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Compilação Exames DPC II - Prof Luis Bonifácio Ramos

Direito Processual Civil II (Universidade de Lisboa)

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Tópicos de correcção
Exame escrito de Direito Processual Civil II – TN
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
4 de Junho de 2015 – Duração: 1h30m

Considere a seguinte hipótese:

A presente hipótese foi inspirada num acórdão do Tribunal da Relação de


Coimbra (Teles Pereira) de 12 de Junho de 2007, disponível aqui:

http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/2fd3e829ec42dbb
1802572fe004f2a3e?OpenDocument

Amílcar é vizinho de Bento, tendo assistido, frequentemente, a discussões entre ambos a


propósito do uso de um caminho que separa o prédio rural de um e o prédio rural do
outro: Amílcar considera que pode usar esse caminho, uma vez que o mesmo ainda se
integra no seu prédio; Bento, ao invés, considera que tal caminho se integra no seu
prédio, por isso impedindo Amílcar de usar o caminho através da colocação, no mesmo,
de um barracão e de entulho.

Como os obstáculos ao uso do caminho já ocorrem há vários anos e, muito


recentemente, o filho de Bento, Carlos, passou a alvejar Amílcar com uma caçadeira
sempre que este tentava atravessar o caminho, Amílcar demandou judicialmente Bento e
Carlos, pedindo o seguinte:

– Que o tribunal declarasse que Bento não era o proprietário da parcela de terreno
correspondente ao caminho que separava os prédios de Amílcar e de Bento, na medida
em que o mesmo não se integrava no prédio de Bento;

– Que o tribunal condenasse Carlos a pagar-lhe uma indemnização no valor de 10.000


euros pelas despesas hospitalares que tivera, na sequência dos ferimentos que sofrera
com os tiros da caçadeira.

A petição inicial não foi, contudo, recebida pela secretaria, com o fundamento na falta
de constituição de advogado por Amílcar.

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Desta recusa de recebimento reclamou Amílcar, tendo o juiz confirmado a recusa,


embora por outro fundamento: o de que Amílcar não indicara o valor da causa.

Amílcar apresentou então nova petição, atribuindo à causa o valor de 50.000 euros, a
qual foi recebida.

Apenas Bento contestou, dizendo que pelo assinalado caminho sempre haviam passado
os seus bisavós, avós, pais e ele próprio e seus irmãos, pelo que tal caminho pertencia
ao seu prédio, sendo consequentemente improcedente a acção que Amílcar lhe movera.
Bento formulou ainda, na contestação, o seguinte pedido: o de que o tribunal declarasse
que Amílcar não era o proprietário da parcela de terreno correspondente ao caminho, na
medida em que nunca os antepassados de Amílcar o haviam utilizado, nem o próprio
Amílcar, até há poucos anos, o fizera, ou tentara fazer.

Carlos constituiu mandatário mas não contestou.

Amílcar replicou, dizendo, por um lado, que era impossível os antepassados de Bento
terem atravessado o caminho, uma vez que Bento não tinha ascendentes conhecidos, e,
por outro lado, que o tribunal não devia admitir o pedido, formulado por Bento, de
declaração de que o autor (Amílcar) não era o proprietário da parcela de terreno
correspondente ao caminho, na medida em que esse pedido não se enquadrava em
qualquer das alíneas do artigo 266º, n.º 2, do CPC.

No despacho saneador, o juiz não deu razão ao autor quanto a esta última matéria da
réplica, e mandou prosseguir a acção

Na sentença, o juiz julgou procedente a acção, condenando Bento e Carlos nos pedidos
que Amílcar formulara. Quanto ao pedido de Bento, resolveu alterar o que havia
decidido no despacho saneador e, consequentemente, julgou-o inadmissível, absolvendo
Amílcar da instância.

Analise as seguintes questões:

a) Possibilidade de recusa de recebimento da petição inicial, nos termos em que foi


recusada; (3 valores)
Ver casos de recusa de recebimento da p.i. pela secretaria (558º CPC)
A secretaria não pode recusar o recebimento com fundamento na falta de
preenchimento de pressupostos processuais

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Ver reclamação para o juiz (art. 559º)


Discutir se o juiz pode recusar o recebimento com um fundamento diferente do
invocado pela secretaria, mas elencado no art. 558º (sim, uma vez que o juiz não
há-de ter menos poderes que a secretaria; questão diferente, que aqui não se
colocava, era a de saber se o juiz podia recusar o recebimento – ou, antes,
indeferir liminarmente a p.i. – com fundamento na falta de pressupostos
processuais).

b) Admissibilidade do pedido de Bento e suas consequências processuais; (4


valores)
Ver acórdão do TRC, acima identificado. A reconvenção parece ser inútil e
como tal inadmissível, uma vez que não se distingue do pedido de
improcedência (do pedido do autor), que o réu faz: é que esta acção é de simples
apreciação negativa, parecendo que a prova dos factos constitutivos alegados
pelo réu gera uma decisão de improcedência do pedido do autor, que implica o
reconhecimento de que o autor não é o proprietário do caminho. Ou seja: quer a
improcedência do pedido do autor, quer a procedência da reconvenção teriam o
mesmo conteúdo (o reconhecimento de que o autor não era o proprietário do
caminho).
Para uma abordagem não totalmente coincidente das acções de simples
apreciação negativa, veja-se Miguel Teixeira de Sousa, no blog do IPPC:
http://blogippc.blogspot.pt/2014/03/accoes-de-apreciacao-negativa-e-onus-
da.html
http://blogippc.blogspot.pt/2014/03/accoes-de-apreciacao-negativa-e-onus-
da_28.html

Caso a reconvenção fosse admitida (eventualmente nos termos do art. 266º/2 d)),
ver as suas eventuais consequências processuais (direito de resposta do autor;
aumento do valor da causa – que na presente hipótese não se justificaria,
atendendo a que o pedido do réu não seria distinto do do autor; modificação
quanto à competência do tribunal – que neste caso também não ocorreria,
atendendo a que o valor da causa não se alterou).
Arts. 584º/1; 299º/2 e 3; 93º/2

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c) Consequências da falta de contestação de Carlos; (3 valores)

Entre B e C haveria uma coligação.


Distinguir litisconsórcio e coligação. Art. 36º CPC (pedidos discriminadamente
formulados / “pedidos diferentes”: um pedido contra B e outro contra C).
Verificar requisitos de admissibilidade da coligação (36º, 37º, 555º/1): neste
caso não se verificaria a conexão objectiva (nenhuma das circunstâncias do art.
36º se verifica).
Analisar aplicabilidade do art. 568º a) à coligação: neste caso não tinha havido
impugnação da qual C pudesse beneficiar, pelo que a al. a) não seria aplicável.
Analisar consequências processuais da revelia operante (567º).
d) Conteúdo do despacho que identificasse o objecto do litígio e enunciasse os
temas de prova; (3 valores)
Art. 596º CPC.
Discutir o que deve entender-se por objecto do litígio e temas de prova.
O objecto do litígio era a titularidade, por B, do direito de propriedade
relativamente ao caminho identificado nos autos.
Qualificar a defesa de A, relativamente ao facto constitutivo alegado por B:
impugnação de facto. Este facto era controvertido, pelo que tinha de ser
considerado para a enunciação dos temas da prova.
Os temas da prova eram saber se os antepassados de B e B usavam o caminho, e
desde quando, e qual a localização do caminho em relação ao prédio de B e de A
(aceita-se que o aluno proceda a outra enunciação, desde que fundada, até
porque se trata de figura de contornos pouco definidos).
Caso a coligação tivesse sido admitida (e não o devia ter sido) e se a revelia
de C não fosse operante (e era operante), havia a considerar ainda o pedido de
A relativamente a C: assim, o objecto desse litígio seria o direito de A de ser
indemnizado e os temas da prova seriam saber quais os danos sofridos por A e
qual o seu montante, se C disparara sobre A e em que circunstâncias, bem como
se os ferimentos sofridos por A foram causados pelos disparos.
e) Distribuição do ónus da prova na presente acção; (4 valores)
Ver distribuição do ónus da prova nas acções de simples apreciação negativa.
Art. 343º, 1, CC.

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Ver orientação comum da jurisprudência e posição do Professor MTS aqui:


http://blogippc.blogspot.pt/2014/03/accoes-de-apreciacao-negativa-e-onus-
da.html
http://blogippc.blogspot.pt/2014/03/accoes-de-apreciacao-negativa-e-onus-
da_28.html

O facto constitutivo alegado pelo réu havia sido impugnado pelo autor, pelo que
carecia de prova e, não resultando esse facto provado, devia a acção ser julgada
procedente (ou seja, o tribunal declararia que o réu não era o proprietário do
caminho).
Relativamente ao pedido de A em relação a C, caso ele tivesse sido
admitido, e caso a revelia de C não fosse operante: a A incumbiria, em tese,
provar os pressupostos da responsabilidade civil (facto constitutivo do seu
direito) e a C os factos impeditivos, modificativos e extintivos do direito à
indemnização (art. 342º, 1 e 2 do CC).
Ver função das regras do ónus da prova.
f) Possibilidade de, na sentença, o juiz julgar inadmissível o pedido de Bento. (3
valores)
Se o saneador já tivesse transitado em julgado (ver noção de trânsito em julgado:
art. 628º CPC), ter-se-ia produzido caso julgado formal quanto à questão da
admissibilidade do pedido reconvencional que tivesse sido concretamente
apreciada: a sentença violaria esse caso julgado, se apreciasse novamente a
questão concreta já decidida.
Se o despacho fosse genérico, não se colocava o problema da violação do caso
julgado.
Se ainda não tivesse ocorrido o trânsito em julgado, o problema que se
levantaria seria o da extinção do poder jurisdicional do juiz (quanto ao que já
tivesse sido decidido).
Arts. 595º/3, 1ª parte, 620º, 613º, todos do CPC.

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Exame de Direito Processual Civil II – Turma da Noite


25 de Junho de 2015
Regência: Prof. Doutor José Luís Ramos
Duração: 90 minutos

Considere a seguinte hipótese:

António, empresário em nome individual, intentou uma ação contra a sociedade anónima
Y pedindo que esta seja condenada a pagar-lhe a quantia de 100 000 Euros decorrente de
um contrato de fornecimento que alega ter sido celebrado. Indicou na petição inicial
como sede da sociedade Y a morada da sociedade por quotas Z.
Bento é administrador e gerente das sociedades Y e Z que pertencem ao mesmo grupo
empresarial, embora tenham a sua sede em moradas diferentes. A secretaria do tribunal
enviou carta registada para a morada indicada na petição inicial e Bento recebeu a carta
dirigida à sociedade Y.
A sociedade Y apresentou contestação afirmando que não celebrou qualquer contrato
com António e que o fornecimento era dirigido à empresa Z, pelo que pediu a
intervenção da sociedade Z. Alegou, à cautela por ser também beneficiária dos bens
fornecidos por António, que, em qualquer caso, não foram fornecidos todos os bens,
formulando ainda no final da contestação um pedido reconvencional de indemnização
pelos danos sofridos em consequência. A contestação não fez a separação das diferentes
formas de defesa da Ré.
António, no prazo da réplica, pediu a junção ao processo das faturas emitidas em nome
da sociedade Y.
O juiz admitiu a intervenção da sociedade Z e ordenou a sua citação. A sociedade Z
juntou procuração a favor de mandatário.
Seguidamente o juiz proferiu despacho saneador, absolvendo os réus do pedido por não
terem sido requeridos quaisquer meios de prova e as faturas terem sido apresentadas
extemporaneamente e igualmente António do pedido reconvencional porque, tendo
absolvido as rés do pedido, não era necessário conhecer do pedido reconvencional.

Responda de modo fundamentado às seguintes questões:

a) A citação da sociedade Y foi bem feita? (2 valores)


Tópico de correção: A resposta deveria descrever as formalidades do ato de
citação de pessoas coletivas. Embora se verifique irregularidade na citação por
violação do n.º 2 do artigo 246.º do CPC imputável à secretaria judicial, a mesma
não gera nulidade porque o ato chegou ao conhecimento do representante legal
da sociedade (vr. Artigo 223.º do CPC)

b) Qualifique a defesa da Sociedade Y? (4 valores)


Tópico de correção: A defesa da Sociedade Y foi feita por impugnação de facto
(não celebrou contrato), por exceção perentória modificativa (não foram
fornecidos todos os bens), mas igualmente através de uma reconvenção eventual
(pedido de indemnização de danos) (artigos 571.º e 583.º do CPC). As diferentes
modalidades de defesa do réu deveriam ser identificadas e explicadas

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c) Quais as consequências da não apresentação de réplica por parte de António? (3


valores)
Tópico de correção: A falta de apresentação de réplica tem as consequências
previstas no artigo 574.º, por aplicação do artigo 587.º, n.º 2 do CPC, em especial
para os factos alegados para fundar o pedido reconvencional. Quanto às exceções
não especificadas separadamente, não se aplica a cominação de ser considerarem
admitidos por acordo os factos (artigo 572.º, c) do CPC)

d) O facto alegado pela sociedade Y de que os bens não foram todos fornecidos tinha
que ser impugnado e que momento? (2 valores)

Tópico de correção O facto consubstanciava uma exceção perentória


modificativa. Quanto às exceções não especificadas separadamente, não se aplica
a cominação de se considerarem admitidos por acordo os factos (artigo 572.º, c)
do CPC). Como havia lugar a réplica, os factos que integram a exceção poderiam
ser impugnados neste articulado ou na audiência prévia (artigo 3.º, n.º 4 do CPC)

e) Podia ser requerida a intervenção da sociedade Z? Podia António recorrer, a final,


da decisão do juiz de chamar a sociedade Z? (3 valores).

Tópico de correção: A situação não constitui um caso de litisconsórcio que


admita a intervenção de terceiros (artigo 316.º do CPC), exceto se se configurasse
um caso de pluralidade subjetiva subsidiária (artigo 39.º do CPC), ainda assim
não caberia ao réu fazê-lo. O despacho que admita o terceiro constitui caso
julgado formal, pelo que não se poderia recorrer do mesmo a final (artigos 620.º
e 630.º do CPC).

f) Parece-lhe suficiente a fundamentação do despacho saneador nos termos em que o


fez? (4 valores)

Tópico de correção: Pretendia-se que se discutisse o momento dos requerimentos


probatórios e se ainda seria possível apresentar meios de prova, bem com da
eventual extemporaneidade dos documentos, porquanto os mesmos ainda
poderiam ser juntos ao processo ainda que com o pagamento de multa (artigo
423.º, n.º 2, do CPC). O juiz não podia decidir através de despacho saneador,
desde logo, sem realizar audiência prévia e recorrendo apenas às regras do ónus
da prova objetivo e subjetivo, considerando não provados os factos alegados pelo
autor.

(2 valores para apreciação global)

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Tópicos de correcção
a) A apresentação da contestação de B foi tempestiva? Qual o efeito da citação de B e C sobre
o decurso do prazo de prescrição? (3 valores)
(i) A contestação de B foi tempestiva, pois, terminando em dias diferentes o prazo para a
defesa por parte dos vários réus (30 dias: 569.º/1 do CPC; não havia elementos suficientes
para sabermos se havia ou não dilação: 245.º do CPC), a contestação de todos ou de cada
um deles pode ser oferecida até ao termo do prazo que começou a correr em último lugar
(569.º/2 do CPC);
(ii) Tópico incidental: Inoperante revelia de C, ex 568.º, a), relativamente aos factos que B
contestou;
(iii) Efeito da citação de B e C sobre o decurso do prazo de prescrição:
a. Tópico incidental: B e C deviam a A € 15.000 pelo aluguer do automóvel, tendo
incorrido em mora em 20.7.2010 (805.º/2, a), do CC). O crédito em questão estava
sujeito ao prazo quinquenal de prescrição (310.º, b), do CC) – isso mesmo é sugerido no
enunciado: “o direito ao pagamento do aluguer sempre teria prescrito pelo decurso do
prazo de 5 anos”. Prazo de prescrição terminava em 20.7.2015 (279.º, c), do CC);
b. efeitos processuais da citação e efeitos substantivos da citação, dentre os quais, com
relevo para o presente caso, a interrupção da prescrição (323.º/1 do CPC);
c. a ficção do 323.º/2 do CC de que a prescrição se tem por interrompida, ainda que a
citação não haja ocorrido, 5 dias após a propositura da acção, desde que o atraso na
citação não seja imputável ao autor:
i. no presente caso, o atraso na citação de C foi imputável ao autor, uma vez que
A indicou uma morada de C que sabia não ser a correcta;
ii. contudo, a ficção do 323.º/2 do CC aplica-se à citação de B, pelo que, quanto a
ele, o prazo prescricional não decorreu (todavia, a prescrição que ocorra em
relação a um dos devedores não se estende aos demais: 521.º do CC, não
obstante o regime em sede de relações internas).
d. Tópico incidental: 279.º, e), do CC, não se aplica a prazos prescricionais (embora a
jurisprudência oscile) – as férias judiciais decorrem entre 16 de Julho e 31 de Agosto
(28.º da LOSJ).

b) Qualifique a defesa de B. (4 valores)


(i) “contesta alegando que nunca celebrara semelhante contrato [de aluguer]”: impugnação de
facto.
(ii) “ainda que assim não se entenda, não apenas o direito ao pagamento do aluguer sempre
teria prescrito pelo decurso do prazo de 5 anos”: excepção peremptória extintiva (de
obrigação civil) (embora subsista enquanto obrigação natural: 304.º/2 do CC – o que leva a
que possa ser também qualificada como excepção peremptória modificativa, como defende
o Prof. MTS), alegada de forma subsidiária.

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(iii) “deveria considerar-se compensado [o crédito de A] com crédito de igual montante que
tinha contra A, a qual lhe emprestara e que este nunca devolvera”: reconvenção ou
excepção peremptória extintiva? Alegada em termos subsidiários – pedidos subsidiários
(554.º/1). Valor da causa na reconvenção (297.º) – trib. compet. (93.º). Neste caso, a
reconvenção deveria ter sido expressamente identificada e deduzida separadamente na
contestação, o que parece não ter sido o caso (583.º/1 do CPC). Discussão sumária:
excepção peremptória extintiva / reconvenção; os termos da questão com o CPC 2013
(266.º/2, c)).

c) Consequências da inércia de A no seguimento da contestação de B. (4 valores)


(i) considerando-se que B reconviera e que o fizera nos termos do 583.º/1, regularmente citado
A, a falta de apresentação da sua réplica teria o efeito previsto no 574.º;
(ii) relativamente ao contrato de mútuo entre A e B e à existência e exigibilidade do respectivo
crédito de restituição do capital, uma vez que se trata de crédito de montante superior a €
2.500 – “com crédito de igual montante [aos € 15.000 da compra do automóvel]” –, só
poderia ser provado por documento escrito assinado pelo mutuário (1143.º do CC), o qual
não foi junto aos autos. Nestes termos, o facto para cuja forma era necessário documento
não era passível de admissão nos termos e para os efeitos do 574.º/2;
(iii) quanto à excepção de prescrição, A deveria ter aproveitado a réplica para responder à
mesma, a qual serve como o último articulado admissível para efeitos do 3.º/4 do CPC, sob
pena de preclusão do direito de resposta. Caso na petição inicial, A tivesse alegado a
ocorrência de algum facto do qual resultasse a impossibilidade da prescrição, a admissão por
acordo já não se produziria, por estar em oposição com a “defesa” no seu conjunto.

d) Comente o indeferimento da habilitação de D. (3 valores)


(i) Não era possível que o juiz indeferisse a habilitação de D, pois:
a. nos termos do 356.º/1, b), 2.ª parte, “não falta de contestação, verifica-se se o
documento prova a aquisição ou a cessão e, no caso afirmativo, declara-se
habilitado o adquirente ou cessionário” (cf. também o 263.º/2). O juiz apenas pode
indeferir a habilitação no caso de tornar mais difícil a posição da parte no processo,
na hipótese de isso mesmo ter sido alegado.
b. Por outro lado, não basta que objectivamente estejamos perante um acto que torne
mais difícil a posição da parte no processo, sendo necessário que a transmissão
tenha sido feita com esse propósito, o que carece de demonstração.
c. Por último, o erro sobre o objecto gera mera anulabilidade, quando, em rigor, o juiz
apenas pode conhecer oficiosamente da nulidade do título de transmissão;
(ii) Legitimidade do transmitente (263.º/1 e 2).

e) Era possível a ampliação do pedido de A? (4 valores)

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(i) O autor pode ampliar o pedido até ao encerramento da discussão em 1.ª instância, se a
ampliação for o desenvolvimento ou a consequência do pedido primitivo (265.º/2):
neste caso, estamos perante um pedido que é (acessório e) desenvolvido a partir do
conteúdo inicial do direito a que se refere (crédito ao pagamento do aluguer), o que
traduz, de facto, uma ampliação do pedido, para os efeitos do 265.º/2. Foi tempestiva a
ampliação do pedido? Foi, entendido o “encerramento da discussão em 1.ª instância”
como prolongando-se até ao fim dos debates a que se refere o 604.º/3, e);

f) Descreva o conteúdo do despacho que o juiz proferisse com a identificação do objecto do


litígio e dos temas da prova. (3 valores)
(i) Enumeração dos temas da prova:
a. Saber se foi celebrado o contrato de aluguer do automóvel entre A, B e C, nos termos
alegados por A, e, no caso afirmativo, saber se B e C procederam à entrega do
automóvel no termo do contrato.
b. Saber se decorreram mais de 5 anos entre a data do vencimento da obrigação e a data
em que foi intentada a presente acção.
c. Saber se B celebrou com A contrato de mútuo mediante o qual lhe emprestou € 10.000
e, no caso afirmativo, saber se o crédito invocado por B contra A é susceptível de
compensação.
(ii) Identificação do objecto do litígio:
a. Pedido de condenação de B e C à devolução do automóvel, ao pagamento do aluguer e
das respectivas indemnizações moratórias.
b. Pedido de condenação de A ao pagamento a B de € 15.000 a título de empréstimo,
compensando os respectivos créditos;

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Exame de Direito Processual Civil II – NOITE (Coincidências)


Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
28 de Julho de 2015
Duração: 1h30m

Considere a seguinte hipótese:


Alberto vendeu a Bruno e a Carlos uma mota, pelo preço de 5.000 euros. Depois de
várias insistências, sem êxito, no sentido do pagamento do preço, Alberto moveu uma
acção contra Bruno e Carlos, exigindo tal pagamento, bem como o pagamento de uma
outra dívida, muito antiga, que Bruno tinha para com ele.
Apenas Bruno contestou, dizendo nada ter a pagar, porquanto a mota havia sido, na
verdade, oferecida a Bruno e ao seu irmão Carlos, como prova de gratidão por umas
férias que Alberto havia passado na casa dos dois irmãos. Relativamente à dívida
antiga, Bruno aceitou a sua existência, referindo todavia que a mesma já se encontrava
prescrita, por ter sido contraída há 10 anos.
Carlos foi citado editalmente, juntou aos autos procuração passada a advogado, mas
não contestou.
Alberto não respondeu, mas apresentou um requerimento, solicitando a inquirição de
Dora e Eduarda como testemunhas. Pediu ainda o depoimento de parte de Bruno
relativamente a um facto que este havia alegado na contestação: o de que Alberto
havia passado férias em casa de Bruno e Carlos.
Findos os articulados, o juiz proferiu despacho, indeferindo liminarmente a petição
inicial, por entender que sendo Bruno e Carlos emigrantes em França, os tribunais
portugueses eram absolutamente incompetentes.
Notificado deste despacho, Alberto reclamou, alegando que o juiz não podia indeferir
liminarmente a petição inicial naquela fase do processo, e o juiz, reconsiderando,
revogou o anterior despacho e ordenou o prosseguimento dos autos.
No despacho saneador, o juiz absolveu Bruno e Carlos de todos os pedidos,
considerando que não se provara a venda da mota e que a dívida antiga já estava
prescrita. Inconformado, Alberto propõe nova acção, noutro tribunal, pedindo a
devolução da mota, com fundamento em incapacidade acidental, aquando da doação
da mota.

Responda de modo fundado às seguintes questões:

1) Como qualifica a defesa de Bruno? (3 valores)


Impugnação de facto indirecta; excepção peremptória modificativa
2) Quais as consequências da falta de contestação de Carlos? (3 valores)
Revelia inoperante, aproveita-lhe a contestação de B relativamente aos factos
impugnados, os outros consideram-se admitidos por acordo (por ex.
eventualmente o facto da entrega da mota); a excepção peremptória não lhe
aproveita, quer por o art. 568º a) apenas se referir à impugnação, quer porque
relativamente a esse pedido se verificava uma coligação (cuja admissibilidade
não decorreria de identidade de causas de pedir ou de necessidade de
apreciação dos mesmos factos)
3) Teria Alberto direito de resposta? E podia apresentar aquele requerimento
probatório? (4 valores)

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Só havia direito de resposta relativamente à excepção peremptória, nos termos


do art. 3º/4 (ver também 597º, supondo que o valor da causa não excedia
15.000 euros). Podia requerer a inquirição de D e E, mas apenas se tivesse
indicado alguma testemunha na p.i., e para proceder a alteração do rol, nos
termos do art. 552º/2, parte final. O depoimento de parte era inadmissível,
quer por não ser lícito requerê-lo pela primeira vez no prazo do art. 552º/2,
parte final, quer porque incidia sobre factos indicados na contestação e, por
isso, favoráveis ao depoente (não se dirigia, portanto, à obtenção da confissão)
4) Podia o juiz indeferir liminarmente a petição inicial, nos termos em que o fez?
(3 valores)
Já tinha passado a oportunidade do despacho liminar, porque os réus já tinham
sido citados e apresentada contestação. Ver 590º/1 e 226º/4. Ver
incompetência absoluta como fundamento de indeferimento liminar (não fora
o problema da inoportunidade, tal seria possível). O despacho era nulo, por
implicar a prática de acto que a lei não previa.
5) Podia o juiz revogar o despacho que indeferiu a petição inicial? (3 valores)
Já se tinha extinguido o poder jurisdicional (613º). Ver 590º/1 e 560º, sem
prejuízo da possibilidade de recurso ou reclamação, nos termos gerais.
6) Podia Alberto propor a nova acção, pedindo a devolução da mota? (4 valores)
O pedido e a causa de pedir seriam diferentes, pelo que não se colocaria o
problema da excepção de caso julgado ou de litispendência (consoante já
tivesse ou não ocorrido trânsito em julgado).

