graves
1
Le agradezco al profesor Glauco Gumerato Ramos — mi compañero de maestría — que hizo agregar al texto
el resumen y las palabras-claves en portugués.
2
Disponible en www.untreaty.un.org/cod/icc/statute/spanish/rome_estatute(s).pdf (fecha consulta 20 marzo
2010).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 183-195, abr./jun. 2011
184 Julio Rojas Chamaca
Ibid.
3
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 183-195, abr./jun. 2011
Luces y sombras del proceso seguido ante la Corte Penal Internacional 185
B) El órgano jurisdiccional
Históricamente un punto crítico sobre la legitimidad de la juris
dicción penal internacional se refirió a que los órganos que ejercían
jurisdicción adolecían de un marco legal riguroso, como lo señala
BENEGAS a propósito de los tribunales ad hoc previos a la existencia
de la CPI “no respetaban el principio de legalidad, que requiere no
sólo que las conductas hayan sido condenadas, sino que lo fueran con
certeza absoluta, en tipos penales cerrados y con penas perfectamente
determinadas”.7
La justificación a dicha infracción como lo sostiene BENEGAS dice
relación con la necesidad de “hacer operativos los derechos humanos
en el mundo”,8 argumento que compartimos, adicionando a lo anterior
4
COLLANTES, Jorge Luis citando a GRAVEN señala que “el más remoto precedente de la CPI podría ser el tribunal
constituido en 1474 para juzgar a Peter de Hagenbach por homicidio, violación y otras violaciones a las leyes de
Dios y de los hombres durante la ocupación de la ciudad de Breisach. El Tratado de Versalles de 1919 contemplaba
el enjuiciamiento del Kaiser Guillermo II por un tribunal internacional, previsión frustrada con la negativa de los
Países Bajos a su entrega. Por esta misma época, el Tratado de Sévres de 1920 anunciaba el enjuiciamiento de los
responsables turcos del genocidio armenio, pero el Tratado de Lausana de 1923 amnistió a los procesados” en
“La Corte Penal Internacional. El impacto del Estatuto de Roma en la jurisdicción sobre crímenes internacionales”,
disponible en www.criminet.ugr.es/recpc/recpc_04-07.pdf (fecha consulta 18 marzo 2010).
5
MINISTERIO SECRETARIA GENERAL DE LA PRESIDENCIA. Doctrina Constitucional del Presidente Ricardo Lagos
Escobar (2000-2006), Tomo I, Editorial LOM, Santiago, 2010, p. 11.
6
MINISTERIO SECRETARIA GENERAL DE LA PRESIDENCIA, ob. cit., p. 12.
7
BENEGAS, José. “La Corte Penal Internacional. Algunas consideraciones críticas sobre sus antecedentes y su
regulación actual”, disponible en www.hacer.org/pdf/JBenegas03.pdf (fecha consulta 19 marzo 2010).
8
BENEGAS, José, ob cit.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 183-195, abr./jun. 2011
186 Julio Rojas Chamaca
“Las investigaciones en los casos de competencia de la Corte son por naturaleza complejas, no solamente en
10
lo jurídico, sino también desde lo lógico práctico, pues se actúa en zonas de conflicto, debiendo obtenerse
la cooperación de los Estados u organizaciones en terreno para poder operar. Luego, resulta altamente difícil
obtener la detención de una persona y es todo un hito que se logre llevar a un imputado a juicio. Esto, que es
así en todos los casos, fue particularmente cierto en el caso del primer imputado que se presentó ante la Corte,
el primer detenido ante la Corte Penal Internacional, Thomas Lubanga Dyilo. Thomas Lubanga fue detenido en
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 183-195, abr./jun. 2011
Luces y sombras del proceso seguido ante la Corte Penal Internacional 187
Kinshasa (Capital de la República Democrática del Congo) el 17 de marzo de 2006 y fue entregado a la Corte.
Es de nacionalidad congolesa y sería fundador y líder de la Union des Patriotes Congolais (UPC). Se lo acusa
de crímenes de guerra, en particular de reclutar o alistar a niños soldados (menores de 15 años) o utilizarlos
para participar activamente en las hostilidades. La detención se obtuvo con la cooperación de las autoridades
congolesas, que fueron quienes antes habían remitido el caso a la Corte” (ETCHEBERRY, Alfredo y CÁRDENAS,
Claudia “La Corte Penal Internacional: abriendo caminos”, disponible en www.anuariocdh.uchile.cl pp.95-102
[fecha consulta 21 marzo 2010]).
11
La decisión de la Corte se debió como comentan ETCHEBERRY y CÁRDENAS “ya que la Fiscalía no podía
desclasificar documentos que había obtenido mediante convenios a los que faculta el art. 54 párr. 3 e) del ECPI,
mientras la defensa alegaba su derecho de conocerlos para poder defender adecuadamente al imputado.” En tal
contexto continúan afirmando los autores “si las evidencias se han obtenido bajo reserva de confidencialidad,
sólo pueden desclasificarse previo acuerdo de la fuente”, la conclusión era lógica “quienes habían cooperado
con la Corte temieron por su seguridad en caso de que Lubanga fuera liberado, pues esto podría exacerbar el
conflicto en Ituri” (ob. cit., p. 98).
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188 Julio Rojas Chamaca
C) En cuanto al proceso
El proceso, es un método de debate, una estructura, un mecanismo,
mediante cuyo uso se llega a la demostración o a la verificación de los
12
MINISTERIO SECRETARIA GENERAL DE LA PRESIDENCIA, ob. cit., p. 24.
13
MINISTERIO SECRETARIA GENERAL DE LA PRESIDENCIA, ob. cit., p. 24.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 183-195, abr./jun. 2011
Luces y sombras del proceso seguido ante la Corte Penal Internacional 189
EISNER, Isidoro. Principios Procesales. Revista de Estudios Procesales Nº 4, editada por el Centro de Estudios
14
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 183-195, abr./jun. 2011
190 Julio Rojas Chamaca
16
MINISTERIO SECRETARÍA GENERAL DE LA PRESIDENCIA, ob. cit, p. 81.
17
MINISTERIO SECRETARÍA GENERAL DE LA PRESIDENCIA, ob. cit., p. 80.
18
MINISTERIO SECRETARIA GENERAL DE LA PRESIDENCIA, ob. cit., p. 81.
19
La Fiscalía de la CPI, solicitó en 2008 la detención del Jefe de Estado de Sudán, Hassan Ahmad Al Bashir, por
genocidio, crímenes de lesa humanidad y crímenes de guerra en Darfur, toda vez que, poseía evidencia que
Al Bashir implementó un plan para destruir a grupos étnicos influyentes en el país.
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Luces y sombras del proceso seguido ante la Corte Penal Internacional 191
Esta decisión generó controversia (era la primera vez que solicitaba la detención de un Jefe de Estado en ejercicio)
y la LIGA ÁRABE, sostuvo que con ello se ponía en peligro la paz en dicho país (se habría firmado entre el
gobierno y las milicias un acuerdo el que nunca se materializó, por lo que era ineficaz), siendo además una
intromisión en los asuntos internos de Sudán. La UNIÓN AFRICANA, en el mismo sentido, y con posterioridad
hizo un llamado al Consejo de Seguridad para hacer uso de la atribución que confiere el art. 16 ECPI., lo que
en definitiva no ha ocurrido en ETCHEBERRY, Alfredo y CÁRDENAS, Claudia infra nº 11.
20
ETCHEBERRY, Alfredo, CÁRDENAS, Claudia, Infra nº 11, ob. cit.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 183-195, abr./jun. 2011
192 Julio Rojas Chamaca
21
Informe de la Comisión Preparatoria de la Corte Penal Internacional Nueva York, 13 a 31 de marzo de 2000
y 12 a 30 de junio de 2000, UNIVERSITY OF MINNESOTA, Human Rights Library, disponible en http://www1.
umn.edu/humanrts/instree/S-iccrulesofprocedure.html (fecha consulta 28 marzo 2010).
22
UNIVERSITY OF MINNESOTA, Ibid.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 183-195, abr./jun. 2011
Luces y sombras del proceso seguido ante la Corte Penal Internacional 193
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194 Julio Rojas Chamaca
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Luces y sombras del proceso seguido ante la Corte Penal Internacional 195
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Os legitimados a requerer a falência do
devedor: breve estudo do art. 97 da Lei
nº 11.101/2005
Aline França Campos
Graduada em Direito pela UFMG. Especialista em Direito de Empresa pelo Centro de Atualização
em Direito (CAD). Mestre em Direito Privado pela PUC Minas. Professora Universitária.
Advogada.
1 Introdução
O crédito sempre teve papel fundamental na vida econômica.
Talvez assim se explique a preocupação constante do legislador em criar
mecanismos, em sua maioria judiciais, que tentem solucionar o problema
do inadimplemento das obrigações creditícias, sejam eles direcionados
a execuções singulares ou coletivas ou ainda a acordos entre devedor e
seus credores.
O estado de crise econômico-financeira de uma empresa é mere
cedor de especial atenção, uma vez que nela se concentram relações
socioeconômicas. A crise de uma empresa é capaz de causar repercussões
não somente no campo econômico, visto que a produção e/ou circulação
de bens e serviços, além de fonte de riquezas, também são imprescindí
veis para a satisfação das necessidades sociais, seja através da geração de
empregos ou de respeito ao consumidor, seja por meio da oferta de bens
e serviços capazes de garantir a liberdade de escolha e a livre concorrên
cia entre os agentes econômicos, propiciando, assim, o aperfeiçoamento
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1
SZTAJN, Rachel. Teoria jurídica da empresa: atividade empresária e mercados. São Paulo: Atlas, 2004. p. 47.
2
Eduardo Goulart Pimenta esclarece as duas acepções da empresa — a econômica e a do direito. Veja-se,
respectivamente:
A partir da idéia de insumos ou de fatores de produção e de seu emprego organizado é possível definir
economicamente a empresa (chamada também de capacidade empresarial ou empresarialidade): trata-se
da aglutinação e organização dada aos fatores de produção para o exercício de uma atividade destinada à
produção ou distribuição de bens ou de serviços. [...]
