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Editorial..............................................................................................................7
DOUTRINA
Artigos
NOTAS E COMENTÁRIOS
MAZZEI, Rodrigo (Org.). Código de Processo Civil do Espírito Santo: texto legal e
breve notícia histórica. Vila Velha: ESM (Eppur Si Muove), 2014
Mônica Pimenta Júdice........................................................................................................ 233
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editorial
essa mesma complexidade cria as chamadas crises sistêmicas, a exigir das ações
repetitivas soluções complexas.
4 Aspectos da dinâmica do direito jurisprudencial no Brasil versus a busca de
coerência e integridade – Uma primeira impressão das premissas dos precedentes
no novo Código de Processo Civil. Dierle Nunes e a Aline Hadad Ladeira pontuam
aspectos sobre a dinâmica do direito jurisprudencial no Brasil e a busca pela coerência
e integridade. Buscam analisar se o propósito da uniformidade jurisprudencial e
da igualdade promove (ou não) um fechamento do debate em face da criação
dos precedentes.
5 Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC E ADPF. O artigo da lavra do
Professor José Maria Tesheiner versa sobre as ações direta de inconstitucionalidade,
declaratória de constitucionalidade e de arguição de descumprimento de preceito
fundamental, com base sobretudo na jurisprudência do Supremo Federal, destacando
suas principais características.
6 Das normas fundamentais do processo e o projeto de novo código de
processo civil brasileiro – Repetições e inovações. Com a pretensão de investigar
qual a normatividade adotada pelo legislador na elaboração dos primeiros artigos
do Projeto de novo Código de Processo Civil, Marco Félix Jobim desenvolve esforços
para demonstrar o que há de inovação, o que já havia na legislação processual a
ser revogada e o que está se reproduzindo dos princípios processuais elencados na
Constituição da República Federativa do Brasil.
7 Legitimidade das associações civis para propositura de ação civil pública
no direito brasileiro – Uma leitura multidisciplinar. Arno Apolinário Júnior e Ricardo
da Silva Gama questionam quais os limites à atuação das associações civis como
sujeitos ativos na propositura de ações civis públicas no direito brasileiro e, ao longo
do trabalho, tecem discussão acerca da restrição da efetiva participação social gerada
pela inadequada representação no seio da legitimidade das associações civis para
proporem ação civil pública.
8 Linhas básicas acerca da ‘liquidação de sentença’ coletiva. Rodrigo Mazzei e
Tiago Figueiredo Gonçalves abordam e sistematizam as linhas básicas da liquidação
de sentença nos processos coletivos segundo o ordenamento legal brasileiro.
9 Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração
do hibridismo no controle de constitucionalidade brasileiro e o seu impacto na
competência do Senado Federal. O texto examina o sistema híbrido de controle de
constitucionalidade no Brasil e a teoria da mutação constitucional, tudo a partir da
ótica do Supremo Tribunal Federal. Fabiana Marcello Gonçalves e Humberto Dalla
Bernardina de Pinho analisam, ainda, potencialidades e riscos da implementação
desta técnica à luz da nossa tradição legislativa e jurisprudencial.
10 Princípio processual da objetividade argumentativa. Dhenis Cruz Madeira
aborda uma temática onde defende a aplicação do conhecimento objetivo popperiano
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Os Diretores
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DOUTRINA Artigos
A aplicação da actio nata no
redirecionamento das execuções fiscais
e seus reflexos no desenvolvimento
e na segurança jurídica
Andre Folloni
Doutor em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor Adjunto
da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em Curitiba/PR, Brasil. Advogado.
Pesquisador. E-mail: <folloni.andre@pucpr.br>.
Resumo: O artigo estuda o prazo para o redirecionamento da ação de execução fiscal e o posicionamento
adotado pela Jurisprudência. No início, discorre sobre a responsabilidade tributária com a análise dos
dispositivos legais que disciplinam o redirecionamento. Em seguida, examina o prazo prescricional previsto
no artigo 174, I, do Código Tributário Nacional, e a legitimidade constitucional da suspensão da execução
prescrita no artigo 40 da Lei de Execuções Fiscais, tratando de forma complexa e interdisciplinar os temas
tributários e processuais. Adiante, expõe como a teoria da actio nata foi suscitada. Ao final, o artigo tece
argumentos sustentando o equívoco que repousa em sustentar a necessidade de adoção dessa teoria em
execuções fiscais. Para tanto, examina o princípio da segurança jurídica e a questão da imprescritibilidade
da dívida fiscal, além do óbice ao desenvolvimento nacional que a indeterminabilidade jurídica representa.
Palavras-chave: Tributação. Execução fiscal. Desenvolvimento. Segurança jurídica. Complexidade.
Introdução
Uma questão polêmica é discutida no Recurso Especial nº 1.201.993, em
trâmite perante o Superior Tribunal de Justiça. Esse recurso foi selecionado como
representativo da controvérsia sobre a adoção da teoria da actio nata para a contagem
do prazo prescricional para o redirecionamento da ação de execução fiscal contra os
terceiros responsáveis. O Recurso Especial segue aguardando julgamento, de modo
que é relevante refletir a respeito do tema para, inclusive, oferecer subsídios à melhor
decisão, tarefa relevante que a Ciência do Direito deve assumir.
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MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 159.
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2
MACHADO, Curso de direito tributário, p. 159.
3
Direito tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 529.
4
Direito tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 529.
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5
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGRESP 384860/RS. 2ª Turma. Rel. Min. Paulo Medina. DJ, p. 09 jul.
2003, p. 213. E na mesma linha: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGRESP 433227/DF, 2ª Turma. Rel.
Min. Franciulli Netto. DJ, p. 288, 16 jun. 2003; BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGRESP 492428/RS.
1ª Turma. Rel. Min. Humberto Gomes de Barros. DJ, p. 189, 09 jun. 2003; BRASIL. Superior Tribunal de
Justiça. AGA 487076/SC. 1ª Turma. Rel. Min. Luiz Fux. DJ, 29 set. 2003.
6
Curso de direito constitucional tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 425.
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7
Curso de direito financeiro e de direito tributário. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 105.
8
BORGES, José Souto Maior. Normas gerais de direito tributário: velho tema sob perspectiva nova. Revista
Dialética de Direito Tributário, São Paulo, n. 213, jun. 2013, p. 48-65.
9
CEZAROTI, Guilherme. Normas gerais de direito tributário. In: PEIXOTO, Marcelo Magalhães; DINIZ, Marcelo de
Lima Castro (Coord.). Curso de direito tributário. São Paulo: MP, 2005. p. 127.
10
BORGES, José Souto Maior. Lei complementar tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975. p. 54.
11
Curso de direito financeiro e de direito tributário. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 165-166.
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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Ag n. 1.211.213/SP. Rel. Min. Mauro Campbell Marques.
2ª Turma. J. 15.02.2011. DJe, 24 fev. 2011.
13
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgReg no REsp n. 200901466440. Rel. Min. Castro Meira. 2ª Turma.
DJe, 18 jul. 2010.
14
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 73.511/PR, Rel. Min. Castro Meira, 2ª Turma. J. 03.08.2004, DJ,
p. 186, 06 set. 2004.
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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no EREsp 761488/SC. Primeira Seção. Rel. Min. Hamilton Carvalhido.
Julgado em: 25 nov. 2009.
16
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 734.867/SC. Rel. Min. Denise Arruda. Primeira Turma.
Julgado em: 23 set. 2008.
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17
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Ag 1286579/RS. Rel. Min. Benedito Gonçalves. Primeira Turma.
Julgado em: 02.06.2011. DJe, 09 jun. 2011.
18
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1202195/PR. Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma. Julgado
em: 03.02. 2011. DJe, 22 fev. 2011.
19
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. EDcl no AgRg no Ag 1272349/SP. Rel. Ministro Luiz Fux. Primeira Turma.
Julgado em: 02.12.2010. DJe, 14 dez. 2010.
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Conferir, ainda: BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AG 0014241-44.2011.404.0000. Primeira
Turma. Relator Álvaro Eduardo Junqueira, DE, 18 jan. 2012; BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.
AgIn n. 813466-9. Des. Rel. Fabio Andre Santos Muniz. 1ª Câm. Cív. DJe, 11 out. 2011; BRASIL. Tribunal
de Justiça do Estado do Paraná. AgIn n. 717989-1. Des. Rel. Paulo Roberto Vasconcelos, 3ª Câm. Cív. DJe,
22.06.2011. BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AG 0000533-24.2011.404.0000. Segunda
Turma. Relator Otávio Roberto Pamplona, DE, 04 maio 2011; BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp n.
1.104.900/ES. Rel. Ministra Denise Arruda. Primeira Seção. Julgado em: 25.03.2009. DJe, 1º.04.2009;
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1.196.377-SP. 2ª Turma. Rel. Min. Humberto Martins.
DJe, 27 out. 2010; BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1.100.907/RS. Rel. Min. Humberto
Martins. Segunda Turma, DJe, 18 set. 2009; BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1.062.571/
RS. Rel. Min. Herman Benjamin. Segunda Turma. Julgado em: 20.11.2008, DJe, 24.03.2009; BRASIL.
Tribunal Regional Federal da 4a Região. Apelação Cível nº 0002491-84.2012.404.9999/RS. Rel. Des. Federal
Luciane Amaral Corrêa Münch de 05-07-2012; BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AG 5022584-
70.2013.404.0000. Segunda Turma. Rel. Luciane Amaral Corrêa Münch. DE, 30 set. 2013.
21
Também considerando tratar-se de tema de Direito Processual, suscetível de tratamento por lei ordinária,
SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Decadência e prescrição no direito tributário. São Paulo: Max Limonad, 2000.
p. 236.
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ARAÚJO, Juliana Furtado Costa. O prazo para redirecionamento da ação de execução fiscal em face de terceiros
22
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Demonstrando o falseamento da teoria da linguagem competente, baseada no dualismo entre fato e evento,
conferir: COSTA, Adriano Soares da. Teoria da incidência das normas jurídicas: crítica ao realismo linguístico
de Paulo de Barros Carvalho. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2009; BORGES, José Souto Maior. Curso de direito
comunitário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009; FOLLONI, André. Ciência do direito tributário no Brasil: crítica e
perspectivas a partir de José Souto Maior Borges. São Paulo: Saraiva, 2013.
24
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 971630 RS, Rel. Min. Luiz Fux. Primeira Turma. Julgado
em: 12.02. 2008.
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Por essa harmonização, verifica-se que seria admitido um prazo máximo para
a extinção da execução fiscal. Haveria, então, uma incorporação do prazo de um
ano de suspensão que estabelece a Lei de Execuções Fiscais na contagem total do
lapso temporal. Isso significa que a aplicação do artigo 40 da LEF não pode levar à
imprescritibilidade das execuções fiscais.
25
ÁLVARES, Manoel. Comentários aos arts. 46 a 51, 63 a 67, 83 a 95 e 165 a 174. In: FREITAS, Vladimir
Passos de (Coord.). Código Tributário Nacional comentado: doutrina e jurisprudência, artigo por artigo, inclusive
ICMS (LC 85/1996 e LC 114/2002) e ISS (LC 116/2003). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 724.
26
“Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao
mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência”.
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prática têm-se situações em que este prazo é elastecido por tempo indeterminado, até
que se constate, nos autos, o fato que faça nascer a pretensão do redirecionamento
por parte da Fazenda Pública. Na prática, a ação torna-se imprescritível.
Conforme acertadamente enuncia Humberto Ávila, existe na atualidade uma
premente necessidade de reconstruir a segurança jurídica, em geral e no âmbito do
Direito Tributário, como norma-princípio fundada na Constituição, a fim de reduzir
sua indeterminação e atribuir-lhe maior funcionalidade possível. E isso especialmente
porque, na visão do autor,
27
ÁVILA, Humberto. Segurança jurídica: entre permanência, mudança e realização no direito tributário. 2. ed. São
Paulo: Malheiros, 2012. p. 166.
28
ÁVILA, Humberto. Segurança jurídica: entre permanência, mudança e realização no direito tributário. 2. ed. São
Paulo: Malheiros, 2012. p. 148.
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Andre Folloni, Lara Bonemer Azevedo da Rocha
Considerações finais
Conclui-se pela não aplicação da teoria da actio nata para fins de contagem do
prazo para o redirecionamento da ação executiva fiscal para os terceiros responsáveis.
A razão de ser da teoria seria evitar que a Fazenda Pública sofresse prejuízos em
decorrência da demora na citação do devedor, decorrente de condutas deste para
não ser encontrado. De fato, com antiga sistemática, vigente antes do advento da
LC nº 118/2005, essa situação ocorria com certa frequência e clamava por uma
solução. Porém, a partir da entrada em vigor da Lei Complementar nº 118/2005,
que modificou as disposições do artigo 174, inciso I, do Código Tributário Nacional,
passando a constar que um dos marcos interruptivos do prazo prescricional seria o
despacho que ordena a citação e não mais a citação do devedor, a aplicação da actio
nata, com essa finalidade, perdeu sua razão de ser.
Hoje, há disciplina específica na matéria pela conjugação do previsto no Código
Tributário Nacional (art. 174) e na Lei de Execuções Fiscais (art. 40), cada qual em
29
CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 23. ed. Malheiros, 2007. p. 420-421.
30
TESHEINER, José Maria Rosa; VIAFORE, Daniele. Uniformização de jurisprudência: prós e contras. Revista
Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 21, n. 84, out./dez. 2013, p. 3.
31
GOUVEIA, Lúcio Grassi de; ATAÍDE JÚNIOR, Jaldemiro Rodrigues de. Criação judicial do direito e importância
dos precedentes. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 20, n. 80,
out./dez. 2012, p. 11.
32
CAMBI, Eduardo. Jurisprudência lotérica. Revista dos Tribunais. São Paulo, ano 90, v. 786, abr. 2001, p. 111.
26 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 13-29, jul./set. 2014
A aplicação da actio nata no redirecionamento das execuções fiscais e seus reflexos no desenvolvimento...
The Application of Actio Nata when Forwarding Fiscal Enforcement Actions and its Consequences in
Development and Legal Security
Abstract: The article studies the deadline for the redirection of tax enforcement action and the position
adopted by the courts. First, it discusses the tax liability with the analysis of the legal prescription governing
the redirection. Then it examines deadline provided for it by Article 174, I, of the National Tax Code, and the
constitutional legitimacy of the suspension prescribed in Article 40 of the Tax Enforcement Action, dealing
with tax and procedural issues in a complex and interdisciplinary way. Then, exposes how the theory of actio
nata was raised. Finally, the article presents arguments supporting the misconception that lies in sustaining
the need to adopt this theory in tax foreclosures. Therefore, it examines the principle of legal certainty and
the issue of the absence of deadlines for tax debts, as well as the obstacle to national development that
legal indeterminacy represents.
Key words: Taxation. Fiscal enforcement action. Development. Legal Security. Complexity.
Referências
ÁLVARES, Manoel. Comentários aos arts. 46 a 51, 63 a 67, 83 a 95 e 165 a 174. In: FREITAS,
Vladimir Passos de (Coord.). Código Tributário Nacional comentado: doutrina e jurisprudência, artigo
por artigo, inclusive ICMS (LC 85/1996 e LC 114/2002) e ISS (LC 116/2003). São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2005, p. 677-727.
ARAÚJO, Juliana Furtado Costa. O prazo para redirecionamento da ação de execução fiscal em face
de terceiros responsáveis. Revista da PGFN. Brasília, Ano I, n. 1, jan./jun. 2011, p. 83-98.
ÁVILA, Humberto. Segurança jurídica: entre permanência, mudança e realização no direito tributário.
2. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito financeiro e de direito tributário. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 199.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 13-29, jul./set. 2014 27
Andre Folloni, Lara Bonemer Azevedo da Rocha
BORGES, José Souto Maior. Curso de direito comunitário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
BORGES, José Souto Maior. Lei complementar tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975.
BORGES, José Souto Maior. Normas gerais de direito tributário: velho tema sob perspectiva nova.
Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, n. 213, jun. 2013.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Ag 1286579/RS, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, julgado em 02.06.2011, DJe, 09 jun. 2011.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1202195/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira
Turma, julgado em 03.02.2011, DJe, 22 fev. 2011.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. EDcl no AgRg no Ag 1272349/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira
Turma, julgado em 02.12.2010, DJe, 14 dez. 2010.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGRESP 384860/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Paulo Medina, DJ,
p. 213, 09 jun. 2003.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGRESP 433227/DF, 2ª Turma, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ,
p. 288, 16 jun. 2003.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGRESP 492428/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de
Barros, DJ, p. 189, 09 jun. 2003.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGA 487076/SC, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJ, 29 set. 2003.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no Ag nº 1.211.213/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
2ª Turma, j. 15.02.2011, DJe, 24 fev. 2011.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgReg no REsp nº 200901466440, Rel. Min. Castro Meira,
2ª Turma, DJe, 18 jun. 2010.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 73.511/PR, Rel. Ministro Castro Meira, 2ª Turma,
J. 03.08.2004, DJ, p. 186, 06 set. 2004.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no EREsp 761488/SC, julgado pela Primeira Seção,
Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Julgado em: 25.11.2009.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 734.867/SC, Rel. Ex-Ministra Denise Arruda,
Primeira Turma, julgado em 23.09.2008.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 1.104.900/ES, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira
Seção, julgado em 25.03.2009, DJe, 1º abr. 2009.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1.196.377-SP, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto
Martins, DJe, 27 out. 2010.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1.100.907/RS, Rel. Min. Humberto Martins,
Segunda Turma, DJe, 18 set. 2009.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1.062.571/RS, Rel. Min, Herman Benjamin,
Segunda Turma, julgado em 20.11.2008, DJe, 24 mar. 2009.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 562276, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal
Pleno, julgado em: 03.11.2010.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. AgIn nº 813466-9. Des. Rel. Fabio Andre Santos
Muniz. 1ª Câm. Cív. DJe, 11 out. 2011.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. AgIn nº 717989-1. Des. Rel. Paulo Roberto
Vasconcelos, 3ª Câm. Cív. DJe, 22 jun. 2011.
28 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 13-29, jul./set. 2014
A aplicação da actio nata no redirecionamento das execuções fiscais e seus reflexos no desenvolvimento...
FOLLONI, Andre; ROCHA, Lara Bonemer Azevedo da. A aplicação da actio nata no
redirecionamento das execuções fiscais e seus reflexos no desenvolvimento e na
segurança jurídica. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte,
ano 22, n. 87, p. 13-29, jul./set. 2014.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 13-29, jul./set. 2014 29
A contribuição da teoria estruturalista
para o processo constitucional no
Estado Democrático de Direito
brasileiro – Reflexões sobre a crítica de
Hermes Zaneti Júnior à teoria de Fazzalari1
Marcos Rezende
Mestrando em Direito Processual pela PUC Minas. Graduado em Direito pela UFMG. Pesquisador.
Introdução
Na construção do sempre inacabado Estado Democrático de Direito, o
processo constitucional revela-se essencial para garantir, por meio da jurisdição, a
implementação dos direitos e garantias fundamentais. O processo constitucional,
orientado pelos princípios da democracia, do devido processo legal, do contraditório,
Artigo elaborado sob a orientação do Professor Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias, Mestre e Doutor em Direito
1
pela UFMG. Professor e Vice-Diretor da Faculdade Mineira de Direito da PUC Minas. Membro Efetivo do Instituto
dos Advogados de Minas Gerais. Advogado militante em Minas Gerais.
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Marcos Rezende
2
ZANETI JÚNIOR, Hermes. Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2007. A obra tem origem em sua tese de doutorado A constitucionalização do processo:
a virada do paradigma racional e político no processo civil brasileiro do Estado Democrático constitucional.
3
ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, p. 1.
4
ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, 2007. p. 62, 85,
115, 171, 186, 190, 195, 197, 198, 199, 200, 207, 208, 209, 216, 217, 265.
5
ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, p. 200.
6
A denominação “teoria estruturalista” é adotada por Ronaldo Brêtas, em razão de Elio Fazzalari conceber o
processo como espécie de procedimento, que se desenvolve obedecendo a uma predeterminada estrutura
normativa sob a presença contraditório. A expressão “estrutura normativa” é utilizada várias vezes por Aroldo
Plínio Gonçalves na obra Técnica processual e teoria do processo, por meio da qual apresenta a teoria
estruturalista do processo ao direito processual brasileiro e também pelo próprio Fazzalari (BRÊTAS, Ronaldo
de Carvalho Dias. Processo constitucional e Estado Democrático de Direito. 2. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte:
Del Rey, 2012. p. 90-91.
7
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 34.
32 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
8
A democracia representativa demonstra sinais de insuficiência e decadência. A democracia participativa, ainda
incipiente, apresenta-se mais adequada ao Estado Democrático, pela maior participação do povo nos processos
de decisão e na produção de inputs políticos (CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria
da Constituição. 3. ed. Reimpressão. Lisboa: Almedina, 1998. p. 282).
9
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Direito processual constitucional. Belo Horizonte: Mandamentos,
2001. p. 219-221.
10
Estado aqui se refere a Estado com qualidades constitucionais, ou seja Estado de Direito e Estado Democrático.
CANOTILHO, Direito constitucional e teoria da Constituição, p. 89.
11
Nesse mesmo sentido, a opinião de André Del Negri: “As sociedades totalitárias são avessas ao debate.
Silenciam o discurso dos atores sociais, tanto quanto. Em face dessa não possibilidade de manifestar opinião,
o outro é anulado. Por isso, a importância de estudos que buscam a emancipação dos indivíduos num contexto
que privilegie a pluralidade de vozes e de visões de mundo. Daí a importância da teoria da democracia, das
soluções legítimas para os problemas sociais, da ‘inclusão do outro’, da contestação, da racionalidade, das
‘sociedades abertas’, de um razão dialogal, e não subjetiva, de decisões compartilhadas e não solitárias”.
(DEL NEGRI, André. Processo constitucional e decisão interna corporis. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 33).
12
BRÊTAS, Ronaldo de Carvalho Dias. Processo constitucional e Estado Democrático de Direito. 2. ed. rev. e
ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2012. p. 48.
13
BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Regimes políticos. São Paulo: Resenha Universitária, 1997. p. 126-127.
14
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 49.
15
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 49.
16
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 50.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014 33
Marcos Rezende
17
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 51.
18
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 52.
19
“Os princípios baixaram primeiro das alturas montanhosas e metafísicas de suas primeiras formulações
filosóficas para a planície normativa do Direito Civil. Transitando daí para as Constituições, noutro passo largo,
subiram ao degrau mais alto da hierarquia normativa” (BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional.
25. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 293).
20
Em relação à noção de Constituição, Raul Machado Horta relata que: “A ideia de Constituição despontou no
mundo antigo, preocupando Aristóteles em sua Política, penetrou na Idade Média com a Magna Carta e ganhou
conteúdo mais nítido e preciso na elaboração doutrinária do conceito de Lex Fundamentalis, nos séculos XVII
e XVIII”. E dando continuidade, afirma que: “Há, entretanto, concordância entre os autores quando acentuam
que a elaboração doutrinária do conceito de Lex Fundamentalis constitui uma das apreciáveis contribuições
da École du droit de la nature et des gens, que Edgard Bodenheimer, para distingui-la, denomina de Escola
Clássica do Direito Natural. É especialmente entre os filósofos da primeira fase dessa escola — assinalada
pelo advento do mercantilismo, na economia, pelo absolutismo ilustrado, na política, e pelo protestantismo,
na religião — que se deve procurar as fontes doutrinárias da concepção de Lex Fundamentalis” (HORTA, Raul
Machado. Estudos de direito constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p. 133-134).
21
“As normas constitucionais definidoras de direitos são as que tipicamente geram direitos subjetivos, investindo
o jurisdicionado no poder de exigir do Estado — ou de outro eventual destinatário da norma — prestações
positivas ou negativas, que proporcionem o desfrute dos bens jurídicos nelas consagrados. Nesta categoria se
incluem todas as normas concernentes aos direitos políticos, individuais, coletivos, sociais e difusos previstos
na Constituição” (BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 2. ed. rev. São Paulo:
Saraiva, 1998, p. 228).
22
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 54.
23
OMMATI, José Emilio Medauar. Teoria da Constituição. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013. p. 18-21.
24
Na lição de Gilmar Mendes, Inocêncio Coelho e Paulo Gustavo Gonet: “Em que pesem pequenas variações
semânticas em torno desse núcleo essencial, entende-se como Estado Democrático de Direito a organização
política em que o poder emana do povo, que o exerce diretamente ou por meio de representantes, escolhidos
em eleições livres e periódicas, mediante sufrágio universal e voto direito e secreto, para o exercício de
mandatos periódicos, como proclama, entre outras, a Constituição brasileira”. MENDES, Gilmar Ferreira;
MÁRTIRES COELHO, Inocêncio; GONET BRANCO, Paulo Gustavo. Curso de direito constitucional. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2008. p. 149.
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A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
e o poder devem ser exercidos de forma democrática. Afirma Canotilho que: “Só o
princípio da soberania popular segundo o qual ‘todo o poder vem do povo’ assegura e
garante o direito à igual participação na formação democrática da vontade popular”.25
E Canotilho arremata afirmando que o Estado Democrático de Direito se fundamenta
em dois pilares principais, “o Estado limitado pelo direito e o poder político legitimado
pelo povo”.26
O Estado Constitucional Democrático de Direito surge do arranjo dos
princípios do Estado Democrático e do Estado de Direito conformado por normas
constitucionais.27 Resulta historicamente da superação de organizações políticas
tradicionais de Estados, de novas orientações políticas, da participação popular e da
adequação dos objetivos do Estado às necessidades do povo. E, para confirmar a
orientação democrática do Estado de Direito a transformá-lo em Estado Democrático
de Direito, André Del Negri afirma: “Verifica-se, portanto, que o Estado na Democracia
é estabilizador dos atos produzidos no espaço democrático (espaço demarcado
pelas leis construídas em discursividade argumentativa testificável). Na sociedade
moderna, fundada na racionalidade comunicativa, não se admite por parte do Estado
(Administração Governativa) nenhum tipo de sobressaltos e afronta aos Direitos
Fundamentais, pois ele é, senão, o próprio lugar de garantia jurídica da legalidade
e legitimidade”.28
A democracia é um princípio constitucional que legitima o exercício do poder, cujo
único titular é o povo. A respeito da noção de povo, afirma Ronaldo Brêtas, invocando
entendimento de Jorge Miranda, “Como povo, há de entender a comunidade política
do Estado, composta de pessoas livres, dotadas de direitos subjetivos umas em face
de outras e perante o próprio Estado, fazendo parte do povo tanto os governados
como os governantes, pois estes são provenientes do povo, sejam quais forem
suas condições sociais, todos obedientes às mesmas normas jurídicas, sobretudo à
Constituição, que é o estatuto maior do poder político”.29
O Estado30 que adota, não retoricamente, o princípio da democracia como
fundamento de sua organização interna, condiciona-se a praticar e promover
25
CANOTILHO, Jose Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 3. ed. Reimpressão. Lisboa:
Almedina, 1998. p. 96.
26
CANOTILHO, Direito constitucional e teoria da Constituição, p. 227.
27
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 58.
28
DEL NEGRI. André. Controle de constitucionalidade no processo legislativo: teoria da legitimidade democrática.
Belo Horizonte: Fórum, 2008. p. 46.
29
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 59.
30
Conforme assinala Canotilho, “Se quisermos um Estado Constitucional assente em fundamentos não
metafísicos, temos de distinguir claramente duas coisa: (1) uma é a da legitimidade do direito, dos direitos
fundamentais e do processo de legislação no sistema jurídico; (2) outra é a da ‘legitimidade de uma ordem
de domínio e da legitimação do exercício do poder político’. O Estado ‘impolítico’ do Estado de direito não
dá resposta a este último problema: de onde vem o poder. Só o princípio da soberania popular segundo o
qual ‘todo poder vem do povo’ assegura e garante o direito de igual participação na formação democrática da
vontade popular” (Direito constitucional e teoria da Constituição, p. 96).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014 35
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31
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 64.
32
GOYARD-FABRE, Simone. O que é a democracia? A genealogia filosófica de uma grande aventura humana. São
Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 14.
33
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 74.
34
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 54.
35
“A formulação de um Processo Constitucional que possa ser instrumento de absorção das crises e dos
conflitos, a nível institucional, torna-se necessária para o Estado democrático, que somente assim poderá
corresponder aos apelos da sociedade contemporânea” (BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Processo
constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1984. p. 354).
36 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
36
BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a
construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 352.
37
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito., p. 32.
38
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 32.
39
A respeito das normas jurídicas e de suas espécies, princípios e regras, Robert Alexy esclarece que: “A
distinção entre regras e princípios constitui, além disso, a estrutura de uma teoria normativo-material dos
direitos fundamentais e, com isso, um ponto de partida para a resposta à pergunta acerca da possibilidade
e dos limites da racionalidade no âmbito dos direitos fundamentais. Nesse sentido, a distinção entre regras
e princípios é uma das colunas-mestras do edifício da teoria dos direitos fundamentais. Não faltam indícios
de que a distinção entre regras e princípios desempenha um papel no contexto dos direitos fundamentais. As
normas de direitos fundamentais são não raro caracterizadas como ‘princípios’” (ALEXY, Robert. Teoria dos
direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 85-86). BRÊTAS, Processo
constitucional e Estado Democrático de Direito, 2012, p. 105-114. ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios,
p. 35-40.
40
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 9.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014 37
Marcos Rezende
41
TAVARES, Fernando Horta; CUNHA, Maurício Ferreira. A codificação no direito e a temática recursal no projeto
do novo código de processo civil brasileiro. In: BARROS, Flaviane de Magalhães; BOLZAN DE MORAIS, José
Luis (Coord.). Reforma do processo civil: perspectivas constitucionais. Belo Horizonte: Fórum, 2010. p. 246.
42
Afirma o Prof. José Alfredo de Oliveira Baracho que: “A origem do Processo Constitucional moderno está
nos diversos procedimentos aceitos para a declaração da inconstitucionalidade das leis. [...]. O Processo
Constitucional visa à proteção dos princípios constitucionais, especialmente aqueles conferidos aos indivíduos,
para se oporem às decisões legítimas das autoridades públicas” (BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Processo
constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 346).
43
BARACHO, Processo constitucional, p. 347.
44
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 93-94.
45
Preciso o esclarecimento de Brêtas quando afirma que: “O Estado só pode agir, se e quando chamado
a exercer a função jurisdicional, dentro de uma estrutura metodológica construída normativamente (devido
processo legal), de modo a garantir adequada participação dos destinatários na formação do seu ato decisório
imperativo. Com essa metodologia, afasta-se qualquer subjetivismo ou ideologia do agente público decisor
(juiz), investido pelo Estado do poder de julgar, sem espaço para a discricionariedade ou a utilização de
hermenêutica canhestra fundada no prudente livre arbítrio do julgador ou prudente critério do juiz, incompatível!
com os postulados do Estado Democrático de Direito” (BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático
de Direito, 2012, p. 36).
38 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
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46
LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria geral do processo: primeiros estudos. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 68.
47
“A noção de modelo constitucional de processo permite suprimir a dicotomia entre direito processual
constitucional e direito constitucional do processo, visto que tal modelo é constituído de uma base
principiológica uníssona aplicável a todos e qualquer processo, já que todo processo é constitucional, seja
em razão de sua fundamentação ou de sua estrutura, pois é garantia constitutiva dos direitos fundamentais
dos sujeitos de direito” (BARROS, Flaviane de Magalhães. O modelo constitucional de processo e o processo
penal: a necessidade de uma interpretação das reformas do processo penal a partir da Constituição. In:
MACHADO, Felipe Daniel Amorim; CATTONI DE OLIVEIRA. Marcelo Andrade (Coord.). Constituição e processo:
a contribuição do processo ao constitucionalismo brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 333.
48
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 34.
49
Art. 5º, LV, Constituição Federal. BRASIL. Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.
Acesso em: 1º jun. 2012.
50
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 90.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014 39
Marcos Rezende
51
GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e teoria do processo. Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 127.
52
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 33-34.
53
NUNES, Dierle José Coelho. O princípio do contraditório. In: Revista IOB — RDCPC n. 29. São Paulo, maio-jun.
2004, p. 79.
54
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 96-97.
40 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
55
A respeito de decisão judicial André Del Negri faz a seguinte observação, “Decisão e totalitarismo — os dois
maiores assuntos impregnados de tirania ao longo da história da humanidade — nunca foram esquecidos.
[...]. Do ponto de vista historiográfico, há versões básicas de como a magistratura usou e abusou do discurso
de autoridade. Embora a acusação pareça excessiva, o acúmulo de fatos, em detrimento da análise, não
deixa dúvida de que a magistratura apoiou-se em algumas teorias autoritárias. Como diz Elpídio Nunes, ‘há
de haver uma forte justificativa histórica para que, em pleno século XXI, ainda visualizemos a jurisdição como
um espírito divino, que desceu a Terra e aqui se incorporou na pessoa do juiz’” (DEL NEGRI. André. Processo
constitucional e decisão interna corporis. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 33).
56
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Constituição e processo: desafios constitucionais da reforma do processo civil
no Brasil. In: MACHADO, Felipe Daniel Amorim; CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade (Coord.). Constituição e
processo: a contribuição do processo ao constitucionalismo brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 252.
57
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 665.
58
SARLET; MARINONI; MITIDIERO. Curso de direito constitucional, p. 666-667.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014 41
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59
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A motivação das decisões jurisdicionais como garantia inerente ao Estado
Democrático de Direito. In: Temas de direito processual civil: segunda série. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1988. p. 84.
60
BARBOSA MOREIRA, A motivação das decisões jurisdicionais como garantia inerente ao Estado Democrático
de Direito, p. 87
61
BARBOSA MOREIRA, A motivação das decisões jurisdicionais como garantia inerente ao Estado Democrático
de Direito, p. 88.
62
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 122.
63
LEAL, André Cordeiro. O contraditório e a fundamentação das decisões jurisdicionais no direito processual
democrático. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 105.
64
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 136-137.
65
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 132.
66
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 134.
42 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
67
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 138.
68
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 132.
69
LEAL, O contraditório e a fundamentação das decisões jurisdicionais no direito processual democrático, p. 102.
70
THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES, Dierle José Coelho. Uma dimensão que urge reconhecer ao contraditório
no direito brasileiro: sua aplicação como garantia de influência, de não surpresa e de aproveitamento da
atividade processual. Revista de Processo, v. 168. São Paulo, fev. 2009, p. 137.
