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EDILTON MEIRELES
SILVIA TEIXEIRA DO VALE
(Orgs.)
DIREITO DO TRABALHO
NAS UNIVERSIDADES
Organizadores
Edilton Meireles
Silvia Teixeira do Vale
Presidente do TRT-5
Desembargadora Débora Maria Lima Machado
Vice-Presidente do TRT-5
Desembargador Alcino Barbosa de Felizola Soares
Corregedora Regional
Desembargadora Luíza Aparecida Oliveira Lomba
Vice-Corregedora Regional
Desembargadora Léa Reis Nunes
Coordenadora Acadêmica
Juíza Silvia Isabelle Ribeiro Teixeira do Vale
Vice-Coordernadora Acadêmica
Juíza Andréa Presas Rocha
Núcleo de Cursos
Chefia: Lucila Borges Smarcevscki
Assistente: Maurício Borges Farias
Seção de Educação a Distância e Tecnologia
Chefia: Carlos Adroaldo Santiago Lima
Assistente: Vânia Pina
Seção Técnico-Pedagógica
Chefia: Ana Carina Varela Martins Maia
Assistente: Cláudia Valéria Moés Galvão
Seção de Vitaliciamento e Formação Inicial (Logística)
Chefia: Valdicéa Costa do Val
APRESENTAÇÃO
EDILTON MEIRELES
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
3. A REGULAMENTAÇÃO DO TELETRABALHO NO
BRASIL, ARGENTINA, COLÔMBIA E MÉXICO
Com mais de 100 anos de história, a OIT foi responsável pela criação
de diversos marcos de proteção ao trabalhador, através de convenções e reco-
mendações discutidas pelos Estados-membros, como o limite da jornada em 8
horas e outras estratégias, para assegurar parâmetros mínimos horizontais de
justiça social do trabalho entre os países-membros (OIT, 2006).
O teletrabalho não é matéria específica de regulamentação da OIT, entre-
tanto, a Convenção 177 e a Recomendação 184 tratam do trabalho a domicílio.
Servirá a Convenção como referencial para a análise da regulamentação do
teletrabalho nos países latino-americanos estudados por se tratar de tratado
internacional, ainda que apenas a Argentina a tenha ratificado, e a Recomen-
dação como diretriz auxiliar em caso de lacunas, por não ter caráter vinculante.
A OIT, em nota técnica (OIT, 2021a), definiu o conceito do teletrabalho.
Para tanto, deve-se entender que o local pré-determinado é o lugar físico onde
se espera que o trabalho seja realizado, levando-se em consideração o tipo de
ocupação e as tarefas a serem desenvolvidas. Considera-se trabalho em domi-
cílio como atividade desenvolvida, total ou parcialmente, na própria casa do
trabalhador, independente de qual seja seu lugar de trabalho predeterminado.
Por sua vez, o teletrabalho pode ser entendido como a modalidade originada
da combinação de lugar alternativo ou predeterminado e que requer o uso das
TICs. É possível notar a articulação dos conceitos, uma vez que o local pré-de-
terminado em ambos é alternativo. Logo, tanto o teletrabalho como o trabalho
a domicílio podem ser desenvolvidos, por exemplo, na própria residência do
trabalhador (OIT, 2021a).
Essas diretrizes têm como norma basilar a igualdade entre os trabalhadores
a domicílio e os demais que desempenhem a mesma ou semelhante função na
empresa. Da igualdade decorre o direito de aderir e participar das atividades de
organizações sindicais de sua escolha, a vedação de tratamento discriminatório
no emprego, o direito à proteção da segurança social e da saúde e segurança
do trabalho, à remuneração comparável à recebida pelo trabalhador presencial,
o acesso a treinamento, a proteção à maternidade e a fixação de idade mínima
de admissão.
A Recomendação prevê que os trabalhadores à domicílio devem ser infor-
mados por escrito ou por outro meio previsto na legislação nacional a respeito
das suas condições específicas de emprego. É determinado que as leis nacionais
de segurança e saúde no trabalho sejam asseguradas a esses trabalhadores, con-
siderando as características particulares da modalidade,.
Por sua vez, no México, foi aprovada em dezembro de 2020, pelo Congresso
da União, durante a pandemia, a legislação que regulamenta o teletrabalho no
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo analisar e discutir sobre o biodireito com
finalidade da perspectiva dos direitos fundamentais no tocante aos direitos da
personalidade produto de paradigmas na sociedade contemporânea a proteção
da pessoa humana, para assim se chegar na engenharia genética e compreender
os processos de criação, armazenamento, disseminação e processamento das
informações obtidas com o mapeamento genético, bem como se examinará a
dimensão e perspectiva da privacidade, diante de questões éticas e jurídicas.
Ocorre que, a informação genética integra a intimidade do indivíduo e
pode ter propósitos de risco, como por exemplo, novas políticas eugênicas para
que haja a reprodução do ser com características especificas e sem patologias,
como também submeter um empregado ao mapeamento genético no seu exame
admissional dentro de uma empresa que contrata funcionários com especifici-
dades, entre outros abusos de ordem moral.
Ao longo ditadura, morreram milhares de brasileiros, afora outros tantos que
foram torturados e exilados, a Assembleia Nacional Constituinte produziu a melhor
Constituição que, na circunstância, poderia produzir, com avanços sociais extraor-
dinários, além da consagração de direitos e garantias fundamentais, que o povo
brasileiro depositou grandes esperanças e aspirações (MASCARENHAS, 2010).
Com o surgimento do Estado Democrático de Direito estabelecido pela
Constituição Federal de 1988, podemos entender que:
No sentido formal o Estado de Direito apresenta preocu-
pação com a segurança jurídica, estipulando a estabilidade
1
Professora de Graduação e Pós-Graduação. Assessora Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe. Doutoranda
em Direito na Universidade Federal da Bahia. Mestre em Direito na Universidade Federal de Sergipe. Pós
graduada em Direito e Processo do Trabalho na UNIDERP.
2
BRASIL, Constituição da República Federativa de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 29 jan. 2020.
3
VILBERT, Jean Thiago Pereira. Disponível em: http://unoesc.edu.br/mala/S%C3%A9rie%20Direitos%20
Fundamentais%20Civis%20Tomo%20V.pdf. Acesso em: 25 jan. 2020.
6
Nascituro: o que está por nascer, mas já concebido no ventre materno. Para Nader “a lei alcança, ipso facto,
a condição do embrião, tal ilação se obtém mediante a interpretação extensiva (NADER, 2008, p. 290)”.
Artigo 2º do Código Civil de 2002: a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. BRASIL, República Federativa. Lei nº 10.406 de
10 de janeiro de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso
em 14 de janeiro de 2020.
7
CASTRO, M. N. A. da S.. Honra, imagem, vida privada e intimidade, em colisão com outros direitos.
Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
8
Idem. 14.
9
RAMOS, Cristina de Mello. O direito fundamental à intimidade e a vida privada. Revista de direito
da unigranrio 2008. Disponível em: http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/rdugr/article/view-
File/195/194. Acesso em: 10 jan. 2020.
10
Imagem, vem do latim imago, inis, representação, forma, imitação, aparência. Disponível em: http://www.
priberam.pt/dlpo/imagem. Acesso em: 22 jan.2020.
11
Artigo 20: Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem
pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber,
se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais (CÓDIGO
CIVIL DE 2002.). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em:
20 jan. 2020.
prática médica e das tecnologias que lhes estão associadas, deve ser tomada em
consideração a vulnerabilidade humana”.
A Convenção 111 da OIT define o termo discriminação como toda
distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião, opinião
política, ascendência nacional ou origem social, que tenha por efeito destruir ou
alterar a igualdade de oportunidades ou de tratamento em matéria de emprego
ou profissão; qualquer outra distinção, exclusão ou preferência que tenha por
efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou tratamento em matéria
de emprego ou profissão, que poderá ser especificada pelo Membro Interessado
depois de consultadas as organizações representativas de empregadores e traba-
lhadores, quando estas existam, e outros organismos adequados.
“O princípio da valorização do trabalho enquanto valor superior do
ordenamento, obriga que o trabalho humano seja merecedor de um tratamento
regulador que garanta à pessoa física uma tutela básica ou essencial em sua
relação de trabalho” (MEIRELLES, 2018, p 29).
A exigência de testes genéticos prévios admissionais e demissionários que
revelam se o empregado terá alguma doença, avaliação familiar genética ou até
mesmo medir a capacidade de trabalho são reveladores quanto à personalidade
e intimidade da pessoa, haja vista encontra-se em ausência de controle de con-
tenção de informações após a sua divulgação.
No campo do mercado de trabalho, objeto desta pesquisa,
mais uma vez ressalta-se que poderá acarretar a exclusão
do empregado ou a não contratação do candidato que tem
probabilidade de desenvolver a doença, muitas vezes apenas
em um futuro remoto e sob certas condições ambientais
(ECHTERHOFF, 2010, p. 82-83).
Através dos testes genéticos ou screening, obtém-se informações sobre
o diagnóstico de doenças, identificação de indivíduos e estabelecem-se as
suas características biológicas e de seus familiares. “O teste genético é a mais
importante aplicação prática do conhecimento sobre o genoma humano para
conhecer os detalhes do código genético de cada pessoa” (ECHTERHOFF,
2010, p. 78).