Deste modo, se a empresa pode ser economicamente concebida como a organização dos fatores produtivos,
deve ser compreendida não apenas como o conjunto composto por terra, capital, trabalho, tecnologia e
matérias-primas (visão estática da empresa) mas também como o conjunto das transações jurídicas (contratos)
que se deve implementar para organizar e manter em funcionamento tais fatores de produção (visão dinâmica
da empresa) (PIMENTA, Eduardo Goulart. Teoria da empresa em direito e economia. Revista de Direito Público
da Economia – RDPE, Belo Horizonte, n. 14, p. 58-59, abr./jun. 2006).
No Direito brasileiro, porém, a definição de empresa agrega outros elementos que, a rigor, são irrelevantes
do ponto de vista econômico. Assim, nem tudo o que pode ser considerado empresa para a Economia é, no
Direito, objeto das normas especiais componentes do Direito de Empresa. A noção econômica de empresa em
muito se assemelha mas não se equipara à sua definição jurídica.
Determinadas atividades econômicas, embora organizadas para a produção ou circulação de bens ou serviços e
com nítido intuito lucrativo estão apartadas da idéia de empresa consagrada pela legislação brasileira (PIMENTA,
Eduardo Goulart. Teoria da empresa em direito e economia. Revista de Direito Público da Economia – RDPE,
Belo Horizonte, n. 14, p. 65, abr./jun. 2006).
3
GUIMARÃES, Maria Celeste Morais. Recuperação judicial de empresas. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 22.
4
SANTOS, Paulo Penalva. A recuperação extrajudicial na nova lei de falências. In: SANTOS, Paulo Penalva (Coord.).
A nova lei de falências e de recuperação de empresas: Lei nº 11.101/05. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 368.
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a) a paridade dólar-ouro, cuja extinção por ato unilateral dos Estados Unidos,
em 1971, pode ser vista como o réquiem do período;
b) a restrita movimentação internacional de capitais financeiros, condizente com
um baixo nível de flutuação das várias moedas internacionais;
c) o Fundo Monetário Internacional, no papel de emprestador internacional
de última instância, em casos de grave desequilíbrio no balanço de pagamentos
dos países-membros.5
TEBET, Ramez. Parecer nº..., de 2004 da Comissão de Assuntos Econômicos, sobre o PLC nº 71, de 2003. In:
5
MACHADO, Rubens Approbato (Coord.). Comentários à nova lei de falências e recuperação de empresas. São
Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 351.
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6
TEBET, Ramez. Parecer nº..., de 2004 da Comissão de Assuntos Econômicos, sobre o PLC nº 71, de 2003. In:
MACHADO, Rubens Approbato (Coord.). Comentários à nova lei de falências e recuperação de empresas. São
Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 352.
7
MACHADO, Rubens Approbato. Visão Geral da nova Lei n° 11.101, de 09 de fevereiro de 2005 que reforma o
Decreto-Lei 7.661, de 21.06.1945 (lei de falências) e cria o instituto da recuperação da empresa. In: MACHADO,
Rubens Approbato (Coord.). Comentários à nova lei de falências e recuperação de empresas. São Paulo: Quartier
Latin, 2005. p. 22.
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8
A matéria foi aprovada na forma da Subemenda Substitutiva de Plenário apresentada pelo Deputado-relator
Osvaldo Biolchi.
9
TEBET, Ramez. Parecer nº..., de 2004 da Comissão de Assuntos Econômicos, sobre o PLC nº 71, de 2003. In:
MACHADO, Rubens Approbato (Coord.). Comentários à nova lei de falências e recuperação de empresas. São
Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 357.
10
SANTOS, Paulo Penalva. Apresentação. In: SANTOS, Paulo Penalva (Coord.). A nova lei de falências e de
recuperação de empresas: Lei nº 11.101/05. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. VIII.
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11
SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes (Coord.). Comentários à lei de
recuperação de empresas e falência: Lei 11.101/2005. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 58.
12
LOBO, Jorge. Direito da empresa em crise (a nova lei de recuperação da empresa). Revista Forense, Rio de
Janeiro, v. 379, p. 119, maio/jun. 2005.
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13
TORRES, Antônio Carlos Esteves. Disposições finais e transitórias. In: SANTOS, Paulo Penalva (Coord.). A nova
lei de falências e de recuperação de empresas: Lei nº 11.101/05. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 429-430.
14
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 50.
15
SZTAJN, Rachel. Teoria jurídica da empresa: atividade empresária e mercados. São Paulo: Atlas, 2004. p. 10-11.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 197-223, abr./jun. 2011
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16
BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Exame crítico do projeto da lei de falências: “recuperação de empresa” ou
“recuperação do crédito bancário”. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 822, p. 129, abr. 2004.
17
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 5. ed. rev. e atualizada de acordo com o novo Código Civil
e a nova Lei de Falências. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 3, p. 240.
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BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Exame crítico do projeto da lei de falências: “recuperação de empresa” ou
18
“recuperação do crédito bancário”. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 822, p. 128, abr. 2004.
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19
BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Exame crítico do projeto da lei de falências: “recuperação de empresa” ou
“recuperação do crédito bancário”. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 822, p. 135, abr. 2004.
20
TEBET, Ramez. Parecer nº..., de 2004 da Comissão de Assuntos Econômicos, sobre o PLC nº 71, de 2003. In:
MACHADO, Rubens Approbato (Coord.). Comentários à nova lei de falências e recuperação de empresas. São
Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 353.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 197-223, abr./jun. 2011
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21
CASTELO, Jorge Pinheiro. A nova lei de falências: por que os bancos querem intervenção estatal protetiva?.
Revista Jurídica Consulex, Brasília, n. 182, p. 53, 15 ago. 2004.
22
BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Exame crítico do projeto da lei de falências: “recuperação de empresa” ou
“recuperação do crédito bancário”. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 822, p. 136, abr. 2004.
23
[...] custos de transação consistem naquilo que se precisa pagar ou de que se deve abrir mão para constituir,
manter, proteger ou transferir os direitos e deveres decorrentes de uma relação contratual (PIMENTA, Eduardo
Goulart. Teoria da empresa em direito e economia. Revista de Direito Público da Economia – RDPE, Belo
Horizonte, n. 14, p. 61, abr./jun. 2006).
Custos de transação: Custos incorridos pelos agentes econômicos na procura, na aquisição de informação e na
negociação com outros agentes com vistas à realização de uma transação, assim como na tomada de decisão
acerca da concretização ou não da transação e no monitoramento e na exigência do cumprimento, pela outra
parte, do que foi negociado (PINHEIRO, Armando Castelar; SADDI, Jairo. Direito, economia e mercados. Rio
de Janeiro: Campus, 2005. p. 75).
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24
CASTELO, Jorge Pinheiro. A nova lei de falências: por que os bancos querem intervenção estatal protetiva?.
Revista Jurídica Consulex, Brasília, n. 182, p. 54-55, 15 ago. 2004.
25
CASTELO, Jorge Pinheiro. A nova lei de falências: por que os bancos querem intervenção estatal protetiva?
Revista Jurídica Consulex, Brasília, n. 182, p. 55, 15 ago. 2004.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 197-223, abr./jun. 2011
Os legitimados a requerer a falência do devedor: breve estudo do art. 97 da Lei nº 11.101/2005 209
26
Em sentido contrário THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. 40. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. 1, p. 54.
Se a lide tem existência própria e é uma situação que justifica o processo, ainda que injurídica seja a pretensão
do contendor, e que pode existir em situações que visam mesmo a negar in totum a existência de qualquer
relação jurídica material, é melhor caracterizar a legitimação para o processo com base nos elementos da lide
do que nos de direito debatido em juízo.
27
MESQUITA, José Ignácio Botelho de et al. O colapso das condições da ação?: um breve ensaio sobre os efeitos
da carência de ação. Revista de Processo, São Paulo, n. 152, p. 26, out. 2007.
28
Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:
I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;
II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade;
IV – qualquer credor. [...]
29
Art. 8º O comerciante que, sem relevante razão de direito, não pagar no vencimento obrigação líquida, deve,
dentro de trinta dias, requerer ao juiz a declaração da falência, expondo as causas desta e o estado dos seus
negócios, e juntando ao requerimento: [...]
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210 Aline França Campos
Ressalte-se que o devedor somente poderá se valer desta prerrogativa se o pedido de falência estiver baseado
30
em sua impontualidade.
Em sentido contrário THEODORO JÚNIOR, Humberto. Alguns aspectos processuais da nova lei de falência.
31
Revista IOB de Direito Civil e Processo Civil, Porto Alegre, n. 39, p. 36, jan./fev. 2006.
Na auto-insolvência, não se encontra o caráter contencioso na fase de declaração, pois o pedido é unilateralmente
formulado pelo próprio devedor e julgado, pelo juiz, sem audiência dos credores. [...]
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Os legitimados a requerer a falência do devedor: breve estudo do art. 97 da Lei nº 11.101/2005 211
da falência era prevista pelo art. 9º, I.32 Esse dispositivo estabelecia a
legitimidade ativa do cônjuge sobrevivente, dos herdeiros e do inventa
riante para requerer a falência, o que também se trata de autofalência.
Nesse caso, a quebra só poderia ser requerida por impontualidade e
por tríplice omissão em execução, ou seja, se o devedor não pagasse,
não depositasse nem nomeasse bens à penhora no prazo legal. Assim, a
confissão da falência estava restrita aos casos de impontualidade, quando
feita pelo próprio devedor, e aos casos de impontualidade e tríplice
omissão, quando realizada pelo cônjuge sobrevivente, pelos herdeiros
ou pelo inventariante.
Como a lei em vigor não faz nenhum tipo de restrição, entende-se
que a autofalência pode ser pleiteada com base em qualquer dos incisos
do art. 94, ou seja, até mesmo nas hipóteses de atos de falência — atos
que podem colocar em risco os direitos dos credores, hipótese essa que
parece pouco provável.
