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Exame escrito de Direito Processual Civil II – TN
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
4 de Junho de 2015 – Duração: 1h30m
http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/2fd3e829ec42dbb
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– Que o tribunal declarasse que Bento não era o proprietário da parcela de terreno
correspondente ao caminho que separava os prédios de Amílcar e de Bento, na medida
em que o mesmo não se integrava no prédio de Bento;
A petição inicial não foi, contudo, recebida pela secretaria, com o fundamento na falta
de constituição de advogado por Amílcar.
Amílcar apresentou então nova petição, atribuindo à causa o valor de 50.000 euros, a
qual foi recebida.
Apenas Bento contestou, dizendo que pelo assinalado caminho sempre haviam passado
os seus bisavós, avós, pais e ele próprio e seus irmãos, pelo que tal caminho pertencia
ao seu prédio, sendo consequentemente improcedente a acção que Amílcar lhe movera.
Bento formulou ainda, na contestação, o seguinte pedido: o de que o tribunal declarasse
que Amílcar não era o proprietário da parcela de terreno correspondente ao caminho, na
medida em que nunca os antepassados de Amílcar o haviam utilizado, nem o próprio
Amílcar, até há poucos anos, o fizera, ou tentara fazer.
Amílcar replicou, dizendo, por um lado, que era impossível os antepassados de Bento
terem atravessado o caminho, uma vez que Bento não tinha ascendentes conhecidos, e,
por outro lado, que o tribunal não devia admitir o pedido, formulado por Bento, de
declaração de que o autor (Amílcar) não era o proprietário da parcela de terreno
correspondente ao caminho, na medida em que esse pedido não se enquadrava em
qualquer das alíneas do artigo 266º, n.º 2, do CPC.
No despacho saneador, o juiz não deu razão ao autor quanto a esta última matéria da
réplica, e mandou prosseguir a acção
Na sentença, o juiz julgou procedente a acção, condenando Bento e Carlos nos pedidos
que Amílcar formulara. Quanto ao pedido de Bento, resolveu alterar o que havia
decidido no despacho saneador e, consequentemente, julgou-o inadmissível, absolvendo
Amílcar da instância.
Caso a reconvenção fosse admitida (eventualmente nos termos do art. 266º/2 d)),
ver as suas eventuais consequências processuais (direito de resposta do autor;
aumento do valor da causa – que na presente hipótese não se justificaria,
atendendo a que o pedido do réu não seria distinto do do autor; modificação
quanto à competência do tribunal – que neste caso também não ocorreria,
atendendo a que o valor da causa não se alterou).
Arts. 584º/1; 299º/2 e 3; 93º/2
O facto constitutivo alegado pelo réu havia sido impugnado pelo autor, pelo que
carecia de prova e, não resultando esse facto provado, devia a acção ser julgada
procedente (ou seja, o tribunal declararia que o réu não era o proprietário do
caminho).
Relativamente ao pedido de A em relação a C, caso ele tivesse sido
admitido, e caso a revelia de C não fosse operante: a A incumbiria, em tese,
provar os pressupostos da responsabilidade civil (facto constitutivo do seu
direito) e a C os factos impeditivos, modificativos e extintivos do direito à
indemnização (art. 342º, 1 e 2 do CC).
Ver função das regras do ónus da prova.
f) Possibilidade de, na sentença, o juiz julgar inadmissível o pedido de Bento. (3
valores)
Se o saneador já tivesse transitado em julgado (ver noção de trânsito em julgado:
art. 628º CPC), ter-se-ia produzido caso julgado formal quanto à questão da
admissibilidade do pedido reconvencional que tivesse sido concretamente
apreciada: a sentença violaria esse caso julgado, se apreciasse novamente a
questão concreta já decidida.
Se o despacho fosse genérico, não se colocava o problema da violação do caso
julgado.
Se ainda não tivesse ocorrido o trânsito em julgado, o problema que se
levantaria seria o da extinção do poder jurisdicional do juiz (quanto ao que já
tivesse sido decidido).
Arts. 595º/3, 1ª parte, 620º, 613º, todos do CPC.
António, empresário em nome individual, intentou uma ação contra a sociedade anónima
Y pedindo que esta seja condenada a pagar-lhe a quantia de 100 000 Euros decorrente de
um contrato de fornecimento que alega ter sido celebrado. Indicou na petição inicial
como sede da sociedade Y a morada da sociedade por quotas Z.
Bento é administrador e gerente das sociedades Y e Z que pertencem ao mesmo grupo
empresarial, embora tenham a sua sede em moradas diferentes. A secretaria do tribunal
enviou carta registada para a morada indicada na petição inicial e Bento recebeu a carta
dirigida à sociedade Y.
A sociedade Y apresentou contestação afirmando que não celebrou qualquer contrato
com António e que o fornecimento era dirigido à empresa Z, pelo que pediu a
intervenção da sociedade Z. Alegou, à cautela por ser também beneficiária dos bens
fornecidos por António, que, em qualquer caso, não foram fornecidos todos os bens,
formulando ainda no final da contestação um pedido reconvencional de indemnização
pelos danos sofridos em consequência. A contestação não fez a separação das diferentes
formas de defesa da Ré.
António, no prazo da réplica, pediu a junção ao processo das faturas emitidas em nome
da sociedade Y.
O juiz admitiu a intervenção da sociedade Z e ordenou a sua citação. A sociedade Z
juntou procuração a favor de mandatário.
Seguidamente o juiz proferiu despacho saneador, absolvendo os réus do pedido por não
terem sido requeridos quaisquer meios de prova e as faturas terem sido apresentadas
extemporaneamente e igualmente António do pedido reconvencional porque, tendo
absolvido as rés do pedido, não era necessário conhecer do pedido reconvencional.
d) O facto alegado pela sociedade Y de que os bens não foram todos fornecidos tinha
que ser impugnado e que momento? (2 valores)
Tópicos de correcção
a) A apresentação da contestação de B foi tempestiva? Qual o efeito da citação de B e C sobre
o decurso do prazo de prescrição? (3 valores)
(i) A contestação de B foi tempestiva, pois, terminando em dias diferentes o prazo para a
defesa por parte dos vários réus (30 dias: 569.º/1 do CPC; não havia elementos suficientes
para sabermos se havia ou não dilação: 245.º do CPC), a contestação de todos ou de cada
um deles pode ser oferecida até ao termo do prazo que começou a correr em último lugar
(569.º/2 do CPC);
(ii) Tópico incidental: Inoperante revelia de C, ex 568.º, a), relativamente aos factos que B
contestou;
(iii) Efeito da citação de B e C sobre o decurso do prazo de prescrição:
a. Tópico incidental: B e C deviam a A € 15.000 pelo aluguer do automóvel, tendo
incorrido em mora em 20.7.2010 (805.º/2, a), do CC). O crédito em questão estava
sujeito ao prazo quinquenal de prescrição (310.º, b), do CC) – isso mesmo é sugerido no
enunciado: “o direito ao pagamento do aluguer sempre teria prescrito pelo decurso do
prazo de 5 anos”. Prazo de prescrição terminava em 20.7.2015 (279.º, c), do CC);
b. efeitos processuais da citação e efeitos substantivos da citação, dentre os quais, com
relevo para o presente caso, a interrupção da prescrição (323.º/1 do CPC);
c. a ficção do 323.º/2 do CC de que a prescrição se tem por interrompida, ainda que a
citação não haja ocorrido, 5 dias após a propositura da acção, desde que o atraso na
citação não seja imputável ao autor:
i. no presente caso, o atraso na citação de C foi imputável ao autor, uma vez que
A indicou uma morada de C que sabia não ser a correcta;
ii. contudo, a ficção do 323.º/2 do CC aplica-se à citação de B, pelo que, quanto a
ele, o prazo prescricional não decorreu (todavia, a prescrição que ocorra em
relação a um dos devedores não se estende aos demais: 521.º do CC, não
obstante o regime em sede de relações internas).
d. Tópico incidental: 279.º, e), do CC, não se aplica a prazos prescricionais (embora a
jurisprudência oscile) – as férias judiciais decorrem entre 16 de Julho e 31 de Agosto
(28.º da LOSJ).
(iii) “deveria considerar-se compensado [o crédito de A] com crédito de igual montante que
tinha contra A, a qual lhe emprestara e que este nunca devolvera”: reconvenção ou
excepção peremptória extintiva? Alegada em termos subsidiários – pedidos subsidiários
(554.º/1). Valor da causa na reconvenção (297.º) – trib. compet. (93.º). Neste caso, a
reconvenção deveria ter sido expressamente identificada e deduzida separadamente na
contestação, o que parece não ter sido o caso (583.º/1 do CPC). Discussão sumária:
excepção peremptória extintiva / reconvenção; os termos da questão com o CPC 2013
(266.º/2, c)).
(i) O autor pode ampliar o pedido até ao encerramento da discussão em 1.ª instância, se a
ampliação for o desenvolvimento ou a consequência do pedido primitivo (265.º/2):
neste caso, estamos perante um pedido que é (acessório e) desenvolvido a partir do
conteúdo inicial do direito a que se refere (crédito ao pagamento do aluguer), o que
traduz, de facto, uma ampliação do pedido, para os efeitos do 265.º/2. Foi tempestiva a
ampliação do pedido? Foi, entendido o “encerramento da discussão em 1.ª instância”
como prolongando-se até ao fim dos debates a que se refere o 604.º/3, e);
Entre Carlos e Abel existe listisconsórcio passivo, voluntário e comum (arts. 641.º CC e
32.º/2 CPC). A dívida emergente do contrato de compra e venda do automóvel era
comunicável (art. 1691.º, al. b) CC). Sendo Abel e Bernardete casados no regime da
comunhão de bens adquiridos, e de acordo com o sentido da doutrina dominante, este
seria um caso em que o credor pretenderia obter uma decisão susceptível de ser
executada sobre os bens do cônjuge que a não contraíu, para os efeitos previstos no art.
34.º/3, 2.ª parte CPC. Não tendo a ação sido proposta também contra Bernardete,
estaríamos diante a preterição de um litisconsórcio necessário, o que constitui uma
exceção dilatória nominada (art. 577.º, al. e)), de conhecimento oficioso (art. 578.º), e
Uma vez que o prazo importava apenas para o vencimento da obrigação, e que o autor
parece configurar a obrigação como imediatamente exigível, a situação em presença
parece recair na previsão da al. a) do n.º 2 do art. 610.º CPC (sentença de condenação in
futurum). Não tendo os réus impugnado a existência da obrigação, os RR. deveriam ser
condenados no pedido deduzido por Daniel, ficando as custas, no entanto, a cargo deste
(art. 610.º/3 CPC).
Em primeiro lugar, o tribunal não deveria estar em dúvida sobre a falta do cumprimento
da obrigação, uma vez que esta acaba por ser tacitamente confessada, por Carlos quando
invoca o benefício da excussão prévia dos bens de Abel, mas também pelo próprio Abel,
ao alegar a exceptio non adimpleti contractus. A confissão, judicial e sob a forma escrita, tem
força probatória plena (art. 358.º/1 CC), e o tribunal não deveria ter deixado de dar este
facto como provado (arts. 596.º e 607.º/4 CPC).
Sem prejuízo do que acaba de dizer-se, o cumprimento constitui uma exceção perentória
extintiva e o ónus da prova competia ao réu (art. 342.º/2 CC); por conseguinte, a dúvida
sobre a sua verificação teria de resolver-se assumindo como verdadeiro o facto contrário,
ie., o facto de que não ocorrera o cumprimento (art. 414.º CPC). Também a prova da
existência de um defeito, como argumento para a invocação da exceção de não
cumprimento (excepção perentória modificativa), competiria a Abel (art. 342.º/2 CC). A
condenação de Abel e de Carlos no pagamento das prestações reclamadas por Daniel
seria, pois, justificada.
Relativamente à condenação de Daniel na eliminação do defeito, estar-se-ia diante de
uma violação do princípio do pedido (art. 609.º/1), visto que o defeito é invocado por
Abel como fundamento da absolvição do pedido de condenação no pagamento do
preço, ou seja, como exceção perentória modificativa, e não como causa de um pedido
reconvencional; logo, a sentença seria, nesta parte, nula (art. 615.º, al. e)).
5. Imagine que Abel e Carlos são condenados no pedido formulado por Daniel.
No entanto, como o defeito dos travões do automóvel não foi reparado, alguns
meses mais tarde, Abel propõe uma ação contra Daniel, pedindo uma
indemnização por não ter podido usufruir do automóvel (art. 798.º CC). Nesta
ação, porém, o tribunal julga improcedente o pedido, por não ter ficado
convencido quanto à celebração de um contrato entre as partes. Quid juris? (3
valores)
Não se verificava qualquer exceção dilatória de caso julgado, uma vez que o pedido e a
causa de pedir não são os mesmos nas duas ações (art. 580.º e 581.º). Acresce que a
existência de um contrato não se encontrava, à partida, coberto pelo caso julgado da
primeira decisão, visto que ele se esgota na parte dispositiva e nos fundamentos que são
dela indissociáveis; a existência do contrato não foi objeto de um pedido de simples
apreciação pelo Autor, nem o réu pedira a condenação do autor no cumprimento direito
à eliminação do defeito (art. 266.º/2, al. a)) ou a apreciação incidental da exceção
deduzida (art. 91.º/2). Por outro lado, as decisões não deixam de ser contraditórias (art.
