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Provas em Espécies

As provas em espécie são: depoimento pessoal; confissão; prova


documental; prova testemunhal; prova pericial.
O depoimento pessoal é uma forma de prova proveniente do depoimento
das partes do processo. Essa pode ser de dois tipos: por provocação ou
interrogatório. No depoimento por provocação, há o requerimento da parte
adversária, durante a audiência de instrução e julgamento, para que a outra
deponha. O depoimento por provocação não pode ser pedido de ofício pelo
juiz, tampouco pode-se requerer o próprio depoimento e, se estiver
depondo, não pode o juiz permitir que seu próprio advogado lhe faça
perguntas. Importante dizer ainda que a ausência do depoente pode
configurar como confissão ficta.
Já o interrogatório ocorre quando o juiz pede de ofício que uma das partes
dê seu depoimento, com a finalidade de esclarecer fatos e pode ser pedida
em qualquer fase do processo. É possível, ainda, mais de uma convocação e,
uma vez que o interrogatório não visa a confissão, pode ser feita a
convocação de incapaz. Vale ressaltar que a ausência do depoente não
configura confissão ficta.
Uma discussão recorrente é sobre a possibilidade de ser representado ou
presentado no momento do depoimento. Desse modo, questiona-se se o ato
de depor é personalíssimo. Em relação ao incapaz, o representante não pode
depor e, se o fizer, estará na posição de testemunha. No entanto, quando se
trata de pessoa jurídica, tem-se aceitado que o representante deponha, não
podendo ser feito por seu presentante. Todavia, é necessário que aquele
possua conhecimento dos fatos sob pena de tornar o processo probatório
inútil ou irrazoável.
À parte a que foi requerido depoimento é possível se escusar de depor. Há
uma regra geral, no qual abrange casos atípicos, possibilitando o não
depoimento, mas há também um roll no artigo 388 do CPC, enumerando
situações em que se autoriza o silêncio da parte. São elas: a) sobre fatos
criminosos ou torpes que lhe forem imputados; b) a cujo respeito, por estado
ou profissão, deva guardar sigilo; c) que não possa responder sem desonra
própria, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau
sucessível; d) sobre fatos que coloquem em perigo a vida do depoente ou de
seu cônjuge, companheiro ou parente em grau sucessível.
Existe o direito da parte de escusar de depor, no entanto, há situações em
que é um dever. Isso ocorre em casos em que o depoimento feriria o dever
profissional de sigilo, como ocorre, por exemplo, com o mediador. Em outros
casos, relação de família ou amizade, o depoente pode abrir mão do seu
direito de silêncio. Entretanto, se abrir mão do seu direito de escusa, não
poderá mentir.
O depoente possui direito ao silêncio em relação à fatos criminosos
imputados a ele. Esse constitui um direito constitucional, no qual “ninguém
é obrigado a acusar a si mesmo”. O mesmo é válido se o depoente ao ser
questionado, e ao responder, terá de confessar uma prática ilegal. Assim
como o caso anterior, o direito de silêncio pode ser usado afim de não
confessar atitude torpe.
A escusa de depor é possível também em casos em que visem a segurança e
integridade familiar. O depoente, assim como não precisa declarar sua
própria torpeza, não precisa, pois, denegrir atitudes desonrosas de seus
entes. Além disso, o depoimento pode ser negado se colocar a vida dos
familiares da parte em perigo. Via de regra a escusa de depor deverá ser
analisada pelo magistrado a partir do caso concreto, uma vez que o artigo
386 permite o silêncio se por motivo justo.
No que se refere ao procedimento do depoimento, a inquirição do depoente
se assemelha a inquirição das testemunhas, com divergência na qualificação
do depoente, nesse caso desnecessária, uma vez que a parte já foi
qualificada. O advogado do depoente não pode formular perguntas. O
litisconsorte unitário não pode formular perguntas ao seu litisconsorte-
depoente.
Em relação à parte que advoga em causa própria, se esse for requerido a
depor, poderá nomear um defensor, afim de não ficar sem representação na
audiência. Poderá esse se recusar a nomear defensor, ficando sujeito ao ônus
que disso resultar.
Por força do parágrafo segundo do art. 385, é proibido a quem ainda não
depôs assistir depoimento da outra parte. No entanto, hoje é possível um
acordo entre as partes para que se possa assistir uma o depoimento do outra.