71
STJ/AgRg no Resp nº 27988/AL. Rel. Min. José Delgado. 1ª Turma. Julg. 03.04.2001, Publ. DJ, 11 jun. 2001;
STJ/HC nº 94826/SP. Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho. 5ª Turma, Julg.: DJ, 17 abr. 2008. Publ. DJ, 05 maio
2008; STJ/HC nº 16706/RJ. Rel. Min. Hamilton Carvalhido. 6ª Turma. Julg. 19 jun. 2001. Publ. DJ, 24 set. 2001.
72
Conforme assinala Lenio Streck: “Para além da operacionalidade stricto sensu, a doutrina indica o caminho para
a interpretação colocando a consciência ou a convicção pessoal como norteadores do juiz, perfectibilizando essa
‘metodologia’ de vários modos. Ou seja, mesmo que se afirma que a Constituição é o norte da interpretação,
tem-se dito, à saciedade, que o ‘produto’ desse processo hermenêutico ‘deve ficar a cargo da convicção-do-juiz’,
fenômeno que aparece sob o álibi da discricionariedade” (STRECK, Lenio Luiz. O que é isto — “decidir conforme
a consciência”? Protogênese do protagonismo judicial. In: MACHADO, Felipe; CATTONI. Marcelo (Coord.).
Constituição e processo; entre o direito e a política. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 219).
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73
André Cordeiro Leal a propósito faz o seguinte comentário: “Dificuldades incontornáveis surgem quando
as teorias do processo tentam clarificar aspectos de uma ‘atividade jurisdicional’ que se desenvolve pelas
pessoas dos magistrados, porque isso desemboca em concepções intrinsecamente monológicas e solipsistas
de jurisdição que não se alinham ao paradigma democrático procedimentalista” (LEAL, André Cordeiro.
Instrumentalidade do processo em crise. Belo Horizonte: Mandamentos, 2008. p. 27).
74
O indicado ao cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, em sabatina no Senado,
ao ser questionado sobre o julgamento dos recursos dos réus no caso “Mensalão” assim se pronunciou: “Eu
vou fazer o que eu acho certo, o que meu coração mandar, ninguém me pauta, nem governo, nem imprensa,
nem acusados, somente farei o que achar certo” (CALGARO, Fernanda. Senado aprova nome de Barroso para
ministro do STF. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/06/05/senado-
aprova-nome-de-barroso.htm >. Acesso em 07 jun. 2013).
75
NELSON, Jacinto. A contribuição da Constituição democrática ao processo penal inquisitório brasileiro. In:
MACHADO, Felipe Daniel Amorim e CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade (Coord.). Constituição e processo:
a contribuição do processo ao constitucionalismo brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 227.
76
BRÊTAS, Ronaldo Processo constitucional e Estado Democrático de Direito. 2. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte:
Del Rey, 2012. p. 89. nota 35.
77
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 32.
44 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
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78
“Efetivamente, desde Oskar von Büllow (sic) — questão que também pode ser vista em Anton Menger e Franz
Klein -, a relação publicística está lastreada na figura do juiz, ‘porta-voz avançado do sentimento jurídico do povo’,
com poderes para criar direito mesmo contra legem, tese que viabilizou, na sequência, a Escola de Direito Livre.
Essa aposta solipsista está lastreada no paradigma representacional, que atravessa dois séculos, podendo
facilmente ser percebida em Chiovenda, para quem a vontade concreta da lei é aquilo que o juiz afirma ser a
vontade concreta da lei; em Carnellutti, que sustenta que a jurisdição é ‘prover’, ‘fazer o que seja necessário’;
também em Couture, que, a partir de sua visão intuitiva e subjetivista chega a dizer que ‘o problema da escolha
do juiz é, em definitivo, o problema da justiça’; em Liebman, para quem o juiz, no exercício da jurisdição, é livre de
vínculos enquanto intérprete qualificado da lei” (STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica. Constituição e Processo, ou
de “como discricionariedade não combina com democracia”; o contraponto da resposta correta. In: MACHADO,
Felipe Daniel Amorim; CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade (Coord.). Constituição e processo: a contribuição
do processo ao constitucionalismo brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 11).
79
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 77.
80
NUNES, Dierle José Coelho. Processo jurisdicional democrático. Curitiba: Juruá, 2008. p. 79.
81
NUNES, Processo jurisdicional democrático, p. 100.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014 45
Marcos Rezende
82
CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. Teoria da argumentação jurídica: constitucionalismo e democracia em uma
reconstrução das fontes no direito moderno. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 179-180.
83
NUNES, Processo jurisdicional democrático, p. 195.
84
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER Ada Pellegrini; DINAMARCO Cândido Rangel. Teoria geral do
processo. 25. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 302.
85
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Trad. Paolo Capitanio. 4. ed. Campinas:
BookSeller, 2009. p. 43.
86
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER Ada Pellegrini; DINAMARCO Cândido Rangel. Teoria geral do
processo. 25. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 297.
87
André Cordeiro Leal, ao comentar sobre a jurisdição na teoria relacionista do processo, faz as seguintes
considerações: “A jurisdição, assim concebida, é, ‘in integrum’, atividade de juízes que revelam, pelo ato
sentencial, suas próprias vontades (como em Bülow), ou uma outra vontade pronta na lei, a da ‘mens legis’
ou a da’ mens legislatoris’ (num enfoque que, por imprestável, o próprio Ronald Dworkin já se esforçara em
afastar), ou, ainda, intervenções solipsistas e contingenciais em realidades sociais que estariam a suplicar
socorro prestante em razão da inércia (ou inaptidão) do legislador soberano” (Instrumentalidade do processo
em crise. Belo Horizonte: Mandamentos, 2008. p. 31).
46 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
88
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER Ada Pellegrini; DINAMARCO Cândido Rangel. Teoria geral do
processo. 25. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 297.
89
GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e teoria do processo. Rio de Janeiro: Aide, 1992. p. 97.
90
NUNES. Processo jurisdicional democrático, p. 203.
91
Afirma Nunes que: “[...] numa visão constitucional democrática, pode-se afirmar que não existe entre os
sujeitos processuais (técnicos processuais) submissão, mas sim, interdependência, fazendo-se inaceitável
o esquema da relação jurídico-processual que impõe submissão das partes ao juiz”. (Processo jurisdicional
democrático, p. 204).
92
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 89, nota 35).
93
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 69.
94
NUNES, Processo jurisdicional democrático, p. 39.
95
Fazzalari percebe, a partir dos estudos de Feliciano Benvenutti, que processo e processo possuem origens
comuns (Processo jurisdicional democrático, p. 204).
96
Teoria do processo como contrato; teoria do processo como quase contrato; teoria do processo como relação
jurídica; teoria do processo como situação jurídica; teoria do processo como instituição (LEAL, Rosemiro
Pereira. Teoria geral do processo: primeiros estudos. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 82-86).
97
Aroldo Plínio assinala que ao invés de se adotar a relação gênero e espécie, a teoria de Fazzalari ficaria melhor
explicitada se recorresse à lógica da relação entre classes (GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e
teoria do processo. Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 114).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014 47
Marcos Rezende
98
FAZZALARI, Elio. Instituições de direito processual. Trad. Elaine Nassif. Campinas: Bookseller, 2006. p. 18.
99
ARAÚJO DE CARVALHO, Carlos Eduardo. Legitimidade dos provimentos. Curitiba: Juruá, 2009, p. 260.
100
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER Ada Pellegrini; DINAMARCO Cândido Rangel. Teoria geral do
processo. 25. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 305.
101
LEAL, Teoria geral do processo: primeiros estudos, p. 87.
102
GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e teoria do processo. Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 102.
103
A respeito do conceito de contraditório, afirma Humberto Theodoro Júnior que o contraditório “Concebido
como elemento indispensável à configuração do processo, qualquer que fosse o ramo do direito a atuar por
seu intermédio, foi em torno do contraditório que se aperfeiçoou basicamente a garantia do devido processo
legal. Na visão primitiva, resumia-se o contraditório ao direito à bilateralidade da audiência das partes. Sua
incidência deveria ocorrer no plano do relacionamento entre as partes”. (THEODORO JÚNIOR, Humberto.
Constituição e processo: desafios constitucionais da reforma do processo civil no Brasil. In: MACHADO, Felipe
Daniel Amorim; CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade (Coord.). Constituição e processo: a contribuição do
processo ao constitucionalismo brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 252).
48 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
104
GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e teoria do processo. Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 127.
105
GONÇALVES, Técnica processual e teoria do processo, p. 115.
106
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 92-93; LEAL, Teoria geral do processo: primeiros
estudos, p. 87; LEAL, André Cordeiro. Instrumentalidade do processo em crise. Belo Horizonte: Mandamentos, 2008.
p. 122. ARAÚJO DE CARVALHO, Carlos Eduardo. Legitimidade dos provimentos. Curitiba: Juruá, 2009, p. 263.
107
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2010. TUCCI, José
Rogério Cruz. Precedente judicial como fonte do direito. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2004. DIDIER Jr.,
Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. 8. ed. ver. ampl.
atual. Salvador: JusPodivm, 2013, v. 2. ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do
processo civil brasileiro. BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Teoria do precedente judicial: a justificação e a
aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012.
108
No STF: AI-795809-AgR/RS. Rel.: Min. Luiz Fux. Julg.: 18.12.2012, Órgão Julgador: 1ª Turma. Publ.: 20.02.2013;
Pet-2859 MC-segunda/SP. Rel.: Min. Gilmar Mendes. Julg.: 03.02.2005, Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publ.:
DJ, 20 maio 2005 PP-00007; DC-29/DF. Rel.: Min. Luiz Fux. Julg.: 16.02.2012. Órgão Julgador: Tribunal
Pleno. Publ.: 29.06.2012. No STJ: AgRg no REsp 1124660/MG. Rel.: Min. Luiz Fux. Órgão Julgador: 1ª Turma.
Julg.: 17.02.2011. Publ.: DJe, 28 fev. 2011; AgRg nos EDcl no REsp 1139549/SP. Rel.: Min. Humberto
Martins. Órgão Julgador: 2ª Turma. Julg.: 22.06.2010. Publ.: DJe, 06 ago. 2010; Resp-1111743/DF. Red.:
Min. Luiz Fux. Órgão Julgador: Corte Especial. Julg.: 25.02.2010. Publ.: DJe, 21.06.2010; HC-252243/PR.
Rel.: Min. Marco Buzzi. Órgão Julgador: 4ª Turma. Julg.: 21.03.2013. Publ.: DJe, 04.04.2013; HC-118310/RS.
Rel.: Min. Og Fernandes. Órgão Julgador: 6ª Turma. Julg.: 18.10.2012. Publ.: DJe, 31 out. 2012; AgRg no
Resp-1284520/GO. Rel.: Min. Humberto Martins. Órgão Julgador: 2ª Turma. Julg.: 04.09.2012. Publ.: DJe,
08 mar. 2013; Resp-279119/SP. Rel.: Min. Maria Thereza de Assis Moura. Órgão Julgador: 6ª Turma. Julg.:
28.09.2010. Publ.: DJe, 08 jun. 2011.
109
O termo instituto é utilizado neste trabalho de forma ampla, alcançando categorias, espécies, definições,
estruturas e procedimentos jurídicos.
110
Principalmente em relação ao precedente do common law, que se configura como norma jurídica e no civil law
não, porque neste último prevalece o principio da legalidade.
111
Um dos exemplos de transposição virtuosa se refere ao controle difuso de constitucionalidade das leis,
originário do sistema jurídico norte-americano.
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Marcos Rezende
112
Sobre a “importação” acrítica de institutos pertencentes a sistemas jurídicos diferentes do brasileiro, cita-se nota
do administrativista Celso Antônio Bandeira de Mello que denuncia, herculeamente, a existência dessa prática
desarrazoada no sistema brasileiro: “Cumpre, pois, estar advertido contra o típico servilismo intelectual de
povos periféricos em relação às metrópoles culturais, cujas produções jurídicas teóricas costumam ser havidas
como as ‘verdadeiras’ e, destarte, reproduzidas acriticamente. Ao incorrer no sobredito equívoco, prescinde-se
de obviedade de que as considerações doutrinárias neles formuladas correspondem ou podem corresponder a
descrições exatas (verdadeiras) dos respectivos Direitos Positivos, mas não são necessariamente aplicáveis
ao nosso próprio Direito Positivo, cujas instituições, aliás, compreensivelmente, passam muito ao largo das
preocupações dos juristas de tais países. As referidas observações, evidentemente, não implicam, de modo
algum, qualquer menoscabo ao estudo da produção jurídico-teórica dos países culturalmente mais avançados
ou ao interesse na perquirição sobre a origem e desenvolvimento das respectivas instituições. Pelo contrário,
reconhece-se a imensa utilidade que proporcionam. Com efeito, são valiosos, e não apenas em razão do
refinamento científico que — isto sim — devemos imitar, mas também por ensejar-nos filiar tanto nossos próprios
institutos jurídicos quanto a origem da maior parte das posições doutrinárias entre nós sustentadas. Graças a
isto, pode-se, de um lado, visualizá-los com maior clareza e detectar equívocos decorrentes de transposições
acríticas indevidamente efetuadas. Finalmente, sobre proporcionar-nos uma perspectiva mais ampla, permitem
adotar, rentavelmente, uma visão ‘desde fora’, ou seja: mirar nossas instituições e produção doutrinária a partir
de um ponto de observação como que externo, pois involucrado nos subsídios colhidos em universo cultural
alheio ao nosso específico e circunstancial envolvimento (teórico e institucional). Assim, instrumentam-nos para
um conhecimento mais objetivo e criticamente mais aparelhado de ambos os tópicos” (BANDEIRA DE MELLO,
Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 20. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2006. p. 314-315).
113
Humberto Ávila exemplifica esta situação a partir da modulação dos efeitos na ação direta de
inconstitucionalidade, que “transferido” do sistema normativo alemão, que adota o sistema do civil law, para
ordenamento jurídico brasileiro, teve a sua aplicação distorcida pelo Supremo Tribunal Federal. i: Relativização
da Coisa Julgada e a Modulação Temporal das Decisões do STF. Palestra proferida pelo Professor Humberto
Ávila durante o IV Congresso Brasileiro de Direito Tributário, realizado nos dias 31.10.11 e 1º.11.11 em
Salvador, Bahia. Disponível em: <http://www.humbertoavila.com.br/site/category/palestra/>. Acesso em:
07 jun. 2013.
114
WHITTACKER, Simon. Precedent in english law: a view from the citadel. In: HONDIUS, Edwoud (Edited by).
Precent and the law: reports to the XVIIth Congress International Academy of Comparative Law. Bruxelles.
Etablissements Emile Bruyland, S. A., 2007. p. 36.
115
MARINONI, Luiz Guilherme. Aproximação crítica entre as jurisdições de civil law e de common law e a
necessidade de respeito aos precedentes no Brasil. Revista da Faculdade de Direito — UFPR. Curitiba, n. 49,
2009, p. 11-58.
116
TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente judicial como fonte do direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
p. 150-151.
117
WHITTACKER, Simon. Precedent in english law: a view from the citadel. In: HONDIUS, Edwoud (Edited by).
Precent and the law: reports to the XVIIth Congress International Academy of Comparative Law. Bruxelles.
Etablissements Emile Bruyland, S. A., 2007, p. 28.
50 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
O juiz do civil law, após a Revolução Francesa, passou a ser proibido de interpretar
a lei em razão de abusos cometidos durante a monarquia absolutista. Mas, ao final
do século XIX, com a socialização do processo, a partir das ideias de Klein e Menger,
o órgão julgador incorporou uma crescente potencialização do seu poder, que se
estende até a atualidade, uma das causas do ativismo e do protagonismo judicial
presentes na jurisdição.
Para validar a sua tese de aproximação dos sistemas do common law e do civil
law, Hermes Zaneti Júnior utiliza a arquitetura119 como representação. Porém, o
118
118
ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, p. 27.
119
No sentido de técnica de organização estético-espacial.
120
NUNES, Processo jurisdicional democrático, p. 175.
121
Oportuna a afirmação de Rosemiro Pereira Leal: “Assim, a permanência secular de uma justiça civil com aceno
de ‘acesso à justiça’, sem esclarecer que justiça se justifica pela atividade fabril de um judiciário que a cada
dia mais se civiliza em aumento quantitativo das bordas do Estado-juiz, é um problema que se agrava quando
somado a socorros de globalização e internacionalização” (LEAL, Rosemiro Pereira. Modelos processuais e
Constituição democrática. In: MACHADO, Felipe Daniel Amorim e CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade
(Coord.). Constituição e processo: a contribuição do processo ao constitucionalismo brasileiro. Belo Horizonte:
Del Rey, 2009. p. 287).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014 51
Marcos Rezende
122
ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, p. 2.
123
ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, p. 4. nota 5.
124
ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, p. 4. Noção de
judge-make law. DICEY, Albert Venn. Lectures on the Relation between Law and Public Opinion in England during
the Nineteenth Century. 2. ed. London: Macmillan, 1919, Apendix: note IV: JUDGE-MADE LAW. Disponível em
<http://oll.libertyfund.org/title/1683/9640>. Acesso em: 22 jun. 2013.
125
ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, p. 5.
126
Crítica pertinente de Rosemiro Pereira Leal a institutos antidemocráticos: “A mítica da autoridade na dicção
do direito submete a interpretação jurídica à regência de juízos ordálicos e de conveniência e equidade
que escapam à cognitividade probatícia de democratização decisória pelo contraditório e ampla defesa,
excluindo o discurso jurídico (escritura legal) como eixo polarizador de sentidos para todos os argumentantes
processualmente legitimados”. LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria geral do processo: primeiros estudos. 11. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 246.
127
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 121-127.
128
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 95-104.
129
BRÊTAS, Processo constitucional e Estado Democrático de Direito, p. 130-136.
130
MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade. 2. ed. rev. São Paulo: Celso
Bastos Editor, 1999. p. 35-36.
52 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
131
Crítica de Ronaldo Brêtas ao art. 120 do projeto do novo Código de Processo civil, na redação do PLC
nº 8.046/2010, com idêntica redação do art. 127 do atual CPC, quando afirma que: “No Estado Democrático
de Direito brasileiro, o juiz somente pode decidir com observância do princípio constitucional da reserva legal
(Constituição Federal, art. 5º. inciso II), ou seja, com base nas normas (regras legais e princípios de direito)
que integram seu ordenamento jurídico, nunca por equidade, fonte de subjetivismos e ideologias do agente
público julgador”. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
temporarias/especiais/54a-legislatura/8046-10-codigo-de-processo-civil/arquivos/ap-ronaldo-bretas>.
Acesso em: 12 jun. 2013.
132
ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, p. 199-200.
133
Assinalando o desacerto de Hermes Zaneti Júnior, Ronaldo Brêtas assevera que: “[...], porque o juiz não
‘cria’ (ou ‘inventa’) direito algum no processo que possa ser considerado democrático, visto não ser seu
protagonista, transformando as partes em mero receptáculo da sua vontade pessoal, à margem da inarredável
garantia constitucional da reserva legal, eliminando, reduzindo ou menosprezando a participação dos
interessados na formação do ato decisório final, cujo efeitos suportarão” (BRÊTAS, Processo constitucional e
Estado Democrático de Direito, p. 92).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014 53
Marcos Rezende
134
ZANETI JÚNIOR, Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil brasileiro, p. 2.
135
Em sentido semelhante, Lenio Streck assevera que: “Por isso, para mim, o principal problema aparece quando
se procura determinar ‘como ocorre e dentro de quais limites deve ocorrer a decisão judicial’. As teorias
argumentativas — que se enquadram no âmbito das teorias analíticas — continuam apostando na vontade do
intérprete para resolver o problema gerando a discricionariedade judicial. Tais teorias ‘sofrem, assim, de um
letal défict democrático’” (STRECK, Lenio Luiz. O que é isto - “decidir conforme a consciência”? Protogênese
do protagonismo judicial. In: MACHADO, Felipe; CATTONI. Marcelo (Coord.). Constituição e processo: entre o
direito e a política. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 237).
136
FAZZALARI, Elio. Sentenza Civile, In: ENCICLOPEDIA del Diritto. Milano: Giuffrè, 1989, v. 41. p. 1262.
137
FAZZALARI, Elio. Sentenza Civile, In: ENCICLOPEDIA del Diritto. Milano: Giuffrè, 1989, v. 41. p. 1262. “Em
nossa cultura, não é possível substituir a verdadeira ‘norma’ — aquela geral, como entendemos - com a
sentença (é também um equívoco apresentar esta última [a sentença], utilizando-se de um errôneo kelsenismo,
como ‘norma individual’: a vontade do juiz é um ‘ato’ [jurídico] da mesma forma que um negócio [jurídico]).
Além disso, nos ordenamentos dos Estados modernos — e, portanto, como é o nosso - a função jurisdicional
é estabelecida como proteção de posições [jurídicas] substanciais anteriores”. (Tradução livre).
138
BRÊTAS, Ronaldo Brêtas de Carvalho. Processo constitucional e Estado Democrático de Direito. 2. ed. rev. e
ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2012. p. 123.
54 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 31-59, jul./set. 2014
A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
Considerações finais
O Estado Constitucional Democrático de Direito surge a partir da combinação
dos princípios da democracia e do Estado de Direito e tem nas normas constitucionais
a sua principal orientação.
As funções legislativa, jurisdicional e administrativa, no Estado Democrático de
Direito, estão constitucionalmente condicionadas a manter organizada a estrutura
estatal e assegurar a qualquer um do povo o efetivo exercício de seus direitos
fundamentais, por meio do processo constitucional, orientado pelos princípios do
devido processo legal, do contraditório, da fundamentação da decisão, da ampla
defesa, do direito ao advogado. O processo constitucional busca na teoria de
Fazzalari o componente participativo, identificado pelo contraditório e de caráter
essencialmente democrático.
O juiz, ao decidir, deve alicerçar a fundamentação da sua decisão nas
argumentações das partes, no contraditório e na aplicação das normas do
ordenamento, abstraindo-se de critérios subjetivos.
Há uma tendência atual no Brasil de importação de institutos do sistema do
common law. A transposição de institutos deve ser feita com cautela, pois potencializa
a desestruturação e o desequilíbrio do já combalido sistema judiciário brasileiro.
Na obra Processo constitucional: o modelo constitucional do processo civil
brasileiro, o autor, Hermes Zaneti Júnior, incentiva uma maior atuação do juiz, a partir
da aplicação da equidade e do judge-made law no processo brasileiro.
A aplicação da equidade e a permissão do judge-made law evidenciam uma
forte potencialização do protagonismo judicial. Além disso, no sistema jurídico
brasileiro, o precedente não cria a norma jurídica e o juiz não cria o direito. Assim, na
atual configuração do sistema jurídico brasileiro, há de se observar com reservas o
entendimento de Hermes Zaneti Júnior, porque, ao prestigiar o juiz com mecanismos
que valorizam a subjetividade, é certo que se estará desprestigiando e até mesmo
transgredindo o princípio do devido processo legal e as demais garantias fundamentais,
e em consequência, o processo constitucional democrático.
A crítica de Hermes Zaneti Júnior à teoria de Fazzalari não se justifica, porque
a teoria estruturalista do processo, de raízes democráticas, ainda que incipientes,
privilegia a participação dos sujeitos processuais e se compatibiliza perfeitamente com
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Marcos Rezende
Abstract: In the construction of the Law Democratic State, the constitutional process is essential to
ensure the implementation of fundamental rights and guarantees. The constitutional process relies on the
structuralist theory, to perform as adversarial procedure and ensure a shared decision. Professor Hermes
Zaneti Júnior, in recent work, reports on the topic constitutional process, aiming to investigate the hybrid
tradition (common law and civil law) of Brazilian civil procedural law. In particular excerpt, Professor Hermes
Zaneti states that it is reduced the contribution of Fazzalari theory to the brazilian procedural law. It’s about
the relevance of this statement that this paper relies on and gives an answer to its reflection.
Key words: Law Democratic State. Constitutional process. Adversarial. Structuralist theory. Reasons for
judicial decisions. Elio Fazzalari. Hermes Zaneti Júnior. Judicial activism. Common Law.
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A contribuição da teoria estruturalista para o processo constitucional no Estado Democrático de Direito...
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As ações repetitivas e a exigência de
soluções complexas
1 Introdução
O tema em que se insere a pesquisa ora apresentada é o do acesso à
justiça. Neste tema se estabelece o problema das ações repetitivas, no vértice do
elevadíssimo número de ações que aportam no Judiciário e da diversidade de soluções
dadas. A sociedade contemporânea, para a solução dos seus problemas, exige maior
complexidade, não sendo possíveis soluções simples, daí, então, a necessidade de
analisar a proposta de tese jurídica, constante do Projeto de Código de Processo
Civil, em tramitação na Câmara dos Deputados: trata-se de solução simples ou de
solução complexa?
Considerando que o acesso à justiça está na ordem do dia das sociedades
democráticas, de consumo de massa e de excesso e de falta de acesso à informação,
é necessário o desenvolvimento de pesquisas que enunciem soluções para aqueles
problemas ou que se proponham ao debate crítico-científico de soluções intentadas.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 61-76, jul./set. 2014 61
Diógenes V. Hassan Ribeiro
2 Modernidade e pós-modernidade
Muito já se escreveu sobre a pós-modernidade. Trata-se de conceito que
encontra uma profícua significação. Pós-modernidade como era das incertezas, que
supera o determinismo da modernidade. Pós-modernidade que tem como marco
inicial a revolução industrial. Pós-modernidade como época de transição da sociedade
para outro estágio histórico. Pós-modernidade em que se inaugura a complexidade
da sociedade.
Parte-se da premissa de que qualquer investigação científica deve reprisar
tais conceitos, de modo a tê-los sempre presentes, evitando-se, assim, cair nas
armadilhas da simplificação. Nesses termos, o momento anterior à projeção é o da
prospecção, significando dizer que esta é condição para o sucesso da fundamentação
de alguma projeção que se faça. O problema das ações repetitivas, que resulta,
desde o primeiro olhar, no vértice do elevado número de ações judiciais em trâmite
perante os tribunais e da necessidade de tratar os conflitos semelhantes ou
idênticos com isonomia de soluções, daí derivando o que se costumou chamar de
segurança jurídica.
A identificação, portanto, dos problemas da sociedade pós-moderna, é a
principal motivação da pesquisa, embora genérica. E de logo se antevê, então, que
deve haver uma preparação preliminar para poder apresentar soluções, deve haver
uma preparação para soluções complexas. Cumpre demonstrar que, não havendo
soluções simples, não é possível dar conta dos problemas da sociedade sem a
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As ações repetitivas e a exigência de soluções complexas
1
Irritação é uma expressão da teoria dos sistemas de Luhmann, que expressa o contato do sistema com os
demais subsistemas e que, por isso, possibilita a sua evolução.
2
Segundo Edgar Morin, Gaston Bachelard teria sido o primeiro a expressar o termo complexidade com
essa compreensão.
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Diógenes V. Hassan Ribeiro
3
BACHELARD, Gaston. O novo espírito científico. 3. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000. p. 96-97.
4
Ibidem, p. 111.
5
Ver, por exemplo, LUHMANN, Niklas. Introdução à teoria dos sistemas sociais. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
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As ações repetitivas e a exigência de soluções complexas
6
LUHMANN, Niklas. Introdução à teoria dos sistemas sociais. Petrópolis/RJ: Vozes, 2010. p. 184.
7
CASTRO, Gustavo de. Ensaios de complexidade. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2002.
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Diógenes V. Hassan Ribeiro
4 O método
Conforme o Discurso de René Descartes, que deu ensejo a inúmeras pesquisas
e investigações científicas da modernidade, o método não tem mais aplicação na pós-
modernidade. Portanto, não há método que assegure o conhecimento da verdade e até
mesmo a verdade é questionável, porque a verdade só pode ser aquela da existência
da expressão de que algo é verdadeiro,12 em nada correspondendo à essência do
8
Aqui entra a noção da necessidade de preparação para soluções complexas expressa nas entrelinhas e nos
objetivos implícitos do artigo e da pesquisa.
9
Ibidem, MORIN, Edgar: Complexidade e ética da solidariedade, p. 11.
10
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília/DF: UNESCO,
2002, p. 108-109.
11
Nietzsche fala de “eterno retorno”, assim como, antes dele, Marx, que disse que a história se repete, uma vez
como tragédia, outra como farsa. Ver, sobre Nietzche, Milan Kundera — A insustentável leveza do ser; e, em
Marx — O 18 brumário de Napoleão Bonaparte. Não convém esquecer que Hegel também tratou da espiral
histórica, ainda que no sentido de interpretação da história.
12
Heidegger, sobre a verdade, menciona que a expressão “o ouro é falso” ou o “ouro é verdadeiro” são
verdadeiras nas suas expressões, o que não significa que sejam verdadeiras nas suas essências, podendo
ser verdadeiras na sua realidade de falsidade ou de autenticidade.
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As ações repetitivas e a exigência de soluções complexas
que se pretende que seja verdadeiro. Nesses termos, tudo passa a se contemplar na
linguagem que permite o próprio mundo: sem linguagem não há mundo.
O método cartesiano (Descartes), o método da separação e do conhecimento
do todo pelo conhecimento das partes, vinculado ao mecanicismo (Newton), da
causalidade, que entende que os efeitos já estão determinados nas causas que os
precederam, perderam seu sentido. A ausência de método coloca o conhecimento em
insegurança, em indeterminação. Não existe uma verdade, mas verdades. Não existe
uma leitura, mas leituras diversas, igualmente relevantes para o conhecimento. Existe
uma forma perfeitamente humana de conhecer.
O humano — na sua perfeição: é perfeito na sua imperfeição. Heidegger
esclarece a respeito, propondo a assertiva de que, onde o ente é pouco conhecido, ou
onde é conhecido rudimentarmente, a sua revelação pode ser enunciada de maneira
mais essencial do que onde é conhecido e constantemente oferecido e tornado
exaurível ao olhar, pois aqui a capacidade técnica de dominar as coisas se desdobra
em uma agitação sem fim.13
Sobre a verdade, no âmbito da teoria do discurso, de Habermas, a proposta
é a de que sejam cumpridas duas condições, sendo a primeira delas a liberdade
comunicativa, e a segunda a orientação para o consenso. A prática argumentativa
permite a criação de um laço social que se preserva, inclusive entre os participantes
na competição pelos melhores argumentos.14
Argumentação razoável e discurso que busque um consenso, com liberdade do
sujeito, de tal modo amalgamados que possibilitem a busca da verdade cultural e
histórica. Portanto, verdade naquele contexto histórico. Isso é o que se pode concluir
de Habermas.
Com a perda de sentido do método, o sistema positivista, de organização do
conhecimento, de organização da história, igualmente perdeu sentido. Na sociedade da
informação, há excesso de informação e a história deixou de ser linear, se é que um dia
verdadeiramente tenha sido linear no seu acontecer, senão apenas na sua narrativa.
Superado o método cartesiano, o Método de Morin não indica uma metodologia
de investigação e de pesquisa, deixando o cientista liberto para buscar e produzir
conhecimento, tão somente de posse dos princípios inaugurais. Assim, rigorosamente
o método de Morin é a criação do método pelo cientista na ocasião da sua própria
investigação. Morin volta-se à etimologia da palavra método: metá (além, através) e
hódos (caminho). A pesquisa científica se faz enquanto se produz a pesquisa — esse é
o método. E isso tudo conflui numa aparência de anarquia — apenas aparência. Aliás,
a própria democracia é um acontecer diuturno, é uma prática, mais que um discurso.
13
HEIDEGGER, Martin. Conferências e escritos filosóficos. Tradução de Ernildo Stein. São Paulo: Nova Cultural,
1989. p. 130. (Os pensadores).
14
HABERMAS, Jürgen. La ética del discurso y la cuestión de la verdad. Buenos Aires: Paidós, 2004. p. 30-31.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 61-76, jul./set. 2014 67
Diógenes V. Hassan Ribeiro
15
MORIN, Edgar. Ensaios de complexidade. Coordenação de CASTRO, Gustavo de. p. 11.
16
BAUMAN, Zygmunt. A arte da vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p. 31-32.
17
MORIN, Edgar. Os sete saberes..., p. 86.
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As ações repetitivas e a exigência de soluções complexas
Baumann, Giddens, Scott Lasch, entre outros cientistas já trataram dessa sociedade
pós-industrial, de risco.
O risco está por toda a parte, em todas as coisas e possibilidades, tal a significar
redundância e é acrescentado juntamente com a evolução, ou seja, vem de mãos
dadas com esta. Ulrich Beck expressa essa conclusão, enunciando que o processo
de modernização passa a ser reflexivo, numa conversão de si mesmo em tema e
problema. O desenvolvimento e o emprego de tecnologias, na natureza, na sociedade
e na própria personalidade exigem o tratamento das questões de manejo político e
científico, como administração, descoberta, integração, prevenção, acobertamento,
dos riscos. O desenvolvimento técnico-econômico exige segurança, que avança com
os riscos, presente uma esfera pública alerta e crítica.18
E Ulrich Beck exemplifica, na mesma obra, com o problema do excesso de
peso, em lugar do problema da fome, antecipando os problemas da “nova pobreza”.
Relativamente ao que chama de riscos potenciais de autoameaça civilizatórios, Beck
situa cinco teses: a) riscos da forma como são produzidos, em que menciona como
exemplo a radioatividade; b) riscos decorrentes da distribuição fazem surgir situações
sociais de ameaça, como se fosse um bumerangue, implodindo o esquema de
classes, pois, mesmo que tardiamente, os que produziram os riscos, ou lucram com
eles, também serão atingidos; c) a expansão dos riscos não rompem com a lógica
capitalista, pois a fome pode ser saciada e necessidades podem ser satisfeitas,
mas os riscos civilizatórios são um barril de necessidades sem fundo, interminável,
infinito, autorreferencial, são as necessidades insaciáveis que os economistas
sempre pretenderam; d) as riquezas podem ser possuídas, mas os riscos afetam a
todos; e e) a sociedade de risco como sociedade catastrófica, em que o estado de
exceção ameaça converter-se em estado normal, como no caso do desmatamento,
em que há o combate às causas no próprio processo industrial, ocorrendo a regência
pela esfera pública e política do modelos industriais.19
Não há segurança, nem determinismo. Há risco e improbabilidades, o que
demanda esforço e cálculo, que somente servem para reforçar a conclusão.