Pode-se entender que os cidadãos de maneira geral são objeto de análise e
estão trabalhando para não somente obter a informação genética do outro, mas
também com os riscos que poderá obter com as pesquisas genéticas, buscando
evitar uma falta de comprometimento ético de forma a evitar que as relações
de trabalho sejam por “seleções” de um empregado para cada tipo de trabalho.
comprometeram-se, e à comunidade internacional, a respeitar e aplicar os princípios fundamentais da bioética
condensados num texto único. Disponível em: Acesso em: 11 jan. 2020.
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
1
Juíza Substituta do Trabalho do TRT da 5ª Região (BA); Doutoranda em Direito pela UNESA; Mestre
em Direito pela UNIFG; Professora do curso de graduação em direito pelo Centro Universitário Maurício
de Nassau - UNINASSAU; e-mail: alexcyntia@hotmail.com.
2
Graduanda em direito pela Centro Universitário Maurício de Nassau - UNINASSAU; e-mail: dyule02@
hotmail.com.
3
Graduanda em direito pela Centro Universitário Maurício de Nassau - UNINASSAU; e-mail: 22012519@
sempreuninassau.com.br.
Por sua, conforme preceitua Carlos Henrique Bezerra Leite (2020), como
o epicentro de todo o ordenamento jurídico brasileiro é o princípio da dignidade
da pessoa humana (CF, art. 1o, III), não há necessidade de muito esforço inte-
lectivo para demonstrar que tal princípio alcança em cheio o direito do trabalho,
pois todo trabalhador (ou trabalhadora) é, antes de tudo, uma pessoa humana.
Até por isso, pela leitura do artigo 23 da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, não há como dissociar os princípios do direito do trabalho à própria
dignidade da pessoa humana. Veja-se:
Artigo 23
1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha
de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à
proteção contra o desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito
a igual remuneração por igual trabalho.
3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remu-
neração justa e satisfatória que lhe assegure, assim como
à sua família, uma existência compatível com a dignidade
humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros
meios de proteção social.
4. Todo ser humano tem direito a organizar sindica-
tos e a neles ingressar para proteção de seus interesses
(ONU, 1948).
vez, o referido princípio está previsto em diversos dispositivos legais, sendo que
o art. 468, da CLT, bem o ilustra:
Art. 468 – Nos contratos individuais de trabalho só é lícita
a alteração das respectivas condições por mútuo consen-
timento, e, ainda assim, desde que não resultem, direta
ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de
nulidade da cláusula infringente desta garantia (BRA-
SIL, 1952).
O mencionado princípio se desdobra em três outros princípios: in dubio
pro operario, norma mais favorável e condição ou cláusula mais benéfica.
Referido princípio está previsto nos artigos 448 e 10, da CLT. Diz o art. Art.
448 da CLT: “A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não
afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados”. Já o art. 10, também
da CLT, determina que: “Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não
afetará os direitos adquiridos por seus empregados” (BRASIL, 1952).
É presumido no Direito do Trabalho que o vínculo trabalhista entre
empregador e empregado se mantenha. Esse princípio visa a preservação
do emprego. No Direito do Trabalho, os contratos com prazo determinado
representam a exceção, embora a CLT preveja essa hipótese, sendo que, em
regra, o contrato de trabalho é firmado por tempo indeterminado. Assim, cabe
ao empregador comprovar a ruptura do vínculo empregatício.
4. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1
Advogada. Graduada em Direito pela Universidade de Uberaba (UNIUBE) - Campus Uberlândia; Pós-
-Graduanda em Direito e Processo do Trabalho e Direito Previdenciário pela Faculdade Verbo Educacional
(VERBOEDU); Mestranda em Direito na área de concentração em Direitos e Garantias Fundamentais, na
linha de pesquisa Tutela Jurídicas e Políticas Públicas, pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de
Uberlândia (FADIR/UFU); Membro do Grupo de Pesquisa “A Transformação do Direito do Trabalho na
Sociedade Pós-Moderna e seus Reflexos no Mundo do Trabalho” na Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo – Campus Ribeirão Preto (FDRP/USP). E-mail: dayane.mrodrigues@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO
2
SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 10.ed. São Paulo: LTr, 2016, p.178.
3
BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934. Disponível em: <http://
www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm>. Acesso em: 01 jan. 2021.
4
BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ ccivil _03/constituicao/constituicao46.htm. Acesso em 03 jan. 2021.
5
MELEU, Marcelino. THAINE, Aleteia Hummes. A Mediação de Conflitos Enquanto Nova Institucio-
nalidade Recepcionada pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro. Disponível em: <file:///C:/Users/DELL/
Downloads/131-Texto%20do%20artigo-891-1-10-20120703.pdf>. Acesso em: 25 mai. 2021.
6
CASSAR, Vólia Bomfim. Métodos de Solução de Conflitos Individuais e Coletivos Extrajudiciais. In:
TUPINAMBÁ, Carolina (Org.). Soluções De Conflitos Trabalhistas: Novos Caminhos. São Paulo: LTr,
2018. p. 202.
11
WATANABE, Kazuo. Depoimento. Cadernos FGV Projetos, ano 12, n.30, abr/mai. 2017. Disponível
em: <https://fgvprojetos.fgv.br/publicacao/cadernos-fgv-projetos-no-30-solucao-de-conflitos>. Acesso em:
12 dez. 2020.
12
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho - TRT 2. Recurso Ordinário nº 1000610-62.2016.5.02.0016.
Recorrente: GFI Securities LLC e outros. Recorrida: Os mesmos. Relator: Paulo Eduardo Vieira De Oliveira.
Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, São Paulo, 13 de junho de 2017. Disponível em: <https://trt-2.
jusbrasil.com.br/jurisprudencia/535701792/10006106220165020016-sp/inteiro-teor-535701807>. Acesso
em: 07 jun. 2021.
13
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Embargos Declaratórios Agravo de Instrumento em Recurso
de Revista nº 2042- 37.2015.5.02.0027. Embargante: BGC Liquidez Distribuidora de Títulos e Valores
Mobiliários LTDA. Embargado: Hélio Luiz Duarte Carvalho. Relator: Maria de Assis Calsing. Diário
Eletrônico da Justiça do Trabalho, Brasília, 04 de maio de 2018. Disponível em: <https://tst.jusbrasil.com.
br/jurisprudencia/5740 94368/embargos-declaratorios-agravo-de-instrumento-em-recurso-de-revista-ed-
-airr20423720155020027/inteiro -teor-574094385>. Acesso em: 07 jun. 2021.
14
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Agravo em Recurso de Revista n° 1000201-34.2019.5.02.0064.
Agravante: Kypers Brasil Participacoes LTDA. Agravada: Noemia Rodrigues Gomes. Relator: Breno Medei-
ros. Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, Brasília, 27 de novembro de 2020. Disponível em: < https://
jurisprudencia.tst.jus.br/#16dad68d1b0cc6ef625641cb91ea90b8 >. Acesso em: 07 jun. 2021.
por procuradores distintos, conforme art. 855-B da CLT. Ainda, de acordo com
o § 2º desse mesmo dispositivo, a lei também concede ao trabalhador a faculdade
de ser assistido pelo advogado de seu sindicato profissional.
A legislação, entretanto, veda a possibilidade de representação por advo-
gado comum, segundo estabelece o § 1º, do art. 855-B da CLT, uma vez que
tem por objetivo conferir aos interessados maiores esclarecimentos sobre os
direitos acordados na transação e durante o procedimento homologatório, além
de tentar evitar possíveis fraudes e simulações. Conforme o Ministro do TST,
Ives Gandra Martins Filho,
a petição conjuntamente assinada para a apresentação
do requerimento de homologação ao juiz de piso serve
à demonstração da anuência mútua dos interessados em
por fim ao contratado, e, os advogados distintos, à garan-
tia de que as pretensões estarão sendo individualmente
respeitadas.15
Diante disso, Leite afirma que o procedimento de homologação de
acordo extrajudicial não permite o jus postulandi - art. 791 da CLT - uma vez
que as partes interessadas devem estar obrigatoriamente representadas por seus
advogados.16
No tocante ao objeto do acordo extrajudicial, Miessa ressalta que o legis-
lador criou duas restrições específicas, sendo a primeira o prazo para pagamento
das verbas rescisórias - art. 855-E da CLT – e, a segunda, o fato do acordo só
atingir direitos elencados na petição -art. 855-C da CLT.17
Portanto, mesmo que o acordo verse sobre verbas rescisórias, o emprega-
dor deverá observar o prazo para pagamento rescisório disposto no §6º, do art.
477 da CLT, de até 10 dias contados a partir do término do contrato, sob pena
de pagamento da multa prevista no §8º, do art. 477 da CLT. Para Pamplona e
Souza “tal previsão é elementar a fim de evitar que o acordo extrajudicial pudesse
ser usado como meio de procrastinar o adimplemento das verbas devidas ao
trabalhador”.18
15
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista nº 1000013-78.2018.5.02.0063. Recorrente:
Merck Sharp & Dohme Farmacêutica Ltda. Recorrida: Ana Victória Meneghesso Pelliciari. Relator: Ives
Gandra Martins Filho. Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, Brasília, 20 de setembro de 2019. Disponível
em: <file:///C:/Users/DELL/Downloads/RR-1000013-78_2018_5_02_0063.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2021.
16
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 17. ed. São Paulo: Saraiva,
2019. p. 297.