625.º), visto que um dos pressupostos – a celebração do contrato – é apreciado de forma
contraditória: embora não se possa dizer que está em causa uma situação de
prejudicialidade (perfeita) da primeira decisão face à segunda, justifica-se, também neste
tipo de situações, a extensão do caso julgado aos fundamentos da decisão, de modo a
evitar que, por uma via processual, o contrato de compra e venda se convolasse num
contrato unilateral, não sinalagmático. A contradição seria evitada por via da autoridade
do caso julgado, que, diversamente da exçeção do caso julgado, impõe uma obrigação de
repetição da decisão anterior relativamente a um dos seus fundamentos.
«À luz do direito português, a revelia, mesmo a absoluta, não implica a condenação do réu no pedido» (3
valores)
Direito Processual Civil II – Turma da Noite – Coincidências – Regente: Professor Doutor José
Luís Ramos – 29 de Junho de 2016 – Duração da prova: 2 horas
Considere a seguinte hipótese:
Abel e Bento são talhantes, tendo comprado em 1 de Abril de 2014, cada um para o seu
próprio talho, uma determinada quantidade de carne de vaca a Caio, que se dedica à criação
de gado bovino. Sucede que nem Abel nem Bento pagaram a Caio a mercadoria que
compraram, uma vez que, logo depois dos negócios, surgiram notícias acerca dos malefícios da
carne vermelha, as quais afugentaram os potenciais clientes dos seus talhos.
Inconformado, Caio pede, numa mesma acção judicial que contra eles propõe, a condenação
de Abel e de Bento, respectivamente, no pagamento de 5.000 euros e de 6.000 euros.
Nem Abel nem Bento contestam, apesar de terem sido citados por via postal registada. No
prazo da contestação, porém, o tutor de Abel requer a junção ao processo de certidão da
sentença de interdição de Abel, por anomalia psíquica.
Já depois do prazo da contestação, Caio vem requerer ao juiz a sua própria inquirição, bem
como a de Bento. Simultaneamente, requer a junção ao processo de um papel, por si assinado,
no qual manifesta a intenção de não prosseguir a acção em relação a Abel, por razões
humanitárias.
Notificado do requerimento de Caio, Bento requer igualmente a sua própria inquirição e a de
Caio.
O juiz profere então despacho saneador, condenando Bento no pedido e julgando extinta a
instância em relação a Abel, em virtude de desistência. Relativamente a Bento, fundamentou a
sua decisão na circunstância de estarem assentes, por confissão, os factos alegados por Caio
na petição inicial, não sendo necessário produzir mais provas.
Nem Bento nem Abel recorrem do despacho saneador mas, um ano depois da sua notificação
às partes, Bento propõe contra Caio uma acção de anulação do contrato que ambos haviam
celebrado em 1 de Abril de 2014, alegando erro sobre o respectivo objecto.
Nesta acção resolve intervir Abel, que entretanto ficara mentalmente são, pedindo igualmente
a anulação do contrato que, também em 1 de Abril de 2014, celebrara com Caio, e pelos
mesmos fundamentos.
Analise as seguintes questões:
1) Admissibilidade da demanda conjunta de Abel e Bento, na 1ª acção; (3 valores)
Trata-se de coligação passiva, eventualmente admissível à luz do art. 36º/2, parte final
(“cláusulas de contratos perfeitamente análogas”): não seria, de qualquer modo, um
caso de coligação fundada na mesma causa de pedir, uma vez que os pedidos
emergem de contratos diferentes. Não estando preenchida a previsão do 36º/2, parte
final (o que a hipótese não permite concluir com segurança), seria de aplicar o art. 38º;
estando preenchida, seria de verificar adicionalmente os requisitos processuais do art.
37º (em princípio preenchidos)
2) Consequências da falta de contestação de Abel e Bento; (3 valores)
O art. 568º b), 1ª parte, estende o regime da revelia inoperante ao não contestante
que não seja incapaz, o que significa que a revelia seria inoperante em relação a A e a
B. Seguem-se os termos normais do processo, apenas não havendo audiência prévia
(592º/1 a)).
3) Admissibilidade dos requerimentos probatórios das partes da 1ª acção; (3 valores)
Ao requerer a sua própria inquirição, C está a tempo, porque ainda não começaram as
alegações orais (art. 466); mas já não está a tempo de requerer o depoimento de parte
de B, uma vez que o devia ter feito na p.i. (a menos que pretenda alteração de
requerimento probatório aí feito, o que não parece ser o caso).
Quanto a B, está a tempo de requerer a sua própria inquirição (art. 466); mas é muito
duvidoso que possa requerer o depoimento de parte de C, uma vez que sendo embora
inoperante a sua revelia, já tinha decorrido o prazo para apresentar esse requerimento
probatório (que era o prazo da contestação)
4) Legalidade do despacho saneador proferido na 1ª acção; (3 valores)
Relativamente a A tinha havido desistência da instância (art. 285/2), não dependente
de aceitação de A, uma vez que este não tinha contestado (art. 286º/1). A forma
parece preenchida (documento particular: art. 290º/1). O juiz devia homologar a
desistência e julgar extinta a instância, sem apreciar o pedido nem decidir sobre o
mesmo (art. 290º/3), o que podia fazer no saneador, como fez.
Quanto a B, o despacho era ilegal, uma vez que a revelia era inoperante.
5) Admissibilidade da 2ª acção; (3 valores)
Ao condenar B no pedido de pagamento do preço, na 1ª acção, o juiz considerara
válido o contrato, sendo esse fundamento indissociável da decisão: como tal, essa
decisão sobre esse fundamento fazia caso julgado material, nos termos do art. 619º/1.
Ao pretender discutir de novo a validade do contrato, B questiona esse caso julgado.
Na 2ª acção não seria invocável a excepção de caso julgado (581º), uma vez que o
pedido era diferente; mas seria invocável a autoridade do caso julgado (619º/1), o que
levaria a que, impondo-se a decisão sobre a validade do contrato, a 2ª acção fosse
julgada improcedente.
6) Admissibilidade da intervenção de Abel na 2ª acção. (3 valores)
Relativamente a A a decisão da 1ª acção não produzia caso julgado material, uma vez
que essa decisão (desistência da instância) incidia sobre a relação processual, e não
sobre o pedido. Portanto, a impossibilidade de A intervir na 2ª acção não radicava no
caso julgado material. O problema era outro: tratar-se-ia de uma intervenção
coligatória, sem suporte no art. 311º e por isso inadmissível
Duração: 2h
Acácio vendeu a Bela, sua afilhada, uma moradia em Faro de que era proprietário, pelo preço de
30.000 euros.
Mais tarde, Acácio seria interditado por anomalia psíquica, pretendendo o respectivo tutor,
Carlos, anular a referida venda com fundamento em coacção moral, atendendo a que Bela várias
vezes havia ameaçado Acácio com o internamento num lar, caso não lhe vendesse a moradia de
Faro. Alega ainda que o preço da venda fora muito abaixo do preço de mercado, pelo que ainda
que a coacção moral não ficasse demonstrada, a venda devia ser anulada por aquele
fundamento.
Na contestação, requer o seu próprio depoimento de parte e, bem assim, arrola 20 testemunhas.
Acácio replica, apenas para dizer que o pedido de reconhecimento da relação de parentesco
entre ele e Bela era absurdo, uma vez que tinha 60 anos e Bela 50.
Na audiência final, todas as testemunhas arroladas por Acácio e Bela depõem no sentido de
desconhecerem a existência de qualquer contacto entre Acácio e Bela nos últimos 20 anos.
Acácio requer então ao tribunal para ser ouvido como testemunha, requerimento que o tribunal
defere.
Um ano depois, Bela intenta uma acção contra Acácio num outro tribunal, pedindo que fosse
declarada a validade da compra e venda da moradia de Faro.
O pedido era único, mas havia duas causas de pedir em relação de subsidiariedade. A 1ª
consistia no facto concreto em que a coacção moral se traduzia (aqui, devia ser referido
que a indicação desse facto concreto não podia faltar, sob pena de ineptidão da petição
inicial, insanável; se, porém, a indicação tivesse sido feita – como parecia ter sido –, o
problema não era de ineptidão, mas de deficiência da p.i., justificadora de proferimento
de despacho pré-saneador); a 2ª causa de pedir ou era o erro (mas então o facto não
tinha sido minimamente concretizado, o que implicava ineptidão da p.i., nessa parte) ou
a própria circunstância de o preço ser baixo (mas então a acção seria improcedente,
porque de acordo com o CC a anulação não pode fundar-se em tal facto).
Arts. 186, 581/4, 590
2) Possibilidade de a secretaria recusar o recebimento da petição inicial, por esta não vir
assinada por advogado; (1 valor)
Trata-se de vício que a secretaria não pode controlar, por dizer respeito à falta de
preenchimento de um pressuposto processual, pelo que se a secretaria recusasse o
recebimento com tal fundamento podia haver reclamação para o juiz.
Arts. 558, 559
3) Qualificação da defesa de Bela (3 valores);
Excepção dilatória (ineptidão da p.i,), que devia ser julgada improcedente, porque havia
sido feita uma indicação mínima do facto concreto em que se traduzia a coacção moral
(ameaça de internamento num lar)
Impugnação de facto indirecta
Pedido reconvencional inadmissível, por falta de conexão objectiva e por dever ser
formulado em acção especialmente intentada para esse fim
Arts. 571, 576, 266/2. Art. 1869 CC
4) Admissibilidade dos requerimentos probatórios das partes (4 valores);
A não podia ter arrolado B como testemunha (art. 496), mas podia ter requerido o seu
depoimento de parte (art. 453/3)
A podia arrolar 3 testemunhas (art. 511/1)
Seria na p.i, que tais requerimentos deviam ser feitos (552/2)
B não podia requerer o seu próprio depoimento de parte (453/3), mas podia requerer as
suas declarações de parte (466)
As 20 testemunhas obedecem ao limite do 511/2, no pressuposto de que 10 são para a
reconvenção
Seria na contestação que os requerimentos deviam ser feitos (572-d), à excepção da
prova por declarações de parte, que podia ser mais tarde (466).
Assim, A podia requerer as suas declarações de parte depois da produção da prova
testemunhal em audiência final, desde que antes das alegações orais (o que parece ter
sucedido). O problema era A ser interdito por anomalia psíquica (arts. 453/1 e 466/2),
pelo que não podia prestar declarações.
5) Admissibilidade da réplica e consequências da sua eventual omissão (2 valores)
A replica apenas para impugnar a causa de pedir do pedido reconvencional, o que podia
fazer (584/1). Se o não fizesse, aplicava-se o 587/1 (embora o efeito cominatório não
obstasse à procedência das excepções dilatórias, nos termos gerais).
Podia também ter aproveitado a réplica para responder à excepção dilatória invocada
por B, embora também o pudesse fazer nos termos do art. 3-4
6) Legalidade do despacho saneador (3 valores);
O juiz devia ter absolvido da instância (e não do pedido) reconvencional, porque a
reconvenção não preenchia o requisito da conexão objectiva (266/2).
A absolvição do pedido levantava ainda a questão da prolação de decisão-surpresa,
porquanto o facto de conhecimento oficioso (a caducidade do direito de acção: art.
333/1 CC) não fora discutido pelas partes (arts. 3-3 e 195-1)
7) Legalidade da sentença (2 valores)
O problema era o de saber se o juiz podia fundamentar a sentença apenas nas
declarações de parte de A (que, no caso, ainda levantavam o problema de A ser interdito
por anomalia psíquica, sendo, como tal, inadmissíveis). O art. 466 não o proíbe e o
FIM
Tópicos de correcção
Exame de Direito Processual Civil II – Turma da Noite – Regência: Professor Doutor José Luís
Ramos – Recurso (Coincidências) – 28/7/2016 – Duração: 2 horas
Abel é proprietário de uma moradia, circundada por um terreno que Bento, seu vizinho,
frequentemente atravessa no seu jogging matinal.
Certo dia, Bento decide entrar na casa de Abel para lhe pedir um copo de água e Dog, o cão de
Abel, supondo que se tratava de um ladrão, ataca-o violentamente, causando-lhe ferimentos
que motivaram o seu internamento hospitalar durante 15 dias, bem como a impossibilidade de
participação num campeonato de atletismo em que era o favorito para a medalha de ouro.
Na contestação, Abel alega que teria sido impossível Bento receber qualquer prémio de
atletismo, uma vez que eram conhecidos os seus problemas de doping e, bem assim, pede a
condenação de Bento e de Clotilde, mulher de Bento, no pagamento de uma indemnização no
valor de 10.500 euros pela súbita morte de Dog, por envenenamento que imputava ao casal.
Bento responde, dizendo que nunca se dopara e, bem assim, rejeitando qualquer
responsabilidade, sua ou da mulher, pela morte de Dog. Aproveita a resposta para alegar que,
entretanto, sofrera novo prejuízo, desta vez no montante de 5.000 euros, em virtude de uma
deslocação a Londres para um tratamento médico. Com a resposta, arrola 10 testemunhas,
junta facturas hospitalares, requer a inquirição de Abel pelo tribunal e, bem assim, a realização
de um exame de sangue a si próprio.
