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Revista Brasileira de
DIREITO PROCESSUAL
RBDPro
DOUTRINA, CONFERÊNCIAS, NOTAS E
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REVISTA BRASILEIRA DE DIREITO PROCESSUAL – RBDPro
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Adolfo Alvarado Velloso (Argentina) Hugo Jaime Botto Oakley (Chile) Paula Costa e Silva (Portugal)
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André Del Negri Marcelo Nogueira Roberta Toledo Campos
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R454 Revista Brasileira de Direito Processual : RBDPro. – ano 15, n. 59, (jul./set. 2007)- . – Belo Horizonte:
Fórum, 2007-
Trimestral
ISSN 0100-2589
Publicada do n. 1, jan./mar. 1975 ao n. 14, abr./jun.1978 pela Vitória Artes Gráfica, Uberaba/MG.
Publicada do n. 15, jul./set. 1978 ao n. 58, abr./jun. 1988 pela Editora Forense, Rio de Janeiro/RJ.
Publicação interrompida em 1988 e retomada pela Editora Fórum em 2007.
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DOUTRINA
Artigos
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica
do direito
Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa......................................................................... 155
Introdução............................................................................................................................................ 156
1 As recentes inovações jurídicas no Brasil.................................................................................. 160
1.1 Súmula vinculante............................................................................................................................. 160
1.2 Requisito da repercussão geral..................................................................................................... 166
2 Análise comparada de precedentes e certiorari..................................................................... 172
2.1 Panorama geral................................................................................................................................... 172
2.2 O contexto na América Latina....................................................................................................... 186
3 A análise econômica do precedente jurisprudencial e do certiorari............................... 191
3.1 A análise econômica do precedente jurisprudencial............................................................ 191
3.2 A análise econômica do certiorari................................................................................................ 196
4 Análise do caso brasileiro................................................................................................................ 197
Conclusão............................................................................................................................................. 201
Processo e decisão jurídica
André Del Negri.....................................................................................................................................................................203
1 Uma nota crítica sobre a literatura jurídico-brasileira........................................................... 203
2 Processo constitucional – A construção de uma disciplina................................................ 205
3 Processo e constitucionalidade.................................................................................................... 208
4 Autoridade e totalitarismo decisório.......................................................................................... 209
5 A decisão como o resultado de uma razão “pessoal” – Ponto-cego da decisão
judicial.................................................................................................................................................... 211
6 Processo e decisão fundamentada – O fim da atividade criadora do juiz..................... 215
7 Conclusão............................................................................................................................................. 221
Referências........................................................................................................................................... 223
RESENHA
NASSER, Paulo Magalhães. Onerosidade excessiva no contrato civil. São Paulo: Saraiva, 2011
Denis Donoso..........................................................................................................................................................................267
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8 Editorial
Os Diretores
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DOUTRINA
Artigos
Arbitragem – Indispensabilidade do
compromisso arbitral1
Artigo escrito em homenagem ao professor e acadêmico Edvaldo Brito, jurista notável, tributarista
1
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
12 Carlos Mário da Silva Velloso
2
A prática norte-americana, muito mais avançada do que a brasileira, utiliza, além da arbitragem e
da mediação, diversos outros métodos alternativos de resolução de controvérsias, entre os quais:
“early neutral evaluation”, “moderated settlement conferences”, “direct negotiations”, “summary jury
trial”, entre outros.
3
Conforme salientado por Giovanni Ettore Nanni, “a atuação do Órgão jurisdicional estatal fica
assegurada em várias situações, em colaboração ao tribunal arbitral, como, por exemplo, para:
(i) instauração da arbitragem em caso de resistência de uma das partes (art. 7º da Lei 9.307/96);
(ii) conduzir a testemunha renitente (art. 22, §2º, da Lei 9.307/96); (iii) determinar medidas
coercitivas ou cautelares (art. 22, §4º da Lei 9.307/96); (iv) execução da sentença arbitral;
(v) reconhecimento e execução de sentença arbitral estrangeira (art. 34 da Lei 9.307/96)” (NANNI,
Giovanni Ettore. Efeito vinculante da convenção de arbitragem estipulada no curso de processo
judicial: impossibilidade de revisão da sentença arbitral: validade da arbitragem. Revista Brasileira
de Arbitragem, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 156, jul./out. 2003).
4
ROCHA, José de Albuquerque apud CÂMARA, Alexandre Freitas. Contrato de representação
comercial: cláusula compromissória: validade e eficácia: incompetência do Poder Judiciário para
julgar o litígio. Revista de Arbitragem e Mediação, São Paulo, ano 1, n. 2, p. 220, maio/ago. 2004.
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Arbitragem – Indispensabilidade do compromisso arbitral 13
5
Para Alexandre Freitas Câmara, “a jurisdição estatal é, no sistema jurídico brasileiro, o meio comum
de pacificação de conflitos, sendo a arbitragem absolutamente excepcional” (CÂMARA. Contrato
de representação comercial: cláusula compromissória: validade e eficácia: incompetência do
Poder Judiciário para julgar o litígio. Revista de Arbitragem e Mediação, p. 227).
6
O escorço histórico reproduz observações feitas na Conferência Magna que proferi no 1º Semi
nário Internacional sobre Direito Arbitral realizado de 27 a 29 de maio de 2002 em Belo Horizonte,
MG. No ponto e no desenvolvimento da palestra, utilizei-me de trabalhos, dentre outros, de
Carmen Tiburcio (A arbitragem no direito brasileiro: histórico e Lei 9.307, de 23.09.1996. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2002. p. 31), Dalmo de Abreu Dallari (A tradição da arbitragem e sua
valorização contemporânea. In: DALLARI, Dalmo de Abreu. Aspectos atuais da arbitragem. Rio de
Janeiro: Forense, 2001. p. 99), José Eduardo Carreira Alvim (Direito arbitral. Rio de Janeiro: Forense,
2007. p. 5-7) e Edgard Katzwinkel [A arbitragem como procedimento eficaz para a solução dos
conflitos: entre sócios e a sociedade: nas sociedades empresárias. In: LEITE, Eduardo de Oliveira
(Coord.). Grandes temas da atualidade. Rio de Janeiro: Forense, 2008. v. 7 - Mediação, Arbitragem
e Conciliação, p. 75-77].
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14 Carlos Mário da Silva Velloso
kompetenz), adotado pela Lei nº 9.307/96, que se traduz na competência primeira do juízo arbitral
para apreciar questões acerca da sua própria competência. Nas palavras de Fouchard, Gaillard e
Goldman, “the competence-competence principle is a rule of chronological priority. Taking both
of its facets into account (positive and negative effects), the competence-competence principle
can be defined as the rule whereby arbitrators must have the first opportunity to hear challenges
relating to their jurisdiction, subject to subsequent review by the courts” (FOUCHARD, Philippe.
Fouchard, Gaillard, Goldman on International Commercial Arbitration. The Hague: Kluwer Law
International, 1999. p. 401).
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Arbitragem – Indispensabilidade do compromisso arbitral 15
8
ROCHA, José de Albuquerque. A lei de arbitragem: Lei 9.307, de 23.09.1996: uma avaliação crítica.
São Paulo: Malheiros, 1998. p. 43-44.
9
STRENGER, Irineu. Arbitragem comercial internacional. São Paulo: LTr., 1996. p. 130.
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16 Carlos Mário da Silva Velloso
RE nº 58.696/SP, Rel. Min. Luis Gallotti, DJ, 30 ago. 67; PONTES DE MIRANDA. Tratado de direito
10
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18 Carlos Mário da Silva Velloso
Segundo Carlos Alberto Carmona, “reputa-se vazia a cláusula que não se reporta às citadas regras,
12
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Arbitragem – Indispensabilidade do compromisso arbitral 19
13
Ainda, de acordo com Carmona, “reputa-se cheia, a cláusula em que as partes, valendo-se da
faculdade prevista no art. 5º da Lei de Arbitragem, reportam-se às regras de um órgão arbitral ou
entidade especializada, caso em que a arbitragem será instituída e processada de acordo com
tais regras” (CARMONA. Arbitragem e processo: um comentário à Lei 9.307/96, p. 220).
14
WALD, Arnoldo. A modernização da justiça e a arbitragem. In: WALD, Arnoldo. Direito processual:
inovações e perspectivas: estudos em homenagem ao Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. São
Paulo: Saraiva, 2003. p. 55-72.
15
CARMONA, Carlos Alberto. Considerações sobre a cláusula compromissória e a eleição do Foro. In:
LEMES, Selma Ferreira; CARMONA, Carlos Alberto; MARTINS, Pedro Batista (Coord.). Arbitragem:
estudos em homenagem ao Prof. Guido Fernando da Silva Soares. São Paulo: Atlas, 2007. p. 37.
16
LEMES, Selma Maria Ferreira. Convenção de arbitragem e termo de arbitragem: características,
efeitos e funções. Revista do Advogado, v. 26, n. 87, p. 94-99, set. 2006.
17
VILAS-BOAS, Renata Mala. Cláusula compromissória: sua importância no âmbito da arbitragem.
In: BOMFIM, Ana Paula Rocha et al. (Coord.). Dez anos da lei de arbitragem: aspectos atuais e
perspectivas para o instituto. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 13.
18
KROETZ, Tarcísio de Araújo. Notas sobre equivalência funcional entre o compromisso arbitral e a
cláusula compromissória completa. Revista Brasileira de Arbitragem, v. 1, n. 3, p. 125-133, jul./set.
2004.
19
LEE, João Bosco. Arbitragem comercial internacional nos países do Mercosul. Curitiba: Juruá, 2002.
p. 92.
20
LEE. Arbitragem comercial internacional nos países do Mercosul.
21
LEE. Arbitragem comercial internacional nos países do Mercosul, p. 84.
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20 Carlos Mário da Silva Velloso
22
SANTOS, Ricardo Soares Stersi dos. A cláusula compromissória cheia na arbitragem: pressupostos
e requisitos. In: LEITE (Coord.). Grandes temas da atualidade, v. 7, p. 290.
23
LIMA, Cláudio Vianna de. Ensaio sobre os efeitos do uso da expressão convenção de arbitragem
na Lei n. 9.307/96. In: PUCCI, Adriana Noemi (Coord.). Aspectos atuais da arbitragem. Rio de Janeiro:
Forense, 2001. p. 91.
24
WALD, Arnold. As anti-suit injunctions no direito brasileiro. Revista de Arbitragem e Mediação, v. 3,
n. 9, p. 36, abr./jun. 2006.
25
BARBI FILHO, Celso. Cumprimento judicial de cláusula compromissória na Lei 9.307/96 e outras
intervenções do judiciário na arbitragem privada. Revista Forense, v. 94, n. 343, p. 19, jul./set. 1998.
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22 Carlos Mário da Silva Velloso
26
Note-se, ainda, a dificuldade em se dizer o que seria uma cláusula “cheia” e uma cláusula “vazia”.
Por exemplo, na presença de uma cláusula que indique que eventuais litígios serão dirimidos
“de acordo com as regras da instituição ‘x’”, ou seja, uma cláusula que se reporte às regras de
uma entidade especializada, “alguns defendem que se está diante de uma cláusula arbitral vazia,
outros defendem que se trata de cláusula patológica e outros que se trata de cláusula cheia”
(ALVARENGA, Maria Isabel; CARVALHO, Eliane Cristina. A cláusula que se reporta às regras de um
órgão arbitral institucional. In: GUILHERME, Luiz Fernando do Vale de Almeida. Aspectos práticos
da arbitragem. São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 193-194).
27
TIBURCIO, Carmen. A arbitragem no direito brasileiro. Revista Forense, Rio de Janeiro, v. 96, n. 351,
p. 58, jul./set. 2000.
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Arbitragem – Indispensabilidade do compromisso arbitral 23
que “a vontade da parte recalcitrante será substituída pela decisão judicial e esta
sentença judicial valerá como compromisso, o que comprova, ainda, a necessidade
dos dois instrumentos, diversamente do que ocorre no plano internacional, onde
a cláusula compromissória, por si só, é apta a instaurar o juízo arbitral”.28
8.14 Desse entendimento não destoa Paulo Fernando Silveira, para quem
a lei de arbitragem não autoriza o tribunal arbitral a iniciar o procedimento sem
que esteja firmado o compromisso, pois é o compromisso “que habilita e legitima
a competência do tribunal arbitral”, não restando dúvida de que “a arbitragem só
se inicia com a assinatura do compromisso”.29
8.15 Modesto Carvalhosa, tratando da adoção da inter-relação entre a
arbitragem e o acordo de acionistas, leciona: “duas são as etapas que levam à
instalação do juízo arbitral: o estabelecimento da cláusula compromissória no
estatuto e o compromisso arbitral, que é firmado visando a composição da lide
ou controvérsia já instituída”.30 Arremata o ilustre comercialista que, “para que seja
válida e eficaz a instituição do juízo arbitral, devem as partes envolvidas declarar
sua concordância de forma expressa, tanto na cláusula compromissória quanto
no compromisso propriamente dito”.31
8.16 Esse é também o entendimento de Marcus Vinícius dos Santos Andrade,
a dizer que o compromisso arbitral deve ser firmado independentemente de se
ter presente a chamada cláusula compromissória cheia ou vazia. É conferir:
28
TIBURCIO, Carmen. A arbitragem no direito brasileiro. Revista Forense, Rio de Janeiro, v. 96, n. 351,
p. 58, jul./set. 2000.
29
SILVEIRA, Paulo Fernando. Tribunal arbitral: nova porta de acesso à justiça. Curitiba: Juruá, 2006.
p. 195.
30
CARVALHOSA, Modesto. Principais alterações na Lei de Sociedades Anônimas: juízo arbitral
e acordo de acionistas. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva; CAMPOS, Diogo Leite de (Coord.). O
direito contemporâneo em Portugal e no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 389.
31
CARVALHOSA, p. 395.
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24 Carlos Mário da Silva Velloso
8.17 É de Celso Barbi Filho, falecido precocemente e que tanta falta tem feito,
a lição que “só com o compromisso pode iniciar-se a arbitragem”. E acrescenta:
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Arbitragem – Indispensabilidade do compromisso arbitral 25
33
BARBI FILHO, Celso. Cumprimento judicial de cláusula compromissória na Lei 9.307/96 e outras
intervenções do judiciário na arbitragem privada. Revista Forense, v. 94, n. 343, p. 19-35, jul./set.
1998.
34
ALVIM, José Eduardo Carreira. Direito arbitral. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 189-190.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
26 Carlos Mário da Silva Velloso
compromisso pode dar ensejo à nulidade da própria sentença arbitral (art. 32, I,
LA)”.35 Acrescenta, com vistas à interpretação do artigo 5º da Lei de Arbitragem,
que, “quando a lei diz que a arbitragem pode ser ‘instituída’, de acordo com as
regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada, não significa
esteja dispensando o compromisso, mas admitindo sejam aquelas regras
observadas para que seja instituído o juízo arbitral, inclusive para fins de obtenção
do compromisso, judicial ou extrajudicial”.36
8.20 No mesmo sentido, Cláudio Vianna de Lima que, afirmando ser “des
propositada” a referência à cláusula compromissória vazia, entende ser o com
promisso arbitral “o primeiro ato procedimental da arbitragem”, sendo documento
“indispensável” à sua instauração. Vale a transcrição:
35
ALVIM. Direito arbitral, p. 217.
36
ALVIM. Direito arbitral, p. 218.
37
LIMA, Cláudio Vianna de. Ensaio sobre os efeitos do uso da expressão convenção de arbitragem
na Lei n. 9.307/96. In: PUCCI, Adriana Noemi (Coord.). Aspectos atuais da arbitragem. Rio de Janeiro:
Forense, 2001. p. 89-91.
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Arbitragem – Indispensabilidade do compromisso arbitral 27
38
CÂMARA, Alexandre Freitas. Arbitragem: Lei n. 9.307/96. Rio de Janeiro: Lumens Juris, 2005.
p. 28-29.
39
MORAES, José Luiz Bolzan de. Mediação e arbitragem: alternativas à jurisdição. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 1999. p. 2002.
40
AMARAL, Antônio Carlos Rodrigues do. Questões atuais da arbitragem. Consulex – Revista Jurídica,
v. 11, n. 255, p. 6 et seq., ago. 2007.
41
PUCCI, Adriana Noemi. Arbitragem comercial nos países do Mercosul análise comparativa da
legislação, jurisprudência e doutrina dos autores da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai relativas à
arbitragem. São Paulo: LTr., 1997. p. 66.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
28 Carlos Mário da Silva Velloso
8.24 Registra João Bosco Lee: “Argentina e o Uruguai estão entre os países
que estipulam a cláusula compromissória como pacto preliminar que visa a
outorga de um compromisso”.42 Cuidando do tema na Argentina, Adolfo Armando
Rivas registra que “La cláusula compromisoria, no es requisito o condición previa
o indispensable para poderse acudir al juicio de árbitros; bien pude prescindirse
de ella; en cambio, no puede haber actuación concreta de la justicia privada, si
antes no se formalizo el denominado compromiso”.43 Da mesma forma no Uruguai
(CGP, artigos 473 e 477), em que a assinatura do compromisso arbitral é requisito
indispensável e essencial à instituição da arbitragem.
8.25 Assim, nos três ordenamentos jurídicos (Brasil, Argentina e Uruguai),
a legislação determina a celebração de um compromisso arbitral, após o surgi
mento do litígio. Prosseguindo na análise comparativa das legislações do
Mercosul, Adriana Pucci critica o sistema brasileiro, que, no seu entender, se dis
tancia “da moderna corrente legislativa e doutrinária internacionais”, ao exigir o
compromisso: “a nova lei avança em relação à legislação anterior, outorgando
força vinculativa à cláusula arbitral, mas, por outro lado, pelo fato de exigir obri
gatoriamente a inserção de certos dados no compromisso, obriga, em última
instância, que as partes celebrem o compromisso, fato que poderia ter sido
dispensado, deixando à livre eleição das partes os dispositivos a serem incluídos
tanto na cláusula como no compromisso arbitral”.44
8.26 Certo, com base no que dispõe o art. 32, I, da Lei nº 9.307/96, forçoso
é reconhecer: (i) o compromisso arbitral é indispensável e a sua nulidade acarre
tará a nulidade da sentença arbitral; (ii) se o compromisso nulo anula a sentença
arbitral, por decorrência lógica também o compromisso inexistente gerará a
mesma nulidade. Este é o entendimento de Carreira Alvim, para quem, sendo indis
pensável o compromisso arbitral, sua inexistência acarretará a nulidade do laudo.
Com efeito, “a base da sentença e a sua segurança estão no compromisso, devendo
ser proferida de conformidade com o que houverem as partes convencionado, e
conter, obrigatoriamente, os requisitos dispostos no art. 10, incisos I a IV, da Lei de
Arbitragem, e, facultativamente, os referidos no art. 11, incisos I a VI, dessa mesma
lei. Se padecer o compromisso de algum vício de nulidade, como na hipótese
prevista no inciso I do art. 32 da Lei de Arbitragem (‘for nulo o compromisso’),
42
LEE, op. cit., p. 84.
43
RIVAS, Adolfo A. El arbitraje segun el derecho argentino. Revista de Processo, v. 12, n. 45, p. 45,
jan./mar. 1987.
44
PUCCI, op. cit., p. 99.
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Arbitragem – Indispensabilidade do compromisso arbitral 29
nula será também a sentença”.45 Arremata: “se faltar o compromisso arbitral, seja
porque não foi firmada a cláusula compromissória, seja porque, tendo-o sido, não
se interessou uma das partes em obter o compromisso, faltará o interesse de agir,
igualmente, na ação arbitral”.46
8.27 Para Marcus Vinicius dos Andrade, “se não houve a citação no processo
para a lavratura do compromisso, na verdade esse processo nem sequer existiu,
por não formada validamente a relação jurídico-processual, o que terminou por,
também, tornar inexistente o processo arbitral”.47 Da mesma forma o entendimento
de Clávio de Melo Valença Filho, tratando da nulidade da instauração da instância
arbitral:
8.28 Vale anotar, ademais, que a nulidade do laudo arbitral, no caso de ine
xistência do compromisso, será verificável qualquer que seja a natureza atribuída
à arbitragem: privada (de natureza contratual) ou pública (função jurisdicional
do juízo arbitral). Caso se entenda pela natureza privada da arbitragem, embora
a opção pelo procedimento arbitral seja efetuada no âmbito da autonomia da
vontade das partes, por certo tal autonomia não é ilimitada, encontrando res
trições tanto na Lei de Arbitragem como nas garantias e direitos fundamentais
constitucionalmente assegurados na denominada eficácia horizontal dos direitos
fundamentais nas relações jurídico-privadas.
45
ALVIM, op. cit., p. 225.
46
ALVIM, op. cit., p. 99.
47
ANDRADE, op. cit., p. 49.
48
VALENÇA FILHO, Clávio de Melo. Sentença Arbitral e juízo de execuções. Revista do Advogado,
v. 26, n. 87, p. 39-40, set. 2006.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
30 Carlos Mário da Silva Velloso
49
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. São Paulo: Atlas, 2004. p. 344 apud CÂMARA,
Alexandre. Cumprimento da sentença arbitral após a reforma do CPC. In: BOMFIM, Ana Paula Rocha.
Dez anos da lei de arbitragem: aspectos atuais e perspectivas para o instituto. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2007. p. 13.
50
WALD, Arnoldo. Ação de anulação de sentença arbitral estrangeira: tutela antecipada indeferida:
extinção da ação sem julgamento do mérito: justiça brasileira incompetente para julgar o feito.
Revista de Arbitragem e Mediação, v. 2, n. 5, p. 159, abr./jun. 2005.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
Arbitragem – Indispensabilidade do compromisso arbitral 31
51
BATISTA MARTINS, Pedro A. Autonomia da cláusula compromissória. In: SANTOS, Theophilo de
Azeredo. Novos estudos de direito comercial em homenagem a Celso Barbi Filho. Rio de Janeiro:
Forense, 2003, p. 341.
52
ANDRADE, op. cit., p. 25.
53
CÂMARA, op. cit., p. 13.
54
CÂMARA, op. cit., p. 13.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
32 Carlos Mário da Silva Velloso
55
VALENÇA FILHO, op. cit., p. 39-40.
56
GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. v. 3 -
Processo de execução a procedimentos especiais.
57
ZAVASCKI, Teori Albino. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2000. v. 8, p. 418.
58
REsp nº 388.000/RS, Rel. Min. José Delgado, DJ, 18 mar. 2002.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
Arbitragem – Indispensabilidade do compromisso arbitral 33
59
REsp nº 651.926/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, DJ, 28 fev. 2005.
60
REsp nº 613.685/MG, Castro Meira, DJ, 07 mar. 2005.
61
LEMES, op. cit.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
34 Carlos Mário da Silva Velloso
62
GREBLER, Eduardo. Ação declaratória de extinção do compromisso arbitral e da arbitragem:
agravo de instrumento pleiteando o prosseguimento do procedimento arbitral. Revista de
Arbitragem e Mediação, v. 4, n. 15, p. 272, out./dez. 2007.
63
WALD, Arnoldo. O controle do processo arbitral pela Corte Internacional de Arbitragem da
Câmara de Comércio Internacional – CCI. Revista do Advogado, v. 26, n. 87, p. 31, set. 2006.
64
LEE, João Bosco. Arbitragem comercial internacional nos países do Mercosul. Curitiba: Juruá, 2002.
p. 103.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
Arbitragem – Indispensabilidade do compromisso arbitral 35
XI Conclusões
11 Do exposto, podem ser formuladas as seguintes conclusões:
a) o compromisso arbitral é indispensável à inauguração da arbitragem, na
forma da Lei nº 9.307/96, artigos 7º, 9º, 10 e 11, pelo que é nula a sentença
arbitral proferida sem o prévio compromisso arbitral (art. 32, I), dado que
“o compromisso arbitral é o instrumento principal do juízo arbitral, eis
que é por meio dele que se institui o processo arbitral de onde emanará
a sentença”.65 Trata-se de nulidade insanável, que pode ser declarada,
inclusive, em exceção de pré-executividade;
b) não existe na Lei de Arbitragem a possibilidade jurídica de uma cláusula
compromissória denominada cheia atribuir competência arbitral a um
tribunal de arbitragem, substituindo a exigência legal do compromisso
arbitral, instrumento sem o qual não será instituído o processo arbitral;
c) o Supremo Tribunal Federal, ao decidir — SE nº 5.206-7-AgR/Reino da
Espanha — que o juiz poderá suprir a vontade da parte recalcitrante e dar
conteúdo ao compromisso arbitral, não admitiu, parece-nos evidente, a
hipótese de sua dispensa. A leitura atenta do acórdão proferido na citada
SE nº 5.206-AgR/Espanha não autoriza haja o Supremo Tribunal Federal
adotado entendimento no sentido de existir diferença entre cláusula
cheia e cláusula vazia, para o fim de dispensar o compromisso arbitral,
tratando-se de cláusula cheia, tampouco que tal argumento constituiu
motivo determinante da declaração de constitucionalidade. Fosse assim,
a solução seria outra: a interpretação conforme e não a declaração, tout
court, da constitucionalidade do parágrafo único do art. 6º e do art. 7º da
Lei nº 9.307/96, que não fazem a mencionada distinção;
d) documento que não seja prévio à arbitragem (art. 9º da Lei de Arbitra
gem: “O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes
submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo
ser judicial ou extrajudicial”), ou que não contenha todos os requisitos
obrigatórios dos artigos 9º e 10 da citada Lei de Arbitragem, uma “ata de
missão”, por exemplo, ou “termo de referência” de câmaras internacionais
de arbitragem, não substitui o compromisso arbitral de que trata a Lei
nº 9.307/96;
LACERDA, Belisário Antônio de. Comentários à Lei de Arbitragem. Belo Horizonte: Del Rey, 1998.
65
p. 92.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
36 Carlos Mário da Silva Velloso
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 11-36, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e
contras
José Maria Rosa Tesheiner
Desembargador aposentado do TJRS.
Professor de Direito Processual Civil na PUCRS.
Daniele Viafore
Mestra em Direito Processual Civil pela PUCRS.
Especialista em Direito Processual Civil pela PUCRS e pela
Faculdade IDC-RS. Graduada pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul. Advogada do Escritório Cabanellos Schuh.
Introdução
Objeto deste ensaio são os prós e contras da uniformização de jurisprudência,
ideia que envolve a busca algo artificial da uniformidade das decisões dos tribunais
ao se pronunciarem sobre questões de direito.
Há quem sustente que a uniformização de jurisprudência torna mais ágil a
justiça, com o impedimento da multiplicação de demandas sobre o mesmo tema
ou com o encerramento de múltiplas demandas, no percurso dos vários graus de
justiça.1 Trata-se de preservar e garantir valores muito prezados em nosso Direito:
a segurança e a previsibilidade.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
38 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
2
MANCUSO. Incidente de uniformização de jurisprudência, p. 3.
3
SANCHES. Uniformização da jurisprudência, p. 1.
4
FERRO. A jurisprudência como forma da expressão do direito. Revista de Direito Civil, p. 90.
5
O art. 163 do Código de Processo Civil dispõe: “Recebe a denominação de acórdão o julgamento
proferido pelos tribunais”.
6
Segurança jurídica: efetividade: jurisprudência. Revista de Informação Legislativa, p. 215-220.
7
Uniformização de jurisprudência. Revista de Doutrina e Jurisprudência, p. 17.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 39
8
Embargos, prejulgado e revista no direito processual brasileiro..., p. 166.
9
PINTO. Técnicas de tratamento macromolecular dos litígios: tendência de coletivização da tutela
processual civil. Revista de Processo, p. 114.
10
GOMES. Mecanismos processuais para agilização do julgamento de macrolides. In: JORNADA DE
PLANEJAMENTO E GESTÃO, p. 80.
11
Os agravos no CPC brasileiro, p. 101.
12
Neste sentido, destaca-se a decisão proferida, em 09 de dezembro de 2011, pelo Juiz de Direito
Sylvio José Costa da Silva Tavares, da Primeira Vara Cível do Foro Central da Comarca de Porto
Alegre/RS, no Processo nº 001/1.11.0247205-1: “Até hoje, nota-se a discrepância de entendimentos
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
40 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
e critérios a revelar o despreparo do Poder Judiciário para enfrentamento da questão. Digo isso,
pois não posso mais compactuar com o fato de que para situações idênticas, envolvendo contra-
tos com a mesma data de integralização, mesmo valor de integralização, mesmo valor de cotação
da ação e mesmo número de ações emitidas, possa haver repercussão patrimonial tão discrepan-
te como se verifica no dia-a-dia forense, destacando-se o caso em que o valor pretendido a título
de indenização chegou ao montante de R$2.500.000,00 nos autos da 001/1/08.0269618-3. Um
verdadeiro absurdo” (RIO GRANDE DO SUL. 1ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de Porto
Alegre. Processo nº 001/1.11.0247205-1. Brasil Telecom S.A. e Manira Abrahao Noro. Julgador: Juiz
de Direito Sylvio José Costa da Silva Tavares. Julgado em: 09.12.2011. Publicado em: 13 dez. 2011,
nota de expediente nº 3187/2011).
13
Efetividade, segurança, massificação e a proposta de um “incidente de resolução de demandas
repetitivas”. Revista de Processo, p. 251-252.
14
A expressão “justiça lotérica” é utilizada por Paulo Calmon Nogueira da Gama (A referência expressa
ao autoprecedente como instrumento de coerência, equidade, transparência e racionalização nas
manifestações do Parquet).
15
A referência expressa ao autoprecedente como instrumento de coerência, equidade, transparência
e racionalização nas manifestações do Parquet.
16
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. 19ª Câmara Cível. Apelação Cível nº 70006399166. Rel.
José Francisco Pellegrini, j. 17.06.2003.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 41
17
A tutela de direitos individuais homogêneos e as demandas ressarcitórias em pecúnia. In:
GRINOVER et al. (Coord.). Direito processual coletivo e anteprojeto de Código de Brasileiro de
Processos Coletivos, p. 217.
18
Súmula vinculante e uniformização de jurisprudência, p. 144.
19
O art. 476 do Código de Processo Civil dispõe: “Compete a qualquer juiz, ao dar o voto na
turma, câmara, ou grupo de câmaras, solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da
interpretação do direito quando: I - verificar que, a seu respeito, ocorre divergência; II - no julga
mento recorrido a interpretação for diversa da que lhe haja dado outra turma, câmara, grupo de
câmaras ou câmaras cíveis reunidas. Parágrafo único. A parte poderá, ao arrazoar o recurso ou
em petição avulsa, requerer, fundamentadamente, que o julgamento obedeça ao disposto neste
artigo”.
20
Curso avançado de processo civil, v. 1, p. 242.
21
Breves comentários aos embargos de divergência e aos incidentes de uniformização de jurispru
dência no direito processual brasileiro. Revista Dialética de Direito Processual – RDDP, p. 52.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
42 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
22
PORTO. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 6, p. 246.
23
PORTO. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 6, p. 248.
24
WEBER. Súmula vinculante e uniformização de jurisprudência, p. 236.
25
SIFUENTES. Súmula vinculante, p. 240.
26
PORTO. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 6, p. 247.
27
WEBER. Súmula vinculante e uniformização de jurisprudência, p. 236.
28
PORTO. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 6, p. 247.
29
WEBER. Súmula vinculante e uniformização de jurisprudência, p. 237.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 43
30
O incidente de resolução de demandas repetitivas no novo Código de Processo Civil: comen
tários aos arts. 930 a 941 do PL 8.046/2010. Revista de Processo, p. 245.
31
Da uniformização da jurisprudência. O Direito em Movimento – Revista do Instituto Capixaba de
Estudos, p. 64.
32
THEODORO JÚNIOR. Repercussão geral no recurso extraordinário: Lei nº 11.418, e súmula vin
culante do Supremo Tribunal Federal, Lei nº 11.417. Revista Magister – Direito Civil e Processual
Civil, p. 6.
33
MENDONÇA. A súmula vinculante como fonte hermenêutica de direito. Interesse Público – IP, p. 173.
34
A súmula vinculante como fonte hermenêutica de direito. Interesse Público – IP, p. 172-173.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
44 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
A súmula vinculante, diz Roberto Rosas, “torna mais ágil a justiça, sobre o
mesmo tema, com impedimento de multiplicação de demandas, ou encerramento
de múltiplas demandas, no percurso dos vários graus de justiça”.35
A súmula vinculante foi regulamentada pela Lei nº 11.417/2006, que cuidou
da disciplina da edição, revisão e cancelamento de enunciado de súmula vincu
lante pelo STF.
A Lei nº 11.417/2006 faculta ao Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária,
por decisão tomada por dois terços de seus membros, depois de reiteradas de
cisões em matéria constitucional,36 de ofício ou por provocação, editar, revisar ou
cancelar súmula vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e da Admi
nistração Pública direta e indireta.
O objetivo da súmula é a interpretação e eficácia de normas cuja controvérsia
atual acarrete insegurança jurídica e proliferação de processos idênticos.
Na lição de Rodolfo de Camargo Mancuso, “a ideia-força da súmula vinculante
trifurca-se nos objetivos de (a) conferir previsibilidade às decisões, (b) assegurar
tratamento isonômico aos jurisdicionados e administrados e (c) operar como
filtro ou elemento de contenção de ações e recursos, abreviando, outrossim, o
rito daquelas e destes já em curso”.37
A súmula vinculante tem eficácia imediata, mas o Supremo Tribunal Federal,
por decisão de dois terços de seus membros, pode restringir os efeitos vincu
lantes ou decidir que tenha eficácia a partir de outro momento, tendo em vista a
segurança jurídica ou excepcional interesse público.
Proposta a edição, revisão ou cancelamento das súmulas vinculantes há sus
pensão dos processos em andamento que analisem a mesma questão.
Cabe reclamação da decisão judicial ou ato administrativo que contrarie
ou negue vigência à súmula vinculante, consoante dispõe o art. 103-A, §3º, da
Constituição Federal.38
A súmula vinculante tem efeito erga omnes, o que “estreita sua ligação com
os princípios da celeridade e da efetividade, gerando barreira quase instransponí-
vel para ações improcedentes em primeiro grau e para recursos contrários a sua
35
Segurança jurídica: efetividade: jurisprudência. Revista de Informação Legislativa, p. 219.
36
O art. 103-A, caput, da Constituição Federal de 1988, repetido no art. 2º da Lei nº 11.417/2006,
exige “reiteradas decisões sobre matéria constitucional”.
37
Divergência jurisprudencial e súmula vinculante, p. 425.
38
O art. 103-A, §3º, da Constituição Federal dispõe: “§3º Do ato administrativo ou decisão judicial
que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo
Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão
judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula,
conforme o caso”.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 45
39
PINTO. Técnicas de tratamento macromolecular dos litígios: tendência de coletivização da tutela
processual civil. Revista de Processo, p. 120.
40
ROSAS. Segurança jurídica: efetividade: jurisprudência. Revista de Informação Legislativa, p. 218.
41
Súmula vinculante. Revista do Tribunal Federal da 1ª Região, p. 163.
42
Súmula vinculante e uniformização de jurisprudência, p. 141.
43
Controle ampliado. Anuário da Justiça, p. 41.
44
“Art. 496. São cabíveis os seguintes recursos: [...] VII - recurso extraordinário”.
45
O art. 102, III, da Constituição Federal dispõe: “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipua
mente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: [...] III - julgar, mediante recurso extraordinário, as
causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal”.
46
MOREIRA. Comentários ao Código de Processo Civil: Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, p. 577.
47
Repercussão geral no recurso extraordinário: Lei nº 11.418, e súmula vinculante do Supremo
Tribunal Federal, Lei nº 11.417. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil, p. 80.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
46 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
48
Ibidem, p. 80.
49
Sobre a falta de filtragem da relevância do recurso extraordinário, Humberto Theodoro Júnior
aponta que “O problema é antigo e universal. A Constituição anterior enfrentou por meio do me
canismo então denominado ‘argüição de relevância’. Por se tratar de remédio concebido durante
a ditadura militar, a reconstitucionalização democrática do país, levada a efeito pela Carta de
1988, a repeliu por completo, ao invés de aprimorá-la ou substituí-la por outro meio de controle
que desempenhasse a mesma função mas de maneira mais adequada ao Estado Democrático
de Direito” (Repercussão geral no recurso extraordinário: Lei nº 11.418, e súmula vinculante do
Supremo Tribunal Federal, Lei nº 11.417. Revista Magister – Direito Civil e Processual Civil, p. 81).
50
Cabe referir que a EC nº 45/2004 também consagrou nova hipótese de cabimento do recurso
extraordinário, acrescendo uma nova alínea ao art. 102, III, da CF/88: “d) julgar válida lei local
contestada em face de lei federal”.
51
MOREIRA. A Emenda Constitucional 45/2004 e o processo. Revista de Processo, p. 240.
52
AZEM. Repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário, f. 119.
53
MARINONI; MITIDIERO. Repercussão geral no recurso extraordinário, p. 17.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 47
54
AZEM. Repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário, f. 92.
55
Para Daniel Mitidiero e Luiz Guilherme Marinoni, do não recebimento do recurso extraordinário
por ausência de repercussão geral caberá a parte recorrente impetrar mandado de segurança
(art. 5º, II, Lei nº 1.533/51). Sustentam que embora existam precedentes do STF que não admitem
mandado de segurança contra ato de seus ministros certo é que a Constituição Federal autoriza
a cogitação de seu cabimento (art. 102, I, “d”), grifando a jurisprudência dessa mesma Corte o
regime de direito estrito dessa previsão, que não admite nem a sua ampliação, nem, tampouco, a
sua restrição (Repercussão geral no recurso extraordinário, p. 57).
56
Repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário, f. 120.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
48 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
57
Repercussão geral no recurso extraordinário, p. 34.
Ibidem, p. 20.
58
Repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário, f. 120.
59
BRASIL. STF. Institucional. Notícias. Filtros processuais não impedem início de ações, diz Ministro
Carvalhido. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.
area=398&tmp.texto=101234&tmp.area_anterior=44&tmp.argumento_pesquisa=quantidadede
processos>. Acesso em: 28 jan. 2012.
60
AZEM. Repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário, f. 120.
61
Manual dos recursos, p. 815.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 49
de Justiça. Em 2007, o tribunal julgou mais de 330 mil processos, dos quais 74%
referiam-se a questões já pacificadas na corte. Esses processos lotam os gabinetes
e dificultam o julgamento de matérias de maior interesse da sociedade”.62
A Lei nº 11.672/2008 inspirou-se no procedimento previsto na Lei nº 11.418/2006,
que criou mecanismo simplificando o julgamento de recursos múltiplos, fundados
em idêntica matéria, no Supremo Tribunal Federal. Não criou propriamente um
requisito específico de admissibilidade, a exemplo do instituto da repercussão
geral para o recurso extraordinário, mas tratou apenas do processamento a ser
observado quando interposto recurso especial na situação particular de ser um de
muitas causas repetitivas.
Segue o modelo de regramento do processo para julgamento dos recursos
extraordinários repetitivos (art. 543-B, CPC). Assim, o tribunal local deverá pro
ceder à seleção dos recursos que melhor representem as discussões em torno da
questão, ficando suspensos os demais recursos especiais até o pronunciamento
definitivo do Superior Tribunal de Justiça (art. 543-C, §1º, CPC), permitindo-se a
intervenção de amicus curiae nesse julgamento (art. 543-C, §4º, CPC).