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Direito Processual Civil II


Exame de 1.ª Época – 3.º ano – Turma da noite
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
7 de junho de 2016
120 minutos

Abel e Bernardete são casados no regime de comunhão de bens adquiridos. No dia 1 de


janeiro de 2015, Abel comprou a Daniel um automóvel que se destinava a ser utilizado
na vida quotidiana da família, mediante o pagamento de €24.000,00. Abel acordou com a
vendedora que o preço seria pago em 48 prestações mensais de €500,00. Carlos acordou
ser fiador de Abel. Como Abel não pagou a prestação relativa ao mês de abril, em 1 de
junho de 2016, Daniel decide propor acção contra Carlos e Abel, pedindo a
condenação de ambos: (i) no pagamento da prestação em dívida; (ii) no pagamento de
todas as prestações em falta, até à execução total do contrato.
Na contestação, Carlos alega que deve ser absolvido da instância, uma vez que,
beneficiando da excussão prévia dos bens de Abel, é parte ilegítima na presente ação (art.
638.º CC). Abel alega que o automóvel comprado padece de um defeito nos travões que
compromete a segurança da sua condução e que não deve pagar qualquer prestação
enquanto o vício não for reparado (art. 428.º CC).

I. Responda, de forma sucinta e fundamentada, às questões seguintes:

1. Aprecie a legitimidade ativa e passiva para o pedido formulado por Daniel (4


valores)

Entre Carlos e Abel existe listisconsórcio passivo, voluntário e comum (arts. 641.º CC e
32.º/2 CPC). A dívida emergente do contrato de compra e venda do automóvel era
comunicável (art. 1691.º, al. b) CC). Sendo Abel e Bernardete casados no regime da
comunhão de bens adquiridos, e de acordo com o sentido da doutrina dominante, este
seria um caso em que o credor pretenderia obter uma decisão susceptível de ser
executada sobre os bens do cônjuge que a não contraíu, para os efeitos previstos no art.
34.º/3, 2.ª parte CPC. Não tendo a ação sido proposta também contra Bernardete,
estaríamos diante a preterição de um litisconsórcio necessário, o que constitui uma
exceção dilatória nominada (art. 577.º, al. e)), de conhecimento oficioso (art. 578.º), e

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sanável mediante a sua intervenção (espontânea ou provocada) no processo, sob pena de


absolvição dos réus da instância (art. 278.º/1, al. d)). Note-se que a intervenção de
Bernardete poderia ser suscitada até 30 dias após o trânsito em julgado da decisão que
houvesse posto termo ao processo com fundamento na exceção (não suprida até então)
de ilegitimidade (art. 261.º/2).
Importava, ainda, esclarecer que não existia aqui uma coligação, visto que os dois
pedidos foram deduzidos de forma indiferenciada contra ambos os réus.

2. Poderia o tribunal considerar provada a celebração do contrato de compra e


venda do automóvel a partir de uma confissão de Abel? (3 valores)

A confissão é um meio admissível para fazer prova da celebração do contrato de compra


e venda, uma vez que se tratava de um contrato não sujeito a um requisito de forma (ad
substantiam ou ad probationem) nos termos do art. 354.º, al. a), do CC. A solução seria
outra caso as partes hpuvessem reduzido o contrato a escrito (art. 364.º/1 CC). No
processo, a confissão poderia fazer-se nos articulados ou em momento ulterior,
designadamente, na audiência de julgamento, no depoimento prestado pela parte (arts.
452.º e ss. CPC).

3. Imagine que, na sentença, o tribunal absolve Abel e Carlos do segundo pedido


deduzido pelo autor, com fundamento na falta de decurso do prazo para o
vencimento da obrigação (3 valores)

Uma vez que o prazo importava apenas para o vencimento da obrigação, e que o autor
parece configurar a obrigação como imediatamente exigível, a situação em presença
parece recair na previsão da al. a) do n.º 2 do art. 610.º CPC (sentença de condenação in
futurum). Não tendo os réus impugnado a existência da obrigação, os RR. deveriam ser
condenados no pedido deduzido por Daniel, ficando as custas, no entanto, a cargo deste
(art. 610.º/3 CPC).

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4. Suponha que, findo o julgamento, o tribunal se encontra em dúvida sobre a falta


de pagamento da prestação e, bem assim, sobre a existência de um defeito do
veículo objeto do contrato. Na sentença, o juiz condena Abel e Carlos no
pagamento da prestação em falta e Daniel no cumprimento da obrigação de
reparação do veículo. Aprecie o conteúdo da sentença proferida (4 valores)

Em primeiro lugar, o tribunal não deveria estar em dúvida sobre a falta do cumprimento
da obrigação, uma vez que esta acaba por ser tacitamente confessada, por Carlos quando
invoca o benefício da excussão prévia dos bens de Abel, mas também pelo próprio Abel,
ao alegar a exceptio non adimpleti contractus. A confissão, judicial e sob a forma escrita, tem
força probatória plena (art. 358.º/1 CC), e o tribunal não deveria ter deixado de dar este
facto como provado (arts. 596.º e 607.º/4 CPC).
Sem prejuízo do que acaba de dizer-se, o cumprimento constitui uma exceção perentória
extintiva e o ónus da prova competia ao réu (art. 342.º/2 CC); por conseguinte, a dúvida
sobre a sua verificação teria de resolver-se assumindo como verdadeiro o facto contrário,
ie., o facto de que não ocorrera o cumprimento (art. 414.º CPC). Também a prova da
existência de um defeito, como argumento para a invocação da exceção de não
cumprimento (excepção perentória modificativa), competiria a Abel (art. 342.º/2 CC). A
condenação de Abel e de Carlos no pagamento das prestações reclamadas por Daniel
seria, pois, justificada.
Relativamente à condenação de Daniel na eliminação do defeito, estar-se-ia diante de
uma violação do princípio do pedido (art. 609.º/1), visto que o defeito é invocado por
Abel como fundamento da absolvição do pedido de condenação no pagamento do
preço, ou seja, como exceção perentória modificativa, e não como causa de um pedido
reconvencional; logo, a sentença seria, nesta parte, nula (art. 615.º, al. e)).

5. Imagine que Abel e Carlos são condenados no pedido formulado por Daniel.
No entanto, como o defeito dos travões do automóvel não foi reparado, alguns
meses mais tarde, Abel propõe uma ação contra Daniel, pedindo uma
indemnização por não ter podido usufruir do automóvel (art. 798.º CC). Nesta
ação, porém, o tribunal julga improcedente o pedido, por não ter ficado
convencido quanto à celebração de um contrato entre as partes. Quid juris? (3
valores)

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Não se verificava qualquer exceção dilatória de caso julgado, uma vez que o pedido e a
causa de pedir não são os mesmos nas duas ações (art. 580.º e 581.º). Acresce que a
existência de um contrato não se encontrava, à partida, coberto pelo caso julgado da
primeira decisão, visto que ele se esgota na parte dispositiva e nos fundamentos que são
dela indissociáveis; a existência do contrato não foi objeto de um pedido de simples
apreciação pelo Autor, nem o réu pedira a condenação do autor no cumprimento direito
à eliminação do defeito (art. 266.º/2, al. a)) ou a apreciação incidental da exceção
deduzida (art. 91.º/2). Por outro lado, as decisões não deixam de ser contraditórias (art.
625.º), visto que um dos pressupostos – a celebração do contrato – é apreciado de forma
contraditória: embora não se possa dizer que está em causa uma situação de
prejudicialidade (perfeita) da primeira decisão face à segunda, justifica-se, também neste
tipo de situações, a extensão do caso julgado aos fundamentos da decisão, de modo a
evitar que, por uma via processual, o contrato de compra e venda se convolasse num
contrato unilateral, não sinalagmático. A contradição seria evitada por via da autoridade
do caso julgado, que, diversamente da exçeção do caso julgado, impõe uma obrigação de
repetição da decisão anterior relativamente a um dos seus fundamentos.

II. Comente, de forma sucinta e fundamentada, a afirmação seguinte:

«À luz do direito português, a revelia, mesmo a absoluta, não implica a condenação do réu no pedido» (3
valores)

- Distinção entre a revelia relativa e a revelia absoluta;


- Delimitação entre as hipóteses em que a revelia é operante e aquelas em que a
reveia é inoperante;
- Consequências da operância e da inoperância da revelia para a tramitação do
processo comum;
- A revelia inoperante não conduz, naturalmente, à condenação no pedido, uma
vez que os factos alegados pelo autor não se consideram confessados, recaindo
sobre o autor, nos termos gerais, o ónus da prova dos factos constitutivos do seu
direito.

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- Mas tão-pouco a revelia operante implica a procedência do pedido, porquanto a


dispensa de prova quanto aos factos alegados pelo autor pode, para tal, revelar-se
insuficiente. Assim sucede quando se verificar uma exceção dilatória de
conhecimento oficioso (hipótese de absolvição do réu da instância), quando se
verificar uma exceção perentória de conhecimento oficioso, nas situações de
inconcludência dos factos alegados pelo autor, de verificação de uma exceção
perentória de conhecimento oficioso ou, ainda, quando o direito aplicável ao caso
não reconhecer procedência à pretensão deduzida (hipóteses em que o réu deve
ser absolvido do pedido).

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Direito Processual Civil II – Turma da Noite – Coincidências – Regente: Professor Doutor José
Luís Ramos – 29 de Junho de 2016 – Duração da prova: 2 horas
Considere a seguinte hipótese:
Abel e Bento são talhantes, tendo comprado em 1 de Abril de 2014, cada um para o seu
próprio talho, uma determinada quantidade de carne de vaca a Caio, que se dedica à criação
de gado bovino. Sucede que nem Abel nem Bento pagaram a Caio a mercadoria que
compraram, uma vez que, logo depois dos negócios, surgiram notícias acerca dos malefícios da
carne vermelha, as quais afugentaram os potenciais clientes dos seus talhos.
Inconformado, Caio pede, numa mesma acção judicial que contra eles propõe, a condenação
de Abel e de Bento, respectivamente, no pagamento de 5.000 euros e de 6.000 euros.
Nem Abel nem Bento contestam, apesar de terem sido citados por via postal registada. No
prazo da contestação, porém, o tutor de Abel requer a junção ao processo de certidão da
sentença de interdição de Abel, por anomalia psíquica.
Já depois do prazo da contestação, Caio vem requerer ao juiz a sua própria inquirição, bem
como a de Bento. Simultaneamente, requer a junção ao processo de um papel, por si assinado,
no qual manifesta a intenção de não prosseguir a acção em relação a Abel, por razões
humanitárias.
Notificado do requerimento de Caio, Bento requer igualmente a sua própria inquirição e a de
Caio.
O juiz profere então despacho saneador, condenando Bento no pedido e julgando extinta a
instância em relação a Abel, em virtude de desistência. Relativamente a Bento, fundamentou a
sua decisão na circunstância de estarem assentes, por confissão, os factos alegados por Caio
na petição inicial, não sendo necessário produzir mais provas.
Nem Bento nem Abel recorrem do despacho saneador mas, um ano depois da sua notificação
às partes, Bento propõe contra Caio uma acção de anulação do contrato que ambos haviam
celebrado em 1 de Abril de 2014, alegando erro sobre o respectivo objecto.
Nesta acção resolve intervir Abel, que entretanto ficara mentalmente são, pedindo igualmente
a anulação do contrato que, também em 1 de Abril de 2014, celebrara com Caio, e pelos
mesmos fundamentos.
Analise as seguintes questões:
1) Admissibilidade da demanda conjunta de Abel e Bento, na 1ª acção; (3 valores)
Trata-se de coligação passiva, eventualmente admissível à luz do art. 36º/2, parte final
(“cláusulas de contratos perfeitamente análogas”): não seria, de qualquer modo, um
caso de coligação fundada na mesma causa de pedir, uma vez que os pedidos
emergem de contratos diferentes. Não estando preenchida a previsão do 36º/2, parte
final (o que a hipótese não permite concluir com segurança), seria de aplicar o art. 38º;
estando preenchida, seria de verificar adicionalmente os requisitos processuais do art.
37º (em princípio preenchidos)
2) Consequências da falta de contestação de Abel e Bento; (3 valores)
O art. 568º b), 1ª parte, estende o regime da revelia inoperante ao não contestante
que não seja incapaz, o que significa que a revelia seria inoperante em relação a A e a
B. Seguem-se os termos normais do processo, apenas não havendo audiência prévia
(592º/1 a)).
3) Admissibilidade dos requerimentos probatórios das partes da 1ª acção; (3 valores)

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Ao requerer a sua própria inquirição, C está a tempo, porque ainda não começaram as
alegações orais (art. 466); mas já não está a tempo de requerer o depoimento de parte
de B, uma vez que o devia ter feito na p.i. (a menos que pretenda alteração de
requerimento probatório aí feito, o que não parece ser o caso).
Quanto a B, está a tempo de requerer a sua própria inquirição (art. 466); mas é muito
duvidoso que possa requerer o depoimento de parte de C, uma vez que sendo embora
inoperante a sua revelia, já tinha decorrido o prazo para apresentar esse requerimento
probatório (que era o prazo da contestação)
4) Legalidade do despacho saneador proferido na 1ª acção; (3 valores)
Relativamente a A tinha havido desistência da instância (art. 285/2), não dependente
de aceitação de A, uma vez que este não tinha contestado (art. 286º/1). A forma
parece preenchida (documento particular: art. 290º/1). O juiz devia homologar a
desistência e julgar extinta a instância, sem apreciar o pedido nem decidir sobre o
mesmo (art. 290º/3), o que podia fazer no saneador, como fez.
Quanto a B, o despacho era ilegal, uma vez que a revelia era inoperante.
5) Admissibilidade da 2ª acção; (3 valores)
Ao condenar B no pedido de pagamento do preço, na 1ª acção, o juiz considerara
válido o contrato, sendo esse fundamento indissociável da decisão: como tal, essa
decisão sobre esse fundamento fazia caso julgado material, nos termos do art. 619º/1.
Ao pretender discutir de novo a validade do contrato, B questiona esse caso julgado.
Na 2ª acção não seria invocável a excepção de caso julgado (581º), uma vez que o
pedido era diferente; mas seria invocável a autoridade do caso julgado (619º/1), o que
levaria a que, impondo-se a decisão sobre a validade do contrato, a 2ª acção fosse
julgada improcedente.
6) Admissibilidade da intervenção de Abel na 2ª acção. (3 valores)
Relativamente a A a decisão da 1ª acção não produzia caso julgado material, uma vez
que essa decisão (desistência da instância) incidia sobre a relação processual, e não
sobre o pedido. Portanto, a impossibilidade de A intervir na 2ª acção não radicava no
caso julgado material. O problema era outro: tratar-se-ia de uma intervenção
coligatória, sem suporte no art. 311º e por isso inadmissível

Comente a seguinte afirmação:


“Em processo civil declarativo o ónus da prova não é, diferentemente do ónus de contestar,
um verdadeiro ónus” (2 valores)
A afirmação é, em grande parte, verdadeira. O ónus da prova não é verdadeiro ónus, quer
porque a parte pode beneficiar da actividade probatória da parte contrária, do comparte e do
juiz, quer porque a livre apreciação das provas, relativamente aos meios de prova submetidos
à livre apreciação, impede que a actividade probatória da parte signifique necessariamente
uma decisão de facto a ela favorável. Quanto ao ónus de contestar, só não é verdadeiro ónus
nos casos excepcionais de revelia inoperante, pelo que pode ainda ser qualificado como um
ónus (o seu não cumprimento acarreta desvantagens para a parte).

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Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa – Exame de Direito Processual Civil II


(Recurso) – Turno da Noite – Regente: Professor Doutor José Luís Ramos – 18.7.2016

Duração: 2h

Considere a seguinte hipótese:

Acácio vendeu a Bela, sua afilhada, uma moradia em Faro de que era proprietário, pelo preço de
30.000 euros.

Mais tarde, Acácio seria interditado por anomalia psíquica, pretendendo o respectivo tutor,
Carlos, anular a referida venda com fundamento em coacção moral, atendendo a que Bela várias
vezes havia ameaçado Acácio com o internamento num lar, caso não lhe vendesse a moradia de
Faro. Alega ainda que o preço da venda fora muito abaixo do preço de mercado, pelo que ainda
que a coacção moral não ficasse demonstrada, a venda devia ser anulada por aquele
fundamento.

Na petição arrola 3 testemunhas, uma delas a própria Bela.

Bela contesta, alegando:

a) Que Acácio não concretizara minimamente os factos em que se traduzia a referida


coacção moral, pelo que a petição era inepta, devendo ser absolvida da instância;
b) Que já há vários anos não tinha qualquer contacto com o padrinho, tendo as
negociações para a venda da moradia decorrido entre os respectivos advogados, pelo
que era impossível ter tido sequer a oportunidade de ameaçá-lo;
c) Que Acácio era, na verdade, o seu pai, devendo ser reconhecida a relação de parentesco
entre ambos, na presente acção.

Na contestação, requer o seu próprio depoimento de parte e, bem assim, arrola 20 testemunhas.

Acácio replica, apenas para dizer que o pedido de reconhecimento da relação de parentesco
entre ele e Bela era absurdo, uma vez que tinha 60 anos e Bela 50.

No despacho saneador, o juiz absolve Acácio do pedido de Bela de reconhecimento da relação


de filiação entre ambos, com fundamento em já terem decorrido mais de 10 anos desde a
maioridade de Bela (arts. 1817º/1 e 1873º do CC).

Na audiência final, todas as testemunhas arroladas por Acácio e Bela depõem no sentido de
desconhecerem a existência de qualquer contacto entre Acácio e Bela nos últimos 20 anos.
Acácio requer então ao tribunal para ser ouvido como testemunha, requerimento que o tribunal
defere.

Atendendo a que o depoimento de Acácio fora especialmente convincente, ao relatar vários


encontros que recentemente tivera com Bela e afirmações ameaçadoras que esta lhe dirigira, o
juiz, na sentença, condena Bela no pedido de anulação do contrato.

Um ano depois, Bela intenta uma acção contra Acácio num outro tribunal, pedindo que fosse
declarada a validade da compra e venda da moradia de Faro.

Analise as seguintes questões:

1) Objecto da acção instaurada por Acácio (2 valores);

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O pedido era único, mas havia duas causas de pedir em relação de subsidiariedade. A 1ª
consistia no facto concreto em que a coacção moral se traduzia (aqui, devia ser referido
que a indicação desse facto concreto não podia faltar, sob pena de ineptidão da petição
inicial, insanável; se, porém, a indicação tivesse sido feita – como parecia ter sido –, o
problema não era de ineptidão, mas de deficiência da p.i., justificadora de proferimento
de despacho pré-saneador); a 2ª causa de pedir ou era o erro (mas então o facto não
tinha sido minimamente concretizado, o que implicava ineptidão da p.i., nessa parte) ou
a própria circunstância de o preço ser baixo (mas então a acção seria improcedente,
porque de acordo com o CC a anulação não pode fundar-se em tal facto).
Arts. 186, 581/4, 590
2) Possibilidade de a secretaria recusar o recebimento da petição inicial, por esta não vir
assinada por advogado; (1 valor)
Trata-se de vício que a secretaria não pode controlar, por dizer respeito à falta de
preenchimento de um pressuposto processual, pelo que se a secretaria recusasse o
recebimento com tal fundamento podia haver reclamação para o juiz.
Arts. 558, 559
3) Qualificação da defesa de Bela (3 valores);
Excepção dilatória (ineptidão da p.i,), que devia ser julgada improcedente, porque havia
sido feita uma indicação mínima do facto concreto em que se traduzia a coacção moral
(ameaça de internamento num lar)
Impugnação de facto indirecta
Pedido reconvencional inadmissível, por falta de conexão objectiva e por dever ser
formulado em acção especialmente intentada para esse fim
Arts. 571, 576, 266/2. Art. 1869 CC
4) Admissibilidade dos requerimentos probatórios das partes (4 valores);
A não podia ter arrolado B como testemunha (art. 496), mas podia ter requerido o seu
depoimento de parte (art. 453/3)
A podia arrolar 3 testemunhas (art. 511/1)
Seria na p.i, que tais requerimentos deviam ser feitos (552/2)
B não podia requerer o seu próprio depoimento de parte (453/3), mas podia requerer as
suas declarações de parte (466)
As 20 testemunhas obedecem ao limite do 511/2, no pressuposto de que 10 são para a
reconvenção
Seria na contestação que os requerimentos deviam ser feitos (572-d), à excepção da
prova por declarações de parte, que podia ser mais tarde (466).
Assim, A podia requerer as suas declarações de parte depois da produção da prova
testemunhal em audiência final, desde que antes das alegações orais (o que parece ter
sucedido). O problema era A ser interdito por anomalia psíquica (arts. 453/1 e 466/2),
pelo que não podia prestar declarações.
5) Admissibilidade da réplica e consequências da sua eventual omissão (2 valores)
A replica apenas para impugnar a causa de pedir do pedido reconvencional, o que podia
fazer (584/1). Se o não fizesse, aplicava-se o 587/1 (embora o efeito cominatório não
obstasse à procedência das excepções dilatórias, nos termos gerais).
Podia também ter aproveitado a réplica para responder à excepção dilatória invocada
por B, embora também o pudesse fazer nos termos do art. 3-4
6) Legalidade do despacho saneador (3 valores);
O juiz devia ter absolvido da instância (e não do pedido) reconvencional, porque a
reconvenção não preenchia o requisito da conexão objectiva (266/2).
A absolvição do pedido levantava ainda a questão da prolação de decisão-surpresa,
porquanto o facto de conhecimento oficioso (a caducidade do direito de acção: art.
333/1 CC) não fora discutido pelas partes (arts. 3-3 e 195-1)
7) Legalidade da sentença (2 valores)
O problema era o de saber se o juiz podia fundamentar a sentença apenas nas
declarações de parte de A (que, no caso, ainda levantavam o problema de A ser interdito
por anomalia psíquica, sendo, como tal, inadmissíveis). O art. 466 não o proíbe e o

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problema não é essencialmente diverso do da admissibilidade da prova de certo facto


apenas com base num único depoimento testemunhal, que é em geral aceite, sem
prejuízo do respeito pelas máximas da experiência e do dever de fundamentação.
8) Admissibilidade da última acção de Bela (3 valores)
Se já tivesse ocorrido o trânsito em julgado da decisão (art. 628), verificava-se a
excepção de caso julgado; se não, a de litispendência.
Arts. 580, 581. É indiferente que seja ou não a mesma a posição das partes no segundo
processo, podendo ser autor na 2ª acção o réu da 1ª e vice-versa. O pedido também é o
mesmo, porque na 2ª acção se pretende uma solução do litígio incompatível com a
adoptada na decisão da 1ª acção (esta excluíra a possibilidade de A não ter direito à
anulação do contrato). A causa de pedir é a mesma porque o mesmo pedido se baseia
em causa de pedir que, ou é concorrente com a da 1ª acção (não verificação da coacção
moral), ou nada acrescenta à da 1ª acção (não verificação de outros fundamentos de
anulabilidade e/ou nulidade).

FIM

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Tópicos de correcção

Exame de Direito Processual Civil II – Turma da Noite – Regência: Professor Doutor José Luís
Ramos – Recurso (Coincidências) – 28/7/2016 – Duração: 2 horas

Considere a seguinte hipótese:

Abel é proprietário de uma moradia, circundada por um terreno que Bento, seu vizinho,
frequentemente atravessa no seu jogging matinal.

Certo dia, Bento decide entrar na casa de Abel para lhe pedir um copo de água e Dog, o cão de
Abel, supondo que se tratava de um ladrão, ataca-o violentamente, causando-lhe ferimentos
que motivaram o seu internamento hospitalar durante 15 dias, bem como a impossibilidade de
participação num campeonato de atletismo em que era o favorito para a medalha de ouro.

Confrontado com a recusa de Abel em pagar-lhe os prejuízos, Bento demanda-o judicialmente,


pedindo o pagamento de uma indemnização no valor de 40.000 euros, correspondentes às
despesas hospitalares que tivera, bem como ao prémio que, com toda a probabilidade, iria
ganhar e acabara por perder.

Na contestação, Abel alega que teria sido impossível Bento receber qualquer prémio de
atletismo, uma vez que eram conhecidos os seus problemas de doping e, bem assim, pede a
condenação de Bento e de Clotilde, mulher de Bento, no pagamento de uma indemnização no
valor de 10.500 euros pela súbita morte de Dog, por envenenamento que imputava ao casal.

Bento responde, dizendo que nunca se dopara e, bem assim, rejeitando qualquer
responsabilidade, sua ou da mulher, pela morte de Dog. Aproveita a resposta para alegar que,
entretanto, sofrera novo prejuízo, desta vez no montante de 5.000 euros, em virtude de uma
deslocação a Londres para um tratamento médico. Com a resposta, arrola 10 testemunhas,
junta facturas hospitalares, requer a inquirição de Abel pelo tribunal e, bem assim, a realização
de um exame de sangue a si próprio.

Na audiência prévia, Abel requer a inquirição do veterinário que atestara o óbito de Dog e,
bem assim, a sua própria inquirição pelo tribunal.

Na sentença, o juiz, entre o mais, condena Bento e Clotilde a pagar 10.500 euros a Abel.