Além disso, o depoente não poderá se valer de anotações feitas
anteriormente, podendo, todavia, ser feitas consultas breves, com
autorização do juiz, afim de dar esclarecimentos.

Seguindo o estudo de provas em espécie, temos a confissão. Essa consiste


em uma das partes reconhece fato contrário aos seus interesses e que
beneficie a parte contrária. Possui como requisitos: a) o sujeito que faz a
declaração (elemento subjetivo); b) vontade para declarar um fato
(elemento intencional); c) fato contrário ao declarante (elemento objetivo).
É permitido que a confissão seja trazida ao processo por meio de um
procurador com poderes especiais. É importante ressaltar que a confissão
dever ser de fato próprio e pessoal, pois se for sobre terceiro, esse
configurará testemunho e não confissão.
A confissão possui natureza jurídica de ato jurídico stricto sensu, no qual se
trata, segundo Fredie Didier Jr., “ato voluntário de efeitos necessários ex vi
legis. Nessa qualidade, não é possível confissão sob condição ou termo. A
confissão não é um negócio jurídico”. Dessa forma, a confissão é ineficaz se
feita por indivíduo que não poderia dispor dos direitos relacionados a ela. A
confissão é, por fim, um meio de prova.
Não se pode confundir confissão com reconhecimento do pedido. A primeira
consiste em declaração de fato que vá contra o interesse próprio e favorável
ao do adversário. Já o segundo, é a aceitação do pedido demandado pela
parte contrária na petição inicial, resultando na extinção do processo com
resolução de mérito em razão da autocomposição. Vale lembrar que a
confissão não extingue o processo, já que é mero ato de declaração. Desse
modo, é possível fazer uma confissão e negar o pedido solicitado. Além disso,
o ato de confessar não significa que se perderá o litigio, já que o juiz deverá
julgar baseado em todas as provas e não somente a partir da confissão.
Assim como exposto no parágrafo anterior, não se pode confundir confissão
com admissão. Essa última consiste em um ato omissivo, no qual ocorre a
confissão ficta. Em outras palavras, a parte não replica as alegações do
adversário. Nesse viés, a admissão diverge da confissão, pois a primeira se
trata de ato omissivo enquanto a segunda, ato ativo (de declarar o fato).
A confissão pode ser classificada em judicial ou extrajudicial, dependendo se
foi composta em juízo (judicial), conforme descrição legal, ou fora dele
(extrajudicial). Pode ser espontânea, se feita por iniciativa do próprio
confitente, ou provocada, decorrente do depoimento da parte. É real quando
foi efetivamente feita pelo confitente, sendo ela oral ou escrita, e ficta,
quando inferida devido à ausência da parte citada. Pode ser, ainda, escrita
ou oral, sendo essa última possível só nos casos em que a lei não exija prova
literal. E por fim, a confissão pode ser simples, quando só declara fato contra
interesse próprio, qualificado, no qual se há declaração, mas não há
aceitação do pedido; e complexo, quando o confitente traz ao processo fatos
novos.
A confissão produz efeitos importantes no processo. O primeiro deles é a
impossibilidade de pedir prova contrária à confissão. Uma vez confessado,
presumisse veracidade. Seguindo essa linha, em caso de litisconsórcio
unitário, só valerá confissão feita por todos os litisconsortes; já em
litisconsórcio simples, valerá somente para o confitente. Além disso, é
dispensável prova de fato confessado (art. 374, II, CPC). Vale dizer que o
magistrado analisa a confissão como os demais meios de prova, valorando-
as conforme julgar mais adequado.
A confissão de incapaz não possui eficácia. Segundo o §1° do art. 392 do CPC:
"A confissão será ineficaz se feita por quem não for capaz de dispor do direito
a que se referem os fatos confessados". No entanto, não se invalida a
confissão, mas não gera efeitos no processo. Pode ainda o juiz se valer da
confissão de incapaz no momento de sua decisão, mesmo que não seja aceita
como meio de prova.
É possível a confissão por representante, desde que esse possua procuração
que outorgue poderes especiais, e na ausência desse, não configurará
confissão, mas somente testemunho. A exceção é o representante confessar
em nome de incapaz, essa é ineficaz.
