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PROVAS EM ESPÉCIE

1. Depoimento pessoal

Artigos 342 a 347 do CPC.

a) Conceito e finalidades

Depoimento pessoal é a oitiva da parte (autora, ré, litisconsorte, interveniente...).


Tem duas finalidades:

 Obter a confissão. Quando está dando depoimento, a parte pode cair em


contradição e acabar contando a verdade.
 Colheita, pelo julgador, das impressões pessoais sobre a parte. É importante
instrumento de convicção do juiz.

b) Interrogatório da parte x depoimento pessoal

INTERROGATÓRIO DEPOIMENTO PESSOAL


Artigo 342 do CPC: Artigo 343 do CPC:
Art. 342. O juiz pode, de ofício, em Art. 343. Quando o juiz não o determinar
qualquer estado do processo, determinar de ofício, compete a cada parte requerer o
o comparecimento pessoal das partes, a depoimento pessoal da outra, a fim de
fim de interrogá-las sobre os fatos da interrogá-la na audiência de instrução e
causa. julgamento.
É ordenado de ofício pelo juiz. Não É feito a requerimento da parte contrária
depende de requerimento. ou pelo MP (caso seja fiscal da lei).
Momento: a qualquer momento. Momento: audiência de instrução e
julgamento, antes da oitiva das
testemunhas.
Só o juiz pergunta. É para o juiz Primeiro pergunta o juiz, depois o
esclarecer dúvidas a respeito dos fatos. advogado da parte contrária e o MP.
O advogado da própria parte não pergunta
para evitar um “teatro”.
Objetivo principal: esclarecer dúvidas do Objetivo principal: obter a confissão. (É a
julgador. parte contrária que requer!)
Não implica confissão, não serve para Implica confissão. Não pode ser prestado
obter a confissão. Tanto é assim que pode por incapaz porque este não pode
ser prestado por incapaz. confessar.

c) Casuística

i. Não é possível o requerimento do próprio depoimento. A pessoa não pode


pedir que o juiz a ouça.
O litisconsorte da parte também não pode requerer o depoimento pessoal dela, só da
parte contrária.

ii. Depoimento pessoal da pessoa jurídica


A pessoa jurídica é uma ficção.
É entendimento pacífico no STJ que o depoimento pessoal é prestado por preposto com
conhecimento dos fatos e poderes específicos de confissão.
Não adianta mandar o sócio, que no dia que aconteceu o acidente, a ofensa, nem estava
no local de trabalho.
Caso a pessoa encaminhada pela pessoa jurídica não observe essas condições, haverá
confissão.

iii. Recusa em depor


Existem 2 tipos de recusa a depoimento:
 Recusa direta: o indivíduo comparece no dia da audiência para a qual foi
intimado e diz expressamente que não prestará depoimento. Se nega a falar. O
juiz pergunta alguma coisa sobre os fatos e ele responde: “eu não gostaria de
falar sobre isso”.
 Recusa indireta: pode se dar de suas maneiras – pelo uso de evasivas (artigo
345) e pelo não comparecimento (artigo 343, §2º).

Uso de evasivas:
Art. 345. Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de
responder ao que Ihe for perguntado (RECUSA DIRETA), ou
empregar evasivas (RECUSA INDIRETA), o juiz, apreciando as
demais circunstâncias e elementos de prova, declarará, na sentença,
se houve recusa de depor.
Ex: a pessoa diz que não se lembra se a pessoa estava com camisa
vermelha ou amarela, com ou sem camisa...

Não comparecimento:
Art. 343, § 2o Se a parte intimada não comparecer (RECUSA
INDIRETA), ou comparecendo, se recusar a depor (RECUSA
DIRETA), o juiz Ihe aplicará a pena de confissão.

OBS: Hipóteses legais de recusa

Em algumas hipóteses, a parte tem “direito ao silêncio”, não sendo aplicada a confissão:

 Artigo 347 do CPC.