Analise as seguintes questões:

a) Possibilidade de o juiz indeferir liminarmente a petição inicial, com fundamento na


circunstância de, nesta, Bento não ter especificado os ferimentos que Dog lhe causara;
(3 valores)
Referir os casos em que o despacho liminar é admissível (art. 226º/4)
Analisar a possibilidade (não prevista na lei – art. 590º/1 – mas admitida na doutrina)
de proferimento de despacho de aperfeiçoamento, em vez de indeferimento liminar
Referir a distinção entre articulado deficiente e falta de indicação da causa de pedir,
esta geradora de ineptidão da p.i. (186º/2-a), insanável

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b) Qualificação da defesa de Abel e admissibilidade do pedido formulado na contestação;


(3 valores)
Sendo a causa de pedir integrada pelos factos concretos que constituem pressupostos
da responsabilidade civil (581º/4), Abel impugna o dano da perda de chance
(impugnação de facto indirecta)
O pedido reconvencional não é admissível, por falta de conexão objectiva (não
preenchimento de qualquer das alíneas do 266º/2)
c) Caso este pedido fosse admitido pelo juiz, consequências dessa admissão na marcha
subsequente do processo; (3 valores)
Referir que, a ser admitido, o pedido reconvencional determinaria aumento do valor
da causa, por sua vez alterador da competência do tribunal em razão do valor da causa
(o processo seria remetido da secção de competência genérica da instância local para
a secção cível da instância central). Arts. 299º/2 e 3 e 93º/2; Art. 117º/3 LOSJ
Determinaria também a possibilidade de réplica (art. 584º/1)
d) Admissibilidade da resposta de Bento; (3 valores)
Como Abel não tinha deduzido excepções, apenas era admissível a réplica para
responder à reconvenção (art. 584º/1), caso esta tivesse sido admitida.
Podia também alegar na réplica factos objectivamente supervenientes (o dano
imprevisível entretanto ocorrido), porque a réplica seria “articulado posterior” no
sentido do 588º/1.
Ver arts. 569º CC e art. 556º/1-b (Abel podia ter deduzido um pedido genérico; mas
mesmo não o tendo feito o pedido podia ser ampliado nos termos do art. 569º, 2ª
parte, CC)
e) Qualificação e admissibilidade dos meios probatórios indicados pelas partes; (3
valores)
Ver momento para a apresentação, pela primeira vez, do requerimento probatório
Ver momentos para a alteração do requerimento probatório
Ver regime especial do momento de apresentação da prova documental
Ver regime especial do momento de indicação da prova por declarações de parte
Ver limite ao n.º de testemunhas
Arts. 552/2 e 572-d; arts. 598 e 508/1; arts. 423 a 425; art. 466; art. 511
f) Repartição do ónus da prova na presente acção e decisão a proferir pelo juiz em caso
de dúvida; (3 valores)
Ao autor caberia o ónus da prova dos pressupostos da responsabilidade civil assacada
ao réu; estando o juiz em dúvida quanto à verificação de algum destes pressupostos,
decidiria contra o autor, isto é, absolveria o réu do pedido. Art. 342º/1 CC e 414 CPC. A
impugnação não inverte o ónus da prova, isto é, não determina a oneração do
impugnante com a prova da não verificação do facto impugnado.
Idênticas regras se aplicariam ao autor do pedido indemnizatório reconvencional
g) Possibilidade de o juiz, uma semana depois de ter condenado Bento e Clotilde, se
arrepender do que fizera, e diminuir para 5.000 euros o montante indemnizatório a
pagar por estes. (2 valores)
A decisão só transitaria em julgado nos termos do art. 628, o que significa que não
tinha ainda decorrido, nem o prazo para o recurso (em regra, 30 dias), nem o prazo

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para a reclamação (10 dias). Apenas podia colocar-se um problema de extinção do


poder jurisdicional (art. 613) e de consequente inexistência da 2ª sentença

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Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa


Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
Direito Processual Civil II (Noite)
Exame Escrito – Época de recurso
15 de setembro de 2016 - Duração: 2h

I.
No dia 05.01.2016, Ana e Bernardo, casados no regime de comunhão de
adquiridos, adquiriram um imóvel denominado “Herdade Maravilha”, sito em
Évora composto por 10 hectares de terreno e um imóvel em bom estado e com
alguns bens móveis, pelo valor global de € 1.500.000,00, tendo em vista passar a
morar naquela Herdade.

No dia 03.08.2016, pretendendo efetuar a mudança para a sua nova propriedade, o


casal verifica que a porta do imóvel havia sido arrombada, encontrando-se
inutilizada a porta blindada no valor de € 5.000,00 (cinco mil euros), e estando em
falta diversos bens móveis que faziam parte do recheio da casa no valor de €
200.000,00 (duzentos mil euros).

Tentando perceber o que se tinha passado, o casal foi até a um dos mais
frequentados cafés da Praça do Giraldo, em Évora, e ficaram logo a saber que havia
sido Carlos que tinha invadido a Herdade e furtado os bens móveis da casa em
causa, tendo toda a atividade sido presenciada por Dolores, que comprara um
binóculo para contemplar as estrelas à noite e, acabou por visualizar todos os
movimentos de Carlos, tendo inclusivamente chamado as autoridades (que já não
foram a tempo de prender o larápio, ainda hoje em parte incerta).

No dia 01.09.2016, Ana instaurou uma ação judicial contra Carlos, na secção de
competência genérica de Elvas da instância local do tribunal de Portalegre,
pedindo o pagamento de uma indemnização no valor € 205.000,00,
correspondente ao valor dos danos patrimoniais acima descritos.

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I.

Responda, sucinta e fundamentadamente, às questões seguintes:

1. Aprecie a legitimidade ativa e passiva para os pedidos formulados por


Ana.
(4 valores)

Entre Ana e Bernardo existe um litisconsórcio necessário ativo entre os cônjuges,


porque são casados no regime da comunhão de bens adquiridos, pelo que ambos
teriam de ter celebrado o contrato de compra e venda do imóvel e ambos teriam de
ter instaurado a ação declarativa de condenação relativa a direitos que só por
ambos poderiam ser exercidos – acresce que estava em causa a casa de morada de
família (arts. 1682.º e 1682.º-A/1 CC e 33.º/1 e 34.º/1 CPC).
Como a ação não foi proposta também por Bernardo, estamos perante a
preterição de um litisconsórcio necessário legal ativo, o que constitui uma
exceção dilatória nominada (art. 577.º/al. e) CPC), de conhecimento oficioso (art.
578.º CPC), e sanável mediante a sua intervenção (espontânea ou provocada) no
processo, sob pena de absolvição dos réus da instância (art. 278.º/1, al. d) CPC).
Note-se que a intervenção de Bernardo poderia ser suscitada até 30 dias após o
trânsito em julgado da decisão que houvesse posto termo ao processo com
fundamento na exceção (não suprida até então) de ilegitimidade (art. 261.º/2).
Importava, ainda, esclarecer que não existia aqui uma coligação ativa.
Em relação a Carlos, é parte legitima passiva, tendo interesse em contradizer a
ação, já que teria sido ele a invadir a Herdade e a furtar alguns bens móveis que
pertenciam ao recheio da casa, nos termos da relação material configurada pela
autora (art. 30.º/1 e 3 CPC).

2. Imagine que o tribunal consegue efetuar a citação de Carlos, apesar de o


mesmo se encontrar ausente em parte incerta, e que dentro do prazo da
contestação, Carlos nada faz. Quais as consequências e os efeitos jurídico-
processuais que resultam desta situação? (3 valores)

Se Carlos estiver ausente em parte incerta nos termos previstos no art. 236.º, o
tribunal será forçado a realizar uma citação edital (arts. 225.º/6, 241.º, 242.º e
244.º CPC).

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Como findo o prazo para a contestação o Réu nada faz, isso significa que a revelia é
absoluta (o réu não pratica ato algum – art. 566.º CPC) e inoperante (não se
consideram os factos admitidos por acordo, incumbindo à autora provar todos os
factos que alega na sua petição inicial - art. 568.º/alínea b) CPC).

3. Aprecie o facto de Ana, na petição inicial, arrolar Dolores como


testemunha tendo em vista provar a celebração do contrato de compra e
venda do imóvel e dos bens móveis que faziam parte do recheio e bem
assim do assalto de que fora alvo. (3 valores)

A celebração do contrato de compra e venda do imóvel (que contempla a porta


arrombada e determinados bens móveis furtados) tem de ser reduzido a escrito
(art. 364.º CC), e só é válido se for celebrado por escritura pública ou por
documento particular autenticado (art. 875.º CC), não se admitindo prova
testemunhal para prova destes factos (art. 393.º/1 CC).
A prova testemunhal é admissível para se provar que foi Carlos a cometer os factos
lesivos, não existindo qualquer impedimento legal (art. 392.º CC).

4. Suponha que Carlos apresenta contestação dentro do prazo que lhe é


concedido nos seguintes termos: (i) alega que não foi ele que arrombou a
porta da casa da Herdade, nem tão pouco retirou bens da casa; (ii) pede
ao tribunal a condenação de Dolores no pagamento de uma
indemnização no valor de € 50.000,00 (cinquenta mil euros) por violação
dos seus direitos à imagem e ao bom nome, de uma vez que anda a ser
difamado por Dolores nos cafés da Praça do Giraldo. Classifique este tipo
de defesa, apreciando se a mesma é admissível nesta ação judicial. (4
valores)

Em relação à:

(i) À alegação de que não foi ele que arrombou a porta da casa da Herdade,
nem tão pouco retirou bens da casa – trata-se de uma defesa por
impugnação de facto (art. CPC), pois Carlos contradiz Ana, visando
obstar à admissão dos factos por acordo. A Autora mantém o ónus de
prova em relação aos factos que alegou (art. 342.º/1 CC).

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(ii) Ao pedido ao tribunal a condenação de Dolores no pagamento de €


50.000,00 (cinquenta mil euros) seja condenada no pagamento de uma
indemnização – trata-se de uma defesa não admissível.
A dedução de pedidos pelo Réu é admissível se for efetuada contra o
Autor, apelidando-se de “reconvenção” (art. 583.º CPC) e estando sujeita
a apertados requisitos legais de admissibilidade: a) conexão objetiva
(art. 266.º/1 CPC); b) compatibilidade formal (art. 266.º/2 CPC) e c)
competência absoluta do tribunal (art. 93.º CPC).
Não se admite que o Réu aproveite o impulso processual do Autor para
formular pedidos contra as testemunhas do processo, devendo fazê-lo,
caso queira, em ação judicial autónoma.

5. Imagine que Ana é informada de que os bens móveis que haviam sido
retirados de sua casa se encontram escondidos numa determinada loja
sita em Arraiolos, de duvidosa frequência, e prestes a serem vendidos
num leilão clandestino. Existe algum meio que possa utilizar para
impedir que tal venha a acontecer e/ou que permita o rápido retorno dos
bens móveis furtados aos seus proprietários? (3 valores)

Ana poderá utilizar um procedimento cautelar, desde que reunidos os respetivos


pressupostos processuais: fumus bonis iuris (probabilidade séria de existência de
um direito), periculum in mora (fundado receio de que outrem cause lesão grave e
dificilmente reparável ao seu direito), interesse em agir, e verificar se estão
preenchidos.

Em relação ao procedimento cautelar especificado “restituição provisória da


posse” (art. 377.º CPC), não se encontram reunidos os requisitos da sua
admissibilidade (posse, esbulho, violento – art. 377.º CPC). No entanto, caso tenha
sido requerida, é o único procedimento cautelar especificado que o juiz deve
convolar em procedimento cautelar comum (art. 379.º CPC).
Em suma, Ana deveria requer um procedimento cautelar comum (arts. 362.º e ss.
CPC).
Por último, enunciar as características do procedimento cautelar: urgência (art.
363.º CPC) e sumaria probatio (art. 365.º/1 CPC)

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II.
Comente a seguinte afirmação:
“O efeito preclusivo das exceções que podem ser alegadas nas ações declarativas
dissolve-se no efeito geral do caso”.
(4 valores)

 Nota: trata-se de uma citação de JOÃO CASTRO MENDES, Limites objetivos


do caso julgado, Lisboa, 1968, pág. 186, seguida por abundante doutrina
processual civilista (TEIXEIRA DE SOUSA, A Acção Executiva Singular, Lex,
Lisboa, 1998, § 20.º, maxime 164, 168-169 (“por respeito dos limites
temporais do caso julgado, a preclusão dos factos que, podendo sê-lo, não
foram invocados na contestação e que, apesar de supervenientes, não foram
alegados nem conhecido”, ibidem, 164); LEBRE DE FREITAS/RIBEIRO
MENDES, Código de Processo Civil anotado, vol. 3.º, Artigos 676.º a
943.º, 1.ª, Coimbra Editora, Coimbra, 2003, anotação ao art. 814.º/alínea
g) CPC/1961; LEBRE DE FREITAS, A confissão no direito probatório, 2.ª,
Coimbra Editora, Coimbra, 2013, n.º 20).
 Importa distinguir o efeito de caso julgado material e formal, absoluto e
relativo
 No processo declarativo o devedor é citado para contestar, e tem o ónus de
concentrar a sua defesa na contestação, dentro do prazo de 30 dias que tem
para a apresentar (art. 569.º/1 CPC), sob pena de eventual admissão dos
factos por acordo, ao abrigo dos princípios da concentração da defesa na
contestação e da preclusão, sem prejuízo do conhecimento pelo tribunal dos
factos impeditivos, modificativos e extintivos entre o momento da
instauração da ação e o encerramento da discussão (arts. 588.º/1 e 611.º
CPC).
 Importa distinguir o princípio da concertação da defesa na contestação (art.
573.º/1 CPC) e do princípio da preclusão (art. 574.º/1 CPC).
 O efeito preclusivo das exceções que, podendo ser invocados na contestação
e que, apesar de supervenientes, não foram alegadas nem conhecidas,
impõe-se por respeito dos limites temporais do caso julgado.

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Exame escrito de Direito Processual Civil II – TN


Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
14 de Junho de 2017 – Duração: 1h30m

Considere a seguinte hipótese:


Andreia, vendedora de robots de cozinha de uma conhecida marca, deslocou-se
certo dia a um estabelecimento comercial que era propriedade de Bruna, a fim de
fazer a cobrança de um robot que lhe havia vendido e que Bruna se esquivava a pagar.
Assim que entrou no estabelecimento, Andreia avistou um cão de grande porte
que, como era habitual, se encontrava deitado no interior do mesmo estabelecimento
e que também era propriedade de Bruna. Sem razão aparente, o referido cão deu um
salto na direcção de Andreia e mordeu-a na face, causando-lhe uma grande dor e
motivando o seu internamento hospitalar, seguido de intervenção cirúrgica à face.
Para além das despesas hospitalares, Andreia teve despesas de deslocação, perda de
clientes e profundo desgosto com a cicatriz com que ficara, computando os danos
patrimoniais, na sua globalidade, em 10.000 euros, e os não patrimoniais em 30.000
euros.
Como Bruna, além de continuar a recusar-se a pagar o robot de cozinha, se negava
a pagar-lhe qualquer indemnização pelos danos sofridos com a mordedura do cão,
Andreia demandou-a judicialmente, pedindo a sua condenação no pagamento do
preço do robot, que ascendia a 1.000 euros, bem como no pagamento de 40.000
euros, por danos patrimoniais e não patrimoniais. Com a petição, juntou diversos
recibos hospitalares, arrolou 2 testemunhas e pediu que o tribunal a ouvisse [a ela,
Andreia] na audiência final.
Na contestação, Bruna:
a) Alegou que Andreia não podia formular aqueles dois pedidos na mesma acção;
b) Alegou que Andreia nunca lhe entregara o robot de cozinha, pelo que não se
sentia obrigada a pagar-lho;
c) Alegou que a referida venda do robot fora realizada num ambiente de extrema
pressão psicológica por parte de Andreia, pelo que era anulável por coação moral;
d) Requereu a intervenção da sua seguradora, Companhia Constante, S.A, para a
qual havia transferido o risco de eventuais danos provocados pelo seu cão.
Após a contestação, Andreia requer ao tribunal a apreensão do robot de cozinha
que vendera a Bruna e, bem assim, o pagamento, por esta, de uma renda mensal de
500 euros, alegando que, uma vez que perdera todos os clientes por causa da cicatriz
que tinha na cara, precisa urgentemente desta quantia para sobreviver; no mesmo
requerimento, pede ainda, para o caso de o nele requerido ser procedente, que o
tribunal reconheça o seu crédito de 1.000 euros sobre Bruna (emergente da venda do
robot) e que a renda mensal de 500 euros seja concedida a título definitivo.
Na sentença, o juiz condena Bruna a pagar a Andreia o preço do robot de cozinha,
com a condição de esta entregar àquela o mesmo robot. Condena ainda Bruna a pagar
a Andreia 40.000 euros de indemnização, com fundamento “no dever que todos temos
de vigiar os nossos animais, ainda que os mesmos actuem de acordo com os padrões
socialmente estabelecidos”.
Numa outra acção, movida contra Andreia 1 ano depois do proferimento desta
sentença, Bruna pede ao tribunal a anulação, com fundamento em coacção moral, da

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venda do robot de cozinha. O tribunal absolve Andreia da instância, com fundamento


no caso julgado da acção anterior.

Analise as seguintes questões:

1) Meios de defesa utilizados por Bruna na contestação e requerimento


que nesta foi formulado (5 valores: a) 2 val; b) 1 val.; c) 1 val.; d) 1 val.);
a) Excepção dilatória inominada: B invoca violação do art. 555º CPC, ou
seja, não preenchimento dos requisitos da cumulação simples (que são a
competência absoluta para todos os pedidos, a identidade das formas de
processo e a compatibilidade substantiva).
Pelos dados da hipótese, apenas poderia estar em causa o não
preenchimento do requisito da conexão objectiva que, embora previsto
apenas para a coligação (art. 36º), alguma doutrina generaliza a todos os
casos de cumulação simples. Caso se entenda que este requisito vale
para a cumulação simples, o que não parece ter suporte legal, a
excepção seria procedente.
b) Excepção peremptória modificativa (excepção de não cumprimento do
contrato, que consiste na invocação de que o direito do autor ainda não
é exigível e determina, se procedente, a condenação do réu, não no
pedido que o autor formulou, mas in futurum, condicionada à realização
da prestação pelo autor: art. 428º CC e arts. 576º/3 e 610º/1 CPC).
Aceita-se também que o Aluno sustente outra posição, que, embora não
se afigurando a melhor sob o ponto de vista da economia processual, é
sustentável: a de que a excepção peremptória em causa seria impeditiva
(do exercício do direito do autor), gerando a absolvição do réu do
pedido.
c) Excepção peremptória impeditiva: a coacção moral obsta a que o direito
invocado pelo autor tenha surgido validamente (art. 256º CC e art.
576º/3 CPC)
d) Intervenção acessória provocada (arts. 321º e ss., particularmente art.
322º, referente ao prazo para o chamamento)
2) Requerimento que Andreia fez após a contestação (4 valores);
Trata-se de um arresto especial, nos termos do art. 396º/3, cuja natureza de
arresto é duvidosa. Há também um arbitramento de reparação provisória,
cujos pressupostos (designadamente lesão corporal e situação de
necessidade) parecem estar preenchidos: art. 388º.
Em ambos os casos não pode haver inversão do contencioso, pelo que o
pedido de A neste sentido seria indeferido (art. 376º/4).
A dedução de um pedido de inversão do contencioso geraria, de todo o
modo, e porque já estavam pendentes acções com o mesmo objecto,
excepção de litispendência (arts. 580º a 582º do CPC).
Por outro lado, as providências cautelares requeridas na pendência da acção
importam a instauração de um procedimento autónomo que é processado
por apenso aos autos principais (não correndo, portanto, nos próprios autos
principais), nos termos do art. 364º/3 CPC: por isso, o meio processual que a
hipótese sugere (requerimento feito nos próprios autos da acção principal)

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não seria o adequado, devendo antes ter sido instaurado um procedimento


(cautelar).
3) Admissibilidade e valor probatório dos meios de prova indicados por
Andreia (3 valores);
Os documentos foram atempadamente juntos (art. 423º/1) e as
testemunhas e declarações de parte atempadamente indicadas e requeridas
(art. 552º/2; no caso das declarações de parte podiam até ser requeridas
mais tarde, nos termos do art. 466º/1). Quanto às declarações de parte,
todavia, levanta-se o problema de poderem não ter sido indicados os factos
sobre os quais deviam ser prestadas (art. 452º/2 ex vi do art. 466º/2),
devendo o juiz convidar a parte que as requereu a fazer tal indicação, sob
pena de, não sendo a mesma feita, as declarações não serem admitidas.
Os documentos, sendo particulares (art. 363º/1 CC), só fazem prova plena
relativamente a certos factos (art. 376º/1 CC) e, quanto aos factos não
mencionados na lei, constituem prova livre (art. 607º/5 CPC)
A prova testemunhal é livremente apreciada (art. 396º CC), bem como as
declarações de parte, excepto, quanto a estas, se constituírem confissão
(art. 466º/3 CPC e art. 358º CC)
4) Legalidade da sentença e possibilidade de Bruna invocar a sua nulidade,
por não compreender a sua fundamentação (3 valores);
A possibilidade de condenação do réu in futurum, em que o direito do autor
(não a própria sentença) está sujeito a condição suspensiva (realização da
contraprestação pelo autor), tem assento no art. 610º/1 CPC.
Quanto à alegada nulidade da sentença por não compreensão da
fundamentação, não procede, porque só a ininteligibilidade da decisão, não
a da fundamentação, constitui nulidade da sentença (art. 615º/1 c) CPC).
O Aluno podia ainda considerar que a sentença padecia de nulidade por falta
de especificação dos fundamentos de direito (art. 615º/1 b).
5) Legalidade da absolvição da instância de Andreia (3 valores).
Se B foi condenada na 1ª acção, tal deveu-se (também) à circunstância de a
coação moral não ter ficado provada.
Soluções possíveis, desde que fundamentadas:
i) Como o caso julgado não incide, em regra, sobre os fundamentos da
decisão (art. 91º/2 CPC), a coacção moral pode ser apreciada em
subsequente acção.
ii) Segundo outra orientação (expressa nomeadamente aqui:
http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/b
17e083d8155e7a8802577cf003bb2c3?OpenDocument), tendo
havido condenação no pedido na 1ª acção, e deduzindo-se
novamente excepção peremptória já julgada improcedente, o caso
julgado estender-se-ia a este pressuposto lógico e indispensável da
decisão.

Sustentando-se a existência de caso julgado (ou por ter havido pedido nos
termos do art. 91º/2 CPC, ou por se seguir a 2ª orientação descrita), cumpre
analisar depois se, na 2ª acção, vale a autoridade de caso julgado a que
alude o art. 619º/1 CPC (por o seu objecto ser distinto, mas dependente, da
1ª), ocorrendo absolvição do pedido, ou, antes, se vale a excepção de caso

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julgado constante do art. 577º i) (por o seu objecto ser idêntico ao da 1ª),
ocorrendo absolvição da instância. Aceitam-se ambas as soluções, desde que
fundamentadas.

Comente a seguinte afirmação:

“O regime aplicável no caso de falta de contestação não se confunde com o regime


aplicável na falta de impugnação” (2 valores)

Exacto, mas não totalmente: comparar os arts. 567º e 568º com o art. 574º, que
realmente consagram regimes diferentes; referir que, no caso de falta de contestação
à reconvenção, o regime aplicável é o do art. 574º, por força do art. 587º/1; referir
também que no caso de falta de contestação a que seja aplicável o art. 568º, a), aos
factos não impugnados é aplicável o art. 574º.

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Exame escrito de Direito Processual Civil II (NOITE) – Recurso – Coincidências –


24/7/2017 – Regência: Professor Doutor José Luís Ramos – Duração: 2 h

Considere a seguinte hipótese:


Amélia cedeu a sua moradia de férias a um casal amigo da sua filha, Betinha e Cajó, a
fim de estes aí gozarem um merecido descanso depois de um Verão a trabalharem em
França nas vindimas.
Nessa moradia Betinha abriu um centro de abrigo para animais abandonados e Cajó
dedicou-se à pintura mural, do que resultou, para Amélia, danos patrimoniais no
montante de 20.000 euros.
A tais danos juntou-se, para Amélia, a enorme maçada de Cajó (que entretanto se
separara de Betinha) se recusar a sair da moradia, recebendo com tiros de caçadeira
quem quer que dela se aproximasse.
Aconselhada pelo seu advogado, Amélia moveu uma acção contra Betinha e Cajó,
pedindo a condenação destes no pagamento de uma indemnização de 20.000 euros e no
reconhecimento do direito de propriedade de Amélia sobre a moradia. Arrolou como
testemunhas Quim e Tó, amigos de infância de Cajó.
Requereu ainda, como dependência da mesma acção, que Cajó imediatamente
abandonasse a moradia, se necessário com o auxílio da polícia.
Sabendo que o horroroso casal estava a ser judicialmente demandado, Daniel, vizinho
de Amélia, requereu no mesmo processo a condenação de Betinha e Cajó no
pagamento de outros tantos 20.000 euros, desta vez para ressarcimento dos danos
morais que ele próprio sofrera com o ruído das festas promovidas durante a ausência de
Amélia.
Apenas Betinha contestou, dizendo que os animais que recolhera não haviam feito
quaisquer estragos na moradia, sendo os danos unicamente imputáveis a Cajó.
Aproveitou para pedir a condenação de Cajó no pagamento de uma indemnização de
5.000 euros, valor correspondente a uma mota que lhe furtara. Requereu ainda a
deslocação do tribunal à moradia, para comprovação de que os estragos na mesma
nunca podiam ter sido feitos por animais.
Cajó não contestou, nem constituiu advogado no processo.