A confissão é irrevogável. No entanto, ela pode ser invalidada em virtude de
erro de fato ou de coação. Além disso, o confitente pode, antes do trânsito
em julgado, entrar com ação anulatória da confissão. Vale dizer também que
o CPC não aceita invalidação da confissão por dolo. A confissão é, ainda,
indivisível, ou seja, o adversário não pode se valer das partes favoráveis e
desconsiderar as desfavoráveis.
Outro tipo de provas em espécie são as provas documentais. No Brasil
constitui o meio mais utilizado para comprovar a existência de um negócio
jurídico, uma vez que é cada vez mais difícil contratos firmados verbalmente,
ainda que a lei autorize. Não há exigência na lei a solenidade de todos os
atos, ou seja, não é obrigatória a forma escrita, nos casos é que há
obrigatoriedade, o documento faz parte da essência do negócio jurídico, não
podendo ser provado por outros meios.
O documento pode ser, além de escrito, fotográfico, cinematográfico,
fonográfico; no qual há representação de um fato. Se apresenta de formas
diversas como CD’s, DVD’s, gravações de áudio, pen-drives, ou qualquer
outro meio idôneo. Difere das demais formas de prova por não haver
necessidade de ser extraída pelo juiz, pois a informação que ela contém já
está acabada em si mesma, bastando ser apreciada.
Podemos classificar os documentos quanto a autoria, conteúdo e forma. O
primeiro divide-se em autógrafos, no qual o autor compõe ato declaratório,
de próprio punho, da sua vontade; ou heterógrafos, quando um terceiro
quem registra em ato a vontade das partes. Exemplo disso são os contratos
privados (autógrafos, em sua maioria) e a escritura pública (heterógrafo).
Pode-se ainda classificar os documentos em público ou privado, dependendo
se foi expedido por funcionários públicos ou por particulares.
Quanto ao conteúdo, podem ser narrativos, no qual há declaração de um
fato conhecido pelo subscritor, ou dispositivos, apresentam declaração de
vontade das partes e visam modificar, constituir ou extinguir relações
jurídicas. E quanto á forma, podendo serem solene, cuja validade do
documento depende de uma forma especial para sua validade, ou não
solene, não há necessidade de forma especial.
É importante analisar também a eficácia probatória do documento, cujos
contornos estão expressos nos artigos de 405 a 429. Os documentos públicos
são aqueles produzidos por agentes públicos, independente se possuem
função específica de certificar/documentar, e deles emana presunção de
veracidade. No entanto, diante de prova contrária, essa pode ser anulada,
mas para isso é necessário que a parte a quem se produziu o documento
prove a inveracidade desse.
Em atos de forma solene somente esses poderão servir de meio de prova,
não podendo ser substituídos. O mesmo é válido para contratos sociais que
outorguem sua criação mediante escritura pública. Nesse caso, somente o
contrato servirá como meio de prova, não podendo ser substituído. É
relevante dizer também que provas documentais produzidas por agente
público de fato (cumpre a função, mas de fato não o é), se constatada a boa-
fé da parte, serão consideradas, mesmo que o agente não possuía
legitimidade para compor o ato.
Os documentos particulares também possuem eficácia probatória e deles
também é presumido veracidade, cabendo, no entanto, prova em contrário.
A veracidade pode ser anulada se constatado que o contrato foi produzido
mediante erro de fato ou coação. Além disso, as declarações apresentadas
em documento vinculam o signatário, no qual essa é indivisível. No entanto,
há casos em que isso pode ser refutado, como por exemplo um analfabeto,
pois se deduz que ele não tinha conhecimento do conteúdo do contrato.
Formas de transmissão, como o radiograma ou o telegrama, são válidos
como meio de prova documental desde que assinada pelo remetente,
podendo ser reconhecida essa pelo tabelião ou por outros meios legais de
certificação. Se anexada aos autos do processo sem assinatura, e não sendo
impugnada pelo adversário, poderá ser usada como prova. Os livros
empresariais e a escrituração contábil da mesma forma podem servir de
prova, possuem presunção de veracidade, mas também podem ser
impugnadas. Além disso, podem ser usadas a favor ou contra a parte.
Existe a ata notarial, constituído por ato notarial, no qual é requerido ao
tabelião a lavra de instrumento público que formalize fato narrado pela parte
interessada. Uma vez que a ata é lavrada, constitui documento público e
poderá ser usada como meio de prova.
