Prova Pericial
A prova pericial é aquela na qual, exigindo no caso conhecimento mais
aprofundado em alguma área, se obtêm a observação de uma pessoa com
conhecimento técnico necessário para melhor elucidar o caso. As observações
e conclusões técnicas são apresentadas pelo laudo pericial, que pode ser
questionado pelas partes.
A perícia técnica dar-se-á quando: a) pela simples percepção técnica; b) pela
afirmação de juízo técnico; c) pela percepção e afirmação de juiz. Vale dizer que
a perícia não é absoluta no processo, podendo o juiz não concordar com a
conclusão pericial e, dessa forma, pedir a segunda perícia.
O juiz não poderá assumir função de perito mesmo que possua conhecimentos
a mais que o possibilitaria discernir no caso demandado. Isso porque não
constituiria prova física, não permitindo que as partes acompanhassem o
processo.
Na perícia, pessoas e coisas são fontes de prova. No ordenamento jurídico
brasileiro não há restrições sobre exames realizados em pessoas, estejam vivas
ou mortas, ressalvados os direitos fundamentais da pessoa. O mesmo ocorre
com relação ao exame de coisas, cuja dificuldade, por vezes, se encontra no
acesso a coisa, que pode estar com as partes, terceiro ou em uma repartição
pública. Independente de qual seja, pode o perito requerer ao juiz que solicite a
exibição da coisa.
São espécies de perícia o exame, a vistoria e a avaliação. Os dois primeiros
possuem a mesma característica de inspeção, no qual o primeiro o faz em
pessoas e coisas móveis ou semoventes, já a segunda, em coisas imóveis. O
último tem por função a fixação do valor de coisas e direitos. Há ainda as perícias
extrajudiciais (ou amigáveis), não possuem previsão legal e podem surgir no
decorrer do processo devido a alguma dúvida que uma das partes possa vir a
ter. Por fim, temos a perícias obrigatórias, trazidas pela lei.
Com relação aos peritos, eles podem ser de dois tipos: perito percipiente e
perito judicante. O primeiro apresenta os laudos e narra os fatos, como se fosse
uma testemunha. Já o segundo, além de narrar, dá sua opinião técnica a
respeito. Conjunto á isso, o perito deve cumprir com seus prazos corretamente
e relatar fatos verídicos, sob pena de ser substituído e multado, no primeiro
caso, e até afastado de seu cargo por 2 a 5 anos, no segundo.
A escolha e nomeação do perito precisa seguir alguns critérios, tais como o
perito deve ser um profissional habilitado na área em juízo ou órgão técnico ou
científico; estar cadastrado no registro do tribunal ao qual o juiz está vinculado
e, se não houver ninguém registrado, pode o juiz escolher ou as partes
conjuntamente designar um profissional, mediante requerimento, desde que o
litígio permita autocomposição; e finalmente, a ausência das causas de
impedimento e suspensão, que são as mesmas aplicadas aos juízes (arts. 144 e
145).
Há casos em que se exige mais de um conhecimento técnico para a realização
da perícia. Nesse caso, deverá o juiz nomear mais de um perito para que juntos
deem o laudo pericial. A isso se denomina de perícia complexa. Importante dizer
ainda que é possível às partes nomear assistentes técnicos, que irão
acompanhar a perícia e auxiliar as partes no caso.
É legítimo ao perito se escusar da função, alegando motivos justos e legítimos,
como seu impedimento ou suspeição. Conforme aponta o parágrafo primeiro
do art. 157 (CPC), § 1º A escusa será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias,
contado da intimação, da suspeição ou do impedimento supervenientes, sob
pena de renúncia ao direito a alegá-la. Nesse caso, o juiz poderá impedir a
atuação do perito no caso ou se valer de uma segunda perícia. O perito pode
ainda ser recusado, em razão de causas de impedimento ou suspeição, ou por
não estar habilitado a atuar na causa.
O juiz poderá ainda suscitar de ofício a parcialidade do perito, devendo ser
instaurado um incidente processual, sem suspender o processo, que deverá
correr paralelamente. Se constatada a imparcialidade, o juiz deve afastar o
perito e condena-lo a pagar as custas processuais do incidente. Em caso de
prestação de informações inverídicas por parte do perito, esse deve ser
inabilitado e deve pagar indenização pelos danos causados. O juiz deverá,
portanto, escolher novo perito de sua confiança.
O perito pode ser substituído se não possuir conhecimento técnico suficiente
para análise do caso, se não apresentar laudo no prazo estabelecido pelo juiz –
constituindo falta grave, punível com multa –, caso sua escusa seja aceita ou seja
impedido, decorrente de consensualismo entre as partes, se perito consensual.
A perícia pode ser requerida pelas partes, pelo Ministério Público, ou de ofício
pelo juiz. Esse nomeará o perito e será concedido o prazo de 15 dias para que as
partes e o MP formulem quesitos e nomeiem assistentes técnicos. O juiz poderá
formular quesitos, se julgar necessário. Além disso, esse deverá fixa prazo de
entrega do laudo, respeitando a antecedência de 20 dias da audiência de
instrução e julgamento. Não poderão as partes formular perguntas que não
foram previamente apresentadas, devendo haver intimação dos peritos
apontando os quesitos e a data da audiência com, pelo menos, 10 dias de
antecedência.