 Artigo 229 do CC.

iv. Falso depoimento


No Brasil, prevalece a ideia de autopreservação. A parte não é obrigada a produzir
provas contra si mesma.
O falso depoimento não é crime. A pessoa é obrigada a depor, mas pode mentir.
O fato de não ser crime tem exceção. O depoimento falso pode se tornar crime na
denunciação caluniosa. Contar mentira não é crime, mas se a mentira é acusar alguém
de ter praticado crime sabendo que a pessoa não praticou, isso sim é crime.

Nada impede que, apesar de não considerar crime a mentira, aplique o disposto no
artigo 17, II, do CPC:

Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que: (Redação dada pela
Lei nº 6.771, de 1980)
(...)
II - alterar a verdade dos fatos; (Redação dada pela Lei nº
6.771, de 1980)

2. Confissão

Artigos 348 a 354 do CPC.

a) Conceito

Art. 348. Há confissão, quando a parte admite a verdade de um fato,


contrário ao seu interesse e favorável ao adversário. A confissão é
judicial ou extrajudicial.

A natureza jurídica da confissão é de ato jurídico (e não negócio jurídico, não há


convergência de vontades).
A confissão pode ou não gerar efeitos: não é vinculante! A admissão dos fatos não
significa admissão das conseqüências jurídicas, do direito.
A confissão recai sobre fato. Admitir o fato não é admitir as conseqüências jurídicas. A
pessoa pode ter confessado que bateu no carro, mas isso não significa que terá que pagar
danos morais por isso.

Confissão x reconhecimento jurídico do pedido


Reconhecimento jurídico do pedido: aí sim é vinculante. Eu bati e vou pagar os danos
morais. Confessa e admite as conseqüências jurídicas. O juiz simplesmente homologa,
não pode julgar improcedente.

A confissão recai sobre fato, não vincula; o reconhecimento recai sobre fato e direito,
fato e conseqüências jurídicas, vincula.

OBS: O CPC trata da confissão nos meios de prova.


A doutrina corretamente aponta que a confissão não se trata, a rigor, de meio de prova,
mas sim de resultado de outro meio de prova.

Meio de prova: é um instrumento para obter a prova, para sacar o conteúdo da prova.
Ex: depoimento pessoal extrai a confissão; prova documental extrai o fato que está no
documento; depoimento extrai as impressões da pessoa sobre os fatos.
Confissão não é meio de prova, não é usada para extrair nada! É o próprio objeto da
prova. Há confissão por depoimento, por prova testemunhal...

b) Condições de validade da confissão

Para que a confissão seja válida, devem ser preenchidas 3 condições:

i. O fato admitido seja pessoal, próprio.


A pessoa não pode falar: “eu confesso que João deve a Pedro”; “eu confesso que João é
mau caráter”. Isso é confissão, é testemunho.

ii. O fato confessado seja disponível.


Se o fato confessado for relativo a direito indisponível, a confissão não tem eficácia.
Artigo 351:
Art. 351. Não vale como confissão a admissão, em juízo, de fatos
relativos a direitos indisponíveis.

Quais são os fatos relativos a direito indisponível?


Quem define é o direito material, não é o processo civil.
Geralmente os fatos relativos a direito indisponível são relacionados à personalidade e
ao estado da pessoa.
Réu em ação negatória de paternidade diz que não é pai porque nunca manteve relações
sexuais com a mãe ou diz que é pai. O estado de filiação é irrenunciável, não vale a
confissão. Terá que fazer o exame.

iii. Capacidade civil do confitente.


Artigo 213 do CC.

c) Espécies de confissão

Existem duas grandes espécies de confissão no CPC:

i. Confissão extrajudicial
É aquela que não é feita em juízo.
Se feita por escrito e à parte ou a quem a represente, a confissão terá a mesma
eficácia da confissão judicial.
Se feita a terceiro ou for oral (segundo o professor), será livremente valorada
pelo juiz.