Há possibilidade de constatar vício no documento, seja referente a sua
forma, constituindo vício extrínseco, seja por causas inerentes ao seu
conteúdo, vício intrínseco. O defeito no documento não significa que ele seja
falso. Entende-se o documento como falso quando não apresentar fatos
verídicos, formação de documento falso ou alteração de documento
verdadeiro (as duas últimas constituem falsidade material). Uma vez
constatada a falsidade do documento, não poderá ser utilizada como prova.
O momento de proposição e produção da prova documental é o mesmo. Na
petição inicial já se tem provas indispensáveis, as substanciais e as
fundamentais; cuja primeira são aqueles exigidos por lei para a proposição
da demanda, enquanto a segunda, são necessários por serem citados na
fundamentação do litigante.
Nem sempre a prova documental está em posse de que deseja usa-la. Nesse
caso, pode a parte requerer do juiz que aquele que detém a prova faça a
exibição. Pode ser usado dois meios: a requerimento judicial ou por exibição
do documento. Aquele será cabível quando o documento estiver em
repartição pública, ou particular, e pode se dar de ofício ou por requerimento
da parte. Enquanto esse, é utilizado quando o documento está em posso da
parte contrária ou de terceiro, podendo o primeiro se escusar de exibir o
documento, sofrendo o ônus de serem aceitas como verdadeiras as
alegações contrárias, enquanto o segundo tem o dever de exibir, sob pena
de sofrer sansões.

Prova Pericial
A prova pericial é aquela na qual, exigindo no caso conhecimento mais
aprofundado em alguma área, se obtêm a observação de uma pessoa com
conhecimento técnico necessário para melhor elucidar o caso. As observações
e conclusões técnicas são apresentadas pelo laudo pericial, que pode ser
questionado pelas partes.
A perícia técnica dar-se-á quando: a) pela simples percepção técnica; b) pela
afirmação de juízo técnico; c) pela percepção e afirmação de juiz. Vale dizer que
a perícia não é absoluta no processo, podendo o juiz não concordar com a
conclusão pericial e, dessa forma, pedir a segunda perícia.
O juiz não poderá assumir função de perito mesmo que possua conhecimentos
a mais que o possibilitaria discernir no caso demandado. Isso porque não
constituiria prova física, não permitindo que as partes acompanhassem o
processo.
Na perícia, pessoas e coisas são fontes de prova. No ordenamento jurídico
brasileiro não há restrições sobre exames realizados em pessoas, estejam vivas
ou mortas, ressalvados os direitos fundamentais da pessoa. O mesmo ocorre
com relação ao exame de coisas, cuja dificuldade, por vezes, se encontra no
acesso a coisa, que pode estar com as partes, terceiro ou em uma repartição
pública. Independente de qual seja, pode o perito requerer ao juiz que solicite a
exibição da coisa.
São espécies de perícia o exame, a vistoria e a avaliação. Os dois primeiros
possuem a mesma característica de inspeção, no qual o primeiro o faz em
pessoas e coisas móveis ou semoventes, já a segunda, em coisas imóveis. O
último tem por função a fixação do valor de coisas e direitos. Há ainda as perícias
extrajudiciais (ou amigáveis), não possuem previsão legal e podem surgir no
decorrer do processo devido a alguma dúvida que uma das partes possa vir a
ter. Por fim, temos a perícias obrigatórias, trazidas pela lei.
Com relação aos peritos, eles podem ser de dois tipos: perito percipiente e
perito judicante. O primeiro apresenta os laudos e narra os fatos, como se fosse
uma testemunha. Já o segundo, além de narrar, dá sua opinião técnica a
respeito. Conjunto á isso, o perito deve cumprir com seus prazos corretamente
e relatar fatos verídicos, sob pena de ser substituído e multado, no primeiro
caso, e até afastado de seu cargo por 2 a 5 anos, no segundo.
A escolha e nomeação do perito precisa seguir alguns critérios, tais como o
perito deve ser um profissional habilitado na área em juízo ou órgão técnico ou
científico; estar cadastrado no registro do tribunal ao qual o juiz está vinculado
e, se não houver ninguém registrado, pode o juiz escolher ou as partes
conjuntamente designar um profissional, mediante requerimento, desde que o
litígio permita autocomposição; e finalmente, a ausência das causas de
impedimento e suspensão, que são as mesmas aplicadas aos juízes (arts. 144 e
145).