6 Soluções
Em decorrência dessas noções, não há mais possibilidade de soluções simples
para os problemas da sociedade, que os sistemas funcionais têm a função de
resolver. As soluções devem ser soluções complexas, trazendo o paradoxo de, para
simplificar o funcionamento do sistema, gerar-se maior complexidade.
Os sistemas sociais evoluem com a seleção, variação e estabilização, e
consequente acréscimo estrutural, tornando-se, assim, mais complexo. Entretanto,
18
BECK, Ulrich. Sociedade de risco – rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010. p. 24.
19
Idem, p. 28.
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Diógenes V. Hassan Ribeiro
pela excessiva complexidade, o sistema pode deixar de ser operativo. Nesse sentido
há excesso de complexidade.
Por outro lado, pode haver necessidade de maior complexidade. Habermas
precisa a concepção de crise sistêmica nesse caso, dizendo que as crises surgem
quando a estrutura de um sistema social permite menos possibilidades para resolver
o problema, ao passo que é necessário mais possibilidades, inclusive para a contínua
existência do próprio sistema. Seriam, então, as crises, vistas como distúrbios
persistentes da integração do sistema.20
A crise sistêmica demanda maior complexidade, demanda a evolução. Todavia,
a evolução não pode ser causada, nem construída, apenas estimulada. Uma
determinada seleção pode ser, mais tarde, rejeitada, uma vez que não se revelou
funcional. Não há certeza do sucesso da evolução. O processo da evolução se
completa com a realização de fatos que caracterizam seus elementos: primeiro a
variação, depois a seleção e, por fim, a estabilização. O sistema, para se manter e,
ao mesmo tempo, para manter a sua identidade frente ao meio, deve ser estabilizado
por uma estrutura, estrutura esta que, paradoxalmente, precisa evoluir, à medida que
o sistema e meio exigem, sem perder a sua estabilidade.
Para mostrar que, efetivamente, não há possibilidade de a sociedade — o
sistema total — resolver seus problemas com soluções simples, podem ser citados
alguns exemplos. O primeiro, que aborda o sistema do tráfego. Na atualidade, como
se percebe, há uma sobrecarga intensa do sistema de tráfego, pois os automóveis
são produzidos e ingressam no mercado em profusão absurda. Argumenta-se que,
nas cidades, haverá brevemente uma situação de congestionamento do trânsito
total. Quais soluções podem ser apresentadas? a) construir e ampliar as rodovias; b)
cobrar mais tributos sobre os automóveis; c) impor condições para a aquisição de um
automóvel; d) proibir a circulação de determinados veículos em algumas vias públicas,
por exemplo caminhões nas vias urbanas; e) proibir o trânsito de determinados
veículos, por finais de placas, que somente poderão trafegar em determinados dias
da semana, estabelecendo alternância de dias entre uns e outros; f) cobrar pedágios
em determinadas vias urbanas; g) melhorar e ampliar o transporte coletivo, inclusive
pelo meio metroviário.
Todas as possibilidades de solução apresentadas, como visto, são soluções
simples que surgem desde os primeiros debates. Entretanto, vistas com outros
olhares, constata-se que a sua concretização é de intensa complexidade, uma vez que
terão graves repercussões em outros sistemas, em especial no sistema econômico.
O problema é de grave complexidade e, como tal, exige soluções complexas. Qualquer
medida que produza a restrição da produção de veículos, no curto prazo resultará
em graves problemas de ordem econômica, como o desemprego, que desestrutura
20
HABERMAS, Jürgen. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 2002. p. 13.
70 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 61-76, jul./set. 2014
As ações repetitivas e a exigência de soluções complexas
21
SCHWARTZ, Germano. O tratamento jurídico do risco no direito à saúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2004. p.186.
22
SARLET, Ingo Wolfgang. Eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.
p. 289, 318.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 61-76, jul./set. 2014 71
Diógenes V. Hassan Ribeiro
23
A Lei nº 7.347/85, que já sofreu várias modificações, a mais recente em 2011, é a lei a que se refere no texto
e que versa sobre a ação civil pública.
72 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 61-76, jul./set. 2014
As ações repetitivas e a exigência de soluções complexas
judiciais nos tribunais superiores, diante da inércia dos tribunais estaduais, inércia
que se justifica pelo fato de não pretenderem perder sua credibilidade com eventual
alteração da tese por corte superior.
Há um risco maior, contudo, que é o já mencionado da excessiva centralização
e concentração das decisões nas cortes superiores de Brasília. Esse risco, se
adotada efetivamente tal solução, altera o quadro democrático das decisões judiciais
que, normalmente, nascem da sua base, no primeiro grau de jurisdição, e vão
amadurecendo, com eventuais alterações e diante dos debates, por vezes polêmicos,
formados, até a conclusão final com a decisão dos tribunais superiores. É possível
compreender que um tribunal superior possa, de plano e imediatamente, funcionar
como o derradeiro intérprete de um determinado caso jurídico? Para uma solução
simples, a resposta é necessariamente afirmativa, pois, de rigor, o tribunal superior
dá a última interpretação com frequência. Todavia, essa última interpretação tem sido
dada depois de longa discussão da questão jurídica posta. Há um debate amplo, que
se inicia com a propositura da ação, que é enfrentada pela defesa apresentada pela
outra parte e que, depois de produzidas outras alegações e argumentações encontra
a sentença de primeiro grau. Essa sentença é impugnada por recurso e, depois, o
recurso é, igualmente, impugnado. Por fim há o julgamento no tribunal, cuja decisão,
em algumas situações, comporta novo recurso, diante de afronta à Constituição ou
diante de interpretação da lei federal equivocada. Esse trâmite é necessário para o
amadurecimento da decisão, o que não ocorreria no caso de, desde logo, ocorrer
incidente no tribunal para estabelecer a tese jurídica que solucionaria, ou solucionará,
todas as demais demandas.
Por outro lado, o princípio do duplo grau de jurisdição seria observado?
Tecnicamente pode-se dizer que sim, considerando que as decisões adotadas em
razão da tese jurídica posta poderiam ser impugnadas pelo recurso cabível e, assim,
reexaminadas. Mas, se a tese for imposta por decisão do Superior Tribunal de Justiça,
em incidente formado naquele tribunal, haveria, sim, dúvidas sobre o atendimento ao
princípio do duplo grau de jurisdição, à medida que o Supremo Tribunal Federal não é
tribunal de segundo grau em relação ao STJ.
Argumenta-se, outrossim, que essa solução atende ao princípio da segurança
jurídica, ostentado no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. No caso, sustenta-se,
o princípio da segurança jurídica estaria sendo observado porque a mesma decisão
seria implementada a todas as demais situações jurídicas iguais. Contudo, cumpre
questionar sobre a eventual ocorrência de alteração da decisão, posteriormente. Ora,
a alteração da jurisprudência tem ocorrido em inúmeros casos, inclusive em casos de
ações repetitivas. Quem pode garantir que, mudando a composição da Corte, não haja
a mudança, mesmo em parte, do entendimento preconizado na tese jurídica? Nessa
situação, o prejuízo terá atingido um número possivelmente maior de partes, todas as
que figuraram nas ações julgadas no período de vigência da tese jurídica modificada.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 61-76, jul./set. 2014 73
Diógenes V. Hassan Ribeiro
8 Conclusão
Pode-se dizer que o presente artigo procurou apresentar a complexidade,
ou hipercomplexidade da sociedade contemporânea, daí fez inflexões no sistema
jurídico, mostrando exemplos dessa dificuldade e, portanto, complexidade.
24
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da Constituição: contribuição
para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1997.
25
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia — entre faticidade e validade, vol. I. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
p. 213 e seguintes.
74 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 61-76, jul./set. 2014
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26
Ver a respeito JOBIM, Marco Félix. O direito à duração razoável do processo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 61-76, jul./set. 2014 75
Diógenes V. Hassan Ribeiro
These circumstances are known as systemic crises. Therefore, the legal system does not adjust to simple
solutions, it demands complex solutions. The solution to the problem of repetitive lawsuits, therefore,
requires a higher systemic complexity.
Key words: Society. Knowledge. Postmodernism. Law. Complexity. Method. Uncertainty. Lack of safety.
Access to justice.
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76 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 61-76, jul./set. 2014
Aspectos da dinâmica do direito
jurisprudencial no Brasil versus a busca
da coerência e integridade –
Uma primeira impressão das premissas
dos precedentes no Novo Código de
Processo Civil
Dierle Nunes
Doutor em Direito Processual (PUC Minas/Università degli Studi di Roma “La Sapienza”).
Mestre em Direito Processual (PUC Minas). Professor permanente do PPGD da PUC
MINAS. Professor adjunto na PUC MINAS e na UFMG. Secretário-Geral Adjunto do IBDP.
Membro fundador do ABDPC. Membro da comissão de juristas do Novo CPC na Câmara dos
Deputados. Advogado. E-mail: <dierle@cron.adv.br>.
Resumo: O presente artigo objetiva pontuar alguns aspectos na dinâmica do direito jurisprudencial no
Brasil e a busca pela coerência e integridade – dois pressupostos do sistema delineado pelo Novo Código
de Processo Civil para os precedentes. A proposta é analisar se o propósito da uniformidade jurisprudencial
e da igualdade, comum entre nós, promove (ou não) um fechamento do debate em face da criação dos
padrões decisórios, em contradição o sistema originário do common law. Parte-se do pensamento de
Ronald Dworkin e de alguns dados empíricos. A pautar-se pelas nuances do common law, a integridade
e coerência na aplicação jurisdicional significa a reconstrução histórica da cadeia de casos concretos
julgados e interpretados, ou seja, de uma efetiva realidade e não teses jurídicas em abstrato.
Palavras-chave: Direito Jurisprudencial. Coerência e Integridade. Common Law. Novo Código de Processo Civil.
1 Considerações iniciais
Pensar o direito e sua realização prática tem se tornado uma tarefa cada vez
mais complicada diante da multiplicidade de perspectivas teóricas e metodológicas,
sobretudo quando se está diante de uma decisão jurídica.
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1
Há mais de vinte e cinco anos, a convergência entre o common law e o civil law foi relatada por Mauro
Cappelletti (The Doctrine of stare decisis and the civil law: A Fundamental difference – or no difference at all?
Tübingen: J.C.B. Mohr, 1981).
2
Cf. v.g. THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre. Breves considerações da politização
do judiciário e do panorama de aplicação no direito brasileiro – Análise da convergência entre o civil law e
o common law e dos problemas da padronização decisória. Revista de Processo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, v. 189, nov. 2010, p. 40.
3
LEAL, Victor Nunes. A súmula do Supremo Tribunal e o restatement of the law dos norte-americanos.
In: Problemas de direito público e outros problemas. Brasília: Ministério da Justiça, 1997. p. 59-64,
v. 2. p. 5.
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4
“Em pesquisa realizada pelo CNJ em diversos países se constatou que taxa de congestionamento no Brasil é
muito alta. Segundo o texto do documento: ‘O Brasil é o país que apresenta maior taxa de congestionamento,
70%, seguido de Bósnia e Herzegovina e Portugal, com 68 e 67%, respectivamente. Observa-se elevada
diferença entre a taxa mais alta, de 70%, e a mais baixa, de 3%, referente à Federação Russa. Assim como a
maior taxa de congestionamento, o Brasil também apresenta o maior número de advogados por magistrado,
seguido por Itália e Malta, com 25 e 33 advogados, respectivamente, conforme apresentado na tabela. Como
a elevada proporção de advogados em relação a magistrados pode indicar que existe elevada propensão
ao litígio e relativa incapacidade de fazer frente a essa tendência, analisou-se o coeficiente de correlação
entre a proporção de advogados por magistrados e a taxa de congestionamento. Obteve-se como resultado
um valor de 61,8%. Isso significa que há relação alta e significativa entre essas duas variáveis. Ou seja,
quanto maior o número de advogados por magistrado, maior tende a ser a taxa de congestionamento desses
países. [...] O Brasil possui a terceira maior produtividade quando comparado aos países da Europa. Não
obstante, contrariamente à Dinamarca, essa produtividade é ainda inferior à carga de trabalho, e isso se
reflete em uma taxa de congestionamento alta. Pode-se dizer que o Brasil está em posição intermediária entre
a Bósnia e Herzegovina e a Dinamarca (CNJ. Estudo comparado sobre recursos, litigiosidade e produtividade:
a prestação jurisdicional no contexto internacional. Brasília: CNJ, 2011; NUNES, Dierle. Padronizar decisões
pode empobrecer o discurso jurídico. Disponível em <http://www.conjur.com.br/2012-ago-06/dierle-nunes-
padronizar-decisoes-empobrecer-discurso-juridico>. Acesso em: 14 jan. 2013).
5
Basta ver, por exemplo, a edição da Emenda Constitucional nº 45/2004, que institui entre nós a denominada
súmula vinculante (art.103-A da Constituição), além das reformas legislativas do Código de Processo Civil que
instituíram as denominadas súmulas obstativas de recurso ou, ainda, deram poderes ao relator para prover
(ou não) monocraticamente recurso quando haja súmula ou jurisprudência dominante. Em um sistema jurídico
caracterizado pela influência romanística, causa espécie o estabelecimento de normas dessa natureza.
6
THEODORO JUNIOR, Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre. Breve considerações sobre a politização do
judiciário e do panorama de aplicação no direito brasileiro. Op. cit. p. 25.
7
RE, Edward D. Stare Decisis. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Repro 73, São Paulo, jan./mar. 1994, p. 47-54. p. 51.
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Dierle Nunes, Aline Hadad Ladeira
[...] importa frisar uma característica do common law inglês que nos parece
ser salutar e diverge radicalmente da prática adotada no direito brasileiro
de se editar súmulas ou, mais recentemente, “temas” expressando a
ratio decidendi em termos gerais e abstratos. No direito inglês, vigora o
denominado Mootness Principle, ou princípio da vinculação ao debate,
que estabelece que os tribunais não podem discursar abstratamente
sobre regras jurídicas hipotéticas, mas apenas estabelecer as regras
que derivam especificamente da análise de cada caso concreto.12 Esse
princípio implica uma especificação do âmbito do debate, a fim de
permitir uma consideração de todas as particularidades e circunstâncias
individualizadoras do caso concreto. Ele implica, também, que a decisão
acerca de quais casos hão de ser regulados pelo precedente não é
definitiva, já que é o tribunal futuro que deve decidir, no caso semelhante,
mais ainda não expressamente regulado, sobre se o precedente judicial
deve ser “estendido”, pela técnica da analogia, ou “diferenciado”, pela
técnica do distinguishing. Ambas as operações constituem, portanto, uma
argumentação em que se busca verificar qual deve ser a “regra do caso”,
por meio de uma ponderação de princípios. A ideia reguladora do processo
de aplicação de precedentes é, como explica MacCormick, a exigência de
8
RE, Edward D. Stare Decisis. Repro 73, op. cit., p. 51.
9
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press,
1988, p. 105-126.
10
Ibidem, p. 106-110.
11
DERZI, Misabel et al. O novo regime dos recursos extraordinários e a responsabilidade política dos tribunais:
um problema em aberto para o legislador. Revista de Processo (no prelo).
12
HARRIS, J. W. “Towards principles of overruling – When should a final court of appeal second guess?”. Oxford
Journal of Legal Studies, v. 10, p. 135-199, 1990. Para um aprofundamento do princípio em análise no
contexto do overruling de precedentes judiciais ver, além do texto citado, BUSTAMANTE, Thomas. Teoria do
precedente judicial: a justificação e a aplicação de regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012. p. 400.
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Aspectos da dinâmica do direito jurisprudencial no Brasil versus a busca da coerência e integridade...
13
MACCORMICK, Neil. “Donoghue v. Stevenson and Legal Reasoning”, em Peter Burns e Susan J. Lyons (Org.).
Donoghue v. Stevenson and the Modern Law of Negligence. Vancouver: University of British Columbia, p. 191-
213, 1991. p. 201.
14
Ibidem, p. 207.
15
A asserção de que a aplicação de precedentes judiciais envolve um raciocínio per analogiam é defendida
neste trabalho como uma afirmação geral, aplicável todas as vezes que se toma um precedente judicial como
uma razão para decidir determinado caso concreto. Importa frisar, quanto a este ponto, que essa afirmação
não é incompatível com a tese, que sustentamos em trabalhos anteriores, de que há determinados setores
do ordenamento jurídico — o direito penal e o direito tributário, por exemplo — onde vigora o princípio da
legalidade estrita, que funciona como uma norma geral exclusiva que torna obrigatório o uso do argumento a
contrario nesses setores, já que a ausência de previsão típica de uma conduta implica automaticamente a sua
permissão (BUSTAMANTE, op. cit., p. 493).
Aplica-se, nesse terreno, a regra da legalidade estrita, consubstanciada no aforisma latino “Nullum crimen,
nulla poena sine lege”, que pode ser desdobrado em quatro outros: Nullun crimen sine praevia lege; Nulla
poena sine praevia lege; Nemo iudex sine lege; Nemo damnetur nisi per legale iudicum (uma vez que o devido
processo, ou o juízo regrado em lei, deve ser observado em qualquer condenação penal) (Cf. JIMENEZ DE
ASÚA, Luis. Tratado de Derecho penal. Buenos Aires, Losada, 1951, p. 383-384. A bibliografia nacional e
estrangeira sobre o tema é vastíssima. Ver, em especial, DERZI, Misabel. Direito tributário, direito penal e tipo.
2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 122, nota 25).
Nossas concepções teóricas sobre esses princípios já foram previamente publicadas, e podem ser sintetizadas
nos parágrafos que se seguem: “Os quatro aforismas latinos cumprem a mesma função: a de segurança jurídica,
completando-se uns aos outros. E, em determinados sistemas jurídicos, nos quais se inclui o nosso, a segurança
jurídica esteia-se na limitação das fontes formais de criação jurídica, a qual, por sua vez, só se viabiliza na
separação e no equilíbrio das funções estatais. Como limitação às fontes de criação jurídica, o nullum crimen sine
lege significa, pois, que o crime e a pena somente podem ganhar existência se estiverem expressa e previamente
indicados na lei, como ato próprio do Poder Legislativo. [...] Afastar-se-ão, por conseguinte, atos normativos
emanados de outros órgãos do Estado, ineptos para legislar, assim como aqueles que, embora oriundos do Poder
Legislativo, sejam posteriores ao fato; da mesma forma, têm sido rejeitados, tradicionalmente, pela doutrina e
pela jurisprudência, a analogia e os costumes como fontes diretas de criação de delitos e cominação de penas.
Igualmente, os juízes-executores da lei penal recebem sua função e competência diretamente da lei (senão da
Constituição), assim como devem aplicá-la, por meio de processo legalmente disciplinado” (Op. cit., p. 123-124).
Sem embargo, a asserção de que o argumento por precedentes opera por meio de uma analogia entre casos
não nos obriga a permitir a punição por meio de analogia ou a criação de tributos em violação ao preceito
constitucional que estabelece a legalidade tributária estrita.
Quando sustentamos que a extensão de um precedente deve ser feita por um raciocínio analógico, não estamos
sustentando qualquer tipo de flexibilização da regra da legalidade estrita, mas tão somente que, se houver dois
casos que, abstratamente considerados, possam ser igualmente compreendidos no quadro das possibilidades
semânticas do texto de uma norma legal N, a regra jurisprudencial R1, segundo a qual o caso C1 está
compreendido hipótese de incidência de N, só pode ser estendida caso se conclua que o caso C2, a ser resolvido
pela nova regra jurisprudencial R2, também é enquadrável na hipótese de incidência de N. A fundamentação de
R2, porém, só pode estar baseada em um precedente judicial se ao se comparar os casos C1 e C2 for possível
concluir que há razões de princípio que justificam a mesma solução para os dois casos em julgamento. É apenas
nesse sentido que afirmarmos haver um raciocínio analógico para estabelecer R2 a partir de R1.
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16
SCHAUER, Frederick. Precedent. Stanford Law Review. v. 39, n. 3; Feb. 1987, p. 571-605. Disponível em:
<http://www.jstor.org/discover/10.2307/1228760>. Acesso em: 10 set. 2013. p. 573.
17
RE, Edward. Stare decisis, op. cit., p. 48.
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18
STRECK, Lenio Luiz; ABBOUD, Georges. O que é isto – o precedente judicial e as súmulas vinculantes?. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 1998. p. 117.
19
“A estabilidade exige uma continuidade com o passado e é necessária para permitir que os membros da
sociedade conduzam suas atividades diárias com um razoável grau de certeza quanto às consequências
jurídicas de seus atos. A mudança implica numa variação ou alteração daquilo que está fixo ou estável. Sem
mudança, no entanto, não pode haver progresso”. RE, Edward. Stare Decisis, op. cit., p. 48.
20
V. g. NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre. Formação e aplicação do Direito jurisprudencial: alguns dilemas. In: Revista
TST, Brasília, v. 79, n. 2, 2013. NUNES, Dierle. Padronizar decisões pode empobrecer o discurso jurídico. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2012-ago-06/dierle-nunes-padronizar-decisoes-empobrecer-discurso-juridico>.
Acesso em: 14 jan. 2013.
21
“What the judge was looking for in the ‘precedent’ was a rule like pronouncement of higher authority, the facts
of the case stripped to their shadows. Thus what conventional common-law doctrine would devalue as mere
dictum was welcome precisely because it stood independent of the concrete constellati on of facts in the case”
(DAMAŠKA, Mirjan R. The faces of justice and state authority: a comparative approach to the legal process.
Yale University Press, 1986. p. 33-34).
22
Ibidem, p. 23 et seq.
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23
“It is worth noting that a doctrine of formally binding precedent would be far more rigid in continental than in
the common law institutional framework. The primary reason is not so much the greater spirit of obeisance to
superiors in the former than in the latter as the understanding of precedent. The continental judge seeks ever
more concrete rules in prior decisions disregarding the enveloping factual context. Assuming the binding nature
of this progressive norm concretization, decisional standards would in time become intolerable rigid, each new
decision a drop in the formation of an ever longer stalactite of norms. In short, while a judicial organization
composed of loosely hierarchical judges may require a doctrine of binding precedent as an internal ideological
stabilizer, a hierarquical career judiciary may well better off without it” (ibidem, p. 37).
24
A ideia central de Mirjan Damaška reside num estudo comparativo entre as tradições do ponto de vista de suas
respectivas organizações judiciárias.
25
“It is true that when courts police the constitution, its text inevitably becomes covered by judicial gloss. But
the degree to which the gloss submerges the text varies, depending on the manner in which court decisions
are treated. There is a technique that is easily reconcilable with textualism: decisions referring to a text are
detached from factual contexts and converted into abstract norms that fill conceptual vessels of the governing
text with more specific content. Here the judicial gloss is translucent; as the gloss thickens the text may
even become clearer. American case-law, however, is of a different nature: fact and law remain more closely
intertwined, and precedent becomes a story from which ordering thought cannot easily derive clear rules.
Decisions “applying” a text are compared to one another, rather than fitted into the scheme of the text as its
concretization” (DAMAŠKA, Mirjan R Reflections on American Constitutionalism. In: The American Journal of
Comparative Law, v. 38, Supplement. U. S. Law in an Era of Democratization (1990), p. 421-443, p. 426-427).
26
NUNES, Dierle. Fundamentos e dilemas para o sistema processual brasileiro: uma abordagem da litigância de
interesse público a partir do processualismo Constitucional democrático. In: FIGUEIREDO, Eduardo Henrique
Lopes; MÔNACO, Gustavo Ferraz de Campos; MAGALHÃES, José Luiz Quadros de (Org.). Constitucionalismo e
democracia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 187.
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causa piloto, o Tribunal Superior formaria um julgado (interpretado por muitos como
precedente) que deveria ser aplicado a todos os casos idênticos.27
Para resolver o problema da sobrecarga do Judiciário no Brasil, há uma evidente
prevalência de propostas comprometidas com uma eficiência quantitativa em
detrimento da análise efetiva de casos concretos que são encarados apenas do
ponto de vista de teses jurídicas/pautas gerais.
Olvida-se que o objetivo do uso da técnica de causa piloto é o de promover
um gerenciamento da litigiosidade repetitiva e tal fim somente será promovido se o
tribunal julgar a demanda idêntica padrão com uma visão panorâmica do caso, que
induz amplitude de argumentos; julgar poucas vezes bem para viabilizar a aplicação
do precedente no máximo de casos, com uma analogia adequada.
Recente pesquisa patrocinada pela UFMG28 se constatou vários problemas na
aplicação das atuais técnicas de causa-piloto envolvendo os recursos extraordinários,
dentre eles, a superficialidade de formação de julgados para as decisões mistas
relatados pelos pesquisadores e julgadores:
27
NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre. Formação e aplicação do direito jurisprudencial: alguns dilemas.: Revista
TST, Brasília, v. 79, n. 2, 2013. p. 119.
28
Pesquisa Judiciária intitulada “A força normativa do direito judicial: uma análise da aplicação prática do
precedente no direito brasileiro e dos seus desafios para a legitimação da autoridade do Poder Judiciário”,
financiada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), administrada pela Fundação de Desenvolvimento da
Pesquisa (FUNDEP/UFMG), e concebida e executada por Grupo de Pesquisa ligado à Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), sob a coordenação do Prof. Dr. Thomas da Rosa de Bustamante (Contrato nº 17/2013)
com participação dos Profs. Drs. Dierle Nunes, Misabel Derzi, entre inúmeros outros pesquisadores. O relatório
final da pesquisa se encontra em fase de redação.
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29
FINE, Toni M. Uso do precedente e o papel do princípio do stare decisis no sistema legal norte americano. RT/
Fasc. Civ., ano 89, v. 782, dez. 2000, p. 94.
30
NUNES; BAHIA, Formação e aplicação do direito jurisprudencial: alguns dilemas, op. cit., p. 124.
31
A título de exemplo da instabilidade jurisprudencial no direito brasileiro, pode-se citar a questão que envolve
a sucessão do cônjuge e do companheiro: “A inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, que cuida
da sucessão do companheiro, foi suscitada no julgamento do Agravo de Instrumento no Recurso Especial nº
1.135.354-PB, e recebeu, perante a Corte Especial, paradigmático voto favorável da lavra do ministro Luis
Felipe Salomão. Apesar da percuciência do voto do relator, os ministros Cesar Asfor Rocha e Teori Zavascki,
a despeito de rejeitarem o recurso, adiantaram entendimento contrário à tese da inconstitucionalidade do
artigo 1.790 do Código Civil. Lamentavelmente, em razão de questão prévia atinente ao cabimento do próprio
recurso, o incidente restou prejudicado. Assim, uma das mais importantes questões que paira sobre o direito
privado, “e que está realmente a intranquilizar toda a sociedade brasileira”, nas palavras do Ministro Sidnei
Beneti, ainda pende de solução. O fato é que, sem um norte confiável, os julgados dos tribunais estaduais
divergem a respeito da matéria, com crescente posicionamento favorável à inconstitucionalidade do artigo
1.790 do Código Civil, o que dilata sobremaneira a importância do artigo 1.829, aplicável não apenas à
sucessão do cônjuge, como também à do companheiro, para aqueles que entendem que o artigo 1.790
do Código Civil desponta inconstitucional. Contudo, o artigo 1.829 do Código Civil longe está de receber
interpretação coerente. Por paradoxal que possa parecer, é o próprio STJ, detentor do monopólio da função
nomofilácica, que tem contribuído para polemizar a exegese da lei. Em outubro de 2009, no julgamento do
Recurso Especial nº 1.111.095-RJ, a 4ª Turma prestigiou a vontade do testador, para excluir da herança os
herdeiros do cônjuge casado sob o regime da separação convencional de bens, ao argumento de que o pacto
antenupcial e o testamento constituíam ato jurídico perfeito. Neste precedente, no entanto, havia a prevalência
da questão de direito intertemporal, muito bem destacada no voto do ministro Luis Felipe Salomão. Tanto o
pacto antenupcial, quanto o casamento, assim como o testamento, haviam sido celebrados antes da entrada
em vigou do Código Civil de 2002. Por essa razão, aquele acórdão estava fadado a se tornar um precedente
único, dificilmente aplicável a outros casos análogos. Ainda assim, importa destacar a robustez e a clareza
de raciocínio do voto divergente proferido pelo ministro João Otavio de Noronha, que dava a exata dimensão
da controvérsia. No mesmo ano de 2009, a matéria veio a ser novamente debatida pelo STJ, no julgamento
do Recurso Especial nº 992.749/MS, relatado pela Ministro Nancy Andrighi, em cujo voto foi examinada toda
a evolução sucessória do cônjuge. Pretendendo sistematizar a matéria, sem embargo do louvável esforço
da ilustre relatora, a 3ª Turma conferiu interpretação contrária à letra do artigo 1.829 do Código Civil. Na
hipótese concreta, negou-se ao cônjuge casado sob o regime da separação convencional a condição de
herdeiro necessário, em decorrência de peculiaridades fáticas do caso vertente (o que irrompe paradoxal em
sede de recurso especial), em particular, a circunstância de o vínculo matrimonial ser recentíssimo e o cônjuge
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É fato que a utilização de precedentes no Brasil tem seguido uma lógica que
é estranha a qualquer sistema de case law, especialmente ao inglês e ao norte-
americano. Como pontua Ramires, “o resultado é um ecletismo improvisado entre duas
tradições diversas, sem que haja uma real interlocução entre elas”.32 Oficializou-se
no Brasil um sincretismo equivocado entre as tradições do common law e do civil law
onde se avaliza qualquer possibilidade de aplicação de “precedentes” (não obstante
as diferenças dos sistemas jurídicos).
O que se percebe é que as reformas processuais, até recentemente, têm
revelado, tão somente, um compromisso com a redução do número de processos.
E esse tipo de aplicação do direito deve ter por norte que eficiência, quando bem
entendida, é uma medida da relação entre o resultado ou objetivo de uma atividade,
ao custo de alcançá-la. E, portanto, “a velocidade e o custo que um sistema de
justiça incorre para resolução dos casos, nos dizem pouco sobre sua eficácia se não
formos informados de suas metas: sem referências as elas a eficiência é um ideal
sem conteúdo”.33
Nesse envolvimento pela eficiência se faz perceptível a tendência em se diminuir
a ênfase nas questões processuais sobre a forma, incluindo as diferenças residuais
entre o common law e o civil law. No entanto, enquanto persistirem vestígios no
sobrevivente ser 31 anos mais jovem do que o autor da herança. A despeito de alguns reflexos deste precedente
nas decisões proferidas, desde então, pelas cortes estaduais, tanto a doutrina quanto a jurisprudência
repudiaram o entendimento contra legem e continuaram a prestigiar a interpretação sistemática da lei. Já em
2011, a própria 3ª Turma do STJ posicionou-se em sentido contrário ao entendimento secundado no apontado
acórdão relatado pela Ministra Nancy Andrighi, evidenciando que aquele precedente tinha aplicação exclusiva
à excepcionalidade do caso. Assim é que no julgamento do Recurso Especial nº 54.567-PE, de relatoria do
Ministro Massami Uyeda, a 3ª Turma do STJ sufragou entendimento em absoluta simetria com o texto legal,
no sentido de que o cônjuge casado sob o regime da participação final nos aquestos pode herdar os bens
particulares do autor da herança, nas hipóteses do artigo 1.829 do Código Civil. Ainda em 2011, agora no
julgamento do Recurso Especial 974.241-DF, a 4ª Turma do STJ decidiu que o cônjuge casado sob o regime a
comunhão parcial herda os bens particulares do autor da herança e não tem direito hereditário sobre a meação
do falecido, posicionamento este respaldado em sólida construção doutrinária, estruturada no consistente
voto-vista do ministro Luis Felipe Salomão. Mais recentemente, em outubro de 2013, no julgamento do
Recurso Especial nº 1.377.084-MG, relatado pela ministra Nancy Andrighi, a 3ª Turma agasalhou orientação
diametralmente oposta, no sentido de que o direito à herança do cônjuge casado sob o regime da comunhão
parcial recai sim sobre a meação do falecido. Estariam, portanto, excluídos da herança do cônjuge supérstite
os bens particulares do de cujus, como forma de prestigiar o regime de bens do casamento, para efeitos
sucessórios”. TUCCI, José Rogério Cruz. Jurisprudência sobre sucessão do cônjuge é instável. Disponível em
<http://www.conjur.com.br/2013-dez-10/paradoxo-corte-jurisprudencia-sucessao-conjuge-instavel>.
Acesso em: 11 dez. 2013.
32
RAMIRES, Mauricio. Crítica à aplicação de precedentes no direito brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2010. p. 31.
33
“And indeed there is ubiquitous concern with increased efficiency. In the midst of this concern, a tendency
is discernible to deemphasize preoccupations with procedural form — including residual differences between
common law and civil law regimes — and concentrate instead on measures likely to contribute to the efficient
functioning of civil justice. But consider that efficiency, properly understood, is a measure of the relation of the
valued output, or goal of an activity, to the costof achieving it. The speed and cost at which a justice system
disposes of ingested cases tell us little about its efficiency unless we are informed of its goals: without
reference to them, efficiency is a content less ideal. DAMAŠKA, Mirjan. The Common Law – Civil Law Divide:
Residual Truth of a Misleading Distinction. The future of categories. In: CARPI, Federico. Toronto: International
Association of Procedural Law, 2009.
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processo civil de atitudes díspares nas estruturas de autoridade entre o common law
e o civil law, eles não devem ser desconsiderados, mesmo se a preocupação principal
for o aumento da eficiência processual.34
Assim, se a sugestão é de que os precedentes auxiliem na uniformização da
jurisprudência, necessário se faz o abandono definitivo da “pretensão metafísica de
aprisionar os fatos de antemão”.35 Tal como a experiência do common law demonstra,
a utilização do precedente apenas pode se dar fazendo comparação entre as hipóteses
fáticas a permitir a aplicação do anterior ao novo.
Os Tribunais brasileiros não podem uniformizar se continuarem julgando como
na época que sua atividade se reduzia ao julgamento de recursos individuais para as
partes envolvidas. Se existe a pretensão de se viabilizar uma amplitude do julgado,
o tribunal deve se abrir ao contraditório pleno e à analise de todos os argumentos
relevantes na formação do precedente.