Art. 353. A confissão extrajudicial, feita por escrito à parte ou a


quem a represente, tem a mesma eficácia probatória da judicial;
feita a terceiro, ou contida em testamento, será livremente apreciada
pelo juiz.
Parágrafo único. Todavia, quando feita verbalmente, só terá
eficácia nos casos em que a lei não exija prova literal.

ii. Confissão judicial

Artigo 349 do CPC.

 Espontânea: é aquela que pode ser prestada diretamente pela parte, de modo oral
ou por escrito.

 Provocada: pode ser real ou ficta. A confissão ficta tem previsão no artigo 343,
§1º, do CPC.
Real: ocorre no depoimento pessoal. Não é ato voluntário, só há
confissão por conta da provocação.
Ficta: a pessoa vai prestar o depoimento e não responde as perguntas ou
não vai.

d) Casuística

i. Confissão do litisconsorte
Artigos 48 e 350 do CPC.

Ex: 2 litisconsortes – um dos litisconsortes confessa que ambos devem e o outro nega.

Se o litisconsórcio for simples (a decisão pode ser igual ou diferente), a


confissão de um dos litisconsortes vale.
Se o litisconsórcio for unitário (exige identidade de soluções: ou todo mundo
ganha, ou todo mundo perde), a confissão só vale se for praticada por todos os
litisconsortes.

Art. 350. A confissão judicial faz prova contra o confitente, não


prejudicando, todavia, os litisconsortes.

ii. Indivisibilidade da confissão

Art. 354. A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a


parte, que a quiser invocar como prova, aceitá-la no tópico que a
beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável. Cindir-se-á,
todavia (confissão complexa), quando o confitente lhe aduzir fatos
novos, suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito
material ou de reconvenção.

Confissão complexa: a pessoa confessa, mas aduz fatos novos.


Ex: devo, mas já paguei.
Nesse caso, o autor pode cindir: pega a parte do “devo” para mostrar para o juiz que o
réu confessou e não aceita o “já paguei”.

3. Exibição de documento ou coisa

Artigos 355 a 363 do CPC.

a) Mecanismos para obtenção de prova documental

i. Requisição judicial (juiz pede de ofício)


ii. Ação cautelar exibitória
iii. Exibição de documento ou coisa (meio de prova). A parte deve pedir ao juiz, que
não pode determinar de ofício.

b) Procedimentos

i. Exibição contra a parte: o autor pede que o réu exiba documento ou coisa.
ii. Exibição contra terceiro

EXIBIÇÃO CONTRA A PARTE EXIBIÇÃO CONTRA TERCEIRO


Artigos 355 a 359 do CPC. Artigos 360 a 362 do CPC.
É considerado um incidente processual (o É considerado um processo incidental
pedido é feito nos mesmos autos da ação). (fica em apenso).
Pode ser requerida por qualquer meio (na Sempre começa com uma petição inicial,
inicial, na contestação, em petição feita em separado para ser apensada nos
separada...). autos principais.
A outra parte será intimada para exibir o É uma verdadeira ação. O réu será citado
documento ou coisa. para exibir o documento ou coisa.
A resposta da parte no incidente de A resposta tem o prazo de 10 dias.
exibição se dá no prazo de 5 dias.
Será objeto de uma decisão interlocutória.
O juiz profere uma sentença, tem que
julgar a ação incidental.
Da decisão que manda ou não exibir Da decisão cabe apelação.
documento cabe agravo.
Exibir é ônus* (artigo 359). Exibir é dever**.

* Ônus = imperativo do próprio interesse.


A pessoa pratica o ônus se quiser ou não. Se não praticar, o azar é só dela, vai sofrer as
conseqüências. Não se pode obrigar alguém a cumprir o ônus.
O réu não é obrigado a exibir documento, mas se não exibir, o juiz vai presumir que o
que a outra parte falou é verdadeiro.
Exatamente por ser ônus, por não ser obrigatório, o STJ não permite a aplicação de
multa cominatória para obrigar a exibir (súmula 372). O juiz não pode falar “exiba sob
pena de multa”.