Analise as seguintes questões:


1. Podia Amélia formular os pedidos de indemnização e de reconhecimento do
direito de propriedade na mesma acção? (2 val.)
Trata-se de cumulação simples de pedidos, nos termos do art. 555 CPC.
Referir os requisitos da cumulação: compatibilidade substantiva, identidade de
formas de processo e competência absoluta do tribunal para todos os pedidos; a
conexão objectiva (art. 36) é desejável mas só é exigível quando à cumulação
simples subjaza uma coligação, o que não parece ser o caso da hipótese.
E não parece ser, porque os 2 pedidos são indistintamente formulados contra B e
C (isto é, não se pede uma coisa a um dos réus e outra coisa a outro réu): ora,
nos termos do art. 36º/1, só existe coligação quando se esteja perante “pedidos
diferentes”
2. Qual o meio processual a utilizar, para obter o abandono da casa por Cajó? (2
val.)
Há que analisar, em especial, a existência de esbulho e de violência, para o
efeito de admitir a providência de restituição provisória da posse.
Quanto ao esbulho, apesar de alguma jurisprudência mais antiga já ter admitido
que ele não se verifica quando houve inicialmente uma detenção legítima da

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coisa e o detentor apenas pretende garantir a continuação da detenção (como é o


caso da hipótese, já que C ocupara a moradia com o consentimento de A), parece
de adoptar um conceito de esbulho mais conforme com o conceito de posse (art.
1251 CC) e entender que “há esbulho sempre que alguém é privado, total ou
parcialmente, contra sua vontade, do uso ou fruição do bem possuído ou da
possibilidade de continuar esse exercício” (ver o ac. TRG de 3/11/11, aqui:
http://www.dgsi.pt/jtrg.nsf/86c25a698e4e7cb7802579ec004d3832/4f1ff5ece9bc
4671802579520042980d?OpenDocument): portanto, no caso parece verificar-se
esbulho. No entanto, como a factualidade descrita, a juntar a uma notificação ao
proprietário, pode constituir inversão do título da posse (art. 1265º CC), aceita-
se a opinião contrária (a de que não há esbulho), valorizando-se a colocação do
problema.
Quanto à violência, e mesmo que dela se tenha uma concepção restrita (veja-se
as várias orientações no mesmo acórdão, e, em especial, a por ele propugnada:
“é violento todo o esbulho que impede o esbulhado de contactar com a coisa
possuída em consequência dos meios usados pelo esbulhador”), é indubitável.
Analisar as particularidades do procedimento de restituição provisória da posse,
em especial o contraditório subsequente (arts. 378 + 372).
3. Podia Daniel intervir no processo instaurado por Amélia? (3 val.)
Seria um caso de intervenção coligatória activa, sem fundamento legal (cf. art.
311) e portanto não admissível. Explicar por que motivo se estaria perante
coligação (pedidos discriminadamente formulados)
4. O que fez Betinha na contestação? (3 val.)
Defende-se por impugnação de facto directa, porque ataca um dos factos que
integram a causa de pedir da acção de responsabilidade civil (o nexo causal entre
o facto e o dano).
Quanto aos outros factos não impugnados, art. 574.
Deduz reconvenção, mas esta não podia ser admitida, porque não se dirige
contra o autor (nem seria caso de absolvição deste da instância reconvencional,
porque não tinha sido demandado): art. 266º/1.
Formula um requerimento probatório (inspecção judicial: 490), que o tribunal
possivelmente convolaria numa verificação não judicial qualificada (art. 494),
por não se justificar a deslocação do próprio juiz
5. Quais as consequências da falta de contestação de Cajó? (2 val.)
Art. 568º a)
Aplicação do art. 574º em relação a C, relativamente aos factos que não haviam
sido impugnados por B.
6. Imagine que, no despacho saneador, o juiz considera que o processo não padece
de nulidades e que todos os pressupostos processuais estão preenchidos. Poderia
na sentença absolver os réus da instância, com fundamento em litispendência? (3
val.)
Trata-se de despacho genérico (que não aprecia questões concretas), pelo que
não faz caso julgado formal, segundo o art. 595º, 3, 1ª parte. Assim, podem os
réus ser absolvidos da instância na sentença. Ver art. 608º/1, quanto a esta
possibilidade.
7. Imagine agora que no início da audiência final Betinha pretende que o tribunal a
ouça em audiência, e Amélia pretende a inquirição de Manecas como
testemunha, dado que Quim estava preso em Marrocos. Quid juris? (2 val.)
Quanto a B, ver art. 466º/1 (está em prazo, porque ainda não começaram as
alegações orais: 604º/3 e).

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Quanto a A, ver o 508º/1 e 3, al. a) (não seria caso da alínea b), porque o
impedimento seria certamente excedente a 30 dias): podia substituir a
testemunha
Comente a seguinte afirmação constante de um acórdão português (3 val.):
“A transacção (como negócio das partes) vale por si, sendo a intervenção do Juiz de
mera fiscalização sobre a legalidade do objecto desse contrato e da qualidade das
pessoas que o celebram, não conhecendo do mérito, antes sancionando a solução que as
partes encontraram para a demanda”
Analisar a transacção como negócio processual e distingui-la dos outros negócios
processuais
Analisar a natureza da sentença homologatória (conhecer de mérito / decidir de mérito):
art. 290º/3
Analisar a convivência dos efeitos do negócio com os efeitos do acto judicial

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Exame de Direito Processual Civil II (Noite)


Época de Finalistas
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
11.09.2017
Duração: 2h

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

Alberto celebrou com Macário, em abril de 2017, por escritura pública, contrato de compra e venda
de um Solar antigo e do seu recheio, localizado em Castro Verde pelo valor de EUR 310.000,00. Ficou
convencionado que Macário pagaria o preço em 31 de agosto de 2017 e que, nessa data, Alberto lhe
entregaria as chaves do Solar.

Contudo, na data aprazada, Macário que entretanto tinha casado com Benedita, não cumpre o
contrato.

Adicionalmente, Alberto descobre que Manuel, sabendo que o Solar se encontrava desocupado,
resolve fazer dele a sua habitação, recusando-se a sair.

Assim, agastado com todas estas situações, Alberto demanda, na mesma ação:

(i) Macário e Benedita pedindo que estes sejam condenados a pagar o valor de EUR
310.000,00, acrescidos de uma indemnização por danos morais no valor de EUR 6.000,00;
e
(ii) Manuel pedindo que este seja condenado a restituir o imóvel, livre de pessoas e bens.

Na petição inicial Alberto limita-se a juntar cópia da escritura pública e duas fotografias onde se vê
Manuel na piscina do Solar.

Macário, contesta alegando que nunca celebrou qualquer contrato de compra e venda com Alberto
e que, em todo o caso, este nunca lhe tinha entregado as chaves do Solar e que, por essa razão, Alberto
não lhe poderia pedir que pagasse o preço. Macário aproveita ainda para pedir que Alberto seja
condenado numa indemnização no valor de EUR 75.000,00 em virtude de Alberto o ter agredido
violentamente na sequência de Macário ter casado com Benedita, a quem Alberto chamava de
“mulher da sua vida”.

Benedita, que não se queria meter em confusões, resolve não contestar a ação.

Manuel também contestou e limitou-se a juntar aos autos procuração forense a favor do mandatário.

Responda, suscita, mas fundamentadamente, às seguintes questões:

1) Analise e qualifique os pedidos formulados por Alberto na petição inicial e a sua admissibilidade
(4 valores)

Cumprirá identificar, no caso prático, a existência de uma potencial situação de coligação, na medida
em que Alberto dirige pedidos diferentes contra réus diferentes (pedidos discriminadamente
formulados). Ademais, a respeito dos pedidos deduzidos contra Macário e Benedita, cumprirá verificar
uma situação de cumulação simples de pedidos (art. 555.º).

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Assim, em termos de análise da cumulação de pedidos, cumprirá salientar que Macário e Benedita são,
para o efeito, apenas uma parte processual, na medida em que os pedidos são formulados contra
ambos. Não existe qualquer situação que impeça a cumulação de pedidos nos termos do artigo 37.º
do CPC (por remissão do artigo 555.º). Mesmo para quem considere que o requisito da conexão
objetiva previsto no artigo 36.º se aplica (o que é discutível), este estaria verificado no caso concreto,
na medida em que o pedido de indemnização cível se encontrava relacionado com o incumprimento
contratual alegado.

Já a respeito da coligação, cumprirá salientar quem ainda que pudessem estar verificados os
pressupostos enunciados no artigo 37.º do CPC (não se verificava, nomeadamente, uma
incompatibilidade processual nem qualquer incompetência absoluta [competência internacional,
matéria ou hierarquia]) não estava preenchido o requisito da conexão objetiva enunciados no artigo
36.º do CPC. Seria necessário explicitar quais seriam os requisitos cujo cumprimento se impunha para
que a coligação fosse admitida.

Assim, não se admitindo a coligação – porque legalmente inadmissível – deveria o Tribunal dar
cumprimento ao estatuído no artigo 38.º, n.º 1, do CPC.

2) Qualifique os meios de defesa utilizados por Macário na contestação e a sua admissibilidade (2


valores)

Macário defende-se por impugnação, por exceção e por dedução de pedido reconvencional.

Em concreto, (i) defende-se por impugnação ao alegar nunca ter celebrado qualquer contrato com o
autor, uma vez que contraria o facto constitutivo do direito do autor (cfr. artigo 571.º, n.ºs 1 e 2 (1.ª
parte); (ii) defende-se por exceção perentória modificativa (exceção do não cumprimento estabelecida
no artigo 428.º do CC – artigos 571.º, n.º 1 e 2 (2.ª parte), e 576.º, n.ºs 1 e 3, todos do CPC), uma vez
que o tribunal, se julgar a exceção procedente, condenará o réu in futurum, condicionadamente à
realização da prestação do próprio autor, e não, como o autor pedira, na satisfação imediata da
prestação pelo réu; e (ii) por dedução de pedido reconvencional nos termos dos artigos 583.º e 266.º,
ambos do CPC, uma vez que não se limita a pedir a sua própria absolvição do pedido, mas a
condenação do autor num outro pedido.

A respeito das defesas por impugnação e por exceção cumprirá salientar que Macário não poderia
defender-se simultaneamente por impugnação e por exceção (contradição intrínseca). Assim, deverá
entender-se que a defesa por exceção teria de ter sido deduzida subsidiariamente.

No que tange à reconvenção, cumprirá a verificação dos requisitos legais estabelecidos e respetiva
enunciação, em particular (i) dedução especificada (artigo 583.º, n.º 1, CPC), (ii) verificação de alguns
dos pressupostos de admissibilidade previstos no artigo 266.º, n.º 2.

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Ainda que Macário tivesse deduzido especificadamente a reconvenção, parece que a única situação
onde poderia incluir-se o pedido por si formulado se enquadrava no âmbito da alínea c) do n.º 2, do
artigo 266.º do CPC (posição que todavia não parece ser a melhor, já que subjacente à compensação
se encontra o reconhecimento, pelo réu, do crédito do autor - a dependência dos pedidos -, que neste
caso não ocorre, porque o réu contestara a existência do crédito do autor). Assim, considerando que
o crédito que Macário alega é inferior ao peticionado pelo Autor convirá escalpelizar as diversas
doutrinas a este respeito (nomeadamente se, nestes casos, esta defesa deverá ser entendida como
defesa por exceção ou se, não obstante a compensação não extinguir o crédito do autor, o meio
processual adequado seria a reconvenção).

3) Após a apresentação da contestação por parte de Macário, Alberto apresenta um requerimento


no processo onde pede a condenação de Macário e Benedita no pagamento de juros de mora
derivados do incumprimento até integral pagamento do preço. Analise a admissibilidade deste
pedido neste momento processual. (2 valores)

Para efeitos de resposta à questão colocada seria necessário que o aluno identificasse uma situação de
alteração (por cumulação) do pedido inicialmente formulado. Esta alteração, em concreto, não
derivada de acordo entre as partes, o que levaria à inaplicabilidade do artigo 264.º e a necessidade de
verificação dos pressupostos enunciados no artigo 265.º (em concreto, a verificação dos pressupostos
enunciados no número 2).

Assim, deverá entender-se (à semelhança do entendimento do Prof. Doutor Lebre de Freitas), que o
pedido de pagamento de juros corresponde ao desenvolvimento do pedido inicial (cfr. Lebre de
Freitas, Introdução do Processo Civil, 4.ª ed., Coimbra, Gestlegal, 2017, p. 166 (30)).

A respeito do momento processual, Alberto poderia, nos termos do artigo 265.º, n.º 2, do CPC,
proceder à ampliação do pedido até ao encerramento da discussão em 1.ª instância, o que se encontra
verificado, na medida em que o pedido foi formulado após a apresentação da contestação.

4) Qualifique os meios de prova apresentados por Alberto na petição inicial e pronuncie-se a


respeito da sua força probatória (2 valores)

Cumprirá distinguir dois meios de prova: (i) cópia da escritura pública e (ii) fotografias.

A respeito da cópia da escritura pública esta constituiria prova documental (362.º do Código Civil),
contudo a sua natureza não se poderá confundir com a dos documentos autênticos previstos no artigo
369.º do Código Civil. Na verdade, no enunciado não se refere que foi junto o original da escritura
pública com a petição inicial, mas, tão somente, uma fotocópia desta. A este respeito, e na falta de
outra indicação, convirá salientar as diferenças entre os regimes estabelecidos nos artigos 387.º do
Código Civil (com a distinção entre os números 1 e 2). Apenas cumpridos os requisitos ali

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mencionados se poderá dizer que a fotocópia, tendo o valor do original, goza da força probatória dos
documentos autênticos, estabelecida no artigo 371.º do Código Civil (isto sem prejuízo do estabelecido
nos artigos 385.º e 386.º, ambos do Código Civil).

Tratando-se de uma simples fotocópia, aplicar-se-ia o regime estabelecido no artigo 368.º do Código
Civil (cfr. neste sentido, Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 15.12.2005, processo 0536133,
disponível em www.dgsi.pt). Neste sentido, a força probatória seria plena, exceto se a parte contra
quem são apresentadas impugnar a sua exatidão (artigo 368.º do Código Civil).

No que diz respeito às fotografias, estas constituem prova documental e estão sujeitas às mesmas
regras enunciadas anteriormente para as reproduções mecânicas (artigo 368.º do Código Civil).

5) No decurso da audiência prévia, Alberto requer (i) ser ouvido como testemunha e (ii) que
Efigénia seja igualmente ouvida como testemunha. Pronuncie-se sobre o requerimento
apresentado e a sua admissibilidade (2 valores).

Em primeiro lugar salientar que do enunciado resultar que apenas foram juntos documentos com a
petição inicial, ou seja, não foi apresentada, nomeadamente, prova testemunhal – o que se impunha,
quanto à prova testemunhal, por força do artigo 552.º, n.º 3, do CPC.

Desta forma, não tendo sido apresentado anteriormente qualquer rol de testemunhas era, por
natureza, impossível alterá-lo ou aditá-lo, fazendo uso do artigo 598.º do CPC. Esta seria razão para
indeferir o requerimento apresentado a respeito da inquirição de Efigénia como testemunha. De
qualquer modo, esta posição não é consensual, havendo quem entenda que basta a apresentação de
prova documental com a p.i. para mais tarde se poder apresentar rol de testemunhas (ou seja, que o
essencial é ter-se juntado, no momento próprio, algum meio de prova): Primeiras Notas ao Novo
Código de Processo Civil, Vol. I, 2.ª ed., Coimbra, Almedina, 2014, p. 474. Admite-se que o aluno siga
esta posição, ou qualquer outra, desde que fundamentada.

Contudo, note-se que Alberto requereu igualmente ser ouvido na qualidade de testemunha. Estabelece
o artigo 496.º que estão impedidas de depor como testemunhas as partes na ação, o que se verificava
no caso.

O depoimento de Alberto poderia ser admitido, mas apenas como prova por declarações de parte,
nos termos do artigo 466.º do CPC, cumprindo salientar que deveriam ser indicados os factos sobre
os quais iria recair (artigo 452.º, n.º 2, aplicável ex vi do artigo 466.º, nº 2, do CPC). Salientar,
igualmente, a corrente jurisprudencial que admite que, mesmo que não sejam indicados os factos, ou
o tribunal convida a parte à sua concretização ou, em alternativa, admitindo o depoimento este cingir-
se-á aos factos pessoais.

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Considerando que a prova por declarações de parte pode ser requerida até às alegações orais em 1.ª
instância (604.º, n.º 3, alínea e), do CPC), o requerimento apresentado seria tempestivo.

6) Poderia o tribunal, dispensando a realização de audiência prévia, proferir sentença, com o


argumento de que seria inútil a realização de audiência final atendendo a que não foram
requeridos outros meios de prova? (2 valores) – esta resposta é independente da questão
colocada em 5).

A resposta à questão colocada pressuponha a análise do regime estabelecido para a audiência prévia e,
em concreto, das alterações introduzidas, em 2013, na redação do CPC.

Em particular, na resposta a esta questão cumpre salientar que a audiência prévia poderá ser dispensada
com base em qualquer um dos pressupostos elencados no artigo 593.º do CPC. Considerando que
estaria em causa o conhecimento do mérito da ação, deveriam ser interpretadas, de forma conjunta,
as normas constantes do artigo 593.º, n.º 1 e 591.º, n.º 1, alínea d). Em concreto, resulta da parte inicial
do número 1 do artigo 593.º do CPC que apenas pode ser dispensada a audiência prévia “nas ações
que hajam de prosseguir”, o que, de acordo com a doutrina (v.g. Paulo Ramos de Faria e Ana Luísa
Loureiro, Primeiras Notas ao Novo Código de Processo Civil, Vol. I, 2.ª ed., Coimbra, Almedina,
2014, p. 536) deverá ser interpretado no sentido de não consentir que seja dispensada a audiência
prévia caso a ação haja de findar com o proferimento de saneador-sentença. Noutra aceção, a dispensa
de audiência prévia sempre teria de ser precedida de convite às partes para sobre tal dispensa se
pronunciarem, nos termos do artigo 3.º, n.º 2, do CPC (neste sentido, v.g.. Lebre de Freitas/Isabel
Alexandre, Código de Processo Civil Anotado, vol. 2.º, Coimbra, Almedina, 2017, pp. 650-651.

Assim, independentemente de qualquer uma das vias de argumentação seguidas, sempre existira
nulidade processual, nos termos e ao abrigo do artigo 195.º do CPC.

7) O tribunal proferiu sentença a declarar não provada a ação e absolveu os réus do pedido.
Alberto, não se conformando, resolve intentar nova ação judicial contra Macário e Benedita
alegando que o Solar em causa tinha sido por si doado a Macário e Benedita, peticionando,
desta forma, a revogação da doação com fundamento em que Macário e Benedita andam a
difamá-lo e já tentaram matá-lo em diversas ocasiões. É admissível esta nova ação? (3 valores)

A resposta à questão pressupõe a análise do conceito e extensão do caso julgado (artigos 619.º, 580.º,
n.ºs 1 e 2 e 581.º, todos do CPC).

Em concreto, será necessário verificar se existe a tríplice identidade necessária para que se possa falar
de caso julgado, com a consequente proibição de repetição de nova ação.

Na primeira ação o facto jurídico de onde emergia o fundamento da ação era composto pelo contrato
de compra e venda (eventualmente, pelo contrato de compra e venda e seu incumprimento, mas sendo
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o cumprimento facto extintivo do direito, a primeira opinião é mais correcta), sendo o pedido
formulado o da condenação dos réus no cumprimento. Na segunda ação, o pedido formulado era o
da revogação da doação em virtude das difamações e alegadas tentativas de homicídio (que se
reconduzem ao conceito de “ingratidão do donatário” estabelecido no artigo 970.º do Código Civil).

Assim, não obstantes as partes ocuparem a mesma posição jurídica (de autor e réus), quer a causa de
pedir, quer o pedido, seriam distintos, o que implicava que não se verificassem os pressupostos da
exceção de caso julgado. Desta forma, não estando em causa a exceção de caso julgado, a nova ação
era admissível.

II
Comente a seguinte afirmação:

Com as inovações introduzidas na revisão de 2013 do Código de Processo Civil, deixou de existir uma tutela cautelar
antecipatória. Assim, todas as decisões passam a ser decisões de mérito no contencioso cautelar. (3 valores)

Na análise crítica que se pretende, deverá o aluno enunciar as alterações introduzidas na atual redação
do CPC na revisão de 2013.

Em concreto, cumprirá desenvolver o que deverá entender-se por tutela cautelar antecipatória e a sua
distinção da tutela cautelar conservatória.

Por outro lado, a questão das decisões de mérito pressupõe a análise do designado regime da inversão
do contencioso, devendo salientar que o mecanismo legal hoje constante, nomeadamente, do artigo
369.º do CPC, já antes se encontrava estabelecido no artigo 16.º do Regime Processual Civil
Experimental (Decreto-Lei n. º108/2006, de 8 de junho) [e igualmente no artigo 121.º, n.º 1, do
Código do Processo nos Tribunais Administrativos].

Cumprirá igualmente registar que a inversão do contencioso não poderá funcionar de forma
automática: carecerá sempre de requerimento da parte nesse sentido.

Por outro lado, a inversão do contencioso não poderá aplicar-se de forma indiscriminada a todas as
providências cautelares, isto é, apenas se poderá aplicar quando “a natureza da providência decretada
for adequada a realizar a composição definitiva do litígio” e, a respeito das providências cautelares
nominadas de acordo com o estabelecido no artigo 376.º, n.º 4, do CPC.

Ainda a respeito das providências cautelares nominadas, nem todas as antecipatórias são suscetíveis
de inversão do contencioso, bastante reparar que o arbitramento de reparação provisória está excluído
do elenco do artigo 376.º, n.º 4, do CPC (não obstante a inclusão de providências cautelares
conservatórias como o embargo de obra nova).

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Exame de Direito Processual Civil II (Noite)


Época Normal
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
05.06.2018
Duração: 2h

Tópicos de correção

Adérito está apaixonado por uma fantástica herdade nos arredores de Évora. O sonho de passar uma
velhice tranquila e longe do stress de Lisboa ajudou-o a formar a sua decisão de adquirir a herdade a
Benedita e a Carlos, seus velhos amigos, casados no regime de comunhão geral.
Como faltavam ainda umas formalidades, Adérito celebra com Carlos contrato-promessa de compra
e venda em março de 2018, tendo-se projetado a celebração do contrato definitivo para maio de 2018,
o que não veio a suceder.
Desta forma, Adérito agastado com a situação resolve demandar apenas Carlos exigindo-lhe a
restituição do montante de EUR 250.000,00 pagos a título de sinal, invocando a nulidade, por falta de
forma do contrato-promessa (este foi celebrado por mero escrito particular). Adérito aproveita ainda
esta ação para pedir o pagamento de uma dívida antiga de Carlos, emergente de um contrato de mútuo
no valor de EUR 35.000,00.
Adérito limita-se a requer na petição inicial a inquirição de Dália e Ernesto que assistiram a toda a
discussão sobre a compra da herdade e ainda estiveram presentes no dia da celebração dos contratos
e por isso poderão demonstrar a sua celebração.
Citado, Carlos vem apenas dizer que é parte ilegítima na ação, na medida em que é casado com
Benedita e que esta também deveria estar na ação. Quanto ao resto, limita-se a dizer que não recebeu
qualquer montante de Adérito.

Responda de forma suscita, mas fundamentada, às seguintes questões (as questões são
independentes entre si):

1) A secretaria judicial ao receber a petição inicial, recusa-a com fundamento na falta de


constituição de mandatário. Tal ato é admissível? Pode Adérito reagir? (1 v.)

Impossibilidade da secretaria rejeitar a petição inicial por falta de pressuposto


processual – nos termos do artigo 558.º CPC a secretaria apenas poderá rejeitar a petição
inicial caso se verifique alguma das situações mencionadas naquele artigo.
Não se admite, assim, que seja invocada a alínea c) do artigo 558.º do CPC para rejeitar
liminarmente aquele articulado.

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Referência ao artigo 559.º como meio de reação ao indeferimento.

2) Analise os pedidos formulados por Adérito e a sua admissibilidade (3 v.)

São formulados dois pedidos por Adérito: (i) restituição dos montantes pagos a título
de sinal na sequência da celebração do contrato de compra e venda e (ii) restituição dos
montantes devidos ao abrigo de um contrato de mútuo.
Identificação de uma situação de cumulação de pedidos ao abrigo do artigo 555.º do
CPC.
Análise da questão doutrinária respeitante à aplicabilidade (Conselheiro Abrantes
Geraldes) ou não (Professor Lebre de Freitas/ Prof. Isabel Alexandre) da conexão
objetiva por aplicação analógica do artigo 36.º do CPC. Consequências da assunção de
uma ou de outra das posições doutrinárias.

3) Qualifique a defesa apresentada por Carlos, sua admissibilidade e consequências (4 v.)

Identificação de dois tipos de defesa: (i) por exceção dilatória (ilegitimidade) [artigos
576º/1 e 2 e 577.º, alínea e), ambos do CPC] e (ii) por impugnação (neste caso,
impugnação por desconhecimento) [artigo 571.º do CPC].

A respeito da exceção dilatória de ilegitimidade, cumpre salientar o artigo 34.º do CPC.


Contudo, considerando a jurisprudência maioritária a este respeito, a ação em causa
pode apenas ser intentada contra um dos cônjuges (ver, nomeadamente, o Acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça de 01.07.2004 (aqui) ou o acórdão do Tribunal da Relação
de Coimbra de 10.07.2013 (aqui). Desta forma, não seria procedente a exceção invocada.

A respeito da impugnação, cumpre questionar a aplicabilidade do artigo 574.º, n.º 2, do


CPC, i.e. se o facto de Carlos não se ter pronunciado a respeito da celebração dos
contratos em causa poderá implicar a sua admissão quanto àqueles factos. No caso
concreto, estaria em causa a aplicação do segmento “só puderem ser provados por
documento escrito”, considerando a aplicação do artigo 1143.º do Código Civil (quanto
ao contrato de mútuo) e o artigo 410.º, n.º 2, do Código Civil (quanto ao contrato
promessa, sem descurar, no caso da eficácia real, o estabelecido no artigo 413.º, n.º 2 do
Código Civil). Desta forma, não era admissível que se consideram-se provados, por
acordo, os factos em causa, tendo igualmente em consideração que do enunciado
resulta que Adérito não tinha junto aos autos qualquer um dos documentos em causa e
que, o depoimento testemunhal não poderia ser produzido para demonstração da
celebração quer do contrato-promessa, quer do mútuo (artigo 393.º, n.º 1, do Código
Civil).

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4) O Tribunal ao analisar os articulados conclui estar em condições de proferir despacho


saneador-sentença com absolvição de Carlos dos pedidos, pelo que resolve não
convocar audiência prévia, proferindo de imediato o mencionado despacho. Pode fazê-
lo? (2 v.)

Análise dos fundamentos de dispensa da audiência prévia (artigo 593.º do CPC).