17
MIESSA, Élisson. Processo de Jurisdição Voluntária para homologação de Acordo Extrajudicial. In:
TUPINAMBÁ, Carolina (Org.). Soluções de Conflitos Trabalhistas: Novos Caminhos. São Paulo: LTr,
2018. p. 232.
18
PAMPLONA Filho, Rodolfo; SOUZA, Tercio Roberto Peixoto. Curso de Direito Processual do Tra-
balho. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 724.
Foi estabelecido também, no art. 855-D da CLT, que o juiz terá o prazo
de 15 dias para analisar o acordo, a contar da distribuição da peça. Esse prazo,
porém, é considerado impróprio, uma vez que seu descumprimento não provocará
nenhum efeito processual. Poderá o juiz também, se achar necessário, designar
uma audiência antes de proferir a decisão, para que os interessados apresentem
esclarecimentos, com o objetivo de dirimir eventuais dúvidas e estabelecer os
efeitos da homologação.
Vale ressaltar que a decisão proferida pelo magistrado trabalhista pode
ser homologatória ou denegatória do acordo extrajudicial, uma vez que o ato
de homologação é faculdade do juiz, conforme disposto na Súmula nº 418
do TST. Além disso, o art. 765 da CLT também estabelece que “os Juízos e
Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão
pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência
necessária ao esclarecimento delas”, devendo a decisão ser fundamentada, nos
termos do art. 93, inciso IX, da CF/88.
Por fim, a peça homologatória do acordo extrajudicial suspende o prazo
prescricional da ação em relação aos direitos nela especificados, sendo que na
hipótese de não homologação, o prazo voltará a fluir no dia útil seguinte ao do
trânsito em julgado da decisão negatória, conforme estabelece o caput e parágrafo
único, do art. 855-E da CLT.
A transação extrajudicial se concretiza com a homologação judicial,
portanto, segundo Bebber, enquanto não for proferida decisão, qualquer uma
das partes poderá desistir do pedido de homologação do acordo, sendo um ato
unilateral, que independe do consentimento da outra parte e produz efeitos
imediatamente.19
Na visão de Travain, ao ser negada a homologação
o acordo extrajudicial terá eficácia liberatória quanto às
quantias nele especificadas, contanto tenham sido pagas ao
trabalhador. Além disso, caberá ao trabalhador, se for o caso,
ingressar em juízo com ação (processo de conhecimento),
tendente a receber. Todavia, havendo a homologação do
acordo esta decisão será irrecorrível aos interessados, exceto
ao Instituto Nacional da Seguridade Social – INSS que, nos
termos do artigo 831 da CLT poderá recorrer. O mesmo
é reconhecido pela súmula 259 do TST. 20
19
BEBBER, Júlio César Reforma Trabalhista: homologação de acordo extrajudicial. In: FELICIANO,
Guilherme Guimarães; TREVISO, Marco Aurélio Marsiglia; FONTES, Saulo Tarcísio de Carvalho. Reforma
Trabalhista: visão, compreensão e crítica. São Paulo: LTr, 2017. p.84.
20
TRAVAIN, Luiz Antônio Loureiro. Manual da Conciliação e Mediação Trabalhista. 1. ed. v. 2. São
Paulo: Amazon, 2021. p. 171.
21
DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. A Reforma Trabalhista no Brasil. 1.
ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 353.
22
Ibidem.
deve haver também a comunicação das partes para se manifestarem sobre tal
decisão, uma vez que
o próprio fundamento da transação, que finaliza ou evita
litígios por meio de concessões recíprocas, é contrário à
modificação surpresa, pelo magistrado, do conteúdo da
avença, sob pena de se desequilibrar o negócio jurídico
entabulado e macular a autonomia da vontade, razão pela
qual, a fim de harmonizar tais institutos, entendo que, em
caso de homologação parcial ou que pretende alterar o
conteúdo da transação, deve o juízo abrir contraditório, por
meio de audiência ou não, mas sempre dando oportunidade
às partes para, simplesmente, desistirem do procedimento
caso o juiz não acate a vontade manifestada por ambos 23.
O juiz terá o prazo de quinze dias, a contar da distribuição da petição,
para analisar o acordo, designar audiência, se for necessário, e proferir a sen-
tença, conforme disposto no art. Art. 855-D, da CLT. Segundo Leite, “esta
sentença poderá homologar o acordo ou rejeitar a sua homologação, total ou
parcialmente”. 24
O acordo poderá ser rejeitado caso seja constatada a falta de requisitos
legais, lide simulada, ou até mesmo a inexistência de transação, o que constitui
uma renúncia de direitos trabalhistas, uma vez que a homologação é considerada
faculdade do juiz25. Além disso, o principal motivo que tem levado alguns juízes
a conferir homologação parcial aos acordos extrajudiciais é a tentativa de evitar
supressões de direitos por meio das cláusulas de quitação geral.
Conforme estabelece Delgado, o princípio da indisponibilidade de direitos
autoriza invalidar qualquer renúncia ou mesmo transação lesiva operada pelo
empregado ao longo do contrato26, pois visa resguardar os direitos inerentes ao
trabalhador.
Em que pese o entendimento consagrado no Tribunal
Superior do Trabalho (TST), através da sua Orientação
Jurisprudencial de n° 270 c/c artigo 468 da CLT, no sentido
de que os direitos trabalhistas são absolutamente indispo-
níveis e irrenunciáveis, o Supremo Tribunal Federal (STF),
23
CALVET, Otavio Amaral. Acordo Extrajudicial homologado judicialmente na Justiça do Trabalho. In:
AIDAR, Letícia; RENZETTI, Rogério; LUCA, Guilherme de (Org.). Reforma Trabalhista e Reflexos
no Direito e Processo do Trabalho. São Paulo: LTr, 2017. p. 28.
24
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 17. ed. São Paulo: Saraiva,
2019. p. 2268.
25
SANTOS, Enoque Ribeiro dos; HAJEL FILHO, Antônio Bittar. Curso de Direito Processual do
Trabalho. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2020. p. 1257.
26
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019. p. 1740.
27
BORTOLI, Fabrizio De; CARDOSO, Jair Aparecido. Jurisdição Voluntária na Justiça do Trabalho e
suas Implicações Práticas: Avanço ou Retrocesso. In: PEREIRA FILHO, Benedito Cerezzo; BELLINETTI,
Luiz Fernando; CARVALHO, Sílzia Alves (Coords.). Acesso à justiça II [Recurso eletrônico on-line].
Florianópolis: CONPEDI, 2019. p. 90.
28
GODOY, Cláudio Luiz Bueno. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. In: PELUSO,
Cesar (Coord). 8. Ed. Barueri: Manole, 2014. p.816.
29
MIESSA, Élisson. Processo de Jurisdição Voluntária para homologação de Acordo Extrajudicial. In:
TUPINAMBÁ, Carolina (Org.). Soluções de Conflitos Trabalhistas: Novos Caminhos. São Paulo: LTr,
2018. p. 236.
alguma condição que não foi acordada e que se situa no âmbito exclusivo da
autonomia da vontade. Nesse contexto,
estando presentes os requisitos de validade do acordo extra-
judicial firmado, mostra-se inviável ao Tribunal Regional a
aposição de ressalvas ou condições que não foram estabele-
cidas pelos interessados, cabendo-lhe, tão somente, decidir
pela homologação ou não do termo de transação, mediante
decisão fundamentada (CF, art. 93, IX).34
Cabe ao Poder Judiciário, segundo o Ministro Breno Medeiros, apenas
homologar ou rejeitar de forma integral o acordo proposto pelos interessados
no procedimento de jurisdição voluntária. Assim,
não cabe ao Poder Judiciário tornar-se um mero “homologa-
dor” de acordos em que se identifica violação a dispositivos
legais ou, ainda, vícios de consentimento das partes (tendo
como norte o princípio da proteção, que cerca as relações
de trabalho), não deve, da mesma forma, modular seus
efeitos, à revelia da vontade das partes.35
Diante da análise doutrinária e jurisprudencial do TST, observa-se que
na doutrina ainda existem divergências quanto a possibilidade de homologação
parcial, no entanto, o entendimento dos Ministros nos acórdãos caminha para
uma uniformização da matéria na instância superior.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Edilton Meireles1
Hugo Rossi Figueirôa2
1. INTRODUÇÃO
3
MORRISON, W. Filosofia do Direito: dos Gregos ao Pós-modernismo. São Paulo: Martin Fontes,
2006. p. 33.
4
HEGEL, G. W. F. Princípios da Filosofia do Direito. Lisboa: Guimarães, 1990. P. 186;
5
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2. ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 2007. p. 141.
6
Idem, p. 144.
7
Idem, p 154.
adiante essa tarefa. Neste sentido, devemos notar o potencial de mecanismo como
televisão15 e internet16, capazes de disseminar uma determinada mensagem para
todo o globo. Se por um lado Hegel diagnosticou adequadamente que quando o
espírito do povo se afasta da natureza ele ganha uma liberdade que ele antes não
possuía17, parece que o próprio desenvolvimento do domínio do homem sobre a
natureza levou ele a domar não somente a ela, mas também aos seus semelhantes.
A verdade científica é tomada politicamente na idade moderna: a ciência é
centrada na forma de discurso científico e nas instituições que o produzem; está
submetida a constante incitação econômica e política; é objeto de várias formas,
de uma imensa difusão e um imenso consumo; é produzida e transmitida sob o
controle, não exclusivo, mas dominante, de alguns grandes aparelhos políticos
ou econômicos; e é objeto de debate político e confronto social18.