Para a seleção dos casos representativos da controvérsia,63 o §1º do art. 543-C do
CPC estabelece que serão escolhidos um ou mais recursos sobre a questão de direito
reprisada, em sede de recurso especial, no Judiciário. O §1º do art. 1º da Resolução
nº 08/2008, do STJ, dispõe que serão selecionados ao menos um processo de cada
relator e, dentre esses, os que contiverem maior diversidade de fundamentos no
acórdão e de argumentos no recurso especial.
Da decisão que seleciona determinado recurso, ou que deixa de escolher
outro, não cabe recurso. Observa Araken de Assis, “a errônea seleção não tem re
médio direto. Resta ao interessado intervir, como amicus curiae, no julgamento”.64
Os recursos representativos sujeitam-se ao crivo da admissibilidade.65
Uma vez julgado o recurso especial selecionado e publicado o acórdão do
Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais, cujos processamentos ficaram
sobrestados na origem (CPC, art. 543-C, §7o).
Para instruir o julgamento por amostragem, o relator poderá solicitar infor
mações dos tribunais de segunda instância a respeito da controvérsia, que, no
caso, funcionarão como amicus curiae (art. 543-C, §3º, CPC).
62
Lei 11.672/08 vai resgatar o STJ da inviabilidade. Consultor Jurídico.
63
São sinônimos verificados na doutrina pátria precedente paradigmático, recurso paradigma,
recurso-piloto, caso piloto, recurso líder, casos representativos, paciente indicado.
64
Manual dos recursos, p. 816.
65
Ibidem, p. 50.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
50 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
66
AZEM. Repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário, f. 118.
67
BRASIL. STJ. Institucional. Ari Pargendler destaca mais de 323 mil processos julgados pelo STJ em
2010. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&
tmp.texto=100283&tmp.area_anterior=44&tmp.argumento_pesquisa=recursosrepetitivos>.
Acesso em: 30 jul. 2012.
68
LEITE, Gisele Pereira Jorge. A importância dos mecanismos de uniformização de jurisprudência,
incidente de constitucionalidade e da súmula vinculante. Âmbito Jurídico. Disponível em: <http://
www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10068>.
Acesso em: 11 ago. 2013.
69
PERROT. O processo civil francês na véspera do século XXI. Revista Forense, p. 162.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 51
70
Ibidem, p. 162.
71
Ibidem, p. 162.
72
PINTO. As ações repetitivas e o novel art. 285-A do CPC (racionalização para as demandas de
massa). Revista de Processo, p. 122.
73
O tratamento dos processos repetitivos. In: JAYME; FARIA; LAUR (Coord.). Processo civil: novas
tendências: estudos em homenagem ao Professor Humberto Theodoro Júnior, p. 1.
74
GOMES. Mecanismos processuais para agilização do julgamento de macrolides. In: JORNADA DE
PLANEJAMENTO E GESTÃO, p. 80.
75
ROSSONI. O “incidente de resolução de demandas repetitivas” e a introdução do Group Litigation no
Direito Brasileiro: avanço ou retrocesso?. Páginas de Direito.
76
A resolução de conflitos e a função judicial no contemporâneo Estado de Direito, p. 379-380.
77
BRASIL. Anteprojeto do novo Código de Processo Civil. Comissão de Juristas Responsável pela
elaboração do anteprojeto do novo Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, 2010. p. 5.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
52 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
78
CUNHA. Anotações sobre o incidente de resolução de demandas repetitivas previsto no projeto do
novo Código de Processo Civil. Revista de Processo, p. 259.
79
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projetos de leis e outras proposições. Projeto de Lei nº 8046/2010,
apresentado em 22 dez. 2010, pelo Senado Federal. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/
proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=490267>. Acesso em: 06 ago. 2012.
80
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projetos de leis e outras proposições. Projeto de Lei nº 8046/2010,
apresentado em 22 dez. 2010, pelo Senado Federal. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/
proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=490267>. Acesso em: 06 ago. 2012.
81
Ibidem, p. 21-23.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 53
82
O projeto do CPC: críticas e propostas, p. 178.
83
COSTA. As luzes e sombras do incidente de resolução de demandas seriadas no novo projeto do
Código de Processo Civil. Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, p. 46.
84
BRASIL. Ofício nº 2873/2011-GPR. 28 nov. 2011. OAB. Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil. Comissão Especial de Reforma do Código de Processo Civil. Ofício apresentado ao
Deputado Federal Sérgio Barradas Carneiro em relação ao Projeto de Lei nº 8.046/2010.
85
No que tange à questão de direito, Teresa Arruda Alvim entende que “É praticamente impossível
haver matéria unicamente de direito, sendo que toda postulação em juízo é sustentada por
fatos. O que se pode afirmar é que determinada questão é predominantemente de fato ou
predominantemente de direito” (Distinção entre questão de fato e questão de direito para fins de
cabimento de recurso especial. Ajuris).
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54 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
86
O incidente de resolução de demandas repetitivas no projeto de Código de Processo Civil: apon
tamentos iniciais. In: FUX (Coord.). O novo Processo Civil Brasileiro (direito em expectativa): reflexões
acerca do Projeto do novo Código de Processo Civil, p. 511.
87
O incidente de resolução de demandas repetitivas no novo Código de Processo Civil: comen
tários aos arts. 930 a 941 do PL 8.046/2010. Revista de Processo, p. 258.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 55
88
ROSSI. O precedente à brasileira: súmula vinculante e o incidente de resolução de demandas
repetitivas. Revista de Processo, p. 231.
89
A class action estadunidense e algumas ponderações sobre o sistema processual brasileiro. Ajuris,
p. 165.
90
O projeto do CPC: críticas e propostas, p. 178.
91
Apontamentos sobre duas relevantes inovações no projeto de um novo CPC. Repertório IOB de
Jurisprudência – Civil, Processual, Penal e Comercial, p. 747.
92
Apontamentos sobre duas relevantes inovações no projeto de um novo CPC. Repertório IOB de
Jurisprudência – Civil, Processual, Penal e Comercial, p. 747.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
56 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
93
HOUAISS. Dicionário Houaiss da língua portuguesa, p. 2280.
94
MANCUSO. Divergência jurisprudencial e súmula vinculante. 2. ed., p. 38.
95
Sobre o conceito de stare decisis no direito brasileiro ver TUCCI. Precedente judicial como fonte do
direito, p.159 et seq.
96
MADEIRA. A força da jurisprudência. In: FUX (Coord.). O novo Processo Civil Brasileiro (direito em
expectativa): reflexões acerca do Projeto do novo Código de Processo Civil, p. 526.
97
Precedente e giurisprudenza. Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 57
98
TUCCI. Precedente judicial como fonte do direito, p. 175.
99
DIDIER JUNIOR. Ratio decidendi x obiter dictum.
100
Estabilidade e adaptabilidade como objetivos do direito: civil law e common law. Revista de
Processo.
101
DAUDT. Uniformização e estabilidade da jurisprudência: um estudo do anteprojeto do novo
Código de Processo Civil brasileiro e da atual realidade brasileira.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
58 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
de promover o império do Direito entre nós, contudo, está bem mais além da
passada e, certamente, em caminho algo diverso”.102
Hugo de Brito Machado afirma que a nova lei processual poderá resolver
alguns problemas, mas com certeza muitos outros serão por ela criados, porque
as vantagens de uma nova lei podem ser apontados por quem elabora o seu
projeto, enquanto as desvantagens só podem ser apontadas por quem vivencia
a sua aplicação.103
102
O projeto do CPC: críticas e propostas, p. 164.
103
O novo CPC.
104
SOUZA. A súmula vinculante diante do princípio do livre convencimento motivado do juiz.
Jurisprudência Catarinense, p. 230.
105
MUKAI, Toshio. Ética e direito em Chaïm Perelman. Revista da Ordem dos Advogados do Brasil,
Brasília, v. 69, p. 94, 1998 apud PERELMAN. Ética e direito.
106
MUKAI, Toshio. Ética e direito em Chaïm Perelman. Revista da Ordem dos Advogados do Brasil,
Brasília, v. 69, p. 94, 1998 apud PERELMAN. Ética e direito.
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Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 59
107
Súmula vinculante. Revista do Tribunal Federal da 1ª Região, p. 176.
108
Ações repetitivas e julgamento liminar. Páginas de Direito.
109
Divergência jurisprudencial e súmula vinculante. 3. ed., p. 131.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
60 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
histórico, não devem ter soluções diferentes. A opinião leiga não compreende a
contrariedade dos julgados, pelo seu desejo de segurança.110
Castanheira Neves registra que a independência decisória dos juízes, en
quanto princípio de Estado de Direito, significa independência vinculada à
exclusiva dependência da lei, pois só esta, a lei enquanto norma geral e abstrata,
pode dirigir a decisão judicial no caso concreto.111
Não se pode perder de vista que os mecanismos de uniformização devem
observar as peculiaridades dos casos concretos e de cada região do País. É preciso
que se determine o que deve e o que não deve ser objeto de uniformização.
110
SANCHES. Uniformização da jurisprudência, p. 8. apud LEAL, Vítor Nunes. Atualidade do Supremo
Tribunal Federal. RF, 78/452, p. 455.
111
NEVES, Antonio Castanheira, idem, p. 95 et seq.
112
A chamada “uniformização da jurisprudência”. Revista de Processo, p. 73.
113
Comentários ao Código de Processo Civil: Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, v. 5, p. 641.
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Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 61
Observa José Carlos Barbosa Moreira que “em não poucos casos, ante a
primeira impressão do déjà vu, a própria leitura da petição inicial corre o perigo
de ver-se truncada, ou reduzida a sumária olhadela, desatenta e argumentos por
ventura novos que autor suscite”. O julgador, para desvencilhar-se rapidamente
do estorvo de novo processo, acaba aplicando a “lei do menor esforço” e enxer
gando identidade onde talvez não exista a vaga semelhança.118
Anota Rolf Stürner que, em última análise, a observância de acórdãos dos
tribunais superiores depende sempre do conhecimento e do raciocínio dos juí-
zes. Diz:
114
Hermenêutica e aplicação do direito, p. 81.
115
Crítica à aplicação de precedentes no direito brasileiro, p. 130.
116
Reforma procesal civil, p. 721.
117
A ampliação dos poderes do relator nos recursos cíveis, p. 2.
118
Súmula, jurisprudência, precedente: uma escalada e seus riscos. Revista Dialética de Direito
Processual – RDDP, p. 58.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
62 José Maria Rosa Tesheiner, Daniele Viafore
Considerações finais
A uniformização de jurisprudência é um tema complexo, que não admite
respostas de sim ou não, de adesão ou rejeição da ideia em termos absolutos. Não
basta a certeza de que é injusto tratar de forma desigual casos idênticos.
Sobre as reformas recentes no direito alemão e alguns pontos em comum com o projeto brasileiro
119
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 37-67, out./dez. 2013
Uniformização de jurisprudência – Prós e contras 63
Abstract: This study aims to analyze the favorable and unfavorable points
of jurisprudence standardization. The goal is to discuss the relevance and
effectiveness of existing mechanisms for jurisprudence standardization in
the current Democratic State of Law as well the innovative proposals in the
draft of Law n. 8.046/2010 and the risks of an undue standardization.
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Uniformização da jurisprudência, p. 8.
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O papel do juiz na efetividade dos direitos
sociais no Brasil – Possíveis respostas no
direito e na filosofia política
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
70 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
1 Introdução
É plena e notória a postura nitidamente tímida do Poder Judiciário brasileiro
quando não raras vezes se vê desafiado a enfrentar questões atinentes à con
cretização de direitos sociais.1 Mercê do que melhor se espera da aplicação da
lei, eis o nosso objeto de investigação: demonstrar a essencialidade dos direitos
sociais no contexto do Estado Democrático de Direito e, por que, como e quando
deverá o juiz ou tribunal agir como medida de efetividade das políticas sociais.
Reconhecendo os direitos sociais como de vital importância ao Estado De
mocrático de Direito, inicialmente pretendemos realizar um resgate histórico
através das causas que resultaram na humanização dos direitos do indivíduo,
contextualizando sua origem desde a passagem do Estado Liberal para o Estado
Social até o surgimento das primeiras prestações no texto das Constituições do
século XX. Positivação que, sem a menor sombra de dúvida, representou um salto
de qualidade nas sociedades modernas, mas que, deveras, poderá se ver obstada
mercê de uma conduta omissiva do Poder Executivo.
Como ponto conducente a um ideal avançado de democracia, tal qual o
modelo deliberativo criado pelo filósofo alemão Jürgen Habermas, procuramos
então identificar o local jurídico dos direitos sociais objetivando alcançar, em
uma sociedade reconstruída com base no Princípio da Democracia, qual o papel
desta espécie de direitos fundamentais. Tentamos nesta questão interpretar as
conclusões de Habermas para, em seguida, inferir se tal concepção funciona ade
quadamente no cenário brasileiro, situação na qual refletimos acerca da coexis
tência de várias realidades sociais distintas, porém contemporâneas em nosso
país. Motivo que nos leva a acreditar que não há como se desenhar a institucio
nalização jurídica sem a sólida materialização dos direitos sociais, encontrando
neste sentido na figura do magistrado um componente estratégico de transfor
mação social. Situação inclusive já observada pelo jurisfilósofo Ronald Dworkin,
como devidamente será demonstrado.
Mais adiante, e já em outra ótica, é necessário desfazer a inexata noção de
que, em termos absolutos, não haveria lugar para a legitimidade jurisdicional e, por
consequência, o ativismo judicial in totum seria reprovável, nem mesmo quando
destinado ao atendimento de prestações sociais. Discussão que diretamente
resultará na demonstração de que há um conceito mais amplo de democracia do
1
Citamos, a título de exemplo dessa postura inadequada, a posição extremamente tímida adotada,
em regra, pelo STF sobre os efeitos do mandado de injunção no direito pátrio.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 71
2
Sobre o tema, Marshall esclarece, em palestra emblemática proferida em 1949, intitulada
Citizenship and Social Class (Cidadania e classe social): seria possível identificar os acontecimentos
que consolidaram direitos na modernidade pela vicissitude secular, na medida em que foram
paulatinamente sendo positivados nos Estados europeus. A partir de então, a doutrina,
percebendo a correlação existente entre século-direito, cuidou de nominar as conquistas
jurídicas, identificando-as como “gerações” ou “dimensões” dos direitos fundamentais. Em uma
visão clássica: a primeira estaria relacionada aos direitos civis e políticos; a segunda, aos direitos
sociais, econômicos e culturais; e a terceira, por sua vez, referencia-se à conquista dos direitos
difusos e coletivos (MARSHALL. Cidadania, classe social e status).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
72 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
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O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 73
4
SILVA. A aplicabilidade das normas constitucionais, p. 289.
5
SILVA. A aplicabilidade das normas constitucionais, p. 68.
6
BONAVIDES. O Estado Social e sua evolução rumo à democracia participativa. In: SOUZA NETO;
SARMENTO (Coord.). Direitos sociais fundamentos, judicialização e direitos em espécie, p. 92.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
74 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
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O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 75
essa circunstância, temos então elementos para obter a origem dos direitos
fundamentais, o que, em análise peremptória, nos remete ao conhecimento do
Princípio do Discurso. Enuncia-se então que “são válidas as normas de ação às
quais todos os possíveis atingidos poderiam dar o seu assentimento, na qualidade
de participantes de discursos racionais”.9
Não obstante, para alcançarmos o processo genético dos direitos básicos
e particularmente os direitos sociais, exige-se mais que isso. Em verdade, como
estamos tratando de normas jurídicas,10 Habermas nos oferta algo mais espe
cífico, o qual denominara como Princípio da Democracia. Seria este, na sua com
preensão, a causa primária de todo o seu arcabouço reconstrutivo, além do que se
materializaria como especificidade do próprio Princípio do Discurso com aplicação
voltada ao direito. Ponderando sobre a matéria, Luchi didaticamente nos esclarece
que “O princípio da Democracia aparece então como um entrecruzamento do
Princípio do Discurso com a Forma do Direito, como um processo genético de
Direitos, cujo núcleo é próprio Princípio democrático”.11
Em verdade, deduz-se, em outros termos, pelo sentido performativo da
prática de autodeterminação de membros do direito que se reconhecem mutua
mente como membros iguais e livres de uma associação estabelecida livremente.
De outro modo, ainda pressupõe-se preliminarmente a possibilidade da decisão
racional de questões práticas e, mais precisamente, a possibilidade de todas as
fundamentações serem realizadas em discursos (e negociações reguladas pelo
procedimento), condicionando a legitimidade das leis do Estado de Direito a tal
prática.
A título de reflexão, o Princípio da Democracia se presta a dirimir duas
indagações: – Quais são as normas jurídicas a serem adotadas na sociedade? e
– Qual o processo de elaboração dessas normas? A partir das respostas obtidas,
fica subentendida a relação de cooriginariedade entre as normas jurídicas
fundamentadoras do Estado de Direito e as normas procedimentais adequadas
à elaboração do Medium do Direito. Isso quer dizer que, ao tempo em que
estabelece todo o procedimental de colocação das normas legítimas, ele também
se desenvolve na indicação de quais direitos determinarão a auto-organização
do Estado com a sua devida forma jurídica. Cumpre anotar que tal forma possui
caráter inerentemente funcional.
9
HABERMAS, 1997, p. 142.
10
Diferem das normas naturais, posto que são artificiais e surgiram no decurso da evolução social.
11
LUCHI, 2005, p. 130.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
76 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
12
HABERMAS. Direito e democracia: entre facticidade e validade, v. 1, p. 159-160.
13
LUCHI, 2005, p. 133.
14
Idem.
15
DIAS. Os direitos sociais básicos: uma investigação filosófica da questão dos direitos humanos,
p. 33.
16
HABERMAS. Direito e democracia: entre facticidade e validade, v. 1, p. 160.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 77
17
HABERMAS. Direito e democracia: entre facticidade e validade, p. 160.
18
MACHADO JÚNIOR. O espaço público da jurisdição constitucional: uma abordagem crítica sobre
a aplicabilidade da teoria de Jürgen Habermas em países periféricos. Revista da ESMESE.
19
DWORKIN, 2001, p. 25-32.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
78 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
SANTOS. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In: SANTOS (Org.).
20
Conhecimento prudente para uma vida decente: “um discurso sobre as ciências” revisitado, p. 787.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 79
21
FERREIRA FILHO. Aspectos do direito constitucional contemporâneo, p. 139.
22
SCHMITT. La defensa de la Constitución, p. 57.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
80 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
23
HABERMAS. Racionalidade e comunicação, p. 192.
24
HABERMAS. Direito e democracia: entre facticidade e validade, v. 1, p. 169-170.
25
SOUZA NETO. A justicialidade dos direitos sociais: críticas e parâmetros. In: SOUZA NETO;
SARMENTO (Coord.). Direitos sociais fundamentos, judicialização e direitos em espécie, p. 33-34.
26
DWORKIN. Uma questão de princípios, p. 25-32.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 81
27
ZANETTI JR. Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, p. 113.
28
DWORKIN. Levando os direitos a sério, p. 138.
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82 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
29
DIAS. Os direitos sociais básicos: uma investigação filosófica da questão dos direitos humanos,
p. 48.
30
Racionalidade e comunicação, p. 192.
31
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...].
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O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 83
tuito de medicamentos e parâmetros para atuação judicial. In: SOUZA NETO; SARMENTO (Coord.).
Direitos sociais fundamentos, judicialização e direitos em espécie, p. 881.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
84 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
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O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 85
35
BARROSO, 2007, p. 875-876.
36
BARROSO, 2007, p. 876.
37
Art. 5º [...]
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania;
38
Art. 103. [...]
§2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma
constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias
e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
86 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
com efeitos erga omnes (apreciada em controle concentrado pela Suprema Corte).
Atentos a essas especificidades (menos pelo objeto da demanda e justamente
pelo alcance subjetivo dessas decisões) é que entendemos residirem os limites
do que eventualmente possa ser contemplado em termos sociais no âmbito
do Poder Judiciário. Impõe-se, por isso, uma observação dos dois extremos da
questão. Se por um lado possa se adequar nos limites da razoabilidade que uma
sentença em mandado de injunção determine o fornecimento pelo Poder Público
de medicamentos a um cidadão desvalido, por outro, reserva-se bastante cautela
para que a Suprema Corte, em uma ação declaratória de inconstitucionalidade
por omissão, declare a omissão do Poder Público consoante à carência de leitos
em hospitais públicos e como tal tenha o ônus de suprir a demanda a nível na
cional. É certo que nesse último exemplo as prerrogativas judiciais se limitariam
meramente a cientificar o poder competente para que sejam adotadas provi
dências necessárias a suprir a omissão, sem, no entanto, imputar sanção ou res
ponsabilidade pela eventual contumácia. Contudo, quais seriam as consequências
se a mesma decisão fosse proferida em sede de ação civil pública39 ajuizada pelo
Ministério Público? Avaliando os efeitos que uma decisão judicial favorável dessa
monta poderia causar nas contas públicas, no Brasil, identificamos minimamente
a procedência de ações coletivas dessa natureza, o que não nos obsta de destacar
julgado relativamente recente em que a Segunda Turma do STJ reconheceu a
possibilidade de determinação judicial assegurar a efetivação de direito funda
mentais, mesmo que impliquem custos ao orçamento do Executivo. Trata-se do
Recurso Especial nº 1185474, de 2010, interposto pelo Município de Criciúma
contra decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina; a questão teve origem
em ação civil pública na qual o Parquet peticionava para que a municipalidade
garantisse o direito constitucional de crianças de zero a seis anos de idade serem
atendidas em creches e pré-escolas. No recurso, o Município alegara violação
a artigos de lei que estabelecem as diretrizes e bases da educação nacional, ao
princípio da separação dos Poderes e à regra que veda o início de programas
ou projetos não incluídos na Lei Orçamentária Anual. Além disso, sustentou que
as políticas sociais e econômicas condicionam a forma com que o Estado deve
garantir o direito à educação infantil.
39
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de respon
sabilidade por danos morais e patrimoniais causados: [...]
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 87
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
88 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
até pelo teor do trecho que colacionamos, não vislumbramos que, a despeito da
grande aceitação entre os juristas, a teoria da ponderação de valores construída por
Alexy seja solução adequada a esses casos. É que nessas situações, mesmo sendo
latente a tensão versando sobre o mínimo existencial do indivíduo e o princípio
da reserva do possível, não há que se falar em colisão de princípios, cujo conteúdo
valorativo possa ser apreciado sob a ótica da dimensão de peso, de modo que
por um raciocínio de otimização possamos levar a efeito um dos mandados tanto
quanto possível não se restrinja o grau de intensidade do outro.40 Consignamos,
entretanto, que não estamos querendo dizer que os direitos fundamentais sociais
tenham caráter absoluto e que por isso sempre prevalecerão sobre a alegação de
escassez financeira para levar a cumprimento uma decisão dessa natureza.
Com efeito, acreditamos que a racionalidade do juiz deva perpassar por
outros critérios que objetivamente indiquem em quais casos os direitos à saúde, à
educação, à moradia, entre outros, terão que ser assumidos pelo Estado por meio
de uma obrigação de fazer. Para tanto é que relacionamos como extremamente
providenciais alguns dos parâmetros articulados por Souza Neto,41 como forma
de equilibrar o ativismo judicial nas políticas públicas e os excessos decorrentes
de decisões judiciais descabidas, muitas vezes desprendidas de senso de respon
sabilidade perante o interesse público. Dentro da ideia que partilhamos e que
nos parece consistente, apresenta o autor, por exemplo, que as intervenções
sejam restritas em sua legitimidade ativa aos hipossuficientes, posto que nesses
casos existiria um verdadeiro interesse de agir, dada a condição deficitária do
postulante. Concordamos também que deva ser priorizada a solução mais eco
nômica perante a Administração, entre as eficazes, considerando que entre duas
medidas que atendam a determinada questão social seja adotada a que menos
onere os cofres públicos. No âmbito das ações coletivas que, em certo ponto, são
passíveis de universalização da prestação (por isso sendo preferíveis às individuais)
e sob determinados aspectos estimulam atuação conjunta de seguimentos da
sociedade civil, diferentemente do que pensa o referido autor, entendemos que
o juiz não deve desconsiderar o impacto econômico de uma eventual decisão
favorável. Souza Neto ainda sustenta que na esfera individual, a intervenção
judicial deve se restringir àqueles litígios cuja omissão possa causar dano irre
versível à parte peticionante. Tal como destaca, “é imprescindível a concessão do
40
ALEXY. Teoria dos direitos fundamentais.
41
SOUZA NETO. A justicialidade dos direitos sociais: críticas e parâmetros. In: SOUZA NETO;
SARMENTO (Coord.). Direitos sociais fundamentos, judicialização e direitos em espécie, p. 534-546.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 89
6 Conclusões
A despeito de verificarmos a disponibilidade de extensa literatura que se
propõe a tratar dos direitos fundamentais sociais na ótica do Poder Judiciário,
alguns com cunho estritamente jurídico, outros com viés filosófico, a intenção do
texto foi explorar o assunto sem uma inflexão específica. Abordamos, contudo,
aspectos que de alguma maneira pudessem influir em uma conduta mais pre
ponderante dos juízes e tribunais na condução das prestações sociais no Brasil,
tendo em conta que, distante da realidade dos países desenvolvidos, aqui ainda
encontramos um ambiente hostil cujas peculiaridades, diante da abissal desi
gualdade entre pobres e ricos, devem nortear não apenas a atividade judicial,
mas a conduta de todos os Poderes, incluindo o Parquet como quarto Poder,
no sentido de que os recursos, apesar de escassos, sejam mais adequadamente
compartilhados.
Assim, convictos de que tenhamos demonstrado a importância capital dos
direitos sociais nos aspectos histórico e jurídico-filosófico e confiando na funcio
nalidade do modelo democrático arquitetado por Habermas, ressaltamos que a
plenitude dos direitos sociais constitui via indissociável ao exercício da autonomia
pública, condição que, caso esteja corrompida, poderá comprometer o próprio
Estado Democrático de Direito.
Por derradeiro, saudando um conceito mais amplo de democracia, a partir
da harmonização com o constitucionalismo, e com isso trazendo elementos que
justifiquem uma posição favorável ao ativismo judicial na área social, remetemos
à consideração das consequências das decisões ao patrimônio público como um
dos fatores a serem considerados na apreciação motivada dos juízes. Premissa que
não consideramos a única, uma vez que, a título exemplificativo, apresentamos
algumas possíveis circunstâncias a serem apreciadas preliminarmente pelo apli
cador do direito no momento da prolação do decisum.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
90 José Pedro Luchi, Julio Lima Souza Martins
Referências
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Janeiro: Lumen Juris, 2008.
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BONAVIDES, Paulo. O Estado Social e sua evolução rumo à democracia participativa. In: SOUZA NETO,
Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel (Coord.). Direitos sociais fundamentos, judicialização e direitos
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DIAS, Jean Carlos. O controle judicial de políticas públicas. São Paulo: Método, 2007.
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DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1998.
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípios. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins
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O papel do juiz na efetividade dos direitos sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e na filosofia política 91
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Aspectos do direito constitucional contemporâneo. São Paulo:
Saraiva, 2003.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Tradução de Flávio Beno
Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. v. 1.
HABERMAS, Jürgen. Racionalidade e comunicação. Tradução de Paulo Rodrigues. Lisboa: Edições 70,
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LUCHI, José Pedro. A lógica dos direitos fundamentais e dos princípios do Estado. In: LUCHI, José
Pedro. Linguagem e socialidade. Vitória: Edufes.
MACHADO JÚNIOR, A. A. O espaço público da jurisdição constitucional: uma abordagem crítica sobre
a aplicabilidade da teoria de Jürgen Habermas em países periféricos. Revista da ESMESE, Sergipe,
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MARSHALL, TH. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro. J. Zahar, 1967.
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In: SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.). Conhecimento prudente para uma vida decente: “um discurso
sobre as ciências” revisitado. São Paulo: Cortez, 2004. Parte IV.
SCHMITT, Carl. La defensa de la Constitución. Madrid: Tecnos, 1998.
SILVA, José Afonso. A aplicabilidade das normas constitucionais. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. A justicialidade dos direitos sociais: críticas e parâmetros. In: SOUZA
NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel (Coord.). Direitos sociais fundamentos, judicialização e
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ZANETTI JR., Hermes. Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
LUCHI, José Pedro; MARTINS, Julio Lima Souza. O papel do juiz na efetividade dos direitos
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Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 69-91, out./dez. 2013
As Ações Coletivas no Direito brasileiro
contemporâneo – De onde viemos, onde
estamos e para onde vamos?
Resumo: O tema das ações coletivas, nas últimas décadas, vem recebendo
destaque cada vez maior na doutrina brasileira. O desenvolvimento da tutela
coletiva no Brasil foi marcado por três grandes momentos: a aprovação da Lei
da Ação Civil Pública em 1985, a promulgação da Constituição da República
de 1988, e o advento do Código de Defesa do Consumidor em 1990. No
entanto, embora não sejam poucos os méritos, os processos coletivos no
Brasil falharam em sua promessa de proporcionar uniformidade de decisões,
celeridade e economia processual. O presente artigo, assim, visa a investigar
quais são as perspectivas para as ações coletivas no Brasil, destacando o
recente desenvolvimento de um microssistema de processos coletivos, as
tentativas de codificação sobre a matéria e o papel que elas desempenharão
no futuro, junto com outros meios de resolução coletiva de litígios.
1 De onde viemos
O tema das ações coletivas, nas últimas décadas, vem recebendo destaque
cada vez maior na doutrina brasileira. Mesmo a partir das discussões que se
desenvolvem sobre o novo Código de Processo Civil, que concentrou sua atenção
em outro instituto voltado à resolução de litígios de massa (o “incidente de reso
lução de demandas repetitivas”), não se arrefeceram os debates sobre os novos
rumos da tutela coletiva no Brasil, suas perspectivas e dificuldades. A rejeição, pela
Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 93-120, out./dez. 2013
94 Andre Vasconcelos Roque
nº 5.139/2009, que propunha uma nova Lei da Ação Civil Pública, foi apenas uma
etapa (negativa?) no lento processo de aprimoramento da tutela coletiva no Brasil.
Uma ação coletiva, por definição, envolve a tutela de interesses compar
tilhados por outras pessoas, que não atuam formalmente no processo.1 Em
qualquer ação dessa natureza, a pretensão deduzida estará vinculada a uma
coletividade, categoria, classe ou grupo, bem como a indivíduos, não pertencendo
o bem tutelado, com exclusividade, às partes formais do processo. Diferencia-se
o instituto em questão do litisconsórcio, na medida em que tal fenômeno seria
incapaz de tutelar de forma minimamente eficiente e adequada os interesses
de milhares ou até mesmo de milhões de pessoas em um único processo, sem
comprometer seu bom andamento e sua razoável duração.
Sem dúvida nenhuma, o direito brasileiro ocupa papel de destaque entre os
países da civil law no âmbito das ações coletivas. Não é a oportunidade adequada
para se apresentar um exame histórico detalhado da matéria no Brasil, mas não se
poderia deixar de destacar três diplomas que foram essenciais para a consolidação
da tutela coletiva no país: a Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), a Constituição
da República de 1988 e o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90). Ao
longo dos últimos vinte anos, não apenas foram aprovadas estas e outras leis
importantíssimas, como se despertou o interesse de substanciosa doutrina sobre
o tema. O assunto desponta, a todo momento, em inúmeras monografias, disser
tações de mestrado, teses de doutoramento e artigos específicos.2
Em linhas gerais, as ações coletivas brasileiras se desenvolveram a partir das
class actions norte-americanas, mas por via indireta, principalmente através dos
estudos da doutrina italiana na década de setenta do século passado.3 Embora já
existisse no Brasil a Lei da Ação Popular desde a década anterior (Lei nº 4.717/1965),
até aquele momento a doutrina ainda não havia voltado as suas atenções para o
estudo dos interesses coletivos e da sua tutela em juízo.4
1
Segundo MENDES. Ações coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado
e nacional, p. 30, a noção de legitimidade extraordinária (que se caracteriza pela falta de coinci
dência entre as partes da relação jurídica processual e as partes da relação jurídica de direito
material defendida em juízo) seria essencial à definição de uma ação coletiva.
2
V. VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Defendant class action brasileira: limites propostos para o
“Código de Processos Coletivos”. In: GRINOVER; MENDES; WATANABE (Org.). Direito processual
coletivo e o anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos, p. 308-309.
3
V. GRINOVER. Significado social, político e jurídico da tutela dos interesses difusos. In: GRINOVER.
A marcha do processo, p. 17-23, reproduzido em GRINOVER et al. Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor comentado, p. 792-797.
4
V. MENDES. Ações coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e
nacional, p. 192.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 93-120, out./dez. 2013
As Ações Coletivas no Direito brasileiro contemporâneo – De onde viemos, onde estamos e para onde vamos? 95
5
V. MOREIRA. A ação popular do direito brasileiro como instrumento de tutela jurisdicional dos
chamados “interesses difusos”. In: MOREIRA. Temas de direito processual: primeira série, p. 110-123.
6
V. nesse sentido MOREIRA. A ação popular do direito brasileiro como instrumento de tutela
jurisdicional dos chamados “interesses difusos”. In: MOREIRA. Temas de direito processual: primeira
série, especialmente p. 111-113, refletindo sobre hipóteses que caracterizam os atuais direitos
difusos e coletivos stricto sensu. Por outro lado, a noção de direitos individuais homogêneos
constitui uma inovação do sistema jurídico brasileiro, em certa medida inspirado neste aspecto
nas class actions americanas de tipo (b)(3). [WATANABE, Kazuo. Disposições gerais (arts. 81 a 90).
In: GRINOVER et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado, p. 826].
7
V. GRINOVER. A tutela jurisdicional dos interesses difusos. In: GRINOVER. Novas tendências do direito
processual (estudo publicado originalmente em 1979) e OLIVEIRA JR. Tutela jurisdicional dos interesses
coletivos e difusos. Revista de Processo (trabalho publicado originalmente em 1978).
8
V. MENDES. Ações coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e
nacional, p. 193; DIDIER JR.; ZANETI JR. Curso de direito processual civil, v. 4, p. 30. Segundo pondera
Márcio Flávio Mafra Leal, não houve propriamente um movimento social para o desenvolvimento
das ações coletivas no Brasil, mas sim uma “revolução” de professores e profissionais do Direito,
influenciados pelos estados da doutrina italiana (Ações coletivas: história, teoria e prática, p. 184).
No entanto, se não fossem as condições sociais e históricas de redemocratização do Brasil na
época, é provável que os processos coletivos tivessem ficado confinados aos círculos acadêmicos.
9
V. MENDES. Ações coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e nacio
nal, p. 193.
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96 Andre Vasconcelos Roque
2 Onde estamos
Como já visto acima, o desenvolvimento da tutela coletiva no Brasil foi
marcado por três grandes momentos: a aprovação da Lei da Ação Civil Pública
em 1985, a promulgação da Constituição da República de 1988, e o advento do
Código de Defesa do Consumidor em 1990.10 Passados mais de vinte anos desde
a aprovação da Lei de Ação Civil Pública, o direito brasileiro consolidou-se em
uma posição de vanguarda na matéria. A experiência do Brasil influenciou outros
países, sobretudo na América Latina, a prestigiarem e consolidarem a tutela de
direitos e interesses transindividuais em seus ordenamentos jurídicos.11
A legislação brasileira atual em termos de ações coletivas, que se encontra
estruturada basicamente na Lei de Ação Civil Pública e no Código de Defesa do
Consumidor, revela extraordinários méritos. Em primeiro lugar, o art. 81 do Código
consumerista estabelece uma definição legal do que constituem os interesses e
direitos difusos e coletivos stricto sensu, evitando controvérsias que ainda não
foram bem resolvidas até hoje em outros países.12 Além disso, inovando em
relação à doutrina italiana clássica, previu uma categoria dos chamados direitos e
interesses individuais homogêneos, em certa medida inspirada nas class actions
americanas de categoria (b)(3), permitindo assim que direitos individuais de
origem comum pudessem ser coletivamente tutelados em um único processo,
com o objetivo de promover o acesso à justiça, a economia processual e unifor
midade das decisões.
10
Evidentemente, o presente estudo não tem por objetivo apresentar um exame histórico
detalhado das ações coletivas no Brasil. Sobre o tema, entre muitos outros, v. MENDES. Ações
coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e nacional, p. 191-200;
LEAL. Ações coletivas: história, teoria e prática, p. 183-187; LENZA. Teoria geral da ação civil pública,
p. 150-158; DINAMARCO. Ação civil pública, p. 36-40; LEONEL. Manual do processo coletivo, p. 52-55
e MANCUSO. Jurisdição coletiva e coisa julgada: teoria geral das ações coletivas, p. 47-55.
11
De uma forma geral, a influência foi sentida de forma indireta, passando sobretudo pelos prin
cípios do Código Modelo de Processo Civil para Ibero-América, que incorporou a ideia brasileira
da tutela jurisdicional dos interesses difusos, com algumas modificações. Nesse sentido,
relatando a influência do Código Modelo sobre as legislações do Uruguai, Argentina, Portugal,
Chile, Paraguai, Peru, Venezuela e Colômbia, em maior ou menor extensão [GRINOVER. Código
modelo de processos coletivos para ibero-américa: exposição de motivos. In: LUCON (Coord.).
Tutela coletiva: 20 anos da Lei da Ação Civil Pública e do Fundo de Defesa de Direitos Difusos: 15
anos do Código de Defesa do Consumidor, p. 26-27].
12
Segundo José Carlos Barbosa Moreira, os direitos difusos eram conhecidos ao final da década
de setenta na doutrina italiana como um “personagem absolutamente misterioso” (MOREIRA.
A ação popular do direito brasileiro como instrumento de tutela jurisdicional dos chamados
“interesses difusos”. In: MOREIRA. Temas de direito processual: primeira série, p. 113). A expressão
é encontrada em VILLONE. La collocazione istituzionale dell’interesse diffuso. In: GAMBARO. La
tutela degli interessi diffusi nel diritto comparato, p. 73.
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As Ações Coletivas no Direito brasileiro contemporâneo – De onde viemos, onde estamos e para onde vamos? 97
13
Para uma crítica ampla sobre o tema, v. ROQUE. Class actions: ações coletivas nos Estados Unidos:
o que podemos aprender com eles?, p. 542 et seq.
14
V. MANCUSO. Interesses difusos: conceito e legitimação para agir, p. 82-86.
15
A ressalva é importante porque a legislação brasileira em matéria de ações coletivas ainda não
conseguiu romper completamente as amarras do processo individual. Nesse sentido, entre
outros, v. ALMEIDA. Codificação do direito processual coletivo brasileiro, p. 109 (entendendo que
nem mesmo as recentes propostas de sistematização, analisadas a seguir, conseguiram romper
com os dogmas do processo individual regulado no CPC).
16
A expressão é utilizada por Kazuo Watanabe (Demandas coletivas e os problemas emergentes da
práxis forense. Revista de Processo, p. 23).
17
Salvo na hipótese de improcedência por insuficiência de provas em relação às ações para defesa
de direitos e interesses difusos e coletivos, hipótese em que não haverá a formação de coisa
julgada material (coisa julgada secundum eventum probationem) e uma nova ação coletiva poderá
ser proposta por qualquer um dos legitimados ativos, desde que se apresente nova prova.