Em causa está, antes de mais, a ausência de qualquer referência no enunciado ao
exercício, por parte de Adérito, do direito ao contraditório face à exceção invocada, o
que poderia fazer nos termos do artigo 3.º, n.º 4, do CPC, em sede de audiência prévia
ou no início da audiência final. Como é dispensada a realização da audiência prévia e
projeta-se o proferimento de despacho saneador-sentença com absolvição dos pedidos,
Adérito nunca poderá exercer o seu direito ao contraditório.
Não obstante a alínea a) do número 2 do artigo 593.º do CPC permitir a dispensa da
audiência prévia quando estiver em causa o proferimento de despacho-saneador, deverá
atentar-se ao segmento inicial do normativo constante do número 1 do artigo 593.º
quando refere “nas ações que hajam de prosseguir”; desta forma, considerando que o
despacho saneador-sentença resolveria a ação, não estamos perante uma “ação que haja
de prosseguir” pelo que importa realizar a audiência prévia, desde logo para exercício
do contraditório nos termos do artigo 3.º, n.º 4, e 591.º, n.º 1, alínea b) do CPC.
A dispensa da audiência prévia, nos termos em que foi feita, configuraria uma nulidade
processual, arguível nos termos do artigo 195.º (admitindo-se a fundamentação quer
pela omissão de um ato que a lei impõe [a realização de audiência prévia] quer pela
realização de ato que a lei impeça [neste caso, o proferimento de despacho saneador-
sentença que coloque termo à ação] sendo preferível a primeira das alternativas), no
prazo previsto no artigo 199.º, ambos do CPC.

5) Em plena audiência final, o tribunal apercebe-se de que existe uma contradição entre o
depoimento de parte prestado por Carlos e o depoimento de uma testemunha,
determinando a acareação. Poderia fazê-lo? (2 v.)

Está em causa a discussão da aplicação analógica do artigo 523.º do CPC, i.e., permitir
que seja realizada a acareação entre uma parte e a testemunha.
Mesmo concluindo pela admissibilidade em geral da aplicação de tal regime, sempre
cumpriria salientar que caso existisse confissão reduzida a escrito (assentada), nos
termos do artigo 463.º do CPC a diligência em causa seria inútil. Face a factos não
confessados, considerando as finalidades da prova por depoimento de parte, estes
estariam sujeitos à livre apreciação do tribunal, pelo que, quanto a estes, a pugnar-se
pela aplicação analógica do artigo 523.º do CPC, seria admissível a acareação.
6) O Tribunal não está ainda convencido da verdade dos factos e decide, oficiosamente,
chamar Adérito para que este esclareça alguns factos, através de prova por declarações
de parte, em sede de audiência final. Poderá fazê-lo? (2 v.)

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Análise da querela doutrinária a respeito da possibilidade de o tribunal, oficiosamente,


determinar a prova por declarações de parte.
A respeito desta querela, colocar em confronto as posições do Prof. Lebre de Freitas que
pugna pela impossibilidade de ser determinada oficiosamente a prova por declarações
de parte, atendendo, nomeadamente, à atual redação do CPC fruto da alteração de 2013
(nomeadamente da redação do artigo 466.º do CPC) e a posição dos Drs. Paulo Ramos
de Faria/Ana Luísa Loureiro e Pires de Sousa que defendem tal possibilidade ao abrigo
do artigo 411.º do CPC.

7) Proferida decisão julgando improcedente a ação, Carlos é absolvido dos pedidos.


Adérito não se conforma e resolve, intentar nova ação judicial contra Carlos,
peticionando o pagamento de EUR 250.000,00 a título de responsabilidade civil por
violação de deveres pré-contratuais. Poderia fazê-lo? (3 v.)

A questão suscita a análise da exceção dilatória de caso julgado – artigos 577.º, alínea
i), 581.º e 619.º do CPC.
Neste caso em concreto, deverá ser identificada a necessidade de verificação da tríade
de pressupostos do caso julgado: (i) identidade de partes; (ii) identidade da causa de
pedir e (iii) identidade do pedido.
De acordo, nomeadamente, com a jurisprudência (cfr. Acórdão do Supremo Tribunal
de Justiça, de 09.11.2017 (aqui) não se verificaria a exceção de caso julgado na segunda
ação atendendo ao facto de não se verificar a identidade de causa de pedir: na primeira
ação o fundamento é a nulidade do contrato-promessa por falta de forma, na segunda
ação a causa de pedir seria a violação de deveres pré-contratuais.

II
Comente a seguinte afirmação (3 v.)

“Se o objeto da sentença, quer em sede de ação declarativa, quer em sede de procedimento
cautelar, deve coincidir com o objeto do processo, isso não abrange a convolação”.

Ponderação dos limites da condenação nos termos do artigo 609.º do CPC, com a necessária
identificação do conceito de objeto do processo (aqui se incluindo, nomeadamente, a
definição de pedido e de causa de pedir, com eventual recurso aos números 3 e 4 do artigo
581.º do CPC).
Em concreto, para os procedimentos cautelares, referir a possibilidade de convolação oficiosa
pelo tribunal ao abrigo do artigo 376.º, n.º 3, do CPC e os seus limites.

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Exemplificação de situações em que, eventualmente, a convolação seja possível,


nomeadamente quanto esteja em causa uma diferente configuração jurídica da questão
(exemplo, o autor pede a condenação do réu por responsabilidade extra-contratual e o
tribunal considera existir responsabilidade contratual) e deveres do tribunal (nomeadamente,
se a convolação implica - ou não - o convite, pelo tribunal às partes para se pronunciarem
quanto à convolação ao abrigo do princípio do contraditório, nos termos do artigo 3.º, n.º 3,
do CPC).
Invocar, igualmente, a imposição legal do tribunal de conhecimento de questões oficiosas,
como é o caso da nulidade, ao abrigo do artigo 286.º do Código Civil (estando esta realidade
expressa no número 2 do artigo 608.º do CPC).

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Exame de Direito Processual Civil II (Noite)


Época Normal (Coincidências)
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
25.06.2018
Duração: 2h

Tópicos de correção

Em 10.06.2018, Andrew, inglês, domiciliado em Cascais, proprietário de dois veleiros, um de 14


pés, outro de 20 pés, decide vender um deles para comprar um maior e mais rápido. Para tanto,
anuncia esta sua intenção de venda no Standvirtual.

Nesse mesmo dia, Bernardo, português, residente em Sevilha, lê o anúncio e telefona de imediato
a Andrew a dar conta do interesse na compra do veleiro, que conhecia bem das regatas em Portugal:
"Tal como conversado hoje pelo Whatsapp, reitero o compromisso de lhe comprar o seu magnífico
veleiro. Estarei em Cascais no dia 20.06.2018 e nessa altura poderemos tratar da entrega das
chaves e da burocracia.”

Em 20.06.2018 Andrew e Bernardo encontram-se na marina de Cascais, mas quando Andrew se


prepara para entregar as chaves do veleiro com 14 pés, Bernardo fica surpreendido e informa que
sempre estivera interessado no veleiro de 20 pés, único que pensara ter estado à venda. Por outro
lado, logo informa de que este será possivelmente também demandado por Cristiano, cidadão
português, residente em Ibiza, uma vez que Bernardo se comprometera a passeá-lo no
Mediterrâneo, durante o mês de julho, coisa que já não poderá fazer.

Bernardo instaura de imediato uma ação judicial na instancia local do tribunal de Lisboa, pedindo
a condenação de Andrew à entrega do veleiro de 20 pés, em virtude da celebração de um contrato
de compra e venda, por via telefónica (juntando à petição inicial cópia do email enviado a Andrew),
e bem assim a condenação de Andrew no pagamento das despesas de deslocação em que incorreu
na viagem de ida e volta que realizou no avião da TAP, entre Madrid e Cascais. E, se assim não se
entendesse, solicita ainda ao tribunal a condenação de Andrew na restituição do montante de €
150.000,00 (cento e cinquenta mil euros), preço que pagara pelo “magnífico veleiro”.

Cristiano aproveita esta ação para nela deduzir um pedido de condenação de Andrew no pagamento
de uma indemnização no valor de 200 mil euros por já não poder fazer as suas férias de sonho.

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Responda de forma suscita, mas fundamentada, às seguintes questões (as questões são
independentes entre si):

1. Aprecie a admissibilidade da ação instaurada por Bernardo e Cristiano. (5 valores)

Análise da figura da cumulação de pedidos apresentada por B.: indicação do tipo de cumulação
de pedidos em causa na hipótese: (i) cumulação de pedidos simples, real, entre os pedidos de
condenação na entrega do veleiro de 20 pés e no pagamento das despesas de deslocação
decorrentes da viagem de ida e volta no avião da TAP.
Verificação dos pressupostos de admissibilidade da cumulação simples: (i) compatibilidade
substantiva; (ii) existência de situação de impedimento à coligação: compatibilidade das formas
de processo e competência absoluta do tribunal (artigos 555.º e 37.º/1 e 2 CPC)
Análise do pedido apresentado por C.
Distinção dos conceitos de pedido e de causa de pedir.
Análise da figura da coligação e seus pressupostos: (i) conexão objetiva; (ii) compatibilidade
substantiva; (iii) inexistência de situação de impedimento a coligação: compatibilidade das
formas de processo e competência absoluta do tribunal (artigos 36.º e 37.º CPC). No âmbito da
compatibilidade processual analisar a competência internacional e aplicação do Regulamento n.º
1215/2012, de 12 de dezembro. Análise do artigo 7.º (local do cumprimento da obrigação) e do
artigo 4.º (domicílio do Réu).
Análise da conexão objetiva.

2. Suponha que Andrew contesta, alegando que a petição inicial é inepta; em momento algum
declarou vender o veleiro de 20 pés, e o email enviado apenas identifica um “magnífico veleiro”,
sendo que o seu veleiro de 14 pés é magnífico. Classifique a defesa de Andrew. (3 valores)

Análise da figura da contestação (artigo 573.º CPC), bem como caracterização do tipo de
defesa que pode ser apresentada (artigo 574.º), defesa por impugnação ou exceção (artigo 571.º
CPC), e ainda a discussão sobre a reconvenção (artigo 583.º CPC), enquanto meio de defesa
(contra-acção).
Identificação da invocação da ineptidão da petição inicial como defesa por exceção dilatória
(artigo 186.º/2 CPC). A petição inicial não é inepta, logo, a exceção dilatória invocada por A.
não é procedente. Acresce que o réu interpretou a petição inicial convenientemente, logo
aplica-se o artigo 186.º/3 CPC, e a eventual ineptidão seria sanada, não procedendo a exceção
dilatória invocada.
Quando o réu alega que em momento algum declarou vender o veleiro de 20 pés, está a
defender-se por impugnação de facto (artigo 571.º CPC).

3. No dia da audiência prévia, Bernardo lembra-se que Carolina, sua prima, escutara a conversa
telefónica que conduzira à compra e venda, e pretende arrolá-la como testemunha. Por seu turno,
Andrew pede para ser ouvido pelo tribunal e arrola Drew (seu pai) como testemunha, tendo em

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vista provar que é um bom cidadão. Aprecie a admissibilidade dos meios de prova requeridos
por Andrew e Bernardo. (4 valores)

Apreciação do momento processual de apresentação da prova testemunhal e de depoimento de


parte na audiência prévia: extemporaneidade da apresentação (regra: apresentação com os
articulados em que se alegam os factos – artigos 423.º, 552.º/2 e 572.º/d) CPC. Exceção: prova
documental - artigos 424.º e 425.º CPC).
Análise da possibilidade de apresentação de prova testemunhal para fazer prova do direito de
propriedade sobre o veleiro (enquanto bem móvel, o contrato de compra e venda não está sujeito
a qualquer formalidade, mas apenas a registo), pelo que B. poderia ter arrolado C. na petição
inicial.
Análise da possibilidade de A., na contestação, arrolar como testemunha o seu pai (D.) para fazer
prova de que é um bom cidadão.

4. O Tribunal não está ainda convencido da verdade dos factos e decide, oficiosamente, chamar o
Bernardo para que este esclareça alguns factos, através de prova por confissão, em sede de
audiência final. Poderá fazê-lo? E, se determinasse antes a sua comparência para prestar
declarações de parte? (2 valores)

Análise do artigo 452.º, n.º 1 do CPC.


Análise da sua aplicação também às declarações de parte. Análise da querela doutrinária a
respeito da possibilidade de o tribunal, oficiosamente, determinar a prova por declarações de
parte. A respeito desta querela, colocar em confronto as posições do Prof. Lebre de Freitas
que pugna pela impossibilidade de ser determinada oficiosamente a prova por declarações
de parte, atendendo, nomeadamente, à atual redação do CPC fruto da alteração de 2013
(nomeadamente da redação do artigo 466.º do CPC) e a posição dos Drs. Paulo Ramos de
Faria/Ana Luísa Loureiro e Pires de Sousa que defendem tal possibilidade ao abrigo do artigo
411.º do CPC.

5. Suponha agora que o juiz dá como provado que o “magnífico veleiro” era, na realidade, o veleiro
de 20 pés. Mas como a ação judicial demorara imenso tempo, o veleiro de 20 pés tinha sido
vendido por Andrew à sua irmã mais nova, Ellen, exímia velejadora que, apesar de interpelada
repetidamente pelo tribunal, recusa-se entregar o veleiro, alegando que nada tem a ver com a
decisão do tribunal. Aprecie a admissibilidade desta alegação por parte de Ellen. (3 valores)

Análise dos conceitos de trânsito em julgado da decisão e de caso julgado material. Neste caso a
decisão tem força de caso julgado material.
Tendo Ellen adquirido o veleiro na pendência da causa, é uma parte em sentido material (uma
vez que não é um terceiro perante as partes da ação), ao abrigo do disposto no artigo 263.º/3
CPC.
As partes em sentido material ficam abrangidas pelo caso julgado por terem a mesma qualidade
jurídica das partes processuais (artigo 581.º/2 CPC).

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II.

Comente a seguinte afirmação:


“O caso julgado abrange todas as possíveis qualificações jurídicas do objecto apreciado, dado
que o que releva é a identidade de causa de pedir, ou seja os factos concretos com relevância
jurídica, e não a identidade das qualificações jurídicas que esse fundamento comporte”. (3
valores)

Distinção entre caso julgado material e formal (artigos 619.º e 620.º CPC).
Análise do alcance do caso julgado (artigo 621.º CPC).
Ver Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra disponível em
http://www.trc.pt/index.php/jurisprudencia-do-trc/processo-civil/6087-caso-julgado

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Direito Processual Civil II – Noite (Época de Recurso / Coincidências)


Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
27 de Julho de 2018
Duração: 2 horas

Considere a seguinte hipótese:

Em Janeiro de 2017, estavam Alberto e Berto a dirigir-se para um restaurante quando, no


passeio em que andavam, foram abalroados por Carlitos, que circulava a grande velocidade
numa bicicleta que acabara de receber dos pais como prenda de anos.
Por causa do acidente, Alberto tropeçou, fracturou a anca e teve de ser hospitalizado, o que
lhe causou prejuízos avultadíssimos: com efeito, tinha acabado de se desempregar para emigrar
para a Bélgica e, por causa do acidente, a empresa belga que o acolheria desinteressou-se da
contratação.
Berto teve melhor sorte, já que apenas partiu o relógio e rasgou o fato quando caiu no
passeio.
Como os pais de Carlitos, Dina e Edgar, se negavam a pagar-lhes a indemnização que
pretendiam (50.000 euros para Alberto e 2.000 euros para Berto), Alberto e Berto propõem uma
acção contra os dois, pedindo a sua condenação no pagamento desses montantes, por não
terem vigiado convenientemente o filho.
A propositura da acção coincidiu, todavia, com a ruptura do casal, mais precisamente com o
abandono do lar conjugal por Edgar, que viajou por tempo indeterminado para Angola e nunca
chegou a receber a carta de citação, por Dina nunca lha ter remetido.
Apenas Dina contestou, alegando: que Alberto sofria de dor ciática, por isso tendo tropeçado
no passeio, como, de resto, já lhe acontecera outras vezes; que desconhecia se Alberto recebera
algum convite para trabalhar no estrangeiro, mas duvidava, uma vez que tinha cadastro criminal;
que já pagara um fato novo a Berto, e muito melhor do que aquele que este estragara; que o
relógio quebrado não era de Berto, mas de um irmão deste, conhecido como “o Al dos relógios”,
uma vez que os vendia na Feira da Ladra.
Na audiência prévia, o advogado de Dina juntou facturas hospitalares, requereu um exame
médico e aditou uma testemunha ao rol de testemunhas que apresentara com a contestação.
O advogado de Alberto e Berto não compareceu, uma vez que o despacho que marcara a
audiência prévia era muito vago, limitando-se a referir que a mesma era convocada “para os fins
do n.º 1 do art. 591º do CPC” e o advogado pensou tratar-se de pura perda de tempo.
No despacho saneador o juiz absolve Dina e Edgar do pedido de indemnização formulado por
Berto.
Quanto ao pedido de Alberto, o juiz ordenou o prosseguimento da acção, considerando que
todos os pressupostos processuais estavam preenchidos. Porém, na sentença, e alertado por
uma amiga, também magistrada, de que Alberto já propusera uma acção semelhante contra
Dina e Edgar, num outro tribunal do País, absolve os réus da instância, com fundamento em
litispendência.

Analise as seguintes questões:


a) Configuração objectiva e subjectiva da acção proposta por Alberto e Berto; (3 valores);
Coligação activa (a conexão objectiva desta coligação decorre de se tratar de “apreciar
essencialmente os mesmos factos”: art. 36º/2 CPC); litisconsórcio passivo (voluntário,
responsabilidade solidária: art. 497º CC, art. 32º/2 CPC). Explicar por que motivo, do lado
activo, existe coligação e não litisconsórcio (pedidos discriminadamente formulados
pelos autores: cada um pede a sua indemnização)
b) Qualificação da defesa de Dina (3 valores);

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Impugnação de facto, excepto quanto ao fato (apenas quanto a este ponto há excepção
peremptória extintiva, uma vez que não é contrariada a causa de pedir da acção, que
integra todos os pressupostos da responsabilidade civil; é, sim, alegado um facto
extintivo da responsabilidade). Distinguir os 2 tipos de defesa à luz do art. 571º CPC;
referir também o art. 574º/3, quanto ao segundo facto impugnado
c) Consequências da falta de contestação de Edgar (2 valores);
D parece ter violado o dever do art. 228º/4 CPC
E está em revelia absoluta (art. 566º CPC)
E aproveita da contestação de D (art. 568º a) CPC)
d) Tempestividade dos meios de prova oferecidos na audiência prévia (2 valores);
Quanto aos documentos, mesmo que não supervenientes, podiam ser apresentados
(bastaria multa): art. 423º/2 CPC
Os outros meios podiam ser apresentados, porque aparentemente houve indicação de
testemunhas na contestação (art. 598º/1)
e) Valor jurídico do despacho saneador, na parte em que absolveu do pedido formulado
por Berto (3 valores);
O despacho que convoca a audiência deve indicar o seu fim (art. 591º/2 CPC), pelo que
foi cometida nulidade que arrasta o despacho saneador (posição de alguma
jurisprudência), nos termos do art. 195º/2 CPC
f) Valor jurídico da sentença (3 valores);
O saneador não fizera caso julgado formal, uma vez que era genérico (art. 595º/3, 1ª
parte); mas o juiz não pode considerar o facto que constitui a base da excepção se este
não tiver sido alegado, nem decidir matéria de conhecimento oficioso sem contraditório
(arts. 5º/1 e 3 e 3º/3). Haveria excesso de pronúncia (art. 615º/1 d), parte final)
g) Possibilidade de, na pendência da acção, Alberto exigir de Dina e de Edgar uma quantia
para prover ao seu sustento, uma vez que por culpa deles estava desempregado (2
valores).
Sim, arbitramento de reparação provisória (388º/1 CPC). Mencionar pressupostos e
regime; referir que não admite inversão do contencioso (art. 376º/4 “a contrario”)

Comente a seguinte afirmação, extraída de um acórdão de um tribunal superior português:


“A realização de prova por inspecção judicial não constitui um poder discricionário do juiz,
mas um poder-dever que deverá ser exercido, a requerimento das partes ou oficiosamente,
sempre que, fundadamente, se perspective tal diligência como útil para a decisão da causa e
que só poderá deixar de ser exercido quando a diligência se mostrar de todo desnecessária ou
inútil, o que deverá constar de despacho fundamentado”. (2 valores)
Dissertar sobre o princípio do inquisitório, sobre a evolução do modo como é perspectivado,
sobre o que é a inspecção judicial e sobre as consequências da violação dos poderes-deveres do
juiz (nulidades processuais)

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Exame de Direito Processual Civil II (Noite)


Época Especial (Finalistas)
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
11.09.2018
Duração: 2h

Critérios de correção
I

Artur acaba de adquirir, por EUR 500.000,00, a fantástica Herdade de Todos os Santos com o objetivo
de ali construir habitações de turismo rural e proporcionar um excelente retiro “para a confusão das
grandes cidades”.
Os vendedores, Bernardo e Catarina garantiram a Artur que, na Herdade, era possível a
concretização do seu projeto. Contudo, a Câmara Municipal de Beja rejeitou o pedido apresentado
por Artur porquanto era impossível a construção naquela área.
Artur está devastado: o seu projeto já não se vai concretizar e acaba de saber que Diogo arrombou
durante a noite o portão principal da Herdade e a porta de casa, subtraindo vários móveis estilo Luís
XIV que Artur tinha levado para lá.
Agastado com tudo isto resolve demandar (i) Bernardo e Catarina peticionado a resolução do
contrato de compra e venda e o pagamento de uma indemnização no valor de EUR 10.000,00 pelas
despesas que Artur teve com o projeto do alojamento; e (ii) Daniel peticionado a reparação dos danos
causados (no valor de EUR 5.000,00) e a restituição dos móveis que considera valerem, pelo menos,
EUR 100.000,00.
Não obstante ter sido regularmente citada, Catarina nada diz. Bernardo limita-se a dizer que
desconhece os factos relatados por Artur e que este é conhecido por ser um “néscio” nos seus
negócios. Daniel, na sua contestação, limita-se a dizer que invadiu a Herdade para resgatar a sua filha
que para ali tinha sido levada por Esmeralda, aproveitando para peticionar que Esmeralda seja
condenada a pagar-lhe uma indemnização por todos os danos causados com o rapto da sua filha.
Artur, notificado das contestações apresentadas, apresenta requerimento nos autos onde requerer que
Esmeralda seja condenada a restituir os móveis que se encontravam na Herdade já que, com toda a
certeza, foi ela que os roubou. Aproveita igualmente a ocasião para arrolar Filipe e Glória como
testemunhas alegando que desconhecia que eles tinham conhecimento sobre os factos em discussão
no litígio (razão pela qual não haveria arrolado qualquer testemunha na petição inicial).
Na audiência prévia Artur aproveita para requerer a realização de uma verificação não judicial
qualificada com o objetivo de determinar o valor concreto dos móveis que lhe foram subtraídos e,
bem assim, requerer que Catarina seja ouvida como testemunha para esclarecer as negociações
existentes até à formação do contrato. O Tribunal indefere ambos os pedidos, dizendo que a
verificação não judicial qualificada é dispendiosa e, no caso concreto, irrelevante e, ademais, que
Catarina não poderia depor como testemunha porque estando o contrato de compra e venda
corporizado em escritura pública é inadmissível o depoimento testemunhal sobre ele.

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Na sentença o Tribunal julga improcedente o pedido de anulação alegando que não ficou provado que
Artur tivesse sido enganado, mas resolve condenar Bernardo e Catarina no pagamento da
indemnização peticionada “para não se ficarem a rir”. Artur fica chocado: Bernardo, chamado pelo
Tribunal a esclarecer algumas questões controvertidas reconheceu que ele e Catarina tinham mentido
a Artur e a declaração de Bernardo tinha ficado gravada no processo: “É um caso claro de prova plena”,
alega Artur.
Por sua vez, Bernardo e Catarina não percebem o sentido da decisão e pretendem reagir.

Responda de forma suscita, mas fundamentada, às seguintes questões (as questões são
independentes entre si):

1) Analise os pedidos formulados por Artur e a sua admissibilidade? (3 v.)