Art. 359. Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros


os fatos que, por meio do documento ou da coisa, a parte pretendia
provar:
I - se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer
declaração no prazo do art. 357;
II - se a recusa for havida por ilegítima.

** O dever pode ser imposto.


E juiz determina que terceiro exiba documento e o terceiro não exibir, o juiz pode
aplicar os seguintes mecanismos:
o Multa coercitiva (artigo 461);
o Busca e apreensão;
o Crime de desobediência, pelo fato de não ter sido cumprida decisão judicial.

c) Hipóteses legais de recusa a exibir

A parte não sofre a presunção de veracidade e o terceiro não sofre aquelas sanções
porque a própria lei estabelece que a recusa é lícita nos casos do artigo 363:

Art. 363. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o


documento ou a coisa: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)
I - se concernente a negócios da própria vida da
família; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)
II - se a sua apresentação puder violar dever de honra; (Redação
dada pela Lei nº 5.925, de 1973)
III - se a publicidade do documento redundar em desonra à parte
ou ao terceiro, bem como a seus parentes consangüíneos ou afins até
o terceiro grau; ou lhes representar perigo de ação penal; (Redação
dada pela Lei nº 5.925, de 1973)
IV - se a exibição acarretar a divulgação de fatos, a cujo
respeito, por estado ou profissão, devam guardar segredo; (Redação
dada pela Lei nº 5.925, de 1973)
V - se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente
arbítrio do juiz, justifiquem a recusa da exibição. (ROL
EXEMPLIFICATIVO) (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)
Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os ns. I a V
disserem respeito só a uma parte do conteúdo do documento, da outra
se extrairá uma suma para ser apresentada em juízo. (Redação dada
pela Lei nº 5.925, de 1973)

d) Exibição como meio de prova x exibição “cautelar” (artigo 844).

Existem duas diferenças entre pedir exibição no curso do processo e ajuizar a ação
exibitória.

EXIBIÇÃO MEIO DE PROVA EXIBIÇÃO “CAUTELAR”


É incidental ao processo já ajuizado. Em regra, é preparatória da ação principal.
A presunção do artigo 359 é aplicada pelo O juiz da ação preparatória só declara a
próprio juiz que determinou a exibição. não apresentação do documento,
competindo ao juiz da futura ação dita
principal aplicar a presunção.
O juiz aqui apenas diz: “declaro que o
documento não foi apresentado”. Ele não
pode julgar o mérito.

4. Prova documental

Artigos 364 a 399 do CPC.

a) Conceito

Prova documental é qualquer suporte material representativo da ocorrência de um fato.

Exemplos:
A prova escrita é o principal exemplo. O papel (suporte material) recebe informação.
Outros exemplos: pedra, vídeo, gravação em cd, pen drive, gravação de voz, e-mail,
página de internet...

b) Espécies

Existem duas espécies básicas de documentos:

i. Documento público

Artigos 364 a 366.


Para o CPC, documento público é qualquer documento emitido por autoridade pública.
Não é só o emitido pelo tabelião.
Ex: são documentos públicos boletim de ocorrência, ofício encaminhado pelo juiz,
atestado de antecedentes criminais, certidão de matrícula em instituição de ensino
superior pública.

 Eficácia probatória do documento público – artigo 364.

Tem um valor probatório maior que o privado porque faz prova não só da sua formação
(presume-se que foi formado de forma adequada porque é público), mas também ficam
provados os fatos que o escrivão ou tabelião ou funcionário declarar que ocorreram na
sua presença.
Admite-se prova em contrário em relação ao fato afirmado.

 Documento público lavrado de forma irregular – artigo 367.

Se não foi feito por autoridade competente e sem observância de formalidades, o


documento não tem eficácia de documento público, mas subsiste com a eficácia
probatória de documento particular.
Ex: contrato de compra e venda feito perante juiz de paz. O juiz de paz não pode lavrar
escritura, mas, como foi assinado pelas duas partes, será considerado documento
particular.

