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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 39.563 - PE


(2012/0243925-5)

RELATOR : MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES


AGRAVANTE : LUCIANA MARIA TAVARES DE MENEZES
ADVOGADOS : CHRISTIANA LEMOS TURZA FERREIRA E OUTRO(S)
LEUCIO DE LEMOS FILHO
AGRAVADO : ESTADO DE PERNAMBUCO
PROCURADOR : PAULO SÉRGIO CAVALCANTI ARAÚJO E OUTRO(S)
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. INÍCIO DE LICENÇA À GESTANTE. INTERRUPÇÃO DE
FÉRIAS. NÃO OCORRÊNCIA. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO ART. 80
DA LEI N° 8.112/90.
1. Hipótese em que servidora pretende excluir das férias que gozava, o período
coincidente com a licença-gestante.
2. Ausente norma específica na legislação própria da magistratura e no Estatuto dos
Servidores estaduais, aplicável à espécie a regra geral de interrupção das férias
prevista no artigo 80 da Lei n° 8.112/90.
3. A interrupção de férias ocorre somente por motivo de calamidade pública,
comoção interna, convocação para júri, serviço militar ou eleitoral, ou por
necessidade de serviço.
4. A palavra "somente" no comando estrito do artigo 80 da Lei n° 8.112/90 limita a
consideração de outras hipóteses de interrupção, e não possibilita eventuais
aplicações extensivas. Precedente.
5. Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos esses autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da SEGUNDA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade
dos votos e das notas taquigráficas, o seguinte resultado de julgamento:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do
voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
A Sra. Ministra Assusete Magalhães, os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman
Benjamin e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Og Fernandes.
Brasília (DF), 06 de agosto de 2015.

MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES , Relator

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AgRg no RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 39.563 - PE
(2012/0243925-5)

RELATOR : MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES


AGRAVANTE : LUCIANA MARIA TAVARES DE MENEZES
ADVOGADOS : CHRISTIANA LEMOS TURZA FERREIRA E OUTRO(S)
LEUCIO DE LEMOS FILHO
AGRAVADO : ESTADO DE PERNAMBUCO
PROCURADOR : PAULO SÉRGIO CAVALCANTI ARAÚJO E OUTRO(S)

RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES (Relator):

Trata-se de agravo regimental interposto por LUCIANA MARIA TAVARES DE


MENEZES contra decisão monocrática, de minha relatoria, que negou seguimento ao recurso
ordinário em mandado de segurança.

O aludido decisum é assim ementado (fl. 80):


PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. INÍCIO DE LICENÇA À GESTANTE. INTERRUPÇÃO DE
FÉRIAS. NÃO OCORRÊNCIA. ART. 80 DA LEI N° 8.112/90. RECURSO
ORDINÁRIO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.

No presente recurso, sustenta-se, em síntese, que causa de interrupção das férias, o


início da licença-gestante, foi fato superveniente e alheio ao controle da interessada, o qual
frustrou seu direito constitucional às férias – que busca, na essência, assegurar o descanso total.
Argumenta que a licença-gestante se insere e se inclui como causa ou hipótese de interrupção de
férias que se agrega ou se soma àquelas do art. 80 da Lei nº 8.112/90. Fls. 86/94.

Pugna, por fim, a reconsideração da decisão, em juízo de retratação, ou a remessa do


presente recurso ao órgão colegiado.

É o relatório.

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(2012/0243925-5)

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. INÍCIO DE LICENÇA À GESTANTE. INTERRUPÇÃO DE
FÉRIAS. NÃO OCORRÊNCIA. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO ART. 80 DA
LEI N° 8.112/90.
1. Hipótese em que servidora pretende excluir das férias que gozava, o período
coincidente com a licença-gestante.
2. Ausente norma específica na legislação própria da magistratura e no Estatuto
dos Servidores estaduais, aplicável à espécie a regra geral de interrupção das férias
prevista no artigo 80 da Lei n° 8.112/90.
3. A interrupção de férias ocorre somente por motivo de calamidade pública,
comoção interna, convocação para júri, serviço militar ou eleitoral, ou por
necessidade de serviço.
4. A palavra "somente" no comando estrito do artigo 80 da Lei n° 8.112/90 limita a
consideração de outras hipóteses de interrupção, e não possibilita eventuais
aplicações extensivas. Precedente.
5. Agravo regimental não provido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES (Relator):

O presente agravo regimental não merece lograr êxito.