18
Sobre o ponto, confira-se, amplamente, ROQUE. Class actions: ações coletivas nos Estados Unidos:
o que podemos aprender com eles?, p. 590 et seq.
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98 Andre Vasconcelos Roque
19
V. amplamente, sobre as causas da morosidade dos processos judiciais: ROQUE. A luta contra o
tempo nos processos judiciais: um problema ainda à busca de uma solução. Revista Eletrônica de
Direito Processual.
20
V., por exemplo, MESQUITA. Na ação do consumidor, pode ser inútil a defesa do fornecedor.
Revista do Advogado, reeditado em uma coletânea de obras do autor: Teses, estudos e pareceres de
processo civil (v. 3, p. 221-225).
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As Ações Coletivas no Direito brasileiro contemporâneo – De onde viemos, onde estamos e para onde vamos? 99
21
V. GRINOVER. Rumo a um Código Brasileiro de Processos Coletivos: exposição de motivos.
In: LUCON (Coord.). Tutela coletiva: 20 anos da Lei da Ação Civil Pública e do fundo de defesa
de direitos difusos: 15 anos do Código de Defesa do Consumidor, p. 1. O exemplo dos casos
envolvendo a discussão sobre as assinaturas de telefonia fixa é bastante eloquente. Segundo
um estudo empírico realizado pelo Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais (CEBEPEJ),
presidido por Kazuo Watanabe, foram propostas vinte e seis ações coletivas de idêntico objeto
contra a Telesp, tanto na Justiça Estadual como Federal. As várias ações coletivas ajuizadas,
todavia, não foram capazes de conter a sangria de milhares de ações individuais também
questionando a legalidade da assinatura telefônica, sobretudo nos Juizados Especiais Cíveis. As
dúvidas envolvendo qual seria o juízo competente, a possibilidade de reunião das ações coletivas
e mesmo de suspensão dos processos individuais ensejaram o Conflito de Competência nº
48.177/SP, apreciado pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça. V. STJ, CC nº 48.177/SP,
1ª S, Rel. Min. Francisco Falcão, rel. p/ ac. Min. Teori Albino Zavascki, j. 14.09.2005, DJ, 05 jun. 2006
e o estudo do CEBEPEJ. Tutela judicial dos interesses metaindividuais: ações coletivas, p. 62 et seq.
22
V., entre outros, VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Alguns aspectos sobre a ineficácia do
procedimento especial destinado aos interesses individuais homogêneos. In: MILARÉ (Coord.). A
ação civil pública após 20 anos: efetividade e desafios, p. 328-329.
23
A propósito, defende Paulo Cézar Pinheiro Carneiro que o direito à informação desponta, ao
mesmo tempo, como ponto de partida (no campo individual) e ponto de chegada (nas ações
coletivas) rumo ao efetivo acesso à justiça. Ponto de partida porque, sem ele, vários direitos
não seriam reclamados em ações individuais. E ponto de chegada porque eventuais direitos
reclamados nas ações coletivas precisam ser conhecidos pelos interessados, para que eles
possam usufruir da tutela jurisdicional (CARNEIRO. Acesso à justiça: juizados especiais cíveis e
ação civil pública, p. 54-55).
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100 Andre Vasconcelos Roque
dias previsto no art. 104 do CPC para que o autor requeira a suspensão de sua
demanda individual passa a ser ilusório.24 Ainda que se entenda que a publicação
do edital no Diário Oficial bastaria para dar início ao prazo previsto no dispositivo,
provavelmente poucas pessoas terão conhecimento efetivo da demanda cole
tiva e menos indivíduos ainda suspenderiam seus processos. O resultado dessa
equação é trágico: várias ações civis públicas e individuais sobre a mesma questão
tramitam ao mesmo tempo em diversos juízos, comprometendo seriamente os
objetivos da tutela coletiva.
Finalmente, não se pode desprezar a resistência do Poder Público às ações
coletivas.25 Nesse sentido, o principal recuo sofrido nos últimos anos se deu
quando o art. 16 da Lei de Ação Civil Pública foi modificado, para dispor que a
coisa julgada erga omnes ficaria restrita aos limites da competência territorial do
órgão prolator.26
O dispositivo merece severas críticas. Primeiro, porque fraciona o alcance
das ações coletivas, estimulando a instauração de vários processos idênticos na
hipótese de danos de âmbito regional ou nacional.27 Em um momento em que
o processo civil está disposto a lançar mão até mesmo de súmulas vinculantes
para lidar com o aumento da litigiosidade, tal medida parece na contramão
da evolução do processo civil brasileiro. Além disso, a lei ignora que, quando o
interesse for difuso ou coletivo stricto sensu, haverá indivisibilidade ontológica do
objeto, não se admitindo por isso o fracionamento da tutela processual.28
24
V. MENDES. Ações coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e
nacional, p. 262.
25
Nesse sentido, aludindo aos recuos ocasionais da tutela coletiva, v. MENDES, Aluisio Gonçalves
de Castro. O anteprojeto de Código Brasileiro de Processo Coletivos: uma visão geral e pontos
sensíveis. In: GRINOVER; MENDES; WATANABE (Org.). Direito processual coletivo e o anteprojeto de
Código Brasileiro de Processos Coletivos, p. 17.
26
Este não foi o único recuo imposto pelo legislador às ações coletivas, todavia. Outros exemplos
criticáveis de reforma legislativa podem ser encontrados no art. 2º-A da Lei nº 9.494/97,
acrescentado pela Medida Provisória nº 2.180-35/2001, que restringe os efeitos da sentença
em ações coletivas propostas por associações aos associados com domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator e no art. 1º, parágrafo único, da Lei de Ação Civil
Pública, também inserido pela Medida Provisória nº 2.180-35/2001, que proíbe a propositura de
ações coletivas que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, FGTS e outros fundos de
natureza institucional cujos beneficiários possam ser individualmente determinados.
27
V. GRINOVER. Da coisa julgada (arts. 103 e 104). In: GRINOVER et al. Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor comentado, p. 939; DIDIER JR.; ZANETI JR. Curso de direito processual civil, p. 149-157;
MENDES. Ações coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e nacional,
p. 264-266 e MANCUSO. Ação civil pública: em defesa do meio-ambiente, do patrimônio cultural e
dos consumidores, p. 300.
28
V. DIDIER JR.; ZANETI JR. Curso de direito processual civil, p. 150; MANCUSO. Ação civil pública: em
defesa do meio-ambiente, do patrimônio cultural e dos consumidores, p. 298 e SILVA, Bruno
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Freire e. A ineficácia da tentativa de limitação territorial dos efeitos da coisa julgada na Ação Civil
Pública. In: MAZZEI; NOLASCO (Coord.). Processo civil coletivo, p. 338-339. V., no entanto, a posição
de Teori Albino Zavascki (Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos,
p. 79-80) (considerando que o dispositivo não pode operar para direitos e interesses difusos e
coletivos em virtude de sua indivisibilidade, mas sustentando que, nos individuais homogêneos,
ele pode ser interpretado como uma norma limitadora do rol dos substituídos).
29
Nesse sentido, v. ABELHA. Ação civil pública e meio ambiente, p. 245-246. No mesmo sentido, v.
LEONEL. Manual do processo coletivo, p. 175-180, 282-285 e GRINOVER. A ação civil pública refém
do autoritarismo. In: GRINOVER. O processo: estudos & pareceres, p. 238.
30
Segundo Aluisio Mendes, o artigo 16 da Lei nº 7.345/85 deveria ser considerado revogado de
forma tácita pelo art. 103 do CDC. V. MENDES. Ações coletivas e meios de resolução coletiva de
conflitos no direito comparado e nacional, p. 265. Também nesse mesmo sentido, FERREIRA. Coisa
julgada nas ações coletivas: restrição do artigo 16 da Lei de Ação Civil Pública, p. 139 e ARAÚJO
FILHO. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor: direito processual, p. 185. O argumento
se mostra duvidoso, porém, uma vez que o próprio artigo 103 do CDC, em seu parágrafo 3º, se
refere ao art. 16 da Lei de Ação Civil Pública (ABELHA. Ação civil pública e meio ambiente, p. 249,
nota 4).
31
V. MAZZILI. A defesa dos interesses difusos em juízo, p. 262-263.
32
Nesse sentido, v. MANCUSO. Ação civil pública: em defesa do meio-ambiente, do patrimônio
cultural e dos consumidores, p. 298; NERY JR.; NERY. Leis civis comentadas, p. 258.
33
Com efeito, vários autores têm defendido de forma explícita, por vários fundamentos (como a
inobservância do princípio do acesso à justiça, do direito de ação, da razoabilidade, da garantia
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102 Andre Vasconcelos Roque
da coisa julgada, do devido processo legal, entre outros) a inconstitucionalidade do atual art. 16
da Lei de Ação Civil Pública. V., entre outros, MENDES. Ações coletivas e meios de resolução coletiva
de conflitos no direito comparado e nacional, p. 264-266; LAZZARINI, Marilena. As investidas
contra as ações civis públicas. In: LUCON (Coord.). Tutela coletiva: 20 anos da Lei da Ação Civil
Pública e do fundo de defesa de direitos difusos: 15 anos do Código de Defesa do Consumidor,
p. 159-162; NERY JR.; NERY. Leis civis comentadas, p. 258, nota 1; VIGLIAR. Ação civil pública, p. 122
(sem fundamentar seu entendimento pela inconstitucionalidade); LEONEL. Manual do processo
coletivo, p. 285 (enfatizando a possibilidade de um conflito prático de julgados e, em última
análise, a violação da garantia constitucional da coisa julgada) e LENZA. Teoria geral da ação civil
pública, p. 288.
34
V. GRINOVER. Arts. 103 e 104. In: GRINOVER et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
comentado, p. 942-943.
35
V., contudo, em sentido minoritário, defendendo a constitucionalidade do atual art. 16 da
Lei de Ação Civil Pública, CARVALHO FILHO. Ação civil pública: comentários por artigo, p. 430;
MEIRELLES. Mandado de segurança, p. 247-250 e ALVIM, Eduardo Arruda. Apontamentos sobre
o processo das ações coletivas. In: MAZZEI; NOLASCO (Coord.). Processo civil coletivo, p. 56-58
(sustentando expressamente não apenas a constitucionalidade do dispositivo, como a plena
eficácia da limitação territorial para todas as categorias de ações civis públicas). Em sentido
um pouco diverso, DINAMARCO, Pedro da Silva. Competência, conexão e prevenção nas ações
coletivas. In: MILARÉ (Coord.). A ação civil pública após 20 anos: efetividade e desafios, p. 507-508
(sustentando que o art. 16 da Lei de Ação Civil Pública privilegia o critério de competência da
proximidade do dano para as ações coletivas e que somente quando, na prática, for impossível
fracionar a tutela jurisdicional coletiva é que ela deverá ter abrangência maior que a do limite da
competência territorial do órgão julgador) e TALAMINI. Limites territoriais da eficácia das decisões
no processo coletivo (asseverando o propósito censurável escondido por trás da norma, mas
rejeitando a tese de inconstitucionalidade e buscando interpretar o dispositivo em conformidade
com o art. 93 do CDC, para considerar como âmbito de competência territorial a abrangência dos
danos “locais”, “regionais” e “nacionais”, não a comarca ou a seção judiciária, afastando assim a
hipótese de fracionamento de pretensões coletivas indivisíveis).
36
V. STF, ADIn-MC nº 1.576, Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 16.04.1997, DJ, 06 jun. 2003.
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37
No mesmo sentido, v. BATISTA. Coisa julgada nas ações civis públicas: direitos humanos e garan-
tismo, p. 193.
38
Compare-se, por exemplo, a posição outrora dominante em STJ, RESP nº 293.407, 4ª T., Rel. Min.
Barros Monteiro, rel. p/ ac. Ruy Rosado de Aguiar, j. 22.10.2002, DJ, 07 abr. 2003; RESP nº 253.589,
4ª T., Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 16.08.2001, DJ, 18 mar. 2002; RESP nº 485.842, 2ª T., Rel.
Min. Eliana Calmon, j. 06.04.2004, DJ, 24 maio 2004; RESP nº 665.947, 1ª T., Rel. Min. José Delgado,
j. 02.12.2004, DJ, 12 dez. 2005 e EREsp nº 293.407, Corte Especial, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
j. 07.06.2006, DJ, 1º ago. 2006 (aceitando a limitação imposta pelo atual art. 16) com STJ, RESP
nº 557.646, 2ª T., Rel. Min. Eliana Calmon, j. 13.04.2004, DJ, 30 jun. 2004; RESP nº 218.492, 2ª T.,
Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, j. 02.10.2001, DJ, 18 fev. 2002; REsp nº 411.529, 3ª T., Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 24.06.2008, DJe, 05 ago. 2008 (em sentido contrário, afastando tal limitação).
39
V. STJ, RESP nº 1.243.887, Corte Especial, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, j. 19.10.2011, DJe, 12 dez.
2011 e RESP nº 1.247.150, Corte Especial, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, j. 19.10.2011, DJe, 12 dez.
2011.
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104 Andre Vasconcelos Roque
V. STJ, RESP nº 1.243.386, 3ª T., Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12.06.2012, DJe, 26 jun. 2012.
40
O Projeto de Lei nº 5.139/2009 e o Projeto de Lei do Senado nº 282/2012 possuem regras que, se
41
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42
V., nesse sentido, o estudo do CEBEPEJ. Tutela judicial dos interesses metaindividuais: ações
coletivas, p. 62 et seq.
43
V. MENDES. Ações coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e
nacional, p. 262-263 (referindo-se a outros exemplos, como lides que diziam respeito a tributos,
tais como a CPMF, reajuste da tabela do imposto de renda, progressividade do IPTU, taxa de
lixo ou de iluminação pública, aumento de alíquotas, incidência de contribuições sociais sobre
determinadas categorias; além de incontáveis discussões pertinentes aos funcionários públicos
em torno de pleitos como o direito ao reajuste anual, a contagem de tempo dos celetistas
incorporados ao regime único, a transformação de cargos e a extinção de direitos).
44
V. CEBEPEJ. Tutela judicial dos interesses metaindividuais: ações coletivas, p. 87.
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106 Andre Vasconcelos Roque
45
Ao que parece, uma das primeiras obras a utilizar a expressão Direito Processual Coletivo foi a
de Gregório Assagra de Almeida (Direito processual coletivo brasileiro: um novo ramo do direito
processual). Outra obra importante a adotar tal perspectiva é de Rodolfo de Camargo Mancuso
(Jurisdição coletiva e coisa julgada: teoria geral das ações coletivas, passim).
46
V. GRINOVER. Direito processual coletivo. In: GRINOVER; MENDES; WATANABE (Org.). Direito
processual coletivo e o anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos, p. 11.
47
O princípio é o mesmo no direito norte-americano, em que se considera respeitado o devido
processo legal nas class actions pela representatividade adequada. V. ROQUE. Class actions: ações
coletivas nos Estados Unidos: o que podemos aprender com eles?, p. 131-135. Na ausência de uma
sistematização teórica das ações coletivas, a jurisprudência americana considera excepcional a
vinculação dos membros ausentes através de seu representante. Não se trata, porém, de exceção
a uma garantia constitucional. Trata-se, isto sim, da revisitação e adequação do devido processo
legal ao Direito Processual Coletivo.
48
V., nesse mesmo sentido, GRINOVER, Ada Pellegrini. Direito processual coletivo. In: GRINOVER;
MENDES; WATANABE (Org.). Direito processual coletivo e o anteprojeto de Código Brasileiro de
Processos Coletivos, p. 12-13 (referindo-se ao princípio de participação, que no processo coletivo
não pode ser exercido de forma individual, mas sim através de um “representante adequado”).
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49
Nesse sentido, o veto presidencial ao art. 89 do CDC, que previa textualmente a aplicação das
normas da lei consumerista a outros direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, acabou
ineficaz, porque o art. 117 da Lei nº 8.078/90 foi sancionado, inserindo um novo art. 21 na Lei de
Ação Civil Pública praticamente no mesmo sentido do dispositivo vetado. Além disso, também foi
sancionado o art. 110 do CDC, que alterou a Lei da Ação Civil Pública para ampliar seu cabimento
para qualquer outro interesse difuso ou coletivo. A doutrina dominante segue esse entendimento,
com o qual se concorda integralmente. V., nesse sentido, WATANABE, Kazuo. Disposições gerais
(arts. 81 a 90). In: GRINOVER et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado, p. 872-873;
GRINOVER. Ação civil pública: defesa de interesses individuais homogêneos: tutela coletiva e
tutela individual. In: GRINOVER. O processo: estudos & pareceres, p. 489 e NERY JR.; NERY. Leis civis
comentadas, p. 254, nota 2.
50
A concepção de um microssistema das ações coletivas hoje se encontra consolidada na doutrina.
V., entre muitos outros, ALMEIDA. Direito processual coletivo brasileiro: um novo ramo do direito
processual, p. 582; ALMEIDA. Codificação do direito processual coletivo brasileiro, p. 55-61;
MANCUSO. Jurisdição coletiva e coisa julgada: teoria geral das ações coletivas, p. 52-55 e DIDIER JR.;
ZANETI JR. Curso de direito processual civil, p. 126-127. A jurisprudência também vem admitindo a
existência de um microssistema de processos coletivos, com seus próprios institutos e princípios,
como se verifica em STJ, RESP nº 510.150, 1ª T., Rel. Min. Luiz Fux, j. 17.02.2004, DJ, 29 mar. 2004 (“A
lei de improbidade administrativa, juntamente com a lei da ação civil pública, da ação popular, do
mandado de segurança coletivo, do Código de Defesa do Consumidor e do Estatuto da Criança e
do Adolescente e do Idoso, compõem um microssistema de tutela dos interesses transindividuais
e sob esse enfoque interdisciplinar, interpenetram-se e subsidiam-se”).
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108 Andre Vasconcelos Roque
51
A ideia de um Código de Processos Coletivos, entretanto, não convenceu a todos os autores. Nesse
sentido, Elton Venturi (Processo civil coletivo, p. 35-41) (sustentando que um código em matéria
de processos coletivos poderia proporcionar um engessamento ainda maior na jurisprudência
e criar a oportunidade para que o Congresso revogasse muitas conquistas já adquiridas). Em
sentido um pouco diverso, Gregório Assagra de Almeida (Codificação do direito processual coletivo
brasileiro, p. 82-85) (afirmando ser favorável à codificação, mas demonstrando forte ceticismo com
os riscos de engessamento e de retrocessos nas ações coletivas e com as propostas apresentadas
até o momento, concluindo ser necessário antes discutir e incorporar diretrizes metodológicas e
principiológicas que possam orientar uma futura proposta).
52
Na realidade, embora a proposta de Antonio Gidi tenha sido publicada na Revista de Processo,
n. 111, cuja data nominal corresponde a julho/dezembro de 2003, essa proposta apenas veio
efetivamente a público em 2004, na medida em que a Revista de Processo costuma ser comer
cializada alguns meses depois da data constante na capa.
53
Contudo, a inovação é mais aparente que substancial, porque o conceito de direitos difusos
apresentado na proposta engloba as atuais categorias de direitos e interesses difusos e coletivos
stricto sensu.
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As Ações Coletivas no Direito brasileiro contemporâneo – De onde viemos, onde estamos e para onde vamos? 109
54
V. GRINOVER, Ada Pellegrini. Código modelo de processos coletivos para ibero-américa: exposição
de motivos. In: LUCON (Coord.). Tutela coletiva: 20 anos da Lei da Ação Civil Pública e do fundo de
defesa de direitos difusos: 15 anos do Código de Defesa do Consumidor, p. 27.
55
A comissão foi integrada pelos seguintes juristas e professores: Ada Pellegrini Grinover, Aluisio
Gonçalves de Castro Mendes, Anibal Quiroga León, Antonio Gidi, Enrique M. Falcón, José Luiz
Vázquez Sotelo, Kazuo Watanabe, Ramiro Bejarano Guzmán, Roberto Berizonce e Sergio Artavia.
56
Durante as discussões do anteprojeto do Código Modelo, antes mesmo de formar a comissão
revisora, vários juristas haviam sido convocados para manifestar sua opinião sobre o Código. A
coordenação dessa tarefa coube a Antonio Gidi (Brasil) e Eduardo Ferrer Mac-Gregor (México),
que reuniram os trabalhos em um livro: GIDI; MAC-GREGOR (Coord.). La tutela de los derechos
difusos, colectivos e individuales homogéneos: hacia un Código Modelo para Iberoamérica.
57
Segundo Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, a primeira versão do Código Modelo previa
as três categorias conhecidas de interesses e direitos transindividuais. Na segunda versão,
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110 Andre Vasconcelos Roque
normas institutos processuais que não são específicos da tutela coletiva, mas que
se revelam de extraordinária importância prática, como a antecipação dos efeitos
da tutela (art. 5º).
A partir do final de 2003, as discussões envolvendo o Código Modelo che
garam aos cursos de pós-graduação stricto sensu no Brasil. No âmbito da Facul
dade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), tais debates resultaram na
ideia de um Código Brasileiro de Processos Coletivos, mais adaptado à realidade
brasileira.58 As propostas em torno de uma legislação sistematizada sobre ações
coletivas, sob a coordenação de Ada Pellegrini Grinover, foram progressivamente
trabalhadas. Após transformada em anteprojeto, a proposta foi enviada em 2005
aos membros do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP). Posteriormente,
o anteprojeto foi encaminhado ao Ministério da Justiça. Em janeiro de 2007, foi
apresentada uma nova versão do anteprojeto, incorporando sugestões da Casa
Civil, Secretaria de Assuntos Legislativos, Procuradoria da Fazenda Nacional e dos
Ministérios Públicos de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Durante o primeiro semestre de 2005, agora no âmbito dos cursos de pós-
graduação stricto sensu da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da
Universidade Estácio de Sá (UNESA), desenvolveram-se debates não somente
em torno do Código Modelo, como também do anteprojeto de Código Brasileiro
de Processos Coletivos elaborado em São Paulo. A ideia inicial estava voltada
para a apresentação de sugestões e propostas para a melhoria do anteprojeto.
Nada obstante, as discussões acabaram evoluindo para uma reestruturação mais
ampla, sob a coordenação de Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, com o escopo
de oferecer uma proposta alternativa comprometida com o fortalecimento dos
processos coletivos.59 O anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos
procurou-se o consenso mediante uma divisão bipartida. Não houve uma ruptura total, todavia,
porque os interesses e direitos coletivos stricto sensu foram agrupados e denominados difusos.
V. MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. O código modelo de processos coletivos para os países
ibero-americanos. In: MAZZEI; NOLASCO (Coord.). Processo civil coletivo, p. 732 e MENDES. Ações
coletivas nos países ibero-americanos: situação atual, código modelo e perspectivas. Revista de
Processo, p. 205.
58
V. GRINOVER, Ada Pellegrini. Rumo a um Código Brasileiro de Processos Coletivos: exposição de
motivos. In: LUCON (Coord.). Tutela coletiva: 20 anos da Lei da Ação Civil Pública e do fundo de
defesa de direitos difusos: 15 anos do Código de Defesa do Consumidor, p. 2-3.
59
Nesse sentido, MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Construindo o Código Brasileiro de Processo
Coletivos: o anteprojeto elaborado no âmbito dos programas de pós-graduação da UERJ e
UNESA. In: LUCON (Coord.). Tutela coletiva: 20 anos da Lei da Ação Civil Pública e do fundo de
defesa de direitos difusos: 15 anos do Código de Defesa do Consumidor, p. 281.
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As Ações Coletivas no Direito brasileiro contemporâneo – De onde viemos, onde estamos e para onde vamos? 111
A comissão foi formada pelos seguintes membros: Rogério Favreto (Secretário da Reforma do
60
Judiciário na ocasião), Luiz Manoel Gomes Jr., Ada Pellegrini Grinover, Alexandre Lipp João,
Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, André da Silva Ordacgy, Anizio Pires Gavião Filho, Antonio
Augusto de Aras, Antonio Gidi, Athos Gusmão Carneiro, Consuelo Yatsuda Yoshida, Elton Venturi,
Fernando da Fonseca Gajardoni, Gregório Assagra de Almeida, Haman Tabosa de Moraes e
Córdova, João Ricardo dos Santos Costa, José Adonis Callou de Araújo Sá, José Augusto Garcia de
Sousa, Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Luiz Rodrigues Wambier, Petrônio Calmon Filho, Ricardo
de Barros Leonel, Ricardo Pippi Schimidt e Sérgio Cruz Arenhart.
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112 Andre Vasconcelos Roque
61
V., nesse sentido, parecer do Dep. José Carlos Aleluia, que conduziu a decisão da maioria da
Comissão de Constituição e Justiça (Disponível em: <www.camara.gov.br>. Acesso em: 19 ago.
2012).
62
Referida comissão de juristas foi presidida pelo Min. Herman Benjamin, do Superior Tribunal de
Justiça, sendo ainda composta pelos seguintes membros: Ada Pellegrini Grinover, Cláudia Lima
Marques, Kazuo Watanabe, Leonardo Roscoe Bessa e Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer.
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As Ações Coletivas no Direito brasileiro contemporâneo – De onde viemos, onde estamos e para onde vamos? 113
63
V., a propósito, a exposição de motivos redigida pela comissão de juristas que elaborou o ante-
projeto do novo CPC, com referência expressa ao direito alemão.
64
A vigência do Musterverfahren no âmbito do mercado de capitais foi prevista de forma temporária,
mas vem sendo prorrogada sucessivamente e pode se tornar definitiva em breve.
65
Sobre o Musterverfahren alemão, entre outros, v. CABRAL. O novo procedimento-modelo
(Musterverfahren) alemão: uma alternativa às ações coletivas. In: DIDIER JR. (Org.). Leituras com
plementares de processo civil, p. 241-261 (embora sem se referir à existência do instituto no direito
alemão desde 1991) e, mais recentemente, adotando uma abordagem comparativa com o
projeto do novo CPC, Baltazar José Vasconcelos Rodrigues (Incidente de resolução de demandas
repetitivas: especificação de fundamentos teóricos e práticos e análise comparativa entre as regras
previstas no projeto do novo Código de Processo Civil e o Kapitalanleger-Musterverfahrensgesetz
do direito alemão. Revista Eletrônica de Direito Processual, p. 93-108).
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114 Andre Vasconcelos Roque
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As Ações Coletivas no Direito brasileiro contemporâneo – De onde viemos, onde estamos e para onde vamos? 115
4 Considerações finais
O momento atual, como se percebe, é de amadurecimento e de aprimo
ramento da tutela coletiva no Brasil.
Como visto, o direito brasileiro ocupa hoje posição de vanguarda entre os
países da civil law no âmbito das ações coletivas. Seu sistema de tutela de direitos e
interesses metaindividuais se encontra razoavelmente estruturado na Lei de Ação
Civil Pública e no Código de Defesa do Consumidor. Muitos direitos e interesses
de natureza difusa e coletiva stricto sensu, que não encontravam até a década de
oitenta do século passado nenhum instituto processual capaz de proporcionar
tutela adequada, finalmente puderam ser submetidos ao Poder Judiciário. Polí
ticas públicas diversas puderam ser discutidas através das ações coletivas.
Consolidou-se o regime de proteção e de defesa do consumidor. Além disso, não
se pode também ignorar o desenvolvimento de ampla doutrina especializada
sobre o tema dos processos coletivos.
Isso é, ao mesmo tempo, um fato animador e preocupante. Animador,
porque mostra que hoje estamos em uma situação melhor que há décadas atrás,
em que muitos direitos simplesmente não podiam ser levados diante de um
magistrado, representando efetiva denegação de justiça. Preocupante, porque
em algum momento acreditamos, talvez ingenuamente, que as ações coletivas
— ou mesmo processos judiciais, de forma geral — pudessem resolver todos os
problemas que afligem a nossa sociedade.
O fenômeno da litigiosidade no Brasil deve ser estudado não apenas em
sua dimensão estritamente jurídica, mas também por aspectos sociológicos,
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116 Andre Vasconcelos Roque
Com entusiasmo acompanhou-se, por exemplo, recente intervenção protagonizada pela ANATEL,
66
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As Ações Coletivas no Direito brasileiro contemporâneo – De onde viemos, onde estamos e para onde vamos? 117
telefonia celular em cada estado. Os lucros perdidos pelas companhias penalizadas, aliados à
publicidade negativa, parecem um fator punitivo-pedagógico muito mais eficiente que qualquer
indenização por danos morais em processos individuais. Evidente que tal atuação das agências
reguladoras deve ser oportunamente regulamentada e debatida, mas a esperança é que esse
seja o início de um novo paradigma para o serviço de telefonia celular e, mais amplamente, para
as relações de consumo no Brasil.
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118 Andre Vasconcelos Roque
Public Civil Action Law in 1985, the promulgation of the Constitution of 1988
and the advent of the Code of Consumer Protection in 1990. However, in spite
of its considerable merits, collective actions in Brazil failed in its promise to
provide uniformity of decisions, speed and procedural economy. This article
therefore aims to investigate what are the prospects for collective action in
Brazil, highlighting the recent development of a microsystem of collective
actions, the attempts to approve a code on the matter and the role they will
play in the future, along with other collective dispute resolution procedures.
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Breves considerações sobre os embargos de
divergência e as propostas do Novo Código
de Processo Civil
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
122 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
1 Considerações iniciais
O presente estudo tem como objetivo trazer uma pequena mostra de todo
o regramento envolvendo o recurso de embargos de divergência. Tal recurso,
provavelmente seja um dos últimos na escala de utilização pelos operadores do
direito, porém, mesmo diante de uma forte corrente que entende os recursos como
um mal à celeridade do sistema,1 possui importância vital perante este, não só
para a confecção de súmulas, que, como se verá adiante, ocorre frequentemente,
mas, sobretudo, para sanar a divergência de entendimentos dentro dos Tribunais
Superiores, que, a rigor, têm a função de pacificar a interpretação da legislação.
Diante da importância que o recurso tem no ordenamento, necessária
uma abordagem sobre o cabimento do mesmo. Frise-se, talvez o maior número
de questões surjam no próprio cabimento do recurso, seja: a) analisando o tipo
de decisão a se recorrer, se monocrática ou colegiada; b) contra decisão de que
recursos serão cabíveis tais embargos; c) contra decisão de que órgão caberá a
impugnação; d) para qual órgão se recorre; e) qual decisão pode ser usada como
paradigma para a recorribilidade; f ) se o recurso tem preparo; g) como se dá o
julgamento e os efeitos deste, dentre várias outras.
Ainda, importante uma abordagem no processamento e nos efeitos do
julgamento do recurso, que eventualmente pode levar a uma súmula.
Desta forma, o presente estudo se presta, senão a esclarecer algumas das
questões postas, mas ao menos para demonstrar os posicionamentos e as polê
micas envolvendo o recurso de embargos de divergência, que como já dito, se
“Embora seja um dado de nossa experiência o fato de que os recursos constituem um dos pontos
1
que mais contribuem para a morosidade da justiça em nosso país, ninguém está disposto a
revisá-los, com o objetivo de reduzir-lhes o número ou dar-lhes disciplina que faça minimamente
declinar o peso extraordinário de sua significação” (SILVA. Processo e ideologia: o paradigma
racionalista, p. 242).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 123
2
ABDO. Embargos de divergência: aspectos históricos, procedimentais, polêmicos e de direito
comparado. In: NERY JUNIOR; WAMBIER (Coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis,
v. 9, p. 229.
3
Efeito vinculante das decisões judiciais. In: DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do
processo civil moderno. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 1226 apud ABDO. Embargos de
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
124 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
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Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 125
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126 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
10
NERY JUNIOR. Atualidades sobre o processo civil, p. 187.
11
STF, Pleno, ERE nº 121.957-2, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 20.06.91, RT, 682/244. Cf. MIRANDA;
PIZZOL. Recursos no processo civil, p. 163.
12
Idem.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 127
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
128 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
14
“Artigo 763. (Fundamento do Recurso).
1. Se, no domínio da mesma legislação, o Supremo Tribunal de Justiça proferir dois acórdãos que,
relativamente à mesma questão fundamental de direito, assentem sobre soluções opostas, pode
recorrer-se para o Tribunal Pleno de acórdão proferido em último lugar.
2. Os acórdãos consideram-se preteridos no domínio da mesma legislação sempre que, durante
o intervalo de sua publicação não tenha sido introduzido qualquer modificação legislativa que
interfira, direta ou indiretamente, na resolução de questão de direito controvertida.
3. Os acórdãos opostos hão de ser proferidos em processos diferentes ou em incidentes diferentes
do mesmo processo: neste último caso, porém, se o primeiro acórdão constituir caso julgado para
as partes, o recurso não é admissível, devendo observar-se o disposto no artigo 675.
4. Como fundamento do recurso só pode invocar-se acórdão anterior com trânsito julgado;
mas presume-se o trânsito, salvo se o recorrido alegar que o acórdão não transitou”. Cf. FREIRE.
Embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário, f. 61.
15
Op. cit., p. 242.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 129
do direito brasileiro. Está previsto no art. 374 do CPC Italiano que o Presidente do
Tribunal pode remeter os autos ao Plenário se houver a manutenção da decisão
do Tribunal inferior e esta estiver em desacordo com o entendimento do Tribunal
de Cassação. Nesse caso, o Presidente remete os autos ao Plenário para impugnar
a decisão do Tribunal inferior e não a decisão da Corte de Cassação que a manteve,
e, no caso de provimento, os autos são remetidos ao Tribunal de origem para a
aplicação do direito estabelecido pela Corte de Cassação ao caso concreto.
Na França o sistema é parecido com o italiano, tanto na função da Corte
de Cassação quanto no modo de solucionar as divergências jurisprudenciais, não
cabendo recurso de decisões da própria Corte, somente os incidentes provocados
pelos próprios julgadores, conforme previsto no art. 640 do CPC francês, chamado
de pourvoi en cassation.
Na Espanha há uma disposição bem interessante. O recurso de casación tam
bém é admitido aos Tribunais Superiores conforme art. 478 da Ley de Enjuncia
mento Civil. Porém, contra a decisão dos Tribunais Superiores, somente são
legitimados para apresentar, no prazo de um ano, ao Tribunal Supremo, o recurso
en interés de la ley quando a decisão de alguma Câmara da Corte de Cassação
divergir de decisão de outra, o Ministerio Fiscal, o Defensor Del Pueblo e algumas
pessoas jurídicas de direito público, na forma do art. 491. No caso de provimento
do recurso, o decidido pelo Tribunal Supremo passa obrigatoriamente a integrar
o ordenamento segundo o art. 493 do Diploma Processual Civil Espanhol.16
Na Argentina se encontra outra peculiaridade. O Código Procesal Civil y
Comercial de la Nación preceitua, no seu art. 288, o cabimento de recurso de ina-
plicabilidad de ley para o Plenário do Tribunal, quando houver sentença definitiva
que contrariar entendimento acerca da mesma tese jurídica proferido nos últimos
dez anos.
Há uma semelhança grande com os embargos de divergência brasileiros
quando se exige a demonstração, de forma analítica, do dissenso jurisprudencial
(art. 292), porém, na Argentina o resultado do julgamento obriga a câmara que
o proferiu a sempre seguir o entendimento do Plenário, o que também acontece
com todos os juízes de primeiro grau, ou seja, possui força vinculante.
comparado. In: NERY JUNIOR; WAMBIER (Coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis,
v. 9, p. 244.
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130 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
17
MIRANDA; PIZZOL. Recursos no processo civil, p. 163; TORREÃO. Dos embargos de divergência,
p. 114; MOREIRA. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 5, p. 634.
18
“Não cabem embargos de divergência no âmbito do agravo de instrumento que não admite
recurso especial”.
19
“São incabíveis os embargos da Lei nº 623, de 19 de fevereiro de 1949, contra provimento de
agravo para subida de recurso extraordinário”.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 131
não restam duvidas, já que é o preceito claro do art. 546 do CPC. Porém, opina-se
pela não completude técnica do legislador em tal posicionamento.
O objetivo do recurso em questão é eliminar a divergência interna dos
Tribunais Superiores, pois justamente por estes serem os guardiões da interpre
tação do ordenamento jurídico brasileiro devem dar a correta e única interpretação
acerca da tese jurídica. Poder-se-ia até pensar que a intenção do legislador foi no
sentido de restringir o cabimento dos embargos de divergência para somente
impugnar decisões de recursos excepcionais, já que, em regra, são neles que
os Tribunais Superiores exteriorizam a interpretação da norma jurídica, e por
consequência só neles haveria dissenso jurisprudencial interno que justificasse o
cabimento dos embargos de divergência.
Sem a mínima dúvida afirma-se que tal raciocínio é equivocado. O Tribunal
Superior pode exteriorizar o entendimento acerca de uma tese jurídica até mesmo
em um recurso ordinário constitucional20 no caso de competência atribuída pelo
art. 105, II, “b”, da CF/88. Pode eventualmente este entendimento contrariar o
do Tribunal em vários outros julgados. O que é interessante, no caso, é que se a
segurança tivesse sido concedida e não denegada no Tribunal a quo, pela própria
locução do artigo de lei constitucional, não caberia recurso ordinário consti
tucional, mas somente o recurso especial com base no inc. III, alíneas “a” a “c” da
Carta Magna, ou seja, a mesma questão poderia ser decidida pelo mesmo órgão,
mas: a) no primeiro caso, não caberia o recurso de embargos de divergência pelo
fato do pedido do mandado de segurança ter sido julgado improcedente no
Tribunal a quo, e a questão ter chegado no órgão julgador via recurso ordinário
constitucional, assim permitindo-se a divergência de entendimentos de Turmas
dentro de um Tribunal Superior, como se isso não fosse nocivo ao sistema e aos
jurisdicionados que dele esperam segurança jurídica; b) no segundo caso, caberia
o recurso de embargos de divergência, pois como a segurança foi concedida no
Tribunal a quo, a questão chegou ao Tribunal Superior via recurso especial, então
a divergência jurisprudencial merece ser sanada pelo órgão competente sob
pena de gerar grave insegurança aos jurisdicionados.
Ainda pode ser utilizado o exemplo de uma decisão de Reclamação Cons
titucional apresentada no Supremo Tribunal Federal,21 em que a Turma decide de
modo totalmente diverso de outros julgados de outra Turma ou do Pleno onde se
discutia competência do Supremo Tribunal Federal.
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132 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
“Art. 997. É embargável a decisão de turma que: [...] IV - nas causas de competência originária,
22
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 133
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134 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
PEREIRA. Embargos de divergência contra decisão lavrada pelo relator. Genesis – Revista de Direito
24
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Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 135
25
SHIMURA. Embargos de divergência. In: WAMBIER (Coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos
recursos especial e extraordinário, p. 417.
26
NERY JUNIOR; NERY. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante, p. 1060; DIDIER
JR.; CUNHA. Curso de direito processual civil, v. 3, p. 335; MARINONI; MITIDIERO. Código de Processo
Civil comentado artigo por artigo, p. 576.
27
CALMON. Embargos de divergência e a súmula 599/STF. In: CALMON; BULOS. Direito processual
civil: inovações e perspectivas: estudos em homenagem ao Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira,
p. 222.
28
Súmula nº 316 do STJ. “Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo
regimental, decide recurso especial”.