5. O BACAMARTE AUTOMATIZADO
Desde março de 2020, houve grande esforço por parte das economias
mundiais para conciliar o combate contra a pandemia causada pela COVID-
19 com a necessidade de se manterem os meios econômicos de subsistência da
população. Neste sentido, a ciência e as novas tecnologias tiveram um papel
fulcral nesta nova iniciativa. De acordo com o relatório “Digitalização, Resiliência
e Continuidade dos Negócios” feito pela multinacional Cisco Systems, uma dos
impactos da pandemia no funcionamento das empresas é o maior emprego de
recursos em tecnologias que diminuam o contato físico e automatização de
processos internos em prol da segurança e saúde25. Por efeito disso, altera-se
também de maneira significativa a dinâmica social do trabalho.
22
AZEVEDO, E. F. de. Michel Foucault e “O Alienista” de Machado de Assis. 2009. 52 f. Monografia
(Especialização) - Curso de Direito, Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/14286/14286.PDF. Acesso em: 1 jun. 2018.
23
MOROZOV, E. Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo: Ubu Editora, 2018.
Tradução de Claudio Marcondes. p. 179.
24
PHILIPP, J. A distopia do “crédito social” do regime chinês: ameaça da inteligência artificial encontra
“correção política” chinesa. Ameaça da inteligência artificial encontra “correção política” chinesa. 2018. Dis-
ponível em: https://www.epochtimes.com.br/distopia-credito-social-regime-chines/. Acesso em: 27 abr. 2021.
25
CISCO. Digitalização, Resiliência e Continuidade dos Negócios. Disponível em: https://www.cisco.
com/c/dam/global/pt_br/solutions/pdfs/whitepaper-relatorio-deloitte.pdf. Acesso em: 3 abr. 2021.
7. MAXIMIZANDO A EFICÁCIA
Por consequência do que foi previamente exposto nos tópicos anteriores, essa
mudança de dinâmica no trabalho acabará por acelerar o processo de “mecanização”
do homem. A crença na mensurabilidade e na quantificabilidade da vida domina
toda a era digital, sendo o corpo equipado ao máximo possível com sensores que
registram dados automaticamente26. O homem precisa agir como uma máquina,
padronizado, tal como uma peça, de forma que gire nos conformes, com eficiência
máxima27. Nesse sentido, é de se esperar que os esforços de gestão pandêmica
no ambiente de trabalho impulsionem o maior monitoramento do trabalhador.
De fato, durante o período pandêmico é possível observar que novos ins-
trumentos de mensuração e controle do trabalhador estão sendo implementado
dentro do ambiente de trabalho sob a justificativa da necessidade de gerir os
riscos de contaminação. Exemplo claro disso pode ser visto na França, onde a
companhia de higiene Essity passou a obrigar os trabalhadores a usar colares
com alarmes que apitam quando eles se aproximam dos colegas28.
Nesse caso em particular, a Representante da Confederação Democrá-
tica Francesa do Trabalho expressou grande preocupação com estes colares,
afirmando que o modo que eles operam dá a entender que a real razão de sua
implementação é para reforçar o monitoramento dos trabalhadores por razões
puramente econômicas, indo além do necessário para refrear a contaminação29.
Assim, torna-se visível que a pandemia se transformou em pretexto para certas
empresas avançarem a um nível de controle abusivo sob seus subordinados.
26
HAN, B.-c. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas dinâmicas de poder. o neoliberalismo e as novas
dinâmicas de poder. São Paulo: Ayine, 2018. Tradução de Maurício Liesen, p. 83.
27
SMITH, W. op. Cit., p. 212.
28
WATSON, S. French Workers Angrily Reject Social Distancing ‘Collars’. 2021. Disponível em: https://
www.infowars.com/posts/french-workers-angrily-reject-social-distancing-collars/. Acesso em: 27 abr. 2021.
29
WILLSHER, K. ‘Treated like dogs’: row over social distancing alarms at french factory. row over social
distancing alarms at French factory. 2021. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2021/jan/14/
treated-like-dogs-row-over-social-distancing-alarms-at-french-factory. Acesso em: 27 abr. 2021.
30
DACHERI, Emanueli; GOLDSCHMIDT, Rodrigo. O IMPACTO DA TECNOLOGIA NAS
RELAÇÕES DE TRABALHO: uma análise à luz da teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamen-
tais inespecíficos dos trabalhadores. Revista de Direitos Fundamentais nas Relações do Trabalho, Sociais
e Empresariais, [S.L.], v. 3, n. 2, p. 66, 4 dez. 2017. Conselho Nacional de Pesquisa e Pos-Graduacao em
Direito - CONPEDI. http://dx.doi.org/10.26668/indexlawjournals/2526-009x/2017.v3i2.2297. Acesso
em: 27 abr. 2021.
31
TOKARSKI, J. Trabalhar de casa durante a pandemia tem causado sobrecarga nos trabalhadores, revela
pesquisa da UFPR. 2020. Disponível em: https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/trabalhar-de-casa-durante-
-a-pandemia-tem-causado-sobrecarga-nos-trabalhadores-revela-pesquisa-da-ufpr/. Acesso em: 27 abr. 2021.
32
ESTADÃO. Apps como Uber e iFood se tornam “maior empregador” do Brasil. Disponível em: https://
exame.com/economia/apps-como-uber-e-ifood-sao-fonte-de-renda-de-quase-4-milhoes-de-pessoas/.
Acesso em: 12 nov. 2020.
33
HAN, B.-C. Op. Cit. p. 64-69
34
Idém. Página 85
35
REINO UNIDO. Suprema Corte. Acórdão nº 5. Apelante: Uber BV e outros. Apelados: Aslam e outros.
Londres, 2021. §100 e §101.
9. PERPETUANDO A EXCEÇÃO
A pandemia não criou essa situação crítica. Em fato, ela apenas vem
para agravar a transformação no seio do nosso sistema econômico nos últimos
tempos que já estava em curso36. A economia global já estava caminhando em
um sentido novo, cujo símbolo é a empresa Amazon, atualmente a companhia
mais valiosa do planeta.
Com o efetivo de mais de um milhão de funcionários, essa empresa
baseou seus negócios em uma vigilância constante dos seus trabalhadores
através de tecnologias cada vez mais avançadas, de forma que as ineficiências
humanas fossem reduzidas. Mesmo antes da pandemia, foi-se constatado que
os trabalhadores do depósito do Amazon sofrem taxas mais altas de lesões do
que a média da indústria devido a sua dinâmica de trabalho37.
Nesse sentido, chegou ao conhecimento público documentos provando
que trabalhadores da companhia estavam a um tal nível de vigilância por efi-
ciência que eles se viam obrigados a aliviar suas necessidades em garrafas para
não serem punidos por perder tempo no banheiro38. A exceção pandêmica não
parece diferir da regra que existia antes dela.
Em fato, a pandemia foi o estopim da consolidação deste novo modelo de
negócio. Enquanto grandes corporações como a Amazon viram seus lucros subi-
rem em mais de 100%, pequenos negócios dos Estados Unidos chegaram a perder
30% de seu lucro e ao menos 21% deles foram fechados permanentemente39. O
sucesso econômico deste modelo de negócios é inegável independentemente da
situação. Contudo, a pandemia deu oportunidade para se exacerbarem práticas
exploratórias40. Assim como a Essity, a Amazon também investiu em um sistema
de monitoramento do distanciamento social de trabalhadores, usando câmeras
e sensores de proximidade41. Nessa direção, tecnologias que são supostamente
36
SANTOS, Boaventura de Sousa. Op. Cit., p. 5 e 6.
37
ALIMOHAMED-WILSON, J.; REESE, E. It’s a Prime Day for Resistance To Amazon’s Ruthless
Exploitation of Its Workers. Disponível em: https://www.jacobinmag.com/2020/10/jeff-bezos-prime-day-
-amazon-warehouse-workers. Acesso em: 27 abr. 2021.
38
PICHI, Aimee. Amazon apologizes for denying that its drivers pee in bottles. 2021. Disponível em:
https://www.cbsnews.com/news/amazon-drivers-peeing-in-bottles-union-vote-worker-complaints/. Acesso
em: 27 abr. 2021.
39
WATSON, Paul Joseph. Amazon Goes on Lockdown Hiring Spree While Small Businesses Go Bust.
2020. Disponível em: https://www.infowars.com/posts/amazon-goes-on-lockdown-hiring-spree-while-s-
mall-businesses-go-bust/. Acesso em: 27 abr. 2021.
40
ALIMOHAMED-WILSON, Jake; REESE, Ellen. The cost of free shipping: amazon in the global
economy. London: Pluto Press, 2020. Página 306
41
WATSON, Paul Joseph. Amazon Using Social Distancing Technology to Warn Staffers Who Get
Too Close. 2020. Disponível em: https://www.infowars.com/posts/amazon-using-social-distancing-tech-
nology-to-warn-staffers-who-get-too-close/. Acesso em: 27 abr. 2021.
42
FIDLER, David P. From International Sanitary Conventions to Global Health Security: the new
international health regulations. Chinese Journal Of International Law, [S.L.], v. 4, n. 2, p. 325-392, 1
jan. 2005. Oxford University Press (OUP). http://dx.doi.org/10.1093/chinesejil/jmi029, p. 327-333. Acesso
em: 27 abr. 2021.