São formulados dois pedidos por Artur contra Bernardo e Catarina (i) resolução do
contrato de compra e venda e (ii) compensação pelos danos causados pela não
concretização do projeto.
Identificação de uma situação de cumulação de pedidos à qual é aplicável o artigo 555.º
do CPC, não se verificando, em princípio qualquer situação impeditiva da formação dos
pedidos em cumulação.
Simultaneamente identificação de uma situação de coligação, na medida em que Artur
demanda, igualmente, Daniel, peticionado a compensação dos danos por si provocados
e a restituição dos móveis por si subtraídos.
Análise da admissibilidade da coligação passiva, nos termos dos artigos 36.º e 37.º do
CPC: estaria em causa, sobretudo, a falta de conexão objetiva exigível nos termos do
artigo 36.º do CPC, com as consequências do artigo 38.º do CPC.
2) Analise as defesas apresentadas por Bernardo e Daniel, sua admissibilidade e ainda a
ausência de qualquer intervenção de Catarina (3 v.)
A respeito da defesa de Bernardo identificação de uma defesa por impugnação (por
desconhecimento), com análise das consequências ao abrigo do artigo 574.º, n.º 3, do
CPC. Esta questão terá de ser analisada, igualmente, pelo prisma da ausência de
contestação de Catarina, atentos os efeitos da revelia estabelecidos no artigo 567.º do
CPC e a necessária compatibilização entre a alínea a) do artigo 568.º com o estabelecido
no artigo 574.º, n.º 3, do CPC.
Estabelecer, em todo o caso, que não se aplicaria, neste caso, a exceção prevista no
artigo 574.º, n.º 2, do CPC, quanto à necessidade de prova do erro através de documento
(essa exigência apenas era válida para a demonstração da existência do contrato de
compra e venda, o que, poderá ser considerado controvertido na medida em que o
enunciado não refere que Artur tenha junto aos autos a escritura pública de compra e
venda).
A defesa de Bernardo quando refere que Artur era conhecido como um néscio poderá,
se devidamente justificada, ser considerada como exceção perentória impeditiva, na

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medida em que Bernardo alega que Artur não utilizou da diligência exigível segundo o
padrão da boa-fé (nomeadamente na dimensão da boa-fé subjetiva e de atuação de
acordo com os valores do sistema aplicáveis na situação concreta e consideração a
atuação espectável do homem médio na mesma situação) – artigo 576.º, n.º 3, do CPC.
Admite-se, igualmente, a qualificação da defesa em causa como de simples
impugnação, sendo valorizada a fundamentação da opção por uma ou outra
qualificação por referência à identificação da causa de pedir.
Será valorizada a discussão em torno da possibilidade de, simultaneamente, Bernardo
defender-se por impugnação e por exceção (aplicação da lógica da subsidiariedade
entre os fundamentos de defesa).
Quanto à defesa apresentada por Daniel, trata-se de invocação de exceção perentória
modificativa, traduzida num eventual estado de necessidade ao abrigo do artigo 339.º
do Código Civil, com as consequências aí estabelecidas.
Nesta senda, cumpre ainda analisar qualificar o pedido formulado por Daniel contra
Esmeralda como um potencial incidente de intervenção principal provocada ao abrigo
dos artigos 316.º e seguintes. Contudo, não estando em causa qualquer das situações
previstas, nomeadamente, no artigo 316.º, n.º 3, do CPC (desde logo porque Daniel
pretende ser compensado dos danos por si sofridos e não que seja condenada Esmeralda
a ressarcir Artur dos prejuízos causados), tal intervenção não poderia ter cabimento.
Não fará sentido a autonomização do reconhecimento confessório efetuado por Daniel
na medida em que este é consumido pela exceção por si invocada.
Note-se, igualmente, que quanto à subtração dos móveis nada é referido por Daniel,
cumprindo, dessa forma, problematizar a eventual aplicação ao caso do estatuído no
artigo 574.º, n. 2, parte inicial, do CPC.
3) Analise o requerimento apresentado por Artur na sequência da notificação das
contestações apresentadas e a sua admissibilidade (3 v.)
Análise do regime da pronúncia de Artur apenas dever ter lugar em sede de audiência
prévia ou de audiência final, nos termos do artigo 3.º, n.º 4, do CPC, sem prejuízo de
poder ser admitido tal requerimento ao abrigo da gestão processual (artigo 6.º do CPC).
Por outro lado, mais do pronuncia sobre as contestações, Artur parece pretender a
intervenção de Esmeralda no processo, peticionado que esta lhe restitua os móveis que
subtraiu, o que poderá ser admissível nos termos do artigo 316.º, n.º 2, parte final,
conjugado com o artigo 39.º, ambos do CPC, desde que devidamente fundamentados e
justificados os diversos requisitos – o que levaria a que o requerimento tivesse,
necessariamente, de ser apresentado naquele momento ao abrigo do artigo 318.º, n.º 1,
alínea b), do CPC.
Quanto à indicação de testemunhas: tal deveria ser realizado em sede de audiência
prévia ao abrigo do artigo 598.º, n.º 1 (ou até 20 dias antes da realização da audiência
final, nos termos do artigo 598.º, n.º 2, do CPC). Sucede, contudo, que à primeira vista
não estariam verificados os requisitos para o aditamento ao rol de testemunhas,
porquanto Artur não deu cumprimento ao estabelecido no artigo 552.º, n.º 2, do CPC.

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Parece, contudo, decorrer do requerimento apresentado que Artur desconhecia que


existam testemunhas do facto o que poderá ter impedido a sua indicação em momento
posterior, sendo, por isso, valorizada a discussão do designado direito à prova
emergente do artigo 20.º, n.º 4, da Constituição da República Portuguesa (direito a um
processo justo e equitativo) e sua relevância quanto à superação dos momentos
processuais tendo em vista a defesa dos direitos constitucionalmente garantidos.
4) O Tribunal, na sequência da análise da petição inicial conclui que esta é inepta e deve
ser rejeitada porquanto Artur não invoca sequer qualquer norma jurídica nem aduz
qualquer fundamento de direito. Tem razão? (2 v.)
Análise do regime da ineptidão da petição inicial estabelecido no artigo 186.º do CPC.
Com efeito não decorre do preceito em causa, como fundamento para a ineptidão, a
ausência de invocação ou enquadramento jurídico dos pedidos formulados na petição
inicial.
Necessária referência ao dever/ónus do autor “expor as razões de direito que servem
de fundamento à ação” nos termos do artigo 552.º, n.º 1, alínea d), do CPC e as
consequências do seu não cumprimento.
Será igualmente valorizada a resposta que problematize o dever do tribunal de proferir
despacho pré-saneador, nos termos do artigo 590.º, n.º 2, alínea b), e n.º 3, ambos do
CPC, convidando o autor a suprir a irregularidade do articulado.
Admite-se a discussão a respeito da eventual ineptidão da petição inicial por ausência
do concreto facto jurídico em que se funda a resolução do contrato (com efeito, a
consequência do vício da vontade de Artur seria não a resolução do contrato, mas a sua
anulação).
5) Pronuncie-se sobre o requerimento de Artur na audiência prévia e o despacho judicial
aí proferido. (3 v.)
O requerimento apresentado corporiza-se numa alteração de requerimento probatório
ao abrigo do artigo 598.º, n.º 1, do CPC. É condição essencial que Artur tenha requerido,
na petição inicial, qualquer outro requerimento probatório, para que o pudesse alterar.
Qualificação dos meios de prova como verificação não judicial qualificada, nos termos
do artigo 494.º do CPC, explicitando os fundamentos de tal meio prova e questionado a
sua adequação ao caso concreto: não é função de tal meio de prova o estabelecimento
do valor dos bens móveis (o meio de prova mais adequado seria, eventualmente, a prova
pericial, nos termos dos artigos 474.º e seguintes). Em todo o caso, cumpriria salientar
que o pedido formulado foi a restituição dos bens móveis e não o seu sucedâneo
pecuniário, pelo que, o meio de prova em causa poderia ser rejeitado também com
fundamento na sua inutilidade para a ação.
Cumpriria, em todo o caso, a problematização da eventual rejeição de meio de prova
por razões puramente económicas.
Salientar igualmente que, no CPC, não existe qualquer momento processual
especificamente destinado ao requerimento de produção de prova por verificação não

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judicial qualificada, pelo que, desde que observados os requisitos do artigo 598.º do
CPC, tal requerimento poderia ser formulado em audiência prévia.
A respeito do requerimento para que Catarina fosse ouvida como testemunha: tal seria
inadmissível na medida em que o artigo 496.º do CPC veda tal possibilidade às partes
no processo. Contudo, o argumento invocado pelo Tribunal para recusar o meio de
prova requerido não é válido, na medida em que, não obstante a existência de
documento com força probatória plena (artigos 364.º e 371.º do Código Civil) é sempre
admissível o depoimento testemunhal para o esclarecimento do sentido das declarações
exaradas no documento (artigo 393.º, n.º 3, do Código Civil).
Será valorizada a discussão a respeito da possibilidade de o tribunal “converter” a prova
testemunhal requerida em prova por declarações de parte (convolação do meio de
prova) ao abrigo, eventualmente, do dever de cooperação e/ou de gestão processual.
6) Analise a sentença proferida e, bem assim, o argumento utilizado por Artur. Que
poderão fazer Bernardo e Catarina? (3 v.)
A respeito do argumento utilizado por Artur este não procede: não obstante o regime
em que Bernardo depôs (artigo 452.º, n.º 1, do CPC), para que a sua putativa confissão
pudesse valer como prova plena seria necessário que se tivesse verificado a assentada
(artigo 463.º do CPC e 355.º, n.ºs 1 e 2, e 358.º, ambos do Código Civil).
Fora dessas condições, o eventual reconhecimento dos factos efetuado por Bernardo
fica sujeito ao princípio da livre apreciação da prova: não faz prova plena.
A respeito da potencial reação de Bernardo e Catarina, estará em causa a invocação de
nulidade da sentença, nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 613.º do CPC – salientado
não poder ter aplicação a alínea b) do mesmo preceito legal, porquanto se aplica
somente às situações de absoluta falta de fundamentação da decisão, o que não parece
ser o caso.
Era admissível a argumentação da nulidade quer com base na contradição entre os
fundamentos e a decisão (na medida em que, tendo o tribunal considerado que não
estava provado que Bernardo e Catarina tinham enganado Artur, não se divisa como
podem ser condenação no pagamento de uma indemnização com esse fundamento) e,
bem assim, pelo facto de a decisão ser obscura ou ininteligível quanto aos seus
fundamentos.
A nulidade da decisão seria arguível por via de recurso – artigos 615.º, n.º 4 e 627.º e
seguintes do CPC.

II
Comente a seguinte afirmação (3 v.)

“A distribuição dinâmica do ónus da prova deve merecer acolhimento porquanto é a única


forma de resolver as situações de probatio diabólica”

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Identificação do regime regra do ónus da prova estabelecido no artigo 342.º do Código Civil,
e sua qualificação como ónus da prova em sentido objetivo – por contraposição ao regime do
ónus da prova subjetivo que não é acolhido no nosso ordenamento em face do estatuído no
artigo 413.º do CPC.
Explicitação dos regimes excecionais que constituem um desvio à regra geral do ónus da
prova previstos no artigo 343.º do Código Civil.
Referência à designada tese da distribuição dinâmica do ónus da prova, que, entre as diversas
teses, pugna pela atribuição do ónus de prova de determinado facto à parte que estiver em
melhores condições de o demonstrar.
Indicação das várias críticas que têm sido realizadas à distribuição dinâmica do ónus da
prova, nomeadamente por questões de segurança jurídica e de certeza.
Indicação, nomeadamente, de outros meios de prova (ou meios de raciocínio probatório),
como as presunções judiciais para aquilatar as situações de prova diabólica.

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Direito Processual Civil II (Noite)


Prova Escrita – Época normal 2019-2020

TÓPICOS DE CORREÇÃO (NÃO EXCLUEM OUTROS ELEMENTOS DE VALORAÇÃO)

No dia 1 de janeiro de 2020, António celebrou com Bento, um contrato-promessa


de compra e venda de um apartamento em Lisboa. As partes fixaram o preço em
500.000,00 EUR (quinhentos mil euros), tendo António entregue desde logo a Bento a
quantia de 50.000,00 EUR (cinquenta mil euros) a título de sinal e princípio de
pagamento.
No dia 15 de fevereiro, Bento recebe uma carta registada com aviso de receção a
António, comunicando-lhe a sua intenção de não cumprir o contrato-promessa, uma vez
que iria vender todas as frações do prédio a Clotilde, conhecida investidora imobiliária.
De imediato, António intenta ação judicial contra Bento e Clotilde em que pede
(i) a execução específica do contrato-promessa e (ii) na eventualidade do imóvel ser
vendido entretanto uma indemnização de 200.000,00 EUR (duzentos mil euros) a ser
liquidada solidariamente pelos Réus por incumprimento deliberado do referido contrato-
promessa. Refere ainda que o contrato promessa foi celebrado em apenas uma via, que
ficou na posse do Réu Bento.
Clotilde nada diz, ao passo que Bento apresenta contestação onde alega:

1.º É verdade que o Réu quer vender todas as frações autónomas do prédio a
Clotilde;
2.º É falso que António tenha direito a ser indemnizado, uma vez que o sinal
pago por efeito do contrato-promessa foi devolvido em singelo ao Autor,
como aí se previra na eventualidade do Réu encontrar melhor comprador
no prazo máximo de 60 dias, o que sucedeu;
3.º O Réu é que, ao invés, tem direito de ser indemnizado por António dado que
a ação judicial em causa é prejudicial ao seu bom nome e crédito no
mercado e perturba a conclusão do negócio com Clotilde, valor de
indemnização que, porém, não se consegue ainda quantificar, mas que se
peticiona desde já.

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Prova Escrita – Época normal 2019-2020

TÓPICOS DE CORREÇÃO (NÃO EXCLUEM OUTROS ELEMENTOS DE VALORAÇÃO)

Responda justificadamente às seguintes questões:

1. Aprecie a admissibilidade dos pedidos deduzidos por António na sua petição inicial.
(2 v.)

 Identificação dos requisitos do pedido (cf. art. 186.º do CPC), a sua necessidade (v.g.,
art. 3.º, n.º 1, e 552.º, n.º 1, e) do CPC) e função conformadora do objeto do processo,
em conjunto com a causa de pedir;
 Identificação de dois pedidos em relação de cumulação subsidiária (cf. art. 554.º do
CPC);
 Análise dos pressupostos de admissibilidade deste tipo de cumulação (art. 37.º,
aplicável ex vi art. 554.º, n.º 2, ambos do CPC), devendo concluir-se em sentido
afirmativo;
 Em particular, é valorizada (e desvalorizada a afirmação contrária) a referência ao
facto de a incompatibilidade substantiva não ser entrave à cumulação, uma vez que
o pedido subsidiário somente será analisado em caso de improcedência do pedido
principal (554.º, n.º 2 do CPC).

2. Analise a Contestação do Réu Bento e as suas consequências processuais. (3 v.)

 A contestação é o articulado através do qual o Réu exerce o seu direito de defesa.


Neste, o Réu deve tomar posição definida quanto a toda a factualidade alegada pelo
Autor, bem como quanto ao seu correspondente enquadramento jurídico. A
contestação deve assumir a forma de articulado e o prazo para a sua apresentação é
de 30 dias após a citação (aos quais acrescem as eventuais dilações aplicáveis). No
caso, havendo pluralidade de Réus, deve ser considerado aquele que termine em
último lugar (cf. art. 569.º, n.º 2 do CPC).
 Quanto aos concretos pontos da contestação:
1.º: Trata-se da confissão directa de um facto (cf. art. 352.º do CC), o qual se
considera provado;

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Prova Escrita – Época normal 2019-2020

TÓPICOS DE CORREÇÃO (NÃO EXCLUEM OUTROS ELEMENTOS DE VALORAÇÃO)

2.º: O Réu invoca uma excepção perentória extintiva do direito alegado pelo Autor,
cuja consequência, caso seja procedente, é a absolvição (total ou parcial) do pedido.
O Autor tem direito ao contraditório sobre o referido facto, o qual deverá ser exercido
em sede de audiência prévia ou, não ocorrendo, em sede de audiência de discussão e
julgamento. Deve ser também referido que, face ao ponto 3, que corresponde a uma
reconvenção, a resposta às excepções deveria ser apresentada conjuntamente com a
resposta à reconvenção por meio de réplica, por ser este o último articulado
processualmente admissível (cf. art. 3.º, n.º 4 do CPC);
 O ponto 3. da contestação corresponde a um pedido reconvencional, i.e., pedido
formulado pelo Réu contra o Autor. Sem prejuízo do pedido ser admissível em termos
substantivos, formalmente, a reconvenção deve ser deduzida separadamente (e
atribuído um valor), impondo ao Autor o ónus de apresentar réplica e impugnar os
factos e deduzir as excepções relevantes, sob pena de, tal como sucede com a falta de
contestação, se considerarem admitidos os factos não impugnados (deve ainda ser
discutida a possibilidade de a falta de apresentação de réplica gerar a confissão ficta
dos factos, à semelhança da revelia). Deverão ser desenvolvidos os pressupostos
processuais da Reconvenção;

3. Analise a posição da Ré Clotilde e as suas consequências processuais. (2 v.)

 C não contesta nem pratica qualquer acto no processo pelo que se encontra numa
situação de revelia absoluta (cf. art. 566.º e seguintes do CPC). A revelia é absoluta
devido à total inércia de C. Tendo esta omitido a apresentação da contestação, mas
tendo intervindo de alguma forma no processo, designadamente pela junção de
procuração a mandatário forense, estaria em causa uma revelia relativa. Uma e
outra conduzem a um idêntico efeito cominatório (semi-pleno), i.e., a (fictícia)
admissão dos factos alegados pelo autor e sobre os quais não recaia uma excepção
(por exemplo, os factos para os quais a lei, relativamente à sua prova, exija
documento escrito);
 Análise dos efeitos da revelia, atendendo à defesa apresentada pelo Réu B;
 Devem ser explicitadas as alterações de tramitação geradas pela revelia absoluta.

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TÓPICOS DE CORREÇÃO (NÃO EXCLUEM OUTROS ELEMENTOS DE VALORAÇÃO)

4. Admita que o Tribunal notifica Bento para juntar aos autos o contrato promessa
celebrado e que este, apercebendo-se que não tem razão na sua alegação, se recusa a
fazê-lo. Como deve o Tribunal proceder? (3 v.)

 Referência ao princípio geral de distribuição do ónus da prova subjetivo (cf. art.


342.º do CC);
 Análise dos princípios da oficiosidade e da cooperação, referindo, em particular, o
artigo 411.º e 417.º do CPC;
 Em particular, analisar a possibilidade de o Tribunal aplicar uma multa a B e
apreciar livremente a recusa para efeitos probatórios;
 Discutir a possibilidade de inversão do ónus da prova, nos termos do art. 344.º, n.º
2, do CC.

5. Imagine que, após a audiência prévia, António vem a falecer. O que acontece à
instância e o que faria se fosse Daniela, cônjuge e única sucessora de António? (2 v.)

 A morte de A determinaria a suspensão da instância, nos termos do art. 269.º, n.º1,


al. a) e 270.º do CPC;
 Referência aos efeitos da suspensão, nomeadamente o art. 275.º CPC;
 Deveria ser promovida a substituição (262.º, al. a) do CPC) de António, por Daniela,
o que deveria ocorrer através de habilitação (351.º e ss. do CPC).

6. Suponha que, no decurso da audiência final, António se convence do mérito da defesa


de Bento. Que pode / deve fazer? (2 v.)

 Referência à possibilidade de autocomposição do litígio pelas partes;


 No caso, estando A convencido do “mérito”, deveria desistir do pedido (cf. art. 283.º,
n.º 1, CPC);
 A desistência do pedido, importanto a extinção do direito alegado pelo autor, é livre
em qualquer momento (cf. art. 283.º, n.º 1, e 286.º do CPC), ao contrário da

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TÓPICOS DE CORREÇÃO (NÃO EXCLUEM OUTROS ELEMENTOS DE VALORAÇÃO)

desistência da instância que, não obstando à propositura de nova ação, carece de


aceitação do réu (cf. 286.º, n.º 1, do CPC);
 De todo o modo, manter-se-ia a instância, para apreciação do pedido reconvencional
(cf. art. 286.º n.º 2, do CPC).

7. Após a apresentação da petição inicial, António descobre que Bento colocou à venda
no OLX todo o seu património. O que faria, se fosse mandatário(a) de António e que
fundamento(s) alegaria, nessa sede? (3 v.)

 Análise da matéria das providências cautelares e respetivos requisitos gerais;


 Em particular, a providência cautelar mais adequada à tutela dos interesses de A
seria o arresto dos bens de B;
 Análise dos pressupostos substantivos e processuais deste tipo de expediente e
articulação da sua tramitação com a ação principal, já em curso.
 Deveria ser problematizado se estaríamos perante uma “lesão grave e dificilmente
reparável” ao direito dos Autores e, assim, se deveria o Juiz conceder uma tutela
provisória antes da sentença.

II

Comente, justificadamente, a seguinte afirmação: (3 v.)

“O Código do Processo Civil recusa uma apreciação livre, ainda que racional, dos meios
de prova por parte do julgador”

 Interessaria sublinhar que o subsistema de valoração racional de prova é bem


distinto da prova livre, enquanto livre convicção do julgador. De qualquer modo,
após uma fraturante antinomia entre os sistemas de prova livre e prova legal, houve
que os compatibilizar num modelo sincrético ou misto. Algo que foi adotado,
paulatinamente, por diversos ordenamentos jurídicos, designadamente o português.
Aliás, o nº 5 do artigo 607º do CPC ilustra, de modo paradigmático, tal modelo, ao

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Prova Escrita – Época normal 2019-2020

TÓPICOS DE CORREÇÃO (NÃO EXCLUEM OUTROS ELEMENTOS DE VALORAÇÃO)

recentrar o equilíbrio do sistema misto, recusando, por conseguinte, o predomínio da


apreciação livre. Em suma, por estas razões, será adequado manifestar concordância
com a frase proposta.

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Direito Processual Civil II (Noite)


Regente: Prof. Doutor JosŽ Lu’s Ramos
Prova Escrita Ð ƒpoca de Recurso
24 de julho de 2020 Ð 19:30 | Dura•‹o da prova: 2h

T—picos de Corre•‹o

1. Analise, separadamente, a admissibilidade e as consequ•ncias processuais de cada


um dos quatro pontos da contesta•‹o. (i. 1 valor; ii. 1,5 valores; iii. 1,5 valores;
iv. 3 valores Ð total: 7 valores)

i) Trata-se de uma impugna•‹o de facto, nos termos do art. 574.¼/3 CPC. A R. n‹o tem
como saber se os AA. conseguem ou n‹o dormir.
A impugna•‹o de facto torna o facto controvertido.
Os AA. n‹o t•m direito de resposta.

ii) Trata-se de uma exce•‹o perent—ria impeditiva, pois C invoca um facto novo (que
necessita do c‹o para sua seguran•a) e que est‡ a exercer um direito que prevalece numa
colis‹o.
Os AA. t•m direito a responder na rŽplica (art. 3.¼/4 CPC), considerando que houve lugar
ˆ dedu•‹o de pedido reconvencional.
Em princ’pio, esta defesa s— seria admiss’vel se fosse subsidi‡ria do ponto i), porque esta
exce•‹o implica o reconhecimento de que o direito dos AA. ao seu descanso estava a ser
violado.

iii) Trata-se de uma impugna•‹o da exatid‹o do documento (reprodu•‹o mec‰nica), nos


termos do art. 444.¼ CPC.
Esta impugna•‹o da exatid‹o foi feita no momento processualmente adequado (art.
444.¼, n.¼ 2 CPC).
Nos termos do art. 368.¼ CC, a grava•‹o perde a sua for•a probat—ria plena por ter sido
impugnada a sua exatid‹o.

iv) Trata-se de um pedido reconvencional, formulado pela R. contra os AA..


Os AA. t•m direito de resposta na rŽplica (art. 585.¼ CPC).
Verificar os requisitos de admissibilidade do pedido reconvencional.
Concluir que Ž inadmiss’vel por falta de conex‹o objetiva, justificando com o n‹o
preenchimento de nenhuma das al’neas do art. 266.¼, n.¼ 2 CPC (explicar, especialmente,
porque Ž que n‹o se encontra preenchida a al. a)).

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Direito Processual Civil II (Noite)


Regente: Prof. Doutor JosŽ Lu’s Ramos
Prova Escrita Ð ƒpoca de Recurso
24 de julho de 2020 Ð 19:30 | Dura•‹o da prova: 2h

2. J‡ depois de proposta a a•‹o, Ana descobre que est‡ gr‡vida e que o seu mŽdico
desconfia que a aus•ncia de um descanso adequado pode ser a causa de algumas
complica•›es que se est‹o a verificar na gravidez. Analise separadamente a
admissibilidade processual das seguintes pretens›es de Ana:

2.1. Ana pretende que o tribunal condene imediatamente Carolina a impedir o


seu c‹o de ladrar durante a noite, atŽ porque considera que j‡ foi feita prova
suficiente da realidade dos factos essenciais para o reconhecimento do seu
direito ao descanso, n‹o sendo necess‡ria a audi•‹o das testemunhas arroladas
pela rŽ. (4 valores)

Aquilo que Ana pretende seria conseguido atravŽs do decretamento de uma provid•ncia
cautelar comum (pois n‹o se enquadra em nenhuma das provid•ncias especificadas),
com invers‹o do contencioso, para que a decis‹o se tornasse definitiva.
Verificar a exist•ncia de periculum in mora no caso concreto.
Referir a necessidade de fumus boni iuris e proporcionalidade para decretamento da
provid•ncia e verificar o seu preenchimento no caso concreto.
N‹o parece que a urg•ncia seja tal que justifique que a provid•ncia seja decretada sem
audi•‹o da requerida nem sem audi•‹o das testemunhas arroladas por Carolina, mas
depende do caso concreto. S‹o admiss’veis ambas as posi•›es, desde que devidamente
justificadas.
Referir a necessidade de que o juiz tenha a convic•‹o plena de que o direito de Ana existe
para inverter o contencioso. ƒ tambŽm necess‡rio que a natureza da provid•ncia o
permita, o que se verifica, pois trata-se de uma provid•ncia antecipat—ria.
Alus‹o ˆs posi•›es doutrin‡rias que entendem n‹o existir lugar ˆ invers‹o do
contencioso, em virtude de a provid•ncia ter sido decretada j‡ na pend•ncia da a•‹o
principal.

2.2. Ana pretende acrescentar outro pedido contra Carolina, de condena•‹o ao


pagamento de uma indemniza•‹o de valor a determinar, depois de conhecida
a extens‹o total dos gastos mŽdicos. (3 valores)

As complica•›es na gravidez e os danos com ela relacionados s‹o factos supervenientes,


pelo que deveriam ser trazidos ao conhecimento do juiz atravŽs de um articulado
superveniente (art. 588.¼ CPC). Neste caso, seria admiss’vel.

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Direito Processual Civil II (Noite)


Regente: Prof. Doutor JosŽ Lu’s Ramos
Prova Escrita Ð ƒpoca de Recurso
24 de julho de 2020 Ð 19:30 | Dura•‹o da prova: 2h

Decorrendo da ocorr•ncia de um facto superveniente, a maioria da doutrina defende que


o novo pedido n‹o teria de ser a consequ•ncia ou desenvolvimento do pedido principal
nem de respeitar o critŽrio temporal do art. 265.¼/2 CPC. Ainda assim, neste caso,
encontram-se ambos preenchidos.
Visto que este pedido Ž formulado apenas por Ana, e esta pretende que ambos os efeitos
pedidos se produzam em simult‰neo, forma-se uma coliga•‹o simples, pelo que seria
necess‡rio verificar os seus requisitos. Todos se encontram preenchidos.
Concluir que se trata de um pedido genŽrico admiss’vel, nos termos do art. 556.¼/b CPC).

3. Um dos temas da prova fixado pelo juiz Ž o seguinte: ÒOs latidos do c‹o impedem
os autores de dormir?Ó. Comente a inclus‹o deste tema da prova, e diga como
deve o juiz decidir se n‹o conseguir formar convic•‹o segura sobre a veracidade
deste facto. (3 valores)

Trata-se de um facto controvertido (pois foi impugnado pela R. Ð impugna•‹o de facto),


pelo que Ž correta a sua inclus‹o nos temas da prova.
Em caso de dœvida insan‡vel do juiz, aplica-se o 414.¼ CPC.
Quem tem o —nus de provar que os latidos do c‹o impedem os AA. de dormir s‹o os
pr—prios AA., porque se trata de um facto constitutivo do seu direito ˆ condena•‹o da R.
a assegurar que o c‹o n‹o ladra mais, bem como do direito ˆ indemniza•‹o.
Nota: Ž essencial identificar os direitos que o facto em causa constitui.
Assim, caso o juiz ficasse em dœvida, deveria decidir como se os latidos do c‹o n‹o
impedissem os AA. de dormir.