Há casos em que se exige mais de um conhecimento técnico para a realização
da perícia. Nesse caso, deverá o juiz nomear mais de um perito para que juntos
deem o laudo pericial. A isso se denomina de perícia complexa. Importante dizer
ainda que é possível às partes nomear assistentes técnicos, que irão
acompanhar a perícia e auxiliar as partes no caso.
É legítimo ao perito se escusar da função, alegando motivos justos e legítimos,
como seu impedimento ou suspeição. Conforme aponta o parágrafo primeiro
do art. 157 (CPC), § 1º A escusa será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias,
contado da intimação, da suspeição ou do impedimento supervenientes, sob
pena de renúncia ao direito a alegá-la. Nesse caso, o juiz poderá impedir a
atuação do perito no caso ou se valer de uma segunda perícia. O perito pode
ainda ser recusado, em razão de causas de impedimento ou suspeição, ou por
não estar habilitado a atuar na causa.
O juiz poderá ainda suscitar de ofício a parcialidade do perito, devendo ser
instaurado um incidente processual, sem suspender o processo, que deverá
correr paralelamente. Se constatada a imparcialidade, o juiz deve afastar o
perito e condena-lo a pagar as custas processuais do incidente. Em caso de
prestação de informações inverídicas por parte do perito, esse deve ser
inabilitado e deve pagar indenização pelos danos causados. O juiz deverá,
portanto, escolher novo perito de sua confiança.
O perito pode ser substituído se não possuir conhecimento técnico suficiente
para análise do caso, se não apresentar laudo no prazo estabelecido pelo juiz –
constituindo falta grave, punível com multa –, caso sua escusa seja aceita ou seja
impedido, decorrente de consensualismo entre as partes, se perito consensual.
A perícia pode ser requerida pelas partes, pelo Ministério Público, ou de ofício
pelo juiz. Esse nomeará o perito e será concedido o prazo de 15 dias para que as
partes e o MP formulem quesitos e nomeiem assistentes técnicos. O juiz poderá
formular quesitos, se julgar necessário. Além disso, esse deverá fixa prazo de
entrega do laudo, respeitando a antecedência de 20 dias da audiência de
instrução e julgamento. Não poderão as partes formular perguntas que não
foram previamente apresentadas, devendo haver intimação dos peritos
apontando os quesitos e a data da audiência com, pelo menos, 10 dias de
antecedência.
O ordenamento prevê ainda a possibilidade da perícia simplificada, possível em
casos de menor complexidade, feita de ofício ou a requerimento das partes.
Difere da perícia comum por não haver composição de laudo, mas somente a
inquirição do especialista.
A perícia constitui ato oneroso, ou seja, é necessário despender com os
honorários do perito. Via de regra, a responsabilidade de custeio pertence ao
vencido na causa. É necessário antecipar parte dos honorários, que deverá ser
paga pela parte que requereu o perito ou a ambas quando pedido de ofício, ou
por ambas as partes, fazendo rateio, nos dois últimos casos. Em caso de justiça
gratuita, a parte não poderá custear tais despesas se for vencido e, por isso, é
recomendado que nesses casos sejam utilizados integrantes de órgãos públicos
que prestam assistência judiciária gratuita.

Prova testemunhal
Ela só será admitida para a comprovação de fatos controvertidos, que tenham
relevância para o julgamento. Nisso, não se encontra nenhuma novidade, já que
a mesma regra aplica-se a todos os tipos de provas. Não se podem ouvir
testemunhas a respeito de questões jurídicas ou técnicas, nem sobre fatos que
não sejam controvertidos.
O art. 442 do CPC estabelece a regra a respeito da admissibilidade: “A prova
testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei de modo diverso”. Esse
dispositivo traduz a regra da admissibilidade genérica, mas autoriza a lei a
estabelecer restrições. O art. 443 apresenta duas: quando o fato sobre o qual a
testemunha seria inquirida já estiver provado por documento ou confissão da
parte; ou quando só por documentos ou por exame pericial puder ser provado.
Art. 227, parágrafo único do CC: “Qualquer que seja o valor do negócio jurídico,
a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova
por escrito”.
Somente as pessoas físicas podem ser testemunhas, nunca as jurídicas. É preciso
que sejam alheias ao processo. As partes podem ser ouvidas em depoimento
pessoal ou interrogatório, nunca como testemunhas.