43
Idem.
44
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Regulamento Sanitário Internacio-
nal (2005). 2 Ed. Genebra: OMS, 2008. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/han-
dle/10665/43983/9789243580418_spa.pdf;jsessionid=7 1B1B67FAF168024F8E9D8BD517965F0?se-
quence=1. Acesso em: 3 abr. 2021, art. 2.
45
Idem, art. 43
12. CONCLUSÃO
53
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1994, p 244-245.
54
STOKES, Freg J.. For Hundreds of Years, Pandemics Have Reshaped the Way We Work. Disponível
em: https://www.jacobinmag.com/2021/03/covid-pandemic-work-class-conflict-colonialism. Acesso em:
28 abr. 2021.
55
LUCCA, Sergio Roberto de. Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado. Cad. Saúde Pública, Rio de
Janeiro v. 36, n. 9, e00237120, 2020. Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0102-311X2020000908002&lng=en&nrm=iso. access on 28 Apr. 2021. Epub Oct 05, 2020. https://doi.
org/10.1590/0102-311x00237120.
56
MOROZOV, Evegeny.Op. Cit., p. 135.
REFERÊNCIAS
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row over social distancing alarms at French factory. 2021. Disponível em: https://www.
theguardian.com/world/2021/jan/14/treated-like-dogs-row-over-social-distancing-
-alarms-at-french-factory. Acesso em: 27 abr. 2021.
presente momento; bem como em que medida o impacto das práticas neoliberais vêm
tangenciando a verdadeira finalidade das relações de estágio. Ante o reconhecimento
do desvirtuamento desta relação de trabalho, foi analisado em que medida a crise eco-
nômica no Brasil agravada pela pandemia repercutiu na precarização dos contratos de
estágio na esfera do Direito. Quanto aos aspectos metodológicos, o método utilizado
foi o hipotético-dedutivo. A construção da pesquisa se deu majoritariamente a partir
de levantamento teórico e bibliográfico.
Palavras-chave: legislação, contrato de estágio, escritórios de advocacia, precarização,
pandemia, acúmulo flexível.
Abstract: Article aimed at analyzing the application of Law No. 11,788/2008 in
internship relationships with regard to the work performed by interns from offices and
companies, as well as public bodies in the field of Law during the COVID-19 virus
pandemic period. The objective is to show that the precariousness of labor relations
present in the Brazilian State, associated with the current pandemic scenario, directly
harmed the learning process of law students. The description of the legal protection
scenario of Law nº 11.788/2008 was discussed, since its creation in 2008, until the
present moment; as well as to what extent the impact of neoliberal practices has been
touching the real purpose of internship relationships. In view of the recognition of the
distortion of this working relationship, it was analyzed to what extent the economic
crisis in Brazil, aggravated by the pandemic, had an impact on the precariousness of
internship contracts in the sphere of law. As for the methodological aspects, the method
used was the hypothetical-deductive one. The construction of the research took place
mainly from a theoretical and bibliographic survey.
Keywords: legislation, internship agrément, law firms, precariousness, pandemic, flexible
accumulation.
1. INTRODUÇÃO
3
Art. 8o É facultado às instituições de ensino celebrar com entes públicos e privados convênio de concessão
de estágio, nos quais se explicitem o processo educativo compreendido nas atividades programadas para seus
educandos e as condições de que tratam os arts. 6o a 14 desta Lei.
Parágrafo único. A celebração de convênio de concessão de estágio entre a instituição de ensino e a parte
concedente não dispensa a celebração do termo de compromisso de que trata o inciso II do caput do art.
3o desta Lei.
prazo não superior a 6 (seis) meses e por menção de aprovação final, conforme
apresenta os arts. 3ª, § 1º4, e art. 7º, IV5 da lei de estágio.
Por fim, o último requisito formal a ser analisado diz respeito à obser-
vância de regras contratuais e direitos do estagiário, regras estas que devem
estar contidas no termo de compromisso elaborado entre a parte concedente e
o estudante. Este rol de regras pode ser divido em duas categorias, isto é, regras
e vantagens imperativas e regras e vantagens meramente facultativas.
De acordo com a Lei de Estágio, tratam-se de regras e vantagens impe-
rativas do novo contrato de estágio aquelas que são imprescindíveis, ou seja,
elas precisam estar presentes no termo de compromisso para que a relação seja
válida. São estas, de acordo com artigo 10º, incisos I e II, § 1º e 2º da Lei nº
11.788/2008:
Art. 10. A jornada de atividade em estágio será definida
de comum acordo entre a instituição de ensino, a parte
concedente e o aluno estagiário ou seu representante legal,
devendo constar do termo de compromisso ser compatível
com as atividades escolares e não ultrapassar:
I – 4 (quatro) horas diárias e 20 (vinte) horas semanais, no
caso de estudantes de educação especial e dos anos finais
do ensino fundamental, na modalidade profissional de
educação de jovens e adultos;
II – 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais, no
caso de estudantes do ensino superior, da educação profis-
sional de nível médio e do ensino médio regular.
§ 1o O estágio relativo a cursos que alternam teoria e prá-
tica, nos períodos em que não estão programadas aulas
presenciais, poderá ter jornada de até 40 (quarenta) horas
semanais, desde que isso esteja previsto no projeto peda-
gógico do curso e da instituição de ensino.
§ 2o Se a instituição de ensino adotar verificações de apren-
dizagem periódicas ou finais, nos períodos de avaliação, a
carga horária do estágio será reduzida pelo menos à metade,
segundo estipulado no termo de compromisso, para garantir
o bom desempenho do estudante.
4
Art. 3o O estágio, tanto na hipótese do § 1o do art. 2o desta Lei quanto na prevista no § 2o do mesmo
dispositivo, não cria vínculo empregatício de qualquer natureza, observados os seguintes requisitos:
1 O estágio, como ato educativo escolar supervisionado, deverá ter acompanhamento efetivo pelo professor
§ o
orientador da instituição de ensino e por supervisor da parte concedente, comprovado por vistos nos relatórios
referidos no inciso IV do caput do art. 7o desta Lei e por menção de aprovação final.
5
Art. 7o São obrigações das instituições de ensino, em relação aos estágios de seus educandos:
IV
– exigir do educando a apresentação periódica, em prazo não superior a 6 (seis) meses, de relatório das
atividades;
6
Art. 1o Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à
preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições
de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do
ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos.
§ 1o O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de integrar o itinerário formativo do educando.
§ 2o O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e à contextualização
curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o trabalho.
7
Art. 9º, III; Art. 3º, § 1º da Lei n. 11.788/2008
8
Art. 9º, VII da Lei n. 11.788/2008
6. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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doutrina/texto.asp?id=12288. Acesso em: 17 mar. 2022.
1. INTRODUÇÃO
figuração técnica, quer dizer, de uma nova relação com o cosmos, um novo estilo
de humanidade é inventado”. Trata-se da chamada Revolução Tecnológica 4.0.
No dizer de Barroso (2022), há uma revolução digital em curso com
muitas implicações importante para nossas vidas, como inteligência artificial,
engenharia genética, impressão em 3D, internet das coisas, algoritmos, com
diversas novas palavras como Google, Facebook, WhatsApp, Instagram, Waze,
Netflix, Apple, Tinder etc.
Essa mudança iniciou-se na segunda metade do Século XX. De fato, no
ano de 1969, surgiu a internet, inicialmente com o objetivo de interligar a rede de
pesquisa das universidades. Com o passar nos anos, sobretudo na última década do
Século XX, a internet começou a se popularizar e a ser utilizada para outras finali-
dades, inclusive comerciais, com impactos nas relações de trabalho. Desde, então,
a utilização tem sido crescente e hoje é utilizada para as mais diversas finalidades.
Santos (2020) lembra que houve dois períodos marcantes desde o surgi-
mento da internet: a internet antes do surgimento das redes sociais e a internet
após o surgimento das redes sociais. Acrescenta que as características de ambos
são bem diferentes. Antes do surgimento das redes sociais, a internet era como
um mar aberto, em que as pessoas escolhiam onde queria navegar. Nessa época,
diz que as pessoas eram consumidoras e as informações, produtos.
Com o surgimento das redes sociais como um subproduto da Revolução
Tecnológica 4.0, a navegação na internet mudou radicalmente: as pessoas, além
de consumidoras, passaram a produzir dados e informações a serem vendidas
para outras pessoas. Foi nesse contexto que surgiu a palavra prossumidor, em que
o usuário da internet se tornou, ao mesmo tempo um consumidor e produtor.
E continua Santos (2020), com as redes sociais, as pessoas passaram a
ser guiadas por algoritmos de navegação da internet, com base em informações
que as corporações já dispõem sobre ele, inclusive perfil psicológico, desejos,
fragilidades, ficando fácil dizer o querem ouvir e criar bolhas com criação de
filtros e direcionamento de notícias e informações, muitas fezes falsas.
Atualmente, a internet conta com cerca de bilhões de usuários1 e viver
fora dela está cada dia mais difícil. Disso tudo decorre um grande problema: o
armazenamento de dados e o controle do fluxo de informações por um número
pequeno de empresas, que ficam a cada dia mais poderosa.