II

Na pergunta de desenvolvimento o aluno deveria referir que o efeito cominat—rio


semipleno, decorrente da situa•‹o de revelia operante, apenas determina que se devam
ter por confessados os factos efetivamente alegados pelo demandante Ð cabendo ao juiz
sindicar da sufici•ncia e conclud•ncia jur’dica da factualidade assente por confiss‹o
ficta, em termos do preenchimento ou n‹o da fattispecie subjacente ao pedido deduzido.
E, nesta perspetiva, Ž evidente que nada obsta a que, apesar de n‹o contestada, a a•‹o
possa so•obrar, sempre que os factos confessados forem insuficientes para suportar o
efeito jur’dico pretendido pelo demandante.

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Direito Processual Civil II (Noite)


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Prova Escrita – Época Especial
17 de setembro de 2020 – 19:00 | Duração da prova: 2h

Tópicos de Correção

1. Pronuncie-se sobre a admissibilidade do pedido respeitante às despesas de saúde.


(3 valores)

O pedido respeitante às despesas de saúde foi formulado em cumulação simples e


encontrava-se dependente da verificação dos respetivos pressupostos de admissibilidade
(compatibilidade substantiva e compatibilidade processual, cfr. artigos 555.º e 37.º do
CPC).

Não existindo obstáculo à cumulação simples, o pedido respeitante às despesas de saúde


é subsumível à previsão do artigo 556.º, n.º 1 alínea b) do CPC, sendo um pedido
genérico; o Autor não concretiza o montante dos danos por não ser ainda possível
quantificar, no momento da propositura da ação, o valor total das consultas de
fisioterapia.

2. Admita que, 4 dias após a propositura da ação, a secretaria do tribunal envia as


cartas registadas com aviso de receção para se proceder à citação dos réus. Quando
o carteiro se desloca a casa do réu Bruno, jardineiro dos vizinhos, apenas encontra
a sua mulher Celeste que assina, apesar disso, o aviso de receção. Acreditando
não ter sido citado, Bruno não apresenta qualquer defesa. Quais são, neste caso,
as consequências da falta de impugnação? Em que medida a atitude das compartes
de Bruno influenciaria a sua resposta? (3,5 valores)

Não apresentando qualquer defesa, o réu Bruno entra em revelia já que não oferece
contestação, nem junta documentos nos 30 dias subsequentes à citação (cfr. artigo 569.º
do CPC; a revelia não se confunde com a falta de impugnação de factos articulados pelo
Autor). Admitindo-se uma completa inação, esta revelia qualifica-se como absoluta.

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Direito Processual Civil II (Noite)


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Prova Escrita – Época Especial
17 de setembro de 2020 – 19:00 | Duração da prova: 2h

Atendendo à não comparência do réu em juízo, o tribunal deve verificar a regularidade


da citação, ordenando a sua repetição caso necessário (cfr. artigo. 566.º do CPC).

Bruno não deixaria de estar em revelia ainda que tivesse faltado ou fosse nula a sua
citação (cf. artigo 696.º alínea e) do CPC). Porém, nada no enunciado aponta neste
sentido. Bruno deve considerar-se citado na sua própria pessoa (trata-se de uma citação
ficticiamente pessoal, cf. artigo 567.º do CPC).

Assim, os efeitos da revelia dependem da verificação de alguma das hipóteses previstas


pelo artigo 568.º do CPC. Havendo vários réus, a revelia será inoperante quando algum
dos compartes contestar relativamente aos factos que impugne (cf. artigo 568.º, al. a) do
CPC) ou operante, na hipótese contrária.

Em caso de litisconsórcio passivo, a revelia só é operante, pelo menos plenamente, se


provier de todos os litisconsortes. Isto, quer o litisconsórcio seja voluntário, quer
necessário: num e noutro caso, a contestação de um aproveita a todos.

Para além da impugnação, se os compartes alegassem uma exceção que aproveitasse a


Bruno, esta também lhe poderia aproveitar (seguindo uma interpretação extensiva da
referida alínea).

3. Diana e Francisco, alegados proprietários, consideram-se titulares de um direito


de crédito de 5.000,00€ contra André. Podem fazer valer este direito na ação
pendente? Como? (3 valores)

Os réus podem formular contra o autor um ou mais pedidos autónomos, que tomam a
designação de reconvenção (cf. artigo 266.º, n.º 1 do CPC).

A possibilidade de dedução deste(s) pedido(s) depende, todavia, da verificação de


pressupostos específicos (a expor e avaliar): não exclusão por lei, compatibilidade
processual, compatibilidade procedimental e conexão objetiva.

A reconvenção é admissível quando se pretenda obter a compensação judicial de


créditos, mesmo quando o crédito invocado pelo réu não exceda o do autor (cf. artigo
266.º, n.º 2, al. c) do CPC).

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Prova Escrita – Época Especial
17 de setembro de 2020 – 19:00 | Duração da prova: 2h

Se a compensação (judicial) não fosse realizada por via de reconvenção, o contracrédito


não teria força de caso julgado material. Alguma doutrina defende, no entanto, que o réu
pode escolher invocar a compensação (judicial) como exceção perentória.

4. Juntamente com a contestação, Diana e Francisco oferecem uma carta escrita e


assinada por André em que este agradece o empréstimo do abrigo de jardim.
Perante a apresentação deste meio de prova, o que deve o tribunal decidir quanto
à propriedade do abrigo? (3 valores)

A carta escrita e assinada por André constitui um documento (narrativo) particular


simples, assinado (cf. artigo 362.º do CC), o qual foi apresentado tempestivamente (cf.
artigo 423.º do CPC).

A sua força probatória formal é bastante. A prova da autoria ou procedência da dita


carta depende da atitude que André venha a tomar na ação relativamente à sua
subscrição, cedendo a prova legal perante mera dúvida.

Perante a apresentação deste meio de prova, André poderia tomar uma das seguintes
atitudes: nada dizer (o que corresponderia a um reconhecimento tácito da autoria),
reconhecer expressamente a autenticidade do documento, alegar o seu desconhecimento,
ou, ainda, arguir a falsidade da assinatura.

Sendo o documento validamente impugnado, caberia aos apresentantes (Diana e


Francisco) fazer prova da sua genuinidade (cf. artigo 374.º, n.º 2 do CPC).

Uma vez determinada a assinatura do documento, têm-se por plenamente provadas


(força probatória material) as declarações confessórias atribuídas a André (cf. artigo
376.º, n.º 1 e 2 do CC). A propriedade do abrigo pode ser provada através de qualquer
meio de prova (não se aplica o artigo 364.º do CC).

Em síntese, a impugnação da assinatura constante da carta onera Diana e Francisco


com a prova da sua genuinidade (sob pena de se ficcionar a falta de autenticidade do
documento, cf. artigo 414.º do CPC). Já o reconhecimento da assinatura (seja ele tácito
ou expresso) conduz à prova plena da propriedade de Diana e Francisco sobre o abrigo
de jardim.

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Direito Processual Civil II (Noite)


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Prova Escrita – Época Especial
17 de setembro de 2020 – 19:00 | Duração da prova: 2h

5. Quais as consequências do artigo 493.º, n.º 1 do Código Civil para a prova dos
factos alegados na ação? (2,5 valores)

O artigo 493.º, n.º 1 do CC consagra uma presunção legal (ilação que a lei tira de um
facto conhecido para firmar um facto desconhecido, cf. artigo 349.º do CC). O dever de
vigilância constitui a base da presunção (ou facto instrumental) e a culpa, o facto
presumido.

Este artigo estabelece uma presunção (ilidível ou iuris tantum, cf. artigo 350.º, n.º 2 do
CC) de culpa [(...) responde pelos danos que a coisa ou os animais causarem, salvo se
provar que nenhuma culpa houve da sua parte ou que os danos se teriam igualmente
produzido ainda que não houvesse culpa sua] o que implica, em juízo, uma inversão do
ónus da prova.

As presunções ilidíveis são um meio de prova com força probatória plena.

Deste modo, a André apenas se exige que alegue (e prove) que a árvore tombada
pertencia aos réus ou que sobre eles impendia um dever de vigilância, ficando dispensado
de demonstrar que a queda se deveu a uma conduta culposa. A culpa só se terá por não
provada se os réus lograrem (i) impugnar a base da presunção ou (ii) demonstrar o
contrário do facto presumido, demonstrando que não tiveram culpa (prova do contrário).

6. Na sequência da instrução da causa, o tribunal vem a tomar conhecimento de que


a Autoridade Nacional da Proteção Civil tinha emitido um aviso amarelo para a
manhã do acidente. Pode o tribunal conhecer deste aviso amarelo? (2 valores)

O aviso amarelo constitui um facto relevante para a decisão (contribui para o


afastamento da presunção de culpa) e pode ser adquirido em juízo, independentemente
da sua alegação por qualquer das partes. Admite-se o seu enquadramento, desde que
justificado, ora como facto complementar (cf. artigo 5.º, n.º 2 al. b) do CPC), ora como
facto notório (cf. artigos 5.º, n.º 2 al. c) e 412.º, n.º 1 do CPC).

Em rigor, atendendo à sua publicação no site da Autoridade Nacional de Proteção Civil


e à sua frequente difusão nos meios de comunicação social, esta última classificação
afigura-se a mais adequada: o aviso é um facto que qualquer pessoa pode conhecer.

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Direito Processual Civil II (Noite)


Regente: Prof. Doutor José Luís Ramos
Prova Escrita – Época Especial
17 de setembro de 2020 – 19:00 | Duração da prova: 2h

II

A frase refere-se ao meio de prova introduzido pela reforma de 2013: prova por
declarações de parte.
Na pergunta de desenvolvimento o aluno deveria (i) distinguir o depoimento de parte das
declarações de parte, (ii) ponderar a conveniência do meio de prova e (iii) refletir sobre
a valoração do ‘testemunho de parte’.
Vide:
http://www.trl.mj.pt/PDF/As%20declaracoes%20de%20parte.%20Uma%20sintese.%20
2017.pdf

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EXAME– 1.ª ÉPOCA


PROCESSO CIVIL II TURMA B
REGÊNCIA PROFESSOR DOUTOR JOSÉ BONIFÁCIO RAMOS
23.06.2021
DURAÇÃO 120 MINUTOS
TÓPICOS DE CORREÇÃO

I.

1. (4 valores)
 Análise do objeto processual: conceitos de pedido e de causa de pedir.
 Análise da cumulação de pedidos (anulação do negócio e restituição da prestação):
a) Trata-se de uma cumulação originária (real) simples (artigo 555.º CPC);
ou
 Trata-se de uma cumulação subsidiária imprópria entre os primeiros dois pedidos (posição
do Professor Teixeira de Sousa: a cumulação subsidiária imprópria entre os dois primeiros
pedidos decorre do seguinte: apenas se proceder o pedido de anulação poderá ser apreciado
e eventualmente proceder o pedido de condenação à restituição da prestação realizada -
artigo 289.º/1 Código Civil)
 Análise dos requisitos de admissibilidade da cumulação de pedidos originária simples (que
também se tem de verificar caso se tenha entendido que existe uma cumulação subsidiária
impropria entre os primeiros dois pedidos).
 Os requisitos da cumulação estão verificados.

2. (3 valores)
A sociedade Quadros, Lda. deduz um pedido reconvencional contra Afonso (artigo 266.º
CPC), cabendo aferir da admissibilidade do mesmo.
Importaria, desde logo, explorar a hipótese de a reconvenção ser admissível nos termos da
alínea a) do n.º2 do artigo 266.º CPC.

Caberia adicionalmente equacionar a admissibilidade do pedido reconvencional ao abrigo


do disposto no artigo 266.º/2, c) CPC, porquanto a Quadros, Lda., pretende o
reconhecimento de um crédito sobre Afonso.

Finalmente, seria pertinente apreciar admissibilidade da reconvenção à luz do disposto nos


artigos 93.º e 266.º/3 CPC.

3. (3,5 valores)
Não tendo Afonso arrolado testemunhas na sua petição inicial, caberia decidir se poderia
arrolá-las na réplica (artigo 552.º/2 CPC), bem como na audiência prévia (artigo 598.º/1
CPC) ou até 20 dias antes da audiência final (artigo 598.º/2 CPC). Seria, em princípio, de
negar o exercício dessa faculdade na audiência prévia ou antes da audiência final, dado
que os preceitos em causa referem a "alteração" ou "aditamento" ao rol de testemunhas, o

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que pressupõe a existência desse rol. A redação do artigo 552.º/2 CPC é mais abrangente,
uma vez que admite a alteração do requerimento probatório, devendo aliás concluir-se que,
em qualquer caso, não pode ser negada a autora a faculdade de arrolar testemunhas para
realizar a contraprova referente aos factos que fundam o pedido reconvencional, e bem
assim a prova de factos que fundem alguma exceção alegada na réplica.

Afonso poderia requer a prova pericial mas a nomeação da pessoa que ia desempenhar
essas funções caberia o tribunal (artigo 467.º n.º 1 CPC). A poderia, no entanto, sugerir
que fosse José (artigo 467.º n. 2 CPC).

A sociedade Quadros Lda. pode requer a prestação de declarações do seu gerente até ao
inicio das declarações orais em 1.º instância, em relação aos factos que a administradora
tenha intervindo pessoalmente ou tenha conhecimento direto (declarações de parte – artigo
466.º n.º 1 CPC), as declarações são apreciadas livremente pelo tribunal, salvo e
constituírem confissão (artigo 466.º n.º 3 CPC).
O juiz aprecia livremente as provas produzidas (artigo 607.º n.º 5 CPC).

4. (2,5 valores)
Análise do artigo 283.º, n.º 1 do CPC ao réu é lícito confessar todo ou parte do pedido.
Análise desta confissão com uma renúncia ao recurso. Análise da sentença e da eventual
nulidade desta por condenação em objeto diverso do pedido (artigo 615.º n.º 1 alínea e) do
CPC).

5. (4 valores)
Análise dos argumentos de Afonso:
O tribunal não está adstrito a decretar a providência concretamente requerida; pode decretar
providência diferente, mais adequada ao perigo que se pretende prevenir (artigo 376.º/3
CPC)
Se foi requerido procedimento cautelar em que pediu a inibição definitiva de exposição do
quadro do seu tio, errou no meio processual utilizado, pois através do procedimento cautelar
pode pedir-se a composição provisória, e não definitiva, do litígio (artigo 362.º/1 CPC).
Se pretendia a inversão do contencioso – o que é distinto da composição definitiva do litígio,
atendendo aos efeitos dessa inversão (artigos 369.º e 371.º CPC) – então deveria tê-lo
requerido (artigo 369.º/1).

II.
Comente a seguinte frase: (3 valores)
O regime do artigo 263º CPC não implica uma modificação subjetiva necessária.
-Algo que protege, muitíssimo, a parte estranha à transmissão, porque o legislador assegura
a legitimidade das partes originárias na ação, para que estes continuem com a causa.
-Ademais, nos termos do n.º 2 do mesmo preceito, a substituição só é admitida quando não
se entenda que a transmissão foi efetuada para tornar mais difícil, no processo, a posição da
parte contrária.

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Exame – Época de Coincidências


Direito Processual Civil II – Turma B
28.06.2021
Regência: PROFESSOR DOUTOR JOSÉ BONIFÁCIO RAMOS
Duração: 90 minutos

Grupo I.

1. (3 valores)

Identificação deste caso como revelia relativa e distinguir de revelia absoluta (com apoio nos artigos 566.º, 567.º
e 568.º do CPC).
Distinguir também revelia operante de inoperante.
Análise da verificação ou não do disposto no artigo 568.º, alínea d) do CPC, considerando que estamos perante
uma ação de reivindicação (vd. artigo 1311.º do CC), e que se peticiona o reconhecimento de direito de propriedade.
Caso o autor alegasse como facto constitutivo do direito de propriedade a celebração de um contrato de compra e
venda, requerer-se-ia a observância do disposto no artigo 875.º do CC, pelo que só por este meio poderia o Autor
fazer prova do seu direito (vd. artigo 364.º do CC). Análise da questão, considerando que não se refere se o
autor juntou ou não referidos documentos com a Petição Inicial.
Consequências na tramitação subsequente do processo, considerando o disposto no artigo 590.º, n.º2 alínea b)
(quanto à junção do documento em falta) e n.º 3 do CPC, bem como, eventualmente, o artigo 567.º.

2. (4 valores)

A resposta à questão colocada pressupõe a análise do regime estabelecido para a audiência prévia e, em concreto,
das alterações introduzidas, em 2013, na redação do CPC.
Em particular, seria de salientar que a audiência prévia poderá ser dispensada com base em qualquer um dos
pressupostos elencados no artigo 593.º do CPC.
Adicionalmente, seria de considerar se se verifica ou não o disposto no artigo 593.º, n.º2 alínea c), e se seria
relevante a circunstância de B ter deduzido exceções (que, nos termos do artigo 591.º, n.º1, alínea b) do CPC;
em articulação e desenvolvimento dos fins da audiência prévia).
Não obstante, seria relevante averiguar se in casu se estaria ou não no âmbito do artigo 592.º do CPC (de
equacionar, o artigo 592.º, n.º1, alínea a) do CPC), face à verificação ou não de revelia nos termos do artigo
568.º, alínea d) do CPC.
Análise das consequências da dispensa de audiência prévia por parte do juiz.

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3. (3 valores)

Qualificação do meio de prova como verificação não judicial qualificada, nos termos do artigo 494.º do CPC,
explicitando os fundamentos de tal meio prova e questionado a sua adequação ao caso concreto
Análise da sua admissibilidade, considerando que a acessão da plantação (vd. art. 1340.º CC) pode influir na
produção de prova do 2.º pedido (restituição da moradia em toda a sua extensão), e das justificações apresentadas
pelo Tribunal.

4. (4 valores)

Verificação de um incidente da instância; contrapor ao princípio da estabilidade da instância.


Qualificação do sucedido como um incidente de oposição, densificando que C. pretende fazer um direito próprio
de propriedade; densificar o conceito de oposição espontânea.
Ponderar a aplicação do artigo 333.º, n.º 2 do CPC, considerando que se indica no enunciado “no decurso da
audiência final”.
Quanto ao despacho que determina a comparência de B, qualificação do meio de prova como depoimento de parte,
previsto no artigo 452.º do CPC.
Distinguir de declaração de parte.
Discutir se se está perante um meio de prova autónomo ou uma modalidade de confissão.

5. (3 valores)

Identificação do tema da nulidade da sentença.


Qualificar como nula a sentença, por ter havido uma condenação nos danos morais sofridos por A., sem um
pedido associado, - cfr. artigo 615.º, n.º 1, e).º do CPC.
Ponderar as consequências da nulidade da sentença, nomeadamente, a possibilidade de interposição de recurso –
vd. artigo 615.º, n.º 4 do CPC.

Grupo II.

Comente a seguinte frase: (3 valores)

“As providências não especificadas revelam um injustificado acréscimo de exigência”

-Além do preenchimento das condições relativas à subsidiariedade, nos termos do artigo 362º nº 3 CPC, existem
vários pressupostos específicos.

02

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-Designadamente, o artigo 368º nº 2 CPC, que é, na verdade, um acréscimo ao nº 1 do mesmo preceito legal.
-Se o nº 2 é inaplicável aos pressupostos especificados , isso não permite afirmar que o acréscimo é injustificado.
- Por um lado, nalguns procedimentos especificados, existe norma equivalente (v.g., o artigo 401º CPC, relativo
a embargo de obra nova).
- Por outro, se os procedimentos não especificados não tiverem requisitos próprios, dada a inaplicabilidade do
regime especial de cada um dos procedimentos nominados, ficariam sem limites justificativos atinentes
à interposição de um procedimento urgente.

03

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Exame de recurso - Direito Processual Civil II – Turma B

Regência: Professor Doutor José Luís Ramos – 90min.

1. (3,5 v.)
- Analisar os requisitos da cumulação sucessiva;
- Analisar os requisitos da cumulação simples (menos a competência do tribunal, que o enunciado
presume) – em especial, a compatibilidade substantiva, que não existia, por A pedir a declaração
da sua propriedade no presente (já existiria se A tivesse pedido a declaração de que era proprietário
no momento da venda))

2. (3,5 v.)
- Réu: deduz uma exceção perentória impeditiva, à qual o autor poderia responder na audiência
prévia;
- Autor: confessa um facto (a existência de uma condição suspensiva), mas impugna a afirmação
do réu de que a condição ainda não se verificou (impugnação de facto), o que não dá ao réu direito
de resposta. A verificação da condição suspensiva tornou-se um facto controvertido e terá de ser
objeto de prova.
- A celebração do contrato de compra e venda entre A, B e C e a existência de uma condição
suspensiva no contrato entre A e D não podem ficar nem admitidos por acordo, nem confessados,
por estarem em causa contratos que só podem ser celebrados por documento escrito (art. 574.º/2
CPC e arts. 354.º e 364º/1 CPC).

3. (3 v.)
- Qualificar a revelia de B.
- A exceção perentória invocada por C aproveita a ambos, por interpretação extensiva do artigo
568.º/1/a).

4. (2,5 v.)
- O juiz poderia ordenar a produção de prova adicional (princípio do inquisitório).
- Em caso de dúvida, aplicação do art. 8.º CC e do art. 414.º CPC.
- Distribuir o ónus da prova da verificação da condição suspensiva (art. 343.º/3)

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5. (2 v.)
- Aplicação dos artigos 263.º e 356.º CPC.

6. (3 v.)
- Aplicação da alínea e) do artigo 615.º: o réu defendeu-se apenas por exceção perentória, não tendo
deduzido pedido reconvencional, pelo que o juiz condenou num objeto não pedido, o que torna a
sentença nula.
- Para a decisão do juiz ser válida, o réu teria de ter deduzido uma reconvenção incidental.

II. (2,5 v.)

- Posicionamento afirmado pelos autores garantistas.

- Defendem que a atribuição ao juiz de poderes de iniciativa instrutória, mesmo a pretexto da proteção da
parte mais débil, concorreria para o enfraquecimento da imparcialidade do julgador.

- Ademais, se o juiz promove a instrução e, em momento posterior, decide sobre o mérito da causa,
compromete a sua isenção enquanto julgador.

- Estas teorias são contrariadas pelos autores negacionistas que procuram contrariar as afirmações mais
catastrofistas dos garantistas.

- Enfatizando, nomeadamente, a utilidade da gestão processual e da atividade probatória ex officio.

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Direito Processual Civil II - Turma B


Regência: Professor Doutor José Luís Ramos | Duração: 90 min.

I-
1. (3,5 v.)
Identificar que se trata de uma coligação.
Analisar o preenchimento dos seus requisitos (exceto a competência absoluta, que é presumida no enunciado),
questionando especialmente a existência de conexão objetiva, nos termos do art. 36.º.

2. (3,5 v.)
Qualificar ambas as defesas como impugnação de facto.
Notar que o autor não terá direito de resposta, nos termos do n.º 4 do artigo 3.º.
Concluir que quer as cláusulas do contrato acordadas entre as partes que a ocorrência da agressão se tornam
factos controvertidos, que serão objeto de prova (artigos 574.º, n.º 2, e 410.º).

3. (3 v.)
Qualificar a omissão de B como revelia absoluta.
Relativamente ao primeiro pedido, C contestou, pelo que se aplica o artigo 568.º, alínea a): a impugnação de
facto relativa às cláusulas do contrato aproveita a B, pelo que esse facto não fica confessado, nos termos do art.
567.º. A celebração do mútuo também não fica confessada, pois é um facto que só pode ser provado por
documento escrito (artigo 568.º, alínea d), e artigos 364.º e 1143.º CC).
Em relação a estes factos, a revelia é inoperante, é necessário produzir prova.
Relativamente ao segundo pedido, a impugnação de C diz respeito a um pedido que não lhe é dirigido, pelo que
não deve ser considerada por falta de interesse; o juiz deveria ter condenado B no pagamento da indemnização.

4. (3 v.)
Identificar que o filme é uma reprodução mecânica (prova documental).
O filme tem força probatória formal bastante (artigo 368.º CC, parte final). Não tendo a exatidão do filme
sido impugnada, esta fica assente.
O filme tem força probatória material plena (artigo 368.º CC, primeira parte), pelo que o juiz só pode não
considerar que os eventos ocorreram tal como constam da gravação se for feita prova do contrário.
Nos termos do n.º 2 do artigo 393.º do CC, a testemunha não pode depor sobre factos já provados por
reprodução mecânica com força probatória material plena, que era o caso.

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Assim, o juiz não poderia decidir de acordo com o depoimento da testemunha.

5. (2 v.)
Ponderar a admissibilidade de requerer uma providência cautelar de arbitramento de reparação provisória,
verificando os seus requisitos.
Em especial, importa identificar que na ação principal é pedida uma indemnização por lesão corporal.

6. (2,5 v.)
Verificar os requisitos da exceção de caso julgado, especialmente o facto de se tratar do mesmo pedido,
embora formulado em sentido contrário.
Analisar a preclusão da possibilidade de invocar a legítima defesa numa segunda ação, à luz das regras de
preclusão processual e do efeito preclusivo que decorre da referência temporal do caso julgado.

II.

A teoria dinâmica atribui ao juiz a possibilidade de corrigir, em situações-limite, os excessos provocados


pela estrita aplicação dos critérios legais de repartição do ónus da prova

Segundo um dos seus defensores principais, Jorge Peyrano, a teoria representa uma alternativa, um
remédio para corrigir os exageros da teoria estática.

Ainda de acordo com Peyrano, quando a igualdade entre as partes não exista ou esteja ameaçada, o juiz
deve agir de modo a evitar injustiças suscitadas pelo rígido encargo probatório.

Ao invés outros autores, como Alvarado Velloso, rejeitam a teoria dinâmica.

Segundo Velloso, só a lei, nunca a jurisprudência, pode alterar o encargo probatório cometido às partes.