Passa-se, então, a reflexão do que falávamos sobre a “objetivação” do direito
sob os supostos teóricos de Ronald Dworkin. O estudo se voltará para análise
do modelo do direito como integridade e sua correspondência com o sistema de
precedentes vinculantes do common law — incompatível com a tendência de
padronização decisória adotada pelo Brasil.
34
“Thus, so long as vestiges persist in civil procedure of attitudes traceable to disparate common law civil law
structures of authority, they should not be disregarded, even if one’s principal concern is the increase of
procedural efficiency”.
35
RAMIRES, Mauricio. Crítica à aplicação de precedentes no direito brasileiro, op. cit., p. 95.
88 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014
Aspectos da dinâmica do direito jurisprudencial no Brasil versus a busca da coerência e integridade...
36
RAMIRES, Mauricio. Crítica à aplicação de precedentes no direito brasileiro, Op. cit., p. 95.
37
Ibidem, p. 100-101.
38
NUNES, Dierle; REZENDE, Marcos; ALMEIDA, Helen. A contribuição da doutrina na (con)formação do direito
jurisprudencial: uma provocação essencial. Revista de Processo, São Paulo, n. 232, jun. 2014.
39
“As a philosopher of law among the ranks of lawmakers, I always had a certain inclination to remind colleagues
that certainty is unattainable, and that the mots one can do is aim to diminish uncertainty to an acceptable
degree. What degree is acceptable depends on the fact that other values, including justice in the light of
developing but currently unforeseen situations, are at stake” (MACCORMICK, Neil. Rhetoric and the rule of law:
a theory of legal reasoning. Oxford: Oxford University Press, 2005, p. 11).
40
“As pessoas precisam de regras para viver e trabalhar juntas como eficiência, e precisam ser protegidas
quando confiam em tais regras. Contudo, estimular e recompensar a confiança nem sempre são atitudes de
importância decisiva; às vezes é melhor que certas questões permaneçam sem regulamentação por convenção
para permitir o jogo de opiniões independentes, por parte dos juízes e do público quanto àquilo que os juízes
poderão vir a decidir” (DWORKIN, Ronald. O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2010. p. 176).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014 89
Dierle Nunes, Aline Hadad Ladeira
41
Precursora das teorias de relevo propostas para caracterizar a ratio decidendi, a denominada teoria clássica
(há muito superada) afirma que a ratio decidendi de um caso é a proposição ou regra de direito sem a qual
o caso seria decidido de forma diversa. Em outras palavras, a ratio decidendi seria a proposição jurídica
necessária à decisão. Entre os defensores dessa caracterização da ratio decidendi cita-se Edmund Morgan e
John Salmond, dentre outros. Cf. MORGAN, Edmund Morris; DWYER, Francis Xavier. Introduction to the Study
of Law. 2. ed. Chicago: Callaghan, 1948, e SALMOND, John. The Theory of Judicial Precedent. Law Quarterly
Review, Vol. XVI, 1900.
42
DWORKIN. Ronald. A justiça de toga. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
p. 174-175.
43
BAHIA, Alexandre Gustavo Melo Franco. As súmulas vinculantes e a nova escola da exegese. Revista de
Processo, v. 206, p. 359-379, 2012, op. cit. p. 366.
90 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014
Aspectos da dinâmica do direito jurisprudencial no Brasil versus a busca da coerência e integridade...
44
“The main advantages of the doctrine are that it leads to consistency in the application and development of
the principles in each branch of the law, and by virtue of this characteristic it enables lawyers to forecast with
reasonable certainty what the attitude of the courts is likely to be to a given set of facts. The system is flexible
in that the courts are perpetually dealing with actual circumstances” (EDDEY, Keith James. The English Legal
System, 3. ed. Londres: Sweet e Maxwell, 1982. p. 129).
45
Dentre as razões para sustentar o uso e os benefícios dos precedentes judiciais permitindo um sistema judicial
coerente sem decisões inconsistentes, destacam-se a segurança jurídica, previsibilidade e estabilidade.
FINE, Toni M. Uso do precedente e o papel do princípio do stare decisis no sistema legal norte americano,
op. cit., 95-96.
46
TARUFFO, Michele. Legalità e giustificazione della creazione giudiziaria del diritto. Rivista Trimestrale di Diritto
e Procedura Civile. Ano LV. n. 1. Milano: Giuffrè Editore, 2001. p. 15.
47
Ibidem, p. 15.
48
“Denomino ‘princípio’ um padrão que deve ser observado, não porque vá promover ou assegurar uma situação
econômica, política ou social considerada desejável, mas porque é uma exigência de justiça [...]. A diferença
entre princípios jurídicos e regras jurídicas é de natureza lógica. Os dois conjuntos de padrões apontam para
decisões particulares acerca da obrigação jurídica em circunstâncias específicas, mas distinguem-se quanto à
natureza da orientação que oferecem. As regras são aplicáveis à maneira do tudo-ou-nada. Dados os fatos que
uma regra estipula, então ou a regra é válida, e neste caso a resposta que ela fornece deve ser aceita, ou não
é válida, e neste caso em nada contribui para a decisão. [...] Um princípio [...] enuncia uma razão que conduz
o argumento em uma certa direção, mas necessita de uma decisão particular”. DWORKIN, Ronald. Levando os
direitos a sério. Tradução de Nelson Boeira. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. p. 36, 42.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014 91
Dierle Nunes, Aline Hadad Ladeira
49
DWORKIN, Ronald. O império do direito, p. 55 et seq.
50
Essa ideia está intimamente relacionada com a doutrina da responsabilidade política a que estariam sujeitos
os juízes nas tomadas de decisões. Ibidem, p. 127/203.
51
DWORKIN, Ronald. O império do direito, p. 291.
92 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014
Aspectos da dinâmica do direito jurisprudencial no Brasil versus a busca da coerência e integridade...
nas decisões. Não se trata de coerência apenas com a decisão judicial precedente,
mas também com os princípios que a fundamentaram, apesar de não ser necessária
uma adesão estrita ao passado. A isso Dworkin atribui o nome de “força gravitacional”
dos precedentes,52 pois justamente essa força será ampliada para além do elemento
vinculante (ratio decidendi), já que a decisão deve estar baseada em princípios. Vale
dizer, a ratio decidendi não fecha a argumentação.
Nesse contexto, Hershovitz relaciona o stare decisis com a integridade de Dworkin:
52
DWORKIN, Ronald. O império do direito, p. 176.
53
No original: “The key to understanding the practice of stare decisis, I shall argue, lies elsewhere. Specifically,
it lies in the virtue Ronald Dworkin calls integrity. Integrity is a value that is realized by patterns of behavior a
Cross time. The unique demand that integrity makes upon both individuals and courts is that they recognize
that what they have done in the past affects what they ought to do now. Stare decisis, I aim to show, promotes
integrity in judicial decision making. As we shall see, a court with no concern for the integrity of its own decision
making would no need to distinguish or overrule its precedents. It could simply ignore them (HERHOVITZ, Scott.
Integrity and Stare decisis. In: HERSHOVITZ, Scott (Ed.). Exploring Law’s Empire. New York: Oxford University
Press, 2008. p. 103-104).
54
NUNES, Dierle. Afastamento de precedente não pode continuar sendo regra. Acesso em: <http://www.conjur.
com.br/2014-jun-04/dierle-nunes-afastamento-precedente-nao-regra>.
55
EISENBERG, Melvin Aron. The nature of the common law, op. cit., p. 105-126.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014 93
Dierle Nunes, Aline Hadad Ladeira
56
TARUFFO, Michele. Legalità e giustificazione dela creazione giudiziaria del dirrito, op. cit., p. 26.
57
TUCCI, José Rogério Cruz e. Mudança de entendimento nas câmaras empresariais. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2013-out-28/jose-rogerio-tucci-mudanca-entendimento-camaras-empresariais>.
Acesso em: 11 dez. 2013.
58
DWORKIN, Ronald. O império do direito, p. 171 et seq.
59
Ibidem, p. 275 et seq.
94 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014
Aspectos da dinâmica do direito jurisprudencial no Brasil versus a busca da coerência e integridade...
60
No original: “To prevent abuses, interpreters should be held to a standard of integrity according to which shifts
from one available interpretive avenue to another would only be justifiable IF accompanied by a full and sincere
assumption of all the burdens associated with the latter interpretative avenue. Consistent with this requirement
of integrity, an interpreter may not resort to an available interpretative avenue to press for an advantage on
one occasion an then on the next occasion, abandon that interpretative avenue in favor of another order to
avoid a burden. An interpreter, however, may switch from one available interpretive perspective to another
it that interpreter sincerely believes that the latter perspective is better suited to promoted the attempted
reconciliation sought and if he or she is fully prepared to assume all the burdens that might flow from adoption
of the new perspective” (ROSENFELD, Michael. Just interpretations: Law between Ethics and Politics. Los
Angeles: University of California Press, 1998. p. 28).
61
“We know from the parallel argument in literature that this general description of interpretation in law is not
license for each judge to find in doctrinal history whatever he thinks should been there. The same distinction
holds between interpretation and ideal. A judge’s duty is to interpret the legal history he finds, not to invent
a better history” (DWORKIN, Ronald. Law as interpretation. Chicago Journals: Critical Inquiry, v. 9, n. 1,
p. 179-200, 1982, p. 194-195).
62
DWORKIN, Ronald. Império do direito, op. cit., p. 275 et seq.
63
ROSENFELD, Michael. Just Interpretations, op. cit. p. 18.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014 95
Dierle Nunes, Aline Hadad Ladeira
Considerações finais
O momento é de reflexão imparcial e prudente sobre a melhor técnica para
se alcançar, na experiência judiciária brasileira, o ideal de uniformidade que não
exclua a eventualidade justificada de alteração e que privilegie a concretude e a
singularidade do caso. Trata-se, pois, de conciliar segurança jurídica e estabilidade
com os imperativos de correção e flexibilidade.
Se a intenção é alcançar a uniformidade com a criação de padrões decisórios,
deve-se levar em conta toda a história institucional de decisões anteriores que tratam
de uma mesma temática, respeitando a coerência e a integridade do direito de modo
a retratar a moralidade política da comunidade. Não se trata, portanto, de um marco
zero interpretativo, mas um “desenvolver” que se dá pelo encadeamento de capítulos.
Deste modo, o precedente, abstratamente considerado, não pode ser concebido
como “a solução” para a produção de um mundo jurídico homogeneizado, como se
64
THEODORO JUNIOR, Humberto; NUNES Dierle; BAHIA, Alexandre. Breves considerações sobre a politização do
Judiciário e sobre o panorama de aplicação no direito brasileiro. Op. cit., p. 41.
65
DWORKIN, Ronald. O império do direito, p. 176.
96 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014
Aspectos da dinâmica do direito jurisprudencial no Brasil versus a busca da coerência e integridade...
todos os casos pudessem ser abarcados com uma tese jurídica antes estabelecida,
onde a concretude dos fatos revela-se dispensável, inconveniente até. Tal como
a integridade de Dworkin nos ensina, novas circunstâncias/contextos sempre vão
emergir quando da construção de um novo capítulo, inviável, pois, a compreensão
sempre universal e homogênea da vida e de seus problemas concretos. E por isso,
sem uma sucessão de casos concretos, apenas pelo confronto de teses, a redação
de um novo capítulo resta prejudicada, pois não contará com novos elementos que,
inevitavelmente, emergem da factível dinâmica social.
Se a proposta é de que os precedentes sirvam para uniformizar a jurisprudência,
necessário se faz o abandono definitivo da pretensão metafísica de ler e decifrar a
natureza de todos os fatos, aprisionando-os em normas universais e eternas. Tal
como a experiência do common law demonstra, a utilização do precedente apenas
pode se dar fazendo comparação entre os casos (hipóteses fáticas) a permitir a
aplicação do anterior ao novo.
Ademais, quando se avaliza a aplicação de “precedentes” apenas sob a ótica da
tese jurídica, desvela-se o viés condicionante da produção jurídica em que direito passa
a ter um caráter meramente reprodutivo daquilo que dizem os Tribunais Superiores
(que não raramente produzem graves rupturas em seus próprios entendimentos). Em
outras palavras, o direito passa a ser aquilo que é dito por eles em detrimento da
legislação produzida democraticamente.
Cumpre ressaltar que não se ignora aqui a necessidade de redução da
complexidade representada pela crise do Poder Judiciário, muito ao contrário. O
que não se valida, em absoluto, é a desvirtuação da finalidade de instrumentos
(como a súmula vinculante, por exemplo), transformando-os em mecanismos de
estandarização do direito e de bloqueio ao acesso à justiça como se seu compromisso
fosse, tão somente, o de reduzir o elevado número de processos. Inarredável,
portanto, a superação desse modo pragmático e objetivo de pensar o direito para a
(re)introdução da facticidade do mundo jurídico que deve primar pela coerência e
integridade nas decisões.
Em última análise, não há como prever ou delimitar um final para o romance que
se delineia, já que o enredo sempre contará com a influência de novos elementos da
concreta dinâmica social. E ditos elementos se voltam para o passado e o presente
com influência no futuro nessa intermitente construção onde, em cada nova decisão,
instaura-se um novo processo de (re)interpretação a permitir integridade e coerência.
A única previsão que se pode estabelecer é o ponto de partida, o primeiro capítulo —
a constituição.
Abstract: This article aims to highlight some aspects of the case law dynamics in Brazil and the search for
consistency and integrity – two assumptions outlined by the New Civil Procedure Code for the precedents.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014 97
Dierle Nunes, Aline Hadad Ladeira
The proposal is to analyze if the purpose of uniformity and equality jurisprudence, common among us,
promotes (or not) a closure of the debate in face of creation of decision-making patterns, contradicting the
system originating the common law. It starts with Ronald Dworkin thinking and some empirical data. Guided
by nuances of the common law system, the integrity and consistency on judicial application means the
historical reconstruction of concrete cases judged and interpreted. In others words an actual reality instead
of abstract legal theories.
Key words: Case Law. Consistency and integrity. Common Law. New Civil Procedure Code.
Referências
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98 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014
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R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 77-99, jul./set. 2014 99
Controle abstrato de constitucionalidade –
ADI, ADC e ADPF
Introdução
Apresentamos, neste estudo, o “estado da arte” relativamente às ações
direta de inconstitucionalidade, declaratória de constitucionalidade e de arguição de
descumprimento de preceito fundamental, com base sobretudo na jurisprudência do
Supremo Federal, destacando seu objeto, a legitimação, o procedimento, a decisão
e seus efeitos.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 101
José Maria Tesheiner
1
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Ações constitucionais. Salvador: JusPodivm, p. 462.
2
Ibidem.
3
Em setembro de 2010 foi proposta arguição de descumprimento de preceito fundamental nº 219, pelo
Presidente da República, em essência para impugnar orientação geral dos Juizados Especiais da Seção do
Judiciário do Rio de Janeiro, consubstanciada em aproximadamente 8.000 decisões, no sentido de obrigar a
União a apurar, nos processos em que condenada, o valor devido ao vencedor.
102 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC e ADPF
4
É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 103
José Maria Tesheiner
104 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC e ADPF
arguição de descumprimento de preceito fundamental pode ter por objeto lei anterior
à Constituição, a confirmar a hipótese de que constitui nova espécie de processo
objetivo, compreendendo hipóteses que escapam ao âmbito das ações diretas de
constitucionalidade ou de inconstitucionalidade.
Revogado ato, fica prejudicada a ADI, orientação criticada por Gilmar Mendes.5
5
MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição constitucional. 3. ed. São Paulo, Saraiva, 1999. p. 173 et seq.
6
MENDES. Jurisdição constitucional, p. 174 et seq.
7
Ibidem, p. 172.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 105
José Maria Tesheiner
8
Ibidem, p. 180 et seq.
9
Exemplo: ADI nº 1.662-7. Rel. Min. Maurício Correa. J. 30.08.2001. Governador do Estado de São Paulo
versus Instrução Normativa nº 11 do TST.
10
Exemplo: ADI nº 4-7. Rel. Sidney Sanches. J. 07.03.1991.
106 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC e ADPF
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 107
José Maria Tesheiner
3 Legitimação ativa
Conforme dispõe o artigo 2º da Lei nº 9.882, podem propor arguição de descumprimento
de preceito fundamental os legitimados para a ação direta de inconstitucionalidade.
Ora, a Constituição Federal dispõe:
11
MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira. Controle concentrado de constitucionalidade. São
Paulo, Saraiva, 2001. p. 70.
108 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC e ADPF
12
Ibidem, p. 71.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 109
José Maria Tesheiner
110 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC e ADPF
pessoas jurídicas que a integram (STF, Pleno. ADI nº 4.739. Min. Marco Aurélio. Rel.
J. 07.02.2013).
Tem legitimidade a Associação Nacional dos Servidores do IBAMA, entidade de
classe de âmbito nacional. Em ação por ela proposta disse o Relator:
4 Procedimento
Sobre a petição inicial dispõem, para a ação direta de inconstitucionalidade, os
artigos 3º e 4º da Lei nº 9.868/1999; os artigos 14 e 15 da mesma lei, para a ação
declaratória de constitucionalidade; os artigos 3º e 4º da Lei nº 9.882/1999, para a
arguição de descumprimento de preceito fundamental.
Na petição inicial da arguição de preceito fundamental fundamentada em ameaça
ou violação de preceito fundamental, exige-se prova da violação do preceito fundamental.
Na ação declaratória de constitucionalidade, assim como na ação de
descumprimento do parágrafo único do artigo 1º da Lei nº 9882/1999, a inicial deve
comprovar a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação do dispositivo
objeto da ação. Controvérsia doutrinária não autoriza a propositura da ação. Gilmar
Mendes advoga o entendimento do cabimento da ação de constitucionalidade se os
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 111
José Maria Tesheiner
13
Ibidem, p. 270.
14
MENDES, Jurisdição constitucional, p. 85
15
MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira. Controle concentrado de constitucionalidade. São
Paulo, Saraiva, 2001. p. 147
16
Ibidem, p. 151.
112 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC e ADPF
[...] ainda que a utilização deste instituto esteja cada vez mais difundida
no âmbito de processos constitucionais, sua admissão está todavia
submetida a um alto grau de arbitrariedade do relator, mormente quando
a lei nem ao menos oferece possibilidade de recurso desta decisão.
Assim, uma figura que busca justamente diminuir a arbitrariedade
judicial, vez que possibilita a manifestação de diversos terceiros, a fim
de construir uma decisão mais acertada, tem sua admissão, ainda,
dependente do entendimento de um magistrado específico, já que não
há qualquer dispositivo positivado que disponha sobre o assunto.17
17
SILVA, Eduardo Silva. O requisito da representatividade no amicus curiae: a participação do particular no debate
jurisdicional. Revista de Processo, v. 207/2012, p. 153, maio 2012/DTR\2012\44627.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 113
José Maria Tesheiner
5 Medida cautelar
As ações diretas de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, assim
como a arguição de descumprimento de preceito fundamental, admitem medida
cautelar (mais precisamente: antecipatória), concedida pela maioria absoluta dos
membros do Supremo Tribunal Federal. No caso de inconstitucionalidade, suspende-se
a vigência da lei, via de regra com eficácia ex nunc. No caso de ação declaratória da
constitucionalidade, expede-se ordem, suspendendo o julgamento dos processos que
envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento
definitivo (Lei nº 9.868/1999, arts. 10º e 21; Lei nº 9.882/1999, arts. 5º e §3º).
Ives Gandra Martins sustenta, a nosso ver com inteira razão, que a liminar,
concedida em ação direta de inconstitucionalidade, suspende definitivamente a
aplicação da lei. Sua revogação posterior não autoriza a aplicação da lei relativamente
a fatos ocorridos durante a suspensão. Argumenta com o exemplo do ICM: o
contribuinte, liberado, por liminar, do recolhimento do tributo, não teria, revogada a
liminar, de transferi-lo para o contribuinte de fato.19
A liminar tem eficácia a partir da publicação ou, havendo urgência, a partir da
comunicação, por telegrama, à autoridade (MARTINS).20
Dela cabe agravo regimental, ainda que sujeita a referendo (STF, Pleno, ADPF-
AgR 79. Min. Cezar Peluso. Relator. J. 18.06.2007).
18
MENDES, Jurisdição constitucional. 3, p. 43.
19
MARTINS. Jurisdição constitucional, p. 185-189.
20
Ibidem, p. 202.
114 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC e ADPF
6 Decisão
A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato
normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros
(Lei nº 9.868/1999, art. 22; Lei nº 9.882/1999, art. 8º).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 115
José Maria Tesheiner
21
MENDES, Jurisdição constitucional, p. 277-278.
22
MENDES, Jurisdição constitucional, p. 286.
116 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC e ADPF
7 Efeitos da decisão
É declaratória ou constitutiva negativa a sentença que julga procedente ação
direta de inconstitucionalidade?
Na doutrina americana do controle difuso, acolhida no Brasil, trata-se de
declaração de nulidade: “the inconstitutional statute is not law at all”.
Na doutrina de Kelsen, do controle concentrado, trata-se de anulabilidade,
facultando-se ao Tribunal reconhecer que a lei aplicada por longo período de tempo
haveria de ser considerada como fato eficaz, apto a produzir consequências.
O tema tornou-se controvertido, no Brasil, tendo em vista o disposto no artigo 27
da Lei nº 9.868/1999:
23
ZAVASCHI, Teori Albino. Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional. São Paulo, Revista dos Tribunais,
2001. p. 49-50.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 117
José Maria Tesheiner
24
MENDES, Jurisdição constitucional, p. 264-265.
25
MENDES, Jurisdição constitucional, p. 271.
118 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC e ADPF
penal condenatória, onde não houver Defensoria Pública.26 Na ADI nº 3.022, julgada
em 02.08.2004, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional norma que
atribuía à Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul a assistência judicial a
servidores processados por ato praticado em razão do exercício de suas atribuições
funcionais, estabelecendo, porém, que os efeitos dessa decisão passariam a valer a
partir do dia 31 de dezembro daquele ano.
Ingo Sarlet põe em dúvida a constitucionalidade da modulação de efeitos,
apontando os seguintes fundamentos para sustentar a inconstitucionalidade desse
acréscimo de poderes outorgado ao Supremo Tribunal Federal por lei infraconstitucional:
- No Direito Comparado, o efeito vinculante e a flexibilização dos efeitos
encontram-se previstos na própria Constituição ou foi regulamentado por lei,
mas com expressa delegação constitucional.
- Trata-se de matéria tipicamente constitucional, não sendo razoável que se
atribua a maioria simples e transitória do Congresso Nacional decisão sobre
questões tão relevantes para a ordem jurídico-constitucional.
- Outorgou-se ao Supremo Tribunal Federal uma margem de arbítrio sem
precedentes e virtualmente sem paralelo no direito constitucional,
permitindo-lhe fixar qualquer momento, passado, presente ou futuro, para
que a declaração de inconstitucionalidade passe a gerar efeitos. Assim,
apenas para exemplificar, tributo manifestamente inconstitucional poderá
continuar sendo cobrado meses ou mesmo anos após formal declaração de
sua inconstitucionalidade.27
A sentença proferida em ação abstrata tem eficácia contra todos e efeito
vinculante, como dispõe o art. 102, §2º, da Constituição:
26
Ibidem, p. 295-301.
27
Ingo Wolfgang Sarlet (Arguição de preceito fundamental: alguns aspectos controversos. In: TAVARES, André
Ramos; ROTHENBURG, Walter Claudius (Org.). Arguição de descumprimento de preceito fundamental: análises
à luz da Lei n. 9.882/99. São Paulo: Atlas, 2001. p. 150-171.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 119
José Maria Tesheiner
Diz mais:
O efeito vinculante não vincula o próprio STF. Veja-se o artigo 102, §2º, da
Constituição: “As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais
órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo.31
28
MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira. Controle concentrado de constitucionalidade. São
Paulo, Saraiva, 2001. p. 339.
29
MENDES, Jurisdição constitucional, p. 293.
30
TAVARES, André Ramos; ROTHENBURG, Walter Claudius (Org.). Arguição de descumprimento de preceito
fundamental: análises à luz da Lei n. 9.882/99. São Paulo, Atlas, 2001. p. 128-49).
31
Nesse sentido: MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira. Controle concentrado de
constitucionalidade. São Paulo, Saraiva, 2001. p. 342
120 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Controle abstrato de constitucionalidade – ADI, ADC e ADPF
Conclusão
O que se observa, ao termo do panorama jurisdicional assim traçado, é que
o Supremo Tribunal conta com instrumentos para exercer, e efetivamente está
exercendo, a condução da política nacional, em seu aspecto jurídico.
32
MENDES. Jurisdição constitucional. 3. ed. São Paulo, Saraiva, 1999. p. 295.
33
THAMAY, Rennan Faria Krüger. A inexistência de coisa julgada (clássica) no controle de constitucionalidade
abstrato/Rennan Faria Krüger Thamay. Porto Alegre, 2014.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014 121
José Maria Tesheiner
Referências
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3. ed. São Paulo, Saraiva, 2009.
MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira. Controle concentrado de constitucionalidade.
São Paulo, Saraiva, 2001.
MENDES, Gilmar Ferreira. Arguição de descumprimento de preceito fundamental. São Paulo: Saraiva, 2007.
MENDES, Gilmar Ferreira. Arguição de descumprimento de preceito fundamental. São Paulo: Saraiva, 2009.
MENDES, Gilmar Ferreira. Controle de constitucionalidade. Revista Consulex, n. 101, mar. 2001.
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Revista de direito administrativo, v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.
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fundamental. Revista Brasileira de Direito Constitucional, n. 1, jan./jun. Método, 2003.
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da lei nº 9.882/99. Revista Esmafe – Escola da Magistratura Federal da 5ª Região, n. 7, 2004.
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descumprimento de preceito fundamental e a crise da eficácia da Constituição. Revista da Ajuris,
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122 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 101-122, jul./set. 2014
Das normas fundamentais do processo
e o projeto de novo Código de Processo
Civil brasileiro – Repetições e inovações
Resumo: O estudo tem a pretensão de investigar qual foi a normatividade adotada pelo legislador
na elaboração dos primeiros artigos do projeto de novo Código de Processo Civil brasileiro, tentando
demonstrar o que há de inovação, o que já havia na legislação processual a ser revogada e o que está
se reproduzindo dos princípios processuais elencados na Constituição da República Federativa do Brasil.
Palavras-chave: Projeto de Código de Processo Civil. Princípios. Constituição Federal.
Introdução
O advento da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em
05 de outubro de 1988, não foi somente aplaudida pelo regulamentação do seu
cunho de direito material, mas, de idêntica forma, em razão de trazer previsões
constitucionais para matérias que irradiaram seus efeitos a várias disciplinas
ligadas ao Direito, o que se comprova com a febre da chamada constitucionalização
do Direito. Essa tomou ares para além de matérias de Direito Público, alcançando,
na acepção em que a teoria da dicotomia1 jurídica se divide, no Direito
Algumas diferenciações entre os Direitos Público e Privado estão na natureza do interesse, na qualidade dos
1
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 123-136, jul./set. 2014 123
Marco Félix Jobim, Elaine Harzheim Macedo
Privado,2 razão pela qual praticamente houve afetação em todas as áreas conhecidas
do Direito, e, dentre elas, uma das mais afetadas, talvez, seja a do processo. Sérgio
Gilberto Porto e Daniel Ustárroz3 denominam esse fenômeno de conteúdo processual
na Constituição, e não escondem o quão vasto ele se revela.
Diante desse fato, e sabendo-se que existem inúmeros dispositivos
constitucionais aplicados ao processo,4 dentre os quais podem ser citados toda a
organização judiciária, as ações constitucionais, o controle de constitucionalidade
de leis, os recursos aos tribunais superiores, o processo legislativo e os princípios
processuais constitucionais, opta-se em realizar uma investigação principiológica,
tendo em vista que se está às vesperas de implementação de um novo sistema
processual civil para o país, tendo o legislador optado por elaborar uma principiologia
inaugural nos primeiros artigos do projeto para que se irradiem como uma teoria geral
a ser seguida em todo o Código de Processo Civil brasileiro.
Em razão disso, pretende-se adentrar na seara de reconhecer quais princípios
estão duplicados, ou seja, fazem parte tanto do texto constitucional como da legislação
processual a ser inserida futuramente no contexto brasileiro, quais os princípios que
não existiam no texto constitucional e hoje serão parte integrante do texto inicial do
Codex processual civil e, por fim, mas não menos importante, se se pode averiguar
um conteúdo mais diferenciado entre os princípios colidentes entre as legislações,
adentrando em avanços e retrocessos do sistema processual.
2
Não se esquecendo de que há, ainda, o que se poderia denominar de Direito misto (ibidem, p. 257). Refere:
“Diante dessa situação, parte da doutrina vislumbrou a formação de um terceiro setor ao lado do direito
público e do direito privado. Se um conjunto de normas for marcado pela coexistência de características de
direito público e privado, devemos concluir que estamos no setor do ‘direito misto’. Alguns autores denominam
esse setor de ‘direito social’, considerando que sua característica preponderante é a regulamentação das
relações entre grupos sociais (produtores e consumidores, trabalhadores e empregadores etc.) e não das
relações entre o Estado e os indivíduos”.
3
PORTO, Sérgio Gilberto; USTÁRROZ, Daniel. Lições de direitos fundamentais no processo civil: o conteúdo
processual da Constituição Federal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 11. Aduzem: “No Brasil,
o vínculo entre Constituição e processo ficou mais evidente a partir da Constituição de 1988, em face das
múltiplas previsões aplicáveis ao direito processual”.
4
Para fins didáticos, será nominado todo o processo existente na Constituição de processo constitucional.
Sobre este ser o nome preferido, leia-se ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo: o
modelo constitucional da justiça brasileira e as relações entre processo e constituição. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2014.
5
Para conhecimento de quais são, não exaustivamente, ler DANTAS, Paulo Roberto de Figueiredo. Direito
processual constitucional. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
124 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 123-136, jul./set. 2014
Das normas fundamentais do processo e o projeto de novo Código de Processo...
6
E por acesso aqui não há que se confundir com o acesso pensado por Cappelletti e Garth, que pretendiam que,
a partir das ondas, mais pessoas acessassem o Poder Judiciário ou a justiça, como refere o título da obra.
Para tanto, ler CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002.
7
PINA, Ketlen Anne Pontes. Princípio constitucional da inafastabilidade do controle jurisdicional: questões
atuais. In: OLIVEIRA, Vallisney de Souza (Coord.). Constituição e processo civil. São Paulo: Saraiva, 2008.
p. 38-90.
8
Da expressão em inglês A Day in Court.
9
Sobre o tema, indica-se a leitura de MARTEL, Letícia de Campos Velho. Devido processo legal substantivo:
razão abstrata, função e características de aplicabilidade: a linha decisória da Suprema Corte estadunidense.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005; MATTOS, Sérgio Luís Wetzel de. Devido processo legal e a proteção de
direitos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009; e YOSHIKAWA, Eduardo Henrique de Oliveira. Origem e
evolução do devido processo legal substantivo: o controle da razoabilidade das leis do século XVII ao XXI. São
Paulo: Letras Jurídicas, 2007.
10
Sobre a nomenclatura do processo justo, ler SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO,
Daniel. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 615, 623.
11
Nomenclatura adotada pelo articulista para demonstrar que a principiologia processual constitucional traz um
rito próprio mínimo a ser seguido em qualquer processo.
12
Sobre ambos os princípios (juiz e promotor natural), recomenda-se a leitura de MIRANDA, Gustavo Senna.
Princípio do juiz natural e sua aplicação na lei de improbidade administrativa. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007.
13
Para compreensão de como se consolida e os perigos que existem na criação de um Tribunal para julgamento
de determinados casos, assistir ao filme O JULGAMENTO de Nuremberg. Direção: Yves Simoneau. 1 DVD.
169 min. Warner Home. Ano de lançamento: 2000. Color.
14
Sobre ambos os princípios (contraditório e ampla defesa), consultar SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI,
Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
p. 643-655.
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Marco Félix Jobim, Elaine Harzheim Macedo
15
Sobre o tema recomenda-se a leitura de ALMADA, Roberto José Ferreira de. A garantia processual da
publicidade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
16
Sobre o tema, recomenda-se a leitura de SILVA, Ana de Lourdes Coutinho. Motivação das decisões judiciais.
São Paulo: Atlas, 2012; e MOTTA, Cristina Reindolff da. A motivação das decisões cíveis: como condição de
possibilidade para a resposta correta/adequada. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012.
17
Para melhor compreensão do tema das nulidades, recomenda-se a leitura de WAMBIER, Teresa Arruda Alvim.
Nulidades do processo e da sentença. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
18
Sobre o tema recomenda-se a leitura de COSTA NETO, José Wellington Bezerra da. Assistência judiciária
gratuita: acesso à justiça e carência econômica. Brasília, DF: Gazeta Jurídica, 2013.
19
Para saber mais, recomenda-se a leitura de JOBIM, Marco Félix. O direito à duração razoável do processo: a
responsabilidade civil do Estado em decorrência da intempestividade processual. 2. ed. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2012; e KOEHLER, Frederico Augusto Leopoldino. A duração razoável do processo. 2. ed.
Salvador: Juspodivm, 2013.
20
Indicado sobre o tema da segurança jurídica a leitura de ÁVILA, Humberto. Segurança jurídica: entre
permanência, mudança e realização do direito tributário. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
21
Para saber mais sobre coisa julgada, recomenda-se a leitura de PORTO, Sérgio Gilberto. Coisa julgada civil.
4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
22
Para uma melhor compreensão sobre a prova ilícita, recomenda-se a leitura de MARINONI, Luiz Guilherme;
ARENHART, Sérgio Cruz. Prova. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
126 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 123-136, jul./set. 2014
Das normas fundamentais do processo e o projeto de novo Código de Processo...
Ao lado desses princípios acima apontados, tem sido alargada a principiologia, tanto
por consagração de princípios por decisão dos tribunais, como no duplo grau de
jurisdição,23 assim como alguns apontados por escritos mais atualizados sobre o
tema, como o princípio da paridade de armas e da colaboração processual.24
Realizando um esforço, pode-se concluir que existe um iter criado pelo
legislador constitucional que institucionalizou um procedimento constitucional
processual mínimo para o processo judicial a partir da esquematização sistemática25
dos princípios acima apontados. Todas as garantias constitucionais revestivas de
índole processual devem ser mantidas em qualquer processo,26 sob pena de ferir-se a
própria filosofia constitucional caso não cumprido algum dos princípios lá elencados.