 Prova legal – artigo 366.

É uma limitação ao princípio do livre convencimento do juiz.


A prova legal é aquela que a lei exige como a única capaz de provar determinado fato. É
vedado ao juiz suprir por outros meios de prova.

Ex: artigo 108 do CC.


OBS: A posse pode ser provada pela tradição, mas a propriedade só através de escritura.

Ex: casamento – se prova com a certidão de casamento.

ii. Documento particular

É aquele não emitido por autoridade pública, mas sim elaborado pelos próprios
particulares.

OBS: Existem duas espécies de documentos (públicos ou privados):


 Documentos dispositivos (ou negociais): são os contratos em geral. Provam a
existência de um negócio jurídico. Ex: contrato de compra e venda, locação...
 Documentos testemunhais (ou narrativos): simplesmente espelham uma
declaração, um depoimento. Ex: carta de amor, declaração de antecedentes feita
por uma pessoa (idoneidade), boletim de ocorrência...

 Eficácia probatória dos documentos particulares


Se o documento for dispositivo ou negocial, a eficácia probatória dele está no artigo
368, o documento escrito e assinado presume-se verdadeiro em relação ao beneficiado.
Presume-se verdadeira a declaração constante contra quem assinou.
É uma presunção relativa, claro.
E em relação aos documentos testemunhais? A eficácia probatória é a do artigo 368, p.
ú. Prova apenas a declaração, mas não o fato declarado. Fica provado que a pessoa disse
aquilo, mas não que aquilo é verdadeiro.
Ex: em declaração de idoneidade, fica provado que a pessoa disse que alguém é idôneo,
mas não fica provado que esse alguém é realmente idôneo.

Art. 368. As declarações constantes do documento particular,


escrito e assinado, ou somente assinado, presumem-se verdadeiras em
relação ao signatário. (DOCUMENTO NEGOCIAL)
Parágrafo único. Quando, todavia, contiver declaração de
ciência, relativa a determinado fato, o documento particular prova a
declaração, mas não o fato declarado, competindo ao interessado em
sua veracidade o ônus de provar o fato. (DOCUMENTO
TESTEMUNHAL).

c) Argüição da falsidade documental

Existem 3 mecanismos de se argüir a falsidade documental:

i. Ação autônoma, que tem natureza declaratória de falsidade documental.


Art. 4o O interesse do autor pode limitar-se à declaração:
(...)
II - da autenticidade ou falsidade de documento.

ii. Questão incidental no processo. É decidida pelo juiz sem coisa julgada.

iii. Ação declaratória incidental de falsidade documental


Artigos 5º e 325, e artigos 390 ao 395, todos do CPC.
Decide se o documento é falso ou não com a formação de coisa julgada.

 Cabimento da arguição de falsidade

Cabe arguição sobre documento público ou particular, embora a lei só fale de


documento particular.

Como regra geral, a arguição de falsidade serve apenas para argüir falsidade material
(falsidade relativa à formação do documento ou à declaração nele contida).

Exemplo de falsidade material: assinatura falsa; formação de documento que não


existia; onde está 1.000 alguém coloca mais um zero, transformando em 10.000.

E quanto à falsidade ideológica?


É a falsidade do conteúdo da declaração existente no documento. É uma mentira no
documento.
Ex: simulação de compra e venda de imóveis para blindar os bens; locação simulada,
fiança simulada.

Cabe arguição de falsidade ideológica?


O STJ, no julgamento do REsp 1024640/DF e do REsp 354529/MT, entendeu que é
possível a arguição de falsidade ideológica através dos 3 mecanismos (ação
autônoma...), mas apenas se observadas duas condições:
o O documento deve ser testemunhal/narrativo (não tem negócio jurídico);
o O acolhimento da falsidade não deve implicar na desconstituição de negócio
jurídico (não cabe falsidade ideológica em um documento negocial).