Por trás desse processo se encontra a evolução computacional, com a
criação e tratamento de enormes bancos de dados, com informações sobre
1
INSPER. Mundo se aproxima da marca de 5 bilhões de usuários de internet, 63% da população. Disponível
em: https://www.insper.edu.br/noticias/mundo-se-aproxima-da-marca-de-5-bilhoes-de-usuarios-de-inter-
net-63-da-populacao/. Acesso em: 27 jun. 2022.
muitos detalhes da vida das pessoas, muitas vezes sem que se percebam que
repassaram tais informações.
A situação da coleta, processamento e utilização de dados é tão relevante
que Couldry e Mejias2 afirmam que, no capitalismo atual da Revolução Tecno-
lógica, há um novo tipo de colonialismo, o colonialismo de dados, referindo-se a
captura e controle da vida humana mediante a apropriação de dados de modo a
converter em vantagens financeiras. Tudo isso, segundo COUDRY e MEJIAS,
porque as pessoas estão passando para um pequeno número de empresas dados
de suas vidas sem que se deem contas disso.
Analisando as transformações que estão ocorrendo, a Organização das
Nações Unidas, através do Relatório da Economia Digital de 20193, concluiu
que os avanços digitais levaram à criação de uma enorme riqueza em curto
espaço de tempo, mas tal riqueza está concentrada um pequeno número de
países, empresas e indivíduos.
Tudo isso tem consequência nas relações de trabalho em todo o mundo
e o próprio Direito do Trabalho. Como ensinam Meireles e Rocha (2020), “a
4ª Revolução Industrial é um terremoto no direito do trabalho e até mesmo
no processo do trabalho, abalando as suas respectivas estruturas, obrigando os
intérpretes, operadores revisitarem toda a genealogia desse ramo especializado”.
Uma dessas consequências é o surgimento do trabalho on-demand (trabalho
sob demanda por aplicativos) e do crowdsourcing, palavra formada da combinação
das palavras crowd (multidão) e outsourcing (externalização), que, segundo o criador
Jeff Howe, refere-se ao “ato de externalizar um trabalho anteriormente realizado
por um determinado agente (um funcionário, um trabalhador independente ou
outra empresa) sob a forma de um convite aberto dirigido a um grupo geralmente
vasto e indefinido de pessoas, normalmente através da Internet”4.
De fato, está em curso um processo de uberização das relações de trabalho,
no qual, segundo Antunes (2020), “as relações de trabalho são crescentemente
individualizadas e invisibilizadas, assumindo, assim, a aparência de ‘prestação de
serviços’ e obliterando as relações de assalariamento e de exploração do trabalho”.
E acrescenta o sociólogo, citando PRAUN, que “os intermitentes globais
tendem se expandir ainda mais, uma vez que o processo tecnológico-organiza-
cional-informacional eliminará de forma crescente uma quantidade incalculável
2
Citado por Teixeira (2020).
3
ONU. Relatório de Economia Digital de 2019. Disponível em: https://unctad.org/webflyer/digital-eco-
nomy-report-2019. Acesso em: 18 jun. 2022.
4
OIT. Relatório As plataformas digitais e o futuro do trabalho Promover o trabalho digno no mundo
digital. Disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---europe/---ro-geneva/---ilo-lisbon/
documents/publication/wcms_752654.pdf. Acesso em: 18 jul. 2022.
15
OIT. Relatório As plataformas digitais e o futuro do trabalho Promover o trabalho digno no mundo
digital. Disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---europe/---ro-geneva/---ilo-lisbon/
documents/publication/wcms_752654.pdf. Acesso em: 18 jun. 2022.
4. A UTILIZAÇÃO DE JURIMETRIA E A
CELEBRAÇÃO DE ACORDOS PARA
CRIAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA ARTIFICIAL
No âmbito judicial brasileiro, a luta está sendo travada dia a dia, envol-
vendo trabalhadores, plataformas digitais e operadores de direito, que muitas
empresa exigia a permanência do Reclamante conectado à plataforma digital para prestar os serviços, sob
risco de descredenciamento da plataforma digital (perda do trabalho); 3) a empresa avaliava continuamente
a performance dos motoristas, por meio de um controle telemático e pulverizado da qualidade dos serviços,
a partir da tecnologia da plataforma digital e das notas atribuídas pelos clientes/passageiros ao trabalhador.
Tal sistemática servia, inclusive, de parâmetro para o descredenciamento do motorista em face da plataforma
digital - perda do trabalho -, caso o obreiro não alcançasse uma média mínima; 4) a prestação de serviços se
desenvolvia diariamente, durante o período da relação de trabalho – ou, pelo menos, com significativa inten-
sidade durante os dias das semanas -, com minucioso e telemático controle da Reclamada sobre o trabalho e
relativamente à estrita observância de suas diretrizes organizacionais pelo trabalhador, tudo efetivado, aliás,
com muita eficiência, por intermédio da plataforma digital (meio telemático) e mediante a ativa e intensa,
embora difusa, participação dos seus clientes/passageiros”. TST. 3ª Turma. RR - 100353-02.2017.5.01.0066.
Relator: Mauricio Godinho Delgado. Julgamento: 06/04/2022. Publicação: 11/04/2022.
23
LITIGÂNCIA MANIPULATIVA DA JURISPRUDÊNCIA E PLATAFORMAS DIGITAIS
DE TRANSPORTE: LEVANTANDO O VÉU DO PROCEDIMENTO CONCILIATÓRIO
ESTRATÉGICO
Adriana Goulart de Sena Orsini
Ana Carolina Reis Paes Leme
Revista eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia: vol. 9, n. 13 (maio 2021).
Disponível em https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/188571
24
TRABALHO POR MEIO DE PLATAFORMAS DIGITAIS (crowd economy, gig economy, free-
lance economy - economia sob demanda). VÍNCULO DE EMPREGO. POSSIBILIDADE. ACORDO
CELEBRADO NO DIA ANTERIOR À SESSÃO DE JULGAMENTO. NÃO HOMOLOGAÇÃO.
JURIMETRIA. (...) A estratégia da reclamada de celebrar acordo às vésperas da sessão de julgamento confe-
re-lhe vantagem desproporcional porque assentada em contundente fraude trabalhista extremamente lucrativa,
que envolve uma multidão de trabalhadores e é propositadamente camuflada pela aparente uniformidade
jurisprudencial, que disfarça a existência de dissidência de entendimento quanto à matéria, aparentando que
a jurisprudência se unifica no sentido de admitir, a priori, que os fatos se configuram de modo uniforme em
todos os processos (jurimetria). 6. Entretanto, o art. 7° do CPC assegura às partes “paridade de tratamento
em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à
aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório”. O contraditório deve,
portanto, garantir a possibilidade de influenciar o julgador no momento da decisão. Nesse contexto, veri-
fica-se a incompatibilidade entre a observância do princípio da cooperação e o abuso do direito processual
caracterizado pela adoção dessa estratégia de manipulação da jurisprudência. 7. Reitere-se que não se está a
desestimular ou desmerecer os meios consensuais de resolução dos conflitos, cuja adoção é estimulada pelo
CPC. Trata-se de mecanismo capaz de produzir pacificação social de forma célere e eficaz, cuja adoção é
incentivada pelo Poder Judiciário, que tem investido na mediação e na conciliação. Na hipótese, entretanto,
5. A DISCUSSÃO DO RECONHECIMENTO DO
VÍNCULO NO ÂMBITO DOS PROCESSOS
COLETIVOS
brio de forças, ainda mais quando se tem do outro lado as plataformas digitais,
multinacionais que utilizam o que há de mais moderno em termos de tecnologia
de informação. O trabalhador é a parte hipossuficiente. Assim, a associação de
trabalhadores é fator essencial para a busca de melhores condições de vida e
trabalho em razão da igualdade de forças.
Desse modo, a associação sindical é um meio de promover melhores
condições de vida compatíveis com a dignidade humana e indispensável a todo
regime democrático autêntico. No caso dos trabalhadores de plataformas digitais,
essa luta através de sindicato se justifica mais ainda por causa da utilização de
estratégica sofisticada de criação de jurisprudência artificial.
Antones (2020) afirma que
Um dos primeiros desafios dos sindicatos e dos movimen-
tos sociais de classe é compreender a nova morfologia do
trabalho, com suas maiores complexificação e fragmen-
tação. Uma classe trabalhadora que simultaneamente se
reduz em vários segmentos e se amplia em outros, e que
é também muito mais segmentada, heterogênea, tendo
clivagens de gênero, raça, etnia, com fortes consequências
em sua ação concreta, em suas formas de representação e
organização sindical.
A mobilização dos trabalhadores de plataformas digitais tem sido difícil
por causa de fragmentação da atividade em muitos seguimentos. Machado
lembra que
Não há registro de experiência no Brasil de atuações visando
ao estabelecimento de processo de negociação coletiva, ou
mesmo a reivindicação do estabelecimento de um código
de conduta pelas plataformas digitais, com padrões de
trabalho justo, que reforcem as melhores práticas na relação
entre plataformas digitais e seus prestadores de serviços.
Essa dificuldade tem sido ampliada por conta da atuação das plataformas
no sentido da desmobilização dos trabalhadores. É o caso da iFood que, segundo
denúncias veiculadas através da Agência Pública31, está praticando ato sindical contra
o movimento dos trabalhadores, com criação de perfis falsos, infiltração de pessoas
da empresa em manifestação para desmobilizar ou desviar a atenção e ataques às
imagens dos sindicalistas, inclusive com contratação de agência de publicidade.