O respeito pelo caminho procedimental eleito para se chegar à legitimidade de uma
decisão já foi assunto abordado por Niklas Luhmann.27
23
Que na teoria não encontraria assento implícito da Constituição Federal. Ver: ROSAS, Roberto. Direito
processual constitucional: princípios constitucionais do processo civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1999. p. 21. Argumenta o autor que: “O princípio do duplo grau de jurisdição não está inscrito em nenhuma
regra constitucional, apenas deduz-se da estrutura constitucional da duplicidade de pronunciamentos que o
mesmo pertence à estrutura do Poder Judiciário”.
24
Sobre ambos os princípios, consultar SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel.
Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 623 -627; 639-643.
25
O que poderia ser feito por uma interpretação sistemática do próprio texto constitucional. Sobre o tema, leia-se
FREITAS, Juarez. A interpretação sistemática do direito. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.
26
ZIPPELIUS, Reinhold. Introdução ao estudo do direito. Tradução de Gercélia Batista de Oliveira Mendes. Belo
Horizonte: Del Rey, 2006. p. XVI. Luiz Moreira aduz: “É da reunião destas garantias e princípios constitucionais
do processo que se pode apontar a garantia do devido processo legal, que não se refere a nenhuma garantia
ou princípio especificamente, mas a todos eles, em conjunto e simultaneamente, como garantidor de que a
prestação jurisdicional se exprima de forma ilibada. Quer isto dizer que o processo só será válido e eficaz
se e quando prosperarem todas as garantias e princípios constitucionais, sob pena de inexistência ou
nulidade do processo ou ato processual, pois estes princípios e normas constitucionais se constituem como
garantias fundamentais”.
27
Para tanto, recomenda-se a leitura de LUHMANN, Niklas. Legitimação pelo procedimento. Tradução de Maria
da Conceição Côrte-Real. Brasília: Universidade de Brasília, 1980.
28
Em homenagem a Alfredo Buzaid, um dos idealizadores do Código de Processo Civil de 1973. Interessante
texto pode ser lido em MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. In: TELLINI,
Denise; JOBIM, Geraldo Cordeiro; JOBIM, Marco Félix (Org.). Tempestividade e efetividade processual: novos
rumos do processo civil brasileiro. Caxias do Sul: Plenum, 2010. p. 109-130.
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Marco Félix Jobim, Elaine Harzheim Macedo
29
Todos os artigos do projeto citados estão disponíveis em: <http://www.redp.com.br/arquivos/substitutivo_
paulo_teixeira_08maio2013.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2014.
30
Cumpre esclarecer que ainda há poucas produções bibliográficas sobre o projeto do novo Código de Processo
Civil sendo que, dentre as que existem, uma das mais recomendadas, embora ainda feita na época em que
somente existia o anteprojeto, é: MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. O projeto do CPC: críticas e
propostas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
31
“Art. 1º. O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme as normas da Constituição da
República Federativa do Brasil, observando-se, ainda, as disposições deste Código”.
32
Uma referência, apenas para não passar em branco a afirmação, pode ser a de Luiz Guilherme Marinoni, ao
afirmar que toda lei deve estar em conformidade com a Constituição Federal e, especialmente, como refere,
com os direitos fundamentais. Ler íntegra em MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria geral do processo. 8. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 21.
33
Sobre o referido princípio, recomenda-se a leitura de LOPES, Maria Elizabeth de Castro. O juiz e o princípio
dispositivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
34
Sobre o tema, recomenda-se a leitura de PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 6. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2005. p. 153-156.
35
“Art. 2º. O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções
previstas em lei”.
36
“Art. 3º. Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. §1º É permitida a arbitragem,
na forma da lei. §2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. §3º
A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados
por magistrados, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do
processo judicial”.
37
Englobando o tema, leia-se SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marco Antônio Garcia Lopes; ALVES DA
SILVA, Paulo Eduardo (Coord.). Negociação, mediação e arbitragem: curso básico para programa de graduação
em Direito. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. Os coordenadores e diversos outros articulistas
refletem sobre temas de resolução alternativa de conflitos, em especial a arbitragem.
38
Sobre as técnicas de resolução de conflitos como as apontadas no texto, recomenda-se a leitura de CALMON,
Petrônio. Fundamentos da mediação e da conciliação. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
39
Sobre métodos inovadores de resolução de conflitos, recomenda-se a leitura de KEPPEN, Luiz Fernando
Tomasi; MARTINS, Nadia Bevilaqua. Introdução à resolução alternativa de conflitos: negociação, mediação,
levantamento de fatos, avaliação técnica independente. Curitiba: JM Livraria Jurídica, 2009.
128 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 123-136, jul./set. 2014
Das normas fundamentais do processo e o projeto de novo Código de Processo...
artigo 4º40 resolve expor que “as partes têm direito de obter em prazo razoável a
solução integral do processo, incluída a atividade satisfativa” e no artigo 5º41 resolve
consagrar que “aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se
de acordo com a boa-fé”. Depois, no texto do artigo 6º,42 consigna que, “ao aplicar
o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem
comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência”. Já no
artigo 7º43 consagra que “é assegurada às partes paridade de tratamento no curso
do processo, competindo ao juiz velar pelo efetivo contraditório” e complementa esse
artigo com a redação do artigo 8º,44 ao aduzir que “todos os sujeitos do processo
devem cooperar entre si para que se obtenha a solução do processo com efetividade e
em tempo razoável”. No artigo 9º45 o projeto prevê que “não se proferirá decisão contra
uma das partes sem que esta seja previamente ouvida”, explicando, no parágrafo
único, que há exceções quando afirma que “o disposto no caput não se aplica à tutela
antecipada de urgência e às hipóteses de tutela antecipada da evidência previstas
nos incisos III e IV do art. 306”, no artigo 1046 consagrou-se a não surpresa,47 ao
expor que “em qualquer grau de jurisdição, o órgão jurisdicional não pode decidir com
base em fundamento a respeito do qual não se tenha oportunizado manifestação das
partes, ainda que se trate de matéria apreciável de ofício” e, finalmente, no artigo 1148
desses princípios iniciais entendeu-se por afirmar a existência dos princípios da
publicidade e da fundamentação das decisões judiciais ao elencar que “todos os
julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade”, havendo a ressalva no parágrafo único dos
casos de segredo de justiça.
40
“Art. 4º. As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral do processo, incluída a
atividade satisfativa”.
41
“Art. 5º. Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”.
42
“Art. 6º. Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade,
a legalidade, a publicidade e a eficiência”.
43
“Art. 7º. É assegurada às partes paridade de tratamento no curso do processo, competindo ao juiz velar pelo
efetivo contraditório”.
44
“Art. 8º. Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha a solução do processo
com efetividade e em tempo razoável”.
45
“Art. 9º. Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida. Parágrafo
único. O disposto no caput não se aplica à tutela antecipada de urgência e às hipóteses de tutela antecipada
da evidência previstas nos incisos III e IV do art. 306”.
46
“Art. 10. Em qualquer grau de jurisdição, o órgão jurisdicional não pode decidir com base em fundamento a respeito
do qual não se tenha oportunizado manifestação das partes, ainda que se trate de matéria apreciável de ofício”.
47
É a consagração do Überraschungsentscheidung, segundo refere Nelson Nery Junior, ao dizer que não podem
as partes ser surpreendidas por decisão fundada em fato ou circunstância de que a parte não tenha tomado
conhecimento. NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: processo civil, penal e
administrativo. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 221.
48
“Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade. Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada
somente a presença das partes, de seus advogados, defensores públicos ou do Ministério Público”.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 123-136, jul./set. 2014 129
Marco Félix Jobim, Elaine Harzheim Macedo
49
“Art. 12. Os órgãos jurisdicionais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença
ou acórdão. §1º A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para
consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores. §2º Estão excluídos da regra do caput:
I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido;
II - o julgamento de processos em bloco para aplicação da tese jurídica firmada em julgamento de casos
repetitivos; III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas;
IV - as decisões proferidas com base no art. 945; V - o julgamento de embargos de declaração; VI - o julgamento
de agravo interno; VII - as preferências legais. §3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem
cronológica das conclusões entre as preferências legais. §4º O requerimento formulado pela parte após a
inclusão do processo na lista de que trata o §1º não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando
implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência. §5º Decidido o requerimento de
que trata o §4º, o processo retornará à mesma posição em que anteriormente se encontrava na lista.
50
Sobre o tema, consultar ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios
jurídicos. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.
51
Conferir a íntegra em: DELFINO, Lúcio. O art. 153 do novo CPC vai contra o advogado militante. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2014-ago-01/lucio-delfino-artigo-153-cpc-advogado-diligente?utm_source=dlvr.
it&utm_medium=twitter>. Acesso em: 07 ago. 2014.
130 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 123-136, jul./set. 2014
Das normas fundamentais do processo e o projeto de novo Código de Processo...
52
Ibidem.
53
Ibidem, p. 277. Refere: “O postulado da razoabilidade aplica-se, primeiro, como diretriz que exige a relação
das normas gerais com as individualidades do caso concreto, quer mostrando sob qual perspectiva
a norma deve ser aplicada, quer indicando em quais hipóteses o caso individual, em virtude de suas
especificidades, deixa de se enquadrar na norma geral. Segundo, como diretriz que exige uma vinculação das
normas jurídicas com o mundo ao qual elas fazem referência, seja reclamando a existência de um suporte
empírico e adequado a qualquer ato jurídico, seja demandando uma relação congruente entre a medida
adotada e o fim que ela pretende atingir. Terceiro, como diretriz que exige a relação de equivalência entre
duas grandezas”.
54
Ibidem, p. 277. Aduz: “O postulado da proporcionalidade aplica-se nos casos em que exista uma relação de
causalidade entre um meio e um fim concretamente perceptível. A exigência de realização de vários fins, todos
constitucionalmente legitimados, implica a adoção de medidas adequadas, necessárias e proporcionais em
sentido estrito”.
55
“Art. 2 Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos
e forma legais”.
56
“Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial”.
57
Não se nega que se pode declarar a nulidade de uma sentença arbitral, por exemplo, por expresso texto da lei
de arbitragem. O que se quer dizer aqui é que o Poder Judiciário continuará julgando qualquer caso em razão
do livre acesso que muitas penas defendem.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 123-136, jul./set. 2014 131
Marco Félix Jobim, Elaine Harzheim Macedo
58
SANTANA, Alexandre Ávalo. Os princípios do novo CPC e a tutela eficiente em tempo razoável. In: FREIRE,
Alexandre et al. (Org.). Novas tendências do processo civil: estudos sobre o projeto do novo Código de Processo
Civil. Salvador: Juspodivm, 2014. v. 2. p. 15-26. p. 23. Aduz: “No que se refere ao princípio da boa-fé adotado no
projeto, é relevante destacar que sua compreensão deve se dar, justamente, na sua acepção objetiva, uma vez
que o art. 5º aponta expressamente para um dever de conduta que se espera dos sujeitos processuais ao dispor
que, todos que de alguma forma participarem do processo, devem ‘comportar-se de acordo com a boa-fé’”.
59
CRAMER, Ronaldo. O princípio da boa-fé objetiva no projeto do novo CPC. In: FREIRE, Alexandre. et al. (Org.).
Novas tendências do processo civil: estudos sobre o projeto do novo Código de Processo Civil. Salvador:
Juspodivm, 2014. v. III. p. 634. Refere o autor: “Não há como negar que, até ser incorporado à dogmática
processual e acomodado junto a outros institutos, o princípio da boa-fé objetiva pode gerar insegurança e, até
mesmo, alguma perplexidade, sobretudo se consideradas suas inauditas consequências”.
60
Sobre o modelo processual de colaboração, leia-se MITIDIERO, Daniel. Colaboração no processo civil:
pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009; BARREIROS, Lorena Miranda
dos Santos. Fundamentos constitucionais do princípio da cooperação processual. Salvador: Juspodivm, 2013;
e DIDIER JR., Fredie. Fundamentos do princípio da cooperação no direito processual civil português. Coimbra:
Wolters Kluwer Portugal sob a marca Coimbra, 2010.
61
Sobre o princípio da eficiência, ler: RAMOS, Gisela Gondin. Princípios jurídicos. Belo Horizonte: Fórum, 2012,
p. 482-483. Refere: “O princípio da eficiência, que alguns doutrinadores preferem designar por Princípio da
Eficácia Administrativa, foi incorporado ao art. 37 da Carta Magna pela Emenda Constitucional nº 19, de
1988. Ele revela as expectativas da sociedade no sentido de que os serviços públicos sejam prestados de
boa vontade, com celeridade, segurança e conforto, regularidade, pontualidade, e de modo equânime. Exige
o aproveitamento otimizado dos recursos materiais e humanos disponíveis, de molde a que os objetivos
próprios do Estado possam ser alcançados da melhor maneira possível, tanto em termos quantitativos,
como em termos qualitativos”, e continua “O Princípio da Eficiência adquire especial relevância em face da
discricionariedade administrativa, quando se examina o respeito à ordem jurídica. De modo algum o agente
público pode se valer dele para justificar o afastamento ou sacrifício da legalidade. A eficiência, na seara
pública, representa a capacidade de resolver problemas e realizar os serviços de modo satisfatório em
consonância com os parâmetros legais estabelecidos” e finaliza: “Enfim, é possível concluir que o princípio da
eficiência exige a ampliação dos serviços públicos, com efetiva melhoria na qualidade da prestação, tudo com
vistas à realização maximizada dos direitos fundamentais”.
132 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 123-136, jul./set. 2014
Das normas fundamentais do processo e o projeto de novo Código de Processo...
Considerações finais
O legislador, quando optou por elencar no capítulo I as normas que devem ser
fundamentais a todo o processo civil, trabalhou bem ao textualizar algumas que já eram
consenso na própria doutrina e nos tribunais, que já estavam fazendo uso contínuo
e prolongado dos seus conceitos, como o princípio da não surpresa, o princípio da
cooperação, o princípio da boa-fé processual e o princípio da paridade de armas. Na
mesma linha, identificou o texto já nos artigos iniciais a importância de existir meios
alternativos à resolução de conflitos, elencando alguns deles, como a arbitragem, a
conciliação e a mediação e deixando em aberto o tema para que tantas outras formas
possam vir a ser incorporadas pelo ordenamento jurídico brasileiro. Também, foi salutar
dar estímulo aos profissionais do Direito que utilizem dessas técnicas.
No que concerne a alguns princípios já conhecidos do processo constitucional,
como o do acesso ao Poder Judiciário, do contraditório, da publicidade, da
fundamentação das decisões, pouco fez de novo, apenas repetindo parte do texto
da Constituição Federal, o que faz com que se pergunte se já não eram para ser
seguidos independemente de fazer parte do projeto ora em tramitação. Da mesma
forma, ao elencar como um dos escopos do processo a promoção da dignidade,
sendo ela fundamento do Estado Democrático de Direito? E a eficiência, já não era
um norte a ser seguido pela leitura do caput do artigo 37 da Constituição Federal? O
da legalidade não era para ser observado? Se seguiu os princípio da Administração
Pública, por qual razão a impessoalidade ficou de fora do texto processual?
Preocupa o Código projetado elencar a observação à proporcionalidade, a
razoabilidade, atendendo o juiz ao aplicar o Direito aos fins sociais e às exigências do
bem comum, tendo em vista que são ferramentas que não controlam, minimamente,
a construção da decisão judicial se não tomados cuidados extras com o estudo do
referido dispositivo.
Não é feliz o legislador quando vai tentar dar densidade ao princípio da
tempestividade do processo, conforme já relatado no corpo do artigo, isso em razão
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 123-136, jul./set. 2014 133
Marco Félix Jobim, Elaine Harzheim Macedo
Abstract: This study purports to investigate the normativity adopted by the legislators in the development
of the first articles of the new Brazilian Code of Civil Procedure bill, in an attempt to show the innovation
included, the elements that were already present in the procedural law that is about to be repealed and what
is being reproduced of the procedural principles described in the Constitution of the Federative Republic
of Brazil.
Key words: Code of Civil Procedure Bill. Principles. Federal Constitution.
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136 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 123-136, jul./set. 2014
Linhas básicas acerca da “liquidação de
sentença” coletiva
Rodrigo Mazzei
Mestre (PUC-SP) e Doutor (FADISP). Pós-Doutorando (UFES – bolsa CAPES-REUNI). Professor
da graduação e do mestrado da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Vice-
presidente do Instituto dos Advogados do Estado do Espírito Santo (IAEES). Presidente da
Escola Superior da Advocacia (ESA-OAB/ES).
Resumo: O presente estudo possui a intenção de traçar as linhas básicas da liquidação de sentença nos
processos coletivos, segundo o ordenamento legal brasileiro.
Palavras-chave: Liquidação de sentença. Tutela Coletiva. Fluid recovery. Microssistema da tutela coletiva.
Direito coletivo. Direito difuso. Direitos individuais homogêneos.
1 Introdução
Do texto do artigo 286, caput, primeira parte, do Código de Processo Civil,1
extrai-se regra de acordo com a qual a pretensão deduzida pelo autor em Juízo deve
Dispositivo com inteligência reproduzida (e redação melhorada) no Projeto do “novo” CPC, consoante pode
1
se verificar do que consta no artigo 325 do texto projetado (art. 325. O pedido deve ser determinado, sendo
lícito, porém, formular pedido genérico: I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens
demandados; II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato;
III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo
réu. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014 137
Rodrigo Mazzei, Tiago Figueiredo Gonçalves
2
A regra contida no parágrafo único do art. 459 do CPC é formulada em benefício do autor. Sendo assim,
caso formule pedido certo e determinado, fornecendo condições para o proferimento igualmente de sentença
determinada, deve o juiz fazê-lo. É, no entanto, possível a ocorrência de situações nas quais, embora deduzido
pedido certo e determinado, fique o juiz absolutamente impossibilitado de proferir sentença determinada,
ante, por exemplo, a não instrução adequada em torno dos fatos, a impedir a delimitação ou a especificação
da quantia ou da coisa pretendida. Em casos tais, a regra do art. 459, parágrafo único, do CPC vem sendo
mitigada para autorizar a prolação de sentença genérica. Nesse sentido: STJ. REsp nº 49.445. Quarta Turma.
Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar (RSTJ nº 75/386). Tanto assim, também, que o STJ firmou entendimento no
sentido de reconhecer interesse recursal apenas ao autor para reclamar eventual nulidade sentencial, pelo
fato de ter sido prolatada sentença ilíquida. Vide verbete nº 318 da Súmula do STJ: “Formulado pedido certo
e determinado, somente o autor tem interesse recursal em argüir o vício da sentença ilíquida” (STJ. Corte
Especial. J. 05.10.2005, DJ, p. 103, 18 out. 2005). MAZZEI, Rodrigo et al. Reforma do CPC: leis 11.187/2005,
11.232/2005, 11.276/2006, 11.277/2006 e 11.280/2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 165.
3
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro. 20. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense,
1999, p. 11.
4
ARRUDA, Antônio Carlos Matteis de. Lineamentos para o esboço de uma teoria geral do processo de liquidação
da sentença. A lide de liquidação. Dissertação de Mestrado sob orientação do Doutor José Manoel de Arruda
Alvim Netto. São Paulo: PUC, 1979, p. 126.
5
Vide texto do art. 475-A, §3º, do CPC.
6
PONTES DE MIRANDA. Comentários ao Código de Processo Civil, tomo IX (arts. 566-611). Rio-São Paulo:
Forense, 1976, p. 503.
7
A fase de liquidação, o incidente, ou o processo de liquidação é, inquestionavelmente, de conhecimento. Nele,
objetiva-se pronunciamento judicial que quantifique ou especifique a obrigação cuja existência foi afirmada em
sentença proferida em processo de conhecimento anterior, tornando, desse modo, integrado o título executivo
a habilitar o autor à tutela executiva. Nesse sentido: AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras linhas de direito
processual civil. 18. ed. atual. por Aricê Moacyr Amaral Santos. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 257. vol. 3.
138 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014
Linhas básicas acerca da “liquidação de sentença” coletiva
então, diz-se que a obrigação é tornada líquida. Essa nova fase procedimental (incidente
da execução) ou esse novo processo de conhecimento, no bojo do qual a obrigação
é tornada líquida, é denominado de fase de liquidação ou de processo de liquidação.
Somente através da decisão proferida na fase (no incidente, ou no processo)
de liquidação é que a obrigação, tida como certa pela sentença liquidanda, torna-se
determinada. Tal procedimento é imprescindível para integrar a sentença genérica e
dar-lhe a eficácia executiva que a torna adequada para o autor promover em momento
seguinte a execução,8 o que se lhe exige caso o réu não adimpla a obrigação imposta
na sentença. Adimplemento que, ademais, o réu devedor só consegue realizar depois
de ciente tanto que está obrigado — o que é firmado pela sentença genérica —
quanto do que está obrigado — o que é estabelecido pela decisão proferida na fase,
no incidente ou no processo de liquidação.
O título executivo (judicial ou extrajudicial) é indispensável, portanto, para o autor
que pretende obter do Estado-Jurisdição tutela executiva visando à satisfação de
direito seu já declarado ou formulado, o qual deverá conter obrigação certa, líquida, e
exigível. De forma que só o título que represente, em si, obrigação líquida torna o autor
apto à via executiva.9 No particular, Luiz Rodrigues Wambier anota: “Sem, portanto,
que esteja nitidamente revestida dessa aptidão para a execução, isto é, sem que
contenha também o elemento quantitativo da obrigação a cujo cumprimento tenha
sido condenado o réu, a sentença condenatória estará, por assim dizer, incompleta,
e restará também não atendida a sua própria destinação”.10
O presente artigo tem exame panorâmico sobre o tema: liquidação de sentença.
Com efeito, depois de introduzido o conceito de liquidação, de identificados os modelos
de liquidação atualmente existentes no sistema, e de analisadas e compreendidas
suas espécies, volta-se o enfoque para o tratamento do tema no processo coletivo,
promovendo-se as devidas adaptações à principiologia que orienta aquele subsistema
ou microssistema processual.
8
DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 5. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 520.
9
ZAVASCKI, Teori Albino. Comentários ao Código de Processo Civil, vol. 8: do processo de execução, arts. 566 a
645. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 330. Ressalta-se que a certeza, a liquidez a exigibilidade são
atributos da obrigação representada documentalmente no título executivo. Por isso que muito bem recebida a
correção técnica promovida pela Lei 11.382/2006 ao texto originário do art. 586 do CPC. Nesse sentido, um
dos autores desse artigo jurídico, em comentários às reformas implementadas no CPC, mais especificamente
em seu art. 586 do CPC, pôde observar que: “Em se tratando de obrigação pecuniária, a certeza e a liquidez
são predicados do crédito que poderá ser reclamado pelo credor, caso o devedor, superado o termo ou
condição, isto é, vencida a dívida, não venha adimplir a obrigação assumida. Diferente da redação pretérita, há
agora bom diálogo entre o caput do art. 586 do CPC com o art. 397 do CC, haja vista que a atual arquitetura
dispõe que ‘a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida
e exigível’, ou seja, a tríade de requisitos se volta não para o título executivo em si, mas para a obrigação
que está, segundo o atual art. 580 do CPC, ‘consubstanciada em título executivo’” (MAZZEI, Rodrigo; et al.
Reforma do CPC 2: leis 11.383/2006 e 11.341/2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 87).
10
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Sentença civil: liquidação e cumprimento. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2006. p. 46-47.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014 139
Rodrigo Mazzei, Tiago Figueiredo Gonçalves
11
Fredie Didier et al. fornecem conceito próximo: “liquidação de sentença é atividade cognitiva pela qual se
busca complementar a norma jurídica individualizada estabelecida num título judicial”. DIDIER JR., Fredie;
CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil:
execução. Salvador: Juspodivm, 2009. p. 112. v. 5.
12
ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA. Dicionário da língua portuguesa contemporânea. II Vol. G-Z. Verbo,
2001, p. 1985.
13
Tecendo críticas à atecnia do legislador: SILVA, Ovídio Baptista da. Curso de processo civil: execução
obrigacional, execução real, ação mandamentais. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
p. 57. v. 2.
14
“Pensamos, por isso, que andou bem o legislador em transferir as normas relacionadas à liquidação de
sentença para a parte que o CPC dedica ao processo de conhecimento. Com efeito, trata-se de atividade
a que se aplicam os princípios do processo de conhecimento, e não do processo de execução”. WAMBIER,
Luiz Rodrigues. Sentença civil: liquidação e cumprimento. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006. p. 75.
140 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014
Linhas básicas acerca da “liquidação de sentença” coletiva
2.1 Liquidação-fase
A liquidação-fase ou fase de liquidação é aquela que se desenvolve a partir
de demanda proposta com o específico propósito de, mediante nova cognição, em
prosseguimento a processo de conhecimento já instaurado, delimitar a obrigação
reconhecida em anterior decisão judicial, aperfeiçoando o título executivo judicial com
o qual, em outra fase subsequente do mesmo processo, o cumprimento de sentença
se realizará.
A fase de liquidação observa e se desenvolve em consonância com as regras
ou da liquidação por arbitramento (CPC, art. 475-C) ou da liquidação por artigos (CPC,
art. 475-E). Na liquidação-fase o contraditório não é precedido de citação do réu, sim
de intimação (CPC, art. 475-A, §1º), na medida em que não existe a instauração de
novo processo; sendo, inclusive, cabível diante do estado de litispendência da fase
cognitiva precedente, desde que já existente sentença recorrida (CPC, art. 475-A, §2º).
Encerra-se por sentença impugnável por agravo de instrumento (CPC, art. 475-H). É a
técnica utilizada nos processos coletivos em que a sentença condenatória genérica
reconhece direito coletivo estrito senso ou direito difuso, quando a liquidação tem por
objeto a quantificação do dano coletivo.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014 141
Rodrigo Mazzei, Tiago Figueiredo Gonçalves
15
Isso quando a sentença condenatória já não trouxer.
16
“Art. 475-N. [...]. Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J) incluirá a
ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução, conforme o caso”.
17
Analisando a “liquidação” por cálculos com ótima resenha, confira-se Fabiano Carvalho (Liquidação de
sentença: determinação do cálculo aritmético, de acordo com a lei 11.232/2005. In: HOFFMAN, Paulo;
RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva (Coord.). Processo de execução civil: modificações da Lei nº 11.232/05,
São Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 47).
142 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014
Linhas básicas acerca da “liquidação de sentença” coletiva
18
MAZZEI, Rodrigo; et al. Reforma do CPC: leis 11.187/2005, 11.232/2005, 11.276/2006, 11.277/2006 e
11.280/2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 167-168.
19
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 617. vol. IV.
20
MAZZEI, Rodrigo et al. Reforma do CPC: leis 11.187/2005, 11.232/2005, 11.276/2006, 11.277/2006 e
11.280/2006. São Paulo: RT, 2006, p. 182. MAZZEI, Rodrigo. A liquidação por arbitramento e a liquidação
por artigos: pontos relevantes sob a ótica das leis 11.232/05 e 11.382/06: Revista eletrônica de direito
processual, v. V, ano 4, Rio de Janeiro, 2010, p. 492.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014 143
Rodrigo Mazzei, Tiago Figueiredo Gonçalves
que alguns autores, entre os quais Alcides de Mendonça Lima,21 afirmem que a liquidação
por arbitramento é um inusitado tipo de prova para dar acabamento à sentença.22
Não se faz no requerimento da liquidação por arbitramento postulação (para a
prova) de “fato novo”, pois o “fato”, além de já estar provado, recebeu deliberação
sentencial em toda a sua extensão, faltando apenas prova eminentemente técnica
para o seu fechamento. Sobre o assunto, traçando distinção entre a liquidação por
arbitramento e a liquidação por artigos, anota Humberto Theodoro Júnior: “Havendo
necessidade de se provar fatos novos para se chegar à apuração do quantum da
condenação, a liquidação terá que ser feita sob forma de artigos (art. 608). Quando
porém, existirem nos autos todos os elementos necessários para os peritos
declararem o valor do débito, o caso é de arbitramento”.23
Há, segundo a doutrina trazida, uma diferença no material cognitivo das
liquidações, na medida em que esta por arbitramento é guiada por elementos já
constantes nos autos, ao passo que, diferentemente, se o ambiente processual tiver
sido instaurado por liquidação por artigos, há o alargamento na prova a ser colhida
para a determinação do título, aferindo-se fatos novos. Em que pese tal análise (de
grande relevância), outras observações, em nosso sentir, ajudam a esclarecer de
forma mais clara a distinção, ao menos em boa parte das situações.
Com efeito, a liquidação por arbitramento é utilizada em casos nos quais
ordinariamente seria possível efetuar a determinação da condenação antes da
prolação da sentença. No entanto, tal não ocorre em razão de ser mais viável que
se profira a sentença desde logo e se postergue a determinação da condenação,
colhendo-se prova futura, de natureza pericial. Isso porque a matéria que envolve
a perícia futura já se encontra resolvida, estando seus parâmetros fixados, mas a
definição dos limites da condenação depende de prova técnica.
Dentre os motivos para que a perícia de determinação da condenação fique
diferida para momento futuro, podemos destacar o encadeamento progressivo dos
atos processuais. Ora, se existem elementos para se julgar procedente o pedido
indenizatório, em alguns casos é preferível que se decida logo sobre a questão
(alcançando o an debeatur), postergando-se seu aperfeiçoamento para outra fase (ou
seja, a fixação do quantum debeatur).24
21
LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. Forense: Rio de Janeiro, 1977.
p. 576. v. 6. t. II.
22
MAZZEI, Rodrigo et al. Reforma do CPC: leis 11.187/2005, 11.232/2005, 11.276/2006, 11.277/2006 e
11.280/2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 183.
23
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução. 19. ed. São Paulo: Leud, 1999. p. 223.
24
Tiago Figueiredo Gonçalves, um dos autores deste artigo, por não adotar as premissas teóricas indicadas no texto para
justificar a realização da prova técnica somente depois da prolatação da sentença genérica, já teve a oportunidade de
sustentar, de lege ferenda, que a atividade de liquidação fosse realizada concomitantemente à atividade de certificação
do direito, exigindo-se, para tanto, que o autor da demanda, na inicial, formulasse pedido de liquidação da obrigação na
mesma fase procedimental em que, a rigor, como atualmente sói ocorrer, só resulta afirmada a existência do direito
sem a sua quantificação (A “liquidação” de obrigação imposta por sentença em demanda metaindividual:
Processo civil coletivo. Coord.: Rodrigo Mazzei e Rita Dias Nolasco. São Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 415).
144 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014
Linhas básicas acerca da “liquidação de sentença” coletiva
25
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de
direito processual civil: execução. Salvador: Juspodivm, 2009, p. 136. v. 5.
26
Texto aprovado na Câmara em novembro de 2013, com pendência de análise alguns temas controversos.
27
Art. 501. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a
decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de
juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, salvo
quando: I - não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido; II - a apuração do
valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa,
assim reconhecida na sentença. §1º Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do
valor devido por liquidação. §2º O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar
a sentença.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014 145
Rodrigo Mazzei, Tiago Figueiredo Gonçalves
28
Art. 523. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á a sua liquidação, a
requerimento do credor ou devedor: I - por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado
pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação; II - pelo procedimento comum, quando houver
necessidade de alegar e provar fato novo. §1º Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida,
ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.
§2º Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde
logo, o cumprimento da sentença. §3º O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à disposição
dos interessados programa de atualização financeira. §4º Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou
modificar a sentença que a julgou. Art. 524. Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a
apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar; caso não possa decidir de plano,
nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial. Art. 525. Na liquidação
pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido, na pessoa de seu advogado ou da
sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no prazo de quinze
dias, observando-se, a seguir, no que couber, o disposto no Livro I da Parte Especial deste Código. Parágrafo
único. Contra decisão proferida na fase de liquidação de sentença cabe agravo de instrumento. Art. 526. A
liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no juízo de
origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.
29
Texto revogado: Art. 570. O devedor pode requerer ao juiz que mande citar o credor a receber em juízo o que Ihe cabe
conforme o título executivo judicial; neste caso, o devedor assume, no processo, posição idêntica à do exeqüente.
30
Muito embora nos §1º e §2º do artigo 523 o texto projetado faça menção apenas ao credor, esquecendo-se
do devedor, contrariando a ideia ampla do caput.
146 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014
Linhas básicas acerca da “liquidação de sentença” coletiva
31
Art. 427. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e na contestação, apresentarem
sobre as questões de fato pareceres técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes.
32
Art. 6º. Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável,
decisão de mérito justa e efetiva. Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe: [...] II - velar pela duração razoável do processo.
33
Art. 363. O juiz decidirá parcialmente o mérito, quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 362. §1º A
decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. §2º
A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar parcialmente
o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto. Se houver trânsito
em julgado da decisão, a execução será definitiva. §3º A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar
parcialmente o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério
do juiz. §4º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014 147
Rodrigo Mazzei, Tiago Figueiredo Gonçalves
Ainda com olhos na duração razoável do processo e também fora do hiato dos
artigos 523 a 526, cremos que foi positiva a inserção do §1º do artigo 113 do texto
projetado,34 que permite ao juiz limitar não apenas no processo de conhecimento,
mas também na liquidação de sentença e na execução, a formação de litisconsórcio
facultativo, caso o número de litigantes puder comprometer a rápida solução do litígio
ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
Afora as questões já tratadas, merece consignar que fica mantido a diretriz da
“fidelidade”, não sendo assim permitido que em sede de liquidação (qualquer que
seja a modalidade) se discuta novamente a lide, a par de se vedar a modificação da
decisão que a julgou (§4º do artigo 523).
O parágrafo único do artigo 525, que dispõe que contra decisão proferida na
fase de liquidação de sentença cabe agravo de instrumento, merece ser aplicado em
todas as hipóteses de liquidação, apesar do caput do dispositivo apenas se referir à
liquidação pelo procedimento comum (liquidação por artigos).
34
Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente,
quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou obrigações relativamente ao mérito; II - entre as causas
houver conexão pelo objeto ou causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou
de direito. §1º Na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, o juiz poderá limitar o
litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio
ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
35
“Já os direitos individuais homogêneos são, simplesmente, direitos subjetivos individuais. A qualificação de
homogêneos não altera e nem pode desvirtuar essa sua natureza. É qualificativo utilizado para identificar um
conjunto de direitos subjetivos individuais ligados entre si por uma relação de afinidade, de semelhança, de
homogeneidade, o que permite a defesa coletiva de todos eles” (ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo:
tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 43).