Na audiência prévia, Abel requer a inquirição do veterinário que atestara o óbito de Dog e,
bem assim, a sua própria inquirição pelo tribunal.
Na sentença, o juiz, entre o mais, condena Bento e Clotilde a pagar 10.500 euros a Abel.
I.
No dia 05.01.2016, Ana e Bernardo, casados no regime de comunhão de
adquiridos, adquiriram um imóvel denominado “Herdade Maravilha”, sito em
Évora composto por 10 hectares de terreno e um imóvel em bom estado e com
alguns bens móveis, pelo valor global de € 1.500.000,00, tendo em vista passar a
morar naquela Herdade.
Tentando perceber o que se tinha passado, o casal foi até a um dos mais
frequentados cafés da Praça do Giraldo, em Évora, e ficaram logo a saber que havia
sido Carlos que tinha invadido a Herdade e furtado os bens móveis da casa em
causa, tendo toda a atividade sido presenciada por Dolores, que comprara um
binóculo para contemplar as estrelas à noite e, acabou por visualizar todos os
movimentos de Carlos, tendo inclusivamente chamado as autoridades (que já não
foram a tempo de prender o larápio, ainda hoje em parte incerta).
No dia 01.09.2016, Ana instaurou uma ação judicial contra Carlos, na secção de
competência genérica de Elvas da instância local do tribunal de Portalegre,
pedindo o pagamento de uma indemnização no valor € 205.000,00,
correspondente ao valor dos danos patrimoniais acima descritos.
1/5
I.
Se Carlos estiver ausente em parte incerta nos termos previstos no art. 236.º, o
tribunal será forçado a realizar uma citação edital (arts. 225.º/6, 241.º, 242.º e
244.º CPC).
2/5
Como findo o prazo para a contestação o Réu nada faz, isso significa que a revelia é
absoluta (o réu não pratica ato algum – art. 566.º CPC) e inoperante (não se
consideram os factos admitidos por acordo, incumbindo à autora provar todos os
factos que alega na sua petição inicial - art. 568.º/alínea b) CPC).
Em relação à:
(i) À alegação de que não foi ele que arrombou a porta da casa da Herdade,
nem tão pouco retirou bens da casa – trata-se de uma defesa por
impugnação de facto (art. CPC), pois Carlos contradiz Ana, visando
obstar à admissão dos factos por acordo. A Autora mantém o ónus de
prova em relação aos factos que alegou (art. 342.º/1 CC).
3/5
5. Imagine que Ana é informada de que os bens móveis que haviam sido
retirados de sua casa se encontram escondidos numa determinada loja
sita em Arraiolos, de duvidosa frequência, e prestes a serem vendidos
num leilão clandestino. Existe algum meio que possa utilizar para
impedir que tal venha a acontecer e/ou que permita o rápido retorno dos
bens móveis furtados aos seus proprietários? (3 valores)
4/5
II.
Comente a seguinte afirmação:
“O efeito preclusivo das exceções que podem ser alegadas nas ações declarativas
dissolve-se no efeito geral do caso”.
(4 valores)
5/5
Sustentando-se a existência de caso julgado (ou por ter havido pedido nos
termos do art. 91º/2 CPC, ou por se seguir a 2ª orientação descrita), cumpre
analisar depois se, na 2ª acção, vale a autoridade de caso julgado a que
alude o art. 619º/1 CPC (por o seu objecto ser distinto, mas dependente, da
1ª), ocorrendo absolvição do pedido, ou, antes, se vale a excepção de caso
julgado constante do art. 577º i) (por o seu objecto ser idêntico ao da 1ª),
ocorrendo absolvição da instância. Aceitam-se ambas as soluções, desde que
fundamentadas.
Exacto, mas não totalmente: comparar os arts. 567º e 568º com o art. 574º, que
realmente consagram regimes diferentes; referir que, no caso de falta de contestação
à reconvenção, o regime aplicável é o do art. 574º, por força do art. 587º/1; referir
também que no caso de falta de contestação a que seja aplicável o art. 568º, a), aos
factos não impugnados é aplicável o art. 574º.
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Quanto a A, ver o 508º/1 e 3, al. a) (não seria caso da alínea b), porque o
impedimento seria certamente excedente a 30 dias): podia substituir a
testemunha
Comente a seguinte afirmação constante de um acórdão português (3 val.):
“A transacção (como negócio das partes) vale por si, sendo a intervenção do Juiz de
mera fiscalização sobre a legalidade do objecto desse contrato e da qualidade das
pessoas que o celebram, não conhecendo do mérito, antes sancionando a solução que as
partes encontraram para a demanda”
Analisar a transacção como negócio processual e distingui-la dos outros negócios
processuais
Analisar a natureza da sentença homologatória (conhecer de mérito / decidir de mérito):
art. 290º/3
Analisar a convivência dos efeitos do negócio com os efeitos do acto judicial
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
Alberto celebrou com Macário, em abril de 2017, por escritura pública, contrato de compra e venda
de um Solar antigo e do seu recheio, localizado em Castro Verde pelo valor de EUR 310.000,00. Ficou
convencionado que Macário pagaria o preço em 31 de agosto de 2017 e que, nessa data, Alberto lhe
entregaria as chaves do Solar.
Contudo, na data aprazada, Macário que entretanto tinha casado com Benedita, não cumpre o
contrato.
Adicionalmente, Alberto descobre que Manuel, sabendo que o Solar se encontrava desocupado,
resolve fazer dele a sua habitação, recusando-se a sair.
Assim, agastado com todas estas situações, Alberto demanda, na mesma ação:
(i) Macário e Benedita pedindo que estes sejam condenados a pagar o valor de EUR
310.000,00, acrescidos de uma indemnização por danos morais no valor de EUR 6.000,00;
e
(ii) Manuel pedindo que este seja condenado a restituir o imóvel, livre de pessoas e bens.
Na petição inicial Alberto limita-se a juntar cópia da escritura pública e duas fotografias onde se vê
Manuel na piscina do Solar.
Macário, contesta alegando que nunca celebrou qualquer contrato de compra e venda com Alberto
e que, em todo o caso, este nunca lhe tinha entregado as chaves do Solar e que, por essa razão, Alberto
não lhe poderia pedir que pagasse o preço. Macário aproveita ainda para pedir que Alberto seja
condenado numa indemnização no valor de EUR 75.000,00 em virtude de Alberto o ter agredido
violentamente na sequência de Macário ter casado com Benedita, a quem Alberto chamava de
“mulher da sua vida”.
Benedita, que não se queria meter em confusões, resolve não contestar a ação.
Manuel também contestou e limitou-se a juntar aos autos procuração forense a favor do mandatário.
1) Analise e qualifique os pedidos formulados por Alberto na petição inicial e a sua admissibilidade
(4 valores)
Cumprirá identificar, no caso prático, a existência de uma potencial situação de coligação, na medida
em que Alberto dirige pedidos diferentes contra réus diferentes (pedidos discriminadamente
formulados). Ademais, a respeito dos pedidos deduzidos contra Macário e Benedita, cumprirá verificar
uma situação de cumulação simples de pedidos (art. 555.º).
Assim, em termos de análise da cumulação de pedidos, cumprirá salientar que Macário e Benedita são,
para o efeito, apenas uma parte processual, na medida em que os pedidos são formulados contra
ambos. Não existe qualquer situação que impeça a cumulação de pedidos nos termos do artigo 37.º
do CPC (por remissão do artigo 555.º). Mesmo para quem considere que o requisito da conexão
objetiva previsto no artigo 36.º se aplica (o que é discutível), este estaria verificado no caso concreto,
na medida em que o pedido de indemnização cível se encontrava relacionado com o incumprimento
contratual alegado.
Já a respeito da coligação, cumprirá salientar quem ainda que pudessem estar verificados os
pressupostos enunciados no artigo 37.º do CPC (não se verificava, nomeadamente, uma
incompatibilidade processual nem qualquer incompetência absoluta [competência internacional,
matéria ou hierarquia]) não estava preenchido o requisito da conexão objetiva enunciados no artigo
36.º do CPC. Seria necessário explicitar quais seriam os requisitos cujo cumprimento se impunha para
que a coligação fosse admitida.
Assim, não se admitindo a coligação – porque legalmente inadmissível – deveria o Tribunal dar
cumprimento ao estatuído no artigo 38.º, n.º 1, do CPC.
Macário defende-se por impugnação, por exceção e por dedução de pedido reconvencional.
Em concreto, (i) defende-se por impugnação ao alegar nunca ter celebrado qualquer contrato com o
autor, uma vez que contraria o facto constitutivo do direito do autor (cfr. artigo 571.º, n.ºs 1 e 2 (1.ª
parte); (ii) defende-se por exceção perentória modificativa (exceção do não cumprimento estabelecida
no artigo 428.º do CC – artigos 571.º, n.º 1 e 2 (2.ª parte), e 576.º, n.ºs 1 e 3, todos do CPC), uma vez
que o tribunal, se julgar a exceção procedente, condenará o réu in futurum, condicionadamente à
realização da prestação do próprio autor, e não, como o autor pedira, na satisfação imediata da
prestação pelo réu; e (ii) por dedução de pedido reconvencional nos termos dos artigos 583.º e 266.º,
ambos do CPC, uma vez que não se limita a pedir a sua própria absolvição do pedido, mas a
condenação do autor num outro pedido.
A respeito das defesas por impugnação e por exceção cumprirá salientar que Macário não poderia
defender-se simultaneamente por impugnação e por exceção (contradição intrínseca). Assim, deverá
entender-se que a defesa por exceção teria de ter sido deduzida subsidiariamente.
No que tange à reconvenção, cumprirá a verificação dos requisitos legais estabelecidos e respetiva
enunciação, em particular (i) dedução especificada (artigo 583.º, n.º 1, CPC), (ii) verificação de alguns
dos pressupostos de admissibilidade previstos no artigo 266.º, n.º 2.
Ainda que Macário tivesse deduzido especificadamente a reconvenção, parece que a única situação
onde poderia incluir-se o pedido por si formulado se enquadrava no âmbito da alínea c) do n.º 2, do
artigo 266.º do CPC (posição que todavia não parece ser a melhor, já que subjacente à compensação
se encontra o reconhecimento, pelo réu, do crédito do autor - a dependência dos pedidos -, que neste
caso não ocorre, porque o réu contestara a existência do crédito do autor). Assim, considerando que
o crédito que Macário alega é inferior ao peticionado pelo Autor convirá escalpelizar as diversas
doutrinas a este respeito (nomeadamente se, nestes casos, esta defesa deverá ser entendida como
defesa por exceção ou se, não obstante a compensação não extinguir o crédito do autor, o meio
processual adequado seria a reconvenção).
Para efeitos de resposta à questão colocada seria necessário que o aluno identificasse uma situação de
alteração (por cumulação) do pedido inicialmente formulado. Esta alteração, em concreto, não
derivada de acordo entre as partes, o que levaria à inaplicabilidade do artigo 264.º e a necessidade de
verificação dos pressupostos enunciados no artigo 265.º (em concreto, a verificação dos pressupostos
enunciados no número 2).
Assim, deverá entender-se (à semelhança do entendimento do Prof. Doutor Lebre de Freitas), que o
pedido de pagamento de juros corresponde ao desenvolvimento do pedido inicial (cfr. Lebre de
Freitas, Introdução do Processo Civil, 4.ª ed., Coimbra, Gestlegal, 2017, p. 166 (30)).
A respeito do momento processual, Alberto poderia, nos termos do artigo 265.º, n.º 2, do CPC,
proceder à ampliação do pedido até ao encerramento da discussão em 1.ª instância, o que se encontra
verificado, na medida em que o pedido foi formulado após a apresentação da contestação.
Cumprirá distinguir dois meios de prova: (i) cópia da escritura pública e (ii) fotografias.
A respeito da cópia da escritura pública esta constituiria prova documental (362.º do Código Civil),
contudo a sua natureza não se poderá confundir com a dos documentos autênticos previstos no artigo
369.º do Código Civil. Na verdade, no enunciado não se refere que foi junto o original da escritura
pública com a petição inicial, mas, tão somente, uma fotocópia desta. A este respeito, e na falta de
outra indicação, convirá salientar as diferenças entre os regimes estabelecidos nos artigos 387.º do
Código Civil (com a distinção entre os números 1 e 2). Apenas cumpridos os requisitos ali
mencionados se poderá dizer que a fotocópia, tendo o valor do original, goza da força probatória dos
documentos autênticos, estabelecida no artigo 371.º do Código Civil (isto sem prejuízo do estabelecido
nos artigos 385.º e 386.º, ambos do Código Civil).
Tratando-se de uma simples fotocópia, aplicar-se-ia o regime estabelecido no artigo 368.º do Código
Civil (cfr. neste sentido, Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 15.12.2005, processo 0536133,
disponível em www.dgsi.pt). Neste sentido, a força probatória seria plena, exceto se a parte contra
quem são apresentadas impugnar a sua exatidão (artigo 368.º do Código Civil).
No que diz respeito às fotografias, estas constituem prova documental e estão sujeitas às mesmas
regras enunciadas anteriormente para as reproduções mecânicas (artigo 368.º do Código Civil).