29
STF, Pleno, AgRegRE nº 285093/MG, Rel. Orig. Min. Maurício Corrêa, rel. p/ acórdão Min. Marco
Aurélio, j. 26.04.2007, DJU, 07 maio 2007.
30
Contra: STF, Pleno, AI nº 363.828/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 31.05.2006, DJU, p. 5, 16 jun. 2006. A
favor: OLIVEIRA. Embargos de divergência. In: PEREIRA; MELLO (Coord.). Estudos em homenagem
a Carlos Alberto Menezes Direito, p. 262.
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136 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
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Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 137
33
MOREIRA. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 5, p. 634.
34
Cf. DIDIER JR.; CUNHA. Curso de direito processual civil, v. 3, p. 334.
35
Súmula nº 353 do STF. “São incabíveis os embargos da Lei 623, de 19 de fevereiro de 1949, com
fundamento entre divergência entre decisões da mesma Turma do Supremo Tribunal Federal”.
STF entende possível se houver mudança nos membros (RE nº 318.469). Em sentido contrário é o
entendimento do STJ (EREsp nº 240.054).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
138 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
36
Cf. MOREIRA. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 5, p. 634. Cf. STF, Pleno, ERE nº 79.752, Rel.
Min. Moreira Alves, RTJ, 88/166.
37
“Pedimos vênia para considerar melhor o entendimento mais liberal, acolhido nos acórdãos
em primeiro lugar citados, pois mais consentâneo com a finalidade do recurso em exame. Seu
objetivo é propiciar a uniformização da jurisprudência. Em princípio, tratando-se da mesma
turma, a divergência há de ser por ela mesmo harmonizada. Se, entretanto, ocorreu mudança em
sua composição, só formalmente é a mesma e a uniformização dependerá do pronunciamento
do próprio órgão” [OLIVEIRA. Embargos de divergência. In: NERY JUNIOR; WAMBIER (Coord.).
Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis, v. 9, p. 150].
38
STJ, EREsp nº 240.054, Rel. Min. Edson Vidigal, DJU, 16 dez. 2002.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 139
39
STF, EmbDiv nº 110.347, Rel. Min. Moreira Alves, j. 16.12.87, DJU, p. 13145, 1º jul. 93.
40
“Não se admite embargos de divergência quando o julgado paradigma foi proferido em
Habeas Corpus” (STJ, CE, AgRg nos EDcl nos EAg 1404093/SP, Rel. Min. Humberto Martins,
j. 16.05.2012, DJe, 06 jun. 2012). “Acórdão indicado como paradigma proferido em conflito de
competência, não se presta à configuração da divergência, uma vez que, nos termos do art. 266
do RISTJ, apenas os julgados proferidos em ‘recurso especial’ podem ser objeto de embargos de
divergência em recurso especial, ou ainda, conforme entendimento jurisprudencial, os julgados
de Turma proferidos em sede de agravo regimental, seja em recurso especial, seja em agravo de
instrumento, desde que apreciado o mérito do recurso especial interposto” (STJ, 2ª S., EAgReg
nº 1195905, Rel. Min. Raul Araújo, rel. p/ acórdão Min. Nancy Andrighi, j. 26.10.2011).
41
MOREIRA. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 5, p. 635.
42
DIDIER JR.; CUNHA. Curso de direito processual civil, v. 3, p. 334.
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140 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
43
“§1º A divergência indicada deverá ser comprovada na forma do disposto no art. 255, §§1º e 2º,
deste Regimento”.
44
“Os embargos de divergência têm como pressuposto de admissibilidade a existência de similitude
fática e jurídica entre os arestos confrontados, o que não se verifica in casu” (STJ, CE, AgRg na Pet
nº 6.484/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 18.06.2008, DJe, 18 ago. 2008).
45
“Não há falar em tese jurídica divergente quando os arestos confrontados têm como fundamento
de decidir dispositivos legais diversos. [...] 4. Embargos de divergência não-conhecidos” (STJ, CE,
EREsp nº 451.271/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 04.06.2008, DJe, 26 jun. 2008).
46
“Dissídio Jurisprudencial. Aresto Apontado Como Paradigma Que Esposa Entendimento
Ultrapassado. Não Cabimento. Aplicação da Súmula 168/STJ. 1. Os embargos de divergência
revelam-se inadmissíveis, nos termos da Súmula 168/STJ, quando a jurisprudência do Tribunal
se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado, por isso que é mister que o dissídio
jurisprudencial seja atual para fins de admissão dos embargos, não bastando, portanto, que
existam julgados antigos que se contraponham com a jurisprudência contemporânea. [...]
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 141
3. Consequentemente, revela-se superado o acórdão paradigma, que esposa a tese de que ‘não
se admite a incidência do ISS sobre atividades que não estão incluídas na lista de serviços do
Decreto-Lei nº 406/68’. Precedentes: (AgRg nos EAg nº 1082014/PB, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira
Seção, 12.5.2010; AgRg nos EAg 1095369/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Primeira Seção, DJe
16.06.2010” (STJ, 1ª S., AgRg nos EAg nº 1.282.864/MS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 23.02.2011,
DJe, 02 mar. 2011).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
142 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
que foi acrescentado pela ER nº 06/02 (do STJ), e possibilitou a autenticação pelo
próprio advogado também.
Como está se tratando de utilização como acórdão paradigma do próprio
STJ, e esse admite a utilização da Revista Eletrônica de Jurisprudência (cf. Ato
nº 88, de 14.06.2002, do Exmo. Presidente do STJ), seja quando extraídas do site
do STJ, e impressas tal como ali publicadas, atendendo-se, quanto a este aspecto,
a orientação jurisprudencial fixada pelo Superior de Justiça.
A terceira hipótese é a utilização estritamente do chamado Repertório
Autorizado de Jurisprudência (cf. art. 255, §1º, alínea “b”, do RISTJ). Ou seja, se o
acórdão utilizado como paradigma estiver publicado em periódico que o STJ, em
seu último boletim de repertório autorizado, o contemple como tal, a simples
citação de local onde está publicado o acórdão (Ex. RePro n. 175, p. 243, ou RT
n. 898/098) já supre o requisito.
A última possibilidade foi preconizada pelo parágrafo único do art. 541 do
próprio Código de Processo Civil, onde se preceituou que a indicação completa
do link onde encontrado o acórdão paradigma, na página do Tribunal Superior,
também supre o requisito do Repertório Autorizado. Tal possibilidade também é
contemplada pelo art. 331 do RISTF, demonstrando que os requisitos de demons
tração de repertório autorizado são praticamente os mesmos nos dois Tribunais
Superiores.
Súmula nº 168 do STJ. “Não se presta a justificar embargos de divergência o dissídio com
47
acórdão de Turma ou Seção que não mais tenha competência para a matéria nela versada”. Não
caberia embargos de divergência, utilizando acórdão do extinto Tribunal Federal de Recursos,
por exemplo.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 143
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144 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
“Recurso Especial Em Ação Rescisória. Pressupostos. Art. 460, Par. Único, do CPC. Não-
49
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 145
Súmula nº 598 do STF. “Nos embargos de divergência não servem como padrão de discordância
50
os mesmos paradigmas invocados para demonstrá-la, mas repelidos como não dissidentes no
julgamento do recurso extraordinário”.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
146 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
O art. 266 do RISTJ preceitua que “das decisões da Turma, em recurso especial,
poderão, em quinze dias, ser interpostos embargos de divergência, que serão
julgados pela Seção competente, quando as Turmas divergirem entre si ou de
decisão da mesma Seção. Se a divergência for entre Turmas de Seções diversas, ou
entre Turma e outra Seção ou com a Corte Especial, competirá a esta o julgamento
dos embargos”. Desta feita, se o acórdão recorrido for de Turma pertencente à
mesma Seção do acórdão paradigma (exemplo, se o acórdão paradigma for
da 2ª Turma, ou 1ª Seção, e o acórdão recorrido for da 1ª Turma), a Seção a que
pertence as Turmas seria a competente para julgar o recurso (no caso, a 1ª Seção).
Outra hipótese seria no caso do acórdão paradigma ser de outra Turma ou Seção
(exemplo das 3ª a 6ª turmas, ou 2ª e 3ª Seções), ou mesmo ser julgamento da
Corte Especial, ainda no exemplo do acórdão paradigma ser da 1ª Turma. Nesse
caso, o órgão competente seria a Corte Especial para o julgamento do recurso.
Exemplo peculiar seria quando houvesse um acórdão recorrido da 1ª Turma,
e tivesse mais de um acórdão paradigma, um da 2ª Turma (que levaria a com
petência para a 1ª Seção) e um da 3ª Turma (que levaria a competência para a
Corte Especial). Teoricamente haveria conflito de competência, porém ante a
hierarquia superior da Corte Especial, esta assume a competência para o feito
segundo julgado do STJ.51
6 Procedimento do recurso
O procedimento do recurso de embargos de divergência não exige maiores
explanações. O recurso deve ser apresentado em 15 (quinze dias) conforme
art. 508 do CPC, não havendo a hipótese do recurso adesivo com base no art. 500,
II, do CPC.
Com relação à aplicação do princípio da fungibilidade, tal aplicabilidade
é praticamente inexistente, pois o recurso de embargos de divergência tem
modo de impugnação diferente dos demais. Enquanto tal recurso irá impugnar a
divergência interna no Tribunal Superior, os embargos de declaração irão atacar
omissão, obscuridade ou contradição, enquanto o recurso extraordinário irá se
fundamentar numa negativa de vigência à Constituição Federal. Deste modo,
fica em tese muito difícil a aplicação do princípio da fungibilidade aos embargos
de divergência. Por isso, discorda-se da aplicação da fungibilidade recursal nos
embargos de divergência.52
STJ, CE, EREsp nº 936205/PR, Rel. Min. Castro Meira, j. 04.02.09, DJe, 12 mar. 2009.
51
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 147
53
ASSIS. Manual dos recursos, p. 847.
54
DIDIER JR.; CUNHA. Curso de direito processual civil, v. 3, p. 340.
55
Cf. NERY JUNIOR; NERY. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante, p. 950. Os
fundamentos para a apreciação de matérias de ordem pública nos recursos excepcionais estão
mais detalhadamente explicados em: NERY JUNIOR. Questões de ordem pública e o julgamento
do mérito dos recursos extraordinário e especial: anotações sobre a aplicação do direito à espécie
(STF 456 e RISTJ 257). In: MEDINA et al. (Coord.). Os poderes do juiz e o controle das decisões judiciais:
estudos em homenagem à Professora Teresa Arruda Alvim Wambier, p. 968.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
148 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
que pode o magistrado (no juízo de revisão), conhecer matérias de ordem pública,
pois somente nesse caso a ele a causa estará devolvida.
O recurso de embargos de divergência possui preparo conforme Lei
nº 11.636/2007 no STJ e no STF pelo §2º do art. 335 do RISTF.
Com relação aos atos do relator, que deve ser sorteado, com preferência
para relator que não tenha participado do julgamento do acórdão recorrido,56
este pode negar seguimento liminarmente ao recurso com base no art. 557 do
CPC conforme defende Pedro Miranda de Oliveira,57 ou mesmo pela falta de
comprovação da divergência jurisprudencial conforme art. 266, §3º, do RISTJ. No
caso do recurso ter seu seguimento negado, a forma de impugnação é o agravo
interno na forma do art. 557, §1º.
No caso de admitido o recurso, este em regra não possuirá efeito suspensivo,
pelo fato do próprio recurso excepcional também não o ter (cf. art. 542, §2º, do
CPC). O §2º do art. 266 do RISTJ dispõe expressamente que os embargos de
divergência não terão efeito suspensivo.
O ato seguinte é a determinação para a parte recorrente contrarrazoar em
15 (quinze) dias conforme art. 508 do CPC e art. 267 do RISTJ, portanto, revogada
a disposição do art. 335, §2º do RISTF que determinava o prazo de 10 (dez) dias
para contrarrazoar por flagrante atentado à isonomia.
Posteriormente, há a intimação do Ministério Público para se manifestar,
se for o caso, conforme prevê o art. 266, §4º, do RISTJ. Após isso, o relator pede
inclusão em pauta, intimando-se as partes, e posteriormente, na sessão de julga
mento, há a possibilidade de sustentação oral na forma do art. 554 do CPC, e
art. 159 do RISTJ.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 149
recurso especial que originou os embargos ter sido provido, este passa a ser
improvido, ou vice-versa, e o órgão julgador determina a melhor forma de solu
cionar a celeuma que deu origem ao recurso excepcional, por consequência.
No caso de provimento dos embargos de divergência, quando do julga
mento em tese, que determina qual a tese jurídica correta, esta poderá resultar em
súmula se o julgamento for unânime ou no caso de dois julgamentos por maioria
no mesmo sentido, proferidos pela Corte Especial ou por uma das Seções.58
Repare-se que, diferentemente do resultado do incidente de uniformização de
jurisprudência, que obrigatoriamente resulta em súmula, no caso dos embargos
de divergência, somente há a possibilidade por sugestão de um dos julgadores.
8 Considerações finais
Conforme se verificou no presente trabalho, o princípio da segurança jurídica
é base de sustentação do Estado Democrático de Direito, e fundamento para o
cabimento do recurso de embargos de divergência. Este recurso visa aplicar a
igualdade processual na aplicação do direito em tese para com os jurisdicionados.
A uniformização de entendimentos sobre teses jurídicas é vital para dar
confiabilidade ao sistema jurídico brasileiro. Tendo em vista que os Tribunais Su
periores são os guardiões da correta interpretação da norma jurídica no Brasil, a
igualdade de entendimentos acerca de entendimentos sobre teses jurídicas no
seio desses tribunais tem uma importância ainda maior e merece ser tutelada.
Desta forma, é de extrema importância o manejo do recurso de embargos de
divergência para sanar tais discrepâncias de entendimentos.
Em obstante a breve conclusão acerca da função e importância do recurso
de embargos de divergência, podem ser retiradas algumas conclusões pontuais
que ora se apresentam.
1 O sistema jurídico brasileiro também tutela a igualdade de entendimen
tos em outras situações como: a) dentro do próprio julgamento (os embargos
infringentes, CPC art. 530); b) dentro do Tribunal (o incidente de uniformização
de jurisprudência, que embora não seja recurso, tem o mesmo objetivo, cf. CPC,
RISTJ: Art. 122. A jurisprudência firmada pelo Tribunal será compendiada na Súmula do Superior
58
Tribunal de Justiça. §1º Será objeto da súmula o julgamento tomado pelo voto da maioria
absoluta dos membros que integram a Corte Especial ou cada uma das Seções, em incidente
de uniformização de jurisprudência. Também poderão ser inscritos na súmula os enunciados
correspondentes às decisões firmadas por unanimidade dos membros componentes da Corte
Especial ou da Seção, em um caso, ou por maioria absoluta em pelo menos dois julgamentos
concordantes.
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150 Rafael de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci
arts. 476 e segs., art. 11, VI e 118 e segs. do RISTJ); e c) entre os Tribunais regionais
(o recurso especial com base na alínea “c” do art. 105, III, da CF/88).
2 A exigência de uniformidade de entendimentos é muito mais necessária
dentro dos Tribunais Superiores, que são os guardiões da interpretação do direito
nacional, por isso a exigência dos embargos de divergência.
3 Os embargos de divergência surgiram no Brasil por intermédio da art. 6º,
II, “b”, do Dec.-Lei nº 6/1937, em que era previsto o recurso de embargos para
caso de decisão de Turma do STF que contrariasse entendimento de outra Turma
ou decisão do Pleno. Passando pelo parágrafo único do art. 833 do CPC/39, e
chegando-se ao art. 546 do CPC atual.
4 Até a promulgação do CPC/73, os embargos de divergência, até então
recurso de revista, eram previstos em todos os recursos e ações originárias. Após
a promulgação do Código, passaram a ser previstos somente para impugnar
acórdão de recurso excepcional e de agravo de instrumento do art. 544 do CPC.
5 A partir de 1990, com a 1ª Lei de Recursos, os embargos de divergência
passaram a ser admitidos somente para impugnar acórdão recurso especial, o
que foi estendido ao recurso extraordinário com a reforma do art. 546 do CPC,
em 1994.
6 No direito estrangeiro, o recurso de embargos de divergência não possui
nomenclatura, tampouco regramento idêntico ao do direito brasileiro, porém no
direito comparado encontram-se recursos com a mesma finalidade, ou seja, a de
eliminar a discrepância de entendimentos dentro dos Tribunais Superiores.
7 A decisão impugnada pela via do recurso de embargos de divergência
deve, necessariamente ser uma decisão colegiada, proferida por Turma, advinda
de recurso excepcional, conforme letra da lei (cf. art. 546 do CPC).
8 De lege ferenda, sugere-se a modificação do art. 546 do CPC, para permitir
a impugnação pela via dos embargos infringentes, de qualquer decisão colegiada
de Tribunal Superior, pois pode esta se manifestar acerca de interpretação de tese
jurídica em mandado de segurança, ou seja, ocorrer a divergência jurisprudencial
e esta necessitar de tutela dos embargos da mesma forma. Tal modificação legis
lativa possivelmente ocorrerá se aprovado o art. 997, inv. IV, do Projeto nº 166 do
Senado Federal (Novo CPC).
9 A redação do art. 546 não faz qualquer ressalva quanto ao cabimento dos
embargos de divergência para impugnar acórdão de recurso excepcional que
verse sobre o mérito ou não. Portanto, o recurso de embargos de divergência
serve tanto para impugnar acórdão de turma que verse sobre a admissibilidade
do recurso excepcional quanto acórdão que verse sobre o mérito, o que será
avalizado pelo art. 997, inc. II, do Novo CPC.
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Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 151
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Abstract: The brief study a feature that little discussed, but of vital importance
to the legal system: the use of appeal of divergence, focusing mainly on the
hypothesis of the trial, competency, processing as well as the practical results
of mentioned means of appeal. To this end, the paper has the task of showing
the historical roots of the resource to be based precisely the role that the
resource has now vented in Law, to justify why such a feature is classified
as exceptional and fundamental guarantee it protects, that is, uniformity
within the jurisprudence of the courts. The analysis is based, beyond what
the doctrine teaches on the subject, especially, what the most current case
law of the higher courts need to understand how to bring the action, what
the internal regulations require the courts overlap and no place for the
processing the use of appeal divergence, and how the Project n. 166 of the
Senate (The New Federal Rules of Civil Procedure) approach the theme. Still,
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 121-154, out./dez. 2013
Breves considerações sobre os embargos de divergência e as propostas do Novo Código de Processo Civil 153
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Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil –
Uma abordagem pela análise econômica do
direito1 2
Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira
Doutoranda em Direito Internacional pelo Graduate Institute
of International and Development Studies, em Genebra, Suíça.
Pesquisadora Visitante na Harvard Law School (2005). Mestre em
Direito pela Harvard Law School (LL.M. 2004). Pós-Graduada em
Direito Econômico e Societário pela Fundação Getulio Vargas (2003).
Bacharel em Direito pela Universidade de Brasília (1993).
Nuno Garoupa
Professor de Direito da University of Illinois College of Law, USA.
LL.M. University of London (2005). D.Phil. Economics, University of
York (1998). M.Sc. Economics, University of London (1994). Bacharel
em Economia pela Universidade Nova de Lisboa (1992).
1
Este artigo é a versão em português de “Stare Decisis and Certiorari Arrive to Brazil: A Comparative
Law and Economics Approach”, publicado nos Estados Unidos da América no periódico Emory
International Law Review (v. 26, t. II, p. 555-598, 2012).
2
Os autores agradecem a João Mello e Souza e aos participantes da 2012 CLEF (Berkeley). Young
Lee Byun, Melissa Marrero, Maria Oquendo, Nan Sato e Roya H. Samarghandi prestaram uma
excelente assistência na pesquisa. Quanto aos colaboradores, aplica-se a costumeira isenção de
responsabilidade.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
156 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
Introdução
Nos últimos anos, duas importantes inovações legislativas foram imple
mentadas no Brasil. Contrastando com os Estados Unidos e o mundo da common
law em geral, a ausência de um princípio geral de stare decisis e de precedente
obrigatório era perceptível no sistema jurídico brasileiro.3 Tradicionalmente,
precedentes obrigatórios não existem em sistemas jurídicos de civil law. A ausência
de precedentes obrigatórios era particularmente significativa no Brasil tendo em
conta a inclinação de juízes brasileiros em serem juridicamente criativos, e as
numerosas causas repetitivas contra atos e medidas governamentais.4 Ao mesmo
tempo, a ausência de precedente obrigatório reduzia o poder e a influência
do Supremo Tribunal Federal sobre o Judiciário como um todo.5 Finalmente, a
ausência de um precedente formal obrigatório era percebida como umas das
causas para o congestionamento dos tribunais, recursos protelatórios e, de
maneira geral, lentidão na solução das controvérsias.6
Recentemente, uma forma de precedente obrigatório foi introduzida
pela nova súmula vinculante.7 Antes da criação da súmula vinculante, juízes
3
STRINGER, Dana. Choice of Law and Choice of Forum in Brazilian International Commercial
Contracts: Party Autonomy, International Jurisdiction, and the Emerging Third Way. Colum. J.
Transnat’l L., v. 44, n. 3, p. 959, 966, 2006. Note.
4
Id., p. 965-966.
5
Organization for Econ. Co-operation & Dev., OECD Integrity Review of Brazil: Managing Risks for a
Cleaner Public Service 87 (2011).
6
Id.
7
Introduzida pela Emenda Constitucional nº 45, a súmula vinculante é um pronunciamento
emitido pelo Supremo Tribunal Federal com efeito vinculante sobre todas as demais cortes e
a Administração Pública, enunciando claramente a interpretação da Suprema Corte sobre
uma determinada controvérsia após reiteradas decisões sobre o mesmo tema. Consti tui
ção Federal, art. 102, para. 2º. Por exemplo, a Súmula Vinculante nº 12 esclarece que “A
cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art. 206, IV da
Constituição Federal”. Até dezembro de 2012, o Supremo Tribunal Federal aprovou trinta e
duas súmulas vinculantes (STF. Lista de Súmulas Vinculantes. Disponível em: <http://www.stf.
jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaSumulaVinculante/anexo/Enunciados_Sumula_Vinculante_
STF_1_a_29_31_e_32.pdf>. Acesso em: 22 out. 2012). Em termos gerais, v. Maria Ângela Jardim
de Santa Cruz Oliveira (Reforming the Brazilian Supreme Federal Court: a Comparative Approach.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 157
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158 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
15
Organization for Econ. Co-operation & Dev., supra nota 5, p. 87.
16
WORLD BANK & INT’L FIN. CORP., DOING BUSINESS: ECONOMY PROFILE: BRAZIL, 89-94,
2012. Disponível em: <http://www.doingbusiness.org/~/media/FPDKM/Doing%20Business/
Documents/Profiles/Country/BRA.pdf>.
17
KORNHAUSER, Lewis A. Stare Decisis. In: NEWMAN, Peter (Ed.). The New Palgrave Dictionary of
Economics and the Law, 3. London: Macmillan, 1998. p. 509.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 159
18
Black’s Law Dictionary. 9. ed. St. Paul: West, 2009. p. 1537. Definindo stare decisis, stare decisis
horizontal, stare decisis vertical.
19
MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S. Introduction. In: MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS,
Robert S. (Ed.). Interpreting Precedents: a Comparative Study. Aldershot: Ashgate, 1997.
20
ALEXY, Robert; DREIER, Ralf. Precedent in the Federal Republic of Germany. In: MACCORMICK, D.
Neil; SUMMERS, Robert S. (Ed.). Interpreting Precedents: a Comparative Study. Aldershot: Ashgate,
1997. Nota 17, p. 17, 50; CARBONNIER, Jean. Authorities in Civil Law: France. In: DAINOW, Joseph
(Ed.). The Role of Judicial Decisions and Doctrine in Civil Law and in Mixed Jurisdictions. Baton Rouge:
Lousiana State University Press, 1974. 91, 102; TARUFFO, Michele; LA TORRE, Massimo. Precedent
in Italy. In: MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S. (Ed.). Interpreting Precedents: a Comparative
Study. Aldershot: Ashgate, 1997. Nota 17, p. 141, 180-181; RUIZ MIGUEL, Alfonso; LA PORTA,
Francisco J. Precedent in Spain. In: MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S. (Ed.). Interpreting
Precedents: a Comparative Study. Aldershot: Ashgate, 1997. Nota 17, p. 259, 272-273, 282-283.
21
Black’s Law Dictionary. 9. ed. St. Paul: West, 2009. p. 258.
22
Rice v. Sioux City Mem’l Park Cemetery, 349 U.S. 70, 74 (1955).
23
Infra texto acompanhando as notas de rodapé 190-209.
24
Id.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
160 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
25
Ver GAROUPA, Nuno; MALDONADO, Maria A. The Judiciary in Political Transitions: The Critical Role
of U.S. Constitutionalism in Latin America. Cardozo J. Int’l & Comp. L., v. 19, n. 3, July 2010, p. 526
para quadro geral sobre o funcionamento das Supremas Cortes latino-americanas.
26
Infra Parte IV.
27
OLIVEIRA, supra nota 7, p. 115-134, para uma discussão sobre os modelos centralizados e
descentralizados de controle de constitucionalidade.
28
BRASIL. Constituição Federal. Emenda nº 3, art. 102, §2º, 1993. Esse sistema aproxima-se do
modelo alemão. Ver OLIVEIRA, supra nota 7, p. 127.
29
Id., p. 111.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 161
30
Infra nota 3.
31
Ministro Victor Nunes Leal (1914-1985) serviu no Supremo Tribunal Federal de 1960 a 1969,
quando ele foi de fato afastado pela ditadura militar por meio do Ato Institucional nº 5, que lhe
impôs sua aposentadoria compulsória (Instituto Victor Nunes Leal Biografia. Disponível em:
<http://www.ivnl.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10&Itemid=40>.
Acesso em: 22 out. 2012).
32
OLIVEIRA, supra nota 7, p. 110-111. Desde 1964, para agilizar os julgamentos de questões
semelhantes sobre a qual a Corte já tinha adotado uma posição, o Supremo Tribunal Federal
editou 736 súmulas. Ver, em termos gerais, a Lista de Súmulas do Supremo Tribunal Federal
(Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaSumula/anexo/Sumula_
do_STF__1_a__736.pdf>. Acesso em: 22 out. 2012). O último lote de súmulas de natureza
persuasiva foi aprovado em 2003 (Id., p. 260-274). Devido ao caráter pedagógico e informativo da
súmula, os tribunais inferiores e até mesmo a Advocacia-Geral da União passaram a editar suas
próprias súmulas para orientar juízes e advogados da União sobre questões controversas, bem
como para acelerar o processo de casos semelhantes. Ver, por exemplo, ADVOCACIA-GERAL DA
UNIÃO – AGU. Súmulas. Disponível em: <http://www.agu.gov.br/sistemas/site/PaginasInternas/
NormasInternas/ListarAtos.aspx?TIPO_FILTRO=Sumulas>. Acesso em: 22 out. 2012.
33
OLIVEIRA, supra nota 7, p. 110-111.
34
Id., p. 111.
35
Id.
36
Id.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
162 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
Não há evidências claras sobre a razão pela qual nenhum verbete da súmula
foi editado no período entre 1984 e 2003.38 Em 2003, o Ministro Sepúlveda
Pertence submeteu ao Plenário da Corte novas propostas, e 113 novos verbetes
da súmula foram aprovados.39 Após 2004, entretanto, não houve e possivelmente
não haverá mais nenhuma publicação de novos verbetes da súmula tradicional,
em razão do advento da súmula vinculante.
A Emenda Constitucional nº 45 autorizou a Suprema Corte a emitir súmulas
vinculantes, ou seja, pronunciamentos de caráter obrigatório.40 Esses pronun
ciamentos têm efeito vinculante não só em relação aos tribunais inferiores, mas
também perante a Administração Pública federal, estadual e municipal.41 Resulta
daí que, uma vez editada a súmula vinculante, não há mais a necessidade de
que casos semelhantes subam para o Supremo Tribunal Federal para definir
a questão, porquanto os tribunais inferiores são obrigados a aplicar automa
ticamente a decisão da Suprema Corte.42 Há, ainda, impedimentos para que
37
Ver, em geral, Lista de Súmulas, supra nota 32 (enumerando cada verbete da súmula e a sua data
de publicação).
38
Ministro José Paulo Sepúlveda Pertence, Sessão Plenária do STF de 28 de agosto de 2003 (cópia
da Ata com os autores), tratando das súmulas.
39
Id.
40
BRASIL. Constituição Federal. Art. 102, §2º.
41
Id.
42
SILVA, Anna Bruno. Bringing Uniformity to Brazilian Court Decisions: Looking at the American
Precedent and at Italian Living Law. Elec. J. Comp. L., v. 11, p. 3-4, Dez. 2007. Disponível em: <http://
www.ejcl.org/114/art114-3.pdf>.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 163
43
Id., p. 5.
44
Id., p. 7. Citando SILVA, J. Anchieta da. A Súmula de efeito vinculante amplo no direito brasileiro. Belo
Horizonte: Del Rey, 1998. p. 60.
45
BRASIL. Constituição Federal. Art. 102, §3º.
46
Artigo 2º da Lei nº 11.417, de 19 de dezembro de 2006, Diário Oficial da União, 20 dez. 2006.
47
Artigo 3º da Lei nº 11.417/2006 enumera os que têm legitimidade para propor a edição, a revisão
ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante: o Presidente da República; a Mesa
do Senado Federal; a Mesa da Câmara dos Deputados; as assembleias legislativas estaduais;
o Procurador-Geral da República; o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; o
Defensor-Público Geral da União; partidos políticos com representação no Congresso Nacional;
confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional, governadores dos estados;
tribunais superiores, tribunais de justiça e tribunais regionais federais, e municípios no curso de
processos em que sejam parte (Id.).
48
Id.
49
Id., art. 3º, §2º.
50
SILVA, supra, nota 42, p. 3.
51
Id.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
164 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
11 a 12 22 de agosto de 2008
13 29 de agosto de 2008
14 09 de fevereiro de 2009
15 a 16 1º de julho de 2009
17 a 21 10 de novembro de 2009
22 a 24 11 de dezembro de 2009
25 a 27 23 de dezembro de 2009
28 a 31 17 de fevereiro de 2010
32 24 de fevereiro de 2011
52
AMAREL, Karina Almeida. A súmula vinculante e sua influência sobre o acesso à justiça constitu
cional no Brasil. Scientia Iuris, Londrina, v. 15, n. 2, p. 75-87, dez. 2001. p. 75, 79-80.
53
Lista de Súmulas Vinculantes, supra nota 7.
54
Id.
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Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 165
55
STF. Súmula Vinculante nº 2. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/
listarJurisprudencia.asp?s1=2.NUME.%20E%20S.FLSV.&base=baseSumulasVinculantes>. Acesso
em: 22 out. 2012.
56
Id.
57
Estados que não são parte em processos perante a Suprema Corte dos Estados Unidos também
ficam vinculados às decisões da mesma. Ver, por exemplo, Cooper v. Aaron, 358 U.S. 1, 18 (1958).
Decidindo que o Estado do Arkansas estava vinculado às decisões da Suprema Corte dos Estados
Unidos, e consequentemente, não poderia escolher ignorar o precedente firmado no caso Brown
v. Board of Education, 347 U.S. 483 (1954).
58
Se o Supremo Tribunal Federal aplicará a súmula vinculante de forma restritiva ou de forma mais
liberal dependerá das ações de reclamação que poderão eventualmente chegar ao Tribunal no
futuro. Somente após a Corte receber um número significativo de ações de reclamação é que será
possível fazer uma avaliação quanto a esse tópico.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
166 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
todas as possíveis aplicações de uma determinada lei nas mais variadas situações,
enquanto o controle concreto refere-se a apenas a interpretação em uma única
situação fática posta perante a corte.59
Outra característica distintiva do sistema brasileiro é que a súmula vincu
lante não se aplica apenas ao Poder Judiciário brasileiro, mas também à Admi
nistração Pública federal, estadual e municipal.60 Portanto, na hipótese de uma
das partes em um processo administrativo perante um órgão público alegar que
a decisão administrativa contraria enunciado da súmula vinculante, deverá a
autoridade explicitar as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula
vinculante.61 No caso de denegação, após o esgotamento do processo adminis
trativo, o requerente poderá ajuizar uma reclamação diretamente ao Supremo
Tribunal Federal, o qual, na hipótese de ter havido ofensa a enunciado da súmula
vinculante, determinará ao órgão público competente que ajuste suas decisões
em casos semelhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas cível,
administrativa e penal.62 Com efeito, esse sistema proporciona aos indivíduos
acesso direto ao Supremo Tribunal Federal, em caso de violações a enunciado da
súmula vinculante por órgãos do governo.
59
Nós de fato aceitamos que a Suprema Corte dos EUA poderia, em princípio, estender a ratio
decidendi de uma decisão ao ponto de transformar o controle concreto em controle abstrato e
essas diferenças se confundam. Cf. STONE, Alec. The Birth and Development of Abstract Review:
Constitutional Courts and Policymaking in Western Europe. Pol’y Stud. J. v. 19, n. 1, p. 81-95, Set.
1990. p. 81, 88. No entanto, nós não compartilhamos a visão de que a possibilidade tem sido
efetivamente implementada pela Suprema Corte dos Estados Unidos.
60
BRASIL. Constituição Federal. Art. 102, §2º. O impacto da súmula vinculante sobre a Administração
Pública federal, estadual e municipal é particularmente importante e economicamente relevante,
uma vez que um percentual significativo dos casos trazidos ao Supremo Tribunal Federal envolve
o Estado como réu ou como autor (ARLOTA, Carolina; GAROUPA, Nuno. Addressing Federal
Conflicts: an Empirical Analysis of the Brazilian Supreme Court, 1988-2010, 2010. Trabalho não
publicado, cópia com os autores).
61
Artigo 8º da Lei nº 11.417, de 19 de dezembro de 2006, Diário Oficial da União, 20 dez. 2006.
62
Id.
63
BRASIL. Constituição Federal, art. 102, §3º.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 167
64
Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, Emenda nº 1, Art. 119, III (revogada pela
Constituição de 1988).
65
Id., Emenda nº 7, art. 119, III, §1º, de 1977; ver, também, Ministra Fátima Nancy Andrighi (Discurso
no Superior Tribunal de Justiça de 16 de outubro de 2000, p. 1-2. Disponível em: <http://bdjur.stj.
gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/633/Arguiçao_Relevancia.pdf?sequence=4>).
66
Id.
67
ANDRIGHI, supra nota 65, p. 2.
68
Cf. id., p. 4.
69
BRASIL. Constituição Federal, art. 103-A. O Superior Tribunal de Justiça foi criado com 33 Ministros
em 1988 (OLIVEIRA, Maria Ângela Jardim de Santa Cruz; GAROUPA, Nuno. Choosing Judges in
Brazil: Reassessing Legal Transplants from the United States. AM. J. COMP. L., v. 59, n. 2, p. 529-561,
2011. p. 529, 538).
70
Infra Tabela 3.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
168 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
71
ARNAUT, Andrea Metne. Recursos extraordinários: prequestionamento e prestação jurisdicio
nal incompleta. Disponível em: <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/
regulariza2/doutrina8.html>. Acesso em: 23 out. 2012. Procuradoria-Geral do Estado de São
Paulo. Essa intepretação é comumente referida como requisito do prequestionamento. Id.
72
ROSENN, Keith S. Judicial Review in Brazil: Developments under the 1988 Constitution. Sw. J.L. &
Trade Ams, v. 7, Part 2, p. 291-320, 2000. p. 291.
73
Cf. ARANTES, supra nota 8, p. 250-252.
74
BRASIL. Constituição Federal, art. 102, §3º.
75
Artigo 2º da Lei nº 11.418, de 19 de dezembro de 2006, Diário Oficial da União, 20 dez. 2006.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 169
76
STF. Plenário Virtual. Disponível em: <http://stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussaoGeral/
listarProcessosJulgamento.asp>. Acesso em: 27 jul. 2012.
77
BRASIL. Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal – RISTF. Emenda Regimental nº 21, de
30 de abril de 2007. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=juris
prudenciaRepercussaoGeral&pagina=regulamentacao>. Emendando o artigo 324 do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal.
78
Plenário Virtual, supra nota 76.
79
Art. 2º da Lei nº 11.418, de 19 de dezembro de 2006, Diário Oficial da União, 20 dez. 2006.
80
Id.
81
Id.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
170 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
82
Id. Para mais detalhes sobre o papel dos amici curiae perante o Supremo Tribunal Federal, ver
GONTIJO, André Pires; SILVA, Christine Oliveira Peter da. O papel do Amicus Curiae no Estado
Constitucional: mecanismo de acesso de transdisciplinaridade no processo de tomada de
decisão constitucional. In: ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI – Direitos Fundamentais e
Transdisciplinaridade, 19., 2010. Fortaleza, Anais... Florianópolis: Fundação Boiteux, 2010. p. 84-99.
Disponível em: <http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/fortaleza/Integra.pdf>.
83
STF. RE e AI - % Distribuição. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?serv
ico=estatistica&pagina=REAIProcessoDistribuido>. Acesso em: 23 out. 2012.
84
Id.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 171
85
STF. Movimento processual nos anos de 1940 a 2013. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/
cms/verTexto.asp?servico=estatistica&pagina=movimentoProcessual>. Acesso em: 27 jul. 2012.
86
O declínio do número de processos de 2002 a 2003 foi devido a milhares de pedidos de desistência
de recursos pela Caixa Econômica Federal (todos discutindo a mesma questão de fundo sobre o
FGTS) após um acordo ter sido feito. Para informações mais detalhadas sobre esse evento, ver
OLIVEIRA, supra nota 7, p. 113-114.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
172 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
Processos
distribuídos com a 4,792 25,942 21,410 22,643 25,497 100,284
preliminar de RG
Casos com
repercussão geral 0 27 26 19 38 110
decididos no mérito
87
STF. Números da repercussão geral. Disponível em: <http://stf.jus.br/portal/cms/verTexto.
asp?servico=jurisprudenciaRepercussaoGeral&pagina=numeroRepercussao>. Acesso em: 27 jul.
2012. Note-se que a coluna do ano de 2007 refere-se apenas ao segundo semestre de 2007 (Id.).
88
SCHAUER, Frederick F. Thinking Like a Lawyer: a New Introduction to Legal Reasoning. Cambridge,
Mass.: Harvard University Press, 2009. p. 37; BARRETT, Amy Coney. Stare Decisis and Due Proces.
U. Colo. L. Rev., v. 74, p. 1011-1075, 2003. p. 1015; COOPER, Charles J. Stare Decisis: Precedent and
Principle in Constitutional Adjudication. Cornell L. Rev., v. 73, n. 6, p. 401, 402, 1988; LEE, Thomas
R. Stare Decisis in Historical Perspective: From the Founding Era to the Rehnquist Court. Vand.
L. Rev., v. 52, n. 84, p. 647-735, Setp. 1999. p. 647, 664; WISE, E. M. The Doctrine of Stare Decisis.
Wayne L. Rev., v. 21, n. 4, p. 1043-1044, 1975. Ver em termos gerais: ALEXANDER, Larry. Constrained
by Precedent. S. Cal. L. Rev., v. 63, p. 1-64, 1989, analisando a situação em que um tribunal está
constrito por um precedente que considera incorreto; CAMINKER, Evan H. Why Must Inferior
Courts Obey Superior Court Precedents?. Stan. L. Rev., v. 46, n. 4, p. 817-873, Apr. 1994. p. 817,
examinando a doutrina do precedente hierárquico; SCHAUER, Frederick. Precedent. Stan. L. Rev.,
v. 39, p. 571-606, 1987, apresentando uma abrangente discussão teórica sobre a doutrina do
precedente.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 173
89
WISE, supra nota 88, p. 1044.