Com efeito, dessume-se das razões recursais que a parte agravante não trouxe
elementos suficientes para infirmar a decisão agravada, que, de fato, deu a solução que melhor
espelha a orientação jurisprudencial do STJ sobre a matéria.

Ao contrário do que faz parecer a servidora agravante, houve o gozo do período de


férias assegurado pela Constituição Federal, ainda que ao mesmo tempo em que ela fazia jus à
licença-gestante, visto que a referida licença não é causa interruptiva das férias (ex vi do art. 80
da Lei nº 8.112/90, aplicado de forma subsidiária).

Portanto, nenhuma censura merece o decisório ora recorrido, que deve ser mantido
pelos seus próprios e jurídicos fundamentos, in verbis:
Trata-se de recurso ordinário interposto em face de acórdão proferido pelo
Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, assim sintetizado (e-STJ fl. 72):

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DIREITO ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.
INTERRUPÇÃO DE FÉRIAS DE MAGISTRADA PELA
SUPERVENIÊNCIA DE LICENÇA-MATERNIDADE. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO LEGAL. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DO ART. 67,
§ 1º, DA LOMAN (LEI COMPLEMENTAR 35/79) C/C ART. 2º, II, DA
RESOLUÇÃO 214/2007 TJPE. PREVALÊNCIA DO INTERESSE
PÚBLICO. SEGURANÇA DENEGADA.
- Ausência de direito líquido e certo a amparar pretensão de interromper
férias em curso, pela superveniência de licença-maternidade, para gozo
oportuno do saldo remanescente. Inexistência de previsão legal.
Inteligência do art. 67, § 1º, LOMAN c/c art. 2º, II e IV, da Resolução
214/2007 TJPE. Interesse público que deve prevalecer sobre o interesse
individual de seu agente.
- Segurança denegada.

Houve a oposição de embargos de declaração, os quais foram rejeitados.

Nas razões do recurso ordinário, a recorrente sustenta ter direito líquido e certo
ao gozo de remanescente de férias, não usufruído por consequência do
nascimento de sua filha. Para tanto, defende, com base no artigo 126, § 2º, da Lei
Estadual n° 6.123/98, a inaplicabilidade dos artigos 80, da Lei n° 8.112/90, e 67,
§ 3º, da Lei Complementar n° 35/79, porque não há similitude entre a finalidade da
licença gestante e a finalidade das férias.

Em contrarrazões, o Estado de Pernambuco salienta a inexistência de prova


pré-constituída de que a filha da recorrente nasceu prematuramente. Destaca,
também, que a LOMAN, a Lei n° 8.112/90 e a Lei Estadual n° 6.123/68 não
indicam a licença-maternidade como causa de interrupção de férias.

No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, o Ministério Público Federal


manifestou-se pelo provimento do recurso ordinário.

É o relatório. Passo a decidir.

Com efeito, no artigo 66, § 2º, da Lei Complementar n° 35/79 há disposição


normativa asseverando a impossibilidade das férias do magistrados serem
fracionadas por períodos inferiores a trinta dias. Por sua vez, não se encontra
disposição tratando de hipóteses em que as férias podem ser interrompidas.

Em face da omissão normativa sobre o ponto específico da interrupção das


férias, cabe salientar a aplicação subsidiária das disposições previstas nos
estatutos dos servidores públicos com base no artigo 4º do Decreto-Lei n°
4.657/42.

No Estatuto dos Servidores Públicos Estaduais (Lei Estadual n° 6.123/68), tal


como na LOMAN, também não há disposição expressa das causas de interrupção
de férias. Em verdade, o que há no seu art. 126, § 2º, é apenas a indicação de que
a licença gestante começa no dia do parto quando o nascimento da criança é
prematuro.

