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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.186.965 - RS (2010/0052382-7)

RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA


RECORRENTE : ELIANE RODRIGUES DA SILVA
ADVOGADO : ARTUR GARRASTAZU GOMES FERREIRA E OUTRO(S)
RECORRIDO : BANCO SANTANDER BANESPA S/A
ADVOGADO : JEFERSON ANTÔNIO ERPEN E OUTRO(S)
EMENTA
RECURSO ESPECIAL - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL -
ALEGAÇÃO GENÉRICA - APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA SÚMULA N.
284/STF - EMPRÉSTIMO - DESCONTO EM FOLHA DE
PAGAMENTO/CONSIGNADO - LIMITAÇÃO EM 30% DA REMUNERAÇÃO
RECEBIDA - RECURSO PROVIDO.

1. A admissibilidade do recurso especial exige a clara indicação dos


dispositivos supostamente violados, assim como em que medida teria
o acórdão recorrido afrontado a cada um dos artigos impugnados.
2. Ante a natureza alimentar do salário e do princípio da razoabilidade,
os empréstimos com desconto em folha de pagamento (consignação
facultativa/voluntária) devem limitar-se a 30% (trinta por cento) dos
vencimentos do trabalhador.
3. Recurso provido.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça,
na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, a Turma, por
unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a).
Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino,
Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS) e Nancy Andrighi votaram
com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 07 de dezembro de 2010(data do julgamento)

MINISTRO MASSAMI UYEDA


Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.186.965 - RS (2010/0052382-7)

RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA


RECORRENTE : ELIANE RODRIGUES DA SILVA
ADVOGADO : ARTUR GARRASTAZU GOMES FERREIRA E OUTRO(S)
RECORRIDO : BANCO SANTANDER BANESPA S/A
ADVOGADO : JEFERSON ANTÔNIO ERPEN E OUTRO(S)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator):


Cuida-se de recurso especial interposto por ELIANE RODRIGUES DA
SILVA, fundamentado no artigo 105, inciso III, alíneas "a" e "c", da Constituição Federal,
em que se alega violação dos artigos 165, 458, inciso II, e 535, inciso II, do Código de
Processo Civil e divergência jurisprudencial.

Historiam os autos que ELIANE RODRIGUES DA SILVA ajuizou ação


ordinária em desfavor do BANCO SANTANDER BANESPA S. A., postulando a limitação
dos descontos em folha de pagamento, decorrentes de empréstimos consignados, ao
patamar de 30% (trinta por cento) de sua remuneração bruta (fls. 02/22 e-STJ).

O pedido foi julgado improcedente (fls. 93/97 e-STJ).

Em grau de apelação, a Décima Quinta Câmara Cível do Tribunal de


Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, por unanimidade, negou provimento ao
recurso, em acórdão assim ementado:

"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE LIMITAÇÃO DE DESCONTO EM


FOLHA DE PAGAMENTO. Entendimento da Câmara de que é regular
o desconto em folha de pagamento. Legislação federal, estadual e
municipal a respeito. Precedentes do STJ. Apenas quando excedida a
margem consignável deve haver limitação. Sentença de improcedência
mantida. Apelo improvido." (fl. 128)
Os embargos de declaração assim opostos por ELIANE RODRIGUES
DA SILVA, autora da ação ordinária (fls. 136/140 e-STJ), foram rejeitados (fls. 142/145
e-STJ).

Contra esses julgados, ELIANE RODRIGUES DA SILVA interpôs


recurso especial, fundamentado no artigo 105, inciso III, alíneas "a" e "c", da
Constituição Federal, em que se alega violação dos artigos 165, 458, inciso II e 535,
inciso II, do Código de Processo Civil e divergência jurisprudencial.

Sustenta a recorrente, em síntese, negativa de prestação jurisdicional,

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por estar o acórdão recorrido eivado de omissão e contradição. Alega, também, que o
entendimento proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul diverge
da jurisprudência de outros Tribunais, que determina a limitação dos descontos
facultativos/voluntários em folha de pagamento, decorrentes de empréstimos
consignados, ao percentual de 30% (trinta por cento) dos vencimentos, ante o seu
caráter alimentar e o princípio da razoabilidade (fls. 150/168 e-STJ).

Decorreu, in albis, o prazo para contrarrazões (fl.177 e-STJ).

Admitido o recurso pelo Juízo Prévio de Admissibilidade (fls. 179/182


e-STJ), veio à conclusão o presente recurso (fls. 188 e-STJ).

É o relatório.

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EMENTA
RECURSO ESPECIAL - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL
- ALEGAÇÃO GENÉRICA - APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA
SÚMULA N. 284/STF - EMPRÉSTIMO - DESCONTO EM FOLHA DE
PAGAMENTO/CONSIGNADO - LIMITAÇÃO EM 30% (TRINTA POR
CENTO) DA REMUNERAÇÃO RECEBIDA - RECURSO PROVIDO.
1. A admissibilidade do recurso especial exige a clara indicação dos
dispositivos supostamente violados, assim como em que medida teria
o acórdão recorrido afrontado a cada um dos artigos impugnados.

2. Ante a natureza alimentar do salário e do princípio da razoabilidade,


os descontos em folha de pagamento dos empréstimos (consignação
facultativa/voluntária) devem limitar-se a 30% (trinta por cento) dos
vencimentos do trabalhador.

3. Recurso provido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator):


Excelentíssimos Ministros componentes da Terceira Turma.

O ponto nodal deste apelo nobre cinge-se à limitação, em 30% (trinta


por cento), dos vencimentos do trabalhador, dos descontos efetuados em seu
contra-cheque a título de empréstimos consignados.