90
PECZENIK, Aleksander. The Binding Force of Precedent. In: MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS,
Robert S. (Ed.). Interpreting Precedents: a Comparative Study, supra nota 19, p. 461, 462-464.
91
SCHAUER, supra nota 88, p. 587.
92
Id., p. 592.
93
Id., p. 592-593.
94
PECZENIK, supra nota 90, p. 463.
95
Id.
96
Id.
97
Id.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
174 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
mais comum em jurisdições da civil law.98 Por exemplo, na França, sabe-se que
um julgamento baseado em um precedente, porém sem fundamentação em uma
regra jurídica prevista na legislação, não é lícito.99
A compreensão jurídica do stare decisis evoluiu no mundo da common
law. Precedentes não existiam antes do século 17 devido à falta de informação
100
98
Cf. id., p. 463-464.
99
V. infra texto das notas 138 a 143.
100
MURPHY, J. David; RUETER, Robert. Stare Decisis in Commonwealth Appellate Courts. Toronto:
Butterworths, 1981. p. 1-4.
101
WISE, supra nota 88, p. 1048.
102
Cf. ALGERO, Mary Garvey. The Sources of Law and The Value of Precedent: A Comparative and
Empirical Study of a Civil Law State in a Common Law Nation. La. L. Rev., v. 65, n. 2, p. 775-822,
2005. p. 775, 784-786.
103
Id., p. 786.
104
Id. Veja também SPRIGGS, II, James F.; HANSFORD, Thomas G. The U.S. Supreme Court’s Incorpo
ration and Interpretation of Precedent. Law & Soc’y Rev., v. 36, n. 1, p. 139-160, 2002. p. 139, 154-55.
105
[1861], IX H.L.C. 274, 338-39; veja também MURPHY; RUETER, supra nota 100, p. 3.
106
[1898], A.C. 375 (H.L.) (Westlaw); veja também MURPHY; RUETER, supra nota 100, p. 3.
107
[1938], A.C. 173, 194-95 (Westlaw); veja também MURPHY; RUETER, supra nota 100, p. 5.
108
[1959], A.C. 213, 232 (Westlaw); veja também MURPHY; RUETER, supra nota 100, p. 6.
109
[1965], A. C. 1001, 1021; veja também MURPHY; RUETER, supra nota 100, p. 6.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 175
110
Practice Statement (Judicial Precedent) [1966], 1 W.L.R. 1234 (Westlaw); veja também MURPHY;
RUETER, supra nota 100, p. 6-7.
111
[1944], 1 K.B. 718; veja também MURPHY; RUETER, supra nota 100, p. 43.
112
[1976], 31 P. & C.R. 1, 11; veja também MURPHY; RUETER, supra nota 100, p. 15.
113
[1909], 41 S.C.R. 516, 535 (Can.), aff’d [1911] A.C. 120; veja também MURPHY; RUETER, supra nota
100, p. 19-20.
114
Binus v. The Queen [1967], S.C.R. 594, 601 (Can.); veja também MURPHY; RUETER, supra nota 100,
p. 22.
115
HEARD, Andrew. Canadian Independence. Simon Fraser Univ., n. 50. Disponível em: <http://www.
sfu.ca/~aheard/324/Independence.html>. Acesso em: out. 2012.
116
Cf. MURPHY; RUETER, supra nota 100, p. 19-55.
117
Id., p. 24.
118
Id., p. 57.
119
Id., p. 57-58.
120
Id., p. 66.
121
BRONITT, Simon. Australia. In: HELLER, Kevin Jon; DUBBER, Markus D. (Ed.). Handbook of
Comparative Criminal Law. Stanford, Calif.: Stanford Law Books, 2001. p. 50, 53.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
176 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
122
Eugene K.B. Tan, Law and Values in Governance: The Singaporean Way, 30 HONG KONG L.J. 91, 96
(2000) (citando o Practice Statement on Judicial Precedent [1994] 2 S.L.R 689).
123
Id.; veja também TAN, Eugene KB. ‘We’ v ‘I’: Communitarian Legalism in Singapore. 4 Austrl. J. Asian
L., v. 4, n. 1, p. 1-29, 2002. p. 23, n. 22.
124
WALKER, David M. Judicial Decisions and Doctrine in Scots Law. In: DAINOW, Joseph (Ed.). The Role
of Judicial Decisions and Doctrine in Civil Law and in Mixed Jurisdictions, supra nota 20, p. 202.
125
Id. at 209-211.
126
KAHN, Ellison. The Role of Doctrine and Judicial Decisions in South African Law. In: DAINOW,
Joseph (Ed.). The Role of Judicial Decisions and Doctrine in Civil Law and in Mixed Jurisdictions, supra
nota 20, p. 224; accord id., p. 236.
127
LORIO, Kathryn Venturatos. The Louisiana Civil Law Tradition: Archaic or Prophetic in the Twenty-
First Century?. La. L. Rev. 1, v. 63, n. 1, p. 1-25, 2002. p. 6; VALCKE, Catherine. Quebec Civil Law and
Canadian Federalism. Yale J. Int’l L., v. 21, n. 1, p. 67-121, 1996. p. 84.
128
De acordo com Mack E. Barham [A Renaissance of the Civilian Tradition in Louisiana. In: DAINOW,
Joseph (Ed.). The Role of Judicial Decisions and Doctrine in Civil Law and in Mixed Jurisdictions, supra
nota 20, p. 38, 49], isso ocorre, em parte, porque a civil law é útil em permitir aos juízes buscarem a
justiça através da aplicação de razões jurisprudenciais para casos específicos. O valor declaratório
dos precedentes foi conduzido em Louisiana pelo interesse próprio de acadêmicos jurídicos, mas
também por juízes que parecem favorecer o retorno às fontes primárias (Id., p. 39-40, 55).
129
Ver, por exemplo, BAUDOUIN, Jean-Louis. The Impact of the Common Law on the Civilian Systems
of Louisiana and Quebec. In: DAINOW, Joseph (Ed.). The Role of Judicial Decisions and Doctrine
in Civil Law and in Mixed Jurisdictions, supra nota 20, p. 1-22. Sua tese é a de que os tribunais de
Quebec e Louisiana proferem julgamentos usando um formato da common law: eles desenvolvem
a interpretação do código civil, com as mesmas regras aplicadas à interpretação de uma lei
comum; eles usam os precedentes estabelecidos pela common law; eles fazem referência a
interpretações do direito civil pela common law de países estrangeiros (por exemplo, disposições
do Código Civil de Quebec com base em leis inglesas); e contam com a importação de doutrinas
da common law na aplicação do direito civil (por exemplo, no direito de propriedade) (Id.).
130
ALGERO, supra nota 102, p. 781.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 177
131
MURPHY; RUETER, supra nota 100, p. 78.
132
Ver, em termos gerais, id. p. 93-102 (fornecendo argumentos a favor e contra o stare decisis, depois
de ter pesquisado o stare decisis nos tribunais de apelação da Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova
Zelândia).
133
Id., p. 93, 97.
134
Id., p. 98-99.
135
Ver id., p. 100.
136
TETLEY, William. Mixed Jurisdictions: Common Law v. Civil Law (Codified and Uncodified). La. L.
Rev., v. 60, n. 3, p. 677-738, 2000. p. 677, 684, 704-705.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
178 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
de legislação escrita. Ademais, eles são declaratórios no sentido de que eles não
criam lei, mas esclarecem a interpretação correta da lei.137
É nesse quadro que podemos compreender o desenvolvimento ativo dos
princípios gerais do direito por muitos tribunais de civil law. Os códigos são hipó
teses abstratas: eles devem ser interpretados em circunstâncias específicas.138
Por exemplo, a responsabilidade civil do Estado tem sido sistematicamente
desenvolvida na França pela jurisprudência, dada a ausência histórica de
codificação específica do direito francês da civil law.139 Da mesma forma, na
Alemanha, importantes evoluções jurídicas, como a culpa in contrahendo, foram
alcançadas pelos tribunais antes da codificação em 2002.140 O desenvolvimento
da responsabilidade civil pelos tribunais franceses e alemães tem que ser
enquadrados à luz de precedentes jurisprudenciais declaratórios.
A doutrina francesa do precedente é conhecida como jurisprudence
constante.141 Estritamente falando, precedente não é e não pode ser uma fonte
de direito.142 O artigo 5º do Código Civil francês proíbe que os tribunais pro
nunciem regras gerais e regulamentares nos casos que lhe são submetidos
(arrêt de règlement).143 Aos tribunais é vedado o poder de fazer leis.144 Por essa
razão, os juízes não são, e não podem ser, obrigados a seguir um precedente.145
A referência exclusiva a um precedente é, de fato, ilegal.146 No entanto, legislação
137
DENNIS, James L. Interpretation and Application of the Civil Code and the Evaluation of Judicial
Precedent. La. L. Rev., v. 54, n. 1, p. 1-17, 1993. p. 15.
138
GERMAIN, Claire M. Approaches to Statutory Interpretation and Legislative History in France.
Duke J. Comp. & Int’l L., v. 13, n. 3, p. 195-206, 2003. p. 195-96.
139
BORCHARD, Edwin M. French Administrative Law. Iowa L. Rev., v. 18, p. 133, 139, 1933.
140
NÓVOA, Rodrigo. Culpa in Contrahendo: a Comparative Law Study: Chilean Law and the United
Nations Convention on Contracts for the International Sale of Goods (CISG). Arizona J. Int’l &
Comp. L., v. 22, p. 583, 585, 2005; ZUMBANSEN, Peer. The Law of Contracts. In: REIMANN, Mathias
& ZEKOLL, Joachim (Ed.). Introduction to German Law. The Hague: Kluwer Law International, 2005.
p. 179, 195-196.
141
FON, Vincy; PARISI, Francesco. Judicial Precedents in Civil Law Systems: a Dynamic Analysis. Int’l
Rev. L. & Econ., v. 26, n. 4, p. 519-535, 2006. p. 519, 522-523.
142
Id., p. 522.
143
CODE CIVIL (C. CIV.), art. 5 (Fr.); accord A.N. Yiannopoulos [Jurisprudence and Doctrine as Sources
of Law in Louisiana and in France. In: DAINOW, Joseph (Ed.). The Role of Judicial Decisions and
Doctrine in Civil Law and in Mixed Jurisdictions, supra nota 20, p. 67, 73].
144
LASSER, Mitchel de S.-O.-l’E. Judicial (Self-)Portraits: Judicial Discourse in the French Legal System.
Yale L.J., v. 104, n. 6, p. 1325, 1335, Apr. 1995.
145
Id., p. 1336-1338.
146
CODE DE PROCÉDURE CIVILE (CPC), art. 455 (Fr.); TROPER, Michael; GRZEGORCZYK, Christophe.
Precedent in France. In: MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S. (Ed.). Interpreting Precedents:
a Comparative Study, supra nota 19, p. 106-107, 115.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 179
147
YIANNAPOULOS, supra nota 143, p. 73 (citandos a Lei de 1º de abril de 1837, e a Lei de 23 de julho
de 1947).
148
CARBONNIER, supra nota 20, p. 92-94.
149
Cf. id.
150
Cf. id.
151
Cf. id.
152
Cf. id.
153
YIANNOPOULOS, supra nota 143, p. 75-76.
154
LASSER, supra nota 144, p. 1346-1350.
155
TARUFFO; LA TORRE, supra nota 20, p. 148.
156
Cf. id. p. 151-152, 154-155.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
180 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
157
Id., p. 156; MAZZOTTA, Francesco G. Precedent in Italian Law. Mich. St. J. Int’l L., v. 9, n. 1, p. 121-151,
2000. p. 140-143.
158
MERRYMAN, John Henry. The Italian Legal Style III: Interpretation. In: DAINOW, Joseph (Ed.). The
Role of Judicial Decisions and Doctrine in Civil Law and in Mixed Jurisdictions, supra nota 20, p. 163,
195-196.
159
TARUFFO; LA TORRE, supra nota 20, p. 158.
160
MERRYMAN, supra nota 158, p. 193.
161
MIGUEL, Alfonso Ruiz; LAPORTA,Francisco J. Precedent in Spain. MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS,
Robert S. (Ed.). Interpreting Precedents: a Comparative Study, supra nota 19, p. 259, 269 [discussing
S.T.C. Mar. 28, 1985 (B.O.E. No. 49) (Espanha)].
162
Id., p. 263.
163
GÓMEZ-JARA, Carlos; CHIESA, Luis E. Spain. In: Handbook of Comparative Criminal Law, supra nota
121, p. 488, 493.
164
TRIBUNAL CONSTITUCIONAL – TC, Dec. 7, 1993, TC 810/93 (Port.). Disponível em: <http://www.
tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/19930810.html>.
165
Ver, em termos gerais, ALEXY; DREIER, supra nota 20.
166
Id., p. 26.
167
Id., p. 28.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 181
168
WEIGEND, Thomas. Germany. In: Handbook of Comparative Criminal Law, supra nota 121, p. 252, 256.
169
ALEXY; DREIER, supra nota 18, p. 50.
170
Id., p. 40, 51.
171
Id., p. 34, 39.
172
Id., p. 53-54 (descrevendo que linhas conflitantes de precedentes (“zigzag”) são raras, mas sim
existem no direito alemão).
173
Id.
174
Ver, em termos gerais, Tsung-Fu Chen (Transplant of Civil Code in Japan, Taiwan, and China: with
the Focus of Legal Evolution. Nat’l Taiwan U. L. Rev., v. 6, n. 1, p. 389, 2011); Lynn Parisi, (Lessons on
the Japanese Constitution. Japan Digest, Nov. 2002. Disponível em: <http://iis-db.stanford.edu/
docs/131/const.pdf>).
175
ITOH, Hiroshi. The Role of Precedent at Japan’s Supreme Court. Wash U. L. Rev. v. 88, issue 6,
p. 1631-1667, 2011. p. 1631-1632, 1640.
176
Ver, em termos gerais, Saibanshōhō (Court Act), Lei nº 59 de 1947 (Japão), tradução para o inglês.
Disponível em: <http://www.japaneselawtranslation.go.jp/law/detail/?ft=3&re=02&dn=1&x=
100&y=32&bu=4&ky=&page=19>; MATSUI, Shigenori. Constitutional Precedents in Japan: a
Comment on the Role of Precedent. Wash U. L. Rev., v. 88, issue 6, p. 1669-1680, 2011. p. 1669.
177
HALEY, John O. Japan. In: HELLER, Kevin Jon; DUBBER, Markus D. (Ed.). Handbook of Comparative
Criminal Law, supra nota 121, p. 393, 396.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
182 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
178
KEIJI SOSHŌHŌ [KEISOHŌ] (C. PRO. CRIM.) 1948, art. 405 (Japão), tradução para o inglês. Disponível
em: <http://www.japaneselawtranslation.go.jp/law/detail/?ft=3&re=02&dn=1&x=80&y=24&bu
=16&ky=&page=5>.
179
Court Act, supra nota 176, art. 10, §3º.
180
Structure and Functions of the Subordinate Organs of the Judicial Yuan, Judicial Yuan, Disponível
em: <http://www.judicial.gov.tw/en/english/aboutus/aboutus04/aboutus04-04.asp>. Acesso
em: 28 set. 2012. “Se o Supremo Tribunal Administrativo faz uma interpretação da lei em um
julgamento ou acórdão, e reconhece que há a necessidade de se ter tal interpretação compilada
como precedente, o Supremo Tribunal Administrativo realiza uma conferência conjunta com
a presença do Presidente, Juízes Chefes de Turmas e demais Ministros, e, por deliberação da
conferência, relata tal precedente ao Judiciário Yuan.”
181
Id.
182
Interpretations. Judicial Yuan. Disponível em: <http://www.judicial.gov.tw/constitutionalcourt/
en/p03.asp>. Acesso em: 28 set. 2012, para exemplos das interpretações jurisprudenciais de
Taiwan.
183
Entrevista por e-mail com o Professor Wen-Chen Chang, National Taiwan University (em 29 de
dezembro de 2010).
184
Chang-fa lo. The legal Culture and System of Taiwan 42-43 (2006).
185
Id.
186
A Constituição concede aos juízes o poder de decidir de forma independente de acordo com a
sua consciência, em conformidade com a Constituição e a legislação. DAEHANMINKUK HUNBEOB
[HUNBEOB] (CONSTITUIÇÃO), art. 103 (Cor. Sul); a Lei de Organização dos Tribunais determina
que uma decisão judicial exarada por um tribunal superior só vincula as instâncias inferiores
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 183
dos tribunais superiores têm forte influência sobre os juízes de instâncias inferiores
e entidades administrativas. As decisões do Tribunal Constitucional da Coreia, no
entanto, têm efeito vinculante, que é um poder único que distingue o Tribunal
Constitucional da justiça ordinária.187
Em matéria de sistematização dos precedentes jurisprudenciais, os
juristas veem duas principais diferenças quanto ao papel e a conceituação dos
precedentes nos países de common law e de civil law, quais sejam, a intensidade
e a abordagem.188 Em primeiro lugar, é necessário levar em consideração o grau
de persuasão dos tribunais superiores sobre os tribunais inferiores. Nos tribunais
de tradição civilista, tribunais inferiores, em regra, só seguem precedente se é
jurisprudence constante, se não contradiz a legislação, e se for coerente com o
contexto de seu sistema jurídico.189 Tribunais inferiores da tradição civilista consi
deram que um precedente é forte se satisfizer essas condições, porém não é vin
culante por si só.190 Por exemplo, enquanto que uma única decisão dos tribunais
superiores poderia estabelecer um precedente na common law, isso não é
possível em países de civil law (com algumas exceções).191 Em segundo lugar, o
juiz da civil law analisa primeiramente a legislação e usa precedentes apenas para
complementar, enquanto o juiz da common law considera o precedente como
uma fonte primária de direito.192
Quanto à admissibilidade de recursos para os tribunais superiores, não há, na
tradição civilista, um writ of certiorari formal. No entanto, a maioria das jurisdições
contam com regras processuais de admissibilidade que podem ser usadas para
exercer algum controle e limitar o acesso. Por exemplo, no direito alemão, o acesso
está sujeito à importância fundamental da questão de direito (grundsätzliche
Bedeutung), com alguma variação em recursos de natureza constitucional.193 Ao
mesmo tempo, a reforma recente do Código de Processo Civil alemão limitou
que atuaram no mesmo caso a partir do qual o recurso foi interposto. Lei de Organização dos
Tribunais, Lei nº 3.902, de 04 de dezembro de 1897, art. 8, emendada pela Lei nº 8.794, de 27 de
dezembro de 2007 (Cor. Sul), tradução para o inglês. Disponível em: <http://eng.scourt.go.kr/
eboard/NewsViewAction.work?gubun=42&seqnum=1>.
187
Lei da Corte Constitucional, 05 de agosto de 1988, arts. 47, 75 (Cor. Sul).
188
BAUDOUIN, supra nota 129, p. 13.
189
Id.
190
Id.
191
Id.
192
Id., p. 15.
193
VERWALTUNGSGERICHTSORDNUNG [VWGO] (CÓDIGO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO), 19 de
março de 1991, §124 (Alem.).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
184 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
194
Em 2001, uma reforma do Código de Processo Civil limitou recursos nos casos cíveis para
disputas superiores a 20.000 euros, com vigência até dezembro de 2011. Einführung der
Zivilprozeßordnung [ZPOEG] [Lei de Introdução do Código de Processo Civil], 30 de janeiro de
1877, como emendado pela Gesetz de 27 de julho de 2001, §26, para. 8 (Alem.).
195
Cf. Lei Orgânica nº 2/1979 do Tribunal Constitucional, art. 43 (Espanha), tradução para o inglês.
Disponível em: <http://www.tribunalconstitucional.es/en/tribunal/normasreguladoras/Lists/
NormasRegPDF/LOTC-en.pdf>; CORTE COSTITUZIONALE. The Italian Constitutional Court.
Disponível em: <http://www.cortecostituzionale.it/ActionPagina_324.do>. Acesso em: 29 set.
2012. Enumera no item 5.7 as razões pelas quais a Corte pode não admitir um recurso.
196
MINJI SOSHŌHŌ [MINSOHŌ] (C. PRO. CIV.) 1996, arts. 312, 318 (Japão), tradução para o inglês.
Disponível em: <http://www.japaneselawtranslation.go.jp/law/detail/?ft=2&re=02&dn=1&yo=C
ode+of+Civil+Procedure&x=0&y=0&ky=&page=1>.
197
KEIJI SOSHŌHŌ [KEISOHŌ] (C. PRO. PEN.) 1948, arts. 405-06 (Japão), tradução para o inglês.
Disponível em: <http://www.japaneselawtranslation.go.jp/law/detail/?ft=3&re=02&dn=1&x=80
&y=24&bu=16&ky=&page=5>. Se as razões de recorrer estão listadas no artigo 405 do Código
de Processo Penal, o recorrente só precisa apresentar uma petição de recurso, enquanto, se a
razões do recurso não estiverem listadas no artigo 405, o apelante deverá interpor uma petição
para admissão do recurso nos termos do art. 406 (Id.). O artigo 405 apenas permite recurso contra
decisões que violam a Constituição ou contradizem precedentes dos tribunais superiores (Id.,
art. 405).
198
MINSOHŌ, art. 318; KEISOHŌ, art. 406.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 185
199
Ver, por exemplo, LAW, David S. The Anatomy of a Conservative Court: Judicial Review in Japan.
Tex. L. Rev., v. 87, 1545, 1577, Nov. 2009.
200
Corte Constitucional, 1997 Hun-Ba37 501, 513-14, 30 de outubro de 1997 (Cor. S.).
201
Id.
202
Id.
203
Id.
204
Id.
205
Id.
206
Id.
207
Id.
208
Soaek sakeon simpan beob (Lei Processual de Pequenas Causas), Lei nº 2.547, de 24 de fevereiro
de 1973, alterada, inter alia, pela Lei nº 7.427, de 31 de março de 2011, art. 3 (Cor. S.). O valor
da causa deve ser menos que 20.000.000 Won (aproximadamente $18,000 dólares americanos).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
186 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
Soaek sakeon simpan kyuchick (Decreto de julgamento de Pequenas Causas), Decreto da Corte
Constitucional nº 1.779, de 1º de julho de 2002, como alterado (Cor. S.). Disponível em: <http://
www.law.go.kr/joStmdInfoP.do?lsiSeq=67520&joNo=0002&joBrNo=00>.
209
Corte Constitucional, 2007 Hun-Ma1433, 28 de fevereiro de 2009 (Cor. S.).
210
Id.
211
Id.
212
Ver SUPREME COURT OF KOREA. Statistics: Litigation. Disponível em: <http://eng.scourt.go.kr/
eng/resources/statistics_litigation_civil.jsp>. Acesso em: 11 fev. 2013. Notando que o número de
recursos interlocutórios em material cível para a Suprema Corte aumentou 33.511 em 2003 para
51.929 em 2011, e que o número de recursos finais para a Suprema Corte aumentou de 7.143 em
2003 para 11,500 in 2011.
213
LEGARRE, Santiago. Precedent in Argentine Law. Loy. L. Rev., v. 57, p. 781, 785, n. 19, 2011; REUTERS,
Thomson. Fallo de Hoy. Se declara la nulidad de las resoluciones por una deuda en concepto de
Contribución que incide sobre la Actividad Comercial, Industrial y de Servicios de la Municipalidad
de la Ciudad de Córdoba, Feb. 15, 2012. Disponível em: <http://thomsonreuterslatam.com/
jurisprudencia/15/02/2012/fallo>.
214
LEGARRE, Santiago; RIVERA, Julio César. La Obligatoriedad Atenuada de los Fallos de la Corte
Suprema y el Stare Decisis Vertical. Revista Jurídica La Ley, 2009.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 187
215
Corte Suprema de Justicia de la Nación, 06.10.1948, “Santin, Jacinto c. Impuestos Internos,” Fallos
(1948-212-59) (Arg.).
216
Corte Suprema de Justicia de la Nación, 17.11.1981, “Cesar Anibal Balbuena,” Fallos (1981-303-
1770) (Arg.).
217
Corte Suprema de Justicia de la Nación, 04.07.1985, “Ceramica San Lorenzo,” Fallos (1985-307-
1094) (Arg.).
218
Congreso de la Nación – Cámara de Diputados, 13.07.2007, “Domingo Antonio Bussi,” (2007)
(Arg.).
219
Ver, em termos gerais, BERNAL PULIDO, Carlos. El precedente en Colombia. Revista de Derecho del
Estado, n. 21, p. 81-94, dic. 2008. p. 87. (Colom.).
220
Ver, por exemplo, MORGAN, Martha I. Taking Machismo to Court; the Gender Jurisprudence of the
Colombian Constitutional Court. U. Miami Inter-Am. L. Rev., v. 30, n. 2, p. 253-342, 1999. p. 253, 280,
n. 106.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
188 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
221
Lei nº 153/87, de 15 de agosto de 1887, Diario Oficial, art. 10 (Colom.).
222
Id.
223
Legislação de 1889 estabeleceu que três decisões uniformes da Corte Suprema sobre a mesma
questão de direito, atuando como corte de cassação, constituíam doctrina probable que juízes
poderiam aplicar a casos análogos, o que não impedia a Corte de alterar a doutrina se concluísse
que as decisões anteriores estavam equivocadas — Lei nº 169/89, de 03 de julho de 1889, Diario
Oficial, art. 4 (Colom.). Aqui, os juízes poderiam decidir se deveriam ou não aplicar a doctrina
probable. Id. O número de decisões exigidas foi posteriormente modificado em 1890, de maneira
que duas decisões uniformes da Suprema Corte passaram a constituir doctrina probable — Lei
nº 105/90, de 02 de dezembro de 1890, Diario Oficial, art. 371 (Colom.). A Lei nº 105/90 também
afirmava que, em caso de lacuna da lei em situações submetidas à Corte, duas decisões uniformes
da Corte referente ao tema poderiam suprir essa lacuna. Id. Legislação de 1896, no entanto,
endossou a abordagem inicial da Lei nº 169/89, codificando o que é considerado atualmente
como doctrina probable — Lei nº 169/96, de 31 de dezembro de 1896, Diario Oficial, art. 4 (Colom.).
224
Corte Constitucional, 09 de agosto de 2001, Sentencia C-836/01, Gaceta de la Corte Constitucional
(Colom.). Disponível em: <http://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/2001/c-836-01.htm>.
225
Id.
226
FRIEDLER, Edith Z. Judicial Review in Chile. Sw. J.L. & Trade Ams., v. 7, p. 321, 343-344, 2000.
227
Id.
228
Em termos gerais, ver Friedler, supra nota 226 (pesquisando a jurisprudência constitucional da
Corte Suprema de Justiça do Chile).
229
BREWER-CARÍAS, Allan R. Judicial Review in Venezuela. Duq. L. Rev., v. 45, p. 439, 442-443, 447, 2007.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 189
230
Id., p. 445.
231
Id.
232
BUTTE, Woodfin L. Stare Decisis, Doctrine and Jurisprudence in Mexico and Elsewhere. In: DAINOW,
Joseph (Ed.). The Role of Judicial Decisions and Doctrine in Civil Law and in Mixed Jurisdictions, supra
nota 20, p. 311, 328.
233
Ver, por exemplo, MIROW, M.C. Marbury in Mexico: Judicial Review’s Precocious Southern
Migration. Hastings Const. L.Q., v. 35, p. 41-117, p. 57 n. 99, 2007.
234
ZAMORA Stephen et al. Mexican Law. Oxford: Oxford University Press, 2004. p. 85. V. id. para
maiores informações sobre o sistema jurídico mexicano.
235
GARZA, José Maria Serna de la. The Concept of Jurisprudencia in Mexican Law. Mex. L. Rev., v. 10,
2009. (Mex.).
236
Id.
237
Artigo 107-XIII da Constituição Mexicana foi emendado em 1951 para prescrever que a lei fixará
os termos e hipóteses em que a jurisprudência dos tribunais federais é obrigatória, bem como
os requisitos para a sua modificação (Id.). Em 1967, essa regra foi posteriormente transferida
para o artigo 94 da Constituição, com uma emenda destinada a esclarecer o tipo de normas
que poderiam ser objeto de jurisprudência: “La ley fijará los términos en que sea obligatoria la
jurisprudencia que establezcan los Tribunales del Poder Judicial de la Federación y los Plenos de
Circuito sobre la interpretación de la Constitución, y normas generales, así como los requisitos para su
interrupción y sustitución.” (Id.).
238
Id.
239
Id.
240
Id.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
190 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
241
Código Procesal Civil y Comercial de la Nación, art. 280 (Arg.).
242
Código Procesal Civil y Comercial de la Nación, art. 281 (Arg.).
243
A crítica enfatiza o conflito existente entre a doctrina de la arbitrariedad e a doctrina de gravedad
institucional, e o mecanismo de recursa de recursos extraordinários pela Suprema Corte. Ver, em
termos gerais, SBDAR, Claudia Beatriz. Presente y futuro del recurso extraordinario federal: el rol
de la Corte Suprema de la Nación, Revista Iberamericana De Derecho Procesal Constitucional, n. 10,
p. 217-248, jul./dez. 2008. Por meio da doctrina de gravedad institucional, a Corte desconsiderou a
falta de requisitos formais de admissibilidade de recursos extraordinários (Id., p. 230). A premissa
do argumento é que recursos extraordinários tem por fundamento a Constituição e, portanto,
são de extrema gravidade institucional (Id.) Da mesma forma, sob a doctrina de la arbitrariedad,
a Corte pode rever as decisões de tribunais inferiores que não tenham fundamento jurídico
suficiente (Id. p. 229). Críticos do mecanismo de recusa argentino sugerem que a Corte recusa
a admissão de processos sem ter que fundamentar suas decisões com argumentos jurídicos
suficientes e, consequentemente, ofende as doutrinas anteriormente reconhecidas (Id. p. 235).
Recentemente, a Suprema Corte reconheceu a validade constitucional do mecanismo de recusa
de recursos (artigos 280 e 285 do Código de Processo Civil e Comercial) porque permite à Corte
cumprir sua missão de guarda da Constituição de maneira mais efetiva por meio do exercício
eficaz de sua competência extraordinária nos casos de importância transcendental (Id.)
244
Id., p. 235.
245
BIANCHI, Alberto B.; LEGARRE, Santiago. El “Certiorari” en Acción (Hacia un Control de
Constitucionalidad Basado en la Trascendencia), La Ley, 1993-C, 841; EGÜES, Alberto J. El Certiorari
Argentino. La Ley, 1993-C, 661; GELLI, María A. El “Writ of Certiorari” en Perspectiva. La Ley, 1994-B,
880; ROJAS, Jorge A. Las Nuevas Fronteras del Recurso Extraordinario Federal. La Ley, 2008-E, 858.
246
Cf. infra nota 247.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 191
247
Ley nº 270/96, 07 de março de 1996, Diario Oficial, art. 16 (Colom.). Disponível em: <http://www.
secretariasenado.gov.co/senado/basedoc/ley/1996/ley_0270_1996.html>. Acesso em: 24 set.
2012. Em 2009, a Lei foi emendada, determinando que as Turmas da Suprema Corte podem
selecionar as decisões com o objetivo de unificação da jurisprudência, proteção dos direitos
constitucionais e controle de legalidade dos acórdãos (Id.). Lei nº 1.285/09, 22 de janeiro de
2009, Diario Oficial (Colom.). Dessa forma, esta modificação da lei prescreve que as três Turmas
especializadas da Corte (salas de casación civil, laboral y penal) tem a opção de selecionar os
casos que serão admitidos para julgamento, rejeitando, assim, o conhecimento de casos não
selecionados (Id.). Em 2008, a constitucionalidade dessas normas foi confirmada pela Corte
Constitucional colombiana. Corte Constitucional, 15 de julho de 2008, Sentencia C-713/08, Gaceta
de la Corte Constitucional (G.C.C.) (Colom.). Disponível em: <http://www.corteconstitucional.gov.
co/relatoria/2008/c-713-08.htm>.
248
Ver, em termos gerais, GUAYACAN, Juan Carlos. La Selección de Sentencias Para la Unificación de
la Jurisprudencia. Revista de Derecho Privado, v. 19, p. 59-79, 2010. p. 57. Disponível em: <http://
foros.uexternado.edu.co/ecoinstitucional/index.php/derpri/article/view/2489/2127>.
249
La Reforma Constitucional en Materia de Amparo, Poder Judicial de la Federación, 1, 10, Disponível
em: <http://www.cjf.gob.mx/reformas/documentos/tripticoReformaAmparo.pdf>.
250
ZAMORA et al., supra nota 234, p. 192; BREWER-CARÍAS, supra nota 229, p. 464-465; FRIEDLER,
supra nota 226, p. 346-347.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
192 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
251
POSNER, Richard. Economic Analysis of Law. 8. ed. New York: Aspen Publishers, 2011. p. 33, 743-754.
252
Id., p. 754 (afirmando que o método mais eficiente para um juiz para decidir casos e resolver
controvérsias é seguir os precedentes bem de perto e deixar que o Legislativo adapte a lei de
acordo com as mudanças).
253
Ver, em termos gerais, GOODMAN, John C. An Economic Theory of the Evolution of the Common
Law. J. Legal Stud., v. 7, n. 2, p. 393, 1978; PRIEST, George L. The Common Law Process and the
Selection of Efficient Rules. J. Legal Stud., v. 6, n. 1, p. 65-82, Jan. 1977; RUBIN, Paul H. Why is the
Common Law Efficient?. J. Legal Stud., v. 6, n. 1, p. 51-63, Jan. 1977; TERREBONE, Peter R. A Strictly
Evolutionary Model of Common Law. J. Legal Stud., v. 10, n. 2, p. 397, Jun. 1981.
254
Ver, em termos gerais, GENNAIOLI, Nicola; SHLEIFER, Andrei. Overruling and the Instability of
Law. J. Comp. Econ., v. 35, n. 2, p. 309-328, June 2007; GENNAIOLI, Nicola; SHLEIFER, Andrei The
Evolution of Common Law. J. Pol. Econ., v. 115, n. 1, p. 43-68, 2007.
255
Ver LANDES William M.; POSNER, Richard A. Adjudication as a Private Good. J. Legal Stud., v. 8, p.
303-317, 235, 248, 1979.
256
Ver GAROUPA Nuno; LIGÜERRE, Carlos Gómez. The Syndrome of the Efficiency of the Common
Law. B.U. Int’l L.J., v. 29, n. 2, p. 296-298, 2011; GAROUPA, Nuno; LIGÜERRE, Carlos Gómez. The
Evolution of the Common Law and Efficiency. Ga. J. Int’l & Comp. L., v. 40, Forthcoming 2012.
Disponível em: <http://ssrn.com/abstract=1805141>.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 193
257
Ver, em termos gerais, HADFIELD, Gillian K. Bias in the Evolution of Legal Rules. Geo. L.J., v. 80,
p. 583, 1992.
258
Ver HATHAWAY, Oona A. Path Dependence in the Law: the Course and Pattern of Legal Change in
a Common Law System. Iowa L. Rev., v. 86, p. 601, 659, 2001.
259
Ver MICELI, Thomas J. Legal Change: Selective Litigation, Judicial Bias, and Precedent. J. Legal
Stud., v. 38, p. 157, 164-165, 2009; ANDERLINI, Luca et al. Why Stare Decisis?. Centre for Economic
Policy Research, Discussion paper 8266, fev. 2011. Disponível em: <http://econ.lse.ac.uk/staff/
lfelli/papers/Stare%20Decisis.pdf>.
260
Ver, em termos gerais, BAKER Scott; MEZZETTI, Claudio. A Theory of Rational Jurisprudence. J.
Pol. Econ., v. 120, 513, 2012; CAMERON, Charles M.; KORNHAUSER, Lewis A. Appeals Mechanisms,
Litigant Selection, and the Structure of Judicial Hierarchies. In: BOND, Jon R. et al. (Ed.). Institutional
Games and the U.S. Supreme Court. Charlottesville: University of Virginia Press, 2006. p. 173;
DEPOORTER, Ben et al. Litigation, Judicial Path-dependence, and Legal Change. Eur. J.L. & Econ.,
v. 20, p. 43, 2005; FERNANDEZ, Patricio A.; PONZETTO, Giacomo A.M. Stare Decisis: Rhetoric and
Substance. J.L. Econ. & Org., v. 28, p. 313, 2012; FON, Vincy; PARISI, Francesco. Litigation and the
Evolution of Legal Remedies: A Dynamic Model. Pub. Choice, v. 116, p. 419, 2003; HEINER, Ronald
A. Imperfect Decisions and the Law: On the Evolution of Legal Precedent and Rules. J. Legal Stud.,
v. 15, p. 227, 1986; KORNHAUSER, Lewis A. An Economic Perspective on Stare Decisis. 65 Chi.-Kent
L. Rev., v. 65, p. 63, 1989; KORNHAUSER, supra note 17, p. 509-513; LANDES, William M.; POSNER,
Richard A. Legal Precedent: a Theoretical and Empirical Analysis. J.L. & Econ., v. 19, p. 249, 1976);
Georg von Wagenheim, The Evolution of Judge-Made Law, 13 INT’L REV. L. & ECON. 381 (1993).
261
DEPOORTER et al., supra nota 260, p. 44, nota 3.
262
HEINER, supra nota 260, p. 229, 255 (argumentando que as pessoas beneficiam-se quando regras
simples na tomada de decisões são observadas, apesar dos erros que podem ocorrer quando tais
regras são aplicadas caso a caso).
263
Cf. KORNHAUSER, supra nota 260, p. 77-78.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
194 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
264
Id., p. 74.
265
Ver, em termos gerais, BAKER; MEZZETTI, supra nota 260.
266
Id.
267
Cf. KORNHAUSER, supra nota 260, p. 76-77.
268
Cf. id.
269
Cf. id.
270
Id., p. 77.
271
CHE, Yeon-Koo; GOO YI, Jong. The Role of Precedents in Repeated Litigation. J.L. Econ. & Org., v. 9,
p. 399, 417, 1993.
272
KORNHAUSER, supra nota 260, p. 69-71.
273
Cf. id., p. 71-72 (examinando a defasagem na incorporação de informações disponíveis).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 195
274
Cf. id., p. 72-73.
275
Cf. id., p. 72.
276
Cf. id., p. 71-72.
277
Cf. id., p. 73.
278
Cf. id.
279
Porém, ver FON; PARISI, supra nota 141, para uma dessas análises.
280
Id., p. 532-533.
281
Cf. id., p. 533.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
196 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
282
Em termos gerais, ver CAMERON Charles M. et al. Strategic Auditing in a Political Hierarchy: An
Informational Model of the Supreme Court’s Certiorari Decisions. Am. Pol. Sci. Rev., v. 94, p. 101,
2000; SHAVELL, Steven. On the Design of the Appeal Process: The Optimal Use of Discretionary
Review versus Direct Appeal. J. Legal Stud., v. 39, p. 63, 2010; SHAVELL, Steven The Appeals Process
and Adjudicator Incentives. J. Legal Stud., v. 35, p. 1, 2006; SHAVELL, Steven. The Appeals Process
as a Means of Error Correction. J. Legal Stud., v. 24, p. 379, 1995 [doravante referido como Shavel
“The Appeals Process as a Means of Error Correction”].