Em síntese, a organização sindical tem se mostrado difícil nesse contexto
de corrosão das relações de trabalho, ainda mais com a conduta antissindical
7. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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The Intercept Brasil - Máquina de acordos: Como a Uber se blinda para impedir que a
justiça reconheça vínculo trabalhista de motoristas. Disponível em https://theintercept.
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culo-trabalhista-de-motoristas/. Acesso em 18/06/2022.
TRT 15; PROCESSO N. 0011710-15.2019.5.15.0032, Des. Relator JOÃO BATISTA
MARTINS CÉSAR 6ª turma; DJE 26/04/2021.
VAIDHYANATHAN, Siva. A googlelização de tudo. Editora Cultrix. 1ª edição. São
Paulo: agosto 2011.
Fernando Pasquini1
Ney Maranhão2
1
Fernando Pasquini é Professor no Curso de Graduação em Engenharia Biomédica e Pós-Graduação em
Engenharia Biomédica na Universidade Federal de Uberlândia. Doutor em Engenharia Elétrica – subárea
Sistemas Dinâmicos – pela Escola de Engenharia de São Carlos/Universidade de São Paulo (EESC-USP),
com estágio de pesquisa na Universidade de Pittsburgh (EUA). Pesquisador no Núcleo de Inovação e Ava-
liação Tecnológica em Saúde (NIATS-UFU). Lattes: http://lattes.cnpq.br/9047298948861003 / ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-2259-7229 / E-mail: fernando.pasquini@ufu.br
2
Ney Maranhão é Professor de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da Universidade Federal
do Pará. Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Universidade
Federal do Pará (Mestrado e Doutorado). Doutor em Direito do Trabalho pela Universidade de São Paulo,
com estágio de Doutorado-Sanduíche junto à Universidade de Massachusetts (Boston/EUA). Especialista
em Direito Material e Processual do Trabalho pela Universidade de Roma – La Sapienza (Itália). Mestre em
Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pará. Professor instrutor da Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (ENAMAT/TST). Professor convidado em diversas Escolas
Judiciais de Tribunais Regionais do Trabalho. Professor Coordenador do Grupo de Pesquisa “Contempora-
neidade e Trabalho” – GPCONTRAB (UFPA/CNPQ). Titular da Cadeira nº 30 da Academia Brasileira de
Direito do Trabalho. Titular da Cadeira nº 25 da Academia Paraense de Letras Jurídicas. Juiz Titular de Vara
da Justiça do Trabalho da 8ª Região (PA/AP). Lattes: http://lattes.cnpq.br/5894619075517595 / ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-8644-5902 / E-mail: ney.maranhao@gmail.com / Facebook: Ney Maranhão
II / Instagram: @neymaranhao / Youtube: Prof. Ney Maranhão / Twitter: @ney_maranhao
1. INTRODUÇÃO
tralidade da tecnologia quanto a fins (a tecnologia, em si, não seria nem boa
nem má, mas apenas seu uso?), quanto a valores (a tecnologia, em sua criação
e aplicação, estaria isenta de diretrizes axiológicas?) e quanto à subjetividade (a
tecnologia poderia ser usada de forma objetiva, metódica e distanciada, sem
interferências da visão de mundo de seu usuário?).
Decerto, as três formas de colocar a questão são muito próximas: os fins
pressupõem valores e subjetividade; os valores pressupõem fins e subjetividade;
e a subjetividade pressupõe fins e valores. No entanto, realizamos essa divisão
tendo em vista uma sistematização que seja didática em seus propósitos, visando
a melhor ensinar e argumentar sobre a questão para pessoas não familiarizadas
com o assunto. Ainda assim, permanecemos conscientes de que a distribuição
dos argumentos encontrados na literatura nessas três categorias pode não ser
perfeita, ou seja, muitas vezes um argumento ou reflexão pode dizer respeito à
mais de uma categoria ou mesmo colocar a questão de uma forma que se refira
a elas de forma indireta. Reiteramos, porém: a nosso ver, esse alerta não retira
a valia didática desse método triangular de exposição do tema.
Como é de fácil inferência, eis nosso problema de pesquisa: a tecnolo-
gia é verdadeiramente neutra? Nossa hipótese sinaliza no sentido de refutar a
narrativa tradicional da neutralidade tecnológica. O objetivo geral deste artigo
consiste em sistematizar argumentos científicos em torno do que temos por três
dimensões da não-neutralidade tecnológica. Os objetivos específicos dizem com
a exposição detalhada de que a tecnologia não é neutra seja quanto a fins, seja
quanto a valores, seja quanto à subjetividade. As seções que se seguem espelham
exatamente esse arranjo argumentativo tridimensional. A pesquisa é qualitativa,
eminentemente bibliográfica, tendo sido utilizado o método hipotético dedutivo.
7
WINNER, Langdon. Autonomous technology: technics-out-of-control as a theme in political thought.
Mit Press, 1978.
neutra com relação a fins, mas requer que o sujeito os ajuste de acordo com a
configuração institucional e axiológica da prática científica corrente.
Os conceitos de adaptação reversa e monismo da técnica levantam a ques-
tão da possibilidade de uma verdadeira pluralidade de fins na prática técnica
(e científica). A existência de uma rede sociotécnica estável e concretizada
materialmente faz surgir uma certa permanência ou obstinação (obduracy)
de certos fins e valores17, inviabilizando a expressão de fins alternativos cujas
características não sejam contempladas pelos meios disponíveis. Logo, ao ditar
certos fins, a tecnologia enfatiza determinados escopos. Com isso, naturalmente,
ignora, invisibiliza, ridiculariza ou mesmo destrói outros mais. Perceba-se, como
destaca Alberto Cupani, que, no âmbito da sociedade industrial, o trabalho
produtivo é por demais valorizado, mas a consagração a Deus ou a dedicação
à arte, por exemplo, não o são. Assim, “bastaria essa seletividade para suspeitar
que a tecnologia não é neutra com relação a um dado panorama cultural”18.
Esse problema também se repete no caso da não neutralidade quanto a valores
e quanto ao sujeito, aspectos que serão abordados mais adiante.
Trazendo esses aportes teóricos para o campo das plataformas digitais de
trabalho, vale pontuar, por primeiro, que estamos no âmago de uma chamada
“quarta revolução industrial”, cujos avanços tecnológicos na seara digital têm se
revelado de impactação verdadeiramente disruptiva. Essas tecnologias ultrapassam o
mero processo de digitalização, sendo uma forma muito mais complexa baseada na
combinação de várias tecnologias de forma totalmente novidadeira, caracterizada,
basicamente, pela fusão das esferas física, digital e biológica19. Nessa nova ordem
de coisas, exsurgem as plataformas digitais, poderosos agentes econômicos20 que
viabilizam a conexão de multidões e têm invadido todas as dimensões da vida
humana – do lazer ao comércio, da saúde à política, da alimentação ao transporte,
do amor ao trabalho. No campo laboral, propriamente, as plataformas digitais de
trabalho constituem ferramentas tecnológicas mediadoras do trabalho humano à
base do processamento de enormes volumes de dados, meticulosas programações
algorítmicas e acesso mediante consentimento por simples adesão21. Sua dinâmica
17
Vide: DOTSON, Taylor. Technically together: reconstructing community in a networked world. MIT
Press, 2017, capítulo 7; MILLER, Boaz. Is Technology Value-Neutral? Science, Technology, & Human Values,
v. 46, n. 1, 2021, p. 53-80.
18
CUPANI, Alberto. Filosofia da tecnologia: um convite. 3. ed. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2017, p. 189.
19
SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2016, p. 13 e 23.
20
Quanto à dinâmica econômica das plataformas digitais, confira-se: SRNICEK, Nick. Platform capitalism.
Cambridge: Polity Press, 2017; ZUBOFF, Shoshana. The age of the surveillance capitalism: the fight for a
human future at the new frontier of power. New York: PublicAffairs, 2019.
21
A respeito, vide, entre outros: VAN DIJCK, José; POELL, Thomas; DE WAAL, Martijn. The platform
society. New York: Oxford University Press, 2018, p. 04; DE STEFANO, Valerio. The rise of the — just-in-
-time workforcel: on-demand work, crowdwork, and labor protection in the gig-economy. Comparative Labor
Law & Policy Journal, v. 37, n. 3, 2016, p. 471-504; MARANHÃO, Ney; SAVINO, Thiago Amaral Costa.
Tecnologia e disrupção: o mundo do trabalho no contexto da quarta revolução industrial. In: LEAL, Carla
Reita Faria; MARANHÃO, Ney e PADILHA, Norma Sueli. (Orgs). Sociedade, tecnologia e meio ambiente
do trabalho: discussões contemporâneas. Mato Grosso: EdUFMT, 2021.
22
A respeito da intensa opacidade algorítmica que marca o funcionamento das plataformas digitais, confi-
ra-se, entre outros: PASQUALE, Frank. The black box society: the secret algorithms that control Money and
information. Harvard University Press, 2015.
23
ORGANIZACIÓN INTERNATIONAL DEL TRABAJO – OIT. Las plataformas digitales y el futuro
del trabajo: cómo fomentar el trabajo decente en el mundo digital. Organización Internacional del Trabajo
– Ginebra: OIT, 2019.
24
INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION – ILO. World employment and social outlook 2021:
The role of digital labour platforms in transforming the world of work. International Labour Office – Geneva:
ILO, 2021, p. 214.