Outra hipótese rara é a da falência requerida pelo cotista ou
acionista do devedor. Tal ocorre quando a maioria dos sócios entende
ser inoportuno e desnecessário o pedido de quebra através da autofa
lência, e um ou alguns minoritários julgam o contrário. Ademais, ainda
que o minoritário tenha interesse em encerrar a sociedade por meio do
processo falimentar, prefere-se a dissolução parcial da sociedade como
forma de proteger os interesses do próprio minoritário.33
Em relação ao pedido de falência feito pelo cotista ou acionista,
Luis Felipe Salomão34 traz uma observação. O diploma anterior, no art. 9º,
32
Art. 9º A falência pode também ser requerida:
I – pelo cônjuge sobrevivente, pelos herdeiros do devedor ou pelo inventariante, nos casos dos arts. 1º e 2º, nº I;
II – pelo sócio, ainda que comanditário, exibindo o contrato social, e pelo acionista da sociedade por ações,
apresentando as suas ações;
III – pelo credor, exibindo título do seu crédito, ainda que não vencido, observadas, conforme o caso, as
seguintes condições:
a) credor comerciante, com domicílio no Brasil, se provar ter firma inscrita, ou contrato ou estatutos arquivados
no registro de comércio;
b) o credor com garantia real se a renunciar ou, querendo mantê-la, se provar que os bens não chegam para
a solução do seu crédito; esta prova será feita por exame pericial, na forma da lei processual, em processo
preparatório anterior ao pedido de falência se êste se fundar no artigo 1º, ou no prazo do artigo 12 se o
pedido tiver por fundamento o art. 2º;
c) o credor que não tiver domicílio no Brasil, se prestar caução às custas e ao pagamento da indenização de
que trata o art. 20.
33
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 5. ed. rev. e atualizada de acordo com o novo Código Civil
e a nova Lei de Falências. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 3, p. 259.
34
SALOMÃO, Luis Felipe. A nova lei de recuperação de empresas — a declaração judicial da falência e a quebra
requerida pelo próprio devedor (Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005). In: SANTOS, Paulo Penalva (Coord.).
A nova lei de falências e de recuperação de empresas: Lei nº 11.101/05. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
p. 200-201.
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35
SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes (Coord.). Comentários à lei de
recuperação de empresas e falência: Lei 11.101/2005. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 405.
36
SALOMÃO, Luis Felipe. A nova lei de recuperação de empresas — a declaração judicial da falência e a quebra
requerida pelo próprio devedor (Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005). In: SANTOS, Paulo Penalva (Coord.).
A nova lei de falências e de recuperação de empresas: Lei nº 11.101/05. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 200.
37
Súmula nº 377: No regime da separação legal de bens comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.
38
Nota-se que a exigência de comprovação da regularidade da atividade somente é feita para os credores do
devedor. Sendo, assim, possível o pedido de quebra de sociedades de fato e irregular. O requisito refere-se ao
sujeito ativo e, não ao sujeito passivo.
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exterior, será necessário que preste caução suficiente para cobrir despesas
com as custas processuais e com possível indenização, caso o pedido de
falência seja indeferido pelo juiz (art. 97, §2º, da Lei nº 11.101/2005).
O credor, quando requer a falência do devedor, deve exibir seu
título, o qual não necessariamente precisa já estar vencido. Pode ser que
o credor presencie a dilapidação do patrimônio do devedor, sendo certo
que, se aguardar o vencimento do título, o crédito poderá não ser satis
feito. Para tanto, o credor deve fundamentar o pedido de quebra na
hipótese do inciso III do art. 94 da Nova Lei de Falência, ou seja, na prá-
tica de atos ruinosos ou, ainda, na impontualidade ou na tríplice omissão
do devedor em relação a obrigações titularizadas por um terceiro.
Muitas são as concepções doutrinárias sobre o interesse de agir: interesse de agir como resultado da lesão a
39
um direito; interesse de agir como resultado da presença ou possibilidade de um dano injusto; interesse de
agir como resultado da necessidade da tutela jurisdicional, segundo as afirmações do autor; interesse de agir
como resultado do binômio “necessidade e adequação”; interesse de agir como resultado da utilidade da
tutela jurisdicional; interesse de agir como resultado do binômio “necessidade e utilidade”; interesse de agir
como resultado do trinômio “necessidade, utilidade e adequação”; dentre outras.
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Os legitimados a requerer a falência do devedor: breve estudo do art. 97 da Lei nº 11.101/2005 215
40
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do
processo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 259.
41
FREIRE, Rodrigo da Cunha Lima. Condições da ação: enfoque sobre o interesse de agir. 3. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2005. v. 43, p. 210.
42
NERY JÚNIOR, Nelson. Condições da ação. Revista de Processo, São Paulo, n. 64, p. 37, out./dez. 1991.
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216 Aline França Campos
43
FREIRE, Rodrigo da Cunha Lima. Condições da ação: enfoque sobre o interesse de agir. 3. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2005. v. 43, p. 172-173.
44
Fábio Ulhoa assim se manifesta sobre a insolvência, pressuposto da instauração do procedimento falimentar:
Para se decretar a falência da sociedade empresária, é irrelevante a “insolvência econômica”, caracterizada
pela insuficiência do ativo para solvência do passivo. Exige a lei a “insolvência jurídica”, que se caracteriza, no
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Os legitimados a requerer a falência do devedor: breve estudo do art. 97 da Lei nº 11.101/2005 217
direito falimentar brasileiro, pela impontualidade injustificada (LF, art. 94, I), pela execução frustada (art. 94,
II) ou pela prática de ato de falência (art. 94, III) (COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 5. ed. rev. e
atualizada de acordo com o novo Código Civil e a nova Lei de Falências. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 3, p. 251).
45
MENDONÇA, José Xavier Carvalho. Tratado de direito comercial brasileiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1954. v. 7, p. 19-20.
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218 Aline França Campos
à dilação do prazo de contestação para dez dias, sendo certo que, sob a
égide do revogado Decreto-Lei nº 7.661/1945, esse prazo era de exíguas
24 horas.46
Ademais, os credores, ao utilizarem o processo falimentar como
simples meio de cobrança ordinária, estariam exercendo seu direito de
requerer a falência do devedor de forma manifestamente abusiva, o que,
na esteira da teoria do abuso de direito, ensejaria o dever de indenizar
o devedor pelos prejuízos causados pela distribuição de um pedido de
falência. Certo é que tais prejuízos não são poucos, pois a simples notícia
de que foi requerida a falência de uma sociedade empresária ou de um
empresário individual provoca fortes repercussões na sociedade, seja
entre os fornecedores, consumidores e, principalmente, aqueles que
concedem crédito. Um pedido de falência, independentemente de sua
efetiva decretação, é suficiente para abalar o crédito do devedor e criar
irreparáveis situações desfavoráveis.
A indenização deve ser capaz de reparar todo o dano sofrido, que,
por sua vez, deverá ser analisado sob a perspectiva do que se perdeu,
ou seja, do dano emergente, e do que se deixou de ganhar, ou seja, do
lucro cessante.
O revogado Decreto-Lei nº 7.661/1945, no art. 20, parágrafo único,
previa que “por ação própria, pode o prejudicado reclamar a indeni za
ção, no caso de culpa ou abuso do requerente da falência denegada”. A
doutrina47 apontava o dispositivo como uma das hipóteses em que o orde
namento brasileiro condenava o abuso de direito. A Lei nº 11.101/2005
prevê a indenização do devedor e dos terceiros prejudicados somente
quando o pedido de quebra denegado resultar de dolo do requerente
(art. 101). Porém, não é porque o legislador da lei falimentar em vigor
não consagrou de forma expressa o dever de reparação por perdas e
danos quando de um pedido abusivo de quebra que se pode deixar de
sustentar a responsabilidade civil daquele que abusou. Basta que se apli-
que a teoria do ilícito abusivo, hoje, consagrada expressamente pelo novo
diploma civil brasileiro e que pode manifestar-se também no campo do
Direito Empresarial.
46
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Alguns aspectos processuais da nova lei de falência. Revista IOB de Direito
Civil e Processo Civil, Porto Alegre, n. 39, p. 39, jan./fev. 2006.
47
Dentre vários juristas PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2001. v. 1, p. 431 e; LEVADA, Cláudio Antônio Soares. Anotações sobre o abuso de direito. Revista de Direito
Privado, São Paulo, n. 11, p. 72, jul./set. 2002.
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Os legitimados a requerer a falência do devedor: breve estudo do art. 97 da Lei nº 11.101/2005 219
48
LEVADA, Cláudio Antônio Soares. Anotações sobre o abuso de direito. Revista de Direito Privado, São Paulo,
n. 11, p. 77, jul./set. 2002.
49
De acordo com Moacyr Lobato:
Não há duvida sobre o fato da nova lei falimentar privilegiar a recuperação de empresas em detrimento da
decretação judicial da falência e conseqüente liquidação de seus ativos (CAMPOS FILHO, Moacyr Lobato de.
Da caracterização do estado falimentar segundo a nova lei de falência e recuperação judicial e extrajudicial.
Revista Jurídica da Advocacia-Geral do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p.177, jul./dez. 2004).
50
CARPENA, Heloísa. O abuso do direito no Código de 2002: relativização de direitos na ótica civil-constitucional.
In: TEPEDINO, Gustavo (Coord.). A parte geral do Novo Código Civil: estudos na perspectiva civil-constitucional.
2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 390.
51
MIRAGEM, Bruno. Abuso do direito: ilicitude objetiva no direito privado brasileiro. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 94, n. 842, p. 17, dez. 2005. Fasc. Civ.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 197-223, abr./jun. 2011
220 Aline França Campos
52
PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil: introdução ao direito civil constitucional. Tradução de Maria Cristina
De Cicco. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 121-122.
Ressalte-se o posicionamento em sentido contrário de Caio Mário da Silva Pereira:
53
É por isto que todas as teorias que tentam explicar e fundamentar a doutrina do abuso do direito têm necessidade
de desenhar um outro fator, que com qualquer nome que se apresente estará no propósito de causar o dano,
sem qualquer outra vantagem. Abusa, pois, de seu direito o titular que dele se utiliza levando um malefício a
outrem, inspirado na intenção de fazer mal, e sem proveito próprio. O fundamento ético da teoria pode, pois,
assentar em que a lei não deve permitir que alguém se sirva de seu direito exclusivamente para causar dano a
outrem (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. v. 1,
p. 430).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 197-223, abr./jun. 2011
Os legitimados a requerer a falência do devedor: breve estudo do art. 97 da Lei nº 11.101/2005 221
5 Conclusão
Hoje, com a positivação na Lei nº 11.101/2005 do princípio da
preservação da empresa, os argumentos de ordem principiológico-
constitucional ganham reforço. Todo raciocínio acerca das questões
atinentes aos institutos do referido diploma legal deve ser no sentido de
buscar sempre a superação da crise econômico-financeira e a reestrutu
ração das empresas viáveis.