Por seu lado, Taruffo alerta para os perigos da teoria dinâmica. Sobretudo, a violação do princípio do
contraditório e a insegurança causada.

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Direito Processual Civil II – Turma B


Regência: Professor Doutor José Luís Ramos | 24 de junho de 2022 | 90 m.

Em janeiro de 2022, António vendeu a Bento um terreno rústico lá para os lados das beiras. O
contrato foi celebrado perante notário, por escritura pública. Como o terreno é pequeno, o preço
da compra e venda foi de 15.000 €, pago no momento da celebração do contrato.

Mal adquiriu o imóvel, Bento construiu um muro em todo o seu perímetro para evitar arrufos com
os vizinhos.

Bento comprou o terreno porque estava convencidíssimo que no seu subsolo existia uma
considerável reserva de lítio, o que não era verdade. Por outro lado, Carlos, vizinho desse terreno,
resolveu destruir parte do muro construído por Bento, argumentando que o terreno estava mal
demarcado.

Em junho de 2022, Bento propõe uma ação judicial pedindo a anulação da compra e venda perante
António e a consequente restituição dos 15.000 €, alegando a celebração do contrato em erro
sobre o objeto do negócio (artigos 251.º, 247.º e 289.º, n.º 1, todos do Código Civil (CC)). Pediu
na mesma ação, agora perante Carlos, uma indemnização no valor de 200 €, pelos danos causados
com destruição do muro (artigo 483.º do CC).

1. (3 valores)

- Constatar que se trata de uma coligação, visto que os dois primeiros pedidos são formulados por
B contra A e este último é formulado de forma diferenciada contra C.

- Qualificar a coligação como simples, porque o autor pretende a procedência simultânea deste
pedido e dos dois anteriores.

- Verificar a existência de compatibilidade processual, nas suas duas vertentes, analisando os


vários critérios de competência absoluta e sublinhando que o pedido de restituição do preço não
segue a forma de processo especial do DL 269/98 (AECOP).

- Verificar a existência de compatibilidade substantiva.

- Analisar a existência de conexão objetiva, à luz do artigo 36.º CPC, concluindo pelo seu não
preenchimento.

- Indicar as consequências da falta de conexão objetiva, aplicando o artigo 38.º CPC.

2. (4,5 valores)

- Qualificar o comportamento de C como revelia absoluta, visto que não praticou nenhum ato no
processo.

- Indicar como consequências processuais a aplicação do artigo 566.º CPC e do n.º 3 do artigo
249.º CPC, mas não o artigo 592.º.

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- Analisar o artigo 568.º para determinar se há algum motivo para a revelia ser inoperante em
relação a alguns factos alegados pelo autor contra Carlos, concluindo que a revelia é operante em
relação a todos os factos, ficando estes confessados, à luz do n.º 1 do artigo 567.º CPC.

- Qualificar a alegação (A) como uma impugnação de facto, na medida em que contradiz o alegado
pelo autor na petição inicial. O conhecimento pelo autor das características do terreno torna-se
um facto controvertido e o autor não terá direito de resposta (n.º 4 do artigo 3.º do CPC).

- Qualificar a alegação (B) como uma exceção perentória modificativa temporária, na medida em
que reconhece que o autor tem o direito à restituição do preço, mas apenas após a prática de um
determinado ato. O autor tem direito de resposta, nos termos do n.º 4 do artigo 3.º, no início da
audiência prévia.

3. Bento já havia juntado com a petição inicial a escritura pública de compra e venda, também
nela tinha alegado que a existência de lítio era um elemento essencial da sua declaração de
vontade e do conhecimento do António. Perante a impugnação de António deste último facto,
Bento juntou ao processo uma gravação de áudio, no qual se ouvia uma voz masculina dizer
o que tinha sido alegado por Bento. Bento afirmou que tal voz era a de António. 10 dias
depois, António contraditou, alegando que não era ele a pessoa ouvida na gravação e
requerendo para o efeito a produção de prova pericial. No relatório pericial concluiu-se que a
voz não era a de António. Se fosse o juiz do processo declararia provado ou não provado:
1) a celebração do contrato de compra e venda; e 2) que a existência de lítio no terreno
vendido era um elemento essencial do negócio de conhecimento de António? (5 valores)

Quanto a 1):

- Constatar que a celebração do contrato é objeto de prova, pois embora não seja um facto
controvertido, é um facto necessitado de prova, nos termos do disposto nos artigos 574.º, n.º 2,
CPC e 364.º e 875.º do CC, justificando.

- Analisar o momento da junção, à luz dos artigos 423.º e 552.º CPC.

- Qualificar a escritura pública como documento autêntico e concluir pela sua força probatória
formal e material plena, distinguindo-as. Verificar que o réu não fez prova do contrário.

- Concluir que o juiz deveria dar como provada a celebração do contrato.

Quanto a 2):

- Constatar que a essencialidade é objeto de prova, pois é um facto controvertido, visto que foi
objeto de uma impugnação de facto.

- Analisar o momento da junção, à luz do artigo 423.º CPC.

- Qualificar a gravação como uma reprodução mecânica e concluir pela sua força probatória
formal bastante e força probatória material plena. Verificar que o réu não impugnou a exatidão.
Concluir que a força probatória plena não se estende a saber a quem corresponde a voz de
gravação, se esta não resultar inequívoca.

- Verificar que a prova pericial é apreciada livremente pelo tribunal, justificando.

- Concluir que o Tribunal não fica impedido de concluir que a voz é ou não de António, no entanto,
há bons motivos para se considerar que não se está perante a voz de António. Temos o resultado

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da perícia e indícios externos de que António não prestou as declarações, já que tendo o preço do
terreno sido baixo, é difícil cogitar sequer a hipótese de António pensar que o terreno podia ter
lítio (presunção judicial).

- Conceber a possibilidade de o juiz ficar em situação de dúvida insanável, devendo resolvê-la


nos termos do artigo 414.º CPC, em sentido contrário a quem tem o ónus da prova. Sendo a
essencialidade um facto constitutivo do direito à anulação com base em erro, o ónus da prova
seria do autor, nos termos do disposto no artigo 342.º, n.º 1, CC.

4. (5 valores)

- Verificar o trânsito em julgado da decisão e a produção de caso julgado material, justificando.

- Afastar a existência de exceção de caso julgado, pois os pedidos não são os mesmos (o réu na
primeira ação não formulou pedido reconvencional).

- A validade do primeiro contrato não pode ser discutida na segunda ação, pois a decisão de anular
o contrato foi objeto de decisão a título principal na primeira ação, tendo força de autoridade de
caso julgado na segunda ação. Verificar que as partes são as mesmas.

- Analisar a regra sobre a produção de caso julgado pelos fundamentos da decisão, de forma
autónoma relativamente a essa decisão. Verificar que a existência do dever de entrega do terreno
na esfera de B é, contudo, uma exceção a esta regra, por estar em causa uma exceção perentória
modificativa temporária e uma condenação in futurum.

5. (2,5 valores)

- Os revisores do CPC, em 2013, defenderam a obrigatoriedade da audiência prévia.

-Porém, a obrigatoriedade não mereceu adesão maioritária na doutrina, nem sequer foi consagrada
no CPC, em 2013.

- Lebre de Freitas e Isabel Alexandre alegam que o poder discricionário do juiz terá sido
fortalecido, na dispensa de audiência prévia, pois aquele poder surge balizado em conceitos
indeterminados.

- A jurisprudência adotou, de um modo geral, uma prática defensiva, quanto à supressão de


articulados e à suposta centralidade da audiência prévia.

- De facto, como relata a pesquisa de Guilherme Brandão Gomes, de um universo de 48 juízes a


exercer funções em juízos centrais cíveis e juízos locais cíveis, 47 convidam o autor a responder
às exceções por escrito, através de articulado autónomo.

- A Proposta de Revisão do CPC (Proposta de Lei nº 92/XIV/2ª de Maio de 2021) amplia o


conteúdo da réplica, introduz a tréplica e confere muito menor centralidade à audiência prévia.

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Direito Processual Civil II – Turma B


Regência: Professor Doutor José Luís Ramos | 24 de junho de 2022 | 90 m.

A empresa Y intentou uma ação contra a empresa X e Carlos invocando pedindo o


seguinte:

a) A ver determinado, como preço efetivo de venda de cada um dos imóveis dos
autos, para efeitos da ação de preferência a intentar, aquele que resultar da
análise dos documentos cuja junção, por parte das RR., ora se requer, para
efeitos do disposto nos artºs. 416.º a 418.º e 1410.º do CC;
b) Na declaração de nulidade dos contratos de compra e venda, por violação das
normas legais imperativas constantes dos arts. 416.º a 418.º e 1410.º do CC,
nos termos do disposto no art.º 294.º do CC.”

Invocou como fundamento para os pedidos formulados que a empresa X e Carlos


fizeram uma notificação para preferir num valor superior ao da pretendida venda para
dificultar o exercício do direito de preferência e que as vendas dos prédios, entretanto
feitas por Carlos (proprietário dos imóveis) à empresa X, desrespeitaram os termos da
notificação para preferir.

A empresa X contestou a ação invocando a ineptidão da petição inicial e ainda que a


empresa Y não tem direito de preferência, declarando também que as notificações feitas
para preferir foram feitas meramente à cautela e não com o objetivo de tornar mais
oneroso o eventual exercício do direito de preferência do réu. Formulou ainda um pedido
reconvencional contra a empresa Y para pagamento da quantia de 10 000 Euros
decorrentes de uma dívida.

Carlos não contestou.

O juiz notificou a empresa Y autora para responder por escrito às exceções afirmando
que “A fim de prevenir a prolação de decisão surpresa, e com vista a permitir um melhor
exercício do contraditório, mais ficam notificados os autores de que, estudados os autos,
se configura a possibilidade de procedência da exceção de ineptidão da petição”

Na pendência da ação, A empresa Y intentou uma ação de preferência contra a empresa


X e Carlos na qual Carlos invocou a existência de caso julgado em razão da ação
anteriormente intentada pela empresa Y.

1. Qualifique a cumulação de pedidos? (2 valores)

Analise e qualificação da cumulação simples de pedidos e verificação dos


respetivos requisitos (artigo 555.º)

2. Analise a defesa do réu e qualifique a mesma. É admissível a dedução do pedido


reconvencional? (4 valores)

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O réu defende-se por exceção dilatória (ineptidão da petição inicial), por


impugnação de facto e de direito e apresentou um pedido reconvencional. Este
último não cumpre os requisitos do artigo 266.º do CPC.

3. O juiz declarou a ineptidão da petição inicial no despacho pré-saneador. Agiu bem?


(3 valores)

Os pedidos cumulados são incompatíveis entre si. Verifica-se uma ineptidão da


petição inicial do artigo 186.º. Contudo, deveria ter sido possível ao autor escolher
um dos pedidos de acordo com o princípio da gestão processual.

4. A empresa Y indicou na petição inicial apenas prova testemunhal. No articulado de


resposta às exceções veio juntar as escrituras de compra e venda de imóveis por
parte da empresa X a Carlos. Podia fazê-lo? Caso a ação prosseguisse, o juiz
poderia dar como provado a existência dos contratos de compra e venda? (3 valores)

O requerimento de prova e apresentação dos meios de prova devem ser


apresentados com o articulado respetivo, incluindo os documentos (artigo 423.º,
552.º, n.º 2 e 572.º, d))

5. Quais as consequência de Carlos não ter contestada a ação? (2 valores)

Analise dos efeitos da revelia, tendo em conta a existência de uma situação de


pluralidade de partes

II
A enunciação dos temas de prova afasta-se da quesitação atomística e sincopada que
caracterizou o anterior processo civil português” (4 valores)

-a frase proposta é da autoria de João Correia, Paulo Pimenta e Sérgio Figueiredo,


três membros da Comissão Revisora do CPC, em 2013 (Introdução e à Aplicação
do Código de Processo Civil de 2013, Coimbra, 2013).
-Assim, a reforma de 2013, ao procurar eliminar barreiras artificiais e assegurar a
livre investigação, representaria, segundo aqueles autores, um novo paradigma
na eliminação de preclusões e na eliminação de um nexo directo entre
depoimentos testemunhais e ponto de facto pré-definidos.
- Todavia, outros autores manifestaram dúvidas quanto à bondade da reforma.
Assim, Paulo Ramos de Faria e Ana Luísa Loureiro sublinham que não são os
temas de prova que devem ser provados, mas os factos.

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- A indicação dos temas de prova pode nem corresponder ao reconhecimento dos


factos controvertidos que urge provar.
- O StJ declarou que a excessiva fluidez e falta de densificação factual, susceptível
de afectar a definição dos temas de prova, pode contaminar as questões de facto
enunciadas.
- Os temas de prova não devem ser julgados provados ou não provados na
sentença.
- Eleger os temas de prova enquanto figura substitutiva da base instrutória, não
parece ter sido uma solução vantajosa (Bonifácio Ramos, Temas de Prova: A
Pedra Angular do Novo CPC?)

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Direito Processual Civil II - Turma B


Regência: Professor Doutor José Luís Ramos | Duração: 90 min.

1. (3,5 v.)
- Identificar que os pedidos se encontram em cumulação simples, justificando.
- Verificar todos os requisitos, analisando o caso concreto.
- Concluir pela inexistência de conexão objetiva, apresentando as várias soluções apresentadas pela doutrina.

2. (3,5 v.)
- B afirma que os 10 mil euros não foram emprestados, mas sivm o pagamento do preço de uma compra e
venda: impugnação de facto - torna os termos acordados entre as partes controvertidos.
- B alega que nunca agrediu A: impugnação de facto - torna a ocorrência da agressão controvertida.
- B considera quantificação de danos excessiva: impugnação de facto, nos termos do art. 574.º/3 CPC: torna o
valor dos danos controvertidos. É uma defesa subsidiária.
- O autor não terá direito de resposta quanto a nenhuma das defesas.

3. (2,5 v.)
- Identificar que continuava a ser uma cumulação simples e não uma coligação.
- Analisar o artigo 568.º e concluir pela sua aplicabilidade.
- Concluir que a revelia é inoperante em relação a todos os factos impugnados por B.
- Afastar a aplicação do 567.º.
- Concluir que o juiz não poderia condenar C no despacho saneador, por faltar produzir prova.

4. (3,5 v.)
- Analisar a força probatória formal e material da reprodução mecânica.
- Delimitar o que é que se considera abrangido pela força probatória plena e discutir a questão da data.
- Aplicar o n.º 2 do artigo 393.º.
- Concluir que a prova testemunhal não pode contrariar a reprodução mecânica, mas que provavelmente a
data não estará coberta pela força probatória plena daquela.

5. (2,5 v.)

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- Identificar a possibilidade de se requerer uma providência cautelar de arbitramento de reparação


provisória.
- Analisar o preenchimento dos seus requisitos.
- Discutir a possibilidade de inversão do contencioso.

6. (2,5 v.)
- Identificação do momento do trânsito em julgado.
- Análise dos efeitos de caso julgado formal e material.
- Verificação do preenchimento dos requisitos da exceção de caso julgado, sendo os pedidos o contrário
um do outro.
- Análise da possibilidade de invocação, pelo réu, de factos que ocorreram antes do encerramento da
audiência final da primeira ação.
- Concluir pela verificação de exceção de caso julgado e respetiva consequência.

II. (2 v.)

- A alteração no sentido de introduzir a denominação princípios fundamentais decorre da revisão do CPC de


2013.
- Estaríamos, assim, perante um conjunto de princípios reconduzidos ao estrito âmbito do Título I do Livro I.
Ou seja, um escasso conjunto de preceitos, compreendido entre os artigos 1º e 9º A do CPC.
- Teixeira de Sousa distingue entre princípios estruturantes, indispensáveis ao processo (igualdade,
contraditório), e princípios instrumentais, dirigidos a optimizar os resultados do processo (impulso processual,
cooperação).
- O conjunto de princípios, alegadamente fundamentais, não são todos estruturantes. Além disso, deixam de
parte outros princípios impor tantes. Por exemplo, o princípio do inquisitório (411º CPC), adequação formal
(547º CPC) e concentração da defesa (573º CPC).
-Em suma, a designação fundamental, relativa a princípios processuais, carece de sentido útil.
- Segundo o princípio da concentração da defesa, toda a defesa deve ser deduzida na contestação.
-Como o próprio artigo 573º CPC indica, existem excepções.
-Na verdade, ocorrem situações diversas em que a defesa pode ser deduzida fora da contestação.
Designadamente, a defesa autónoma (incidente de suspeição do juiz – artigo 121º CPC) , defesa diferida
(articulado superveniente - artigo 588º CPC) e defesa antecipada (falta de citação do réu –artigo 187º CPC)

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Direito Processual Civil II – Turma B


Regência: Professor Doutor José Luís Ramos | 27 de julho de 2022 | 90 m.

1. O juiz duvida se deve admitir os dois pedidos contra B. Assumindo que o Tribunal é
competente para ambos os pedidos, como resolveria o problema? (2,5 valores)

- Indicação justificada de que se trata de uma cumulação subsidiária e que estão preenchidos
os seus pressupostos.

2. Qualifique as alegações (1), (2) e (3) de B, indicando a sua admissibilidade e


consequências processuais. (3,5 valores)

- Indicação justificada que as alegações (1) e (2) são impugnações de facto, tornando os factos
em causa controvertidos.
- Indicação justificada que a alegação (3) trata-se de um pedido reconvencional que devia ser
expressamente identificado e deduzido separadamente na contestação.
- Enunciação dos requisitos da reconvenção, concluindo pela falta de conexão objetiva.

3. Se fosse o juiz do processo declararia como provados ou não provados os factos: (1)
celebração do contrato compra e venda; e (2) aposição de uma cláusula de resolução
judicial caso não cumprimento da obrigação de entrega do relógio? (4,5 valores)

- Identificação justificada do documento escrito como documento particular, enunciando a


sua força probatória formal e material.
- Indicação de que foi impugnada a autoria do documento particular pelo réu, cabendo ao
autor o ónus da prova da sua autoria.
- Do caso não resulta qualquer tentativa de demonstração da autoria do documento, na dúvida
o Tribunal devia declarar o documento não genuíno. Discute-se se o documento pode ser
então apreciado livremente pelo Tribunal (por ficcionar-se a falta de assinatura) ou se faz
presumir a inveracidade do seu conteúdo, que pode ser ilidida pelo autor.
- Pode ser usada prova testemunhal para a prova da celebração do contrato e para prova do
seu conteúdo, na medida em que se conclua que não estão provados por meio de prova com
força probatória plena e não se está no âmbito de aplicação do artigo 394.º do CC.

4. Indique justificando o que pode A fazer para proteger o relógio enquanto espera a
decisão na ação que propôs? (3,5 valores)

- Referir justificadamente a possibilidade de se recorrer ao procedimento cautelar de


arrolamento, indicando seus pressupostos.
- Pode também ser indicado justificadamente que o autor podia recorrer a um procedimento
cautelar inominado, indicando seus pressupostos.

5. A sentença proferida na primeira ação vale como autoridade ou exceção de caso julgado
nesta segunda ação? (3,5 valores)

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- Explicar conceito de caso julgado material e indicar justificadamente se a primeira sentença


tem força de caso julgado material.
- Distinguir justificadamente exceção e autoridade de caso julgado.
- A sentença proferida na primeira ação não vale como exceção de caso julgado na segunda
ação, já que não há identidade de pedidos.
- Discutir se os fundamentos da primeira decisão valem autonomamente com força de caso
julgado na segunda ação.

6. Comente, fundamentadamente, a seguinte afirmação: “A habilitação é obrigatória e


incontornável” (2,5 valores)
-A habilitação mortis causa é obrigatória, mas a habilitação inter vivos é facultativa.
-Porém, a habilitação não é incontornável.
- Na verdade, falecendo uma das partes, nem sempre ocorre habilitação mortis causa (por ex
a extinção do direito material opera a inutilidade superveniente da lide, nos termos da alínea
e) do artigo 277º CPC).
- Assim, a habilitação mortis causa é obrigatória quando a acção houver de prosseguir, nos
termos do nº 1 do artigo 351º CPC.
- Relativamente à habilitação inter vivos, na pendência da acção, será possível ocorrer esta
modalidade de habilitação se houver iniciativa do transmitente, do transmissário ou até da
parte contrária, de acordo com o nº 2 do artigo 356 CPC.
-Uma vez que o regime jurídico aplicável consagra a teoria da relevância mitigada.

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Direito Processual Civil II – Turma B

Regência: Professor Doutor José Luís Ramos | 9 de setembro de 2022 | 90 m.

Tópicos de correção

A empresa Y intentou uma ação contra António, Carlos e Daniel pedindo o seguinte:

a) Que se reconheça ao Autor o direito de preferência sobre o prédio rústico T,


substituindo-se ao réu Carlos na escritura de compra e venda;
b) Que sejam os RR. condenados a entregarem o prédio à Autora livre e
desocupado;
c) Que sejam ordenados o cancelamento de todos os registos que o Réu Carlos
tenha feito.

Alegou a Autora para o efeito que:

a) É proprietária de um prédio contíguo ao prédio pertencente a António


b) O prédio foi vendido por António a Carlos em junho de 2022.
c) António notificou a empresa para preferir em janeiro de 2021 pelo valor 100 mil
Euros indicando como comprador Daniel,
d) No prazo legal, a empresa enviou carta a exercer a preferência e aguardou pela
celebração da escritura.
e) Em março de 2022 António tornou a notificar a empresa X por carta para preferir
pelo valor de 150 000 Euros indicando como comprador Carlos.
f) A empresa X enviou carta em março de 2022 a dizer que deveria ser feita a
escritura em execução da preferência feita em 2021.

Os Réus António e Carlos contestaram peticionando a improcedência dos pedidos com


fundamento na caducidade do direito de preferência por não ter sido exercido após a
carta de março de 2022.

O réu Carlos deduziu ainda pedido reconvencional para a eventualidade de os pedidos


da Autora procederem, pedindo que a empresa Y seja condenada a pagar o valor das
benfeitorias feitas no terreno no valor de 50 000 Euro e que a mesma empresa seja
condenada a pagar ao réu Carlos a quantia de €150.000, valor este que corresponde
ao preço que pagou a António pela aquisição do prédio rústico T

Daniel não contestou.

1. Qualifique a cumulação de pedidos? (2,5 valores)

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Existe uma cumulação simples de pedidos (artigo 555.º) deduzida contra uma
pluralidade de RR. Devem ser indicados os requisitos da cumulação simples de pedidos,
incluindo indicação sobre a necessidade de conexão objetiva

2. Analise a defesa dos réus e qualifique a mesma. É admissível a dedução dos


pedidos reconvencionais? (5 valores)

O RR. Defenderam-se por exceção perentória extintiva (artigo 572.º CPC) porque
invocam a caducidade do direito de preferência.
Os RR também apresentaram reconvenção eventual, mas esta é inadmissível. A
admissibilidade da reconvenção pressupõe uma conexão objetiva entre as duas
ações, um nexo entre os objetos da causa inicial e da causa reconvencional. O
pedido reconvencional do réu emerge do facto jurídico que serve de fundamento à
ação se existir identidade, total ou parcial, de ambas as causas de pedir, a da ação
e da reconvenção. O pedido reconvencional do réu emerge do facto jurídico que
serve de fundamento à defesa quando faz nascer uma questão prejudicial em
relação à causa principal, ou seja, produza “efeito útil defensivo”, capaz de reduzir,
modificar ou extinguir o pedido do auto (artigo 266., n.º 2, a)). O direito a
benfeitorias não correspondia a uma verdadeira defesa contra o Autor.

3. A empresa X não juntou com a Petição Inicial quaisquer documentos. Quais as


consequências deste comportamento processual? (4 valores).

A falta de junção de documentos com o articulado respetivo (artigo 423.º, n.º 1 e


artigo 552.º, n.º 1) pode ser suprida nos termos do 552.º, n.º 2. Alguns dos factos
alegados pelo autor exigiriam a junção de documento, pelo que os correspondentes
factos poderão ser considerados como não provados.

4. O juiz convocou audiência prévia para todos os fins do artigo 591.º. Na audiência
limitou-se a comunicar que entendia que o tribunal era incompetente em razão do
território. Agiu corretamente? (2 valores).

Indicar as funções previstas para audiência prévia (artigo 591.º). O comportamento


do juiz constitui uma nulidade processual e a sua conduta viola o princípio do
contraditório frustrando os objetivos deste ato processual. Exigia-se a
fundamentação destes dois tópicos.

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5. Quais as consequências de Daniel não ter contestada a ação? (2,5 valores)

Verifica-se uma situação de revelia (artigo 566.º ) mas a revelia é inoperante nos
termos do artigo 568.º, a). Pretende-se que sejam indicados todos os pressupostos
da revelia e o sentido da revelia inoperante.

II

“O regime probatório é demasiadamente rígido e impositivo”.” (4 valores)

“O regime probatório é demasiadamente rígido e impositivo”.


- No que concerne ao regime probatório português, ele decorre de uma repartição
legal, consagrada no Código Civil.
-Além do critério geral de repartição do ónus da prova, consagrado no artigo 342º CC,
existem regras especiais, designadamente nas acções de simples apreciação ou
declaração negativa, previstas no artigo 343º CC.
- Ademais, as regras, algo amplas, de inversão do ónus da prova, previstas no artigo
344º CC, contrariam essa aparente rigidez.
- Com efeito, para haver inversão do ónus da prova, basta que ocorra presunção legal,
dispensa, liberação ou prescrição legal nesse sentido, de acordo com o preceituado no
nº 1 do artigo 344º CC.
-Acresce ainda a inversão do ónus da prova, quando a parte tiver culposamente
tornado impossível a prova do onerado, nos termos do nº 2 do artigo 344º CC.
-Por outro lado, são admitidos contratos ou convenções probatórias, de acordo com a
significativa amplitude, do preceituado nos números 1 e 2 do artigo 345º CC.
-Em suma, não parece que o regime probatório português, assente numa repartição
legal, seja muito rígido ou demasiadamente impositivo.
- Aliás, a propósito da teoria dinâmica do ónus da Prova, Michele Taruffo escreveu não
encontrar, na repartição legal do ónus da prova, disfuncionalidades sérias, uma vez
que as excepções e o regime das presunções corrigiam o sistema e atribuíam-lhe o
necessário equilíbrio.

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