Tendo em vista a ausência de norma específica aplicável ao caso na legislação


própria da magistratura e no Estatuto dos Servidores Estaduais, destaca-se a
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regra geral de interrupção das férias prevista na Lei n° 8.112/90, segundo a qual
somente por motivo de calamidade pública, comoção interna, convocação para
júri, serviço militar ou eleitoral, ou por necessidade de serviço. A propósito,
confira-se a seguir:

Art. 80. As férias somente poderão ser interrompidas por motivo de


calamidade pública, comoção interna, convocação para júri, serviço
militar ou eleitoral, ou por necessidade do serviço declarada pela
autoridade máxima do órgão ou entidade.

Vê-se que a palavra "somente" no comando estrito do art. 80 da Lei n° 8.112/90


limita a consideração de hipóteses de interrupção de férias e não possibilita
eventuais aplicações extensivas. Torna-se indevida, assim, qualquer ampliação do
rol desse dispositivo.

Nesse sentido, o seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça pela


impossibilidade de aplicação extensiva do art. 80 da Lei n° 8.112/90:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. INTERRUPÇÃO DAS


FÉRIAS. LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE. ART. 80 DA
LEI N. 8.112/90. ROL TAXATIVO. IMPOSSIBILIDADE.
1. Discute-se nos autos a possibilidade de alteração das férias, em
decorrência de licença médica, após iniciado o período de gozo.
2. Extrai-se dos autos que, no caso em exame, a servidora requereu
administrativamente, em 18.1.2010, a alteração do primeiro período de
férias, de 18.1.2010 a 22.1.2010, motivada pela concessão de licença
médica a ser usufruída entre 18.1.2010 e 25.1.2010. Tal requerimento
foi indeferido pela Administração, que considerou o referido período
como efetivamente gozado.
3. Cumpre ressaltar que a possibilidade do pedido de alteração de férias
pressupõe que o benefício ainda não tenha se iniciado. Diferentemente
do que afirmou o acórdão regional, a situação dos autos se trata, na
realidade, de pedido de interrupção da fruição das férias.
4. Nos termos da legislação de regência, as hipóteses de interrupção de
férias são taxativamente previstas no artigo 80 da Lei n. 8.112/90,
dentre as quais não se insere o acometimento de doença e a respectiva
licença para tratamento médico.
Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1438415/SE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 06/05/2014, DJe 13/05/2014)

Ademais, mesmo que as consequências da expressão "somente" não fossem o


bastante, o nascimento de criança não importaria interrupção das férias porque
não se enquadra nas hipóteses, então, previstas no art. 80 da Lei n° 8.112/90.

Além disso, a interpretação sistêmica dentro do próprio estatuto não socorre a


recorrente. Ora, dentre as diversas peculiaridades reguladas na Lei n° 8.112/90, a
licença à gestante possui uma seção própria. Considerando o cuidado que o
legislador teve com as disposições dadas à essa licença, pode-se concluir que ele
a teria incluído nas hipóteses de interrupção de férias, se assim desejasse.

Ante o exposto, NEGO SEGUIMENTO ao recurso ordinário.


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Publique-se. Intimem-se.

Com essas considerações, NEGO PROVIMENTO ao AGRAVO REGIMENTAL.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2012/0243925-5 RMS 39.563 / PE

Números Origem: 206495520118170000 2592081 259208100 259208101 46052420128170000

PAUTA: 06/08/2015 JULGADO: 06/08/2015

Relator
Exmo. Sr. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro OG FERNANDES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ FLAUBERT MACHADO ARAÚJO
Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : LUCIANA MARIA TAVARES DE MENEZES
ADVOGADOS : LEUCIO DE LEMOS FILHO
CHRISTIANA LEMOS TURZA FERREIRA E OUTRO(S)
RECORRIDO : ESTADO DE PERNAMBUCO
PROCURADOR : PAULO SÉRGIO CAVALCANTI ARAÚJO E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Servidor


Público Civil - Licenças / Afastamentos - Gestante / Adotante / Paternidade

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : LUCIANA MARIA TAVARES DE MENEZES
ADVOGADOS : LEUCIO DE LEMOS FILHO
CHRISTIANA LEMOS TURZA FERREIRA E OUTRO(S)
AGRAVADO : ESTADO DE PERNAMBUCO
PROCURADOR : PAULO SÉRGIO CAVALCANTI ARAÚJO E OUTRO(S)

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do
voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
A Sra. Ministra Assusete Magalhães, os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman
Benjamin e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro Relator.

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