Especificamente no que tange ao tema abordado no presente
trabalho, vale destacar a incidência do princípio da razoabilidade/
proporcionalidade.54
Concretizam o princípio da razoabilidade/proporcionalidade a ade
quação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito. Por ade
quação, pode-se entender a relação entre o meio utilizado e o fim a ser
alcançado, ou seja, o meio deve ser o adequado ao fim almejado. Assim,
se o objetivo do credor é somente a satisfação de seus créditos e a via
falimentar não é meio de cobrança, ausente está o elemento “adequação”
no pedido de quebra realizado por esse credor. Além dessa necessidade de
adequação, o meio ainda deve ser o menos gravoso possível à consecução
do fim objetivado. Só assim estaria presente o requisito da necessidade
ou da menor ingerência possível.
Por fim, a proporcionalidade em sentido estrito pode ser vista como
a relação entre o custo e o benefício da medida adotada, ou seja, é preciso
que o benefício seja maior que o ônus, sob pena de desproporcionalidade.
Ressalte-se, no entanto, que, com isso, não se defende a preserva
ção de toda e qualquer empresa indistintamente. Aquelas que não apre-
sentam perspectivas de superação da crise econômico-financeira, ou
seja, que não são viáveis, devem realmente ser retiradas do mercado,
ainda que esse não seja o objetivo, nem deveria ser, da legislação fali
mentar. Porém, não é por esse motivo que o credor que objetiva somente
a satisfação de seu crédito poderá, por todos os motivos já apresentados,
requerer a falência do devedor.
da proporcionalidade. A variação terminológica varia de acordo com a influência de cada autor. Autores
de influência germânica adotam a terminologia proporcionalidade. Por outro lado, autores de influência
anglo-saxã se valem da razoabilidade. Mas, há aqueles que procedem à uma distinção quanto ao conteúdo:
proporcionalidade exigiria uma relação de meio e fim e razoabilidade exigiria um conflito entre o geral e
o individual, a norma e a realidade por ela regulada ou critério e medida (NOVELINO, Marcelo. Teoria da
Constituição e controle de constitucionalidade. Salvador: JusPodivm, 2008. p. 125).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 197-223, abr./jun. 2011
222 Aline França Campos
Referências
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 197-223, abr./jun. 2011
Os legitimados a requerer a falência do devedor: breve estudo do art. 97 da Lei nº 11.101/2005 223
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense,
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R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 197-223, abr./jun. 2011
DOUTRINA
Parecer
A inviabilidade da aplicação da
fungibilidade recursal em caso de erro
grosseiro
Lúcio Delfino
Advogado. Diretor da Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPRo. Doutor em Direito Processual
Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Membro do Instituto Brasileiro de Direito
Processual. Membro da Academia Brasileira de Direito Processual Civil. Membro do Instituto dos
Advogados de Minas Gerais.
1 A consulta
A sociedade empresária UUVPLT, doravante denominada consulente,
apresenta-me questões de seu interesse.
Integra o polo passivo de um processo judicial que já se encontra
na fase de cumprimento de sentença (CPC, art. 475-I e segs.). Intimada
do auto de penhora e avaliação, protocolizou sua impugnação (CPC, art.
475-L), que foi acatada e ensejou à extinção da execução. Contra tal deci
são foram interpostos dois recursos, primeiramente agravo por instrumento
e, no dia seguinte, apelação, ambos de conteúdos idênticos.
Chamou-me a atenção, de outra banda, a existência de declaração
escrita, assinada pelo próprio exequente, por meio da qual revela que
o crédito exequendo inexiste, além de determinar aos seus advogados,
que subscreveram ambos os recursos referidos no parágrafo anterior,
fosse requerida a extinção do processo. Juntado aos autos este novo
documento antes de decidida a impugnação, determinou o Juiz a intimação
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 227-235, abr./jun. 2011
228 Lúcio Delfino
2 O parecer
2.1 O erro grosseiro na interposição recursal e o não conhecimento do
agravo por instrumento
Há que se definir, em primeiro plano, a natureza da decisão ata
cada pelo exequente mediante dois recursos distintos. Por meio dela, o
Juiz, em apreciação à impugnação apresentada pela consulente em fase
de cumprimento de sentença, declarou extinta a execução.1 É inegável,
deste modo, até em razão do que dispõe o art. 475-M, §3º, do Código de
Processo Civil, que se trata de sentença, e não de decisão interlocutória, e,
portanto, há de ser desafiada por apelação (CPC, art. 513). De modo mais
específico: o art. 475-M, §3º, é contundente ao determinar que a “decisão
que resolver a impugnação é recorrível mediante agravo por instrumento,
salvo quando importar extinção da execução, caso em que caberá apelação.”
“execução”, talvez até pela censurável grafia do art. 475-I do CPC, ao se referir ao “cumprimento de sentença”
o que se faz é simplesmente aludir a uma espécie procedimental destinada a viabilizar execuções de obrigações
gravadas em certos títulos executivos. A “execução”, de sua vez, é atividade jurisdicional destinada à satisfação
de direitos, voltada à conformação daquilo que foi decidido à realidade do mundo (ainda que provisoriamente),
e realizada mediante procedimentos diversos, cada qual adequado às necessidades do direito material cuja
satisfação se pretende. O “cumprimento de sentença”, destarte, nada mais é que procedimento destinado à
realização dessa atividade executiva em dadas e específicas ocasiões, devidamente previstas em lei.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 227-235, abr./jun. 2011
A inviabilidade da aplicação da fungibilidade recursal em caso de erro grosseiro 229
2
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil: comentado artigo por artigo. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 475.
3
São muitos os casos em que a doutrina sustenta presente dúvida objetiva com relação à natureza do ato
decisório. Alguns exemplos: a rejeição liminar da reconvenção; a rejeição liminar da ação declaratória incidental;
a decisão que concede a antecipação de tutela com base no art. 273, §6º, do CPC, entre outros tantos.
4
Há autorizadas vozes defendendo que as particularidades, que identificam e diferenciam a apelação e o agravo
por instrumento também impedem a utilização do princípio da fungibilidade, sempre que sejam essas as vias
recursais envolvidas. Suficiente, nesta ótica, sublinhar que a apelação há de ser interposta perante o juízo a
quo; o agravo por instrumento, por sua vez, perante o juízo ad quem. De tal sorte, interposto o agravo por
instrumento equivocadamente em vez de apelação, não poderia o tribunal valer-se da fungibilidade recursal
pela singela razão de ser incompetente para receber diretamente o último recurso — lembre-se que a apelação,
a exemplo da maioria dos recursos nacionais, deve ser interposta perante o órgão jurisdicional a quo, isto é,
aquele que proferiu a decisão recorrida. A admissão de entendimento contrário levaria à criação jurisprudencial
de uma “apelação por instrumento”, algo ainda não admitido pelo legislador pátrio. Assim pensa o mestre
carioca Alexandre Freitas Câmara: “Ocorre que, em razão das reformas por que passou nosso Código de
Processo Civil a partir de 1992, e mais especificamente a partir de 1995, com a edição da Lei nº 9.139, de 30
de novembro de 1995, que criou o atual sistema aplicável ao recurso de agravo, a fungibilidade entre apelação
e agravo tornou-se impossível. Tal impossibilidade deriva do fato de que a apelação é interposta perante o juízo
‘a quo’, enquanto o agravo o é perante o tribunal ‘ad quem’. Assim, interposta apelação em caso que seria
de agravo, não poderá o juízo ‘a quo’ aplicar a fungibilidade por não ser competente para receber o agravo.
O mesmo se dá, mutatis mutandis, para o caso de se interpor agravo de instrumento quando o caso seria
de apelação, já que o órgão ad quem não tem competência para receber a apelação”. Não é esse, todavia,
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 227-235, abr./jun. 2011
230 Lúcio Delfino
o nosso entendimento. O formalismo atinente às vias recursais deve ceder espaço à concretização do direito
fundamental à tutela jurisdicional adequada (CF/88, art. 5º, XXXV). Aplicável ao caso concreto o princípio da
fungibilidade, desimportantes ao órgão julgador questões relacionadas à forma, como, por exemplo, aquelas
atinentes à tempestividade (ilustre-se com a interposição de agravo por instrumento no décimo quinto dia
previsto para a interposição de apelação) e à competência para receber recursos (competente para receber
o agravo por instrumento é o tribunal; competente para receber a apelação é o juiz a quo). O princípio da
fungibilidade, enfim, é aplicável justamente porque se reconheceu a dúvida objetiva sobre a natureza da
decisão atacada. Não há racionalidade em se afirmar, de um lado, a dúvida objetiva, mas, de outro, prejudicar
o recorrente por não ter respeitado as formalidades exigidas pelo recurso que o órgão julgador entendeu mais
ajustado à espécie. Exigir o respeito às formas em tais circunstâncias é unicamente afastar, por via oblíqua, o
princípio da fungibilidade. É, por fim, interpretação inconstitucional, sobretudo pela negativa de vigência ao
direito fundamental à tutela jurisdicional adequada.
5
MEDINA, José Miguel Garcia; WAMBIER, Tereza Arruda Alvim. Recursos e ações autônomas de impugnação.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 59. v. 2, Processo civil moderno.
6
Supremo Tribunal Federal, RE nº 345.521-4-RJ, 2ª Turma, Relator Ministro Celso de Mello, DJU, 27 set. 2002.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 227-235, abr./jun. 2011
A inviabilidade da aplicação da fungibilidade recursal em caso de erro grosseiro 231
7
Há exceções ao princípio da unicidade recursal, consoante ensina José Carlos Barbosa Moreira. O sistema,
por exemplo, autoriza a oposição de embargos de declaração contra quaisquer decisões, interlocutórias ou
sentenças (consideradas aí também os acórdãos), admitam ou não outro recurso. Também há a possibilidade
de interposição cumulativa do recurso extraordinário e do especial. Perceba-se, ainda, situação interessante
apontada por José Carlos Barbosa Moreira: “(...) nas decisões objetivamente complexas, talvez se componham,
no tocante a capítulos distintos, os requisitos de admissibilidade de recursos diferentes: assim, por exemplo, se
a Câmara, no julgamento da apelação, decide reformar a sentença de mérito, por unanimidade quanto a uma
parte da matéria impugnada e por simples maioria quanto à outra parte, nesta caberão embargos infringentes
(art. 530), e naquela, possivelmente, recurso extraordinário e/ou especial: tal hipótese, regulada pela expressa
disposição do art. 498, não constitui, no que tange aos embargos, verdadeira exceção ao princípio de que ora
se trata: para fins de recorribilidade, cada capítulo é considerado como uma decisão per se” (MOREIRA, José
Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. v. 5, p. 249).