Antes, contudo, deve ser apreciada a alegada violação dos artigos 165,
458, inciso II, e 535, inciso II, do Código de Processo Civil, por estar o acórdão recorrido
eivado de omissão e contradição.

A admissibilidade do recurso especial exige a clara indicação dos


dispositivos supostamente violados, assim como em que medida teria o acórdão
recorrido afrontado a cada um dos artigos impugnados o que, in casu, não ocorreu,
porquanto a parte recorrente alega genericamente omissão e contradição no
pronunciamento do Tribunal de origem, sem, contudo, apontar em que ponto o v.
acórdão recorrido teria sido omisso, contraditório ou, ainda, obscuro. Incide, na espécie,
o óbice da Súmula n. 284/STF, por analogia.

No que se refere, efetivamente, à limitação dos descontos efetuados

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em folha de pagamento, decorrente de empréstimos consignados, a irresignação está
na divergência jurisprudencial entre os Tribunais de Justiça dos Estados do Rio Grande
do Sul e de São Paulo: enquanto no primeiro (acórdão recorrido) admitiu-se o desconto
próximo a 50% (cinquenta por cento) da renda da recorrente, no segundo (acórdão
paradigma) determinou-se que o percentual máximo de abatimento seria de 30% (trinta
por cento).

Inicialmente, cumpre observar que esta Corte já sedimentou a


orientação de que esse procedimento não configura penhora de salário (ut EREsp
537.145/RS, Rel. Min. Fernando Gonçalves, Segunda Seção, DJ 11/10/2007).

A autorização para o desconto em folha de pagamento dos valores


referentes a empréstimos, financiamentos e operações de arrendamento mercantil é a
forma pela qual as instituições financeiras e sociedades de arrendamento mercantil
realizam o mútuo mediante taxas de juros menores, em comparação com aquelas
normalmente praticadas no mercado, em razão da diminuição do risco de
inadimplência; é popularmente conhecido como crédito consignado. Essa modalidade
de contrato visa facilitar/incentivar o acesso ao crédito por parte do mutuário, que capta
o dinheiro com baixos encargos e, ao mesmo tempo, para o mutuante, como garantia
de adimplemento da obrigação.

Todavia, não são raros os casos em que essa modalidade de


empréstimo acaba por comprometer parte significativa do ordenado do trabalhador.

Diante disso, para atingir o equilíbrio entre os objetivos do contrato e a


dignidade da pessoa, deve-se levar em consideração a natureza alimentar do salário e
o princípio da razoabilidade. Por essas premissas, impõe-se a preservação de parte
suficiente dos vencimentos do trabalhador, capaz de suprir as suas necessidades, e de
sua família, referente à alimentação, habitação, vestuário, higiene, transporte etc.

Frente à essa perspectiva, a Lei n. 10.820/03, que dispõe sobre a


autorização para desconto de prestações em folha de pagamento, e dá outras
providências e o Decreto n. 6.386/08, regulamento do artigo 45 da Lei n. 8.112/90, que
dispõe sobre a consignação em folha de pagamento dos servidores públicos,
determinam que a soma mensal das prestações destinadas a abater os empréstimos
realizados (consignação facultativa/voluntária) não deve ultrapassar 30% (trinta por
cento) dos vencimentos do trabalhador (inciso I do § 2º do artigo 2º e artigo 11 das Leis
retrocitadas, respectivamente).

Nesse sentido já se manifestou esta Corte Superior: RMS 21.380/MT,


Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ 15/10/2007 e AgRg no REsp 959.612/MG, Rel. Min.

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João Otávio de Noronha, DJe 03/05/2010, este assim ementado:

"CIVIL. AÇÃO REVISIONAL. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.


LICITUDE DA COBRANÇA. SÚMULA N. 294 DO STJ. DESCONTO
EM FOLHA DE PAGAMENTO. SUPRESSÃO UNILATERAL.
IMPOSSIBILIDADE. LIMITE DE 30% DOS VENCIMENTOS.
1. (...).
2. Cláusula contratual que autoriza desconto em folha de pagamento de
prestação de empréstimo contratado não pode ser suprimida por
vontade unilateral do devedor, uma vez que é circunstância facilitadora
para obtenção de crédito em condições de juros e prazos mais
vantajosos para o mutuário; todavia, deve ser limitada a 30% dos
vencimentos.
3. Agravo regimental parcialmente provido."
In casu, o acórdão recorrido consignou que o percentual comprometido
do ordenado da recorrente por esta linha de crédito é próximo de 50% (fl. 127 e-STJ),
razão pela qual deve ser reformado, para se adequar ao entendimento supra.

Dá-se, portanto, provimento ao recurso especial, para determinar que a


soma das prestações referentes às consignações facultativas/voluntárias
(empréstimos, financiamentos, operações de arrendamento mercantil etc.) não
ultrapassem o limite de 30% (trinta por cento) dos vencimentos da ora recorrente, a ser
apurado em liquidação de sentença.

Invertem-se os ônus sucumbenciais.

É o voto.

MINISTRO MASSAMI UYEDA


Relator

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2010/0052382-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.186.965 / RS

Números Origem: 10701120480 70025234717 70034178830

PAUTA: 02/12/2010 JULGADO: 07/12/2010

Relator
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ BONIFÁCIO BORGES DE ANDRADA
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ELIANE RODRIGUES DA SILVA
ADVOGADO : ARTUR GARRASTAZU GOMES FERREIRA E OUTRO(S)
RECORRIDO : BANCO SANTANDER BANESPA S/A
ADVOGADO : JEFERSON ANTÔNIO ERPEN E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto
do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino,
Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS) e Nancy Andrighi votaram com o Sr.
Ministro Relator.
Brasília, 07 de dezembro de 2010

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA


Secretária

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