36
DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 8. ed. rev., ampl.
e atual. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 45. v. 4.
148 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014
Linhas básicas acerca da “liquidação de sentença” coletiva
As peculiaridades dos direitos que nele e por ele se busca reconhecer impõem
a adaptação dos institutos e dos fenômenos que o cercam e o delineiam, de modo a
se ter assegurado o que pode ser denominado de devido processo legal coletivo, ou
seja, de um processo pautado por um “garantismo coletivo”; sob pena de seu caráter
instrumental restar comprometido e, em consequência, de a tutela diferenciada nele
objetivada não ser alcançada.37 Daí a necessidade de regras e princípios próprios
para a regulamentação do processo coletivo.
Não existe, contudo, no âmbito do ordenamento jurídico pátrio, uma codificação
própria e específica voltada à regulamentação do processo coletivo. As normas de
processo coletivo não se encontram dispostas em uma única lei; antes, estão alocadas
em diversos diplomas legais. A despeito de fisicamente separadas, a unidade teórica
e de propósitos existentes entre tais normas faz com que integrem um microssistema
dentro do ordenamento jurídico a que se denomina de microssistema do processo
coletivo ou microssistema da tutela coletiva.
A existência do subsistema do processo coletivo possibilita que as normas
nele compreendidas se intercomuniquem, de modo a dialogarem entre si. Dentro
desse contexto, a aplicação das normas do Código de Processo Civil, de concepção
nitidamente individualista, é realizada apenas residualmente.38
Em curtas palavras, o microssistema coletivo tem sua formação marcada
pela reunião intercomunicante de vários diplomas, diferenciando-se da maioria dos
microssistemas que, em regra, recebem apenas influência de normas gerais. Por
exemplo, a Lei nº 8.245/91 (exemplo de diploma extravagante nas relações entre
locador e inquilino de imóveis) possui diálogo com o Código Civil (CC), o Código de
Processo Civil (CPC) e, obviamente, a Constituição Federal (CF). Com efeito, a
concepção do microssistema jurídico coletivo deve ser ampla, a fim de que o mesmo
seja composto não apenas do CDC e da LACP, mas de todos os corpos legislativos
37
Recorre-se mais uma vez à doutrina de Hermes Zaneti Jr. e de Fredie Didier Jr.: “O devido processo legal
precisa ser adaptado ao processo coletivo. É preciso pensar em um devido processo legal coletivo. É preciso
construir um regime diferenciado para o processo coletivo. As mudanças resultam da necessária adaptação
do princípio do devido processo legal a esses novos litígios. Com isso nasce o que se pode chamar de
‘garantismo coletivo’, que paulatinamente deverá consolidar-se na doutrina e na jurisprudência para assegurar
mais eficácia e legitimidade social aos processos coletivos e as decisões judiciais nessa matéria” (DIDIER
JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 8. ed. rev., ampl. e atual.
Salvador: Juspodivm, 2013, p. 115. v. 4.).
38
O tema (microssistema da tutela coletiva) foi tratado com vagar por Rodrigo Mazzei no seguinte
texto: A ação popular e o microssistema da tutela coletiva: Ação popular – aspectos controvertidos
e relevantes – 40 anos da Lei 4717/65. Coord.: Luiz Manoel Gomes Jr. e Ronaldo Fenelon Santos
Filho São Paulo: RCS, 2006. Em razão da importância do tema, o ensaio foi republicado (com
pequenas alterações) em outras obras, a saber: Revista Forense, v. 394, p. 263-280, 2007; Tutela
jurisdicional coletiva. Coord.: Fredie Didier Jr. e José Henrique Mouta. Salvador: Juspodivm, 2009.
p. 373-395. v. 1.; Revista Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade de Ribeirão Preto, v. 1,
p. 221-244, 2011.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014 149
Rodrigo Mazzei, Tiago Figueiredo Gonçalves
inerentes ao direito coletivo, razão pela qual diploma que compõe o microssistema
é apto a nutrir carência regulativa das demais normas, pois, unidas, formam
sistema especialíssimo.
Isso significa dizer que o CPC terá aplicação somente se não houver solução
legal nas regulamentações que estão disponíveis dentro do microssistema coletivo
que, frise-se, é formado por um conjunto de diplomas especiais com o mesmo escopo
(tutela de massa). Dessa forma, a leitura de dispositivos com redação próxima à do
artigo 19 da LACP e do artigo 22 da LAP há de ser feita de forma cuidadosa, porque
o CPC será residual e não imediatamente subsidiário, pois, verificada a omissão
do diploma coletivo especial, o intérprete, antes de angariar solução na codificação
processual, ressalte-se, de índole individual, deverá buscar os ditames constantes
dentro do microssistema coletivo. As leis que formam esse conjunto de regulação
ímpar, sem exceção, interpenetram-se e subsidiam-se, devendo o intérprete aferir —
em concreto — a eventual incompatibilidade e a especificidade de cada norma coletiva
em relação aos demais diplomas, com aplicação apenas residual do CPC, em razão
de sua dicção, repita-se, individual.39
Estão compreendidas no microssistema as normas de processo coletivo
localizadas na Lei de Ação Popular (Lei nº 4117/65), na Lei dos Portadores de
Deficiências (Lei nº 7.853/89), no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
nº 8.069/90), na Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92), na Lei da
Ordem Econômica (Lei nº 8.884/94), no Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003),
entre outras, as quais possuem como base as disposições contidas na Constituição
Federal, na Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), e no Código de Defesa do
Consumidor (Lei nº 8.078/90).
A concepção de microssistema da tutela coletiva, na forma aqui apresentada,
vem sendo aplicada por alguns Tribunais (inclusive pelo Superior Tribunal de
Justiça)40 em diversos temas em que ocorre o tratamento simultâneo pelo Código
Processo Civil (de índole voltada aos litígios individuais) e por leis especiais (ou
extravagantes) que versam sobre a tutela coletiva. Em tais situações, a codificação
deve ser aplicada apenas de forma residual, com prevalência das leis que formam
o microssistema coletivo. Tal premissa não pode ser afastada em se tratando
de liquidação de sentença, em que a estrutura do Código de Processo Civil está
39
Direto no tema, confira-se: Rodrigo Mazzei. Da aplicação (apenas) ‘residual’ do CPC nas ações coletivas.
MPMG Jurídico, v. 1, p. 37, 2006.
40
REsp nº 1.108.542/SC. Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma. Julgado em: 19.05.2009. DJe,
29 maio 2009; AgRg no REsp 1.219.033/RJ. Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma. Julgado em:
17.03.2011. DJe, 25 abr. 2011.
150 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014
Linhas básicas acerca da “liquidação de sentença” coletiva
afinada para a recepção das ações individuais, sendo pouco adequada para as
ações coletivas.41 42 43
Como vimos, o Projeto do “novo” Código de Processo Civil não altera o quadro
acima traçado, bastando, pois, conferir que os principais dispositivos do texto projetado,
que estão no hiato dos artigos 523 a 526, mantêm a célula individual da liquidação
de sentença codificada. De toda sorte, como vimos, o §2 º do artigo 113 do projeto —
embora não seja um dispositivo de aplicação voltada exclusivamente para a liquidação
de sentença — prevê a possibilidade de limitação de litisconsórcio facultativo nas
liquidações de sentença quando o número de litigante puder comprometer a rápida
solução do litígio ou dificultar a defesa ou até mesmo o cumprimento da sentença,
situação que de forma vulgar ocorre em liquidações coletivas com grande número de
postulantes, notadamente em hipótese de direitos individuais homogêneos.
41
MAZZEI, Rodrigo et al. Reforma do CPC: leis 11.187/2005, 11.232/2005, 11.276/2006, 11.277/2006 e
11.280/2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 192-194.
42
No Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, mais especificamente na Primeira Câmara Especial Cível, há
dezenas de acórdãos no sentido, destacando-se os de relatoria dos Desembargadores Miguel Ângelo da
Silva e Ney Wiedemann Neto. Em exemplo, confira-se: “O impulsionamento de ofício das ações individuais
anteriormente suspensas (conversão em liquidação provisória de sentença por artigos) é providência
prática pertinente que, além de se inserir no contexto do Projeto Caderneta de Poupança instituído no
âmbito do Poder Judiciário Estadual, se mostra compatível com o microssistema da tutela coletiva de
direitos. A pendência de recurso no processo coletivo não obsta a liquidação provisória da sentença, que
far-se-á, obrigatoriamente, pela modalidade de artigos. Manutenção da ordem dirigida ao banco para que
apresente os extratos de movimentação da(s) conta(s) titularizada(s) pelo(s) autor(es), porquanto viável, com
arrimo no art. 6º VIII, do CDC, a inversão do ônus da prova” (Agravo de Instrumento nº 70027687680.
J. 05.12.2008).
43
Correta, portanto, a fala de Patrícia Miranda Pizzol, quando afirma que: “A execução coletiva obedecerá às
normas constantes do CDC, da LACP e também do CPC, naquilo que os dois primeiros forem omissos e
desde que não colida com os preceitos neles contidos (que constituem, a chamada ‘jurisdição civil coletiva’)”
(Liquidação nas ações coletivas. São Paulo: Lejus, 1998. p. 240).
44
Expressão utilizada atecnicamente, vindo no texto a significar tutela. Assim: ALVIM NETTO, José Manoel de
Arruda et al. Código do Consumidor comentado. 2. ed. rev. e ampl. 2. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1995. p. 345.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014 151
Rodrigo Mazzei, Tiago Figueiredo Gonçalves
O art. 95 do CDC dispõe que a condenação deve ser genérica quando a demanda
coletiva for julgada procedente.45 Trata-se de regra geral no tocante à sentença proferida
em demanda coletiva que visa à reparação de danos em torno de direitos individuais
homogêneos. Não se aplica, contudo, nas demandas coletivas em que se busca a
condenação do réu em obrigação de fazer ou de não fazer, independentemente de
envolverem direitos coletivos, difusos, ou individuais homogêneos.
Ademais, nas demandas coletivas para reparação de danos envolvendo direito
coletivo ou direito difuso também é perfeitamente possível se vislumbrar sentença
da qual decorra condenação em obrigação líquida. Nesses casos, a obrigação
pode vir a ser quantificada no curso do processo, na medida em que a condenação
do réu decorre de violação a bem indivisível, cujo titular é a coletividade, e cuja
delimitação pode ocorrer através de prova produzida durante o curso da demanda,
sem a necessidade de, para tanto, serem comprovados eventuais danos ocorridos
na esfera individual de titulares de direitos subjetivos. Não se busca, em situações
tais, reconhecer genericamente a existência de dano, para, em momento posterior,
dividi-lo, cindi-lo entre cada cidadão individualmente lesado, como sói ocorrer nas
demandas com as quais se tutelam direitos individuais homogêneos.
45
Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu
pelos danos causados.
46
Nesse sentido: ALVIM NETTO, José Manoel de Arruda et al. Código do Consumidor comentado. 2. ed. rev. e ampl.
2 tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 436. GRINOVER, Ada Pellegrini. Da class action for damages
à ação de classe brasileira: os requisitos de admissibilidade. Revista de Processo 101/11. São Paulo: Revista
dos Tribunais, p. 23. DINAMARCO, Cândido Rangel. As três figuras de liquidação de sentença: Fundamentos
do processo civil moderno. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 1250. v. II. MANCUSO, Rodolfo de Camargo.
Manual do consumidor em juízo. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 147. Em sentido diverso,
Teori Albino Zavascki e Patrícia Miranda Pizzol sustentam que o autor da demanda de liquidação, além do
quantum debeatur, precisa demonstrar, sim, a sua legitimidade ativa, não a existência do dano — an debeatur —
na sua esfera individual. ZAVASCKI, Teori Albino. Comentários ao Código de Processo Civil. vol 8: do processo de
execução, arts. 566 a 645. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 338. PIZZOL, Patrícia Miranda. Liquidação
nas ações coletivas. Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUC, 1996. p. 208, 209.
152 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014
Linhas básicas acerca da “liquidação de sentença” coletiva
47
DINAMARCO, Cândido Rangel. As três figuras de liquidação de sentença: fundamentos do processo civil
moderno. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 1248, 1249. v. II
48
DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 8. ed. rev., ampl.
e atual. Salvador: Juspodivm, 2013. p. 408. v. 4.
49
Nelson Nery Jr. e Rosa Maria Andrade Nery tratam a hipótese como sendo de habilitação(Código de Processo
Civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1999, p. 1877). Dinamarco deixa transparecer certa medida de dúvida sobre a real natureza
dessa demanda a que o Código do Consumidor denomina como sendo de liquidação: DINAMARCO, Cândido
Rangel. As três figuras de liquidação de sentença: Fundamentos do processo civil moderno. 3. ed. São Paulo:
Malheiros, 2000, p. 1248, 1249. v. II.
50
No mesmo sentido: WAMBIER, Luiz Rodrigues. Sentença civil: liquidação e cumprimento. 3. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 380. WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda
Alvim. Anotações sobre a liquidação e a execução das sentenças coletivas: direito processual coletivo e o
anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos. Coord.: Ada Pellegrini Grinover, Aluisio Gonçalves de
Castro Mendes e Kazuo Watanabe. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 276.
51
BOTELHO, Tiago Resende; FAVA, Gustavo Crestani. Da liquidação do direito em sentenças coletivas – class
actions settlement: Revista Jurídica UNIGRAN, v. 15, n. 29. Dourados: UNIGRAN, 2013, p. 119.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014 153
Rodrigo Mazzei, Tiago Figueiredo Gonçalves
52
Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus sucessores, assim
como pelos legitimados de que trata o art. 82.
53
Sobre as razões do veto: MUKAI, Toshio et al. Comentários ao Código de Proteção do Consumidor. Coord.:
Juarez de Oliveira. Saraiva: São Paulo, 1991. p. 335.
54
Mais uma vez cumpre lembrar a necessidade da eficácia e utilidade da demanda coletiva. Assim, se não
houver utilidade prática em que a liquidação individual seja proposta no foro do domicílio do liquidante, melhor
é que seja proposta no juízo que proferiu a sentença genérica. Acredita-se, inclusive, que o juízo que proferiu
a sentença genérica, por já conhecer mais a fundo as questões que envolvem a demanda, ser o mais apto
também para conhecer as liquidações individuais, proporcionando-lhes maior eficácia.
55
Na mesma linha: GRINOVER, Ada Pellegrini; et al. Código brasileiro de defesa do consumidor. Forense: Rio de
Janeiro, 1991. p. 561. Em sentido diverso: ALVIM NETTO, José Manoel de Arruda et al. Código do Consumidor
comentado. 2. ed. rev. e ampl. 2. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 442.
154 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014
Linhas básicas acerca da “liquidação de sentença” coletiva
56
Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus sucessores, assim
como pelos legitimados de que trata o art. 82.
57
DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 8 ed. rev., ampl.
e atual. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 409. v. 4.
58
No mesmo sentido: WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Anotações sobre a liquidação
e a execução das sentenças coletivas: direito processual coletivo e o anteprojeto de Código Brasileiro de
Processos Coletivos. Coord.: Ada Pellegrini Grinover, Aluisio Gonçalves de Castro Mendes e Kazuo Watanabe.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 277.
59
GONÇALVES, Tiago Figueiredo. A “liquidação” de obrigação imposta por sentença em demanda metaindividual:
Processo civil coletivo. Coord.: Rodrigo Mazzei e Rita Dias Nolasco. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 425.
Assim também: BOTELHO, Tiago Resende; FAVA, Gustavo Crestani. Da liquidação do direito em sentenças
coletivas – class actions settlement: Revista Jurídica UNIGRAN, v. 15, n. 29. Dourados: UNIGRAN, 2013.
p. 122.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014 155
Rodrigo Mazzei, Tiago Figueiredo Gonçalves
Abstract: This article aims to outline the main rules of the award calculation phase in class actions
according to the Brazilian legal system.
Key words: Settlement sentence. Collective Custody. “Fluid recovery”. System of protection of collective
rights. Collective right. Diffuse law. “Homogeneous individual rights”.
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158 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 137-158, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52,
X, da Constituição Federal – A
consagração do hibridismo no controle
de constitucionalidade brasileiro e o
seu impacto na competência do
Senado Federal
Resumo: O texto faz um exame do sistema híbrido de controle de constitucionalidade no Brasil e da teoria
da mutação constitucional, a partir de alguns precedentes em curso no Supremo Tribunal Federal, sendo
analisadas, ainda, as potencialidades e os riscos da implementação desta técnica à luz de nossa tradição
legislativa e jurisprudencial. Por fim, é examinada a norma insculpida no artigo 52, inciso X, da Carta de
1988, bem como a sua eventual inconstitucionalidade.
Palavras-chave: Mutação constitucional. Controle. Hibridismo. Senado.
Sumário: 1 Premissa inicial – A abstrativização do controle concreto como vertente da interpenetração dos
modelos difuso e concentrado – 2 O papel do Senado Federal no controle de constitucionalidade difuso –
3 A adaptabilidade da Constituição Federal e os perigos da tese da mutação constitucional – 4 Conclusão –
Seria inconstitucional a mutação do artigo 52, X, da Constituição Federal? – Referências
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014 159
Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
mais basta para dar conta de toda gama de complexidades que gravita em torno
do assunto.
Saliente-se, preliminarmente, que, quando se opta por estudar matéria tão
profunda e polêmica, capaz de gerar implicações de diversas ordens, torna-se
imprescindível abandonar tudo aquilo que é tido como senso comum, sem
perder de vista o precioso ensinamento de José Carlos Barbosa Moreira, que
assevera não existirem fórmulas de validade universal para resolver por inteiro as
equações, devendo ser combinadas estratégias e táticas diversas, sem medo de
parecermos incoerentes.1
Em vista disso, o ponto de partida para o atual estudo do controle de
constitucionalidade deve ser o desapego à empoeirada fórmula “universalmente
válida”, que promove a seguinte síntese: “controle de constitucionalidade = modelo
americano + austríaco”.
A enraizada ideia de que o controle de constitucionalidade brasileiro (introduzido
com a Constituição de 1891) privilegiou um modelo de inspiração norte-americana,
que, posteriormente, passou a conviver com o controle concentrado de forma
harmônica (porém desvinculada), hodiernamente, não pode ser encarada como
verdade absoluta. Isso faz com que não seja mais aceitável, pelo menos sem as
devidas ressalvas, o exame superficial da temática, que insiste em resumir o assunto
na habitual dicotomia entre controle difuso e controle concentrado.
O fato é que a alusão aos modelos paradigmáticos clássicos sempre se mostrou
suficiente para o basilar delineamento e enfrentamento das matérias que dizem
respeito à origem, evolução e aplicação do controle de constitucionalidade brasileiro,
o que pode nos conduzir à falsa ideia de que a duplicidade de modelos representa
critério único. Contudo, vários são os critérios classificatórios existentes em todo o
mundo, desde aqueles mais simplistas até os mais sofisticados.
Mas, apesar da multiplicidade de critérios adotados em terra brasilis, por
questões práticas, preferiu-se por em foco a dualidade de sistemas: o difuso e
o concentrado.
O jurista italiano Lucio Pegoraro, estudioso do controle de constitucionalidade,
entende que a adoção de critérios classificatórios pode ocasionar dois graves
problemas: ou as classificações são muito simplificadas e não alcançam o objetivo
de representar, com adequada precisão, as tipologias assumidas pelo objeto de
estudo ou são tão articuladas que frustram o objetivo da atividade classificatória.2
1
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O futuro da justiça: alguns mitos. In: Temas de direito processual. Oitava
Série. Rio de Janeiro: Saraiva, 2004. p. 7.
22
PEGORARO, Lucio. A circulação, a recepção e a hibridação dos modelos de justiça constitucional.
Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/
anexos/15543-15544-1-PB.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2012.
160 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração do hibridismo no controle ...
3
Gilmar Mendes afirma que “o modelo austríaco traduz uma nova concepção de controle de constitucionalidade.
Outorgou-se ao Tribunal Constitucional (Verfassungsgerichtshof) a competência para dirimir as questões
constitucionais, mediante requerimento especial (Antrag), formulado pelo Governo Federal (Bundesregierung),
com referência a leis estaduais, ou pelos Governos estaduais (Landesregierungen), no tocante às leis federais
[...]” (GANDRA, Ives e MENDES, Gilmar. Controle concentrado de constitucionalidade. Comentários à Lei
9.868, de 10-11-1999. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 7).
4
MENDES, Gilmar. Jurisdição constitucional. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 01.
5
MENDES, Gilmar. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade. Estudos de direito constitucional.
3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 191.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014 161
Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
6
Importante mencionar que, com a Constituição de 1934 surge o modelo de representação para intervenção,
que também passou a adotar, ainda que primariamente, o modelo de constitucionalidade austríaco, mas ainda
não se tratava de um controle concentrado como o que conhecemos hoje. O Supremo Tribunal Federal, na
época conhecido como Corte Suprema, ganhou, em 1934, uma competência que o fez aproximar do modelo
austríaco, mas ainda não havia uma influência europeia expressiva a ponto de se afirmar que o Brasil adotava
um controle concentrado de constitucionalidade.
7
“[...] não era difícil contrapor dois modelos paradigmáticos de controle ‘jurisdicional’: o primeiro, o histórico
— aquele realizado nos Estados Unidos, sobretudo a partir do Marbury v. Madison -, com o outro, ao mesmo
tempo teórico e empírico: o Verfassungsgerichtsbarkeit, desenhado por Kelsen e em seguida introduzido na
Constituição Austríaca de 1920” (PEGORARO, Lucio. Op. cit.).
8
A criação da repercussão geral e da súmula vinculante representam grandes exemplos do hibridismo do
controle de constitucionalidade, notadamente na vertente abstrativização do controle concreto. O que se tem
são hipóteses evidentes de objetivação dos recursos extraordinários.
9
MARQUES, Cláudia Lima. Superação das antinomias pelo diálogo das fontes: o modelo brasileiro de
coexistência entre o código de defesa do consumidor e código civil de 2002. Revista da ESMESE, n. 07, 2004,
p. 15-54.
162 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração do hibridismo no controle ...
10
Cappelletti conceitua stare decisis como sendo “a vinculação que uma decisão proferida por uma corte de
maior hierarquia gera nas cortes inferiores” (O controle judicial de constitucionalidade das leis no direito
comparado. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris editor, 1984. p. 156).
11
BUZAID, Alfredo. Da ação direta de declaração de inconstitucionalidade no direito brasileiro. São Paulo:
Saraiva, 1958. p. 23.
12
LENZA, Pedro. O senado federal é um “mero menino de recado”?. Artigo publicado na página pessoal de Pedro
Lenza. Disponível em: <http://pedrolenza.blogspot.com.br/2011/05/o-senado-federal-e-um-mero-menino-de.
html>. Acesso em: 09 ago. 2012.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014 163
Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
evidencia que os modelos até então enxergados como isolados (paralelos) vêm
sofrendo irritações recíprocas, o que demonstra uma verdadeira interpenetração
de paradigmas, caminhando, cada vez mais, em direção a um controle misto
propriamente dito.
Recentemente, o recrudescimento dessa hibridação entre os modelos de controle
de constitucionalidade, mais especificamente no que diz respeito à abstrativização do
controle concreto, ganhou espaço após o ajuizamento da Reclamação nº 4.335/AC.13
Com o encerramento do julgamento da referenciada Reclamação, o qual se deu
em 21.03.2014, após um acirrado embate junto à Corte Suprema, o que antes seria
uma mera expectativa de fortalecimento do sistema híbrido de controle (que traria
consigo, no presente caso, a consagração da tese da mutação constitucional) se
tornou uma realidade.
A título de esclarecimento, imperioso se torna destacar que toda a discussão
que vinha sendo travada na Reclamação nº 4.335 teve sua origem no julgamento do
Habeas Corpus nº 82.959, no qual o Supremo Tribunal Federal (por maioria), sob a
relatoria do ministro Marco Aurélio, declarou, incidenter tantum, a inconstitucionalidade
do §1º do artigo 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, norma esta que previa
a impossibilidade de progressão de regime em crimes hediondos.14
Considerando a não observância da decisão proferida no citado Habeas Corpus
por um juiz de direito da vara de execuções penais, que negou a progressão de regime
a condenados pela prática de crimes hediondos, foi ajuizada a Reclamação nº 4.335,
pela Defensoria Pública do Estado do Acre. A negativa de cumprimento à citada
decisão exarada pelo Supremo Tribunal Federal, de forma coerente, valeu-se do fato
de que o Plenário do STF havia declarado incidenter tantum a inconstitucionalidade do
§1º do artigo 2º da Lei nº 8.072, não havendo, portanto, que se falar em vinculação
dos juízes e tribunais pátrios.
Nessa mesma esteira caminhou o parecer da Procuradoria-Geral da República,
que opinou pelo não conhecimento do pedido formulado em virtude inexistir qualquer
decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal cuja autoridade devesse ser preservada.15
13
“A recente polêmica que vem sendo travada no Supremo Tribunal Federal a partir da Reclamação 4335-5/
AC, cujo relator é o Ministro Gilmar Mendes, não fará da decisão que vier a ser tomada, com certeza, apenas
mais um importante julgado. Mais que isso: ao final dos debates entre os Ministros daquela Corte, poder-se-á
chegar, de acordo com o rumo que a votação tem prometido até o momento, a uma nova concepção, não
somente do controle da constitucionalidade no Brasil, mas também de poder constituinte, de equilíbrio entre
os Poderes da República e de sistema federativo”. LIMA, Martonio; OLIVEIRA, Marcelo e STRECK, Lenio. A
nova perspectiva do Supremo Tribunal Federal sobre o controle difuso: mutação constitucional e limites da
legitimidade da jurisdição constitucional. Indagação extraída de artigo publicado na página pessoal de Lenio
Luiz Streck. Disponível em: <http://leniostreck.com.br/index.php?option=com_docman&Itemid=40>.
14
HC nº 82.959/SP, Relator: Ministro Marco Aurélio. Julgamento em: 08.09.2006. Inteiro teor disponível
em:<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2110217>. Acesso em:
22 set. 2012.
15
Recl. nº 4.335/AC. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julgado em: 08.09.2006. Disponível em: <http://www.stf.jus.
br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2381551>. Acesso em: 22 set. 2012.
164 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração do hibridismo no controle ...
16
“A noção de força vinculante é intuída na prática processual e constitucional. Em seu sentido estrito, concerne
à imposição de que uma dada dicção judicial seja obrigatoriamente observada e aplicada por outros órgãos
estatais à generalidade das pessoas. Mas não existem formulações conceituais precisas acerca do fenômeno,
de modo a enquadrá-lo nas categoriais jurídicas atinentes às decisões judiciais” (TALAMINI, Eduardo. Novos
aspectos da jurisdição constitucional brasileira: repercussão geral, força vinculante, modulação dos efeitos do
controle de constitucionalidade e alargamento do objeto do controle direto. São Paulo: Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, 2008. p. 85).
17
MENDES, Gilmar. O papel do Senado Federal no controle de constitucionalidade – um caso clássico de mutação
constitucional. Senado Federal. Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/953/4/R162-12.pdf>.
Acesso em: 22 set. 2012.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014 165
Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
18
Recl. 4.335/AC. Op. cit.
19
Além da previsão no artigo 52, X, o art. 178 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, embora com
remissão à Constituição de 1967, a seguinte disposição: “Declarada incidentalmente a inconstitucionalidade,
na forma prevista nos arts. 176 e 177, far-se-á a comunicação, logo após a decisão, à autoridade ou órgão
interessado, bem como, depois de trânsito em julgado, ao Senado Federal para os efeitos do art. 42, VII,
da Constituição”.
20
MENDES, Gilmar. Op. cit.
166 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração do hibridismo no controle ...
21
BRASIL. Constituição brasileira de 1934. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constitui%C3%A7ao34.htm>. Acesso em: 15 set. 2012.
22
Barbosa Moreira menciona que, nos EUA, a Suprema Corte somente declara a inconstitucionalidade mediante
a análise de hipóteses concretas, sendo que os precedentes gozam de força vinculante. Por esse motivo, a
compatibilidade ou incompatibilidade entre a lei e a Constituição nunca representam objeto do julgamento,
constituindo apenas uma etapa prévia e lógica para que se decida o caso concreto. MOREIRA, José Carlos
Barbosa. A suprema corte americana: um modelo para o mundo?. Revista Brasileira de Direito Comparado, Rio
de Janeiro, v. 26, 2003, p. 38.
23
Lenio Streck, sobre o tema, confirma que a atribuição ao Senado Federal veio a corrigir esse encaixe mal feito
do controle difuso na realidade brasileira. Isso gerava uma deficiência decorrente da utilização do controle
difuso de constitucionalidade americano em uma realidade na qual não existia a ideia de eficácia erga
omnes das decisões judiciais, importante vetor do controle difuso. STRECK, Lenio. Jurisdição constitucional e
hermenêutica: uma nova crítica do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. p. 345.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014 167
Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
24
Afinal, cabe ao Supremo Tribunal Federal “corrigir” a Constituição? In: LIMA, Martonio; OLIVEIRA, Marcelo e
STRECK, Lenio. A nova perspectiva do Supremo Tribunal Federal sobre o controle difuso: mutação constitucional
e limites da legitimidade da jurisdição constitucional. Indagação extraída de artigo publicado na página pessoal
de Lenio Luiz Streck. Disponível em: <http://leniostreck.com.br/index.php?option=com_docman&Itemid=40>.
Acesso em: 09 ago. 2012.
25
STRECK, Lenio. Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova crítica do direito. Op. cit.
26
Sobre o instituto do amicus curiae, Fredie Didier destaca se tratar de verdadeiro auxiliar do juízo que tem por
objetivo o aprimoramento das decisões proferidas pelo Poder Judiciário. DIDIER JR, Fredie. Possibilidade de
sustentação oral do amicus curiae. In: Revista Dialética de Direito Processual. São Paulo: Dialética, v. 8, 2003.
p. 34.
168 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração do hibridismo no controle ...
27
BUENO, Cássio Scarpinella. Amicus Curiae no processo civil brasileiro. Um terceiro enigmático. São Paulo:
Saraiva, 2006. p. 179.
28
Ver: VELOSO, Zeno. Controle jurisdicional de constitucionalidade. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 41.
29
MENDES, Gilmar. A influência do pensamento de Peter Häberle no STF. Conjur. Disponível em: <http://www.
conjur.com.br/2009-abr-10/pensamento-peter-haberle-jurisprudencia-supremo-tribunal-federal>. Acesso em:
22 set. 2012.
30
LENZA, Pedro. Op. cit.
31
“A declaração de inconstitucionalidade, só por ela, não tem a virtude de produzir o desaparecimento da
lei ou ato, não o apaga, eis que fica a produzir efeitos fora da relação processual em que se proferiu a
decisão” (BRASIL. Congresso, Senado Federal. Parecer n. 154, de 1971, Rel. Senador Accioly Filho, Revista
de Informação Legislativa, 12(48):266-8).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014 169
Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
170 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração do hibridismo no controle ...
34
BRASIL. Constituição brasileira de 1937. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constitui%C3%A7ao37.htm>. Acesso em: 15 set. 2012.
35
Clóvis do Couto e Silva, já sob a égide da Constituição de 1946 destacava que, para que a lei deixasse de
existir, seria necessário que o Senado suspendesse a sua execução. Tal assertiva continua atual à luz da
Constituição Federal de 1988 e resume bem a função do Senado, que não seria a de mero publicizador.
COUTO E SILVA, Clóvis do. Fontes e ideologia do Princípio da Supremacia da Constituição. Revista Jurídica,
1959, p. 65.
36
STRECK, Lenio. Ciência política e teoria do Estado. 3. ed. Porto Alegre: 2012. p. 98.
37
Recl. 4.335/AC, já referida.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014 171
Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
38
“O Senado Federal é o juiz exclusivo do momento em que convém exercer a competência, a ele e só a ele
atribuída, de suspender a lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal”.
BROSSARD, Paulo. O Senado e as leis inconstitucionais. Revista Informação Legislativa, v. 13, n. 50, 1976,
p. 55
39
HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da República Federal da Alemanha. 20. ed. (tradução).
Porto Alegre: Sérgio Fabris editor, 1998. p.25.
40
A ideia de patriotismo constitucional pode ser entendida melhor na obra de Habermas. HABERMAS, Jürgen.
Ciudadanía e identidad nacional. In: Facticidad y validez. Sobre el derecho y el estado democrático derecho em
términos de teoría del discurso. 3. ed. Tradução de Manuel Jimenez Redondo. Madrid: Trotta, 2001.
41
LOEWENSTEIN, Karl. Teoría de la constitución. Traduzida para o espanhol por Alfredo Gallego Anabitarte.
Barcelona: Ariel, 1964. p. 216.
172 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração do hibridismo no controle ...
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Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
visível sempre que a compreensão lógica da norma não coincidir com o seu texto.
O objetivo nodal da tese da mutação constitucional seria promover a readequação
entre a norma e a nova realidade fática vigente, o que não se encontraria presente na
hipótese do artigo 52, X.
Não nos parece razoável que, à luz de uma Constituição democrática como a
de 1988, seja promovido o afastamento de uma norma constitucional que abre as
portas para a participação democrática indireta, sob o fundamento de que a mesma
não mais seria condizente com a realidade fática atual.
Ainda, afirmou o ministro Joaquim Barbosa, em voto proferido no bojo da
Reclamação nº 4.335, que a mutação constitucional deveria consagrar uma mudança
no sentido na norma, alteração esta que encontraria limites na literalidade.44 Não
caberia ao Supremo, a pretexto da mutação constitucional e sem qualquer efetiva
modificação fática da realidade, alterar aquilo que o titular do Poder Constituinte
Originário efetivamente quis, sendo inadmissível que Supremo Tribunal Federal
possa, de forma discricionária, efetivar a mutação constitucional.45
Até porque, diante de toda a mudança de cenário ocorrida entre 1934 e 1988,
parece-nos que, se a vontade do titular do Poder Constituinte fosse tornar o Senado
um mero publicizador da vontade do Supremo Tribunal, ele assim teria feito.
Com o advento da Carta de 1988 e com o fortalecimento cada vez mais patente
da onda democrática, tendência esta que se reflete inegavelmente no controle difuso,
parece caminhar na contramão da história a defesa de mutação constitucional do
artigo 52, X da Constituição.