8
Supremo Tribunal Federal, RE nº 345.521-4-RJ, 2ª Turma, Relator Ministro Celso de Mello, DJU, 27 set. 2002.
9
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p.
601. v. 1, Teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento.
10
Moniz de Aragão apud THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 47. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2007. p. 602. v. 1, Teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 227-235, abr./jun. 2011
232 Lúcio Delfino
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 14. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. v. 2,
11
p. 69.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 227-235, abr./jun. 2011
A inviabilidade da aplicação da fungibilidade recursal em caso de erro grosseiro 233
de situação jurídica que lhe seja favorável, pois nada mais lhe é devido a
qualquer título. Também não há o requisito adequação: basta perceber que
o exequente interpôs agravo por instrumento em vez de apelação, postura
que afronta diretamente o art. 475-M, §3º, consoante examinado alhures.
Ausente o interesse recursal, agravo por instrumento e apelação não
merecem prosperar sequer em seu juízo de admissibilidade.
12
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 6. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003. p. 213.
13
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 6. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003. p. 213-214.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 227-235, abr./jun. 2011
234 Lúcio Delfino
14
PELUSO, Cezar (Coord.); GODOY, Claudio Luiz Bueno de et al. Código Civil comentado doutrina e jurisprudência.
São Paulo: Manole, 2007. p. 544.
15
Diante da revogação do mandato, é mesmo recomendável que o relator — e, por que não, o juiz a quo,
especificamente na apelação —, antes de realizar o juízo de admissibilidade recursal, intime os advogados,
subscritores de ambos os recursos, para que regularizem a representação processual em tempo hábil. É
interpretação condizente com o art. 13 do Código de Processo Civil. Confira-se, neste rumo, ementa de acórdão
do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: “Civil e Processual Civil. Ação Ordinária. Representação processual.
Outorga de novo mandato. Efeitos. Despacho determinando a regularização. Não atendimento. A outorga
de novo mandato com a constituição de novos procuradores nos autos, sem ressalva da procuração anterior,
implica revogação tácita do primeiro mandato. O não atendimento ao despacho que determina à parte, ao
subscritor da peça recursal e aos novos procuradores a regularização da representação processual tem como
consequência o não conhecimento do recurso interposto, por falta de pressuposto processual” (Tribunal de
Justiça de Minas Gerais, Apelação Cível nº 1.0394.07.070907, Relator Desembargador José Flávio de Almeida,
Décima Segunda Câmara Cível, julgado em 06.05.2009, disponível em <www.tjmg.jus.br>). Entretanto, ainda
que a regularização ocorra a contento, melhor sorte não acolheria o exequente, haja vista os demais vícios
apontados ao longo deste parecer.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 227-235, abr./jun. 2011
A inviabilidade da aplicação da fungibilidade recursal em caso de erro grosseiro 235
Maio de 2009.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 227-235, abr./jun. 2011
NOTAS E COMENTÁRIOS
Análise de acórdão em que se discute a
possibilidade de conduta ativista do juiz,
em matéria de pedido
Cristiane Druve Tavares Fagundes
Mestranda em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Pós-graduada em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Pós-
graduada em Direito Público pelo CAD (Centro de Atualização em Direito). Graduada em Direito
pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Advogada em São Paulo, com ênfase nas
áreas cível e contratual.
1 Introdução
Trata-se da análise de acórdão proferido pelo E. Tribunal de Justiça de
São Paulo, em que se discute a possibilidade de o juiz adotar posturas ativas,
no caso concreto, que envolve concessão de tutela antecipada, sem requerimento
da parte interessada.
No acórdão analisado (Agravo de Instrumento nº 640.724-4/6-00 –
ANEXO I), proferido pela Nona Câmara de Direito Privado do TJSP, questio
na-se a extensão do denominado “ativismo judicial”, especificamente no que
diz respeito à antecipação dos efeitos da tutela.
Dessa sorte, é objeto de análise do acórdão, em voga, o âmbito de aplicação
dos poderes judiciais, no que concerne à eventual concessão antecipada de efeitos
não pleiteados pela parte interessada.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
240 Cristiane Druve Tavares Fagundes
A tendência a dar maior realce ao papel do juiz corresponde, como bem se com
preende, a uma acentuação mais forte do caráter publicístico do processo civil.
O interesse do Estado na atuação correta do ordenamento, através do aparelho
judiciário, sobrepõe-se ao interesse privado do litigante, que aspira acima de
tudo a ver atendidas e satisfeitas as suas próprias pretensões. É a antiga visão
do “duelo” entre as partes, ao qual assistia o juiz com espectador distante e
impassível, que cede passo a uma concepção do processo como atividade orde
nada, ao menos tendencialmente, à realização da justiça.
O papel do juiz no processo civil. In: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de direito processual. São Paulo:
1
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
Análise de acórdão em que se discute a possibilidade de conduta ativista do juiz, em matéria de pedido 241
constitucional da jurisdição, ainda que não haja previsão legal que o autorize
na respectiva atuação.
Segundo o ativismo, portanto, o juiz deve atuar de maneira a resolver
o problema que lhe foi colocado, com ou sem previsão legal para sua atuação
de ofício.
Observam-se como premissas do pensamento ativista a acentuação do
caráter publicístico do processo, ressaltando-se que não mais se pode falar em
simples duelo de partes; a ideia segundo a qual o processo deve ser palco da
realização de pacificação com justiça, não podendo ser o juiz mero espectador
da atividade das partes; e, ainda, não dever o processo ser palco de atribuição
de direitos a quem não os tem.2
Cumpre verificar, entretanto, que, mesmo se tratando de uma tendência,
não se pode afirmar que foram conferidos poderes ilimitados aos juízes, em
qualquer momento do processo. É de se analisar, portanto, os limites à postura
ativista dos magistrados.
2
Em sentido contrário aos ativistas judiciais, encontram-se os defensores do chamado “garantismo judicial”, que
defende uma maior valorização do contraditório e da imparcialidade do juiz, como pilares da legitimação da
decisão judicial que será proferida. Como grandes premissas do pensamento garantista, podem ser mencionados
a autonomia da vontade das partes e, ainda, o princípio da imparcialidade do juiz, o que impediria uma conduta
mais ativa por parte deste.
3
Neste sentido, Fredie Didier Jr. doutrina que “A dicotomia princípio inquisitivo-princípio dispositivo está
diretamente relacionada à atribuição de poderes ao juiz: sempre que o legislador atribuir um poder ao magistrado,
independentemente da vontade das partes, vê-se manifestação de ‘inquisitoriedade’; sempre que se deixe ao
alvedrio dos litigantes a opção, aparece a ‘dispositividade’. É impossível estabelecer um critério identificador da
dispositividade ou da inquisitoriedade que não comporte exceção. O melhor, portanto, é falar em predominância
em relação a cada um dos temas: em matéria de provas, no efeito devolutivo dos recursos, na delimitação do
objeto litigioso etc” (Curso de direito processual civil. 11. ed. Salvador: JusPodivm, 2009. v. 1, p. 62).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
242 Cristiane Druve Tavares Fagundes
4
Exceção legislada à referida vedação reside na previsão do artigo 989, do Código de Processo Civil, que permite
que o juiz dê início a inventário ex officio.
5
Instituições de direito processual civil. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. v. 2.
6
Mesmo posicionamento apresenta Barbosa Moreira [O problema da ‘divisão do trabalho’ entre juiz e partes:
aspectos terminológicos. In: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de direito processual: (quarta série). São
Paulo: Saraiva, 1989].
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
Análise de acórdão em que se discute a possibilidade de conduta ativista do juiz, em matéria de pedido 243
7
O problema da ‘divisão do trabalho’ entre juiz e partes: aspectos terminológicos. In: MOREIRA, José Carlos
Barbosa. Temas de direito processual: (quarta série). São Paulo: Saraiva, 1989.
8
Curso de direito processual civil. 11. ed. Salvador: JusPodivm, 2009. v. 1.
9
Instituições de direito processual civil. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. v. 2.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
244 Cristiane Druve Tavares Fagundes
Por óbvio, para que se defira a antecipação dos efeitos da tutela preten
dida ao final, ordena a lei que haja expresso requerimento da parte. E o motivo
para tal previsão é simples: trata-se de antecipação dos efeitos do próprio pedido
final, o que só pode ocorrer — nos termos do que prevê o princípio da demanda
— através de pedido formulado pela própria parte interessada.
Tem-se, portanto, que irrepreensível foi o v. acórdão ora analisado ao
reformar a decisão de Primeira Instância e assim fundamentar seu entendimento:
Destaque nosso.
10
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
Análise de acórdão em que se discute a possibilidade de conduta ativista do juiz, em matéria de pedido 245
6 Considerações finais
Do presente estudo, conclui-se que incensurável é a conclusão jurídica
a que chegou o acórdão ora analisado, ao reformar sentença proferida em pri
meiro grau, no sentido de afastar a tutela antecipada concedida sem requeri
mento da autora da ação de reconhecimento de união estável.
Pelo exposto, irrepreensível o v. acórdão da lavra da Nona Câmara de
Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, que contém importante
supedâneo para a reflexão do ativismo judicial, na seara do objeto litigioso.
11
p. 2, do acórdão.
12
p. 3, do acórdão.
13
O problema da “divisão do trabalho” entre juiz e partes: aspectos terminológicos. In: MOREIRA, José Carlos
Barbosa. Temas de direito processual: (quarta série). São Paulo: Saraiva, 1989.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
246 Cristiane Druve Tavares Fagundes
Referências
ALVIM, José Manoel de Arruda. Manual de direito processual civil: processo de conhecimento.
12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v. 2.
BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009.
BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do
direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 1.