283
SHAVELL, supra nota 282, p. 417.
284
Id.
285
Cf. id., p. 419-420.
286
Ver OLIVEIRA, supra nota 7, p. 111.
287
SHAVELL. The Appeals Process as a Means of Error Correction, supra nota 282, p. 419-420.
288
Id.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 197
289
LINDGREN, James; MARSHALL, William P. The Supreme Court’s Extraordinary Power to Grant
Certiorari of Appeals. Sup. CT. Rev., p. 259, 278-279, 1986.
290
Cf. Tonja Jacobi, The Judicial Signaling Game, 16 SUP. CT. ECON. REV. 1, 10 (2008).
291
GAROUPA, Nuno; GINSBURG, Tom. Hybrid Judicial Career Structures: Reputation versus Legal
Tradition. J. Legal Analysis, p. 411, 2011. Definindo o juiz de “reputação” como o “juiz nomeado
para a magistratura mais tarde na vida, em reconhecimento de outras conquistas na carreira
jurídica”.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
198 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
292
KORNHAUSER, supra nota 17, p. 510-512.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 199
293
Com referência à ausência de um precedente rígido que obriga as instâncias inferiores.
294
Para a argumentação contra limites à criatividade de instâncias inferiores, ver ARANTES, supra
nota 8.
295
Representantes dos tribunais superiores, regionais federais e estaduais reuniram-se por ocasião
do seminário Repercussão Geral em Evolução, organizado pelo Supremo Tribunal Federal e pelo
Ministério da Justiça em novembro de 2010 (STF. Notícias STF, 20 dez. 2010. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=168521>).
296
STF. Notícias STF, 15 mar. 2011. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/
verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=173944>.
297
Ver supra nota 79 e texto que a acompanha.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
200 Maria Ângela Jardim de Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa
V. supra Tabela 4.
298
Id.
299
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil – Uma abordagem pela análise econômica do direito 201
Conclusão
Nós analisamos duas recentes e fundamentais inovações no direito cons
titucional brasileiro, ou seja, a introdução do precedente vinculante no controle
concreto de constitucionalidade (súmula vinculante) e a possibilidade de não
se admitir recursos extraordinários se não satisfeito o padrão de interesse geral
(requisito da repercussão geral). Esses mecanismos são significativamente dife
rentes dos princípios do stare decisis e do writ of certiorari dos Estados Unidos. Ao
mesmo tempo, eles são decididamente mais substanciais do que as instituições
equivalentes da civil law. Argumentamos que, a partir de uma análise econômica
do direito, ambos os mecanismos são susceptíveis de reforçar os benefícios
do Estado de Direito, a segurança jurídica e a redução de litígios abusivos e da
lentidão do Judiciário, sem incorrer de forma significativa nos custos-padrão de
erros judiciais.
OLIVEIRA, Maria Ângela Jardim de Santa Cruz; GAROUPA, Nuno. Stare decisis e certiorari
chegam ao Brasil: uma abordagem pela análise econômica do direito. Revista Brasileira de
Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 155-201, out./dez. 2013
Processo e decisão jurídica
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
204 André Del Negri
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
Processo e decisão jurídica 205
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
206 André Del Negri
5
FIX-ZAMUDIO. El pensamiento de Eduardo J. Couture y el Derecho Constitucional Procesal. Boletín
Mexicano de Derecho Comparado, p. 317-318.
6
OVALLE. Sistema jurídicos y políticos, processo y sociedad. Boletín Mexicano de Derecho
Comparado.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
Processo e decisão jurídica 207
7
LEAL. Teoria geral do processo, p. 81.
8
LEAL. Teoria geral do processo, p. 81.
9
LEAL. Teoria geral do processo, p. 81.
10
LEAL. Processo civil e sociedade civil.
11
BRÊTAS. Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 3.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
208 André Del Negri
3 Processo e constitucionalidade
O Brasil, ao reverter a relação de poder do regime autoritário, produziu
uma das Constituições mais avançadas do mundo, olhando para a cidadania
com uma perspectiva diferente, pois o texto constitucional a colocou como fun-
damento da democracia, uma genuína base legitimante. Razões várias. Citamos
duas. Primeira: a ênfase que este artigo científico dá ao processo e Constituição
não é a de simplesmente ver os princípios processuais albergados pelo texto
constitucional, porque poderíamos aumentar a crença de que tudo o que está
na Constituição Federal é norma constitucional (vê-se que defendemos a possi-
bilidade de normas constitucionais-inconstitucionais, pois não trabalhamos com
o mito do legislador originário).12 Para sair desse emaranhado é que é preferível
falar em processo e constitucionalidade.
A esse respeito, sugere-se visualizar o processo como destaque na Cons
tituição por ser a base instituinte e constituinte, um “referente jurídico-discursivo
de estruturação dos procedimentos”.13 Segunda razão de estudo, o que torna
esse assunto um tema de extrema importância, é o fato de ele começar pela
característica de construção desse projeto democrático, assegurando que todo
poder emana do povo (art. 1º, parágrafo único) o qual pode utilizar o devido processo
(art. 5º, XXXV) como instituto de fiscalização, para que, no plano dialógico, possam
participar (fiscalizando) a produção e aplicação das leis para haver a implantação
de Constituição com processo.
É claro que asseguramos isso porque trabalhamos uma teoria da Consti
tuição “egressa de um espaço processualizado”,14 bem como na atuação, modifi
cação e expurgo da lei por meio de um controle de legitimidade constitucional.15
Tudo isso porque entendemos que a Constituição é um discurso sustentado pelo
devido processo. Desta forma, vem-se exigindo um repensar dos tradicionais livros
de direito constitucional e de teoria da Constituição que se deslembram de abor-
dar a Constituição como uma linguagem sustentada pelo processo constitucional.
O novo modelo jurídico adotado pela vigente Constituição de 1988, eixo
garantidor e legitimador de instituições jurídicas, e a retomada da Democracia,
fez com que numerosas pesquisas ajudassem a demarcar o que é legitimidade no
12
DEL NEGRI. Teoria da Constituição e do direito constitucional, p. 252.
13
LEAL. Teoria geral do processo, p. 90.
14
DEL NEGRI. Teoria da Constituição e do direito constitucional. Conferir prefácio de Rosemiro Pereira
Leal.
15
DEL NEGRI, André. Controle de constitucionalidade no processo legislativo.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
Processo e decisão jurídica 209
16
DEL NEGRI. Processo constitucional e decisão interna corporis. Conferir, ainda, pesquisa indispen
sável sobre o entendimento da responsabilidade do Estado brasileiro pela função jurisdicional,
uma vez que o serviço judiciário é um setor de funcionamento do Estado e que tem o com
prometimento constitucional de prestar serviço público adequado e eficiente, como todos os
outros serviços públicos (BRÊTAS. Responsabilidade do Estado pela função jurisdicional).
17
HENDRICKX; DARNELL; GATTO. As primeiras representações do poder real no Egito. Antiquity.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
210 André Del Negri
18
POPPER. A lógica da pesquisa científica.
19
A respeito do conceito de cognitio verificar o livro de Dhenis Cruz Madeira, cujo titulo é Processo
de conhecimento e cognição (Curitiba: Juruá).
20
STRECK. O que é isto: decido conforme minha consciência?.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
Processo e decisão jurídica 211
públicas” com fortes tendências autoritárias. Agora, no pós-88, que vivemos num
país com propostas democráticas, precisamos ser capazes de trocar conclusões
envelhecidas por formulações mais arejadas cientificamente. Precisamos parar de
reproduzir ciência e passar a produzir ciência.
Com isso, percebe-se que os denominados positivistas não esclarecem se
eles são positivistas no viés jurídico ou no viés sociológico. O problema existe
porque se um intérprete fizer um aproveitamento, uma articulação entre os dois
positivismos, instalar-se-á (a partir desse entrelaçamento) uma espécie de alquimia
que tornará todo raciocínio jurídico sincrético, uma mistura incompreensível
para a própria direção normativa, uma vez que, nesse caso, não se sabe se o
balizamento da norma está na pauta de valores de uma sociedade (culturalismo)
ou se está na vontade do aplicador do direito.21 O tormento vem que muitos
“positivistas”, ao invés de sustentar a norma escrita, vão além dessa análise e
acabam entregando ao juiz uma interpretação livre da norma jurídica (como se
o agente decisor estivesse ligado à função legislativa), levando em conta as suas
convicções psicológicas e morais, o que aumenta o grau de imprevisibilidade das
decisões.
21
Essas conotações foram muito bem sinalizadas em importante livro a respeito da decisão jurídica
(LEAL. Teoria processual da decisão jurídica).
22
ALMEIDA. Espaço jurídico processual na discursividade metalinguística.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
212 André Del Negri
Por isso é que André Leal diz que o paradoxo de Bülow foi parcialmente
superado na literatura de Fazzalari, uma vez que o eixo da jurisdição, para o pro
cessualista italiano, ainda está centrado na figura do julgador (Estado-Juiz/poder
dos juízes), o que resgata resquícios das “representações gráficas da relação
in ‘comandi’ Che il giudice rivolge alle parti e Che svolgono direttamente efficacia nel loro
patrimônio [...] Cosi, il provvedimento (giurisdizionale) civile di ‘codanna’ é um ‘comando’, rivolto
dal giudice ad uno dei litiganti, perché questi dia o faccia alcunché a favore dell’altro”.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
Processo e decisão jurídica 213
25
LEAL. Processo e jurisdição no Estado Democrático de Direito..., f. 96.
26
LEAL, Rosemiro Pereira. Aula ministrada no Curso de Pós-Graduação stricto sensu em Direito
Processual da Faculdade de Direito da PUC Minas, em 03 abr. 2013. Informações verbais.
27
ZANETI JÚNIOR. Processo Constitucional e o modelo constitucional do processo civil brasileiro,
p. 200.
28
ZANETI JÚNIOR. Processo Constitucional e o modelo constitucional do processo civil brasileiro,
p. 198.
29
ZANETI JÚNIOR. Processo Constitucional e o modelo constitucional do processo civil brasileiro,
p. 193.
30
ZANETI JÚNIOR. Processo Constitucional e o modelo constitucional do processo civil brasileiro,
p. 187.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
214 André Del Negri
31
ZANETI JÚNIOR. Processo Constitucional e o modelo constitucional do processo civil brasileiro,
p. 188.
32
ZANETI JÚNIOR. Processo Constitucional e o modelo constitucional do processo civil brasileiro,
p. 188.
33
REALE. Filosofia do direito.
34
LEAL, Rosemiro Pereira. Aula ministrada no Curso de Mestrado/Doutorado em Direito Processual
da Faculdade de Direito da PUC Minas, em 13 mar. 2013. Informações verbais.
35
WEBER. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva.
36
LEAL. Teoria geral do processo, p. 243-250.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
Processo e decisão jurídica 215
37
STRECK. O que é isto: decido conforme minha consciência?.
38
ALTHUSER. Aparelhos ideológicos de Estado.
39
MAUS. Judiciário como superego da sociedade: o papel da atividade jurisprudencial na sociedade
órfã. Revista Novos Estudos.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
216 André Del Negri
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Processo e decisão jurídica 217
das desigualdades e que leva a uma apatia dos advogados das partes, conforme
ressalta a importante pesquisa de Dierle Nunes.41
Artur César de Sousa, num artigo argumentativo sobre a aplicação da
“parcialidade positiva do juiz”, projeta essa possibilidade como um “imperativo
principiológico que determina o reconhecimento das diferenças sociais, eco
nômicas, culturais e mesmo psicológicas daqueles que atuam no âmbito do
processo”.42 E não é só: “o princípio da parcialidade positiva do juiz significa a
realização pragmática das promessas do constitucionalismo social, mediante a
supressão [...] das pessoas envolvidas na relação jurídica processual [...]”.43
Pensamos diferente. Se o juiz tentar suprir as diferenças materiais dos
cidadãos pelo processo (núcleo discursivo nas democracias), seria o mesmo que
dizer que o juiz age como parte, pois representante de um Judiciário homolo
gador das funções do refutado paradigma de Welfare State. Ao adotar esse
ativismo justiceiro (juiz Robin Hood), com o argumento de fazer “justiça social”,
escapa da reserva legal do processo e comete-se dupla lesão. A primeira: a de
remeter as partes processuais à posição de meros destinatários do Direito (e
não coconstrutoras da decisão). Uma outra: a negativa da simétrica paridade ao
cidadão na base de discursividade processual (devido processo constitucional),
desconfigura o princípio do contraditório, eixo teórico-democrático-fundamental
de discursividade isonômica, porque não há contraditório sem a observância da
simétrica e simultânea paridade entre as partes processuais.
O desconforto existe porque o Judiciário não participa em contraditório
com as partes. É preciso levar em linha de conta que o contraditório não é do
magistrado, mas sim tributário das partes. Na proveitosa obra de Aroldo Plínio
Gonçalves44 isso é muito claro porque “a participação do juiz não o transforma em
um contraditor, ele não participa em contraditório com as partes”, uma vez que
“entre ele e as partes não há interesse em disputa, ele não é um ‘interessado’, ou
um ‘contra-interessado’ no provimento. O contraditório se passa entre as partes
porque importa no jogo de seus interesses em direções contrárias, em divergência
de pretensões sobre o futuro provimento que o iter procedimental prepara, em
oposição”.
41
NUNES. Processo jurisdicional democrático, p. 108-112.
42
SOUZA. A parcialidade positiva do juiz (justiça parcial) como critério de realização no processo
jurisdicional das promessas do constitucionalismo social. Revista dos Tribunais, p. 30.
43
SOUZA. A parcialidade positiva do juiz (justiça parcial) como critério de realização no processo
jurisdicional das promessas do constitucionalismo social. Revista dos Tribunais, p. 51.
44
GONÇALVES. Técnica processual e teoria do processo, p. 121.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
218 André Del Negri
FONSECA. Isonomia e contraditório na teoria do processo. In: LEAL et al. (Coord.). Estudos conti
45
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
Processo e decisão jurídica 219
À obviedade, fica claro que essa construção teórica feita pelo juiz tem que
ser profundamente fundamentada (art. 93, IX, da CF/88), distante, portanto, da
filosofia da consciência (lei íntima do decididor; sentença/ato de sentimento) com
esteio na figura de um juiz visto como um terceiro interessado no processo, como
queria a teoria da relação jurídica (jurisdição como atividade do juiz – Bülow).
Avancemos então com mais precisão. O momento decisório (decisão
processual) não é a oportunidade de o juiz agir além dos conteúdos normativos.46
É de nossa intenção afirmar que estamos, mais uma vez, com o professor
Ronaldo Brêtas, que por meio de sua apurada estética na escrita e infalível corte
processual, não recua um passo na sua empreitada de desconstrução da temática
da decisão autocrática. Por isso não aceita que os fundamentos do magistrado
sejam solitários, não mediados por uma estrutura argumentativa preparatória da
decisão.47 Do nosso ponto de vista, seria ingenuidade supor que o juiz (em seu
esplendor) possa corrigir as “anomalias” da sociedade consertando os descom
passos materiais existentes na sociedade a partir de sua moral.
Basta lembrar o Freirecht alemão (direito livre), um movimento sociológico
ocorrido na Alemanha a partir das ideias de Eugen Ehrilch e Hermann Kantarowicz,
cheios de convicção de que o juiz deveria ser livre para empreender a atividade
judicante, pouco importando se dentro ou fora, contra ou a favor do sistema
jurídico.48 Foi com base nessa “Escola do direito livre” que muitos se sentiram
inspirados a escrever textos, livros, artigos e teses outorgando aos juízes conti
nuamente a oportunidade de dizer o direito e completar o sistema jurídico. E
porque convencidos desse “prudente arbítrio do juiz” (e o que seria esse “pru
dente”, parece impossível de responder), muitos ainda continuam nesse delírio
imaginário.
Por isso é que não é mais concebível, no plano da decidibilidade democrá
tica, o sujeito-julgador atuar de forma prodigiosa “fundamentando” as decisões
judiciais com apoio em critérios enigmáticos e irresponsáveis (subjetivos), como,
por exemplo, do “justo razoável”, do “ideal de justiça”, do “livre-arbítrio do juiz”,
do “processo justo”, da “interpretação mais razoável”, da “decisão mantida pelos
seus próprios e jurídicos fundamentos”.49 Ainda aqui é preciso dizer que o magis
trado que decide segundo sua consciência, dentro ou fora da lei, atua como
46
LEAL. Teoria processual da decisão jurídica.
47
BRÊTAS. Processo constitucional e Estado Democrático de Direito.
48
ANDRADE. O problema dos métodos da interpretação jurídica, p. 47.
49
BRÊTAS. Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 125-126.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
220 André Del Negri
[...] embora o juiz seja uma pessoa com convicções e história de vida, a
limitação ao seu subjetivismo e à sua parcialidade se dá justamente no
impedimento de uma fundamentação que extrapole os argumentos
Imaginário, nessa parte do trabalho, tem o uso lacaniano, significando aquilo que pode ter as
50
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
Processo e decisão jurídica 221
7 Conclusão
Para entender por que a figura do juiz triunfou sobre as partes, por que
a submissão das partes perdurou por longo tempo, e todos esses percursos,
precisamos ver quais teorias estavam sendo defendidas à época. Considerando
o contexto histórico em que aparece o modelo de liberalismo processual, sistema
que o juiz exercia papel passivo, e o modelo de socialização processual, mais
amplo e discricionário, o qual o juiz tinha ampla liberdade no momento de decidir,
temos dois quadros interessantes para análise acadêmica.
O curioso é que alguns escritores pensavam encontrar na figura judicacional
um ser excepcional que era inteligente, culto e preparado para resolver os conflitos
sociais que chegavam ao judiciário. No entanto, essa crença se desfez, por motivos
teóricos diversos. Com efeito, de lá para cá, muitas expressões ficaram à sombra do
esclarecimento, como é o caso da engenhosa expressão “escopos metajurídicos”
que funciona como uma rampa de decolagem para que alguns possam enxergar
51
STRECK. Hermenêutica, Constituição e processo, ou de “como discricionariedade não combina
com democracia: o contraponto da resposta correta”. In: MACHADO; CATTONI DE OLIVEIRA
(Coord.). Constituição e processo: a contribuição do processo ao constitucionalismo democrático
brasileiro, p. 19.
52
MADEIRA. Processo de conhecimento e cognição, p. 212.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
222 André Del Negri
além do direito (além do que a lei estabelece). E com isso, certamente, estamos
querendo demonstrar que esses modelos não são uma boa definição de processo
constitucional na contemporaneidade.
Dessa hipótese decorre um corte epistemológico, o qual coloca o seguinte
problema: o que garante uma decisão legítima? Por estudos apontados ao longo
deste artigo, sabe-se que o advogado, quando lança a pretensão na petição
inicial, já começa a identificar o procedimento. Não sendo isso suficiente, se essa
narrativa não tiver uma causa de pedir próxima (lei) muito bem demarcada, essa
petição abre margem para a outra parte processual contestar preliminarmente
por falta de um dos “elementos configurativos da ação”.
Além disso, a contraparte processual deve testificar a teoria utilizada pelo
autor, inclusive filtrando toda a linguagem utilizada, o que colocaria o processo
como médium linguístico, uma das formas mais avançadas de discurso como
metalinguagem (uma linguagem corretiva da linguagem natural).53 Isso acontece
porque as partes preparam a conclusão e o juiz fica vinculado aos argumentos do
procedimento, e aqui os valores morais não podem se reconciliar com raciocínios
jurídico-científicos.
Por tal motivo as decisões devem ser objetivas (teóricas), livres de juízos
abertos, pessoais. É por isso que neste trabalho a jurisdição não é atividade do juiz
e o processo é uma instituição de legitimação da decisão. É nessa forma de pensar
o processo que este artigo se apoia na teoria neoinstitucionalista, de Rosemiro
Pereira Leal, literatura de grande teor científico, e na igualmente importante obra
denominada “Processo Constitucional e Estado Democrático de Direito,” escrita por
Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias, Professor dos cursos de Mestrado e Doutorado
em Direito da PUC Minas, que demarca os estudos processuais no Direito
democrático. Com isso, essas literaturas fazem um trabalho de desmistificação, de
desmascaramento, um raciocínio de ir às raízes dos problemas processuais, a fim
de mostrar o que está atrás dos argumentos morais.
Assim, nessa linha de aderência, o Direito democrático deve ser opera
cionalizado, construído, desconstruído, fiscalizado, aplicado e interpretado de
forma compartilhada e testificada. Desta maneira, o juiz tem a função de atuar
nos conteúdos da lei e ao interpretá-la pode construir a sua teoria demarcada
por argumentos jurídicos (internos ao Direito), o que, num raciocínio popperiano,
pode coincidir com a teoria da parte processual (teoria A) ou com a teoria da
contraparte processual (teoria B). É evidente que ele pode produzir outra teoria
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
Processo e decisão jurídica 223
(teoria C), desde que esclareça as “razões” de sua decisão de forma profundamente
fundamentada (art. 93, IX, da CF/88). À obviedade, fica claro que essa construção
teórica feita pelo juiz deve ser ofertada ao contraditório das partes para ser
portadora de legitimidade. Do contrário, a democracia esmaece.
Abstract: This article provides a critical analysis of one of the central problems
of the constitutional process, which is the legal decision. By making the
estrangement with the object of research, this text reacts against manual
dogmatic and interrogates the extent to which value judgments interfere
in decisions. Examines the paradoxes to try to undo the stocks labyrinthine
judicial activism with refinements of free interpretation. Check these
conditions is therefore the purpose of this article, which will, in the end, a
temporary conclusion. This saves undoubtedly a character of scientific-
critical work.
Referências
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CRV, 2012.
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sidade de uma interpretação das reformas do processo penal a partir da Constituição. In: MACHADO,
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contribuição do processo ao constitucionalismo brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
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224 André Del Negri
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R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 203-224, out./dez. 2013
L’ennesima riforma della Cassazione civile
italiana
Andrea Panzarola
Advogado. Doutor pela Università degli studi di Roma “La Sapienza”.
Professor titular da Università LUM Jean Monet- Bari.
Abstract: The reform of the proceeding of the Court of Cassation (law nr.
134 of 2012) raises the question whether (in accordance with the new art.
360, par. 1 nr. 5 of Code of civil procedure) the Court is now always obliged
to rely on fact findings of the decision below: precisely, whether the
Supreme Court must accept findings which conflict with the processes of
rational reasoning, the laws of nature or established scientific knowledge.
Furthermore, proponents of reform argue that a judgment of the court of
appeal on question of facts can be regarded as reliable when the appellate
court agrees with the lower court’s decision, since the case has gone through
the scrutiny of two courts before coming to the Supreme Court. The reform is
intended to limit the numbers of the petitions and to increase the Supreme
Court’s scope to pronounce precedents in legally important cases without
the need to check the correctness of evidence.
Key words: Court of Cassation. Italian code of civil procedure. Law nr. 134 of
2012. Review of facts and fact findings. Precedent.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
226 Andrea Panzarola
Si tratta di un tema toccato dalla recente riforma del processo civile,1 che
ha investito sia il processo di secondo grado che il giudizio di cassazione. Quanto
al primo, il legislatore ha predisposto un “filtro” che permette al giudice di
appello, prima di intraprenderne la trattazione, di dichiarare la inammissibilità del
gravame che sia privo di una ragionevole probabilità di essere accolto. A seguito
di tale declaratoria di inammissibilità, contro il provvedimento di primo grado
può essere proposto ricorso per cassazione.2 Quanto al secondo giudizio,3 è stato
in vario modo limitato il controllo della Suprema Corte sulla motivazione della
sentenza impugnata con ricorso per cassazione (art. 360 comma 1 n. 5 c.p.c.).4
I due interventi normativi presentano degli evidenti punti di contatto, che
non mancheremo di evidenziare. L’oggetto della indagine rimane nondimeno
circoscritto al sindacato della Cassazione sulla motivazione.
A seguito della modifica dell’art. 360 comma 1 n. 5 c.p.c., d’ora in poi il
ricorrente potrà denunziare la decisione del giudice inferiore unicamente per
“omesso esame circa un fatto decisivo per il giudizio che è stato oggetto di
discussione tra le parti”, quando sino ad oggi avrebbe invece potuto lamentare la
“omessa, insufficiente o contraddittoria motivazione circa un fatto controverso e
decisivo per il giudizio”.
1
Art. 54 d.l. 22 giugno 2012, n. 83 (conv. in l. 7 agosto 2012, n. 134). Sulla disciplina transitoria v.
infra §3. Secondo l’art. 54 comma 3-bis (aggiunto in sede di conversione dall’art. 1 comma 1 l.
n. 134 del 2012 cit.) le disposizioni in esame “non si applicano al processo tributario di cui al
decreto legislativo 31 dicembre 1992, n. 546”.
2
Cfr. art. 348-ter comma 3 c.p.c.
3
Altre disposizioni intersecano il giudizio di cassazione, nella misura in cui incidono sulla
determinazione dei provvedimenti ricorribili per cassazione e sul termine per esperirlo (comma
2 art. 348-ter c.p.c.). Poi il comma 4 art. 383 c.p.c. ha per oggetto il giudizio di rinvio che segue
all’accoglimento del ricorso contro il provvedimento di primo grado (che diviene impugnabile
dinanzi alla Suprema Corte a seguito della pronunzia della ordinanza di inammissibilità da parte
del giudice di appello).
4
La posizione della dottrina è nel complesso critica. Cfr. M. Bove, Giudizio di fatto e sindacato della
corte di cassazione: riflessioni sul nuovo art. 360 n. 5. c.p.c., in http://www.judicium.it; R. Caponi,
La riforma dell’appello civile dopo la svolta nelle commissioni parlamentari, ibidem; Id., Contro il
nuovo filtro in appello e per un filtro in cassazione nel processo civile, in G COST 2012, in corso di
pubblicazione; Id., La riforma dei mezzi di impugnazione, in RTDPC 2012, in corso di pubblicazione;
C. Consolo, Nuovi ed indesiderabili esercizi normativi sul processo civile: le impugnazioni a rischio
di “svaporamento”, in CG 2012, 1133 ss ; Id., Lusso o necessità nelle impugnazioni delle sentenze?,
in http://www.judicium.it; B. Sassani, La logica del giudice e la sua scomparsa in Cassazione,
ibidem; G. Verde, Diritto di difesa e nuova disciplina delle impugnazioni, ibidem; M. De Cristofaro,
Appello e cassazione alla prova dell’ennesima “riforma urgente”: quando i rimedi peggiorano il male
(considerazioni di prima lettura del d.l. n. 83/2012), ibidem. M. Fornaciari, Ancora una riforma dell’art.
3601 n. 5 cpc: basta, per favore, basta!, ibidem; D. Grossi, Il diritto di difesa ed i poteri del giudice
nella riforma delle impugnazioni, ibidem; G. Impagnatiello, Crescita del Paese e funzionalità delle
impugnazioni civili: note a prima lettura del d.l. 83/2012, ibidem; Id., Pessime nuove in tema di appello
e ricorso in Cassazione, in GPC 2012, 735 ss., spec. 754 ss.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 227
Vi sono dei casi nei quali, peraltro, il motivo di ricorso in esame non è proprio
utilizzabile. Vogliamo dire delle regole contenute nei commi 4 e 5 dell’art. 348-ter
c.p.c., anch’esse riguardanti le modalità di accesso al giudizio dinanzi alla Suprema
Corte. Nel caso di cosiddetta “doppia conforme” in facto, le due norme cancellano
puramente e semplicemente la possibilità di formulare, quale motivo di ricorso
per cassazione, il vizio di motivazione (pur nei limiti ristretti nei quali esso ora
opera alla luce) del nuovo art. 360 comma 1 n. 5 c.p.c.:
a) — vuoi avverso il provvedimento di primo grado (comma 4 art. 348-
ter cit.), che sia impugnato dinanzi alla Suprema Corte, a seguito della
pronunzia della ordinanza di inammissibilità dell’appello (ex comma
2 art. 348-ter c.p.c.), allorché questa declaratoria di inammissibilità sia
basata “sulle stesse ragioni, inerenti alle questioni di fatto, poste a base
della decisione impugnata”;
b) — vuoi contro la sentenza di appello (comma 5 art. 348-ter cit.), che
confermi (nei modi testé veduti) la decisione di prime cure. Siamo inclini
a pensare che il richiamo alla “disposizione di cui al quarto comma” (che
introduce il comma 5 cit.) serva per intendere (e qualificare) le modalità
della “conferma” (di cui discorre ancora il comma 5 cit.) che innesca il
meccanismo della c.d. doppia conforme. Vi è “conferma” se ed in quanto
la coincidenza degli epiloghi decisori d’appello e di primo grado si innesti
(per ripetere la formula del precedente comma 4, cui rinvia il comma
5 cit.) “sulle stesse ragioni, inerenti alle questioni di fatto, poste a base
della decisione impugnata”. Non sarebbe perciò sufficiente per escludere
il controllo della motivazione della sentenza di appello da parte della
Cassazione la circostanza che essa, quantunque confermativa di quella di
prime cure, ne replichi gli esiti seguendo un diverso iter logico-giuridico.5
Ciò detto, va ribadito che l’ipotesi sotto esame si riferisce al trattamento
della sentenza di appello che concluda un “ordinario” giudizio di secondo
grado: un giudizio, per intenderci, nel quale il “filtro” ex art. 348-bis c.p.c.
non abbia operato. Il che può però in linea generale dipendere da due
grado e le impugnazioni delle sentenze, II ed., Torino-Giappichelli 2012, 404. L’A. nota che, accedendo
alla soluzione qui rifiutata, si “perderebbe quel (invero assai gracile) fondamento della conformità
delle due motivazioni che sembra fondare il meccanismo introdotto dal legislatore”. Insieme alla
ratio della norma, anche la lettera di essa convince della plausibilità della interpretazione che
correla il comma 5 al precedente comma 4 dell’art. 348-ter c.p.c.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
228 Andrea Panzarola
situazioni differenti: dal fatto che il filtro, pur applicabile in linea di diritto,
non sia stato applicato nella causa (avendo ritenuto il giudice d’appello,
in limine litis, che il gravame avesse “una ragionevole probabilità di essere
accolto”); oppure dal fatto che, trattandosi di appello esperito in una delle
cause di cui all’art. 70 comma 1 c.p.c. o nell’ambito del rito sommario
(art. 702-quater c.p.c.), il filtro sia ex lege inapplicabile.
A quest’ultimo riguardo è importante ripetere che (stando al comma 5 cit.)
la cancellazione tout court del potere di denunziare il vizio di motivazione — ex
art. 360 comma 1 n. 5 c.p.c. — è circoscritta (quando vi sia “doppia conforme”) alle
sentenze di appello emesse nel rito sommario di cognizione, e non abbraccia le
sentenze (quantunque confermative di quella di primo grado) pronunziate nelle
controversie nelle quali sia obbligatorio l’intervento del pubblico ministero. Il
motivo di tale scelta è da rinvenire nella (discutibile)6 persuasione dei conditores
circa il rilievo generale di tali controversie, da assoggettare in quanto tali ad un
trattamento di favore.
La modifica in esame agisce, quindi, in due direzioni7 tra loro assai
eterogenee. Nel primo caso [sub (a)], si tratta del ricorso per cassazione contro
6
Le cause nelle quali l’intervento del p.m. è obbligatorio sono altrettanto eterogenee che non
del tutto indicative della presenza di un interesse pubblico, che può facilmente annidarsi anche
altrove. D’altronde, pure la presenza di una “connotazione pubblicistica” in una certa controversia,
non assicura che i concorrenti interessi privati — che vi sono frammisti — siano esercitati dai loro
titolari — anche in sede di impugnazione — con moderazione (si pensi, ad es., alla materia della
famiglia e delle persone, dove è frequente la propensione ad abusare dei mezzi d’impugnazione).
Forse il legislatore può avvertire la necessità di dettare una regola ad hoc per le controversie
contrassegnate dall’interesse pubblico solo in quanto sospetti che la nuova disciplina generale
offra loro garanzie inadeguate di tutela. Se vi è però un deficit nelle garanzie, si deve puramente
e semplicemente operare per eliminarlo, senza effettuare distinzioni che potrebbero altrimenti
apparire arbitrarie.
7
Si tratta effettivamente di due situazioni differenti: lo nota, in particolare, G. Impagnatiello,
Crescita del Paese cit., 6. Ad avviso dell’A., se nel primo caso (di conformità fra sentenze di appello
e di primo grado) si può parlare di “doppia conforme”, a diversa conclusione si dovrebbe arrivare
in relazione all’altra ipotesi. Per il modo in cui l’ordinanza può essere motivata, potrebbe capitare
che il riesame del fatto in appello si riveli “meramente apparente”: sicché — conclude l’A. —
“negare il controllo di legittimità sulla motivazione (quanto meno) della sentenza di primo grado”
“appare inopportuno e fors’anche costituzionalmente illegittimo”. Si può aggiungere, peraltro,
che adesso — alla luce dell’art. 118 disp. att. c.p.c. — anche la motivazione della sentenza si
risolve nella “succinta esposizione dei fatti rilevanti della causa e delle ragioni giuridiche della
decisione, anche con riferimento a precedenti conformi”: lo evidenzia G. Costantino, Le riforme
dell’appello civile e l’introduzione del “filtro” (in corso di pubblicazione in una versione ridotta,
nel Libro dell’anno del diritto Treccani 2013, e sin d’ora consultabile), in http://www.treccani.it., 24
(il quale ne deduce che la motivazione in fatto della ordinanza di inammissibilità richiede un
impegno maggiore di quello necessario per redigere una sentenza).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 229
8
Lo diciamo sulla base delle precisazioni precedenti circa l’interpretazione (che si reputa preferibile)
del comma 5 art. 348-ter c.p.c. (e della “conferma” che vi è prevista).
9
V. la nota che precede.
10
Come detto, a seguito della adozione della ordinanza di inammissibilità del gravame, contro il
provvedimento di primo grado può essere proposto ricorso per cassazione per saltum.
11
In rapporto agli artt. 132, 156 e 116 c.p.c. V. infra, spec. n. 4. Muovendo da tale (pur plausibile)
dilatazione dell’art. 360 comma 1 n. 4 c.p.c., si potrebbe generare una situazione paradossale nel
caso di “doppia conforme”, poiché — ammesso in tesi il sindacato della Cassazione sulla logicità
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
230 Andrea Panzarola
della motivazione (in virtù del n. 4 cit. estensivamente inteso) — non sarebbe però permesso
il controllo del Supremo Collegio nel caso estremo di “omesso esame circa un fatto decisivo
per il giudizio che è stato oggetto di discussione tra le parti” (n. 5 comma 1 art. 360 c.p.c.). Un
simile cortocircuito si produrrebbe ovviamente pur se si volesse far rientrare il controllo sulla
motivazione illogica nell’ambito del n. 3 dell’art. 360 c.p.c. (v. ancora infra, §4).
12
La cosa ovviamente non stupisce. Numerosi sono infatti nei moderni ordinamenti gli elementi
tributari dell’esperienza canonistica. Più in generale, è stato detto (con notazione specificamente
riferita alla dottrina dello Stato, ma estendibile alla esperienza giuridica in genere) che tutti i
concetti più pregnanti “sono concetti teologici secolarizzati”: così C. Schmitt, Politische Theologie.
Vier Kapitel zur Lehre von der Souveränität, Achte Auflage, Duncker & Humblot, Berlin, 2004 (Erste
Auflage, 1922), 43. Esiste una trad. it. in Carl Schmitt, Le categorie del ‘politico’. Saggi di teoria
politica, a cura di G. Miglio e P. Schiera, Bologna-Il Mulino, 1972, 61.
13
Lo hanno notato i primi commentatori: cfr., ad es., C. Consolo, Lusso o necessità nelle impugnazioni
delle sentenze? cit. 3, secondo il quale “la doppia (più o meno) conforme è un mito, forse di
ascendenza canonistica, che stupisce non poco veder secondato, dal momento che le sue basi
logiche e di sistema si sgretolano subito ad un’analisi neppure troppo minuta”; M. De Cristofaro,
Appello e cassazione cit., §1.2; G. Impagnatiello, Crescita del Paese cit. 6. Simili obiezioni furono a
suo tempo avanzate da A. Briguglio, Ecco il “filtro”! (L’ultima riforma del giudizio di cassazione), in
RDP 2009, 1275 ss., spec. 1280.
14
Cfr. F. Carnelutti, Lezioni di diritto processuale civile, Padova-Cedam 1926, vol. IV, n. 329, 234.
Nonché Id., Sistema di diritto processuale civile, II, Padova-Cedam 1938, 644, ove, in riferimento al
sistema italiano (quale profilato nel cessato c.p.c.), allude alla “combinazione del principio della
cassazione col principio della doppia conforme”. L’autore richiama pure il “sano principio della
doppia conforme” (Id., Lezioni cit., 260-264).
15
Compreso, nei limiti indicati alla nota che precede, Carnelutti.
16
Senza dimenticare V. Andrioli (In tema di motivazione della sentenza di merito rettificata dalla
pronuncia di rigetto della Cassazione; osservazione a Cass. Regno, 12 gennaio 1932, in Foro it., 1932,
I, 803), che vi fece ricorso a proposito del potere di rettificazione in diritto (i.e.: di correzione della
motivazione) che il Supremo Collegio esercitava nella prassi.
17
Cfr., se vuoi, sul punto, A. Panzarola, La Cassazione civile giudice del merito, Torino-Giappichelli
2005, vol. I, 118 ss.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 231
in facto), e dall’altro lato vi hanno rinvenuto più che altro un paradigma logico
per investigare la relazione fra il giudizio di cassazione ed il giudizio di rinvio nel
vigore del codice di rito del 1865 (ed in contemplazione di una previsione quale
quella che figurava nel cessato art. 547 cpv c.p.c. 1865, che, come noto, assegnava
al “punto di diritto” efficacia vincolante solo in seconda battuta).18
Ma sembra decisiva un’ulteriore osservazione. La “doppia conforme” ha
avuto una importanza determinante nel modello della cosiddetta “terza istanza”,19
nel suo concreto funzionamento, non meno che nella percezione che di esso
ebbero coloro che a suo tempo ne anteposero i pregi a quelli ricavabili dal diverso
sistema della “Cassazione”.20
Di qui il problema che le nuove norme (commi 4 e 5 art. 348-ter c.p.c.)
pongono: l’istituto della “doppia conforme” inavvertitamente21 si dischiude — dal
18
“Se la seconda sentenza” — adottata dal giudice di rinvio — “sia cassata per gli stessi motivi per
cui fu cassata la prima”, allora, stabiliva l’art. 547 comma 2 c.p.c. 1865, “l’autorità giudiziaria a cui è
rinviata la causa deve conformarsi alla decisione della Corte di cassazione sul punto di diritto sul
quale essa ha pronunciato”.