5. Prova testemunhal

Artigos 400 a 419 do CPC.

a) Conceito

Na prova testemunhal, a pessoa que não é parte conta fatos ao juiz. Um terceiro conta
fatos ao juiz. Se é a própria parte, é interrogatório ou depoimento pessoal

b) Hipóteses de não cabimento

i. Artigo 400 do CPC.

Art. 400. A prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo


a lei de modo diverso. O juiz indeferirá a inquirição de testemunhas
sobre fatos:
I - já provados por documento ou confissão da parte
(FUNDAMENTO: DESNECESSIDADE);
II - que só por documento (ex: certidão de casamento para provar
casamento) ou por exame pericial puderem ser provados.

Há uma exceção que a jurisprudência admite prova testemunhal em caso de perícia:


expert witness. É uma testemunha técnica.

ii. Artigo 401 a 403 do CPC (artigo 227 do CC).

O artigo 401 é limitação ao livre convencimento do juiz.


O artigo tem exceções:
- É admissível a produção de prova do contrato por testemunha (ainda que de
valor superior a 10 salários mínimos) se tiver prova documental – recibo de pagamento,
por exemplo. Não é o contrato, mas é um documento relacionado.
- O credor não podia moralmente obter o documento. Ex: contrato entre pai e
filho.

OBS: A jurisprudência entende que, apesar de não ser possível comprovar contrato só
por testemunhas, é possível comprovar seu cumprimento, sua inexecução, etc.

iii. Súmula 149 do STJ

A súmula serve para evitar fraude.

c) Capacidade para testemunhar


Artigos 405 do CPC e artigo 228 do CC.

Em regra, qualquer pessoa pode ser testemunha.


Exceções – 3 grupos de pessoas não podem prestar depoimento :

 Incapazes de depor – artigo 405, §1º;


 Impedidos de depor – artigo 405, §2º;
 Suspeitos de depor – artigo 405, §3º.

O artigo 405, §4º:


§ 4o Sendo estritamente necessário, o juiz ouvirá testemunhas
impedidas ou suspeitas; mas os seus depoimentos serão prestados
independentemente de compromisso (art. 415) e o juiz lhes atribuirá o
valor que possam merecer. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1973)

O juiz pode ouvir como informante os suspeitos e impedidos, mas NÃO PODE OUVIR
O INCAPAZ COMO INFORMANTE.

d) Contradita de testemunha

É a oposição apresentada pela parte em audiência sobre a


capacidade/suspeição/impedimento da testemunha.
No começo do depoimento, instaura-se um contraditório sobre a capacidade de a pessoa
poder prestar depoimento.

Momento: Tem prevalecido o entendimento de que o momento para arguição da


contradita é logo após a qualificação da testemunha, sob pena de preclusão.
A doutrina tradicional diz que esse prazo é preclusivo.
A parte já tem que chegar na audiência sabendo que a pessoa será contraditada ou não.
A jurisprudência tem sido rigorosa na aplicação do artigo 407 do CPC (tem que indicar
nome, profissão, residência e o local de trabalho, arrolamento com 10 dias de
antecedência), para possibilitar que a parte contrária pesquise sobre a testemunha.

Para provar a incapacidade/impedimento/suspeição, a parte pode ouvir testemunhas.


Artigo 414, §1º:

§ 1o É lícito à parte contraditar a testemunha, argüindo-lhe a


incapacidade, o impedimento ou a suspeição. Se a testemunha negar
os fatos que Ihe são imputados, a parte poderá provar a contradita
com documentos ou com testemunhas, até três, apresentada no ato e
inquiridas em separado. Sendo provados ou confessados os fatos, o
juiz dispensará a testemunha, ou Ihe tomará o depoimento,
observando o disposto no art. 405, § 4o.

A parte tem que ir para a audiência sabendo que vai contraditar e ainda levar as suas
testemunhas da contradita.

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