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 11. ed. Salvador: JusPodivm, 2009. v. 1.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 5. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005. v. 2.
FORNACIARI JÚNIOR, Clito. Limites do juiz na busca da verdade. In: Processo civil: verso
e reverso. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005.
LOPES, João Batista. Curso de direito processual civil: processo de conhecimento. São Paulo:
Atlas, 2006. v. 2.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O papel do juiz no processo civil. In: MOREIRA, José
Carlos Barbosa. Temas de direito processual. São Paulo: Saraiva, 1977.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O problema da “divisão do trabalho” entre juiz e partes:
aspectos terminológicos. In: MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de direito processual:
(quarta série). São Paulo: Saraiva, 1989.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Reformas processuais e poderes do juiz. In: MOREIRA,
José Carlos Barbosa. Temas de direito processual: (oitava série). São Paulo: Saraiva, 2004.
SILVA, Ovídio Baptista. Curso de processo civil: processo de conhecimento. 5. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2000. v. 1.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
Agravo de Instrumento nº 640.724-4/6-00 – Sorocaba – Voto nº 5937D
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
EMENTA
ACÓRDÃO
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
248 Cristiane Druve Tavares Fagundes
2 – O inconformismo convence.
Pela leitura do artigo 273, do Código de Processo Civil, depreende-se que
o julgador pode, a requerimento da parte, antecipar os efeitos da tutela, desde
que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação.
A redação não deixa dúvidas da necessidade de requerimento da parte,
o que significa que não há possibilidade de concessão da tutela antecipatória
ex officio.
No entanto, tratando-se de espécie do gênero tutelas de urgência, há
entendimento doutrinário no sentido de que é possível, em situações excepcio
nais e extremadas, a concessão, de ofício, da tutela antecipada.
Nesse sentido a posição defendida por José Roberto dos Santos Bedaque:
“Nesses casos extremos, em que, apesar de presentes os requisitos legais,
a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional não é requerida pela parte, a
atuação ex officio do juiz constitui o único meio de se preservar a utilidade do
resultado do processo. Nessa medida, afastar taxativamente a possibilidade
de iniciativa judicial no tocante à tutela antecipatória pode levar a situações
injustas.
A aceitação do poder oficial no tocante à antecipação dos efeitos da
tutela, ainda que excepcional, não viola o princípio dispositivo, pois o juiz
estará proferindo decisão judicial nos limites do pedido.14”
No caso, contudo, sem entrar no mérito da comunhão desse entendimento,
não se verifica situação excepcional a justificar o ativismo judicial, mormente
14
Código de Processo Civil Interpretado, coordenador Antonio Carlos Marcato, 3ª ed. Atlas, comentário ao art
273, p 843
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
Análise de acórdão em que se discute a possibilidade de conduta ativista do juiz, em matéria de pedido 249
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 239-249, abr./jun. 2011
Por uma interpretação ontológico-
sistemática do artigo 219 do CPC
Luciano Marinho de Barros e Souza Filho
Mestre em Direito Processual pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Pós-Graduado
lato sensu em Direito pela UFPE. Professor de Direito das Faculdades Integradas Aeso Barros Melo
(FIBAM) e da Esmatra VI. Procurador Federal da PRF 5ª Região (AGU).
LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1989. v. 1, p. 170.
1
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 251-254, abr./jun. 2011
252 Luciano Marinho de Barros e Souza Filho
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 251-254, abr./jun. 2011
Por uma interpretação ontológico-sistemática do artigo 219 do CPC 253
Trabalho, por exemplo, esses aspectos parecem sugerir a não incorporação ou,
pelo menos, fortes limitações à pronúncia automática. Se o direito material
do trabalho (pelo menos no seu núcleo mínimo) conforma direitos pétreos
irrenunciáveis, então, como a prescrição seria capaz de se sobrepor a ele, des
constituindo-se-lhe de plano e sem qualquer contraditório? Como se olvidar que
o direito processual trabalhista é instrumento que visa proporcionar igualdade
de armas entre os litigantes já bastante polarizados pelas relações de trabalho?
Como se admitir a incorporação e aplicação do artigo 219 do CPC ao ramo da
especializada quando se serve exatamente para garantir maior discriminação
entre as partes do litígio, beneficiando sempre o empregador em detrimento
do empregado? Sua absorção seria, portanto, a permissão para o rompimento
principiológico e funcional da justiça especializada. Constitucionalmente também
seria romper com a isonomia; com a adequação; com a autonomia da vontade
e, ainda, com o contraditório. Diretivas de acesso à justiça; de locupletamento
ilícito e de enriquecimento sem causa, analogamente, vêm a foco, principalmente,
na área trabalhista, onde é o devedor quem detém o poder do contrato de
trabalho. A prescrição deixa de ser “matéria de defesa”, também se revogando
o art. 884 da CLT? Enfim, a interpretação literal do artigo 219 do CPC desa
grega amplamente o ordenamento jurídico. Em corolário: ou se salvaguarda
o dispositivo processual do art.219 do CPC, através do resgate interpretativo,
mantendo-se sua coerência como norma integrante de um conjunto, ou se resta
maculado pela inconstitucionalidade, pela incompatibilidade e pela própria
incoerência ontológica e lógica existentes.
Desta sorte, salvo melhor juízo, tanto na processualística comum e, mais
ainda, na especializada, o propósito legiferante de garantir produtividade e
velocidade aos julgamentos não pode servir para desconstituir matizes de direitos
materiais e processuais dos cidadãos. Nem, na prática, romper com estruturas
que delineiam arquétipos que correspondem a verdadeiras garantias e funda
mentos do direito objetivo Pátrio.
Referências
LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1989. v. 1.
RODRIGUES, Sílvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 1995. v. 5, Direito das coisas.
SOUZA FILHO, Luciano Marinho de Barros e. Novos rumos da prescrição e da decadência
no direito brasileiro. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_
link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1190>. Acesso em: 18 fev. 2011.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 251-254, abr./jun. 2011
254 Luciano Marinho de Barros e Souza Filho
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 251-254, abr./jun. 2011
DIRETO AO PONTO
A prévia garantia do juízo é condição para o
oferecimento da impugnação ao cumprimento
de sentença condenatória?
SIM
Eduardo José da Fonseca Costa
Juiz Federal Substituto em Corumbá-MS. Bacharel em Direito pela USP. Especialista e Mestre em
Direito Processual Civil pela PUC-SP. Membro do IBDP e da ABDPC. Membro do Conselho Editorial
da RBDPro.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 257-265, abr./jun. 2011
258 Eduardo José da Fonseca Costa, José Henrique Mouta Araújo
Isso não se aplica à sentença arbitral: formalmente, ela se encontra arrolada no inciso IV do artigo 475-N do
1
CPC; materialmente, não deixa de ser um ato jurisdicional, sem bem que de origem extrajudiciária.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 257-265, abr./jun. 2011
A prévia garantia do juízo é condição para o oferecimento da impugnação ao cumprimento de sentença... 259
tudo convém para que a sentença que julga a impugnação seja desafiada por
agravo, e não por apelação: pendente o julgamento do recurso na instância
superior, permite-se a continuidade da execução, nos próprios autos em que
proferida a sentença condenatória. Logo, a natureza da decisão que julga a im
pugnação é sentencial. E, sendo sentença, está apta a fazer coisa julgada material
ao declarar a ocorrência de qualquer das hipóteses previstas no inciso VI do
art. 475-M do CPC. Se assim não fosse, poder-se-iam rediscutir os mesmos
fundamentos da impugnação em ação autônoma ulterior ao desfecho execucio
nal, provocando insuportável insegurança jurídica.
Justamente porque ainda há necessidade de o executado garantir o juízo
para poder defender-se (a penhora é “condição da ação” de impugnação), o
cumprimento de sentença tolera a “exceção de pré-executividade”. Na execução
de título judicial, ainda persistem os motivos que fizeram com que doutrina
e jurisprudência admitissem o instituto. Ora, à luz da proporcionalidade: a) a exceção
de pré-executividade é meio adequado para a arguição de objeções e exceções
substanciais acatáveis ictu oculi [sub-postulado da adequação]; b) ela é necessária
para evitar-se o prosseguimento de execuções manifestamente infundadas, que
inflijam injustos sacrifícios ao patrimônio do executado [sub-postulado da neces
sidade]; c) diante da conveniência de essas execuções serem erradicadas, as van
tagens de uma técnica de defesa simpliciter et de plano superam as desvantagens da
dispensa da garantia do juízo [sub-postulado da proporcionalidade stricto sensu].
Em contrapartida, na execução de título extrajudicial, não há mais cabimento
para esse tipo de objeção. Hoje, após o advento da Lei nº 11.382/2006, a prévia
garantia do juízo deixou de ser condição de admissibilidade da ação de embargos
de devedor (CPC, art. 736, caput). Em verdade, a penhora limita-se a ser uma das
condições para que se lhes atribua efeito suspensivo. Os embargos suspenderão
o curso da execução se houver: requerimento do embargante + relevância dos
fundamentos + risco de grave dano de difícil ou incerta reparação + garantia
da execução por penhora, depósito ou caução suficientes (CPC, art. 739-A, §1º).
É importante registrar que a penhora como “condição da ação” de im
pugnação está em plena sintonia com os princípios vigentes. Como já explicado
acima, a execução estatal faz-se por meio de mandados (de arresto, citação,
arrombamento, penhora, avaliação, busca e apreensão, levantamento, imissão
na posse, etc.). Cumprindo-os, os órgãos da execução gradativamente ingressam
no patrimônio do devedor. Porém, o âmbito executivo é também plano para a
incidência do princípio do contraditório (CF, art. 5º, LV). Portanto, ainda que seja
vigente o princípio da responsabilidade patrimonial (CPC, art. 591), não se vai direto
ao patrimônio do executado sem que se lhe faculte a defesa. Logo, na tentativa
de conciliar os dois princípios na etapa do cumprimento de sentença, o sistema
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 257-265, abr./jun. 2011
260 Eduardo José da Fonseca Costa, José Henrique Mouta Araújo
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 257-265, abr./jun. 2011
A prévia garantia do juízo é condição para o oferecimento da impugnação ao cumprimento de sentença... 261
NÃO
O tema que iremos enfrentar neste pequeno ensaio refere-se a uma das
indagações mais relevantes das últimas reformas processuais, ocorridas em
2005 e 2006, no sistema do cumprimento de sentença e de execução de título
extrajudicial.