Em princípio, qualquer pessoa pode ser ouvida como testemunha, não se
exigindo nenhuma qualificação especial. Há, no entanto, três circunstâncias que
obstam a sua ouvida: a incapacidade, o impedimento e a suspeição. O art. 447
do CPC enumera quando essas circunstâncias estão presentes. De acordo com o
§ 1º, são incapazes de testemunhar:
■ o interdito por enfermidade ou deficiência mental;
■ o que, acometido por enfermidade ou retardamento mental, ao tempo em
que ocorreram os fatos, não podia discerni-los; ou, ao tempo em que deve
depor, não está habilitado a transmitir as percepções;
■ o que tiver menos de dezesseis anos;
■ o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes
faltam.

Os impedidos de depor estão enumerados no art. 447, § 2º. As causas de


impedimento são
objetivas e estão associadas à participação no processo, em qualquer qualidade,
ou à relação direta com algum dos participantes. Os impedidos são:
■ o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau,
ou colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou
afinidade, salvo se o exigir o interesse público, ou, tratando-se de causa relativa
ao estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova, que o juiz
repute necessária ao julgamento do mérito;
■ o que é parte na causa;
■ o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal
das pessoas jurídicas, o juiz, o advogado e outros, que assistam ou tenham
assistido às partes.
O art. 447, § 4º, traz importante disposição a respeito da ouvida das
testemunhas: “Sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento das
menores, impedidas ou suspeitas”. E o § 5º acrescenta: “Os depoimentos
referidos no § 4º serão prestados independentemente de compromisso (art.
415) e o juiz lhes atribuirá o valor que possam merecer”.
Há casos em que o juiz pode, apesar das causas de impedimento ou suspeição,
ouvir uma testemunha, seja porque ela presenciou diretamente os fatos, seja
porque não há outra que deles tenha conhecimento. Ele avaliará essa prova no
caso concreto, cotejando-a com os demais elementos de convicção e
verificando, no contato com a testemunha, a verossimilhança de suas alegações.
Antes do início do depoimento, a testemunha é qualificada, na forma do art. 457
do CPC. O juiz indagará se ela tem relações de parentesco com a parte, ou
interesse no objeto do processo. Nessa ocasião, que precede o depoimento, a
parte pode contraditar a testemunha, arguindo-lhe a incapacidade, o
impedimento ou a suspeição.
Quem pode suscitar a contradita é a parte contrária a que arrolou a testemunha.
Ao apresentá-la, oferecerá as razões pelas quais entende que a testemunha não
pode ser ouvida. A contradita deverá ser sempre fundamentada, sob pena de
ser indeferida de plano. Sobre os fatos alegados, o juiz indagará a própria
testemunha. Se esta os negar, o juiz dará ao suscitante a possibilidade de
comprovar o alegado, com documentos ou testemunhas, até três, apresentadas
no ato e inquiridas em separado.
Por essa razão é sempre indispensável que a testemunha, ainda que seja trazida
independentemente de intimação, seja arrolada com antecedência e
devidamente qualificada. Afinal, a parte contrária tem o direito de conhecer-lhe
o nome e qualificação de antemão, para poder contraditá-la e trazer eventuais
testemunhas (até três) ou documentos que comprovem as causas de
incapacidade, impedimento ou suspeição.
A lei não exige que a parte que arrolou a testemunha seja ouvida na contradita,
mas o princípio constitucional do contraditório recomenda que isso ocorra,
sobretudo quando há necessidade de instrução do incidente. O juiz só admitirá
a contradita se a testemunha ainda não foi advertida nem começou a depor.
Depois disso, será intempestiva.
Ouvida a testemunha sobre o alegado e colhidas as eventuais provas, o juiz
decidirá. Se a testemunha confirmar os fatos ou a contradita ficar demonstrada,
o juiz dispensará o depoimento, ou então o colherá na forma do art. 447, § 5º,
do CPC.
A prova testemunhal deve ser requerida pelo autor na inicial, e pelo réu, na
contestação. Mas eventual omissão não torna preclusa a possibilidade de
requerê-la oportunamente.
As testemunhas devem ser arroladas pelas partes. Para que o juiz defira a prova,
não é necessário que elas já estejam arroladas e especificadas. Basta que ele
verifique que é pertinente.