19
A. Panzarola, La Cassazione civile giudice del merito cit., 117 ss. (dove gli opportuni riferimenti
ai lavori di Taruffo, Picardi, D’Addio, ecc.). Naturalmente si trattava di un contrassegno non
immancabile, come emerge anche dai progetti di riforma della seconda metà del XIX sec. (cfr., ad
es., il progetto di legge Zanardelli, Cocco-Ortu del 1903, o, in certi limiti, i lavori della commissione
ministeriale istituita nel 1883 dal guardasigilli Giannuzzi-Savelli, di cui è nota la relazione dell’on.
Righi del 1884: Ibidem, 109-110, 136), nel contesto dei quali non era infrequente il tentativo di
combinare i caratteri della terza istanza con quelli della Cassazione. Si spiega in questo quadro
l’affiorante opinione secondo cui il principio della doppia conforme non è essenziale alla “terza
istanza” (cfr., per tutti, E. Caberlotto, v. Cassazione e Corte di cassazione, in Digesto italiano, VII, 1,
Torino 1887-1896, 52).
20
A. Panzarola, La Cassazione civile cit., 19 ss. (quanto ai presupposti della disputa — all’indomani
della unificazione nazionale — fra i fautori della terza istanza ed i sostenitori della Cassazione),
34, 38 ss., 81 ss. (per ipotesi di doppia, se non tripla conforme, nel quadro dei vari Giudici supremi
della tradizione nazionale), 117 ss. (quanto alla ratio dell’istituto e circa i suoi presupposti, ecc.).
Senz’altro la terza istanza appartiene alla tradizione storica italiana nell’arco dei secoli. Solo che,
dopo una certa data, è prevalso il modello della Cassazione. Unicamente avendo presente questo
dato (diremmo cronologico) si può condividere l’idea secondo cui quest’ultimo modello sarebbe
“quello che la tradizione storica italiana ci ha tramandato” (in tal senso C.M. Cea, Le incertezze
della Cassazione in tema di non contestazione ed il bisogno di nomofilachia, in Foro it. 2012: questi,
illustrando la differenza fra il modello della terza istanza e quello che affida alla corte il solo
controllo di legittimità, mostra di optare per il secondo sul rilievo, fra l’altro, secondo cui esso
è “quello che la tradizione storica italiana ci ha tramandato”). Sulla mutevolezza del modello di
Cassazione (percepibile anche adesso da molti punti di vista: cfr., per tutti, C. Punzi, La Cassazione
da custode dei custodi a novella fonte di diritto?, in RDP 2012, 567 ss.) v. infra in nota e nel testo
(spec. §4 e ss.). Sulla contrapposizione fra i due sistemi, nella cornice della evoluzione che
condusse alla unificazione delle Cassazioni regionali, v., in ultimo, N. Picardi, L’unificazione della
Corte di cassazione, in RTDPC 2012, 721 ss., spec. 723 ss.
21
Ci si potrebbe chiedere — per usare una frase di G. Chiovenda (Sulla cosa giudicata, in Id.,
Saggio di diritto processuale civile, rist. Milano-Giuffrè 1993, II, 399) impiegata ad altro fine — se
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
232 Andrea Panzarola
groviglio dei gradi di giudizio del modello della “terza istanza” della tradizione
storica nazionale22 — sulle architetture severe della Cassazione.
Si alimenta l’impressione23 di una fusione o, se si vuole, “ibridazione”
progressiva fra modelli diversi,24 nel quadro di una riforma peraltro protesa a
posporre la garanzia dello ius litigatoris alla tutela del c.d. ius constitutionis, a
privilegiare cioè la coerenza dell’ordinamento rispetto alle esigenze soggettive
del cittadino che reclama giustizia nel caso concreto.
Si tratterà di vedere, poi, in che modo possano coordinarsi gli scopi deflattivi
(pur contraddittoriamente)25 perseguiti dal nostro legislatore con la ratio26 che
usualmente si rinviene27 nel principio della “doppia conforme” (in ore duorum stat
omne verbum).
Tanto più che non sarà sempre agevole stabilire28 quando in effetti tale
conformità sussista: a fronte di un ricorrente che comunque deduca29 il motivo di
ricorso del vizio di motivazione, toccherà alla Suprema Corte impegnarsi a stabilire
non si tratti di una di quelle idee che “rimangono campate in aria dopo che le circostanze da
cui nacquero sono ormai dileguate”. Già A. Briguglio, Ecco il “filtro”! cit., 1276, lamentava — in
relazione alla riforma del “filtro” in cassazione — “la inconsapevolezza” con la quale, nelle sedi
ufficiali, si elaborano interventi relativi al giudizio dinanzi alla Suprema Corte.
22
V. la penultima nota.
23
Già illustrata — specie con riferimento alla decisione di merito della causa da parte della
Cassazione — in A. Panzarola, La Cassazione civile cit., passim e IX-XVI.
24
Cfr. M. Bove, La corte di cassazione come giudice di terza istanza, in RTDPC 2004, 947.
25
Si pensi alla ricorribilità per cassazione del provvedimento di primo grado dopo la pronunzia
della ordinanza di inammissibilità in appello (art. 348-ter comma 3 c.p.c.). In questo modo uno
dei problemi più gravi del nostro sistema — l’elevatissimo numero dei ricorsi davanti alla Corte
Suprema — parrebbe, anziché semplificato, accentuato. Il meno che si può dire è che non vi è una
chiara visione degli obiettivi che si vogliono perseguire: se la riscrittura dell’art. 360 comma 1 n. 5
viene effettuata verosimilmente per restringere il numero delle questioni sottoposte al sindacato
della Corte, per rendere più sollecita la sua attività, dall’altro lato (con l’art. 348-ter comma 3 cit.)
si apre un nuovo fronte per il Supremo Collegio.
26
La “doppia conforme” non tende (almeno in principio) a deflazionare il carico di lavoro del giudice
di vertice; si crede invece alla ragionevolezza intrinseca di “tenere fermo” il punto deciso da due o
più giudici.
27
O, per dir meglio, si “rinveniva”. E’ infatti diffusa l’idea che la “doppia conforme” rappresenti “un
retaggio ampiamente meritevole di sepoltura”: A. Briguglio, Ecco il “filtro”! cit., 1280. Si chiede
ancora l’A.: come è possibile evitare il controllo da parte della Cassazione se le due motivazioni
conformi poggiano su un assunto irrazionale (“il testimone non è credibile perché ha i capelli
rossi”)? In senso conforme v. ora C. Consolo, Lusso o necessità nelle impugnazioni delle sentenze?
cit. 3.
28
Il dubbio è ovviamente risalente: cfr., se vuoi, A. Panzarola, La Cassazione cit., I, 138 ss.
29
Nel rispetto del principio di autosufficienza (sul quale v. infra, note 84 e 87 ss.), che verosimilmente
si estenderà (con la sua ombra minacciosa) anche alla fattispecie sotto esame (onerando il
ricorrente — nella situazione descritta — della dimostrazione della diversità delle motivazioni
che figurano nei due provvedimenti dei giudici inferiori).
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L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 233
30
Si prendano gli “Atti Parlamentari, Camera dei Deputati, XVI Legislatura, n. 1441-bis-B”. Riferiamoci
all’art. 29 del disegno di legge soppresso dal Senato, che prevedeva, nell’art. 360-bis, 2º comma,
c.p.c., questa norma: “Non è dichiarato ammissibile il ricorso presentato ai sensi dell’articolo 360,
primo comma, numero 5), avverso la sentenza di appello che ha confermato quella di primo grado”.
In effetti, a suo tempo si indicarono gli argomenti che si opponevano alla introduzione di una
previsione consimile (cfr., se vuoi, Il “filtro” legale all’accesso in Cassazione, Testo della nostra
relazione al convegno organizzato dalla Università di Foggia del 2 ottobre 2009).
31
Cfr. G. Impagnatiello, Crescita del Paese cit., 7.
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234 Andrea Panzarola
32
Lo stesso dicasi circa il comma 4 art. 383 c.p.c., che assoggetta il giudizio di rinvio (che segua alla
cassazione del provvedimento di primo grado impugnabile dopo la adozione della ordinanza di
inammissibilità dell’appello) agli artt. 392 e ss. c.p.c.
33
E cioè da martedì 11 settembre 2012 (i.e.: dal trentesimo giorno successivo a quello di entrata in
vigore della legge di conversione del decreto stesso).
34
Sulla situazione anteriore e sul dibattito che precedette la entrata in vigore del codice del 1940,
v., in ultimo (anche per riferimenti), M. Bove, Giudizio di fatto e sindacato della corte di cassazione:
riflessioni sul nuovo art. 360 n. 5 c.p.c. cit., spec. §2. La Relazione Grandi (ricordata sia da Bove
che da G. Impagnatiello, Crescita del Paese cit., §8) conferma, indirettamente, la diffusione che
il controllo sulla motivazione aveva assunto nella prassi: “la pratica giudiziaria aveva dato” ad
esso una “estensione così esorbitante e così lontana dalle sue origini testuali”, che un intervento
correttivo era necessario (non nel senso di impedire il ricorso per motivi inerenti alla motivazione,
ma per restringerlo piuttosto all’omesso esame di un fatto decisivo per il giudizio: v. nota seg.).
35
Lo scopo dichiaratamente perseguito fu quello di arginare certi orientamenti giurisprudenziali.
La Relazione Grandi esprime l’avviso secondo cui, anziché sopprimere il vizio forgiato dalla prassi,
fosse preferibile “conservarlo ristretto e precisato nella nuova formula, che lo ammette non nella
quasi illimitata ampiezza alla quale la pratica era arrivata nell’adattamento delle norme del codice
del 1865, ma nei limiti precisi di un omesso esame di un fatto decisivo per il giudizio del quale le
parti avevano discusso”.
36
La preposizione “circa” è stata tratta dalla versione dell’art. 360 comma 1 n. 5 c.p.c. quale introdotta
dalla riforma del 2006.
37
Non condiviso in dottrina: v. retro in nota 4 per riferimenti.
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L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 235
codice. Con la riforma del 1950, non solo si sostituì la parola “fatto” con quella di
“punto” (oltre che prospettato dalle parti anche rilevabile d’ufficio), ma si estese il
controllo della Cassazione anche alla motivazione insufficiente o contraddittoria.
Ne risultò una previsione che ammetteva il ricorso “per omessa, insufficiente
o contraddittoria motivazione circa un punto decisivo della controversia
prospettato dalle parti o rilevabile d’ufficio”. Lo scopo perseguito, quale delucidato
nella Relazione alla riforma, era di ricollegare il “controllo dell’omissione di
accertamento o di motivazione a qualsiasi emergente vizio di motivazione sul
punto decisivo, quale l’irrazionalità e la deficienza del processo logico e la sua
insanabile contraddizione”.38
Nel 2006 (con il d.lgs. n. 40 del 2006) il legislatore — onde circoscrivere il
sindacato del Supremo Collegio sulla motivazione in fatto — è nuovamente
intervenuto, sostituendo la parola “punto” (prospettato dalle parti o rilevabile
d’ufficio) con il termine “fatto”, il quale, oltre che “decisivo”, doveva essere
“controverso”:39 sicché il ricorso era ammesso nel caso di “omessa, insufficiente o
contraddittoria motivazione circa un fatto controverso e decisivo per il giudizio”.
Evidentemente la riforma40 non ha dato i frutti sperati, se a distanza di pochi anni
la norma viene ancora una volta41 riformulata in senso restrittivo, per proteggere
38
Così la Relazione Grassi alla riforma del ‘50.
39
Per essere stato oggetto di contestazione (esclusa in presenza di una tacita accettazione): cfr.,
sul punto, B. Sassani, Il nuovo giudizio di cassazione, in RDP 2006, 216 ss.,spec. 225; F.P. Luiso-B.
Sassani, La riforma del processo civile, Milano-Giuffrè 2006, 64. Per la possibilità del controllo in
ordine alla determinazione dei fatti pacifici (se la discussione si appunti sulla loro concludenza), v.
R. Poli, Il giudizio di cassazione dopo la riforma, in RDP 2007, 9 ss., 12; M. Taruffo, Una riforma della
cassazione civile?, in RTDPC 2006, 755 ss., spec. 780; A. Tedoldi, La nuova disciplina del procedimento
di cassazione: esegesi e spunti, in GI 2006, 2002 ss., 2007.
40
Che sembra aver “raccolto il grido di dolore proveniente dalla Suprema Corte oppressa da un
numero incredibilmente alto di ricorsi”: così G. Verde, In difesa dello jus litigatoris (sulla Cassazione
come è e come si vorrebbe che fosse), in RDP 2008, 1 ss., 3 ss., nonché Id., Jus litigatoris e jus
constitutionis, in Il difficile rapporto tra giudice e legge, con introduzione di N. Irti e prefazione di G.
Bianco, Napoli-ESI 2012, 11 ss., 15); in genere si ritiene che “la Novella del 2006 ha notevolmente
aggravato il lavoro della Cassazione”: così G.F. Ricci, Ancora insoluto il problema del ricorso per
cassazione, in RDP 2010, 102 ss., spec. 102-103; v. pure, sul punto, A. Carrato, I motivi di ricorso, in
Il nuovo giudizio di cassazione, a cura di G. Ianniruberto e U. Morcavallo, Milano-Giuffrè 2007 (la II
ed. è del 2010), 217 ss., 237 ss.
41
Per la terza volta. Potrebbe essere la volta buona! Non solo il tre è “notoriamente principe dei
numeri” (B. Cavallone, Postilla a S. La China, Tra i Vangeli e la legge sul processo civile dell’Arabia
Saudita: spunti di riflessione sulla formazione della prova, in RDP 2012, 687; del resto, omne trinum
est perfectum), ma “la sequenza del tre è una progressione dalla irrilevanza alla rilevanza” (S. La
China, op. cit., 683). Però, se si esce dalla numerologia, le previsioni non possono essere altrettanto
ottimistiche (v. infra nel testo). Per di più — ancora sul filo del paradosso — si potrebbe segnalare
la data di entrata in vigore della riforma (11 settembre 2012).
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236 Andrea Panzarola
la Cassazione — si dice42 — dal (preteso) “abuso dei ricorsi per cassazione basati
sul vizio di motivazione non strettamente necessitati dai precetti costituzionali”
(fra i quali, peraltro, è compreso quell’art. 111 comma 8 Cost., che, secondo logica,
va letto come se esigesse qualcosa di più43 che una motivazione “apparente”).44
Ad ogni modo, chi confronti le due versioni — la odierna e quella inserita nel
2006 — ricaverà queste differenze:
(a) ora rileva solo l’omesso esame “circa” un fatto, mentre il testo abrogato
permetteva il controllo anche della “insufficiente o contraddittoria
motivazione circa un fatto”;
(b) adesso la norma si riferisce al fatto “decisivo per il giudizio che è stato
oggetto di discussione tra le parti”, quando invece il testo precedente
alludeva al “fatto controverso e decisivo per il giudizio”.
S’intuisce che la vera modifica concerne il punto sub (a).
Quanto al punto sub (b), si noterà che (fermo restando il richiamo del
“fatto decisivo”) la locuzione “fatto controverso” (che figurava nel cessato n. 5
cit.) coincide nella sostanza con il fatto “che è stato oggetto di discussione tra le
parti” (versione attuale del n. 5), per essere stato da loro prospettato o comunque
sottoposto al loro contraddittorio se profilato ex officio.45 Sul piano sistematico
quest’ultima precisazione consente al solito di distinguere la fattispecie sotto
esame — di “omesso esame circa un fatto”, che trapeli dalla motivazione della
decisione impugnata, — dal vizio revocatorio dell’errore di fatto (art. 395 n. 4
c.p.c.), che si riallaccia ad un fatto che “non costituì un punto controverso sul quale
la sentenza ebbe a pronunciare”.46
42
Così la relazione al testo del d.l. n. 83/2012.
43
Osserva C. Consolo, Spiegazioni di diritto processuale civile. Il processo di primo grado e le
impugnazioni delle sentenze, cit., I ed., Torino-Giappichelli 2010, III, 379, che “soltanto il caso di
omessa motivazione e probabilmente quello di motivazione intrinsecamente contraddittoria
appaiono davvero casi che si pongono in antinomia rispetto alle esigenze del giusto processo
quali desumibili sia dall’art. 6 Cedu che dall’art. 111, co. 2, Cost”.
44
Cfr., per tutti, M. De Cristofaro, Appello cit., §1, secondo cui “la garanzia della motivazione non è
garanzia della motivazione purchessia, bensì una motivazione che abbia un coerente sviluppo
logico, altrimenti essa a nulla serve”.
45
Quel “tra le parti” non può evidentemente essere inteso nel senso che sopprima il sindacato sui
fatti prospettati d’ufficio: lo lascia intendere, con ragione, M.A. Zumpano, Opinione, in htpp://
www.judicium.it.
46
Si tratta naturalmente di una distinzione accolta nel vigente c.p.c. ma certo non immutabile. Lo
si può dire con uno sguardo rivolto, non solo alla profondità del tempo (cfr., al riguardo, per tutti,
G. Impagnatiello, Il concorso tra cassazione e revocazione. Contributo allo studio della formazione
e dell’impugnazione del giudicato, Napoli-ESI 2003, 50 ss., spec. 56 e nota 129, 65 e nota 137),
ma pure alla attualità. Si veda, a quest’ultimo riguardo, la proposta autorevolmente elaborata
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L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 237
(in esito ad una riflessione protrattasi nel tempo: ibidem, 373 ss., spec. 381) da Andrea Proto
Pisani, nel quadro di un progetto per un nuovo codice di procedura civile (Per un nuovo codice di
procedura civile, in Foro it., 2009). Nel n. 2 dell’art. 2.178 (“provvedimenti impugnabili e motivi di
ricorso”) figura — quale motivo di ricorso per cassazione — l’errore di fatto “decisivo”, “risultante
da atti o documenti della causa”, alla condizione (la medesima che compare all’art. 395 n. 4 c.p.c.)
che “non costituì un punto controverso sul quale la sentenza ebbe a pronunciare”.
47
Sulla quale v., per tutti, G.F. Ricci, La Suprema Corte tra funzione nomofilattica e tutela dello ius
litigatoris. Il problema alla luce del controllo della motivazione, in RTDPC 2009, 572 ss.
48
Diversamente a dirsi se il confronto fosse istituito con altre proposte di riforma. Cfr., ad es., Per un
nuovo codice di procedura civile cit., spec. art. 2.178 menzionato retro in nota 46.
49
O, per dir meglio, vi debbano essere quegli spazi. In caso contrario le conseguenze sarebbero
gravissime (v., ad es., la dimostrazione al riguardo di B. Sassani, La logica del giudice e la sua
scomparsa in Cassazione cit.: verrebbe meno la possibilità di controllare le presunzioni operate dal
giudice di merito, non meno che l’utilizzo dei concetti “a fattispecie ampia” appartenenti al diritto
sia sostanziale che processuale; in conclusione — nota l’a., op. cit., 3 — “la disinvolta eliminazione
dell’ampio controllo del n. 5 non elimina solo il controllo sulla rappresentazione/ricostruzione
dei fatti storici..., ma taglia alla radice la possibilità di verifica di quella miriade di giudizi la cui
rappresentazione nella sentenza forma la base della piramide sulla quale si assidono ricognizione
ed interpretazione della norma”).
50
Peraltro, la nostra impressione è che solo la motivazione mancante e quella contraddittoria possano
essere ricondotte — nei modi che stiamo indicando nel testo — ad un vizio di violazione di legge,
non anche la motivazione insufficiente. Per poterlo sostenere, si dovrebbe convenire con chi ritiene
che, nel caso in esame, venga in rilievo la violazione delle norme relative al metodo legale che
sovrintende al giudizio di fatto. Sulla tesi di Bove v. infra alle note 125 e ss. e nel testo (§6).
51
Ci si può richiamare (fra i tanti) alla autorità di Giuseppe Chiovenda. Il quale, come noto, a
proposito della nullità della sentenza (ex art. 517, cit., nn. 2 e 7, c.p.c. 1865) precisava che “quanto al
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238 Andrea Panzarola
difetto di motivazione, che rappresenta il più frequente motivo di ricorso”, occorreva “distinguere
la mancanza d’indicazione di motivi nella sentenza (che è una vera nullità del resto assai difficile a
verificarsi”), da un verso; “dal vizio di ragionamento che si risolve piuttosto in una falsa applicazione
di legge”, dall’altro verso (G.Chiovenda, Principii di diritto processuale civile, Napoli-Jovene 1980,
rist. inalterata della terza edizione con prefazione di Virgilio Andrioli, 1032).
52
V. la nota che precede.
53
Il riferimento è alla “violazione di legge” che compare nell’art. 111 comma 7 Cost. Come noto,
era dubbio se tale locuzione comprendesse o meno il vizio di motivazione secondo tutte le
“modalità” con le quali era declinato nel (cessato) n. 5 comma 1 art. 360 c.p.c. Si ricorderà che la
giurisprudenza, a partire da un certa data (Cass., sez. un., 16 maggio 1992, n. n. 5888; si rinvia sul
punto, anche per riferimenti, a R. Tiscini, Il ricorso straordinario in cassazione, Torino-Giappichelli
2005, 292 ss.; B. Sassani, Corte suprema e jus dicere, in GI, 2003, 822 e nota 2), ha ammesso il
ricorso straordinario per cassazione solo se il vizio di motivazione (che inficiava il provvedimento
impugnato) equivalesse alla “mancanza assoluta di giustificazione della decisione”. Non lo
consentiva, viceversa, riguardo alla censura che si appuntasse sulla “sufficienza” e “logicità”
della motivazione. Il nucleo di questo ragionamento era questo: solo la motivazione mancante
o apparente sarebbe sindacabile in Cassazione, trattandosi di vizi che incidono sul modello di
sentenza descritto dall’art. 132, n. 4, c.p.c. e che determinerebbero, quindi, la violazione di una
norma di diritto (prevista quale motivo di ricorso sia dall’art. 360, n. 3, c.p.c., che dal n. 4 del
medesimo articolo, sub specie di nullità della sentenza). V. ora art. 360 comma 4 c.p.c. (che, per
effetto del d.lgs. 2 febbraio 2006, n. 40, omologa ricorso “straordinario” ed ordinario, superando la
linea giurisprudenziale veduta).
54
Si pensi alla commistione del nostro vizio con la censura di violazione di legge, che si ritrova
nei casi nei quali si denunzi il quomodo della concretizzazione dei concetti indeterminati o delle
clausole generali, ecc. Non a caso, nell’ambito del controllo motivazionale che la Cassazione fa
della applicazione dei concetti indeterminati da parte del giudice di merito, talvolta essa giunge
a fissare principi di diritto (B. Sassani, Lineamenti del processo civile italiano, 3. ed., Milano-Giuffrè
2012, 559, 543; Id., Il nuovo giudizio cit., 225 e nota 16). Ad ogni modo, allo stato, la giurisprudenza
tende ad affermare che il giudizio di merito applicativo di norme elastiche è soggetto al controllo
di legittimità al pari di ogni altro giudizio fondato su norme di legge, e ciò in ragione del fatto
che, “nell’esprimere il giudizio di valore necessario per integrare una norma elastica (che, per la
sua stessa struttura, si limita ad esprimere un parametro generale), il giudice di merito compie
un’attività di interpretazione giuridica e non meramente fattuale della norma stessa, dando
concretezza a quella parte mobile (elastica) della stessa, introdotta per consentire alla norma
stessa di adeguarsi ai mutamenti del contesto storico-sociale”: Cass. 6 aprile 2006, n. 8017); cui
adde Cass. 13 maggio 2005 n. 10058; Cass. 2 novembre 2005, n. 201213. Cfr., sul punto, M. Bove, Il
sindacato della Corte di cassazione. Contenuto e limiti, Milano-Giuffrè 1993, spec. 17 ss. e 105 ss. (a
proposito della struttura e del sindacato dei concetti giuridici indeterminati); E. Fabiani, Clausole
generali e sindacato della Corte di cassazione, Torino-Giappichelli 2003, passim.
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L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 239
(costituzionale),55 una volta che si faccia derivare dall’art. 111 comma 6 Cost.
l’esigenza di una motivazione, non quale che sia (i.e.: “apparente”), ma altrettanto
perspicua che coerente.56
Si è poi proposto di rinserrare57 i difetti di insufficienza e contraddittorietà
della motivazione tra i requisiti di forma-contenuto della sentenza, quale profilati
dall’art. 132 c.p.c., quando si dimostri58 che questo precetto elevi la idoneità della
sua parte motiva a requisito di validità del provvedimento conclusivo del processo.
La fantasia degli avvocati non mancherà forse neppure di ipotizzare,59
nella situazione data, una violazione del principio della domanda, rimodulato in
contemplazione di un quadro normativo mutato.60
Sicché — ora in relazione all’art. 111 comma 6 Cost, ora in connessione con
l’art. 11661 c.p.c., ora in congiunzione con gli artt. 132 e 156 c.p.c., ora in rapporto a
tutte quante queste disposizioni,62 — verrà denunziata dai ricorrenti la violazione
dell’art. 360 comma 1 c.p.c., o del suo n. 3 o del suo n. 4 o — come l’esperienza
di decenni63 sta lì a dimostrare — promiscuamente di entrambi. Difatti, se gli
scrittori si attarderanno64 a ricondurre more geometrico il “nuovo-vecchio” vizio
55
Cfr., per uno spunto in tal senso, M.A. Zumpano, Opinione cit.
56
Anche in connessione con la funzione della motivazione, che viene elevata a strumento per
l’esercizio del controllo democratico della giurisdizione: così, intorno a questa garanzia, C. Di Iasi,
Il vizio di motivazione, in La Cassazione civile. Lezioni dei magistrati della Corte suprema italiana, a
cura di M. Acierno, P. Curzio e A. Giusti, Bari-Cacucci 2010, 167.
57
In senso contrario, v., però, non da ora, F.P. Luiso, Diritto processuale civile, II, cit., 423, secondo cui
“l’obbligo di motivare non include anche l’obbligo di motivare correttamente”. Risuona l’antica
obiezione (in ultimo illustrata da M. Fornaciari, Ancora una riforma dell’art. 360 cit., §4, 4) secondo
la quale, interpretando in tal modo la norma, si finirebbe per renderla contraddittoria: “dato che
le farebbe imporre la necessità di una cosa inutile (tale è, con tutta evidenza, una motivazione
qualsiasi), e dunque, per definizione, non necessaria”.
58
Cfr., in ultimo, in tal senso, M. Bove, Giudizio cit., 4; M. De Cristofaro, Appello e Cassazione cit., §1.1.
(con riguardo alla motivazione “veramente illogica”); M. Fornaciari, Ancora una riforma sull’art. 360
cit.; M. Zumpano, Opinione cit.
59
M. Zumpano, Opinione cit.
60
Del resto, è stato detto che “ciò che si evolve, che non può non evolversi, che si deve evolvere,
non è l’interpretazione, ma l’ordinamento giuridico che è oggetto della interpretazione” (S.
Romano, Frammenti di un dizionario giuridico, rist. Milano-Giuffrè 1983, 122, a proposito della
“interpretazione evolutiva”).
61
Cfr., per questo richiamo, R. Caponi, La riforma dell’appello civile cit., 12.
62
Per non dire dell’art. 112 c.p.c. (richiamato retro, nel testo ed in nota 59, in rapporto al principio
della domanda).
63
Registrata a suo tempo da V. Andrioli, Diritto processuale civile, I, Napoli-Jovene 1979, 862 (“la
esperienza pratica del giudizio di cassazione” — notava l’A. — “pone in chiara evidenza che il vizio
di falsa applicazione di norme di diritto, lungi dal presentarsi allo stato puro, viene prospettato in
collegamento con la ‘denuncia’ di insufficiente o contraddittoria motivazione di punto decisivo”,
in forma alternativa o globale).
64
Cfr. la plausibile previsione di M. Bove, Giudizio cit., 8 (alcuni autori rinvierebbero al n. 4, altri al
n. 3, ed altri proverebbero a dilatare le maglie del n. 5).
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240 Andrea Panzarola
65
Come ovvio e doveroso, del resto. V. infra in nota 104 per una significativa esemplificazione.
66
L’espressione è di M. Bove, Giudizio cit. 5 e 8, ed è riferita alla prassi formatasi nel vigore della
formula originaria dell’art. 360 comma 1 n. 5 c.p.c. (quale figurava, cioè, nel codice di procedura
civile del 1940). Può essere adattata al nostro caso, come suggerisce l’a., secondo il quale (op.
cit., §4) non cambierà sostanzialmente nulla. Su questo punto sembra concordare anche G.
Impagnatiello, Crescita del Paese e funzionalità delle impugnazioni civili cit., §8. Per la posizione di
M. Fornaciari v. infra in nota 68.
67
L’immagine è di C. Consolo, Lusso o necessità nelle impugnazioni delle sentenze? cit., 4. Se si riflette
sulla sua importanza nella esperienza del diritto (cfr., per tutti, F. Cordero, v. Giudizio, in Nss. dig. it.,
VII, Torino, 1961, 881 ss.), s’intuiscono le conseguenze che deriverebbero dalla eliminazione di un
controllo sul “giudizio” del giudice d’appello.
68
Insomma, sul “giudizio” del giudice inferiore. L’idea di M. Fornaciari, Ancora una riforma dell’art. 360
cit. che la riforma in esame possa essere impiegata anche (vorremmo dire) in melius, non a caso,
è prospettata nella dichiarata consapevolezza (ibidem, §3) che “la storia sta a dimostrare che tale
controllo” (i.e.: il controllo di motivazione) “è insensibile al dato normativo contingente” e che il
quadro prefigurato ha un valore essenzialmente “teorico” ed “accademico”. Tanto doverosamente
precisato, il ragionamento dell’A. si innesta su due premesse. Da un lato, si sottolinea che l’art. 360
primo comma n. 5 c.p.c. si riferiva sino ad ora alle sole categorie della motivazione insufficiente
o contraddittoria ed omessa. Dall’altro lato, si evidenzia che “non tutti i vizi logici possono essere
ricondotti a tali due categorie, quantomeno ove esse vengano intese rigorosamente”. Ebbene,
nella nuova situazione normativa, caduto quel riferimento limitante, si aprirebbe il varco
(all’impiego dell’art. 132 c.p.c. — interpretato nel senso che eleverebbe la motivazione “idonea” a
requisito di validità della sentenza: v. retro nel testo ed in nota 58 — e quindi) ad un controllo pieno
della motivazione, consentendo in altri termini la censurabilità “di qualunque tipo di vizio logico”.
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69
Ad ogni modo è importante evidenziare (con B. Sassani, La logica del giudice cit., 5 nt. 1, cui si
deve la preziosa notazione) che il controllo della motivazione se lo “inventò” la “Corte delle origini”
(Cour de cassation, chambre civile 26 ottobre 1808, in un litigio relativo a diritti feudali).
70
Ecco perché giudichiamo fuorviante anche solo alludere ad un modello “tradizionale”di Cassazione.
Si sa infatti che l’organo ha esibito nel tempo una mutevolezza senza pari. E suona come un
espediente retorico, il rinvio che vi è operato da coloro che, lamentando lo stato presente dell’istituto,
tratteggiano una sua condizione “aurorale” ed originaria (che non si sa davvero se sia mai esistita).
71
P. Calamandrei, La Cassazione civile, Torino-Fratelli Bocca, 1920, v. I, 576.
72
Così A. Pizzorusso e A. Proto Pisani, in Foro it. 1987, V, 205 ss. e spec. 211, n. 9 (introducendo la
serie di studi denominata “Per la Corte di cassazione”). Da una parte, non diversamente da tutte le
norme che si riferiscono alle Corti Supreme, “la loro applicazione è sottratta a qualsiasi specie di
controllo” (A. Pizzorusso e A. Proto Pisani, op. loc. cit.). Dall’altra parte, si tratta di norme strettamente
legate al perseguimento (e conseguimento) dei compiti istituzionali della Cassazione; sicché
non potrebbero “non essere legittimamente influenzate, a livello di interpretazione sistematica,
dall’art. 65 dell’ordinamento giudiziario” (s’intende, dalla esigenza di consentire alla Corte di
attendere alla propria funzione di nomofilachia: op. loc. cit.).
73
Cfr., sul punto, la dimostrazione di M. Bove, Giudizio cit. spec. 4 (dove osserva riassuntivamente che,
a dispetto della apparenza, “il classico e tradizionale vizio logico” della motivazione continuava a
trovare spazio nella giurisprudenza della Cassazione).
74
Come è agevole dedurre dalla Relazione al d.l. n. 83, con la riforma, se si è inteso arginare il contenzioso
in sede di legittimità, lo si è fatto nel quadro della rivalutazione della funzione nomofilattica della
Cassazione.
75
Per esprimere una valutazione realistica al riguardo, vanno ponderati molti elementi. Si prendano,
ad esempio, i casi nei quali è stata (sino ad oggi) denunziata la contraddittorietà della motivazione.
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Ebbene, sembra proprio che, visto il loro numero limitato, pur se fossero esonerati dal controllo
del Supremo Collegio, non si determinerebbe una autentica diminuzione della quantità dei
ricorsi. In tal senso v. M. De Cristofaro, Appello e cassazione cit., §1; M. Bove, Giudizio cit. 7 ss.; R.
Caponi, Contro il nuovo filtro in appello e per un filtro in cassazione cit., 11; G. Impagnatiello, Crescita
del paese cit. 7.
76
Si fa notare, poi, che il legislatore (espungendo dal n. 5 comma 1 art. 360 c.p.c. entrambe le
ipotesi) sembra trattare allo stesso modo la motivazione insufficiente e quella contraddittoria.
Ma le due ipotesi meritano separata considerazione: M. De Cristofaro, Appello e cassazione cit.,
§1.1. L’A. — mentre riconosce che la proposta di eliminare il motivo di ricorso che si innesta sulla
denunzia della “insufficiente” motivazione è in discussione da molti anni (dalla adozione della
c.d. Bozza “Brancaccio-Sgroi”, trasmessa al C.S.M. il 14 marzo 1988, in Quad. C.S.M. 34/90, pp. 400
ss.) — mostra di credere che, “rispetto ad essa, non vi sarebbero strali da destinare al legislatore”,
non foss’altro perché “avrebbe un impatto veramente efficace, consentendo di dichiarare
inammissibili de plano tutti i ricorsi o motivi di ricorso che nella sostanza puntano ad un terzo
grado di merito” (si può ricordare l’avviso di G. Calogero, La logica del giudice e il suo controllo in
cassazione, Padova, 1937, II ed., Padova 1964, 172 ss., che sollecitava la eliminazione di qualunque
controllo interno della motivazione in facto; equilibrato sembra, peraltro, il giudizio di A. Criscuolo,
I provvedimenti ricorribili. Il ricorso nell’interesse della legge, in Il nuovo giudizio di cassazione, a cura
di G. Ianniruberto e U. Morcavallo cit., 163-164, il quale — se sottolinea che la determinazione del
confine tra valutazione sufficiente ed insufficiente “implica un inevitabile tasso di soggettivismo”
e comunque comporta uno “sconfinamento nell’ambito valutativo riservato al giudice di merito”
— al contempo riconosce che proprio “il controllo della sufficienza della motivazione non
di rado consente di porre rimedio a pronunzie palesemente non conformi al diritto”). Quanto
invece alla cancellazione della possibilità di sindacare la motivazione “contraddittoria”, essa — ad
avviso di M. De Cristofaro, Appello e cassazione cit.— si palesa altrettanto pericolosa che di scarso
impatto sul piano pratico. Osserviamo ancora che — se si pensa agli estremi della motivazione
contraddittoria (quali ritenuti in giurisprudenza: v. note 84, 87 e 99) — pare davvero difficile
immaginare che si possa fare a meno di un controllo al riguardo da parte della Cassazione.
77
Nella consapevolezza che la “logicità” controllabile (e controllata dal Supremo Collegio) non è
altro che l’empirica congruenza causale fra il noto e l’inferito. Per di più, se l’inferenza probabilistica
può essere ripercorsa ab intus, questo vorrà comunque dire — né più né meno — che quel
controllo che la Corte è autorizzata ad esercitare può vertere sulla (e non eccedere la) plausibilità,
evincibile ex actis e modulata sulla comune esperienza, di certune interpretazioni di accadimenti,
sul presupposto accolto e non disputato delle circostanze di fatto contenute negli atti stessi. V.,
per un discorso più articolato, se vuoi, A. Panzarola, La Cassazione civile cit., II, 674 ss.).
78
Della stessa Corte di cassazione. Cfr. M. Bove, Giudizio cit., spec. 2 ss.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 243
79
Si potrebbero anzi impiegare le parole di L. Mortara: “la corte di cassazione” — scriveva il Maestro
mantovano nel Commentario del codice e delle leggi di procedura civile, Milano-Vallardi, s.d., II, n. 16
ss. (spec. 19-20), nonché vol. IV, 543 — “non è istituita per la difesa astratta del diritto obiettivo,
ma per mezzo di tale difesa tende a reintegrare il diritto subiettivo dei litiganti, al pari di ogni
altro organo della funzione giurisdizionale; giudica, cioè, de iure litigatoris et de iure constitutionis;
e prima di quello che di questo, poiché il reclamo del cittadino che reputa leso il proprio diritto
dalla sentenza del giudice inferiore è la causa normale che provoca l’esercizio della funzione
giurisdizionale”.
80
E’ nota la obiezione sul punto di P. Calamandrei, La Cassazione civile cit., II, n. 100, 3 B, b, 256,
n. 121, 371 ss. (ove allude a ciò che, nelle intenzioni del legislatore, il vizio di omessa motivazione
avrebbe dovuto individuarsi nel solo caso in cui il giudice avesse mancato di dire; occorreva
ribaltare, così, il punto di vista pur dominante nella pratica del tempo, secondo il quale nel vizio
di motivazione incorreva il giudice “non per non aver detto, ma per non aver pensato”).
81
E’ del resto frequente la affermazione (v., ad es., sulle orme chiovendiane, M. Ricca-Barberis,
Ampliamento dei difetti rilevabili in Cassazione, in GI 1942, IV, 17 ss.) secondo cui la contraddittorietà
o insufficienza della motivazione è “nel suo significato più esatto”, un “aspetto della violazione di
legge”. Laddove invece la mera mancanza materiale della motivazione metterebbe capo ad un
errore formale. Del resto, da altro punto di vista, si sa che non pochi scrittori (tra gli altri, Carnelutti,
Calamandrei, Segni) optarono per la natura di errore in iudicando del vizio di motivazione: sia
consentito rinviare, per riferimenti, ad A. Panzarola, La Cassazione civile cit., II, 471-472, 744 ss.
82
L’art. 517, n. 2, c.p.c. 1865 stabiliva che la “sentenza pronunciata in grado d’appello può essere
impugnata col ricorso per cassazione” alla condizione che “sia nulla a norma dell’art. 361”: se
mancante, in altre parole, dei motivi in fatto o in diritto prescritti dall’art. 360 del medesimo
codice (cui rinviava l’art. 361, cit., n. 2).
83
L. Montesano, “Antipositivismo” e “oralità” del giudizio in un recente libro, in RTDPC 1966, 1480 ss.,
spec. 1486 (in commento complessivamente favorevole al libro di M. Massa, Contributo all’analisi
del giudizio penale di primo grado, Milano-Giuffrè 1964, già recensito criticamente da V. Denti, in
RDP 1966, 114-115).