Destarte, após algumas alterações legislativas que fundamentaram o
chamado sincretismo processual nas tutelas específicas, a preocupação do legis
lador passou a ser deslocada às sentenças impositivas de prestação pecuniária.
Estas decisões foram atingidas pelas mudanças advindas da Lei nº 11.232/05
que passou a consagrar o sistema de cumprimento sem intervalo, com atividades
executórias dependentes de provocação, ex vi art. 475-J do CPC.
Assim, o quadro que passou a ser desenhado após as reformas legislativas
foi o seguinte: nos casos envolvendo as sentenças de fazer, não fazer e entregar
coisa distinta de quantia, a satisfação advém de aplicação da sistemática previs-
ta no art. 461 e 461-A, do CPC, com amplo poder ao magistrado de buscar a
máxima identidade mediante a utilização das medidas de apoio, sem qual-
quer violação aos art. 463 e mesmo 128 do CPC.2 Por outro lado, nas sentenças
envolvendo quantia, o sistema de cumprimento está previsto no art. 475-I e
seguintes, da legislação processual, com a defesa sendo apresentada por meio
de impugnação ao cumprimento e não mais pelos antigos embargos do devedor
de título judicial.
Por outro lado, em 2006 houve nova reforma processual, desta feita
preocupada, de maneira geral, com a execução de título extrajudicial. De acordo
com as previsões da Lei nº 11.382/06, a defesa do devedor continua sendo feita
por meio dos embargos, que tiveram duas importantes alterações: a) o efeito
suspensivo passou a ser judicial (ope judicis) e não mais legal (ope legis), desde
<http://www.henriquemouta.com.br>.
1
Luiz Guilherme Marinoni afirma que “está expressa, nos arts. 461 do CPC e 81 do CDC, a possibilidade de
2
o juiz dar conteúdo diverso ao fazer ou não fazer pedido, ou melhor, impor outro fazer ou não fazer, desde
que capaz de conferir resultado prático equivalente àquele que seria obtido em caso de adimplemento da
‘obrigação originária’” (As novas sentenças e os novos poderes do juiz para a prestação da tutela jurisdicional
efetiva. Revista Gênesis de Direito Processual, Curitiba, v. 29, p. 559, 2003).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 257-265, abr./jun. 2011
262 Eduardo José da Fonseca Costa, José Henrique Mouta Araújo
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 257-265, abr./jun. 2011
A prévia garantia do juízo é condição para o oferecimento da impugnação ao cumprimento de sentença... 263
3
Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery entendem, a rigor, que antes da penhora seria cabível apenas
a objeção de executividade, mas não a impugnação. Em passagem de seu Código de Processo Civil comentado,
ensinam, ao interpretar o art. 475-J, do CPC, que: “Como diz a norma comentada, o executado será intimado
para oferecer impugnação, depois de haver sido realizada a penhora e a avaliação. Caso não tenha havido,
ainda, a penhora ou a avaliação, isso não impede o devedor de defender-se por meio de exceção ou objeção
de executividade” (Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante. 10. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2008. p. 738, nota 10 ao art. 475-J).
4
O Enunciado nº 117 do Fonaje afirma que “é obrigatória a segurança do Juízo pela penhora para apresentação
de embargos à execução de título judicial ou extrajudicial perante o Juizado Especial”.
5
“Impugnação ao cumprimento de sentença. Garantia do juízo. Necessidade. Valores bloqueados em execução
inversa. Impossibilidade. Pretensão de oferecimento de impugnação. Incidente que tem como pressuposto
a garantia do juízo. Art. 475-J, §1º, CPC. Precedentes. Impossibilidade de se ter por garantido o juízo por
valores bloqueados em execução diversa, pendente de impugnação e sem qualquer referência a respeito na
petição inicial da impugnação. Negaram provimento. (Agravo de Instrumento Nº 70028872273, Décima Nona
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Rafael dos Santos Júnior, Julgado em 28/04/2009)”
(Disponível em: <http://br.vlex.com/vid/57827869>. Acesso em: 02 dez. 10, às 13:45h). “Processual civil.
Agravo interno. Agravo de instrumento intempestivo. Simples petição e impugnação. Ausência de mandado
de penhora e de avaliação. 1 – A simples petição pela qual se argui a ilegitimidade para figurar como devedor
não pode ser recebida como impugnação, na medida em que esta pressupõe a existência de mandado de
penhora e de avaliação. 2 – Inexistindo nos autos impugnação com efeito suspensivo, é intempestivo o agravo
de instrumento que visa à reforma de fundamentos exarados em decisão anterior à atacada. 3 – O recorrente
deixou de apresentar motivos aptos a ocasionar a modificação dos termos da decisão recorrida, inclusive de
enquadrá-los nos ditames do art. 557, parágrafo 1º, do CPC, demonstrando que a mesma não se deu conforme
jurisprudência dominante desta Corte ou dos tribunais superiores, requisitos essenciais ao provimento do agravo
interno. 4 – Agravo interno improvido” (TRF-2 Classe: AGTAG – Processo: 2007.02.01.016674-0 UF: RJ – 6ª
Turma Especializada- J. em 17.03.2008 – Rel. Desembargador Federal Leopoldo Muylaert – DJ, 25 abr. 2008,
p. 544. Disponível em: <http://www.trf2.jus.br/jurisprudencia/Paginas/default_jurisprudencia.aspx>. Acesso
em: 02 dez. 10, às 14:00 horas).
6
Interessante notar que, em relação aos embargos do devedor, a concessão de efeito suspensivo não alcança
a penhora e a avaliação de bens (art.739-A, §6º). Este raciocínio também deve ser seguido em relação à
impugnação. Portanto, o prazo de 15 dias para a apresentação da defesa no cumprimento começa a contar
da intimação da penhora (art. 475-J, §1º), apenas se esta for realizada e, mesmo se for emprestado efeito
suspensivo, não deverá alcançar a avaliação do bem penhorado.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 257-265, abr./jun. 2011
264 Eduardo José da Fonseca Costa, José Henrique Mouta Araújo
7
Como consequência, é lógico que o argumento do art. 475-L, III, do CPC, apenas poderá ser lançado na
impugnação, quando precedida de penhora.
8
No tema, Marcelo Abelha afirma que: “o §1º do art. 475-J dá a entender que a segurança do juízo (no caso,
a penhora) continua a ser requisito para o oferecimento da oposição do executado — aqui chamada de
impugnação —, pois o prazo para a sua interposição se inicia da intimação da penhora/avaliação”. E, após
abordar a contradição entre os arts. 475-J e 736 do CPC, conclui, aduzindo que: “pensamos, sim, que, em
relação à segurança do juízo, esta é condição necessária e indubitável – que excepcionalmente poderá ser
afastada — para a obtenção do efeito suspensivo na oposição oferecida à execução contra si instaurada, ou
seja, a impugnação ao executado segue, nesse particular, a regra dos arts. 736 e 739-A, em que a segurança
do juízo é condição necessária — mas não suficiente — para a obtenção do efeito suspensivo na execução.
Adotamos, portanto, o alvitre de que a segurança do juízo não é requisito para o oferecimento de qualquer
forma de oposição do executado, salvo se na referida defesa (impugnação ou embargos) se pretender a obtenção
do efeito suspensivo da execução” (Manual de execução civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
p. 544-547).
9
O Min. Luiz Fux assevera que: “De toda sorte, a concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos
atos de penhora e avaliação dos bens, cuja ordem de realização antecede a ‘execução’”. E conclui: “isso significa
dizer que, para obter essa suspensividade, é preciso que o juízo esteja garantido, muito embora o oferecimento,
em si, da impugnação prescinda de penhora” (Impugnação ao cumprimento de sentença. In: SANTOS, Ernane
Fidélis dos et al. (Coord.). Execução civil: estudos em homenagem ao Professor Humberto Theodoro Júnior.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 210). Também vale citar as lições de Fredie Didier Jr, Leonardo José
Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga e Rafael Oliveira ao defenderem que: “a impugnação não depende de
penhora, não é necessário que o juízo esteja garantido para que se possa apresentar a impugnação. Segundo
dispõe o §1º do art. 475-J do CPC, o prazo final para apresentação da impugnação é de quinze dias, a contar da
intimação da penhora. O que a regra estabeleceu foi um limite temporal para o oferecimento da impugnação,
valendo dizer que a impugnação deve ser apresentada até o final do prazo de quinze dias após a intimação da
penhora. A penhora não constitui requisito necessário e suficiente ao ajuizamento da impugnação; esta pode,
então, ser oferecida antes mesmo da penhora” (Curso de direito processual civil. 2. ed. Salvador: JusPodivm,
2010. v. 5, p. 387).
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 257-265, abr./jun. 2011
A prévia garantia do juízo é condição para o oferecimento da impugnação ao cumprimento de sentença... 265
COSTA, Eduardo José da Fonseca; ARAÚJO, José Henrique Mouta. A prévia garantia
do juízo é condição para o oferecimento da impugnação ao cumprimento de sentença
condenatória?. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 19,
n. 74, p. 257-265, abr./jun. 2011. Direto ao ponto.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 257-265, abr./jun. 2011
É possível a antecipação de tutela, com base
no inciso II do artigo 273 do CPC, sem
requerimento da parte autora?
NÃO
Luciano Silva Rufino
Graduado em Direito pela Universidade de Uberaba (Uniube). Pós-graduando em Direito Processual
Civil pela Rede de Ensino LFG, em pareceria com Universidade Anhanguera e Instituto Brasileiro de
Direito Processual (IBDP). Advogado colaborador das sociedades de advogados Claudiovir Delfino
Advogados Associados e Vilela Cardoso Advogados Associados.
1
CALMON, Petrônio. Abuso do processo. Disponível em: <www.direitoprocessual.org.br>. Acesso em: 14 set.
2010. Material da 1ª aula da disciplina Processo de Conhecimento, ministrada no curso de Pós-Graduação
Lato Sensu TeleVirtual em Direito Processual Civil – Anhanguera, Uniderp/Rede LFG.
2
CALMON, Petrônio. Abuso do processo. Disponível em: <www.direitoprocessual.org.br>. Acesso em: 14 set.