Se não bastassem os riscos que a discricionariedade da tese, por si só, geram,
ainda se estaria admitindo que o princípio democrático fosse ferido, com base no
duvidoso argumento da mudança na realidade fática subjacente à norma. Por todos
os motivos até aqui expostos, a possível mutação constitucional do artigo 52, X da
Carta Republicana deve servir de alerta para todos nós.
Isso porque, quando se defende a possibilidade de modificação informal da
Constituição com base em uma alteração da realidade fática, devem estar muito bem
delineados os cenários a serem observados: o preceito constitucional e a realidade.
Somente nos casos em que a realidade for gritantemente mais ampla do que a norma
constitucional é que deve ser admitida a adaptação do preceito constitucional. Mas
veja: trata-se de adaptar o preceito constitucional à realidade fática e não à vontade
discricionária do Supremo.46
44
Recl. nº 4.335/AC, já citada.
45
“Se o Supremo Tribunal Federal pode fazer mutação constitucional, em breve essa “mutação” começará a
gerar — como se já não existissem à saciedade — os mais diversos frutos de cariz discricionário (portanto,
positivista, no sentido em que Dworkin critica as teses de Hart)” (STRECK, Lenio. Op. cit.).
46
Raul Machado Horta promove essa distinção entre realidade fática e norma constitucional (HORTA, Raul
Machado. Direito constitucional. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 104).
174 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração do hibridismo no controle ...
47
BRITTO, Carlos Ayres. O regime jurídico das emendas à Constituição. São Paulo, 1999. PUC. Tese de Doutorado.
48
LENZA, Pedro. Op. cit.
49
“É claro que haverá sempre dúvidas porque a lei é morta. Quem vivifica a lei é o intérprete e o ato de interpretar
é, acima de tudo, um ato de vontade que pode acontecer de formas diferentes”. (Disponível em: <http://www.
terra.com.br/revistadinheirorural/edicoes/61/artigo156948-2.htm#>. Acesso: 24 nov. 2011).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014 175
Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
50
ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2001. p. 54.
51
Nesse sentido, Lenio Streck ainda afirma que “a resposta exsurgirá de uma opção paradigmática: fundamentar/
justificar discursos ou compreender (fenomenologicamente) Enfim, a escolhe entre consenso e verdade e
todas as consequências daí exsurgentes. [...] Diante dessa verdadeira revolução copernicana que atravessou
o direito a partir do segundo pós-guerra, as diversas teorias jusfilosóficas tinham (e ainda têm) como objetivo
primordial buscar respostas para a seguinte pergunta: como construir um discurso capaz de dar conta de tais
perplexidades, sem cair em decisionismos e discricionariedades do intérprete (especialmente dos juízes)?”
(STRECK, Lenio. Hermenêutica e applicatio jurídica: a concreta realização normativa do direito como superação
da interpretação jurídico-metafísico-objetificante. Coimbra: Coimbra Ed., 2008. p. 1103-1153).
52
BULOS, Uadi Lammêgo. Mutação constitucional. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 87.
176 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração do hibridismo no controle ...
53
A 1ª Turma do STF, na Reclamação nº 11.477, de forma unânime, fixou o entendimento de que somente
o dispositivo da decisão produz efeito vinculante, efeito este que não incidiria sobre a fundamentação da
decisão. Na presente hipótese, a Constituição do Ceará continha norma idêntica à Constituição do Tocantins,
que, previamente, teve o seu dispositivo declarado inconstitucional. O Ministro Marco Aurélio, em seu
voto conducente, assim decidiu: “Descabe emprestar a essa via excepcional os contornos de incidente de
uniformização de jurisprudência. A reclamação pressupõe a usurpação de competência do Supremo ou o
desrespeito a decisão por ele proferida, o que não ocorre na espécie. Conforme apontado na própria inicial, em
situação regida por leis do Estado do Ceará, tem-se como olvidados acórdãos deste Tribunal que implicaram
a declaração de inconstitucionalidade de normas dos Estados do Tocantins, Pernambuco e Mato Grosso. Em
síntese, está baseada a reclamação na transcendência dos motivos determinantes dos atos formalizados
e não na inobservância dos dispositivos deles constantes”. Recl. nº 11.477/CE. Rel. Min. Marco Aurélio.
Julgado em: 29.05.2012. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.
asp?incidente=4051797>. Acesso em: 22 set. 2012.
54
BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2007. p. 184.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014 177
Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
Referências
BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.
BRASIL. Congresso, Senado Federal. Parecer n. 154, de 1971, Rel. Senador Accioly Filho, Revista de
Informação Legislativa, 12(48):266-8.
BRASIL. Constituição brasileira de 1934. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constitui%C3%A7ao34.htm>.
BRASIL. Constituição brasileira de 1937. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constitui%C3%A7ao37.htm>.
BROSSARD, Paulo. O Senado e as leis inconstitucionais. Revista Informação Legislativa, v. 13,
n. 50, 1976.
BULOS, Uadi Lammêgo. Mutação constitucional. São Paulo: Saraiva, 1997.
BUZAID, Alfredo. Da ação direta de declaração de inconstitucionalidade no direito brasileiro. São
Paulo: Saraiva, 1958.
CAPPELLETTI, Mauro. O controle judicial de constitucionalidade das leis no direito comparado. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris editor, 1984.
COUTO E SILVA, Clóvis do. Fontes e ideologia do princípio da supremacia da Constituição. Revista
Jurídica, 1959.
BUENO, Cássio Scarpinella. Amicus Curiae no Processo Civil Brasileiro. Um Terceiro Enigmático. São
Paulo: Saraiva, 2006.
BRITTO, Carlos Ayres. O regime jurídico das emendas à Constituição. São Paulo, 1999. PUC. Tese
de Doutorado.
DIDIER JR, Fredie. Possibilidade de sustentação oral do amicus curiae. In: Revista Dialética de Direito
Processual. São Paulo: Dialética, v. 8, 2003.
DWORKIN, Ronald. O império do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
178 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Mutação constitucional do artigo 52, X, da Constituição Federal – A consagração do hibridismo no controle ...
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014 179
Fabiana Marcello Gonçalves, Humberto Dalla Bernardina de Pinho
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 411.156/SP, Relator: Ministro Celso de Mello. Julgado em: 28.02.2012.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2183908>.
STRECK, Lenio. Ciência política e teoria do estado. 3. ed. Porto Alegre: 2012.
STRECK, Lenio. Hermenêutica e applicatio jurídica: a concreta realização normativa do direito como
superação da interpretação jurídico-metafísico-objetificante. Coimbra: Coimbra Ed., 2008.
STRECK, Lenio. Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova crítica do direito. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2002.
VELOSO, Zeno. Controle jurisdicional de constitucionalidade. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.
p. 41.
WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Organização e introdução de H.H Gerth e C.W Mills. 3. ed. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1974.
ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2001. p. 54.
180 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 159-180, jul./set. 2014
Princípio processual da objetividade
argumentativa
Resumo: Trata-se de artigo em que o autor defende a aplicação do conhecimento objetivo popperiano
ao discurso processual democrático. Afirma, em suma, que todos os argumentos utilizados no discurso
processual devem ser capazes de se ofertar à crítica, isto, para que o princípio do contraditório possa
ser plenamente exercido por aqueles que sofrerão os efeitos do provimento jurisdicional ou, em outras
palavras, pelas partes.
Palavras-chave: Discurso. Processo. Democracia. Conhecimento objetivo. Contraditório. Argumentação. Popper.
Sumário: 1 Considerações iniciais – 2 Breves palavras sobre o discurso – 3 Algumas palavras sobre o
discurso processual – 4 Princípio processual da objetividade argumentativa e a rejeição do solipsismo pelo
Estado Democrático de Direito – 5 Considerações finais – Referências
1 Considerações iniciais
O presente escrito tem por objetivo apresentar, em breves linhas, uma
introdução ao que nominei de princípio processual da objetividade argumentativa.
Para tanto, será necessário tecer algumas breves palavras sobre o discurso em
geral (item 2 infra), sobre o discurso processual (item 3), para, enfim, enfrentar
as bases teóricas do princípio sobredito (item 4), este, erguido sobre as
matrizes popperianas.
O objetivo deste ensaio é fazer uma abertura para pesquisas futuras, e
não, propriamente, aprofundar no tema, o que exigiria um espaço mais extenso
de publicação.
Sem delongas, passa-se ao enfrentamento do tema proposto.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014 181
Dhenis Cruz Madeira
1
Cf. MADEIRA, Dhenis Cruz. O discurso processual democrático. In: CASTRO, João Antônio Lima. (Org.). Direito
processual. Belo Horizonte: PUC Minas, 2012. p. 999-1016.
2
Dentre outros: CARVALHO, Olavo de. Aristóteles em nova perspectiva, p. 74.
3
CARVALHO, Olavo de. Aristóteles em nova perspectiva, p. 75.
182 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014
Princípio processual da objetividade argumentativa
4
Sobre o solipsismo judicial, dentre outros: DIAS, Ronaldo Brêtas de Carvalho. Processo Constitucional e
Estado Democrático de Direito, LEAL, André Cordeiro. Instrumentalidade do processo em crise; LEAL, Rosemiro
Pereira. Teoria Processual da Decisão Jurídica; NUNES, Dierle José Coelho. Processo jurisdicional democrático;
STRECK, Lenio Luiz. O que é isto – decido conforme minha consciência?
5
Aqui me recordo das palavras do saudoso processualista baiano Calmon de Passos, quando, em suas
palestras, costumava dizer que o Direito era – como ainda é - linguagem.
6
Cf. CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido processo legislativo, p. 13
7
Dentre outros: GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e teoria do processo.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014 183
Dhenis Cruz Madeira
8
Cf. MADEIRA, Dhenis Cruz. O discurso processual democrático.
9
Ou seja, trata-se de uma proposta teórica que se apoia em Popper, ainda que não integralmente, haja vista
a necessidade de adaptação das propostas popperianas ao Direito Processual Civil, o que é, como será
visto, possível.
10
Cf. POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica, p. 46.
11
Cf. POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica, p. 50.
184 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014
Princípio processual da objetividade argumentativa
Parece ser nesse rumo que caminhou uma das versões do Projeto do Novo
CPC brasileiro, atualmente em trâmite na Câmara dos Deputados, quando, em
determinado ponto do procedimento legislativo, chegou a consignar num parágrafo:
12
Trata-se de uma das versões, ainda, do Senado Federal, quando ainda em trâmite naquela Casa Legislativa.
13
Tratando um pouco sobre o confronto entre a ciência jurídica moderna (cartesiana) e dos antigos (retórica,
dialética, tópica), conferir: MADEIRA, Dhenis Cruz. Giambattista Vico, a retórica e a tópica jurídica: reflexões
sobre a ciência jurídica moderna e contemporânea. In: VILELA, Alexandra; MADEIRA, Dhenis Cruz; LEITE, Jorge;
MEIRA, José Boanerges; COSTA, José Francisco Faria; ROCHA, Lindomar. (Org.). Temas contemporâneos de
direito: Brasil e Portugal. Belo Horizonte: Arraes, 2012. p. 216-237.
14
Cf. POPPER, Karl Raimund. Conhecimento objetivo, p. 77-78.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014 185
Dhenis Cruz Madeira
15
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Interpretação e aplicação das normas jurídicas. DIDIER JR., Fredie Souza;
JORDÃO, Eduardo Ferreira (Coord.). Teoria do processo: panorama doutrinário mundial. Salvador: JusPodivm,
2007. p. 387.
16
THEODORO JÚNIOR, Interpretação e aplicação das normas jurídicas, p. 380.
17
THEODORO JÚNIOR, Interpretação e aplicação das normas jurídicas, p. 381.
186 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014
Princípio processual da objetividade argumentativa
fosse sua intenção — acabou por defender uma técnica argumentativa solipsista, o
que agride o próprio conjunto de sua respeitável obra.
Por isto é que é possível consentir com a ideia de que a Ciência Jurídica possui o
caráter predominantemente prático e que, para ela, é inútil se perder em argumentos
puramente filosóficos e que não possuem repercussão prática mediata ou imediata.
Entretanto, não é possível concordar que a tópica jurídica seja compatível com a
Hermenêutica Jurídica do Estado Democrático de Direito, isso porque, os topoi
fazem com que o intérprete caia na vida nua,18 num espaço não procedimental e,
portanto, antidemocrático.
É claro que a Filosofia em geral e, especificamente, a Filosofia do Direito são
úteis ou, pode-se dizer, até essenciais para a Hermenêutica Jurídica. Aliás, seria
paradoxal, neste ponto do trabalho, dizer que a Filosofia do Direito é dispensável.
Sendo assim, quando se afirmou anteriormente que uma sentença não pode
conter argumentos puramente filosóficos quer-se dizer, simplesmente, argumentos
filosóficos totalmente desvinculados do texto normativo. Neste tom, parece-nos que
a Filosofia do Direito pode ser auxiliar — e quase sempre o é — da atividade de
interpretação jurídica e, sendo assim, da atividade judicial. Contudo, há que se deixar
claro que o provimento (decisão) é um ato jurídico e que ninguém pode ser obrigado
a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (princípio da reserva
legal). Por isso, ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer algo por outro
fundamento que não seja extraído da própria normatividade jurídica, daí a razão de
se recusar, no discurso processual democrático, o uso de argumentos puramente
filosóficos, ou melhor, não se pode utilizar em tais discursos, sob pena de violação
do devido processo, um argumento filosófico totalmente afastado da lei ou que não
se preste a interpretá-la.
Ainda no que concerne aos argumentos puramente filosóficos, para que se
entenda melhor a questão, parece ser fácil projetar a imagem de advogados que,
ao invés de utilizarem argumentos jurídicos, valem-se de, por exemplo, lições
estritamente filosóficas e que não guardam, na prática, qualquer relação com o
Direito. Um diálogo entre, por exemplo, um advogado hegeliano, de um lado, e um
kantiano, de outro, ou um autor platônico frente a um réu protagórico etc., cairá no
espaço nu, no espaço sem demarcação normativa, impedindo, por consequência, o
compartilhamento procedimental. A tendência é que esse diálogo se transforme em
monólogos intercalados,19 pois será impossível se estabelecer um contraditório pleno
nestes casos.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014 187
Dhenis Cruz Madeira
20
Cf. POPPER, Karl Raymund. O status da ciência e da metafísica. In: POPPER, Karl Raymund. Conjecturas e
refutações, p. 219-226.
21
Cf. DELFINO, Lúcio. O processo democrático e a ilegitimidade de algumas decisões judiciais. In: ROSSI,
Fernando; RAMOS, Glauco Gumerato; GUEDES, Jefferson Carús; DELFINO, Lúcio; MOURÃO, Luiz Eduardo
Ribeiro. O futuro do processo civil no Brasil: uma análise crítica ao Projeto do Novo CPC. Belo Horizonte: Fórum,
2011, p. 367-405; NUNES, Dierle José Coelho. O princípio do contraditório: uma garantia de influência e de
não surpresa. In: TAVARES, Fernando Horta (Coord.). Constituição, direito e processo. Curitiba: Juruá, 2007.
p. 145-165.
22
Na mesma linha: MADEIRA, Dhenis Cruz. Medida cautelar ex officio e legitimidade decisória. In: TAVARES,
Fernando Horta (Coord.). Urgências de tutela. Curitiba: Juruá, 2007. p. 74; NUNES, Dierle José Coelho.
Processo jurisdicional democrático, p. 244-247.
23
Que é traduzido com o significado semelhante a “o juiz sabe o direito”.
24
Traduzido, no campo jurídico, na parêmia em que o juiz diria à parte: “dê-me os fatos que lhe dou o direito”.
25
Neste sentido, dentre outros, encontra-se: NUNES, Dierle José Coelho. O princípio do contraditório. Boletim
técnico da Escola Superior de Advocacia da OAB/MG. Belo Horizonte, v. 1, jan./jun. 2004, p. 51.
26
Acerca da possibilidade restrita do contraditório posticipado: MADEIRA, Dhenis Cruz. Medida cautelar ex officio
e legitimidade decisória. In: TAVARES, Fernando Horta (Coord.). Urgências de tutela. Curitiba: Juruá, 2007;
VIEIRA, José Marcos Rodrigues. A nova ordinariedade: execução para a cognição. Revista da Faculdade Mineira
de Direito. Belo Horizonte: PUC Minas, v. 3, n. 5 e 6, 1º e 2º sem. 2000.
188 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014
Princípio processual da objetividade argumentativa
Percebe-se que Aroldo Plínio Gonçalves, ainda que de forma sucinta, defendeu a
objetividade argumentativa, objetividade esta que se pautava no próprio ordenamento
jurídico, e não fora dele. Aliás, o processualista mineiro recusa, de forma bem clara, a
possibilidade de se buscar escopos para o processo que não estejam no ordenamento
jurídico, rejeitando, pois, a metajuridicidade:
27
Algo que, no Brasil, infelizmente, tem sido cada vez mais frequente, conforme divulgado no meio jurídico. Ficou
famosa uma sentença de um juiz do Estado de Minas Gerais que, justificando a absolvição de um homem
que agrediu fisicamente à sua mulher, valeu-se de várias passagens bíblicas, interpretando e aplicando o livro
religioso ao seu modo.
28
Em sentido contrário, defendendo os escopos metajurídicos do processo, dentre outros, destaca-se:
DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo, p. 181-188.
29
GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e teoria do processo, p. 195-196.
30
GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica processual e teoria do processo, p. 185-186.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014 189
Dhenis Cruz Madeira
O que é certo é que, ainda que as partes tenham compreensões distintas sobre
a interpretação de determinado texto legal, ambas devem partir do texto normativo,
dialogar sobre a, segundo entendem, melhor interpretação da lei, aumentando sua
carga de objetividade, porquanto, se o referido diálogo se apoiar em discussões
puramente filosóficas ou morais, cairá, fatalmente, na subjetividade, tornando inviável
a construção compartilhada do provimento (decisão). Como dito, o procedimento é
técnico, tem por finalidade construir uma decisão, sendo que um diálogo puramente
filosófico, que saia da normatividade jurídica ou que não volte seu foco para a
interpretação da lei, perderá sua finalidade prática e poderá se transformar em
verborragia inútil ao discurso processual, ou melhor, numa discussão que não refletirá
no provimento final.
31
Cf. LEAL, Rosemiro Pereira. Processo como teoria da lei democrática, p. 271-283; MADEIRA, Dhenis Cruz.
Processo de conhecimento & cognição, p. 21-45.
32
Tradução livre: “Nella nuova prospettiva post-costituzionale, quindi, il problema del processo non riguarda
soltanto il suo essere (idest: la sua concreta organizzazione secondo le leggi ordinarie vigenti), ma anche
il suo dover essere (idest: la conformità del suo assetto positivo alla normativa costituzionale sull’esercizio
dell’attività giurisdizionale)” (ANDOLINA, Ítalo; VIGNERA, Giuseppe. Il modelo costituzionale del processo civile –
corso di lezioni. Torino: Giappichelli, 1990, p. 11).
190 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014
Princípio processual da objetividade argumentativa
33
HABERMAS, Jürgen. Fundamentalismo e terror – Um diálogo com Jürgen Habermas, p. 54-55.
34
Também desconfiando da hipervalorização do debate moral na cultura corrente e ligando-a à crise de
fundamentação racional, tem-se: CARVALHO, Helber Buenos Aires de. Alasdair MacIntyre e o retorno às
tradições morais de pesquisa racional, p. 31-64. In: OLIVEIRA, Manfredo A. de (Org.). Correntes fundamentais
da ética contemporânea. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 32.
35
Os exemplos da (in)justiça da guerra e da (im)possibilidade do aborto foram apresentados por Alasdair
MacIntyre (Depois da virtude, p. 21-23) para representar o desacordo moral contemporâneo.
36
Neste sentido: MACINTYRE, Alasdair. Depois da virtude, p. 15.
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Dhenis Cruz Madeira
37
WATANABE, Kazuo. Da cognição no processo civil. 2. ed. Campinas: Bookseller, 2000. p. 64-65.
38
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros,
2004. v. 3, p. 30.
39
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil, p. 33.
40
Cf. POPPER, Karl. O mito do contexto – em defesa da ciência e da racionalidade, p. 109-117.
41
MACINTYRE, Alasdair. Depois da virtude, p. 21.
192 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014
Princípio processual da objetividade argumentativa
42
Cf. COUTURE, Eduardo J. Trayectoria y destino del derecho procesal civil hispanoamericano, p. 72-73.
43
Também chamada de hipercomplexa, sem centro, plural etc.
44
A ideia de que a maioria decide constitui um topos da argumentação pode ser encontrada, dentro outros textos,
em: FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Prefácio do tradutor. In: VIEHWEG, Theodor. Tópica e Jurisprudência. p. 4.
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Dhenis Cruz Madeira
45
BARROSO, Luís Roberto. Constituição, democracia e supremacia judicial: direito e política no Brasil
contemporâneo. JUS, Belo Horizonte, ano 42, n. 25, p. 127-163, jul./dez. 2011, p. 146.
46
Cf. DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 127.
47
Sobre os casos difíceis (hard cases) em Dworkin, dentre outros estudos, recomenda-se: BARROSO, Luís
Roberto. Constituição, democracia e supremacia judicial: direito e política no Brasil contemporâneo, p. 146;
DIAS, Jean Carlos. O controle judicial de políticas públicas. São Paulo: Método, 2007, p. 136-141; OMMATI,
José Emílio Medauar. Paradigmas constitucionais e a inconstitucionalidade das leis. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris, 2003, p. 40; PEDRON, Flávio Quinaud. Reflexões sobre o “acesso à justiça” qualitativo no
Estado Democrático de Direito. In: THEODORO JÚNIOR, Humberto; CALMON, Petrônio; NUNES, Dierle. (Coord.).
Processo e Constituição: os dilemas do processo constitucional e dos princípios processuais constitucionais.
Rio de Janeiro: GZ, 2010, p. 142.
48
Neste sentido: BARROSO, Luís Roberto. Constituição, democracia e supremacia judicial: direito e política no
Brasil contemporâneo, p. 147; DIAS, Jean Carlos. O controle judicial de políticas públicas, p. 136-137.
49
Seguindo aqui o exemplo do próprio Dworkin, quando afirma que “É evidente que o limite de velocidade na
Califórnia é de 90 quilômetros por hora, pois é óbvio que qualquer interpretação competente do código de
trânsito desse Estado leva a essa conclusão”. Vale lembrar, porém, que Dworkin não deixa de afirmar que os
casos fáceis, em sua teoria, são casos especiais de casos difíceis. Cf. DWORKIN, Ronald. O império do direito
(Law’s Empire). Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 317.
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Princípio processual da objetividade argumentativa
50
E aqui se recorda especificamente da passagem do texto de Luís Roberto Barroso (Cf. Constituição, democracia
e supremacia judicial: direito e política no Brasil contemporâneo, p. 147).
51
Lembrando aqui as palavras encontradas na obra de Lenio Streck: Verdade & consenso, p. 574.
52
Trata-se de uma reflexão, útil à compreensão do discurso processual democrático, contida no último parágrafo
da obra: STRECK, Lenio Luiz. Verdade & consenso, p. 574.
53
POPPER, Karl Raimund. Conhecimento objetivo, p. 122.
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Dhenis Cruz Madeira
É claro que Popper, nos trechos acima, não trata propriamente do Direito, mas
da argumentação científica. Entretanto, não se costuma dizer que existe uma Ciência
Jurídica, uma Ciência do Direito e uma Ciência Processual? Se é assim, mostra-se
importante, para que a prática jurídica não seja somente um fazer desordenado
e irrefletido de atos processuais, porquanto a Ciência Jurídica deve se prestar a
repensar e reformular a técnica jurídica.56
As reflexões de Popper podem ser aplicadas à Ciência Processual, especialmente
no que concerne à Teoria da Argumentação Processual.
A função descritiva e argumentativa descrita acima não está presente somente
no discurso científico em si, mas também ao discurso processual, porquanto
o que fazem as partes senão descrever fatos e argumentar juridicamente?
Como não reconhecer que a descrição e a argumentação também integram a
linguagem processual?
O discurso processual não deixa de ser um discurso em que são formulados
e apresentados problemas (v.g. lide, a alegação de inconstitucionalidade de
uma lei), há disputas entre teorias concorrentes (v.g. cada parte apresenta sua
teoria sobre a melhor interpretação do texto legal), uma crítica mútua pela via da
argumentação (v.g. cada parte apresenta o argumento que considera mais resistente
à crítica) etc. Daí porque, mais uma vez, a proposta de Popper para a utilização
de conhecimentos em sentido objetivo parece se ajustar perfeitamente ao discurso
processual. Transcreve-se:
54
Conhecimento objetivo, p. 122.
55
POPPER, Karl Raimund. Conhecimento objetivo, p. 122.
56
Cf. LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria geral do processo, p. 41-47.
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Princípio processual da objetividade argumentativa
Frise-se que as locuções Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo não se ligam à divisão geopolítica dos países.
58
Sobre o conceito aqui apresentado, conferir: POPPER, Karl Raimund. Conhecimento objetivo, p. 152.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014 197
Dhenis Cruz Madeira
59
Neste sentido: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição, p. 100;
TAVARES, Fernando Horta; CUNHA, Maurício Ferreira. O direito fundamental à prova e a legitimidade dos
provimentos sob a perspectiva do direito democrático. Revista de Processo, ano 36, v. 195, maio 2011. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 118.
60
Cf. CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil. v. 4. Tradução de Hiltomar Martins Oliveira.
1. ed. São Paulo: Classik Book, 2000, p. 477.
198 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014
Princípio processual da objetividade argumentativa
5 Considerações finais
Em síntese, viu-se que o discurso processual democrático exige um afastamento
de toda forma de argumentar solipsista, afinal, o provimento jurisdicional deve ser
construído de forma comparticipada — com as partes —, e não mais, apenas,
pelo julgador.
Tal exigência advém do paradigma constitucional do Estado Democrático de
Direito, que atribui ao povo toda a fonte do poder estatal — todo poder emana do
povo —, obrigando-nos a repensar o próprio Direito Processual, não mais construído
sobre o mito da autoridade63 do Estado Social.
Porém, abandonar a subjetividade de origem cartesiana não é tarefa fácil e nem
algo que se faz da noite para o dia. Tal abandono exige, ao revés, esforço científico,
na medida em que anseia uma reflexão sobre o papel do Estado, do agente público,
do cidadão, da lei e do próprio Direito na Democracia, afinal, no Estado Democrático
de Direito, preocupamo-nos com o respeito às minorias, isto, para que não se instaure
uma ditadura da maioria.
Esse é o motivo pelo qual se valorizou neste trabalho a ideia de conhecimento
objetivo de Karl Popper, pois, por meio dela, é possível pensar numa forma de discurso
processual — e uma forma de argumentar em geral — compatível com a Democracia.
Nesta linha, o princípio processual da objetividade argumentativa possibilita
que os argumentos das partes e os fundamentos das decisões judiciais sejam,
efetivamente, ofertados ao crivo do contraditório, afastando os argumentos de
índole meramente subjetiva, tais como são, verbi gratia, os argumentos de cunho
estritamente moral, os meramente filosóficos, ou mesmo, as preferências pessoais
do magistrado, advogados e promotores de justiça.
O princípio processual da objetividade argumentativa – ou outro nome que se
queira atribuir a ele ou às ideias aqui defendidas —, permite a ampliação e a efetivação
do princípio do contraditório, este último, não visto apenas como mera bilateralidade
de audiência, mas, muito mais do que isso, como um princípio medular do próprio
61
Causa de indeferimento da petição inicial.
62
Motivo para interposição dos embargos de declaração.
63
Sobre o mito da autoridade no Estado Social, no sentido aqui empregado, conferir: MADEIRA, Dhenis Cruz.
Processo de conhecimento & cognição, p. 95.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 181-202, jul./set. 2014 199
Dhenis Cruz Madeira
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NOTAS E COMENTÁRIOS
Novo CPC, o “caballo de Tróya” iura
novit curia e o papel do juiz
Dierle Nunes
Advogado. Doutor em Direito Processual. Professor Adjunto na UFMG e PUC Minas. Sócio do
escritório Camara, Rodrigues, Oliveira & Nunes Advocacia (CRON Advocacia).
Lúcio Delfino
Advogado. Doutor em Direito (PUC-SP). Pós-Doutorando em Direito (Unisinos).
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. 13. ed. Rio de Janeiro: J. Zahar Editor, 2014. p. 291.
1
Sobre o fenômeno e seu impacto para o fomento da técnica recursal: NUNES, Dierle. Direito constitucional ao
2
recurso. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2006. p. XXVI. Cf. NUNES, Dierle. Processo jurisdicional democrático:
uma análise crítica das reformas processuais. Curitiba: Juruá, 2008.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 205-210, jul./set. 2014 205
Dierle Nunes, Lúcio Delfino
E os riscos de tal postura geram problemas práticos que vêm induzindo o reforço
do contraditório em outros países. Estudos empíricos (psicológicos e jurídicos),
realizados com magistrados americanos, demonstram que o juiz sofre propensões
cognitivas que o induzem a usar atalhos para ajudá-lo a lidar com a pressão da
incerteza e tempo inerente ao processo judicial. É evidenciado que mesmo sendo
experiente e bem treinado, sua vulnerabilidade a uma ilusão cognitiva no julgamento
solitário influencia sua atuação.3
Um exemplo singelo encontrado nas pesquisas, que aclara esta situação, é a
propensão do magistrado que indefere uma liminar a julgar, ao final, improcedente o
pedido. Por um efeito de bloqueio ficou demonstrado que o juiz fica menos propenso
à mudança de sua decisão, mesmo à luz de novas informações ou depois de mais
tempo para a reflexão. Tal bloqueio cognitivo ocorre por causa da tendência a querer
justificar a alocação inicial de recursos, confirmando que a decisão inicial estava
correta.4 Isto induz o fomento ao debate como ferramenta de quebra das ilusões e
propensões cognitivas.
Constata-se, assim, que solipsismo judicial, ao ser prática corrente, apesar de
absolutamente antidemocrática, e aceita de forma irrefletida em muitas das etapas
processuais, traz enormes riscos para a atividade do julgador.5
Ademais, não é nada difícil elencar exemplos corriqueiros de decisões surpresa
(= solipsistas): (i) aplicação ex officio de enunciados de súmula e ementas, como
motivação decisória, descontextualizados de seus fundamentos determinantes,
tornando necessária a interposição de recursos em decorrência do equívoco; (ii) a
condenação à multa por litigância de má fé (ou alguém já presenciou juiz instaurar
incidente para possibilitar aos litigantes debaterem sobre a questão)?; (iii) a condenação
em honorários sucumbenciais, ausente debate sobre os critérios previstos em lei
para o seu arbitramento; (iv) a aplicação abrupta da disregard doctrine, sobretudo na
Justiça do Trabalho, em que a ausência patrimonial da pessoa jurídica devedora é
condição única e suficiente para que o Estado-Juiz sinta-se autorizado a redirecionar
seus canhões ao patrimônio pessoal dos sócios; (v) aplicação ex officio da prescrição
equivocamente em face de ocorrência de causa suspensiva ou interruptiva, obrigando
a interposição de recurso, que seria desnecessário; entre outros. Na maioria
desses casos constata-se, ao menos em primeiro grau de jurisdição, um desdém ao
contraditório, como influência e não surpresa.
3
GUTHRIE, Chris, RACHLINSKI, Jeffrey J., WISTRICH, Andrew J.. Inside the judicial mind. Cornell Law Review,
777, May, 2001, p. 778-829.
4
Lynch, Kevin J. The lock-in effect of preliminary injunctions. Florida Law Review, v. 66. Ap. 2013. p. 779 -821.
5
Não se pode deixar de frisar que muito do que se obteve em ganhos democráticos no Brasil deve-se à doutrina
desenvolvida por Lenio Streck, em sua verdadeira cruzada contra o solipsismo judicial e seus males.
206 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 205-210, jul./set. 2014
Novo CPC, o “caballo de Tróya” iura novit curia e o papel do juiz
6
SÁNCHEZ, Guillermo Ormazabal. Iura novit curia. La vinculación del juez a la calificación jurídica de la demanda.
Barcelona: M. Pons, 2007. p. 22-23.
7
STJ. AgRg no REsp nº 281.594/SC. No mesmo sentido: STJ, REsp nº 819.568/SP.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 205-210, jul./set. 2014 207
Dierle Nunes, Lúcio Delfino
8
ABBOUD, Georges; CARNIO, Henrique G.; OLIVEIRA, Rafael T. de. Introdução à teoria e à filosofia do direito. 2.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 232.
9
NUNES, Dierle. Processo jurisdicional democrático: uma análise crítica das reformas processuais. cit.
208 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 205-210, jul./set. 2014
Novo CPC, o “caballo de Tróya” iura novit curia e o papel do juiz
sobre fatos e direitos — afinal, a palavra fundamento é expressão genérica e por isso
abrange fundamentos fáticos e jurídicos.
Isso significa que juízes e tribunais não estão autorizados a julgar com base
em fundamento jurídico (e também fático) sobre o qual as partes não tenham
controvertido, incluídas até as questões de ordem pública. Assim já deveria ser,
aliás.10 Bastaria submeter o adágio à uma filtragem constitucional para se constatar
o quanto é obsoleto! Mas como filtragens constitucionais e coisas do gênero dão
muito trabalho, a solução teve que vir legislativamente. E veio em boa hora, bem
formulada e desejosa de oxigenar com ares democráticos a atividade jurisdicional:
sobreleva o devido processo legal, valoriza as partes (e seus advogados) e também
lhes inflige a devida responsabilidade, proscreve a ideia de liberdade decisória,
traz segurança ao estabelecer esteios mais precisos à atuação dos juízes, além de
assolar o autoritarismo característico das tão malvistas decisões-surpresa.