5) No decurso da audiência prévia, Alberto requer (i) ser ouvido como testemunha e (ii) que
Efigénia seja igualmente ouvida como testemunha. Pronuncie-se sobre o requerimento
apresentado e a sua admissibilidade (2 valores).
Em primeiro lugar salientar que do enunciado resultar que apenas foram juntos documentos com a
petição inicial, ou seja, não foi apresentada, nomeadamente, prova testemunhal – o que se impunha,
quanto à prova testemunhal, por força do artigo 552.º, n.º 3, do CPC.
Desta forma, não tendo sido apresentado anteriormente qualquer rol de testemunhas era, por
natureza, impossível alterá-lo ou aditá-lo, fazendo uso do artigo 598.º do CPC. Esta seria razão para
indeferir o requerimento apresentado a respeito da inquirição de Efigénia como testemunha. De
qualquer modo, esta posição não é consensual, havendo quem entenda que basta a apresentação de
prova documental com a p.i. para mais tarde se poder apresentar rol de testemunhas (ou seja, que o
essencial é ter-se juntado, no momento próprio, algum meio de prova): Primeiras Notas ao Novo
Código de Processo Civil, Vol. I, 2.ª ed., Coimbra, Almedina, 2014, p. 474. Admite-se que o aluno siga
esta posição, ou qualquer outra, desde que fundamentada.
Contudo, note-se que Alberto requereu igualmente ser ouvido na qualidade de testemunha. Estabelece
o artigo 496.º que estão impedidas de depor como testemunhas as partes na ação, o que se verificava
no caso.
O depoimento de Alberto poderia ser admitido, mas apenas como prova por declarações de parte,
nos termos do artigo 466.º do CPC, cumprindo salientar que deveriam ser indicados os factos sobre
os quais iria recair (artigo 452.º, n.º 2, aplicável ex vi do artigo 466.º, nº 2, do CPC). Salientar,
igualmente, a corrente jurisprudencial que admite que, mesmo que não sejam indicados os factos, ou
o tribunal convida a parte à sua concretização ou, em alternativa, admitindo o depoimento este cingir-
se-á aos factos pessoais.
Considerando que a prova por declarações de parte pode ser requerida até às alegações orais em 1.ª
instância (604.º, n.º 3, alínea e), do CPC), o requerimento apresentado seria tempestivo.
A resposta à questão colocada pressuponha a análise do regime estabelecido para a audiência prévia e,
em concreto, das alterações introduzidas, em 2013, na redação do CPC.
Em particular, na resposta a esta questão cumpre salientar que a audiência prévia poderá ser dispensada
com base em qualquer um dos pressupostos elencados no artigo 593.º do CPC. Considerando que
estaria em causa o conhecimento do mérito da ação, deveriam ser interpretadas, de forma conjunta,
as normas constantes do artigo 593.º, n.º 1 e 591.º, n.º 1, alínea d). Em concreto, resulta da parte inicial
do número 1 do artigo 593.º do CPC que apenas pode ser dispensada a audiência prévia “nas ações
que hajam de prosseguir”, o que, de acordo com a doutrina (v.g. Paulo Ramos de Faria e Ana Luísa
Loureiro, Primeiras Notas ao Novo Código de Processo Civil, Vol. I, 2.ª ed., Coimbra, Almedina,
2014, p. 536) deverá ser interpretado no sentido de não consentir que seja dispensada a audiência
prévia caso a ação haja de findar com o proferimento de saneador-sentença. Noutra aceção, a dispensa
de audiência prévia sempre teria de ser precedida de convite às partes para sobre tal dispensa se
pronunciarem, nos termos do artigo 3.º, n.º 2, do CPC (neste sentido, v.g.. Lebre de Freitas/Isabel
Alexandre, Código de Processo Civil Anotado, vol. 2.º, Coimbra, Almedina, 2017, pp. 650-651.
Assim, independentemente de qualquer uma das vias de argumentação seguidas, sempre existira
nulidade processual, nos termos e ao abrigo do artigo 195.º do CPC.
7) O tribunal proferiu sentença a declarar não provada a ação e absolveu os réus do pedido.
Alberto, não se conformando, resolve intentar nova ação judicial contra Macário e Benedita
alegando que o Solar em causa tinha sido por si doado a Macário e Benedita, peticionando,
desta forma, a revogação da doação com fundamento em que Macário e Benedita andam a
difamá-lo e já tentaram matá-lo em diversas ocasiões. É admissível esta nova ação? (3 valores)
A resposta à questão pressupõe a análise do conceito e extensão do caso julgado (artigos 619.º, 580.º,
n.ºs 1 e 2 e 581.º, todos do CPC).
Em concreto, será necessário verificar se existe a tríplice identidade necessária para que se possa falar
de caso julgado, com a consequente proibição de repetição de nova ação.
Na primeira ação o facto jurídico de onde emergia o fundamento da ação era composto pelo contrato
de compra e venda (eventualmente, pelo contrato de compra e venda e seu incumprimento, mas sendo
Descarregado por Pinto Pereira (pintopereira1993@gmail.com)
lOMoARcPSD|32827993
o cumprimento facto extintivo do direito, a primeira opinião é mais correcta), sendo o pedido
formulado o da condenação dos réus no cumprimento. Na segunda ação, o pedido formulado era o
da revogação da doação em virtude das difamações e alegadas tentativas de homicídio (que se
reconduzem ao conceito de “ingratidão do donatário” estabelecido no artigo 970.º do Código Civil).
Assim, não obstantes as partes ocuparem a mesma posição jurídica (de autor e réus), quer a causa de
pedir, quer o pedido, seriam distintos, o que implicava que não se verificassem os pressupostos da
exceção de caso julgado. Desta forma, não estando em causa a exceção de caso julgado, a nova ação
era admissível.
II
Comente a seguinte afirmação:
Com as inovações introduzidas na revisão de 2013 do Código de Processo Civil, deixou de existir uma tutela cautelar
antecipatória. Assim, todas as decisões passam a ser decisões de mérito no contencioso cautelar. (3 valores)
Na análise crítica que se pretende, deverá o aluno enunciar as alterações introduzidas na atual redação
do CPC na revisão de 2013.
Em concreto, cumprirá desenvolver o que deverá entender-se por tutela cautelar antecipatória e a sua
distinção da tutela cautelar conservatória.
Por outro lado, a questão das decisões de mérito pressupõe a análise do designado regime da inversão
do contencioso, devendo salientar que o mecanismo legal hoje constante, nomeadamente, do artigo
369.º do CPC, já antes se encontrava estabelecido no artigo 16.º do Regime Processual Civil
Experimental (Decreto-Lei n. º108/2006, de 8 de junho) [e igualmente no artigo 121.º, n.º 1, do
Código do Processo nos Tribunais Administrativos].
Cumprirá igualmente registar que a inversão do contencioso não poderá funcionar de forma
automática: carecerá sempre de requerimento da parte nesse sentido.
Por outro lado, a inversão do contencioso não poderá aplicar-se de forma indiscriminada a todas as
providências cautelares, isto é, apenas se poderá aplicar quando “a natureza da providência decretada
for adequada a realizar a composição definitiva do litígio” e, a respeito das providências cautelares
nominadas de acordo com o estabelecido no artigo 376.º, n.º 4, do CPC.
Ainda a respeito das providências cautelares nominadas, nem todas as antecipatórias são suscetíveis
de inversão do contencioso, bastante reparar que o arbitramento de reparação provisória está excluído
do elenco do artigo 376.º, n.º 4, do CPC (não obstante a inclusão de providências cautelares
conservatórias como o embargo de obra nova).
Tópicos de correção
Adérito está apaixonado por uma fantástica herdade nos arredores de Évora. O sonho de passar uma
velhice tranquila e longe do stress de Lisboa ajudou-o a formar a sua decisão de adquirir a herdade a
Benedita e a Carlos, seus velhos amigos, casados no regime de comunhão geral.
Como faltavam ainda umas formalidades, Adérito celebra com Carlos contrato-promessa de compra
e venda em março de 2018, tendo-se projetado a celebração do contrato definitivo para maio de 2018,
o que não veio a suceder.
Desta forma, Adérito agastado com a situação resolve demandar apenas Carlos exigindo-lhe a
restituição do montante de EUR 250.000,00 pagos a título de sinal, invocando a nulidade, por falta de
forma do contrato-promessa (este foi celebrado por mero escrito particular). Adérito aproveita ainda
esta ação para pedir o pagamento de uma dívida antiga de Carlos, emergente de um contrato de mútuo
no valor de EUR 35.000,00.
Adérito limita-se a requer na petição inicial a inquirição de Dália e Ernesto que assistiram a toda a
discussão sobre a compra da herdade e ainda estiveram presentes no dia da celebração dos contratos
e por isso poderão demonstrar a sua celebração.
Citado, Carlos vem apenas dizer que é parte ilegítima na ação, na medida em que é casado com
Benedita e que esta também deveria estar na ação. Quanto ao resto, limita-se a dizer que não recebeu
qualquer montante de Adérito.
Responda de forma suscita, mas fundamentada, às seguintes questões (as questões são
independentes entre si):
São formulados dois pedidos por Adérito: (i) restituição dos montantes pagos a título
de sinal na sequência da celebração do contrato de compra e venda e (ii) restituição dos
montantes devidos ao abrigo de um contrato de mútuo.
Identificação de uma situação de cumulação de pedidos ao abrigo do artigo 555.º do
CPC.
Análise da questão doutrinária respeitante à aplicabilidade (Conselheiro Abrantes
Geraldes) ou não (Professor Lebre de Freitas/ Prof. Isabel Alexandre) da conexão
objetiva por aplicação analógica do artigo 36.º do CPC. Consequências da assunção de
uma ou de outra das posições doutrinárias.
Identificação de dois tipos de defesa: (i) por exceção dilatória (ilegitimidade) [artigos
576º/1 e 2 e 577.º, alínea e), ambos do CPC] e (ii) por impugnação (neste caso,
impugnação por desconhecimento) [artigo 571.º do CPC].
5) Em plena audiência final, o tribunal apercebe-se de que existe uma contradição entre o
depoimento de parte prestado por Carlos e o depoimento de uma testemunha,
determinando a acareação. Poderia fazê-lo? (2 v.)
Está em causa a discussão da aplicação analógica do artigo 523.º do CPC, i.e., permitir
que seja realizada a acareação entre uma parte e a testemunha.
Mesmo concluindo pela admissibilidade em geral da aplicação de tal regime, sempre
cumpriria salientar que caso existisse confissão reduzida a escrito (assentada), nos
termos do artigo 463.º do CPC a diligência em causa seria inútil. Face a factos não
confessados, considerando as finalidades da prova por depoimento de parte, estes
estariam sujeitos à livre apreciação do tribunal, pelo que, quanto a estes, a pugnar-se
pela aplicação analógica do artigo 523.º do CPC, seria admissível a acareação.
6) O Tribunal não está ainda convencido da verdade dos factos e decide, oficiosamente,
chamar Adérito para que este esclareça alguns factos, através de prova por declarações
de parte, em sede de audiência final. Poderá fazê-lo? (2 v.)
A questão suscita a análise da exceção dilatória de caso julgado – artigos 577.º, alínea
i), 581.º e 619.º do CPC.
Neste caso em concreto, deverá ser identificada a necessidade de verificação da tríade
de pressupostos do caso julgado: (i) identidade de partes; (ii) identidade da causa de
pedir e (iii) identidade do pedido.
De acordo, nomeadamente, com a jurisprudência (cfr. Acórdão do Supremo Tribunal
de Justiça, de 09.11.2017 (aqui) não se verificaria a exceção de caso julgado na segunda
ação atendendo ao facto de não se verificar a identidade de causa de pedir: na primeira
ação o fundamento é a nulidade do contrato-promessa por falta de forma, na segunda
ação a causa de pedir seria a violação de deveres pré-contratuais.
II
Comente a seguinte afirmação (3 v.)
“Se o objeto da sentença, quer em sede de ação declarativa, quer em sede de procedimento
cautelar, deve coincidir com o objeto do processo, isso não abrange a convolação”.
Ponderação dos limites da condenação nos termos do artigo 609.º do CPC, com a necessária
identificação do conceito de objeto do processo (aqui se incluindo, nomeadamente, a
definição de pedido e de causa de pedir, com eventual recurso aos números 3 e 4 do artigo
581.º do CPC).
Em concreto, para os procedimentos cautelares, referir a possibilidade de convolação oficiosa
pelo tribunal ao abrigo do artigo 376.º, n.º 3, do CPC e os seus limites.
Tópicos de correção
Nesse mesmo dia, Bernardo, português, residente em Sevilha, lê o anúncio e telefona de imediato
a Andrew a dar conta do interesse na compra do veleiro, que conhecia bem das regatas em Portugal:
"Tal como conversado hoje pelo Whatsapp, reitero o compromisso de lhe comprar o seu magnífico
veleiro. Estarei em Cascais no dia 20.06.2018 e nessa altura poderemos tratar da entrega das
chaves e da burocracia.”