2010. Material da 1ª aula da disciplina Processo de Conhecimento, ministrada no curso de Pós-Graduação
Lato Sensu TeleVirtual em Direito Processual Civil – Anhanguera, Uniderp/Rede LFG.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 267-272, abr./jun. 2011
268 Luciano Silva Rufino, Rodrigo Faquim Nogueira
Há, ainda, condutas que possuem sanções expressas na lei, como, por
exemplo, aquela determinada pelo artigo 273, II, do CPC, o qual prevê, como
punição para a parte que abuse do direito de defesa ou que atue de modo
protelatório, a possibilidade de antecipação dos efeitos da tutela.
A tutela antecipada, grosso modo, é entendida como aquela decisão hábil
para adiantar os efeitos pretendidos com a interposição da demanda, que somente
seriam possíveis, de regra, após o fim das atividades cognitivas e decisórias do
processo.
Confira-se a lição de Bueno:
3
BUENO, Cassio Scarpinella. Tutela antecipada. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 9-41. Fonte: Curso sistematizado
de direito processual civil: tutela antecipada, tutela cautelar, procedimentos cautelares específicos. Material
da 5ª aula da disciplina Fundamentos do Direito Processual Civil, ministrada no curso de Pós-Graduação Lato
Sensu TeleVirtual em Direito Processual Civil – Anhanguera, Uniderp/IBDP/Rede LFG.
4
BUENO, Cassio Scarpinella. Tutela antecipada. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 9-41. Fonte: Curso sistematizado
de direito processual civil: tutela antecipada, tutela cautelar, procedimentos cautelares específicos. Material
da 5ª aula da disciplina Fundamentos do Direito Processual Civil, ministrada no curso de Pós-Graduação Lato
Sensu TeleVirtual em Direito Processual Civil – Anhanguera, Uniderp/IBDP/Rede LFG.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 267-272, abr./jun. 2011
É possível a antecipação de tutela, com base no inciso II do artigo 273 do CPC, sem requerimento... 269
Referências
ABDO, Helena. Teoria do abuso do processo: o abuso do processo. São Paulo: Revista dos
Tribunais. Material da 1ª aula da disciplina Processo de Conhecimento, ministrada no
curso de Pós-Graduação Lato Sensu Televirtual em Direito Processual Civil – Anhanguera,
Uniderp/Rede LFG.
BUENO, Cassio Scarpinella. Tutela antecipada. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 9-41. Fonte: Curso
sistematizado de direito processual civil: tutela antecipada, tutela cautelar, procedimentos
cautelares específicos. Material da 5ª aula da disciplina Fundamentos do Direito Processual
Civil, ministrada no curso de Pós-Graduação Lato Sensu TeleVirtual em Direito Processual
Civil – Anhanguera, Uniderp/IBDP/Rede LFG.
CALMON, Petrônio. Abuso do processo. Disponível em: <www.direitoprocessual.org.br>.
Acesso em: 14 set. 2010. Material da 1ª aula da disciplina Processo de Conhecimento,
ministrada no curso de Pós-Graduação Lato Sensu TeleVirtual em Direito Processual Civil
– Anhanguera, Uniderp/Rede LFG.
________________ ******** ________________
Rodrigo Faquim Nogueira
Graduado em Direito pela Universidade de Uberaba (Uniube). Pós graduando em Direito Processual
Civil pela Rede de Ensino LFG, em pareceria com Universidade Anhanguera e Instituto Brasileiro
de Direito Processual (IBDP). Advogado militante na Comarca de Uberaba-MG.
MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Código de Processo Civil interpretado. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2008.
5
p. 568.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 267-272, abr./jun. 2011
270 Luciano Silva Rufino, Rodrigo Faquim Nogueira
Se o juiz vê, diante de si, tudo o que a lei reputou suficiente para a concessão
da tutela antecipada menos o pedido, quiçá porque o advogado é ruim ou
irresponsável, não será isso que o impedirá de realizar o valor efetividade,
sobretudo naqueles casos em que a situação fática reclamar a necessidade de
tutela jurisdicional urgente (art. 273, I).
6
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIEIRO, Daniel. Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 270.
7
BUENO, Cassio Scarpinella. Tutela antecipada. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 33.
8
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. v. 1,
p. 419.
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 267-272, abr./jun. 2011
É possível a antecipação de tutela, com base no inciso II do artigo 273 do CPC, sem requerimento... 271
MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Código de Processo Civil interpretado. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2008.
9
p. 561.
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2009. v. 2, p. 507.
10
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 267-272, abr./jun. 2011
272 Luciano Silva Rufino, Rodrigo Faquim Nogueira
que uma sentença. Razão pela qual, nos casos de abuso de direito de defesa ou
manifesto propósito protelatório do réu (art. 273, II), não é conveniente que
o juiz conceda a tutela antecipada sem requerimento da parte interessada.
Tanto é verdade, que o magistrado, mediante o reconhecimento de
litigância de má fé e aplicação de suas sanções, pode punir a parte que abusa
do direito de defesa ou que demonstra manifesto propósito protelatório.
Ex positis, a concessão ex officio de tutela antecipada, na hipótese do inciso
II do artigo 273, encontra óbice no caput deste dispositivo.
Referências
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 267-272, abr./jun. 2011
Índice
Doutrina, Notas e
Comentários e Direto ao Ponto página página
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274 Índice
página página
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Índice 275
página página
C DIREITOS HUMANOS
CLT - Ver: Luces y sombras del proceso seguido
- Ver: O processo civil e a execução no Processo ante la Corte Penal Internacional. Artigo de:
do Trabalho. Artigo de: Gilberto Stürmer...........89 Julio Rojas Chamaca............................................... 183
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276 Índice
página página
E IMPUGNAÇÃO
EFETIVIDADE - Ver: A prévia garantia do juízo é condição para
- Ver: A efetividade da tutela jurisdicional e o o oferecimento da impugnação ao cumpri-
cumprimento da tutela antecipada. Artigo mento de sentença condenatória?
de: Marlon Tomazette................................................55 - Direto ao ponto de: Eduardo José da Fonseca
Costa...............................................................................257
ESTABILIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA - Direto ao ponto de: José Henrique Mouta
- Ver: Desafios e avanços do novo CPC diante Araújo.............................................................................261
da persistente insegurança jurídica – A ur-
gente necessidade de estabilização da juris- INICIATIVA PROBATÓRIA
prudência. Artigo de: Arthur Mendes Lobo; - Ver: A magistratura diante da iniciativa pro-
João Batista de Moraes.............................................19 batória no moderno contexto processual civil:
um confronto entre o juiz Pilatos versus o juiz
ESTATUTO DE ROMA contemporâneo. Artigo de: Ana Surany Martins
- Ver: Luces y sombras del proceso seguido Costa; Newton Teixeira Carvalho........................ 149
ante la Corte Penal Internacional. Artigo de:
Julio Rojas Chamaca............................................... 183 INTERESSE DE AGIR
- Ver: Os legitimados a requerer a falência
EXECUÇÃO do devedor: breve estudo do art. 97 da Lei
- Ver: Desafios e avanços do novo CPC dian- nº 11.101/2005. Artigo de: Aline França
te da persistente insegurança jurídica – A Campos........................................................................ 197
urgente necessidade de estabilização da ju-
risprudência. Artigo de: Arthur Mendes Lobo; J
João Batista de Moraes.............................................19 JUIZ
- Ver: A magistratura diante da iniciativa pro-
F batória no moderno contexto processual civil:
FALÊNCIA um confronto entre o juiz Pilatos versus o juiz
- Ver: Os legitimados a requerer a falência contemporâneo. Artigo de: Ana Surany Martins
do devedor: breve estudo do art. 97 da Lei Costa; Newton Teixeira Carvalho........................ 149
nº 11.101/2005. Artigo de: Aline França
Campos........................................................................ 197 JURISDIÇÃO INTERNACIONAL
- Ver: Luces y sombras del proceso seguido
FUNGIBILIDADE RECURSAL ante la Corte Penal Internacional. Artigo de:
- Ver: A inviabilidade da aplicação da fungi- Julio Rojas Chamaca............................................... 183
bilidade recursal em caso de erro grosseiro.
Parecer de: Lúcio Delfino....................................... 227 JURISDIÇÃO
- Ver: O poder Judiciário como legislador.
G Artigo de: José Maria Tesheiner.............................11
GARANTÍAS CONSTITUCIONALES
L
- Ver: Direitos fundamentais e Processo Civil
LEGITIMIDADE ATIVA
no Brasil: algumas técnicas processuais com-
- Ver: Os legitimados a requerer a falência
pensatórias de desigualdades sociais e a
do devedor: breve estudo do art. 97 da Lei
proteção judicial dos direitos fundamentais.
nº 11.101/2005. Artigo de: Aline França
Artigo de: Eliana Pires Rocha; Jefferson Carús
Campos........................................................................ 197
Guedes............................................................................99
LEI DE ARBITRAGEM
I - Ver: Arbitragem no Brasil. Artigo de:
IGUALDAD Felipe Scripes Wladeck; Paulo Osternack
- Ver: Direitos fundamentais e Processo Civil Amaral.......................................................................... 131
no Brasil: algumas técnicas processuais
compensatórias de desigualdades sociais e M
a proteção judicial dos direitos funda men - MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL
tais. Artigo de: Eliana Pires Rocha; Jefferson - Ver: O caso da COFINS das sociedades
Carús Guedes................................................................99 pro
fissionais: análise da legitimidade da
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Índice 277
página página
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278 Índice
página página
TUTELA ANTECIPADA V
- Ver: A efetividade da tutela jurisdicional e o VERDADE REAL
cumprimento da tutela antecipada. Artigo de: - Ver: A magistratura diante da iniciativa proba-
Marlon Tomazette.......................................................55 tória no moderno contexto processual civil:
um confronto entre o juiz Pilatos versus o juiz
contemporâneo. Artigo de: Ana Surany Martins
Costa; Newton Teixeira Carvalho........................ 149
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 273-278, abr./jun. 2011
Instruções de publicação para os autores 279
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 279-280, abr./jun. 2011
280 Instruções de publicação para os autores
R. bras. Dir. Proc. - RBDPro, Belo Horizonte, ano 19, n. 74, p. 279-280, abr./jun. 2011