O ordenamento prevê ainda a possibilidade da perícia simplificada, possível em
casos de menor complexidade, feita de ofício ou a requerimento das partes.
Difere da perícia comum por não haver composição de laudo, mas somente a
inquirição do especialista.
A perícia constitui ato oneroso, ou seja, é necessário despender com os
honorários do perito. Via de regra, a responsabilidade de custeio pertence ao
vencido na causa. É necessário antecipar parte dos honorários, que deverá ser
paga pela parte que requereu o perito ou a ambas quando pedido de ofício, ou
por ambas as partes, fazendo rateio, nos dois últimos casos. Em caso de justiça
gratuita, a parte não poderá custear tais despesas se for vencido e, por isso, é
recomendado que nesses casos sejam utilizados integrantes de órgãos públicos
que prestam assistência judiciária gratuita.
Prova testemunhal
Ela só será admitida para a comprovação de fatos controvertidos, que tenham
relevância para o julgamento. Nisso, não se encontra nenhuma novidade, já que
a mesma regra aplica-se a todos os tipos de provas. Não se podem ouvir
testemunhas a respeito de questões jurídicas ou técnicas, nem sobre fatos que
não sejam controvertidos.
O art. 442 do CPC estabelece a regra a respeito da admissibilidade: “A prova
testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei de modo diverso”. Esse
dispositivo traduz a regra da admissibilidade genérica, mas autoriza a lei a
estabelecer restrições. O art. 443 apresenta duas: quando o fato sobre o qual a
testemunha seria inquirida já estiver provado por documento ou confissão da
parte; ou quando só por documentos ou por exame pericial puder ser provado.
Art. 227, parágrafo único do CC: “Qualquer que seja o valor do negócio jurídico,
a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova
por escrito”.
Somente as pessoas físicas podem ser testemunhas, nunca as jurídicas. É preciso
que sejam alheias ao processo. As partes podem ser ouvidas em depoimento
pessoal ou interrogatório, nunca como testemunhas.
Em princípio, qualquer pessoa pode ser ouvida como testemunha, não se
exigindo nenhuma qualificação especial. Há, no entanto, três circunstâncias que
obstam a sua ouvida: a incapacidade, o impedimento e a suspeição. O art. 447
do CPC enumera quando essas circunstâncias estão presentes. De acordo com o
§ 1º, são incapazes de testemunhar:
■ o interdito por enfermidade ou deficiência mental;
■ o que, acometido por enfermidade ou retardamento mental, ao tempo em
que ocorreram os fatos, não podia discerni-los; ou, ao tempo em que deve
depor, não está habilitado a transmitir as percepções;
■ o que tiver menos de dezesseis anos;
■ o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes
faltam.
Inspeção judicial
É um meio típico de prova, tratado nos arts. 481 a 484 do CPC. Consiste no
exame feito direta e pessoalmente pelo juiz, em pessoas ou coisas, com a
finalidade de aclarar fatos que interessam à causa. Difere de outros tipos de
prova, porque o juiz não obtém a informação desejada de forma indireta, por
meio de outras pessoas ou de um perito dotado de conhecimentos técnicos, mas
diretamente, pelo exame imediato da coisa, sem intermediários.
A inspeção judicial pode ser feita em qualquer fase do processo, de ofício ou a
requerimento das partes, e terá por objeto o exame de pessoas ou de coisas,
com o intuito de esclarecer o juiz a respeito de um fato que tenha relevância
para o julgamento.
O mais comum é que o juiz faça a inspeção quando, produzidas as provas,
persista em seu espírito alguma dúvida, que possa ser esclarecida pelo exame
direito da coisa ou da pessoa. Daí se dizer, com frequência, que a inspeção tem
natureza complementar, servindo para auxiliar na convicção do juiz, quando as
outras provas não tiverem sido suficientemente esclarecedoras. Mas não é
necessário que ela seja determinada apenas no final, depois das outras provas,
podendo o juiz marcá-la a qualquer tempo, sobretudo quando isso possa
dispensar outros meios mais onerosos.
O art. 482 do CPC autoriza que o juiz, na inspeção, seja assistido por um ou mais
peritos. Isso não altera a natureza da prova, nem a faz confundir-se com a
pericial: nesta, é o perito quem examina as pessoas ou coisas, e por seu
intermédio as informações são prestadas ao juiz; na inspeção, o exame é feito
diretamente por este, sem intermediários. Os peritos que o acompanham
servirão apenas para assisti-lo, auxiliá-lo com eventuais informações técnicas, a
respeito da coisa ou da pessoa, que estará sendo examinado ictu oculi, pelo
próprio magistrado.
O juiz designará a data e o local em que a inspeção será realizada, para que as
partes possam acompanhá-la, prestando esclarecimentos e fazendo as
observações que reputem de interesse para a causa. A coisa ou pessoa poderá
ser apresentada em juízo, para que o juiz a examine; ou ele poderá deslocar-se
até onde estão, nas hipóteses do art. 483 do CPC.
Concluída a diligência, será lavrado auto circunstanciado, que mencionará tudo
o que for de interesse para o julgamento da causa (CPC, art. 484).