84
Si rinviene in giurisprudenza la affermazione — in relazione al tema in esame — secondo la
quale, “ove venga dedotto vizio di motivazione per incongruità o insufficienza della motivazione
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244 Andrea Panzarola
stessa motivazione85 con le risultanze del processo86 (quali filtrate dal ricorso o
controricorso).
E la Corte di cassazione, sebbene con l’opinabile richiamo della autosuffi-
cienza87 — che comunque non si risolve in un mero vaglio della motivazione ab
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L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 245
intra88 (e che riflette semmai un rifiuto formalistico89 d’una “ispezione” delle prove90
agli atti) —, non ha deflettuto da questa tendenza.
Di fronte a questa situazione come si pone la nuova norma?
Posto che consente di denunziare soltanto l’omesso esame di un fatto
decisivo e discusso, si potrebbe finanche sostenere che la norma91 si riferisca alla
mancanza (grafica)92 della parte motiva della sentenza, per quanto in tal caso
il vizio sarebbe comunque censurabile quale violazione dell’art. 132 c.p.c. (in
rapporto all’art. 360 comma 1 n. 4 c.p.c., nella forma di errore in procedendo).
Ma, cosa ancora più importante, se la Cassazione limitasse il nuovo n. 5
comma 1 art. 360 cit.) alla mancanza assoluta di giustificazione della decisione,
si giungerebbe di fatto alla amputazione di un profilo essenziale del vizio di
motivazione: si conserverebbe il sindacato sulla violazione più eclatante della
legge processuale (vizio di attività), per negare il controllo della motivazione
88
Anche nell’ultimo anno, non mancano pronunzie che, in omaggio al principio di autosufficienza,
affermano (in linea con la giurisprudenza ricordata retro in nota 84) la inammissibilità del motivo
di ricorso per cassazione col quale il ricorrente denuncia la “contraddittorietà della motivazione”
della sentenza impugnata, senza trascrivere le proposizioni che si assume siano “contraddittorie”,
ovvero tra loro inconciliabili e tali da elidersi a vicenda (Cass., 2 marzo 2012, n. 3248).
89
Si sa che “autosufficienza” e “specificità” del motivo (di qualunque motivo — R. Poli, Specificità
cit., 1254; S. Rusciano, Il contenuto del ricorso per cassazione cit. 288 —, compreso quello sotto
esame) si confondano. Come noto, l’onere (che grava sul ricorrente) della indicazione dei motivi
di impugnazione è prescritto sotto pena di inammissibilità del ricorso (art. 366, comma 1, n. 4 c.p.c.),
in rapporto — dice la Suprema Corte — a qualunque errore (in procedendo o in iudicando) per cui
è proposto: detto onere, più precisamente, “non può essere assolto per relationem con il generico
rinvio ad atti del giudizio di appello, senza la esplicazione del loro contenuto”. Vi è infatti un preciso
onere di indicare, in modo puntuale, “gli atti processuali ed i documenti sui quali il ricorso si fonda”,
come pure “le circostanze di fatto che potevano condurre, se adeguatamente considerate, ad
una diversa decisione”. Per regola generale, infatti, nel ricorso debbono essere contenuti “tutti gli
elementi che diano al giudice di legittimità la possibilità di provvedere al diretto controllo della
decisività dei punti controversi e della correttezza e sufficienza della motivazione della decisione
impugnata” (Cass. 31 maggio 2011, n. 11984; Cass. 30 marzo 2011, n. 7232 e Cass. 15 marzo 2011,
n. 6091, in GC 2011, I, 1177, con nota di A. Didone; Cass. 27 gennaio 2011, n. 2018, in GC 2011, I,
885; Cass. 3 luglio 2008, n. 18202).
90
In quanto, stando al principio di autosufficienza del ricorso per cassazione, il controllo della
Cassazione deve essere permesso “sulla base delle deduzioni contenute nel medesimo” (ricorso),
“alle cui lacune non è possibile sopperire con indagini integrative, non avendo la Suprema Corte
accesso agli atti del giudizio di merito”( Cass. 2 marzo 2012, n. 3239; cui adde Cass. 10 marzo 2011,
n. 5700).
91
V. retro in nota 76 a proposito della critica mossa al legislatore per avere equiparato la motivazione
“insufficiente” a quella “contraddittoria”.
92
Contro una simile interpretazione v., però, le condivisibili notazioni critiche di C. Consolo,
Spiegazioni, II ed. cit., III, 403.
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246 Andrea Panzarola
93
Siamo dell’avviso, infatti, che motivazione e decisione siano grandezze correlate: sicché, tramite
il controllo sulla correttezza della motivazione, si mette capo al controllo sulla fondatezza
della decisione (cfr., per la esposizione convincente di questo ordine di idee, F.M. Iacoviello, v.
Motivazione della sentenza penale, in Enc. dir., Agg. IV, Milano 2000, 750 ss., spec. 781). Non
pensiamo, invece, che motivazione e decisione siano grandezze irrelate, per cui il controllo sulla
motivazione nulla ci direbbe circa la fondatezza della decisione impugnata.
94
Un controllo sulla motivazione che non assicurasse in nessun modo la (possibilità di operare una
verifica circa la) fondatezza dell’accertamento probatorio sarebbe inutile, per non dire insensato.
95
Varrà in proposito la regola tramandata, di origine giurisprudenziale, secondo la quale se il
ricorrente lamenti la omessa valutazione di una prova, in accordo con il principio di autosufficienza
è tenuto non solo a trascrivere il testo integrale o la parte significativa della prova — onde permettere
alla Corte di effettuare il vaglio di decisività (oggi come ieri deducibile dall’art. 360 comma 1 n. 5
c.p.c.) — ma pure (trattandosi ad esempio di documenti) a “specificare gli argomenti, deduzioni o
istanze che, in relazione alla pretesa fatta valere, siano state formulate nel giudizio di merito, pena
l’irrilevanza giuridica della sola produzione, che non assicura il contraddittorio e non comporta,
quindi per il giudice alcun onere di esame e ancor meno di considerazione dei documenti stessi ai
fini della decisione” (Cass. 7 febbraio 2012, n. 1691; v. pure, in linea con gli argomenti ricordati, la
pur singolare Cass. 7 febbraio 2012, n. 1716; Cass. 30 novembre 2011, n. 25568; Cass. 9 novembre
2011, n. 23348).
96
M. De Cristofaro, Appello e cassazione cit. §1.1. Più ampiamente, è stato sostenuto che l’esame “circa”
un fatto decisivo può dirsi omesso non solo quando il giudice non lo ha preso in considerazione,
ma anche quando il fatto non è stato esaminato in tutte le sue articolazioni con cui esso è emerso
in sede istruttoria: G. Impagnatiello, Crescita del Paese cit. 7 (per il nostro punto di vista v. infra
nel testo e qui di seguito nelle note successive). L’A. ritiene che il sindacato del Supremo Collegio
possa essere disimpegnato “sia nel caso siano violate le regole sull’interpretazione dei contratti o
sia disattesa una prova legale (in tali fattispecie in accoppiata con il motivo di cui all’art. 360, n. 3),
sia allorquando il giudice abbia reputato irrilevante un mezzo istruttorio oppure abbia valutato
illogicamente e/o contraddittoriamente le deposizioni testimoniali o gli esiti della consulenza
tecnica d’ufficio”.
97
M. Bove, Giudizio di fatto della Corte di cassazione cit., §4; G. Impagnatiello, Crescita del Paese cit.
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L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 247
98
Di qui il dubbio prospettato: che sia cioè possibile continuare a sollecitare l’esercizio del sindacato
“tradizionale” del Supremo Collegio nel caso in cui il giudice inferiore abbia, ad esempio (e
per riprendere esempi di G. Impagnatiello, Crescita del Paese cit.), valutato illogicamente e/o
contraddittoriamente le deposizioni testimoniali o gli esiti della consulenza tecnica d’ufficio.
99
E’ un interrogativo che, a ben vedere, può riferirsi pure alla “motivazione contraddittoria” che
figuri nel provvedimento impugnato, quando si rammenti che — ad avviso della Suprema
Corte (v., ad es., Cass. 11 maggio 2007, n. 10848) — detto vizio sussiste allorché - dalla lettura
della sentenza - emerga un insanabile contrasto tra le argomentazioni adottate, tale da non
consentire l’identificazione del procedimento logico-giuridico posto a base della decisione. Ci
si deve trovare dinanzi ad argomentazioni contrastanti e tali da non permettere di comprendere
la “ratio decidendi” che sorregge il “decisum” adottato. Come si può esonerare dal sindacato della
Cassazione una motivazione consimile?
100
L’esempio è proposto (ad altro fine) da M. Taruffo, v. Motivazione della sentenza civile (controllo
della), in Agg. Enc. dir., III, 772 ss., spec. 784 e nota 77.
101
Che ovviamente non avrà alcuna incidenza sul sindacato in tema di contratti collettivi (un tempo
esercitabile, oltre che per violazione dei canoni di ermeneutica contrattuale, solo per vizi di
motivazione: cfr., per tale orientamento, Cass.19 marzo 2007, n. 6435; Cass. 28 settembre 2006,
n. 21024; Cass. 22 luglio 2004 n. 13751; Cass. 17 agosto 2004 n. 16059; Cass. 26 giugno 2004
n. 11921). Alla luce dell’art. 360, comma 1, n. 3, c.p.c. (come modificato dall’art. 2 d.lg. n. 40/06)
è oggi possibile il ricorso in cassazione per violazione o falsa applicazione dei contratti collettivi
nazionali di lavoro: ciò comporta che, ai fini del sindacato della Cassazione, il contratto collettivo
è inserito tra le norme di diritto, la cui violazione può essere denunciata — non solo senza
necessario riferimento alle norme di ermeneutica (artt. 1362 e ss cc) asseritamente violate o agli
artt. 10-12 delle preleggi (Cass. 12 aprile 2012, n. 5801), ma pure, come anticipato, — senza alcun
richiamo al vizio di motivazione. Sicché la restrizione operata a questo riguardo dal n. 5 comma 1
art. 360 c.p.c. sarà priva di significative ricadute sul controllo de quo.
102
Si è già notato che, in contemplazione della versione originaria dell’art. 360 comma 1 n. 5 c.p.c.
— non meno restrittiva di quella ora inserita dal legislatore —, la Cassazione sembra che abbia
continuato a praticare la interpretazione tramandata. V. retro §3.
103
Che andrà commisurato ai casi più disparati, più o meno frequenti. Si pensi, quanto ai primi, allo
sconto tra un autoveicolo ed un motoveicolo. Si immagini che la Corte d’appello, da un lato,
riconosca che l’incidente era eziologicamente ascrivibile al concorso dei comportamenti colposi
dei due conducenti, come rilevato dal C.T.U. Si immagini, pure, dall’altro lato, che il medesimo
giudice decida di attribuire un pari concorso di colpa ad ambedue i soggetti, discostandosi
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248 Andrea Panzarola
6 Prospettive
Anche questa riforma è fatta sotto l’insegna della nomofilachia.105 Preme il
dubbio che si esageri in questo modo l’importanza dello ius constitutionis, per
dalla conclusione del C.T.U., secondo il quale l’incidente era da ascriversi principalmente alla
manovra posta in essere dal conducente dell’auto, e solo in via concorrente al conducente del
motoveicolo. Ecco la domanda: si potrà ancora lamentare — nella situazione descritta — il vizio
della motivazione della sentenza del giudice inferiore, che non spieghi le ragioni del suo dissenso
dalle conclusioni del consulente? Sino ad ora non vi era alcun dubbio che ciò fosse possibile
(cfr., ad es., Cass. 26 luglio 2012, n. 13202, da cui è tratto l’esempio e che lo estende all’ipotesi
in cui il giudice ritenga di avvalersi per la risoluzione della questione tecnica di una consulenza
disposta in sede penale ed introdotta nel processo civile; v., per la applicazione del principio, Cass.
6 aprile 1998, n. 3551). Oggi, salvo aderire alla ricostruzione ricordata retro in nota e nel testo, la
lettera della nuova norma sembra frapporvisi. Analoghe considerazioni possono essere riferite
alla (contigua) ipotesi nella quale il giudice trascuri di esaminare i rilievi rivolti alla consulenza
d’ufficio contenuti nella consulenza di parte, che siano precisi e circostanziati: tali, nella sostanza,
da condurre a conclusioni diverse da quelle accolte, prima, nella consulenza tecnica d’ufficio e
adottate, poi, in sentenza (v., per la possibilità di esercitare il controllo, Cass. 16 giugno 2001,
n. 8165; nonché, fra le altre, Cass. 10 gennaio 1995, n. 245).
104
Ai quali non si può chiedere altro...che di fare il proprio mestiere. La loro propensione a sollecitare,
in vario modo, il riesame della quaestio facti è del resto comprensibile (ma — secondo molti: cfr.,
per tutti, B. Sassani, Il nuovo giudizio cit., 224 e nota 13 — talvolta criticabile). Lo stesso Calamandrei
— che da studioso della Cassazione “aveva combattuto strenuamente la tendenza dell’istituto
ad invadere, sia pure traverso il più o meno schermato controllo di logicità condotto sulla
motivazione, il campo di merito” (V. Andrioli, L’avvocato, in Carnelutti-Liebman-Andrioli-Micheli,
Piero Calamandrei, in RDP 1956, 261 ss., spec. 269-270), — nella veste di avvocato vi si immergeva,
sollecitando un sindacato del Supremo Collegio che dal diritto scendesse nella concretezza del
singolo fatto. Per di più Calamandrei, da avvocato, “non indulse mai al troppo facile virtuosismo
di redigere i motivi del ricorso per cassazione sulla sola lettura della motivazione della sentenza
impugnata”, amando invece — stando sempre alla testimonianza di Andrioli — “ripercorrere tutto
il fascicolo della causa”, interessandosi all’esame “di ogni documento”, non lasciando “inesplorata
nessuna difesa scritta”. Il Maestro fiorentino, che “negli anni della vigilia aveva esaltato gli aspetti
politici della Cassazione vedendo in essa la espressione dell’unità e della sovranità dello Stato
moderno”, nei non pochi lustri di patrocinio forense aveva vieppiù valorizzato la ricostruzione dei
fatti come compito tipico, quando non del giurista in genere, certo dell’avvocato di razza.
105
Di ripiegamento “sulla mitologica e rarefatta nomofilachia”, discorre C. Consolo, Lusso o necessità
nelle impugnazioni delle sentenze? cit. In tale contesto artificioso, oltretutto, incombe il pericolo
— per usare liberamente le parole di S. Satta, Il giudice e la legge, in RDC 1971, I, 129 ss. (sulle
quali richiama la attenzione R. Vaccarella, Attualità di Salvatore Satta: a proposito della riedizione di
“Soliloqui e colloqui di un giurista”, in RDP 2006, 171 ss., spec. 177) — che “il senso della legge come
cosa viva” si riduca ad “un fossile da analizzare al microscopio”, senza alcuna connessione con il
“concreto”.
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L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 249
106
Tanto più che si fa strada il dubbio che, enfatizzando la funzione nomofilattica “pura” della
Cassazione, non solo ci si distacca dalla dinamica della storia per assecondare una “aspirazione
ideale”, ma si riannoda quest’ultima ad “una visione autoritaria e fortemente accentrata
della giustizia che è l’opposto di quella che possiamo trarre dalle pieghe di un ordinamento
autenticamente democratico” : così G. Verde, In difesa dello jus litigatoris cit., 10; nonché Id., Jus
litigatoris e jus constitutionis, in Il difficile rapporto tra giudice e legge cit., 26. Paiono persuasive, in
questo quadro, le considerazioni di G. Scarselli, La crisi della Cassazione civile e i possibili rimedi,
in GPC 2010, 653 ss., spec. 669 ss. (circa il “valore prevalente” del “diritto al ricorso”, alla luce della
storia e della costituzione, non meno che del sistema processuale).
107
Dinamica ben nota e di rilievo generale, descritta in ultimo da R. Koselleck, Il vocabolario della
modernità, Bologna, 2009, 37 (trad. I ed. ted. Begriffschriften, 2006). Nello specifico, la pretesa di
isolare dalle restanti la sola funzione nomofilattica, oltretutto ipostatizzandola, è più che mai
discutibile se si pensa che “nulla, nelle esperienze processuali, può impunemente ambire alla
purezza e alla incontaminata razionalità”(C. Consolo, Lusso o necessità nelle impugnazioni delle
sentenze? cit. 4).
108
Di “bilanciamento” discorre anche Cass., sez. un., 6 settembre 2010, n. 19051, cit., quando dice
del “doversi attuare, in nome del principio di effettività della tutela giurisdizionale, un adeguato
bilanciamento tra diritto delle parti al ricorso per cassazione per violazione di legge, affermato
dall’art. 111 cost., e concreta possibilità di esercizio della funzione di giudice di legittimità,
garanzia a sua volta del principio di uguaglianza del cittadino di fronte alla legge (art. 3 cost.)”.
109
L’espressione è di A. Briguglio, che allude “ai recenti percorsi nomofilattici (in materia processuale)
di una Corte del precedente quale ormai il legislatore (art. 360 bis) vuole che sia la nostra Suprema”:
Id., L’overruling delle Sezioni Unite sul termine di costituzione dell’opponente a decreto ingiuntivo;
ed il suo (ovvio e speriamo universalmente condiviso) antidoto), in GPC 2010, 1165 ss., 1175. La
medesima espressione — Corte del “precedente” — è impiegata quale titolo di una relazione
del 2009 dell’Ufficio del Massimario della Cassazione (La Corte del “precedente”. Riflessioni, su
continuità ed innovazione, per l’applicazione dell’art. 360-bis del codice di procedura civile).
110
Ad avviso di B. Capponi, Opinione, in htpp://www.judicium, il problema del controllo in cassazione
della motivazione rischia di essere sopravvalutato. Sul filo del paradosso, l’autore nota che va
“scomparendo, sotto gli occhi indifferenti di tutti, l’oggetto da controllare”. La tecnica di redazione
della motivazione va in effetti modificandosi sensibilmente (“le conclusioni delle parti sono,
da molto tempo, un optional, il fatto non esiste più, il diritto è contratto dal rinvio all’esterno.
Circolano su varie liste di giuristi modelli-moduli-vulgate di sentenza, in cui prevale la soluzione
per relationem anche pei dispositivi”). Più in generale, si fa addirittura strada l’idea (accolta da
Cass., sez. un., n. 11067/2012, sulla quale viene richiamata opportunamente l’attenzione) secondo
la quale il titolo esecutivo sarebbe “integrabile con qualsiasi cosa, creando la categoria (§8) delle
‘fonti di integrazione dell’accertamento contenuto nel titolo’“.
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250 Andrea Panzarola
111
Che le sentenze d’appello “fanno acqua dal punto di vista motivatorio” è, ad es., notato da C.
Consolo, Lusso o necessità nelle impugnazioni delle sentenze? cit. 3 (il quale aggiunge che “quella
della grave insufficienza motivatoria è una esperienza quasi all’ordine del giorno”: chi lo negasse
— nota non senza ragione l’autore — “sarebbe un celestiale Pangloss”). Più ampiamente, vale
la pena segnalare il reversal rate delle sentenze di appello in Cassazione, che in effetti è “molto
elevato”: Id., Le impugnazioni delle sentenze e dei lodi, III ed., Padova-Cedam, 2012, 4, 7 ss.
112
Salvo ricondurre, ovviamente, il controllo di logicità della motivazione al n. 4 comma 1 art. 360
c.p.c. (v. retro, §4). Tale soluzione è auspicabile. Non è detto però che la Cassazione la segua. Per
di più, adottandola, si porrebbero quei problemi dianzi segnalati in caso di “doppia conforme”. V.
retro in nota 11.
113
Cfr. retro nota 69. L’espressione è di C. Consolo, Lusso o necessità nelle impugnazioni delle sentenze?
loc. cit., che ritiene che la Suprema Corte debba anche “in futuro rimanere un organo di controllo
anche quanto alla conferenza e dirittura motivatoria sulle questioni di fatto”. Si tratta, come si è
potuto constatare in queste pagine, di una opinione assai diffusa.
114
Oltretutto non vi è un unico modello di Cassazione. Già solo nella storia francese Matteo Pescatore
(nel 1874) ne indicava sei versioni e prima di lui Gaspare Capone discorreva di “quattro epoche”
della Cassazione (Cfr. M. Pescatore, Filosofia e dottrine giuridiche, Torino-Fratelli Bocca, 1874, vol.
I, p. 442 ss.; G. Capone, Discorso sopra la storia delle leggi patrie all’altezza reale del principe D.
Ferdinando duca di Calabria, 2. ed., Napoli-Porcelli, 1845, II, pp. 174 ss.). L’evoluzione successiva
ha confermato questa tendenza, che evidentemente non può essere irrigidita nelle forme del
modello calamandreiano, altrettanto geniale che “puro” ed “astratto”.
115
Forse per meglio indagare la condizione attuale della Corte Suprema (e potere quindi prospettare
modifiche nel suo funzionamento) sarebbe opportuno operare una radicale epoché dalle
concezioni dottrinali tramandate, anche da quelle più autorevoli (per non dire dai preconcetti di
questa o quella corrente). Bisognerebbe — per dirla con G. Capograssi, Giudizio processo scienza
verità, in RDP 1950, I, 1 ss., 21-22 — “rifarsi ingenui”.
116
Cfr. M. Fornaciari, Ancora una riforma sull’art. 360 cit. 2, il quale si chiede, con ragione, se non sia
proprio la continuità storica dell’operato della Cassazione in proposito a testimoniare la “fisiologica
appartenenza al giudizio di legittimità” del controllo sulla motivazione. Di qui la domanda
retorica: “possibile, detto altrimenti, che da 150 anni la Cassazione continui ostinatamente e
masochisticamente a sobbarcarsi un’incombenza che non le compete?”.
117
C. Consolo, Lusso o necessità nelle impugnazioni delle sentenze? cit. 4.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 251
nel senso che, se sino ad oggi la latitudine dello scrutinio condotto ai sensi del
n. 5 dell’art. 360 avrebbe potuto funzionare da sprone per il giudice inferiore
a confezionare una sentenza ben motivata in facto, inversamente adesso il
restringimento di quel motivo di ricorso potrebbe instillare nelle menti l’idea
che, non importa se buona o cattiva, sarebbe sufficiente una motivazione
purchessia118 a sottrarre da censure la sentenza. Tendenze meritorie nei fori
nazionali correrebbero il rischio di esserne contaminate in peius, tanto quanto
prassi già criticabili “legittimate”119 pro futuro.
Più ampiamente, nella cornice del sindacato della Cassazione, torna ad
imporsi l’interrogativo delle conseguenze “sociali”120 di un errore in iudicando in
iure rispetto alla importanza del controllo sulla motivazione del fatto121 che figuri
nella sentenza. Non meno diffusa è la riaffermazione della inerenza di un controllo
consimile ai compiti c.d. di legittimità122 da decenni disimpegnati dal Supremo
Collegio, il quale, provvedendovi, mentre non può (ri)valutare i fatti di causa e
le prove, deve invece verificare la correttezza della giustificazione che in ordine
agli uni ed alle altre abbia fornito il giudice inferiore. Di qui la oramai usuale123
affermazione per cui il controllo della logicità della motivazione non implica una
estensione del sindacato della Corte nel “merito”, e cioè — quando si rammenti
118
V., però, quanto osservammo retro nel §4.
119
“Rischieranno di divenire ancor più pigramente frequenti e soprattutto di rimanere largamente
occulte”: C. Consolo, Lusso o necessità nelle impugnazioni delle sentenze? cit.
120
Numerosi sono i significati che si riannodano al termine “sociale”. Da quello descrittivo di attinente
alla società o alla comunità, a quello (valutativo-qualificante) di indicatore di ciò che è al servizio
del bene comune. Premesso che in tutti i casi il termine può trovare applicazione nel processo
(secondo le indicazioni di N. Picardi, La giurisdizione all’alba del terzo millennio, Milano 2007, 183
ss. e di A. Giuliani, Giustizia ed ordine economico, Milano-Giuffrè 1997, 173 ss.; sulla differente
impostazione di Franz Klein v. infra in questa nota), il riferimento che compare nel testo, mentre
considera il primo dei due significati, al contempo si estende al secondo (secondo una linea che
risale alla teorizzazione kleiniana del processo come una Wohlfartseinrichtung, un istituto per il
benessere sociale.v. N. Picardi, Le riforme processuali e sociali di Franz Klein, in GPC 2011, 1067 ss.,
spec. 1097).
121
E’ la stimolante prospettiva dischiusa da C. Consolo, Lusso o necessità nelle impugnazioni delle
sentenze? cit. Secondo l’A. “gli errori di diritto non sono un vizio più grave e si prestano anzi — si
noti — a controlli e a disincentivi vari e diversi, compresa la critica dottrinale, mentre le motivazioni
slabbrate e inconferenti sui fatti e sulle prove, rimosso il loro unico attrezzato Custode” (i.e.:
la Cassazione) non sarebbero sindacabili da alcuno. Con riferimento ai vizi procedurali vedi le
consonanti osservazioni di M. Fornaciari, Ancora una riforma dell’art. 360 cit., §2, 3 e nota 5.
122
Cfr, in particolare, M. Bove, Giudizio di fatto cit., spec. §3; M. Fornaciari, Ancora una riforma dell’art.
360 cit., §2.
123
Cfr., in questo senso, già solo fra i primi commentatori della riforma, M. Bove, Giudizio di fatto cit.
(nel contesto della sua tesi complessiva: sulla quale v. infra nota 125), M. Fornaciari, Ancora una
riforma dell’art. 360 cit. 2 ss.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
252 Andrea Panzarola
124
Sul quale richiama in ultimo la attenzione M. Bove, Giudizio di fatto cit., §3 (che sottopone a
rivisitazione critica i risultati del lavoro del filosofo). V., in argomento, M. Taruffo, v. Motivazione,
cit., 781. Cfr. pure, se vuoi, A. Panzarola, La Cassazione civile cit., II, 679-681 e nota 1866. Come
noto, il filosofo Guido Calogero, ne La logica del giudice e il suo controllo in Cassazione del 1937,
insiste particolarmente su questo punto, che “sindacare la logicità del giudizio di fatto significa
senz’altro giudicare il giudizio di fatto” (Id., op. cit., 103; 167 e nota 1; 94; 158 ss., quanto alle
conclusioni riassuntive parziali). Questo assunto si incastona nel contesto di premesse più generali:
nell’ambito, segnatamente, di una critica rivolta tanto allo schema sillogistico (cfr., ad es., Id., op.
cit., 47; circa il sillogismo probatorio v. spec. 100), quanto alla pretesa di risolvere l’argomentare
del giudice entro rigidi schemi logici o gnoseologici. Ad avviso dell’A. il momento fondamentale
dell’attività del giudicare deve essere additato nell’atto della sussunzione. S’intende allora che
solo se si ritiene — con Calogero — che tutto si risolverebbe nella “sussunzione del fatto sotto il
diritto” (nella quale il giudice non avrebbe più da obbedire ad alcuna formale necessità deduttiva
e non metterebbe dunque in atto una “logica” che si differenzi da quella intrinseca del contenuto
materiale della sua decisione e che possa, per l’effetto, essere controllata indipendentemente da
esso) potrà dirsi che non vi è autonomia del sindacato della logicità (della motivazione) rispetto
al riesame del merito.
125
“Ossia la denuncia in ordine alla violazione di una regola che presiede alla formazione della base
legale di quel giudizio”: si tratta della tesi riproposta da M. Bove in Giudizio di fatto cit., spec §4,
ma esposta dall’autore già in precedenza (Id., Il sindacato della Cassazione cit., 229 ss.). Ora Bove,
mentre denunzia “l’equivoco in cui da tempo cade la dottrina italiana ed oggi il legislatore”, invita
a non nutrire timori per il difetto di motivazione come motivo di ricorso in cassazione: la verità
è — conclude l’A. — che, con tale espressione, si vuol denotare “la possibile denuncia della
violazione di una serie di regole e principi, tutti direttamente o indirettamente giuridicizzati” (la
denuncia, in sostanza, di una violazione di legge).
126
V. la nota che precede.
127
Proprio sulla base della constatazione che il “metodo del giudizio di fatto” è disciplinato da
regole logiche e non da regole giuridiche (salvo il caso della prova legale): in effetti il “principio
del libero convincimento del giudice rinvia alle regole extragiuridiche del ragionamento logico
e dell’argomentazione razionale”: cfr., in tal senso, M. Taruffo, v. Motivazione, cit., 784 e nota 76;
nonché G. Verde, In difesa dello jus litigatoris (sulla Cassazione come è e come si vorrebbe che fosse)
cit., 4 e nota 10; Id., Jus litigatoris e jus constitutionis cit., in Il difficile rapporto tra giudice e legge, cit.,
16 e nota 12. V. la nota che precede.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana 253
PANZAROLA, Andrea. L’ennesima riforma della Cassazione civile italiana. Revista Brasileira de
Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013.
128
Lo notava già (all’indomani della riforma del 2006) G. Verde, In difesa cit., 5; Id., Jus litigatoris e jus
constitutionis cit., 19
129
Cfr., in tal senso, M. De Cristofaro, Appello e cassazione cit., §1.1; G. Impagnatiello, Crescita del Paese
cit., 7; ad avviso di C. Consolo, Lusso o necessità nelle impugnazioni delle sentenze? cit. 4, si potranno
avere dei “progressi visibili solo al microscopio” (con conseguenze negative rilevanti, tenuto conto
che la Corte “perderà di peso sociale”, ritraendosi “nel limbo della purissima legittimità”).
130
Dopo tutto, chi guardi alla giurisprudenza di legittimità, ricaverà l’impressione di un complessivo
self restraint della Cassazione, che, resistendo alle pressioni non infrequenti degli avvocati —
comprensibilmente proclivi a sollecitare una revisione della quaestio facti (v. retro in nota 104)
—, si astiene tuttavia dal compierla (v., in tal senso, ad es., B. Sassani, Il nuovo giudizio cit., 224
e nota 13 ed ora M. Bove, Giudizio di fatto e sindacato della corte di cassazione cit., 8). Se si passa
dalle solenni enunciazioni che compaiono nelle massime alla considerazione dei singoli casi si
possono, è vero, rinvenire delle eccezioni, che non guastano però il quadro complessivo.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 225-253, out./dez. 2013
RESENHAS
CABRAL, Trícia Navarro Xavier. Poderes
instrutórios do juiz no processo de
conhecimento. Brasília: Gazeta Jurídica, 2012.
(Coleção Andrea Proto Pisani, 1).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 257-258, out./dez. 2013
258 Rodrigo Mazzei
maioria das vezes, pouco flexível. A posição firme da autora no particular nos leva
a concluir que os Tribunais, através de decisões, poderiam contribuir mais, até
mesmo diante do acanhado (senão incompleto e atrasado) sistema legal que se
volta ao tema.
Ao final, a autora não se furta de trazer suas conclusões críticas, expondo seu
posicionamento pessoal, fato que contribui para a discussão e a reflexão sobre o
tema. Para tanto, além dos comentários feitos ao longo da obra, no capítulo final
do livro a autora apresenta cinquenta apontamentos conclusivos.
Concluo, assim, que estamos diante de livro que contribui para discussão
do tema, sendo de leitura oportuna para todos os que laboram com o Direito
Processual, haja vista que as exposições e conclusões não se limitam a opiniões
teóricas, tendo, pois apelo prático e atual.
Rodrigo Mazzei
Mestre (PUC-SP), Doutor (FADISP) e Pós-Doutorando (UFES).
Professor da UFES. Presidente da Escola Superior da Advocacia
(OAB/ES). Vice-Presidente do Instituto dos Advogados/ES (IAEES).
Membro do IBDP.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 257-258, out./dez. 2013
CARVALHO, Carlos Eduardo Araújo de.
Legitimidade dos provimentos: fundamentos
da Ordem Jurídica Democrática. Curitiba:
Juruá, 2009.
1
POPPER, Karl Raimund. Conhecimento objetivo uma abordagem evolucionária. Tradução de Milton
Amado. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999. p. 106.
2
OST, François. O tempo do direito. Bauru, SP: Edusc, 2005. p. 11.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 259-265, out./dez. 2013
260 Rafael Filipe Fonseca Menezes
CARVALHO, Carlos Eduardo Araújo de. Legitimidade dos provimentos: fundamentos da ordem
3
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 259-265, out./dez. 2013
Resenha 261
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 259-265, out./dez. 2013
262 Rafael Filipe Fonseca Menezes
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 259-265, out./dez. 2013
Resenha 263
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 259-265, out./dez. 2013
264 Rafael Filipe Fonseca Menezes
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 259-265, out./dez. 2013
Resenha 265
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NASSER, Paulo Magalhães. Onerosidade
excessiva no contrato civil. São Paulo: Saraiva,
2011.
Vem a lume pela editora Saraiva, para o deleite de todos aqueles que
apreciam o estudo, com qualidade, do Direito — e mais reservadamente o Direito
Privado — a obra Onerosidade excessiva no contrato civil, de autoria de Paulo
Magalhães Nasser.
A obra analisada é fruto da dissertação de mestrado defendida pelo autor
— com brilhantismo, diga-se de passagem, o que se reflete na mais do que mere
cida nota máxima que obteve — perante banca examinadora da PUC-SP. Não
bastassem tais qualidades, é preciso frisar que o autor foi orientado, na conse
cução de seu escrito, pelo eminente Professor Sergio Shimura, atualmente Desem
bargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e — não tenho receio de
exagerar — um dos mais notáveis juristas do Brasil e do mundo.
Paulo Nasser foi uma das boas amizades que construí no curso de mestrado
da PUC-SP. Desde o instante em que o conheci pude antever seu sucesso profis
sional. Longe de representar algum tipo de profecia, minha sensação decorreu
das impressões positivas concretas que resultaram de suas bem colocadas opi
niões e que me provaram o quanto o autor é talentoso. A publicação desta obra
prova em grande medida o que acabo de afirmar.
O livro resenhado é fruto de grande coragem. De fato, o tema enfrentado
(onerosidade excessiva) é dos mais áridos no âmbito do direito material, máxime
porque sua correta e adequada compreensão passa necessariamente pela análise
das respectivas técnicas processuais. Afinal de contas, o conhecimento da norma
material é muito importante, mas não basta; muito pelo contrário, é fundamental
saber como utilizar seu instrumento de realização, isto é, o processo.
Com a autoridade de quem leu integralmente a obra, posso afirmar que
Paulo Nasser não deixou uma pergunta sequer sem resposta, tendo aceitado
todos os desafios que o instituto da onerosidade excessiva apresenta. Com sua
habilidade ímpar, ele apreciou os princípios contratuais tradicionais e os sociais,
estes últimos como corolários da codificação Reale, oportunidade em que nos
brindou com longas e interessantíssimas concepções sobre a transição do Estado
liberal ao social.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 267-268, out./dez. 2013
268 Denis Donoso
Denis Donoso
Mestre e Especialista em Direito Processual Civil pela PUC-SP. Membro
efetivo do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP). Professor
de Direito Civil e Direito Processual Civil no curso de graduação
da Faculdade de Direito de Itu, nos cursos preparatórios para
Magistratura e Ministério Público no Curso Robortella (São Paulo).
Coordenador do curso de pós-graduação “lato sensu” de Direito
Processual Civil da Faculdade de Direito de Itu. Membro do corpo
docente da Escola Superior da Advocacia de São Paulo (ESA-SP) e da
Escola Paulista de Direito (EPD). Autor de inúmeros artigos e livros na
área jurídica. Advogado e consultor jurídico em São Paulo
(<www.denisdonoso.com.br>).
NASSER, Paulo Magalhães. Onerosidade excessiva no contrato civil. São Paulo: Saraiva, 2011.
Resenha de: DONOSO, Denis. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte,
ano 21, n. 84, p. 267-268, out./dez. 2013.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 267-268, out./dez. 2013
Índice
página página
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 269-272, out./dez. 2013
270 Índice
página página
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 269-272, out./dez. 2013
Índice 271
página página
L PROCESSO CONSTITUCIONAL
LAW NR. 134 OF 2012 - Ver: Processo e decisão jurídica. Artigo de:
- Ver: L’ennesima riforma della Cassazione André Del Negri.......................................................... 203
civile italiana. Artigo de: Andrea Panzarola....... 225
PROCESSO JUDICIAL
LEGITIMAÇÃO - Ver: Stare decisis e certiorari chegam ao Brasil
- Ver: O papel do juiz na efetividade dos direitos – Uma abordagem pela análise econômica do
sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e direito. Artigo de: Maria Ângela Jardim de
na filosofia política. Artigo de: José Pedro Santa Cruz Oliveira, Nuno Garoupa..................... 155
Luchi, Julio Lima Souza Martins..............................69
PROJETO DE LEI Nº 8.046/2010
LEI Nº 9.307/96 - Ver: Uniformização de jurisprudência – Prós e
- Ver: Arbitragem – Indispensabilidade do contras. Artigo de: José Maria Rosa Tesheiner,
compromisso arbitral. Artigo de: Carlos Mário Daniele Viafore...............................................................37
da Silva Velloso..............................................................11
R
LIMITES
RECURSOS EXCEPCIONAIS
- Ver: O papel do juiz na efetividade dos direitos
sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e - Ver: Breves considerações sobre os embargos
na filosofia política. Artigo de: José Pedro de divergência e as propostas do Novo
Luchi, Julio Lima Souza Martins..............................69 Código de Processo Civil. Artigo de: Rafael
de Oliveira Guimarães, Henrique Cavalheiro
M Ricci................................................................................. 121
MICROSSISTEMA
- Ver: As ações Coletivas no Direito brasileiro REFORMAS LEGISLATIVAS
contemporâneo – De onde viemos, onde - Ver: As ações Coletivas no Direito brasileiro
estamos e para onde vamos?. Artigo de: contemporâneo – De onde viemos, onde
Andre Vasconcelos Roque.........................................93 estamos e para onde vamos?. Artigo de:
Andre Vasconcelos Roque.........................................93
P
PADRONIZAÇÃO DECISÓRIA INDEVIDA
REVIEW OF FACTS AND FACT FINDINGS
- Ver: Uniformização de jurisprudência – Prós e
- Ver: L’ennesima riforma della Cassazione
contras. Artigo de: José Maria Rosa Tesheiner,
civile italiana. Artigo de: Andrea Panzarola....... 225
Daniele Viafore...............................................................37
PODER JUDICIÁRIO S
- Ver: O papel do juiz na efetividade dos direitos SOLUÇÃO DOS CONFLITOS
sociais no Brasil – Possíveis respostas no direito e - Ver: Arbitragem – Indispensabilidade do
na filosofia política. Artigo de: José Pedro compromisso arbitral. Artigo de: Carlos
Luchi, Julio Lima Souza Martins..............................69 Mário da Silva Velloso..................................................11
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 269-272, out./dez. 2013
272 Índice
página página
U UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA
UNIFORMIDADE - Ver: Uniformização de jurisprudência – Prós e
- Ver: Breves considerações sobre os embargos contras. Artigo de: José Maria Rosa Tesheiner,
de divergência e as propostas do Novo Código Daniele Viafore...............................................................37
de Processo Civil. Artigo de: Rafael de Oliveira
Guimarães, Henrique Cavalheiro Ricci............... 121
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 269-272, out./dez. 2013
Instruções para os autores
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 21, n. 84, p. 273-274, out./dez. 2013
274 Instruções para os autores
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e-mail: <conselhorevistas@editoraforum.com.br>.
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