Bernardo instaura de imediato uma ação judicial na instancia local do tribunal de Lisboa, pedindo
a condenação de Andrew à entrega do veleiro de 20 pés, em virtude da celebração de um contrato
de compra e venda, por via telefónica (juntando à petição inicial cópia do email enviado a Andrew),
e bem assim a condenação de Andrew no pagamento das despesas de deslocação em que incorreu
na viagem de ida e volta que realizou no avião da TAP, entre Madrid e Cascais. E, se assim não se
entendesse, solicita ainda ao tribunal a condenação de Andrew na restituição do montante de €
150.000,00 (cento e cinquenta mil euros), preço que pagara pelo “magnífico veleiro”.
Cristiano aproveita esta ação para nela deduzir um pedido de condenação de Andrew no pagamento
de uma indemnização no valor de 200 mil euros por já não poder fazer as suas férias de sonho.
Responda de forma suscita, mas fundamentada, às seguintes questões (as questões são
independentes entre si):
Análise da figura da cumulação de pedidos apresentada por B.: indicação do tipo de cumulação
de pedidos em causa na hipótese: (i) cumulação de pedidos simples, real, entre os pedidos de
condenação na entrega do veleiro de 20 pés e no pagamento das despesas de deslocação
decorrentes da viagem de ida e volta no avião da TAP.
Verificação dos pressupostos de admissibilidade da cumulação simples: (i) compatibilidade
substantiva; (ii) existência de situação de impedimento à coligação: compatibilidade das formas
de processo e competência absoluta do tribunal (artigos 555.º e 37.º/1 e 2 CPC)
Análise do pedido apresentado por C.
Distinção dos conceitos de pedido e de causa de pedir.
Análise da figura da coligação e seus pressupostos: (i) conexão objetiva; (ii) compatibilidade
substantiva; (iii) inexistência de situação de impedimento a coligação: compatibilidade das
formas de processo e competência absoluta do tribunal (artigos 36.º e 37.º CPC). No âmbito da
compatibilidade processual analisar a competência internacional e aplicação do Regulamento n.º
1215/2012, de 12 de dezembro. Análise do artigo 7.º (local do cumprimento da obrigação) e do
artigo 4.º (domicílio do Réu).
Análise da conexão objetiva.
2. Suponha que Andrew contesta, alegando que a petição inicial é inepta; em momento algum
declarou vender o veleiro de 20 pés, e o email enviado apenas identifica um “magnífico veleiro”,
sendo que o seu veleiro de 14 pés é magnífico. Classifique a defesa de Andrew. (3 valores)
Análise da figura da contestação (artigo 573.º CPC), bem como caracterização do tipo de
defesa que pode ser apresentada (artigo 574.º), defesa por impugnação ou exceção (artigo 571.º
CPC), e ainda a discussão sobre a reconvenção (artigo 583.º CPC), enquanto meio de defesa
(contra-acção).
Identificação da invocação da ineptidão da petição inicial como defesa por exceção dilatória
(artigo 186.º/2 CPC). A petição inicial não é inepta, logo, a exceção dilatória invocada por A.
não é procedente. Acresce que o réu interpretou a petição inicial convenientemente, logo
aplica-se o artigo 186.º/3 CPC, e a eventual ineptidão seria sanada, não procedendo a exceção
dilatória invocada.
Quando o réu alega que em momento algum declarou vender o veleiro de 20 pés, está a
defender-se por impugnação de facto (artigo 571.º CPC).
3. No dia da audiência prévia, Bernardo lembra-se que Carolina, sua prima, escutara a conversa
telefónica que conduzira à compra e venda, e pretende arrolá-la como testemunha. Por seu turno,
Andrew pede para ser ouvido pelo tribunal e arrola Drew (seu pai) como testemunha, tendo em
vista provar que é um bom cidadão. Aprecie a admissibilidade dos meios de prova requeridos
por Andrew e Bernardo. (4 valores)
4. O Tribunal não está ainda convencido da verdade dos factos e decide, oficiosamente, chamar o
Bernardo para que este esclareça alguns factos, através de prova por confissão, em sede de
audiência final. Poderá fazê-lo? E, se determinasse antes a sua comparência para prestar
declarações de parte? (2 valores)
5. Suponha agora que o juiz dá como provado que o “magnífico veleiro” era, na realidade, o veleiro
de 20 pés. Mas como a ação judicial demorara imenso tempo, o veleiro de 20 pés tinha sido
vendido por Andrew à sua irmã mais nova, Ellen, exímia velejadora que, apesar de interpelada
repetidamente pelo tribunal, recusa-se entregar o veleiro, alegando que nada tem a ver com a
decisão do tribunal. Aprecie a admissibilidade desta alegação por parte de Ellen. (3 valores)
Análise dos conceitos de trânsito em julgado da decisão e de caso julgado material. Neste caso a
decisão tem força de caso julgado material.
Tendo Ellen adquirido o veleiro na pendência da causa, é uma parte em sentido material (uma
vez que não é um terceiro perante as partes da ação), ao abrigo do disposto no artigo 263.º/3
CPC.
As partes em sentido material ficam abrangidas pelo caso julgado por terem a mesma qualidade
jurídica das partes processuais (artigo 581.º/2 CPC).
II.
Distinção entre caso julgado material e formal (artigos 619.º e 620.º CPC).
Análise do alcance do caso julgado (artigo 621.º CPC).
Ver Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra disponível em
http://www.trc.pt/index.php/jurisprudencia-do-trc/processo-civil/6087-caso-julgado
Impugnação de facto, excepto quanto ao fato (apenas quanto a este ponto há excepção
peremptória extintiva, uma vez que não é contrariada a causa de pedir da acção, que
integra todos os pressupostos da responsabilidade civil; é, sim, alegado um facto
extintivo da responsabilidade). Distinguir os 2 tipos de defesa à luz do art. 571º CPC;
referir também o art. 574º/3, quanto ao segundo facto impugnado
c) Consequências da falta de contestação de Edgar (2 valores);
D parece ter violado o dever do art. 228º/4 CPC
E está em revelia absoluta (art. 566º CPC)
E aproveita da contestação de D (art. 568º a) CPC)
d) Tempestividade dos meios de prova oferecidos na audiência prévia (2 valores);
Quanto aos documentos, mesmo que não supervenientes, podiam ser apresentados
(bastaria multa): art. 423º/2 CPC
Os outros meios podiam ser apresentados, porque aparentemente houve indicação de
testemunhas na contestação (art. 598º/1)
e) Valor jurídico do despacho saneador, na parte em que absolveu do pedido formulado
por Berto (3 valores);
O despacho que convoca a audiência deve indicar o seu fim (art. 591º/2 CPC), pelo que
foi cometida nulidade que arrasta o despacho saneador (posição de alguma
jurisprudência), nos termos do art. 195º/2 CPC
f) Valor jurídico da sentença (3 valores);
O saneador não fizera caso julgado formal, uma vez que era genérico (art. 595º/3, 1ª
parte); mas o juiz não pode considerar o facto que constitui a base da excepção se este
não tiver sido alegado, nem decidir matéria de conhecimento oficioso sem contraditório
(arts. 5º/1 e 3 e 3º/3). Haveria excesso de pronúncia (art. 615º/1 d), parte final)
g) Possibilidade de, na pendência da acção, Alberto exigir de Dina e de Edgar uma quantia
para prover ao seu sustento, uma vez que por culpa deles estava desempregado (2
valores).
Sim, arbitramento de reparação provisória (388º/1 CPC). Mencionar pressupostos e
regime; referir que não admite inversão do contencioso (art. 376º/4 “a contrario”)
Critérios de correção
I
Artur acaba de adquirir, por EUR 500.000,00, a fantástica Herdade de Todos os Santos com o objetivo
de ali construir habitações de turismo rural e proporcionar um excelente retiro “para a confusão das
grandes cidades”.
Os vendedores, Bernardo e Catarina garantiram a Artur que, na Herdade, era possível a
concretização do seu projeto. Contudo, a Câmara Municipal de Beja rejeitou o pedido apresentado
por Artur porquanto era impossível a construção naquela área.
Artur está devastado: o seu projeto já não se vai concretizar e acaba de saber que Diogo arrombou
durante a noite o portão principal da Herdade e a porta de casa, subtraindo vários móveis estilo Luís
XIV que Artur tinha levado para lá.
Agastado com tudo isto resolve demandar (i) Bernardo e Catarina peticionado a resolução do
contrato de compra e venda e o pagamento de uma indemnização no valor de EUR 10.000,00 pelas
despesas que Artur teve com o projeto do alojamento; e (ii) Daniel peticionado a reparação dos danos
causados (no valor de EUR 5.000,00) e a restituição dos móveis que considera valerem, pelo menos,
EUR 100.000,00.
Não obstante ter sido regularmente citada, Catarina nada diz. Bernardo limita-se a dizer que
desconhece os factos relatados por Artur e que este é conhecido por ser um “néscio” nos seus
negócios. Daniel, na sua contestação, limita-se a dizer que invadiu a Herdade para resgatar a sua filha
que para ali tinha sido levada por Esmeralda, aproveitando para peticionar que Esmeralda seja
condenada a pagar-lhe uma indemnização por todos os danos causados com o rapto da sua filha.
Artur, notificado das contestações apresentadas, apresenta requerimento nos autos onde requerer que
Esmeralda seja condenada a restituir os móveis que se encontravam na Herdade já que, com toda a
certeza, foi ela que os roubou. Aproveita igualmente a ocasião para arrolar Filipe e Glória como
testemunhas alegando que desconhecia que eles tinham conhecimento sobre os factos em discussão
no litígio (razão pela qual não haveria arrolado qualquer testemunha na petição inicial).
Na audiência prévia Artur aproveita para requerer a realização de uma verificação não judicial
qualificada com o objetivo de determinar o valor concreto dos móveis que lhe foram subtraídos e,
bem assim, requerer que Catarina seja ouvida como testemunha para esclarecer as negociações
existentes até à formação do contrato. O Tribunal indefere ambos os pedidos, dizendo que a
verificação não judicial qualificada é dispendiosa e, no caso concreto, irrelevante e, ademais, que
Catarina não poderia depor como testemunha porque estando o contrato de compra e venda
corporizado em escritura pública é inadmissível o depoimento testemunhal sobre ele.
Na sentença o Tribunal julga improcedente o pedido de anulação alegando que não ficou provado que
Artur tivesse sido enganado, mas resolve condenar Bernardo e Catarina no pagamento da
indemnização peticionada “para não se ficarem a rir”. Artur fica chocado: Bernardo, chamado pelo
Tribunal a esclarecer algumas questões controvertidas reconheceu que ele e Catarina tinham mentido
a Artur e a declaração de Bernardo tinha ficado gravada no processo: “É um caso claro de prova plena”,
alega Artur.
Por sua vez, Bernardo e Catarina não percebem o sentido da decisão e pretendem reagir.
Responda de forma suscita, mas fundamentada, às seguintes questões (as questões são
independentes entre si):
medida em que Bernardo alega que Artur não utilizou da diligência exigível segundo o
padrão da boa-fé (nomeadamente na dimensão da boa-fé subjetiva e de atuação de
acordo com os valores do sistema aplicáveis na situação concreta e consideração a
atuação espectável do homem médio na mesma situação) – artigo 576.º, n.º 3, do CPC.
Admite-se, igualmente, a qualificação da defesa em causa como de simples
impugnação, sendo valorizada a fundamentação da opção por uma ou outra
qualificação por referência à identificação da causa de pedir.
Será valorizada a discussão em torno da possibilidade de, simultaneamente, Bernardo
defender-se por impugnação e por exceção (aplicação da lógica da subsidiariedade
entre os fundamentos de defesa).
Quanto à defesa apresentada por Daniel, trata-se de invocação de exceção perentória
modificativa, traduzida num eventual estado de necessidade ao abrigo do artigo 339.º
do Código Civil, com as consequências aí estabelecidas.
Nesta senda, cumpre ainda analisar qualificar o pedido formulado por Daniel contra
Esmeralda como um potencial incidente de intervenção principal provocada ao abrigo
dos artigos 316.º e seguintes. Contudo, não estando em causa qualquer das situações
previstas, nomeadamente, no artigo 316.º, n.º 3, do CPC (desde logo porque Daniel
pretende ser compensado dos danos por si sofridos e não que seja condenada Esmeralda
a ressarcir Artur dos prejuízos causados), tal intervenção não poderia ter cabimento.
Não fará sentido a autonomização do reconhecimento confessório efetuado por Daniel
na medida em que este é consumido pela exceção por si invocada.
Note-se, igualmente, que quanto à subtração dos móveis nada é referido por Daniel,
cumprindo, dessa forma, problematizar a eventual aplicação ao caso do estatuído no
artigo 574.º, n. 2, parte inicial, do CPC.
3) Analise o requerimento apresentado por Artur na sequência da notificação das
contestações apresentadas e a sua admissibilidade (3 v.)
Análise do regime da pronúncia de Artur apenas dever ter lugar em sede de audiência
prévia ou de audiência final, nos termos do artigo 3.º, n.º 4, do CPC, sem prejuízo de
poder ser admitido tal requerimento ao abrigo da gestão processual (artigo 6.º do CPC).