E o que é assaz interessante: uma leitura atenta do dispositivo pode conduzir-nos,
indiretamente, à revisão das teorias que almejam elucidar a causa de pedir. Insistimos
em teses antigas elaboradas para distinguir fato e direito, como se fatos puros sem o
devido enquadramento jurídico tivessem alguma serventia para quem pensa a ciência
jurídica. É hora de darmos crédito a Castanheira Neves, cujos ensinamentos mostram
que fato puro e puro direito nunca se encontram na vida jurídica: enquanto o fato não
tem existência senão a partir do momento em que se torna matéria de aplicação do
Direito, o Direito não tem interesse senão no momento em que se trata de aplicar o
fato. Quando o jurista pensa o fato o faz sempre como matéria do Direito e quando
reflete sobre este está a pensar como forma destinada ao fato.11
O iura novit curia, entretanto não deve ser esquecido no sótão onde jazem as
coisas amarelecidas e cujo tempo tratou de tornar supérfluas. Há que encará-lo com
lentes ajustadas à normatividade constitucional e afastar de seu âmago a arrogância
estatal monopolizadora do saber jurídico. Não é crível conservá-lo em seus contornos
atuais, como um “caballho de Tróya”12 serviente a toda sorte de excessos potenciais
e voluntarismos por parte daqueles que exercem o poder jurisdicional. Nada justifica
mantê-lo enfim como álibi para que o juiz, ou qualquer um solitariamente, transite com
liberdade na interpretação e qualificação jurídica dos fatos que embasam a demanda.
De toda sorte, se interpretado sistematicamente — em atenção a tudo aquilo
que com ele esteja conectado: devido processo legal, regra da congruência, regras de
10
Já demonstramos, nas obras indicadas acima, a incoerência do modo como o aforismo é aplicado no atual
regime constitucional.
11
NEVES, Antonio Castanheira. Questão de fato, questão de direito. O problema metodológico da juridicidade
(ensaio de uma reposição crítica). Coimbra: Almedina, 1967. p. 586.
12
A expressão de Roberto Gargarella, tomada de empréstimo pelo processualista paraguaio Robert Marcial
González em palestra proferida no 11º Congresso Nacional de Direito Processual Garantista, realizado nos dias
21 e 22 de outubro de 2010, no Colégio de Advogados da cidade de Azul, Argentina.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 205-210, jul./set. 2014 209
Dierle Nunes, Lúcio Delfino
NUNES, Dierle; DELFINO, Lúcio. Novo CPC, o “caballo de Tróya” iura novit curia e
o papel do juiz. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte,
ano 22, n. 87, p. 205-210, jul./set. 2014.
CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes, vistos por nós, os advogados. São Paulo: Pilares, 2013. p. 22.
13
210 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 205-210, jul./set. 2014
O novo CPC contra o advogado diligente
Lúcio Delfino
Doutor em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Pós-Doutorando em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Membro do
Instituto Pan-Americano de Direito Processual. Membro do Instituto Ibero-Americano de Direito
Processual. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Membro do Instituto dos
Advogados Brasileiros. Membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Diretor da Revista
Brasileira de Direito Processual – RBDPro. Professor universitário (UNIUBE). Advogado.
Ao que tudo indica, logo mais teremos entre nós um novo CPC. E provavelmente
já este ano, pois a Câmara dos Deputados concluiu a votação que lhe cabia do CPC
projetado, com aprovação de sua redação final em 26.03.2014, texto que agora
retornou ao Senado Federal para formatação definitiva.
Na atual fase do processo legislativo, a tarefa dos senadores é menos
espinhosa. É que, como a proposição, teve início no Senado Federal, seu regresso a
essa Casa tem por finalidade unicamente a deliberação sobre as emendas sugeridas
pela Câmara dos Deputados, as quais poderão ser ou não acatadas.1
Há, nessas mudanças consideradas em sua generalidade, avanços de quilate,
dignos de elogios;2 não obstante, também abrolham delas problemas, alguns nem
um pouco desprezíveis, e que colocam os mais atentos em estado de alerta. Aqui
o objetivo concentra-se no ataque a um deles, na intenção única de colaborar para
o aperfeiçoamento da nova legislação que se avizinha, como, aliás, tem sido meu
propósito desde o início.
O substitutivo ao Projeto do novo CPC, apresentado pelo senador Valter Pereira,
trouxe como uma de suas inovações a inserção de uma técnica obrigando juízes
e tribunais a decidiriam segundo ordem formada de acordo com a conclusão dos
1
Como leciona Manoel G. Ferreira Filho, no processo legislativo as Câmaras não estão em pé de igualdade,
prevalecendo a vontade daquela que primeiro apreciou o projeto. A Câmara Revisora, por conseguinte,
encontra-se em posição de inferioridade perante à Câmara Iniciadora, havendo na feitura da lei não fusão de
vontades, e sim integração. Ou em outros termos: a Casa Revisora concorda com o projeto, ainda que lhe
ponha emendas, e a sua concordância geral é suficiente para tornar aprovado o projeto, mesmo que suas
emendas sejam eliminadas. Indo mais longe: em virtude de, por disposição constitucional (art. 64), os projetos
de iniciativa do Presidente terem sua discussão necessariamente iniciada na Câmara dos Deputados e serem
os mais importantes, comumente tende a lei a ser um ato em que a vontade principal da Câmara se soma
à secundária do Senado e, quase sempre, à secundária também do Presidente (FERREIRA FILHO, Manoel
Gonçalves. Do processo legislativo. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 224-225).
2
Cito três desses ganhos qualitativos advindos diretamente do trabalho realizado pela Câmara dos Deputados,
sobremodo relacionados às sugestões e críticas elaboradas por Lenio Streck: (i) a expulsão do “princípio do
livre convencimento”, verdadeira conquista hermenêutica sem precedentes no campo da teoria do direito
no Brasil; (ii) a exigência, de inegável caráter dworkiniano, no sentido de que os tribunais estão obrigados
a uniformizar sua jurisprudência, vale dizer, mantê-la estável, íntegra e coerente (art. 520); e iii) o dever
de o órgão jurisdicional observar o disposto nos arts. 10 e 499, parágrafo 1º, na formação e aplicação do
precedente judicial (art. 521, parágrafo 1º).
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 211-217, jul./set. 2014 211
Lúcio Delfino
processos, disponibilizada em lista pelos cartórios para consulta pública (art. 12).
A novidade, que gerou acalorada polêmica, obteve força suficiente e, por isso,
permaneceu no Projeto de Lei nº 166/2010.3
Na Câmara dos Deputados o debate envolvendo o art. 12 regressou a plenos
pulmões, a despeito de sua impopularidade entre muitos juristas: o dispositivo foi
reformulado, melhorado e igualmente aprovado.4 E como se a técnica processual
sugerida já não fosse ruim,5 a ela se somou, talvez na intenção de obter alguma
sistematização normativa, outro dispositivo ainda mais problemático, e cujas
consequências, salvo melhor juízo, prenunciam-se calamitosas.
A referência acima, que se situa na base da crítica ora elaborada, é ao
art. 1536 dessa versão aprovada pela Câmara, o qual infunde o dever de obediência
3
Na versão original deste ensaio, publicada na conceituada revista Consultor Jurídico, há um deslize que mereceu
a devida retificação. Ao contrário do que se lê lá, o art. 12 foi sim aprovado pelo Senado Federal, sofrendo
reformulação na Câmara dos Deputados. Isso significa que inexiste possibilidade agora, no retorno do projeto ao
Senado, de extirpá-lo por completo. Apenas as mudanças que lhe foram feitas é que poderão ser suprimidas.
4
O citado dispositivo ganhou a seguinte redação na Câmara dos Deputados: “Art. 12. Os órgãos jurisdicionais
deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. §1º A lista de
processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório
e na rede mundial de computadores. §2º Estão excluídos da regra do caput: I - as sentenças proferidas em
audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; II - o julgamento de processos em
bloco para aplicação da tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos; III - o julgamento de recursos
repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas; IV - as decisões proferidas com base no
art. 945; V - o julgamento de embargos de declaração;
VI - o julgamento de agravo interno;
VII - as preferências
legais. §3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das conclusões entre as
preferências legais. §4º O requerimento formulado pela parte após a inclusão do processo na lista de que trata
o §1o. não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a
conversão do julgamento em diligência. §5º Decidido o requerimento previsto no §4º, o processo retornará à
mesma posição em que anteriormente se encontrava na lista”.
5
Indico apenas dois problemas técnicos que serão seguramente enfrentados pela praxe forense na aplicação
do art. 12 do CPC projetado: (i) como compatibilizar o julgamento conforme o estado do processo com aquilo
que reza o art. 12, este último a exigir o julgamento de acordo com a ordem cronológica de conclusão para
proferir sentenças? O julgamento conforme o estado do processo, cumpridas as providências preliminares,
ou não havendo necessidade delas (art. 360), não poderá ser realizado de imediato? Ou seja, percebendo
o juiz que o processo comporta julgamento antecipado não estará ele, no entanto, autorizado a fazê-lo, pois
deve antes remeter os autos ao escrivão para que este o inclua na ordem legal de conclusão? Quer dizer que
uma das finalidades do julgamento conforme o estado do processo, precisamente a agilidade na prestação
jurisdicional, se esfumaça?; (ii) e como fazer em caso de julgamento antecipado parcial do mérito (art. 363),
admitido nas hipóteses em que um ou mais pedidos formulados, ou parcela delas, mostrar-se incontroverso
ou estiver em condições de imediato julgamento (art. 363)? Afinal, o art. 12 obriga os órgãos jurisdicionais
a obedecer a ordem cronológica de conclusão apenas para proferir sentenças ou acórdãos, e o julgamento
antecipado parcial de mérito implica decisão interlocutória — há quem pense de maneira diversa, é verdade! (e
só isso já é um problema) —, desafiada, por expressa disposição, mediante agravo de instrumento (art. 363,
parágrafo 4º). Percebendo o juiz que o caso comporta julgamento antecipado parcial não poderá fazê-lo de pronto,
cumprindo-lhe, por obediência à lei, devolver os autos à secretaria para que seja incluído na ordem legal?
6
“Art. 153. O escrivão ou chefe de secretaria deverá obedecer à ordem cronológica de recebimento para
publicação e efetivação dos pronunciamentos judiciais. §1º A lista de processos recebidos deverá ser
disponibilizada, de forma permanente, para consulta pública. §2º Estão excluídos da regra do caput: I - os
atos urgentes, assim reconhecidos pelo juiz no pronunciamento judicial a ser efetivado; II - as preferências
legais. §3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica de recebimento entre os
atos urgentes e as preferências legais. §4º A parte que se considerar preterida na ordem cronológica poderá
reclamar, nos próprios autos, ao juiz da causa, que requisitará informações ao servidor, a serem prestadas
no prazo de dois dias. §5.o Constatada a preterição, o juiz determinará o imediato cumprimento do ato e a
instauração do processo administrativo disciplinar contra o servidor”.
212 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 211-217, jul./set. 2014
O novo CPC contra o advogado diligente
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 211-217, jul./set. 2014 213
Lúcio Delfino
214 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 211-217, jul./set. 2014
O novo CPC contra o advogado diligente
cuja conquista se deve também ao advogado diligente, atento ao trâmite dos seus
processos e preocupado em cumprir, da forma mais expedita possível, seu mandato,
e atender aos interesses daquele que o contratou.
Mas não fiquemos nisso. Em voo de águia, sigo reforçando os argumentos
anteriores e pontuando alguns outros, que assinalam intempéries já possíveis de
antever caso a opção legislativa seja mesmo a de conservar o infeliz dispositivo:
1) A atividade de boa parte dos advogados, com a publicação e vigência do novo
CPC será limitada sobremaneira, em especial a daqueles que atuam e aferem
seus rendimentos na qualidade de correspondentes ou apoiadores de outros
advogados ou bancas de advocacia. Não se olvide, ademais, que alguns
profissionais da advocacia são contratados especialmente para diligenciar
em secretarias judiciais e agilizar julgamentos, sobretudo em segundo grau,
mercado de trabalho que tende a diminuir bastante caso mantida a atual
redação do art. 153.
2) Já se disse que o art. 153 teve talvez por motor a intenção de sistematização:
pretendeu-se promover um diálogo entre ele e o citado art. 12. Contudo,
falhou o legislador porque o rol de exceções, previsto no parágrafo 2º do
art. 153, ao que tudo indica taxativo, não prevê algumas hipóteses que ali
deveriam figurar. Dois exemplos servirão aqui: (i) não estão entre as exceções
as cartas precatórias, o que leva a crer que deverão elas ser inseridas
na lista geral e comum à totalidade dos casos. Imagine-se então cartas
precatórias, cujo propósito se volta à oitiva de uma única testemunha, ou
mesmo a citação de alguém. Ficarão elas a depender da ordem contida em
lista para cumprimento e, enquanto isso, os autos principais permanecerão
aprisionados no juízo deprecante; e (ii) reza o art. 626 que o processo de
inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de dois meses, a contar
da abertura da sucessão, ultimando-se nos doze meses subsequentes,
podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento da parte.
Nada há no rol do §2º do art. 153 sobre os processos de inventário. Não
são, de regra, urgentes e tampouco incluem-se nas preferências legais.
Significará isso que muito raramente um inventário será cumprido dentro de
doze meses, porquanto, por imposição legal, as publicações e efetivações
das decisões proferidas nos autos obrigatoriamente dependem da ordem
contida na lista. Quis-se, portanto, sistematizar, mas o que se conseguiu foi
criar embaraços ao ordenamento processual projetado.
3) O dispositivo em exame reza que a ordem cronológica dos pronunciamentos
judiciais, recebidos na secretaria, será registrada em duas listas: a primeira
destinada à generalidade dos casos, enquanto a outra reservada às exceções
(atos urgentes e preferências legais). Ocorre que essa é uma racionalidade
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 211-217, jul./set. 2014 215
Lúcio Delfino
216 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 211-217, jul./set. 2014
O novo CPC contra o advogado diligente
DELFINO, Lúcio. O novo CPC contra o advogado diligente. Revista Brasileira de Direito
Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 211-217, jul./set. 2014.
Como afirmado em nota de rodapé anterior, não é mais possível eliminar o art. 12 do projeto do novo CPC. O
7
que se pode fazer é afastar as mudanças que lhe foram impingidas pela Câmara dos Deputados, o que seria
uma infelicidade ainda maior, uma vez que a versão da Casa Revisora é superior em qualidade àquela da
Casa Iniciadora.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 211-217, jul./set. 2014 217
Pronunciamento do Advogado Dr. José
Anchieta da Silva, homenageado no
Congresso de Direito Processual de
Uberaba – 8. ed. no dia 11 de setembro
de 2014
Cumprimentos,
A comunidade científica do Direito do Triângulo Mineiro se reúne pelo oitavo
ano, na realização do seu Congresso de Direito do Processo, empresa vitoriosa,
cujo sucesso já ecoa pelo Brasil e pelo mundo. É uma celebração que faz justiça
a tantos quanto dele se ocuparam, com destaque para os pró-homens do Instituto
dos Advogados de Minas Gerais (cujo centenário se celebra em 07 de março de
2015); da Ordem dos Advogados de Minas Gerais, subsecção de Uberaba; das
Faculdades de Direito da região. É maneira votiva de manter inesquecível Escola
de Processualistas do Triângulo Mineiro, movimento de pensadores do Direito do
Processo, cuja caminhada se iniciou nos idos dos anos setenta da centúria passada,
quando veio a lume o Código de Processo Civil de Alfredo Buzaid (1973).
Com esta celebração, tornou-se hábito prestar homenagem a figuras que
tenham, de alguma forma, participado ou contribuído na caminhada do Direito (o
Direito caminha), da advocacia, do magistério jurídico, das atividades forenses. A
lembrança de meu nome para receber a homenagem, tenho certeza, se deve apenas
à generosidade de amigos. Tenho, todavia, o orgulho de ter ocupado a presidência do
Instituto dos Advogados de Minas Gerais (IAMG), no momento em que concebida e
gerada foi a primeira edição desse Congresso. Nesse período, aqui compareci como
palestrante, me ocupando de temas que me são caros, dentre os quais recordo: “A
carreira do advogado”; “O projeto do novo Código de Processo Civil – andanças do
Colégio de Presidentes dos Institutos dos Advogados do Brasil”; “O Processo na Ação
de Recuperação Judicial da Empresa”; “A desconsideração da personalidade jurídica
e o processo”; “O princípio da oralidade no projeto de Código de Processo Civil”. Em
edição anterior desse Congresso tive a honra de receber a “Comenda Edson Prata”
que, neste ano está sendo outorgada, nesta assentada, e com justiça, ao professor
Leone Trida Sene, associado de nosso IAMG, advogado, professor universitário e
autor do livro Seguro de pessoas; ao magistrado Fabiano Rubinger de Queiroz, juiz
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 219-224, jul./set. 2014 219
José Anchieta da Silva
220 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 219-224, jul./set. 2014
Pronunciamento do Advogado Dr. José Anchieta da Silva, homenageado no Congresso de Direito Processual de...
Desquite amigável. Observem a linha adotada por Edson Prata na ordem de seus
escritos, reveladora do grande lente que foi — o dizem todos os seus ex-alunos —.
Trabalhou ordenadamente os temas de processo, começando pela petição inicial,
passou pela contestação, pelo processo de conhecimento, pelos embargos e chegou
à história do processo. São textos que correspondem às aulas reescritas a partir da
palavra do mestre. Escreveu, também, obras de cunho literário, como Machado de
Assis – O homem e a obra; Contos miúdos, Estórias de gente mineira. Fundou em
Uberaba a “Editora Vitória Limitada”, dentre cujos títulos estão obras de Humberto
Theodoro Junior, Ronaldo Cunha Campos, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Jacy de Assis,
Ernane Fidelis. Dessa empreitada, se pode dizer que Edson Prata cuidou do púlpito e
do parlatório oficial do que viria a ser consagrada como a Escola de Processualistas
do Triângulo Mineiro.
Edson Prata teve tempo para tudo. No campo da empresa, participou como sócio,
da Sociedade de Máquinas e Implementos Agrícolas Limitada (Somil); da Mogiana
Veículos Limitada; da Sociedade Distribuidora de Títulos e Valores Limitada(Sotil); da
Agropecuária Santa Vitória Limitada; da Rádio Sete Colinas de Uberaba e da Talulah
Modas e Presentes Limitada. Tinha fôlego.
De Lídia Prata passamos a Gilberto Vasconcelos (com seu discurso de 2012)
que chama a atenção para as qualidades peculiares de Edson Prata, dele destacando
o seu “pluralismo”; a sua condição de democrata sem afetações. São conclusões
autorizadas que merecem ser compreendidas dentro de seu contexto. O Brasil vivia
os mais turvos dias da ditadura militar e o testemunho de Gilberto, sobrevivente das
maiores violências que o regime imprimiu aos homens de pensamento livre, tem,
portanto, a autoridade de quem sofreu na carne os horrores dos presos políticos
de então. Prossegue Gilberto a afirmar que Edson Prata foi o condutor da “Escola
Processual do Triângulo Mineiro”, tendo sido o editor da Revista Brasileira de Direito
Processual, e, depois, da Revista Crítica Judiciária, o Digesto de Processo. De espírito
irrequieto, Prata criou o Jornal da Manhã, nele mantendo espaço para promover
debates sobre temas jurídicos, coisa rara até mesmo nos grandes jornais dos
grandes centros brasileiros. Para o seu jornal, trouxe ninguém menos do que Mauro
Santayana, jornalista já então de renome internacional, autodidata e um dos pais do
bom jornalismo político brasileiro. Edson Prata foi um homem adiante de seu tempo.
De Lídia Prata e de Gilberto Vasconcelos vamos a Claudiovir Delfino (em seu
discurso de 2011), que traz outra informação ratificadora da anterior. Edson Prata
trouxe para junto de si, em seu escritório profissional, seu ex-colega de trabalho no
Banco do Brasil, José Raimundo Alves Pinto, de onde fora injustamente demitido, em
razão de sua militância política. Apesar dos riscos que essa empreitada compreendia,
o Professor Edson Prata não se fez de rogado, trouxe o José Raimundo proscrito
e fez mais, desfilou com o amigo pelo centro e pelos endereços mais oficiais de
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 219-224, jul./set. 2014 221
José Anchieta da Silva
Uberaba. Estava, assim, a dizer e a ensinar, que não há exercício da democracia sem
destemor. Edson Prata, um homem livre, proporcionava liberdade. Os depoimentos
de Gilberto e de Claudiovir são testemunhos da História e para a História.
André Menezes Delfino (em seu discurso de 2009), também biografa o grande
alagoano-uberabense. Anota que ele foi o fundador da Sociedade Rural do Triângulo
Mineiro, precursora da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. Escritor e
contista, foi cofundador da Academia de Letras do Triangulo Mineiro. É dele, segundo
André Delfino, a feliz expressão segundo a qual “dividir conhecimentos é uma das
maneiras de se tornar imortal”.
João D’Amico (discurso de 2008), sempre lembrado dirigente do Instituto
dos Advogados de Minas Gerais, denuncia de Edson Prata o seu forte caráter, a
sua marcante personalidade e registra ter sido Prata o criador da primeira secção
do IAMG.
Para Valentin Carrion (em discurso de 1978, transcrito em O Diário de Ribeirão
Preto), Edson Prata era um homem que não sabia exatamente a que veio e enquanto
não descobria seu destino fez de tudo um pouco, e muito bem.
De tudo quanto nos legou Edson Prata, sobressai a sua condição de intrépido
realizador, de homem irrequieto como devem ser os que se dedicam ao estudo e à
profissão do Direito. É em homenagem a ele que trago à reflexão dois temas que nos
assaltam nesta hora presente e em relação aos quais a comunidade dos juristas,
principalmente dos advogados, não pode fazer silêncio.
Nos últimos dias percebemos nos fóruns de São Paulo e de Belo Horizonte,
comportamento equivocado de magistrados, ao adotarem o instituto do “segredo de
justiça” para casos comuns, como os de penhora em execução de título executivo
extrajudicial, em processo de busca e apreensão, e em incidente de extensão
de falência. São precedentes perigosos e, ao que parece, fazem parte de um
comportamento orquestrado. O instituto do segredo de justiça é instituto submetido
à regração legal. Tem por destinatários os terceiros em relação à lide, mas não tem
cabida em relação às partes. A surpresa não é, e não pode ser, nem princípio e
nem regra de processo, pelo contrário. Querem inaugurar, no Brasil, e certamente
enriquecerá o anedotário forense, um novo tipo de justiça justiceira, como no velho
oeste, iniciando-se o processo a partir da ação do xerife que surpreende o incauto
cidadão ao decretar-lhe, sem qualquer chance de reação, aquele: Teje preso!
O saudável e nobre instituto do “segredo de justiça” serve aos interesses do
Estado, em favor de legítimo interesse público. Tem cabida em situações que a lei
descreve, como, por exemplo, nas ações próprias das varas de família, em face da
proteção desse bem maior, já que as querelas familiares interessam estreitamente
aos demandantes e a mais ninguém. Imprimir ou adotar o “segredo de justiça” em
ações de viés patrimonialista corresponde a conspurcar texto expresso da Constituição
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Pronunciamento do Advogado Dr. José Anchieta da Silva, homenageado no Congresso de Direito Processual de...
da República, além de regras e princípios próprios do processo civil, aos quais não
se pode renunciar.
Para a segunda reflexão, ponho à mesa o Projeto de Lei nº 5.479/2013, que
tramita no Congresso acional, através do qual se pretende conceder o diploma e a
profissão de “paralegal” aos bacharéis em direito que não tenham logrado êxito no
exame de Ordem. Com esse Frankenstein, se transformado em lei, o próximo passo
seria, acreditem, a criação de um sindicato com capacidade de abrigar mais de um
milhão de bacharéis reprovados pela OAB e, o passo final, não duvidem, será um ferir
de morte o exame de Ordem.
O Brasil não conhece, por tradição, a profissão dos “paralegais”. Poderá,
todavia, vir a conhecê-la. Mas esta não é a questão. Ocorre que bacharel em direito
não é um “paralegal”. Os cursos de direito não conferem a seus bacharéis essa
qualificação. Com a péssima formação que o ensino jurídico dedica aos estudantes
em geral — e ressalvemos, há ilhas de excelência de ensino jurídico no Brasil — já são
mais de um milhão de pessoas reprovadas no exame da OAB. Este número cresce,
geometricamente, a cada nova edição desse exame de habilitação, indispensável, no
Brasil, à admissão como advogado.
A solução simplista e equivocada de abrigar esses bacharéis como “paralegais”
leva a questão à situação do inusitado. Nas provas e nos concursos em geral,
de aferição de conhecimento, premia-se o saber dos vencedores. Com esses
“paralegais”, seria, o Brasil, o único lugar no mundo onde a pessoa, reprovada, é
promovida, ganhando uma profissão. Na maioria dos casos, esses pobres bacharéis
já foram enganados por uma vez, ao frequentarem cursos desprovidos de condições
mínimas de ensino. Não podem, com rótulo novo, ser enganados mais uma vez.
Na medida em que tal projeto se convole em lei — vade retro — os próximos
passos, já se antevê: esses mais de um milhão de diplomados nos cursos de direito
(exatamente os que demonstraram inaptidão para o exercício da advocacia) formariam
um “sindicato” ou algo do gênero. Em seguida, viria uma pressão sobre a OAB e
assim, de novo, se reabre a demanda sobre a manutenção do exame de Ordem. O
risco de se comprometer a advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil é maior do
que parece.
É falsa a argumentação de que esse contingente de bacharéis estaria nos
escritórios de advocacia. Ao contrário, a esses escritórios só interessa o profissional
capaz, habilitado na Ordem dos Advogados do Brasil. De outro modo, a qualidade de
seus serviços estaria posta em cheque, já que realizado por mãos inabilitadas.
É preciso trazer a texto que a função dos “paralegais” não pode se confundir
com a função do advogado. O radical “para”, de origem grega, corresponde a estar
ao lado, não no mesmo lugar. Para o exercício de suas funções, necessariamente
auxiliares, presume-se, a pessoa deve deter habilidades variadas, como a
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JOSÉ ANCHIETA DA SILVA
SILVA, José Anchieta da. Pronunciamento do Advogado Dr. José Anchieta da Silva,
homenageado no Congresso de Direito Processual de Uberaba – 8. ed. no dia 11
de setembro de 2014. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo
Horizonte, ano 22, n. 87, p. 219-224, jul./set. 2014.
224 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 219-224, jul./set. 2014
RESENHAS
ALVIM, Arruda et al. (Coord.). Execução
e temas afins – Do CPC/1973 ao novo
CPC – Estudos em homenagem ao Prof.
Araken de Assis. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 227-228, jul./set. 2014 227
Marcelo José Magalhães Bonicio
ALVIM, Arruda et al. (Coord.). Execução e temas afins – Do CPC/1973 ao novo CPC –
Estudos em homenagem ao Prof. Araken de Assis. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2014. Resenha de: BONICIO, Marcelo José Magalhães. vista Brasileira de Direito
Processual – RBDPro, Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 227-228, jul./set. 2014.
228 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 227-228, jul./set. 2014
KHALED JR., Salah H. A busca da
verdade no processo penal: para além
da ambição inquisitorial. São Paulo:
Atlas, 2013
Em pleno 2014, há gente que defende que a verdade real é buscada no Processo
Penal. Recém-lançada pela editora Atlas, a obra A busca da verdade no processo
penal: para além da ambição inquisitorial é fruto da tese de doutorado em Ciências
Criminais de Salah H. Khaled Jr, professor da Faculdade de Direito e do Mestrado em
Direito e Justiça Social da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Dividida em
quatro capítulos totalizando 624 páginas, não resta dúvida de que se trata de um
trabalho de peso, em muitos sentidos.
Trata-se de uma obra multidisciplinar, que trata da temática em questão de forma
rica, aprofundada e condizente com a trajetória acadêmica do autor, que também é
mestre em História pela UFRGS. Salah não só dialoga com a dogmática processual
penal contemporânea e clássica (passando por Goldschmidt. Bulow, Calamandrei,
Carnellutti, Aragoneses Alonso, Fazzalari e muitos outros) como conecta o tema
com Heidegger, Gadamer, Ricoeur, Morin, Prigogine, Bachelard, Nietzsche e outros
pensadores. As citações são abundantes, de modo que o livro acaba sendo também
um convite para conhecer autores e obras com que os juristas normalmente tomam
pouco contato. Nesse sentido, cuida-se de uma oportunidade inestimável, não só
para discussão do tema proposto, como para rompimento do monólogo jurídico e da
cegueira normativa que ele provoca.
Salah enfrenta a grande questão do Processo Penal: a busca da verdade.
Denuncia o que chama de ambição de verdade — expressão que posteriormente
foi adotada também por seu orientador, Aury Lopes Jr — que para ele designa uma
ideologia que conforma um Processo Penal do inimigo, manifestamente contrário ao
nosso cenário democrático-constitucional. Para ele, a escolha é clara: temos que
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Aury Lopes Jr., Alexandre Morais da Rosa
1
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 39.
230 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 229-232, jul./set. 2014
KHALED JR., Salah H. A busca da verdade no processo penal: para além da ambição inquisitorial. São Paulo...
2
KHALED JR, Salah H. A busca da verdade no processo penal: para além da ambição inquisitorial. São Paulo:
Atlas, 2013. p. 2.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 229-232, jul./set. 2014 231
Aury Lopes Jr., Alexandre Morais da Rosa
Não há como enfrentar aqui toda a riqueza de sentidos da obra. Sem dúvida é
um trabalho único no mercado editorial brasileiro. Com isso não se quer dizer que é
o melhor, ou que traga a resposta definitiva sobre a questão — Salah explicitamente
rejeita essa possibilidade no final do livro, afirmando que todo conhecimento é
biodegradável — mas de uma obra fundamentalmente diferente do que costumamos
encontrar. Um texto que provoca e exige do leitor mais do que ele está acostumado
a dar e que por excelência se insurge contra a barbárie nas práticas punitivas
contemporâneas. Um texto como eu gosto de ler. Sinta-se convidado a fazer o mesmo.
Forte abraço!
KHALED JR., Salah H. A busca da verdade no processo penal: para além da ambição
inquisitorial. São Paulo: Atlas, 2013. Resenha de: LOPES JR., Aury; ROSA, Alexandre
Morais da. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo Horizonte,
ano 22, n. 87, p. 229-232, jul./set. 2014.
232 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 229-232, jul./set. 2014
MAZZEI, Rodrigo (Org.). Código de
Processo Civil do Espírito Santo: texto
legal e breve notícia histórica.
Vila Velha: ESM (Eppur Si Muove), 2014
O livro Código de Processo Civil do Espírito Santo: texto legal e breve notícia
histórica é parte de um trabalho inédito realizado pela Escola Superior da Advocacia –
Ordem dos Advogados (Seccional Espírito Santo), em razão do resgate histórico
realizado do Direito Processual Civil até a edição do Código de Processo Civil Estadual
que completa seu centenário nesse ano. É importante mencionar que não é o único
código estadual que existiu, tendo sido adotado por outros Estados federativos,
quando então vigorava a Constituição Federal de 1891.
Em razão disso, a obra resenhada, além de apresentar os dispositivos do
Decreto nº 1.882, de 17 de Setembro de 1914, que promulgava o Código de Processo
Civil e Comercial do Estado, traz ainda uma introdução rica a respeito da evolução
do Direito Processual Civil no Brasil até o início do Século XX, de autoria do capixaba
organizador da obra, Prof. Rodrigo Mazzei, com o seguinte título: Código de Processo
Civil do Espírito Santo: breve notícia histórica (p. 05-18).
Sabe-se que vigia no nosso país, até a sua independência, as Ordenações
Filipinas, quando editou-se o Código Comercial de 1850 (em vigor ainda a legislação
marítima) e o Regulamento nº 737 que imiscuía regras de processo com o intuito de
dar aplicabilidade à lei material.
Não obstante, aplicava-se subsidiariamente a ordenação portuguesa até a
consolidação das principais normas processuais, denominada de “Consolidação
Ribas”, e posteriormente o Regulamento nº 763 de 1890, em razão da incompletude
do regulamento comercial diante de casos de materialidade civil.
Então veio a primeira constituição de origem republicana (com o fim definitivo da
monarquia), que se denominava Constituição Federal dos Estados Unidos do Brasil
de 1891, inspirada no texto constitucional da América do Norte, Suíça e Argentina,
que adotavam um modelo amplamente federalista.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 233-235, jul./set. 2014 233
Mônica Pimenta Júdice
1
OLIVEIRA JR. Waldemar Mariz de. Curso de direito processual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1968. p. 55.
2
VIGANO NETO, Sebastião. Evolução histórica dos procedimentos especiais: do regulamento nº 737/1845 ao
Projeto do Novo Código de Processo Civil.
3
Têm-se: o Capítulo I - das audiências; Capítulo II - dos “prasos”; Capítulo III - dos actos e termos; Capítulo IV
- das correições; Capítulo V - das penas disciplinares; Capítulo VI - disposições geraes.
234 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 233-235, jul./set. 2014
MAZZEI, Rodrigo (Org.). Código de Processo Civil do Espírito Santo: texto legal e breve notícia histórica...
MAZZEI, Rodrigo (Org.). Código de Processo Civil do Espírito Santo: texto legal
e breve notícia histórica. Vila Velha: ESM (Eppur Si Muove), 2014. Resenha de:
JÚDICE, Mônica Pimenta. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, Belo
Horizonte, ano 22, n. 87, p. 233-235, jul./set. 2014.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 233-235, jul./set. 2014 235
SANTOS RODRIGUES, Marco Antonio
dos. A modificação do pedido e da
causa de pedir no processo civil.
Rio de Janeiro: GZ, 2014
Lúcio Delfino
Doutor em Direito Processual Civil (PUC-SP). Pós-Doutorando em Direito (UNISINOS). Membro
do Instituto Pan-Americano de Direito Processual. Membro do Instituto Ibero-Americano
de Direito Processual. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Membro
do Instituto dos Advogados Brasileiros. Membro do Instituto dos Advogados de Minas
Gerais. Diretor da Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro. Professor universitário
(UNIUBE). Advogado.
Procurador do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Direito Público e Doutorando em Direito Processual pela
1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor Assistente de Direito Processual Civil da Faculdade de
Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professor de cursos de pós-graduação em Direito.
Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual e do Instituto Ibero-Americano de Direito Processual.
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 237-239, jul./set. 2014 237
Lúcio Delfino
238 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 237-239, jul./set. 2014
SANTOS RODRIGUES, Marco Antonio dos. A modificação do pedido e da causa de pedir no processo civil...
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 237-239, jul./set. 2014 239
Instruções para os autores
R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 241-242, jul./set. 2014 241
INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES
242 R. bras. Dir. Proc. – RBDPro | Belo Horizonte, ano 22, n. 87, p. 241-242, jul./set. 2014