Ao proferir a decisão saneadora e de organização do processo, o juiz, caso
verifique a necessidade de prova oral, designará a audiência de instrução e fixará
o prazo comum no qual as partes deverão arrolar suas testemunhas, prazo que
será de até 15 dias. Pode ser menor, mas não maior do que quinze dias.
Mas se a causa for complexa e o juiz designar audiência para promover o
saneamento do processo em cooperação com as partes (art. 357, § 3º), elas já
deverão levar o rol de testemunhas para a audiência (art. 357, § 5º).
Depois de arroladas, as testemunhas só podem ser substituídas em caso de
falecimento, enfermidade que as incapacite de depor, ou mudança de
residência ou local de trabalho, que impeça a localização (art. 451, do CPC). Mas
a jurisprudência tem ampliado a possibilidade, permitindo que qualquer
testemunha seja substituída, desde que dentro do prazo para arrolá-la. Assim,
se uma das partes apresenta o rol antes do prazo, pode livremente substituir as
suas testemunhas, desde que o faça antes de ele se findar.
O art. 357, § 6º, do CPC limita o número de testemunhas a dez, sendo, no
máximo, três para cada fato.
Além das arroladas, o juiz pode determinar, de ofício, ou a requerimento da
parte, a inquirição de outras, que tenham sido referidas no depoimento das
partes ou das testemunhas.
O art. 461, II, do CPC autoriza ao juiz determinar, de ofício ou a requerimento
das partes, “a acareação de duas ou mais testemunhas ou de algumas delas com
a parte, quando, sobre fato determinado, que possa influir na decisão da causa,
divergirem as suas declarações”. Aqueles que prestaram os depoimentos
divergentes serão colocados frente a frente e indagados a respeito da
divergência ocorrida; o juiz pode advertir novamente as testemunhas das penas
do falso testemunho. Em seguida, indagará se os depoentes mantêm as suas
declarações, ou se têm retificação a fazer. De tudo, será lavrado termo. A
acareação pode ser realizada por videoconferência ou por outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real.

Inspeção judicial
É um meio típico de prova, tratado nos arts. 481 a 484 do CPC. Consiste no
exame feito direta e pessoalmente pelo juiz, em pessoas ou coisas, com a
finalidade de aclarar fatos que interessam à causa. Difere de outros tipos de
prova, porque o juiz não obtém a informação desejada de forma indireta, por
meio de outras pessoas ou de um perito dotado de conhecimentos técnicos, mas
diretamente, pelo exame imediato da coisa, sem intermediários.
A inspeção judicial pode ser feita em qualquer fase do processo, de ofício ou a
requerimento das partes, e terá por objeto o exame de pessoas ou de coisas,
com o intuito de esclarecer o juiz a respeito de um fato que tenha relevância
para o julgamento.
O mais comum é que o juiz faça a inspeção quando, produzidas as provas,
persista em seu espírito alguma dúvida, que possa ser esclarecida pelo exame
direito da coisa ou da pessoa. Daí se dizer, com frequência, que a inspeção tem
natureza complementar, servindo para auxiliar na convicção do juiz, quando as
outras provas não tiverem sido suficientemente esclarecedoras. Mas não é
necessário que ela seja determinada apenas no final, depois das outras provas,
podendo o juiz marcá-la a qualquer tempo, sobretudo quando isso possa
dispensar outros meios mais onerosos.
O art. 482 do CPC autoriza que o juiz, na inspeção, seja assistido por um ou mais
peritos. Isso não altera a natureza da prova, nem a faz confundir-se com a
pericial: nesta, é o perito quem examina as pessoas ou coisas, e por seu
intermédio as informações são prestadas ao juiz; na inspeção, o exame é feito
diretamente por este, sem intermediários. Os peritos que o acompanham
servirão apenas para assisti-lo, auxiliá-lo com eventuais informações técnicas, a
respeito da coisa ou da pessoa, que estará sendo examinado ictu oculi, pelo
próprio magistrado.
O juiz designará a data e o local em que a inspeção será realizada, para que as
partes possam acompanhá-la, prestando esclarecimentos e fazendo as
observações que reputem de interesse para a causa. A coisa ou pessoa poderá
ser apresentada em juízo, para que o juiz a examine; ou ele poderá deslocar-se
até onde estão, nas hipóteses do art. 483 do CPC.
Concluída a diligência, será lavrado auto circunstanciado, que mencionará tudo
o que for de interesse para o julgamento da causa (CPC, art. 484).

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