Por outro lado, mais do pronuncia sobre as contestações, Artur parece pretender a
intervenção de Esmeralda no processo, peticionado que esta lhe restitua os móveis que
subtraiu, o que poderá ser admissível nos termos do artigo 316.º, n.º 2, parte final,
conjugado com o artigo 39.º, ambos do CPC, desde que devidamente fundamentados e
justificados os diversos requisitos – o que levaria a que o requerimento tivesse,
necessariamente, de ser apresentado naquele momento ao abrigo do artigo 318.º, n.º 1,
alínea b), do CPC.
Quanto à indicação de testemunhas: tal deveria ser realizado em sede de audiência
prévia ao abrigo do artigo 598.º, n.º 1 (ou até 20 dias antes da realização da audiência
final, nos termos do artigo 598.º, n.º 2, do CPC). Sucede, contudo, que à primeira vista
não estariam verificados os requisitos para o aditamento ao rol de testemunhas,
porquanto Artur não deu cumprimento ao estabelecido no artigo 552.º, n.º 2, do CPC.
judicial qualificada, pelo que, desde que observados os requisitos do artigo 598.º do
CPC, tal requerimento poderia ser formulado em audiência prévia.
A respeito do requerimento para que Catarina fosse ouvida como testemunha: tal seria
inadmissível na medida em que o artigo 496.º do CPC veda tal possibilidade às partes
no processo. Contudo, o argumento invocado pelo Tribunal para recusar o meio de
prova requerido não é válido, na medida em que, não obstante a existência de
documento com força probatória plena (artigos 364.º e 371.º do Código Civil) é sempre
admissível o depoimento testemunhal para o esclarecimento do sentido das declarações
exaradas no documento (artigo 393.º, n.º 3, do Código Civil).
Será valorizada a discussão a respeito da possibilidade de o tribunal “converter” a prova
testemunhal requerida em prova por declarações de parte (convolação do meio de
prova) ao abrigo, eventualmente, do dever de cooperação e/ou de gestão processual.
6) Analise a sentença proferida e, bem assim, o argumento utilizado por Artur. Que
poderão fazer Bernardo e Catarina? (3 v.)
A respeito do argumento utilizado por Artur este não procede: não obstante o regime
em que Bernardo depôs (artigo 452.º, n.º 1, do CPC), para que a sua putativa confissão
pudesse valer como prova plena seria necessário que se tivesse verificado a assentada
(artigo 463.º do CPC e 355.º, n.ºs 1 e 2, e 358.º, ambos do Código Civil).
Fora dessas condições, o eventual reconhecimento dos factos efetuado por Bernardo
fica sujeito ao princípio da livre apreciação da prova: não faz prova plena.
A respeito da potencial reação de Bernardo e Catarina, estará em causa a invocação de
nulidade da sentença, nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 613.º do CPC – salientado
não poder ter aplicação a alínea b) do mesmo preceito legal, porquanto se aplica
somente às situações de absoluta falta de fundamentação da decisão, o que não parece
ser o caso.
Era admissível a argumentação da nulidade quer com base na contradição entre os
fundamentos e a decisão (na medida em que, tendo o tribunal considerado que não
estava provado que Bernardo e Catarina tinham enganado Artur, não se divisa como
podem ser condenação no pagamento de uma indemnização com esse fundamento) e,
bem assim, pelo facto de a decisão ser obscura ou ininteligível quanto aos seus
fundamentos.
A nulidade da decisão seria arguível por via de recurso – artigos 615.º, n.º 4 e 627.º e
seguintes do CPC.
II
Comente a seguinte afirmação (3 v.)
Identificação do regime regra do ónus da prova estabelecido no artigo 342.º do Código Civil,
e sua qualificação como ónus da prova em sentido objetivo – por contraposição ao regime do
ónus da prova subjetivo que não é acolhido no nosso ordenamento em face do estatuído no
artigo 413.º do CPC.
Explicitação dos regimes excecionais que constituem um desvio à regra geral do ónus da
prova previstos no artigo 343.º do Código Civil.
Referência à designada tese da distribuição dinâmica do ónus da prova, que, entre as diversas
teses, pugna pela atribuição do ónus de prova de determinado facto à parte que estiver em
melhores condições de o demonstrar.
Indicação das várias críticas que têm sido realizadas à distribuição dinâmica do ónus da
prova, nomeadamente por questões de segurança jurídica e de certeza.
Indicação, nomeadamente, de outros meios de prova (ou meios de raciocínio probatório),
como as presunções judiciais para aquilatar as situações de prova diabólica.
1.º É verdade que o Réu quer vender todas as frações autónomas do prédio a
Clotilde;
2.º É falso que António tenha direito a ser indemnizado, uma vez que o sinal
pago por efeito do contrato-promessa foi devolvido em singelo ao Autor,
como aí se previra na eventualidade do Réu encontrar melhor comprador
no prazo máximo de 60 dias, o que sucedeu;
3.º O Réu é que, ao invés, tem direito de ser indemnizado por António dado que
a ação judicial em causa é prejudicial ao seu bom nome e crédito no
mercado e perturba a conclusão do negócio com Clotilde, valor de
indemnização que, porém, não se consegue ainda quantificar, mas que se
peticiona desde já.
1. Aprecie a admissibilidade dos pedidos deduzidos por António na sua petição inicial.
(2 v.)
Identificação dos requisitos do pedido (cf. art. 186.º do CPC), a sua necessidade (v.g.,
art. 3.º, n.º 1, e 552.º, n.º 1, e) do CPC) e função conformadora do objeto do processo,
em conjunto com a causa de pedir;
Identificação de dois pedidos em relação de cumulação subsidiária (cf. art. 554.º do
CPC);
Análise dos pressupostos de admissibilidade deste tipo de cumulação (art. 37.º,
aplicável ex vi art. 554.º, n.º 2, ambos do CPC), devendo concluir-se em sentido
afirmativo;
Em particular, é valorizada (e desvalorizada a afirmação contrária) a referência ao
facto de a incompatibilidade substantiva não ser entrave à cumulação, uma vez que
o pedido subsidiário somente será analisado em caso de improcedência do pedido
principal (554.º, n.º 2 do CPC).
2.º: O Réu invoca uma excepção perentória extintiva do direito alegado pelo Autor,
cuja consequência, caso seja procedente, é a absolvição (total ou parcial) do pedido.
O Autor tem direito ao contraditório sobre o referido facto, o qual deverá ser exercido
em sede de audiência prévia ou, não ocorrendo, em sede de audiência de discussão e
julgamento. Deve ser também referido que, face ao ponto 3, que corresponde a uma
reconvenção, a resposta às excepções deveria ser apresentada conjuntamente com a
resposta à reconvenção por meio de réplica, por ser este o último articulado
processualmente admissível (cf. art. 3.º, n.º 4 do CPC);
O ponto 3. da contestação corresponde a um pedido reconvencional, i.e., pedido
formulado pelo Réu contra o Autor. Sem prejuízo do pedido ser admissível em termos
substantivos, formalmente, a reconvenção deve ser deduzida separadamente (e
atribuído um valor), impondo ao Autor o ónus de apresentar réplica e impugnar os
factos e deduzir as excepções relevantes, sob pena de, tal como sucede com a falta de
contestação, se considerarem admitidos os factos não impugnados (deve ainda ser
discutida a possibilidade de a falta de apresentação de réplica gerar a confissão ficta
dos factos, à semelhança da revelia). Deverão ser desenvolvidos os pressupostos
processuais da Reconvenção;
C não contesta nem pratica qualquer acto no processo pelo que se encontra numa
situação de revelia absoluta (cf. art. 566.º e seguintes do CPC). A revelia é absoluta
devido à total inércia de C. Tendo esta omitido a apresentação da contestação, mas
tendo intervindo de alguma forma no processo, designadamente pela junção de
procuração a mandatário forense, estaria em causa uma revelia relativa. Uma e
outra conduzem a um idêntico efeito cominatório (semi-pleno), i.e., a (fictícia)
admissão dos factos alegados pelo autor e sobre os quais não recaia uma excepção
(por exemplo, os factos para os quais a lei, relativamente à sua prova, exija
documento escrito);
Análise dos efeitos da revelia, atendendo à defesa apresentada pelo Réu B;
Devem ser explicitadas as alterações de tramitação geradas pela revelia absoluta.
4. Admita que o Tribunal notifica Bento para juntar aos autos o contrato promessa
celebrado e que este, apercebendo-se que não tem razão na sua alegação, se recusa a
fazê-lo. Como deve o Tribunal proceder? (3 v.)
5. Imagine que, após a audiência prévia, António vem a falecer. O que acontece à
instância e o que faria se fosse Daniela, cônjuge e única sucessora de António? (2 v.)
7. Após a apresentação da petição inicial, António descobre que Bento colocou à venda
no OLX todo o seu património. O que faria, se fosse mandatário(a) de António e que
fundamento(s) alegaria, nessa sede? (3 v.)
II
“O Código do Processo Civil recusa uma apreciação livre, ainda que racional, dos meios
de prova por parte do julgador”
T—picos de Corre•‹o
i) Trata-se de uma impugna•‹o de facto, nos termos do art. 574.¼/3 CPC. A R. n‹o tem
como saber se os AA. conseguem ou n‹o dormir.
A impugna•‹o de facto torna o facto controvertido.
Os AA. n‹o t•m direito de resposta.
ii) Trata-se de uma exce•‹o perent—ria impeditiva, pois C invoca um facto novo (que
necessita do c‹o para sua seguran•a) e que est‡ a exercer um direito que prevalece numa
colis‹o.
Os AA. t•m direito a responder na rŽplica (art. 3.¼/4 CPC), considerando que houve lugar
ˆ dedu•‹o de pedido reconvencional.
Em princ’pio, esta defesa s— seria admiss’vel se fosse subsidi‡ria do ponto i), porque esta
exce•‹o implica o reconhecimento de que o direito dos AA. ao seu descanso estava a ser
violado.
2. J‡ depois de proposta a a•‹o, Ana descobre que est‡ gr‡vida e que o seu mŽdico
desconfia que a aus•ncia de um descanso adequado pode ser a causa de algumas
complica•›es que se est‹o a verificar na gravidez. Analise separadamente a
admissibilidade processual das seguintes pretens›es de Ana:
Aquilo que Ana pretende seria conseguido atravŽs do decretamento de uma provid•ncia
cautelar comum (pois n‹o se enquadra em nenhuma das provid•ncias especificadas),
com invers‹o do contencioso, para que a decis‹o se tornasse definitiva.
Verificar a exist•ncia de periculum in mora no caso concreto.
Referir a necessidade de fumus boni iuris e proporcionalidade para decretamento da
provid•ncia e verificar o seu preenchimento no caso concreto.
N‹o parece que a urg•ncia seja tal que justifique que a provid•ncia seja decretada sem
audi•‹o da requerida nem sem audi•‹o das testemunhas arroladas por Carolina, mas
depende do caso concreto. S‹o admiss’veis ambas as posi•›es, desde que devidamente
justificadas.
Referir a necessidade de que o juiz tenha a convic•‹o plena de que o direito de Ana existe
para inverter o contencioso. ƒ tambŽm necess‡rio que a natureza da provid•ncia o
permita, o que se verifica, pois trata-se de uma provid•ncia antecipat—ria.
Alus‹o ˆs posi•›es doutrin‡rias que entendem n‹o existir lugar ˆ invers‹o do
contencioso, em virtude de a provid•ncia ter sido decretada j‡ na pend•ncia da a•‹o
principal.
3. Um dos temas da prova fixado pelo juiz Ž o seguinte: ÒOs latidos do c‹o impedem
os autores de dormir?Ó. Comente a inclus‹o deste tema da prova, e diga como
deve o juiz decidir se n‹o conseguir formar convic•‹o segura sobre a veracidade
deste facto. (3 valores)
II
Tópicos de Correção
Não apresentando qualquer defesa, o réu Bruno entra em revelia já que não oferece
contestação, nem junta documentos nos 30 dias subsequentes à citação (cfr. artigo 569.º
do CPC; a revelia não se confunde com a falta de impugnação de factos articulados pelo
Autor). Admitindo-se uma completa inação, esta revelia qualifica-se como absoluta.
Bruno não deixaria de estar em revelia ainda que tivesse faltado ou fosse nula a sua
citação (cf. artigo 696.º alínea e) do CPC). Porém, nada no enunciado aponta neste
sentido. Bruno deve considerar-se citado na sua própria pessoa (trata-se de uma citação
ficticiamente pessoal, cf. artigo 567.º do CPC).
Os réus podem formular contra o autor um ou mais pedidos autónomos, que tomam a
designação de reconvenção (cf. artigo 266.º, n.º 1 do CPC).
Perante a apresentação deste meio de prova, André poderia tomar uma das seguintes
atitudes: nada dizer (o que corresponderia a um reconhecimento tácito da autoria),
reconhecer expressamente a autenticidade do documento, alegar o seu desconhecimento,
ou, ainda, arguir a falsidade da assinatura.
5. Quais as consequências do artigo 493.º, n.º 1 do Código Civil para a prova dos
factos alegados na ação? (2,5 valores)
O artigo 493.º, n.º 1 do CC consagra uma presunção legal (ilação que a lei tira de um
facto conhecido para firmar um facto desconhecido, cf. artigo 349.º do CC). O dever de
vigilância constitui a base da presunção (ou facto instrumental) e a culpa, o facto
presumido.
Este artigo estabelece uma presunção (ilidível ou iuris tantum, cf. artigo 350.º, n.º 2 do
CC) de culpa [(...) responde pelos danos que a coisa ou os animais causarem, salvo se
provar que nenhuma culpa houve da sua parte ou que os danos se teriam igualmente
produzido ainda que não houvesse culpa sua] o que implica, em juízo, uma inversão do
ónus da prova.
Deste modo, a André apenas se exige que alegue (e prove) que a árvore tombada
pertencia aos réus ou que sobre eles impendia um dever de vigilância, ficando dispensado
de demonstrar que a queda se deveu a uma conduta culposa. A culpa só se terá por não
provada se os réus lograrem (i) impugnar a base da presunção ou (ii) demonstrar o
contrário do facto presumido, demonstrando que não tiveram culpa (prova do contrário).
II
A frase refere-se ao meio de prova introduzido pela reforma de 2013: prova por
declarações de parte.
Na pergunta de desenvolvimento o aluno deveria (i) distinguir o depoimento de parte das
declarações de parte, (ii) ponderar a conveniência do meio de prova e (iii) refletir sobre
a valoração do ‘testemunho de parte’.
Vide:
http://www.trl.mj.pt/PDF/As%20declaracoes%20de%20parte.%20Uma%20sintese.%20
2017.pdf
I.
1. (4 valores)
Análise do objeto processual: conceitos de pedido e de causa de pedir.
Análise da cumulação de pedidos (anulação do negócio e restituição da prestação):
a) Trata-se de uma cumulação originária (real) simples (artigo 555.º CPC);
ou
Trata-se de uma cumulação subsidiária imprópria entre os primeiros dois pedidos (posição
do Professor Teixeira de Sousa: a cumulação subsidiária imprópria entre os dois primeiros
pedidos decorre do seguinte: apenas se proceder o pedido de anulação poderá ser apreciado
e eventualmente proceder o pedido de condenação à restituição da prestação realizada -
artigo 289.º/1 Código Civil)
Análise dos requisitos de admissibilidade da cumulação de pedidos originária simples (que
também se tem de verificar caso se tenha entendido que existe uma cumulação subsidiária
impropria entre os primeiros dois pedidos).
Os requisitos da cumulação estão verificados.
2. (3 valores)
A sociedade Quadros, Lda. deduz um pedido reconvencional contra Afonso (artigo 266.º
CPC), cabendo aferir da admissibilidade do mesmo.
Importaria, desde logo, explorar a hipótese de a reconvenção ser admissível nos termos da
alínea a) do n.º2 do artigo 266.º CPC.
3. (3,5 valores)
Não tendo Afonso arrolado testemunhas na sua petição inicial, caberia decidir se poderia
arrolá-las na réplica (artigo 552.º/2 CPC), bem como na audiência prévia (artigo 598.º/1
CPC) ou até 20 dias antes da audiência final (artigo 598.º/2 CPC). Seria, em princípio, de
negar o exercício dessa faculdade na audiência prévia ou antes da audiência final, dado
que os preceitos em causa referem a "alteração" ou "aditamento" ao rol de testemunhas, o
que pressupõe a existência desse rol. A redação do artigo 552.º/2 CPC é mais abrangente,
uma vez que admite a alteração do requerimento probatório, devendo aliás concluir-se que,
em qualquer caso, não pode ser negada a autora a faculdade de arrolar testemunhas para
realizar a contraprova referente aos factos que fundam o pedido reconvencional, e bem
assim a prova de factos que fundem alguma exceção alegada na réplica.
Afonso poderia requer a prova pericial mas a nomeação da pessoa que ia desempenhar
essas funções caberia o tribunal (artigo 467.º n.º 1 CPC). A poderia, no entanto, sugerir
que fosse José (artigo 467.º n. 2 CPC).
A sociedade Quadros Lda. pode requer a prestação de declarações do seu gerente até ao
inicio das declarações orais em 1.º instância, em relação aos factos que a administradora
tenha intervindo pessoalmente ou tenha conhecimento direto (declarações de parte – artigo
466.º n.º 1 CPC), as declarações são apreciadas livremente pelo tribunal, salvo e
constituírem confissão (artigo 466.º n.º 3 CPC).
O juiz aprecia livremente as provas produzidas (artigo 607.º n.º 5 CPC).
4. (2,5 valores)
Análise do artigo 283.º, n.º 1 do CPC ao réu é lícito confessar todo ou parte do pedido.
Análise desta confissão com uma renúncia ao recurso. Análise da sentença e da eventual
nulidade desta por condenação em objeto diverso do pedido (artigo 615.º n.º 1 alínea e) do
CPC).
5. (4 valores)
Análise dos argumentos de Afonso:
O tribunal não está adstrito a decretar a providência concretamente requerida; pode decretar
providência diferente, mais adequada ao perigo que se pretende prevenir (artigo 376.º/3
CPC)
Se foi requerido procedimento cautelar em que pediu a inibição definitiva de exposição do
quadro do seu tio, errou no meio processual utilizado, pois através do procedimento cautelar
pode pedir-se a composição provisória, e não definitiva, do litígio (artigo 362.º/1 CPC).
Se pretendia a inversão do contencioso – o que é distinto da composição definitiva do litígio,
atendendo aos efeitos dessa inversão (artigos 369.º e 371.º CPC) – então deveria tê-lo
requerido (artigo 369.º/1).
II.
Comente a seguinte frase: (3 valores)
O regime do artigo 263º CPC não implica uma modificação subjetiva necessária.
-Algo que protege, muitíssimo, a parte estranha à transmissão, porque o legislador assegura
a legitimidade das partes originárias na ação, para que estes continuem com a causa.
-Ademais, nos termos do n.º 2 do mesmo preceito, a substituição só é admitida quando não
se entenda que a transmissão foi efetuada para tornar mais difícil, no processo, a posição da
parte contrária.
Grupo I.
1. (3 valores)
Identificação deste caso como revelia relativa e distinguir de revelia absoluta (com apoio nos artigos 566.º, 567.º
e 568.º do CPC).
Distinguir também revelia operante de inoperante.
Análise da verificação ou não do disposto no artigo 568.º, alínea d) do CPC, considerando que estamos perante
uma ação de reivindicação (vd. artigo 1311.º do CC), e que se peticiona o reconhecimento de direito de propriedade.
Caso o autor alegasse como facto constitutivo do direito de propriedade a celebração de um contrato de compra e
venda, requerer-se-ia a observância do disposto no artigo 875.º do CC, pelo que só por este meio poderia o Autor
fazer prova do seu direito (vd. artigo 364.º do CC). Análise da questão, considerando que não se refere se o
autor juntou ou não referidos documentos com a Petição Inicial.
Consequências na tramitação subsequente do processo, considerando o disposto no artigo 590.º, n.º2 alínea b)
(quanto à junção do documento em falta) e n.º 3 do CPC, bem como, eventualmente, o artigo 567.º.
2. (4 valores)
A resposta à questão colocada pressupõe a análise do regime estabelecido para a audiência prévia e, em concreto,
das alterações introduzidas, em 2013, na redação do CPC.
Em particular, seria de salientar que a audiência prévia poderá ser dispensada com base em qualquer um dos
pressupostos elencados no artigo 593.º do CPC.
Adicionalmente, seria de considerar se se verifica ou não o disposto no artigo 593.º, n.º2 alínea c), e se seria
relevante a circunstância de B ter deduzido exceções (que, nos termos do artigo 591.º, n.º1, alínea b) do CPC;
em articulação e desenvolvimento dos fins da audiência prévia).
Não obstante, seria relevante averiguar se in casu se estaria ou não no âmbito do artigo 592.º do CPC (de
equacionar, o artigo 592.º, n.º1, alínea a) do CPC), face à verificação ou não de revelia nos termos do artigo
568.º, alínea d) do CPC.
Análise das consequências da dispensa de audiência prévia por parte do juiz.
3. (3 valores)
Qualificação do meio de prova como verificação não judicial qualificada, nos termos do artigo 494.º do CPC,
explicitando os fundamentos de tal meio prova e questionado a sua adequação ao caso concreto
Análise da sua admissibilidade, considerando que a acessão da plantação (vd. art. 1340.º CC) pode influir na
produção de prova do 2.º pedido (restituição da moradia em toda a sua extensão), e das justificações apresentadas
pelo Tribunal.
4. (4 valores)
5. (3 valores)
Grupo II.
-Além do preenchimento das condições relativas à subsidiariedade, nos termos do artigo 362º nº 3 CPC, existem
vários pressupostos específicos.
02
-Designadamente, o artigo 368º nº 2 CPC, que é, na verdade, um acréscimo ao nº 1 do mesmo preceito legal.
-Se o nº 2 é inaplicável aos pressupostos especificados , isso não permite afirmar que o acréscimo é injustificado.
- Por um lado, nalguns procedimentos especificados, existe norma equivalente (v.g., o artigo 401º CPC, relativo
a embargo de obra nova).
- Por outro, se os procedimentos não especificados não tiverem requisitos próprios, dada a inaplicabilidade do
regime especial de cada um dos procedimentos nominados, ficariam sem limites justificativos atinentes
à interposição de um procedimento urgente.
03
1. (3,5 v.)
- Analisar os requisitos da cumulação sucessiva;
- Analisar os requisitos da cumulação simples (menos a competência do tribunal, que o enunciado
presume) – em especial, a compatibilidade substantiva, que não existia, por A pedir a declaração
da sua propriedade no presente (já existiria se A tivesse pedido a declaração de que era proprietário
no momento da venda))
2. (3,5 v.)
- Réu: deduz uma exceção perentória impeditiva, à qual o autor poderia responder na audiência
prévia;
- Autor: confessa um facto (a existência de uma condição suspensiva), mas impugna a afirmação
do réu de que a condição ainda não se verificou (impugnação de facto), o que não dá ao réu direito
de resposta. A verificação da condição suspensiva tornou-se um facto controvertido e terá de ser
objeto de prova.
- A celebração do contrato de compra e venda entre A, B e C e a existência de uma condição
suspensiva no contrato entre A e D não podem ficar nem admitidos por acordo, nem confessados,
por estarem em causa contratos que só podem ser celebrados por documento escrito (art. 574.º/2
CPC e arts. 354.º e 364º/1 CPC).
3. (3 v.)
- Qualificar a revelia de B.
- A exceção perentória invocada por C aproveita a ambos, por interpretação extensiva do artigo
568.º/1/a).
4. (2,5 v.)
- O juiz poderia ordenar a produção de prova adicional (princípio do inquisitório).
- Em caso de dúvida, aplicação do art. 8.º CC e do art. 414.º CPC.
- Distribuir o ónus da prova da verificação da condição suspensiva (art. 343.º/3)
5. (2 v.)
- Aplicação dos artigos 263.º e 356.º CPC.
6. (3 v.)
- Aplicação da alínea e) do artigo 615.º: o réu defendeu-se apenas por exceção perentória, não tendo
deduzido pedido reconvencional, pelo que o juiz condenou num objeto não pedido, o que torna a
sentença nula.
- Para a decisão do juiz ser válida, o réu teria de ter deduzido uma reconvenção incidental.
- Defendem que a atribuição ao juiz de poderes de iniciativa instrutória, mesmo a pretexto da proteção da
parte mais débil, concorreria para o enfraquecimento da imparcialidade do julgador.
- Ademais, se o juiz promove a instrução e, em momento posterior, decide sobre o mérito da causa,
compromete a sua isenção enquanto julgador.
- Estas teorias são contrariadas pelos autores negacionistas que procuram contrariar as afirmações mais
catastrofistas dos garantistas.
I-
1. (3,5 v.)
Identificar que se trata de uma coligação.
Analisar o preenchimento dos seus requisitos (exceto a competência absoluta, que é presumida no enunciado),
questionando especialmente a existência de conexão objetiva, nos termos do art. 36.º.
2. (3,5 v.)
Qualificar ambas as defesas como impugnação de facto.
Notar que o autor não terá direito de resposta, nos termos do n.º 4 do artigo 3.º.
Concluir que quer as cláusulas do contrato acordadas entre as partes que a ocorrência da agressão se tornam
factos controvertidos, que serão objeto de prova (artigos 574.º, n.º 2, e 410.º).
3. (3 v.)
Qualificar a omissão de B como revelia absoluta.
Relativamente ao primeiro pedido, C contestou, pelo que se aplica o artigo 568.º, alínea a): a impugnação de
facto relativa às cláusulas do contrato aproveita a B, pelo que esse facto não fica confessado, nos termos do art.
567.º. A celebração do mútuo também não fica confessada, pois é um facto que só pode ser provado por
documento escrito (artigo 568.º, alínea d), e artigos 364.º e 1143.º CC).
Em relação a estes factos, a revelia é inoperante, é necessário produzir prova.
Relativamente ao segundo pedido, a impugnação de C diz respeito a um pedido que não lhe é dirigido, pelo que
não deve ser considerada por falta de interesse; o juiz deveria ter condenado B no pagamento da indemnização.
4. (3 v.)
Identificar que o filme é uma reprodução mecânica (prova documental).
O filme tem força probatória formal bastante (artigo 368.º CC, parte final). Não tendo a exatidão do filme
sido impugnada, esta fica assente.
O filme tem força probatória material plena (artigo 368.º CC, primeira parte), pelo que o juiz só pode não
considerar que os eventos ocorreram tal como constam da gravação se for feita prova do contrário.
Nos termos do n.º 2 do artigo 393.º do CC, a testemunha não pode depor sobre factos já provados por
reprodução mecânica com força probatória material plena, que era o caso.
5. (2 v.)
Ponderar a admissibilidade de requerer uma providência cautelar de arbitramento de reparação provisória,
verificando os seus requisitos.
Em especial, importa identificar que na ação principal é pedida uma indemnização por lesão corporal.
6. (2,5 v.)
Verificar os requisitos da exceção de caso julgado, especialmente o facto de se tratar do mesmo pedido,
embora formulado em sentido contrário.
Analisar a preclusão da possibilidade de invocar a legítima defesa numa segunda ação, à luz das regras de
preclusão processual e do efeito preclusivo que decorre da referência temporal do caso julgado.
II.
Segundo um dos seus defensores principais, Jorge Peyrano, a teoria representa uma alternativa, um
remédio para corrigir os exageros da teoria estática.
Ainda de acordo com Peyrano, quando a igualdade entre as partes não exista ou esteja ameaçada, o juiz
deve agir de modo a evitar injustiças suscitadas pelo rígido encargo probatório.
Segundo Velloso, só a lei, nunca a jurisprudência, pode alterar o encargo probatório cometido às partes.
Por seu lado, Taruffo alerta para os perigos da teoria dinâmica. Sobretudo, a violação do princípio do
contraditório e a insegurança causada.
Em janeiro de 2022, António vendeu a Bento um terreno rústico lá para os lados das beiras. O
contrato foi celebrado perante notário, por escritura pública. Como o terreno é pequeno, o preço
da compra e venda foi de 15.000 €, pago no momento da celebração do contrato.
Mal adquiriu o imóvel, Bento construiu um muro em todo o seu perímetro para evitar arrufos com
os vizinhos.
Bento comprou o terreno porque estava convencidíssimo que no seu subsolo existia uma
considerável reserva de lítio, o que não era verdade. Por outro lado, Carlos, vizinho desse terreno,
resolveu destruir parte do muro construído por Bento, argumentando que o terreno estava mal
demarcado.
Em junho de 2022, Bento propõe uma ação judicial pedindo a anulação da compra e venda perante
António e a consequente restituição dos 15.000 €, alegando a celebração do contrato em erro
sobre o objeto do negócio (artigos 251.º, 247.º e 289.º, n.º 1, todos do Código Civil (CC)). Pediu
na mesma ação, agora perante Carlos, uma indemnização no valor de 200 €, pelos danos causados
com destruição do muro (artigo 483.º do CC).
1. (3 valores)
- Constatar que se trata de uma coligação, visto que os dois primeiros pedidos são formulados por
B contra A e este último é formulado de forma diferenciada contra C.
- Qualificar a coligação como simples, porque o autor pretende a procedência simultânea deste
pedido e dos dois anteriores.
- Analisar a existência de conexão objetiva, à luz do artigo 36.º CPC, concluindo pelo seu não
preenchimento.
2. (4,5 valores)
- Qualificar o comportamento de C como revelia absoluta, visto que não praticou nenhum ato no
processo.
- Indicar como consequências processuais a aplicação do artigo 566.º CPC e do n.º 3 do artigo
249.º CPC, mas não o artigo 592.º.
- Analisar o artigo 568.º para determinar se há algum motivo para a revelia ser inoperante em
relação a alguns factos alegados pelo autor contra Carlos, concluindo que a revelia é operante em
relação a todos os factos, ficando estes confessados, à luz do n.º 1 do artigo 567.º CPC.
- Qualificar a alegação (A) como uma impugnação de facto, na medida em que contradiz o alegado
pelo autor na petição inicial. O conhecimento pelo autor das características do terreno torna-se
um facto controvertido e o autor não terá direito de resposta (n.º 4 do artigo 3.º do CPC).
- Qualificar a alegação (B) como uma exceção perentória modificativa temporária, na medida em
que reconhece que o autor tem o direito à restituição do preço, mas apenas após a prática de um
determinado ato. O autor tem direito de resposta, nos termos do n.º 4 do artigo 3.º, no início da
audiência prévia.
3. Bento já havia juntado com a petição inicial a escritura pública de compra e venda, também
nela tinha alegado que a existência de lítio era um elemento essencial da sua declaração de
vontade e do conhecimento do António. Perante a impugnação de António deste último facto,
Bento juntou ao processo uma gravação de áudio, no qual se ouvia uma voz masculina dizer
o que tinha sido alegado por Bento. Bento afirmou que tal voz era a de António. 10 dias
depois, António contraditou, alegando que não era ele a pessoa ouvida na gravação e
requerendo para o efeito a produção de prova pericial. No relatório pericial concluiu-se que a
voz não era a de António. Se fosse o juiz do processo declararia provado ou não provado:
1) a celebração do contrato de compra e venda; e 2) que a existência de lítio no terreno
vendido era um elemento essencial do negócio de conhecimento de António? (5 valores)
Quanto a 1):
- Constatar que a celebração do contrato é objeto de prova, pois embora não seja um facto
controvertido, é um facto necessitado de prova, nos termos do disposto nos artigos 574.º, n.º 2,
CPC e 364.º e 875.º do CC, justificando.
- Qualificar a escritura pública como documento autêntico e concluir pela sua força probatória
formal e material plena, distinguindo-as. Verificar que o réu não fez prova do contrário.
Quanto a 2):
- Constatar que a essencialidade é objeto de prova, pois é um facto controvertido, visto que foi
objeto de uma impugnação de facto.
- Qualificar a gravação como uma reprodução mecânica e concluir pela sua força probatória
formal bastante e força probatória material plena. Verificar que o réu não impugnou a exatidão.
Concluir que a força probatória plena não se estende a saber a quem corresponde a voz de
gravação, se esta não resultar inequívoca.
- Concluir que o Tribunal não fica impedido de concluir que a voz é ou não de António, no entanto,
há bons motivos para se considerar que não se está perante a voz de António. Temos o resultado
da perícia e indícios externos de que António não prestou as declarações, já que tendo o preço do
terreno sido baixo, é difícil cogitar sequer a hipótese de António pensar que o terreno podia ter
lítio (presunção judicial).
4. (5 valores)
- Afastar a existência de exceção de caso julgado, pois os pedidos não são os mesmos (o réu na
primeira ação não formulou pedido reconvencional).
- A validade do primeiro contrato não pode ser discutida na segunda ação, pois a decisão de anular
o contrato foi objeto de decisão a título principal na primeira ação, tendo força de autoridade de
caso julgado na segunda ação. Verificar que as partes são as mesmas.
- Analisar a regra sobre a produção de caso julgado pelos fundamentos da decisão, de forma
autónoma relativamente a essa decisão. Verificar que a existência do dever de entrega do terreno
na esfera de B é, contudo, uma exceção a esta regra, por estar em causa uma exceção perentória
modificativa temporária e uma condenação in futurum.
5. (2,5 valores)
-Porém, a obrigatoriedade não mereceu adesão maioritária na doutrina, nem sequer foi consagrada
no CPC, em 2013.
- Lebre de Freitas e Isabel Alexandre alegam que o poder discricionário do juiz terá sido
fortalecido, na dispensa de audiência prévia, pois aquele poder surge balizado em conceitos
indeterminados.
a) A ver determinado, como preço efetivo de venda de cada um dos imóveis dos
autos, para efeitos da ação de preferência a intentar, aquele que resultar da
análise dos documentos cuja junção, por parte das RR., ora se requer, para
efeitos do disposto nos artºs. 416.º a 418.º e 1410.º do CC;
b) Na declaração de nulidade dos contratos de compra e venda, por violação das
normas legais imperativas constantes dos arts. 416.º a 418.º e 1410.º do CC,
nos termos do disposto no art.º 294.º do CC.”
O juiz notificou a empresa Y autora para responder por escrito às exceções afirmando
que “A fim de prevenir a prolação de decisão surpresa, e com vista a permitir um melhor
exercício do contraditório, mais ficam notificados os autores de que, estudados os autos,
se configura a possibilidade de procedência da exceção de ineptidão da petição”
II
A enunciação dos temas de prova afasta-se da quesitação atomística e sincopada que
caracterizou o anterior processo civil português” (4 valores)
1. (3,5 v.)
- Identificar que os pedidos se encontram em cumulação simples, justificando.
- Verificar todos os requisitos, analisando o caso concreto.
- Concluir pela inexistência de conexão objetiva, apresentando as várias soluções apresentadas pela doutrina.
2. (3,5 v.)
- B afirma que os 10 mil euros não foram emprestados, mas sivm o pagamento do preço de uma compra e
venda: impugnação de facto - torna os termos acordados entre as partes controvertidos.
- B alega que nunca agrediu A: impugnação de facto - torna a ocorrência da agressão controvertida.
- B considera quantificação de danos excessiva: impugnação de facto, nos termos do art. 574.º/3 CPC: torna o
valor dos danos controvertidos. É uma defesa subsidiária.
- O autor não terá direito de resposta quanto a nenhuma das defesas.
3. (2,5 v.)
- Identificar que continuava a ser uma cumulação simples e não uma coligação.
- Analisar o artigo 568.º e concluir pela sua aplicabilidade.
- Concluir que a revelia é inoperante em relação a todos os factos impugnados por B.
- Afastar a aplicação do 567.º.
- Concluir que o juiz não poderia condenar C no despacho saneador, por faltar produzir prova.
4. (3,5 v.)
- Analisar a força probatória formal e material da reprodução mecânica.
- Delimitar o que é que se considera abrangido pela força probatória plena e discutir a questão da data.
- Aplicar o n.º 2 do artigo 393.º.
- Concluir que a prova testemunhal não pode contrariar a reprodução mecânica, mas que provavelmente a
data não estará coberta pela força probatória plena daquela.
5. (2,5 v.)
6. (2,5 v.)
- Identificação do momento do trânsito em julgado.
- Análise dos efeitos de caso julgado formal e material.
- Verificação do preenchimento dos requisitos da exceção de caso julgado, sendo os pedidos o contrário
um do outro.
- Análise da possibilidade de invocação, pelo réu, de factos que ocorreram antes do encerramento da
audiência final da primeira ação.
- Concluir pela verificação de exceção de caso julgado e respetiva consequência.
II. (2 v.)
1. O juiz duvida se deve admitir os dois pedidos contra B. Assumindo que o Tribunal é
competente para ambos os pedidos, como resolveria o problema? (2,5 valores)
- Indicação justificada de que se trata de uma cumulação subsidiária e que estão preenchidos
os seus pressupostos.
- Indicação justificada que as alegações (1) e (2) são impugnações de facto, tornando os factos
em causa controvertidos.
- Indicação justificada que a alegação (3) trata-se de um pedido reconvencional que devia ser
expressamente identificado e deduzido separadamente na contestação.
- Enunciação dos requisitos da reconvenção, concluindo pela falta de conexão objetiva.
3. Se fosse o juiz do processo declararia como provados ou não provados os factos: (1)
celebração do contrato compra e venda; e (2) aposição de uma cláusula de resolução
judicial caso não cumprimento da obrigação de entrega do relógio? (4,5 valores)
4. Indique justificando o que pode A fazer para proteger o relógio enquanto espera a
decisão na ação que propôs? (3,5 valores)
5. A sentença proferida na primeira ação vale como autoridade ou exceção de caso julgado
nesta segunda ação? (3,5 valores)
Tópicos de correção
A empresa Y intentou uma ação contra António, Carlos e Daniel pedindo o seguinte:
Existe uma cumulação simples de pedidos (artigo 555.º) deduzida contra uma
pluralidade de RR. Devem ser indicados os requisitos da cumulação simples de pedidos,
incluindo indicação sobre a necessidade de conexão objetiva
O RR. Defenderam-se por exceção perentória extintiva (artigo 572.º CPC) porque
invocam a caducidade do direito de preferência.
Os RR também apresentaram reconvenção eventual, mas esta é inadmissível. A
admissibilidade da reconvenção pressupõe uma conexão objetiva entre as duas
ações, um nexo entre os objetos da causa inicial e da causa reconvencional. O
pedido reconvencional do réu emerge do facto jurídico que serve de fundamento à
ação se existir identidade, total ou parcial, de ambas as causas de pedir, a da ação
e da reconvenção. O pedido reconvencional do réu emerge do facto jurídico que
serve de fundamento à defesa quando faz nascer uma questão prejudicial em
relação à causa principal, ou seja, produza “efeito útil defensivo”, capaz de reduzir,
modificar ou extinguir o pedido do auto (artigo 266., n.º 2, a)). O direito a
benfeitorias não correspondia a uma verdadeira defesa contra o Autor.
4. O juiz convocou audiência prévia para todos os fins do artigo 591.º. Na audiência
limitou-se a comunicar que entendia que o tribunal era incompetente em razão do
território. Agiu corretamente? (2 valores).
Verifica-se uma situação de revelia (artigo 566.º ) mas a revelia é inoperante nos
termos do artigo 568.º, a). Pretende-se que sejam indicados todos os pressupostos
da revelia e o sentido da revelia inoperante.
II