25
WOODCOCK, Jamie; GRAHAM, Mark. The gig economy: a critical introduction. Cambridge: Polity
Press, 2020, p. 136.
26
PRASSL, Jeremias. Human as a service: the promise and perils of work in the gig economy. New York:
Oxford University Press, 2018, p. 54.
27
CAÑIGUERAL, Albert. El trabajo ya no es lo que era: nuevas formas de trabajar, otras maneras de vivir.
Barcelona: Conecta, 2020, p. 63.
e reclamações, escopos que só poderão ser realizados se, na forma e nos limites
em que permitidos by design pela tecnologia. Portanto, a tecnologia, em si, pode,
sim, ser considerada boa ou má, justa ou injusta, independentemente de seu uso.
Bem se vê, nesses singelos exemplos, como a tecnologia não é neutra
quanto a fins, especialmente em relações jurídicas travadas no bojo do capi-
talismo de plataforma28, porquanto detentora do poderoso condão de inibir
condutas, influenciar propósitos e frustrar intenções – invertendo, não raro, a
regra ordinária de que meios devem se ajustar a fins.
28
SRNICEK, Nick. Platform capitalism. Cambridge: Polity Press, 2017.
29
MILLER, Boaz. Is Technology Value-Neutral? Science, Technology, & Human Values, v. 46, n. 1, 2021, p. 53-80.
30
BIJKER, Wiebe E. Of bicycles, bakelites, and bulbs: toward a theory of sociotechnical change. MIT press, 1997.
31
WINNER, Langdon. Do artifacts have politics? Daedalus, 1980, p. 121-136.
32
DOTSON, Taylor. Technically together: reconstructing community in a networked world. MIT Press,
2017, p. 18.
33
MILLER, Boaz. Is Technology Value-Neutral? Science, Technology, & Human Values, v. 46, n. 1, 2021, p. 53-80.
34
A responsabilidade de um projetista pela incorporação consciente ou inconsciente de valores em um
projeto é assunto separado da ética e não será abordado aqui.
35
LACEY, Hugh. Valores e atividade científica 1. São Paulo: Editora 34, 2008.
36
HUI, Yuk. Tecnodiversidade. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
37
VAN DIJCK, José; POELL, Thomas; DE WAAL, Martijn. The platform society. New York: Oxford
University Press, 2018, p. 03.
41
IHDE, Don. Technics and praxis: a philosophy of technology. Springer Science & Business Media, 2012.
42
VERBEEK, Peter-Paul. Moralizing technology: understanding and designing the morality of things.
University of Chicago Press, 2011, p. 30.
43
VERBEEK, Peter-Paul. Moralizing technology: understanding and designing the morality of things.
University of Chicago Press, 2011, p. 30.
44
VERBEEK, Peter-Paul. Moralizing technology: understanding and designing the morality of things.
University of Chicago Press, 2011, p. 40.
45
Como nota Verbeek, essa constatação também coloca a questão da moralidade mais próxima das vertentes
de ética de virtudes, como a aristotélica, que não se preocupa primariamente com o conteúdo do certo e do
errado, mas com a boa vida e como as instituições sociais e políticas podem ser moldadas para levar a ela.
Nesse particular, confira-se: VERBEEK, Peter-Paul. Moralizing technology: understanding and designing the
morality of things. University of Chicago Press, 2011, p. 31; VALLOR, Shannon. Technology and the virtues:
A philosophical guide to a future worth wanting. Oxford University Press, 2016, cap. 2.
46
Retomando o assunto da divisão entre fins e meios, Latour lamenta “uma divisão arcaica entre mora-
listas tomando conta dos fins e os tecnologistas controlando os meios”, algo que precisaria ser superado.
Confira-se: LATOUR, Bruno; VENN, Couze. Morality and technology. Theory, culture & society, v. 19, n.
5-6, 2002, p. 247-260. Segundo ele, o surgimento da modernidade é marcado por uma “estranha invenção
do mundo exterior”, de tal maneira que “enquanto o humanismo for construído por meio de um contraste
com o objeto (...) nem o humano e nem o não-humano podem ser compreendidos” (LATOUR, Bruno.
Nunca fomos modernos. Editora Unesp, 2009, p. 3). Por fim, ele também reclama de uma percepção falsa de
que a moralidade parece ausente na sociedade tecnológica atual – o que acontece, na verdade, é que ela está
plenamente incorporada no ambiente material, direcionando nossa ação e percepção. Vide: LATOUR, Bruno.
Where Are the Missing Masses? The Sociology of a Few Mundane Artifacts. Shaping technology/building
society: studies in sociotechnical change, 1992, p. 225-228.
47
MILLER, Boaz. Is Technology Value-Neutral? Science, Technology, & Human Values, v. 46, n. 1, 2021, p. 53-80.
48
REIJERS, Wessel; COECKELBERGH, Mark. Narrative and technology ethics. Palgrave MacMillan,
2020, p. 3.
49
VALLOR, Shannon. Technology and the virtues: a philosophical guide to a future worth wanting. Oxford
University Press, 2016.
50
MITCHAM, Carl. On Character and Technology. In: HIGGS, Eric; LIGHT, Andrew; STRONG,
David. Technology and the good life? University of Chicago Press, 2010. p. 126-148.
51
CARR, Nicholas. Geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros. Rio de
Janeiro: Agir, 2019.
nossas capacidades cognitivas; Sherry Turkle52, por sua vez, nota as mudanças
nas formas de se relacionar com outras pessoas. Neil Postman53 expandindo
também a obra de Marshall McLuhan e configurando a área de estudos da mídia,
também é conhecido por explorar as formas nas quais o meio de comunicação
altera radicalmente o caráter – “o meio é a mensagem”. James K. A. Smith54,
partindo de uma abordagem teológica e agostiniana, observa como tecnologias
podem configurar “liturgias culturais”, moldando hábitos, imaginações e desejos
(ou “amores”) por meio de estruturas narrativas (tomando como base a obra de
Paul Ricoeur55) e formas de existência corporal (tomando como base as obras
de Merleau-Ponty e Pierre Bourdieu). Por fim, a obra de Albert Borgmann56 é
reconhecida como essencialmente um esforço de investigar como a tecnologia
cumpre um papel na constituição e busca da boa vida, explorando a questão do
engajamento humano com “coisas e práticas focais” e sua ameaça por meio de
um paradigma de dispositivo57.
Decididamente, tecnologia não é neutra também quanto à subjetividade
humana. Imagine-se a seguinte cena (não raro reverberada em processos traba-
lhistas): com revólver sobre a mesa, gerente de empresa faz pagamento salarial e
exige assinatura de recibo cujo valor impresso no documento não condiz com o
verdadeiramente pago. Um a um, silenciosamente, os trabalhadores recebem o
dinheiro, contam as cédulas e assinam o documento, agradecendo em seguida.
Ora, entre tantos elementos materiais e imateriais que compõem essa cena, sem
dúvida o mais insinuante foi exatamente o revólver, artefato tecnológico que, ao
fim e ao cabo, fez toda a diferença nas ações e reações de cada qual: seja para a
ousadia do gerente, seja para a passividade dos trabalhadores.
No tocante às plataformas digitais, essa dinâmica de influência tecnoló-
gica na subjetividade humana não se dá de modo diferente. Em verdade, vários
estudos têm apontado a enorme capacidade da tecnologia digital em influir e
moldar comportamentos e percepções de mundo. Luciano Floridi, por exemplo,
explana sobre as três eras do desenvolvimento humano: pré-história (sem tec-
nologia da informação e comunicação), história (com tecnologia da informação
52
TURKLE, Sherry. Life on the screen: identity in the age of the Internet. Simon and Schuster, 2011.
53
POSTMAN, Neil. Amusing ourselves to death: Public discourse in the age of show business. Penguin, 2006.
54
SMITH, James K. A. Imaginando o reino: a dinâmica do culto. São Paulo: Vida Nova, 2019.
55
Reijers e Coeckelbergh também se baseiam na obra de Ricoeur para propor uma ética narrativa para a
tecnologia. Esta, conforme argumentam, expande a teoria da mediação tecnológica de Peter-Paul Verbeek e
cobre alguns aspectos ignorados inicialmente, como os elementos temporais e sociais que estão envolvidos
na forma de uma prática tecnológica. Vide: REIJERS, Wessel; COECKELBERGH, Mark. Narrative and
technology ethics. Palgrave MacMillan, 2020.
56
BORGMANN, Albert. Technology and the character of contemporary life: a philosophical inquiry. University
of Chicago Press, 1984.
57
STRONG, David; HIGGS, Eric. Borgmann’s Philosophy of Technology. In: HIGGS, Eric; LIGHT,
Andrew; STRONG, David. Technology and the good life? University of Chicago Press, 2010, p. 17-37.
58
FLORIDI, Luciano. The 4th revolution: how the infosphere is reshaping human reality. Oxford University
Press, 2014, p. 03 e 59.
59
BORGES-DUARTE, Irene. Martin Heidegger: a técnica como Ge-stell. De facto antropológico a
paradigma epocal da modernidade tardia. In: OLIVEIRA, Jelson (org.). Filosofia da tecnologia: seus autores
e seus problemas. Caxias do Sul, RS: Educs, 2020, p. 166.
60
HOFFMANN-RIEM, Wolfgang. Teoria geral do direito digital: transformação digital: desafios para o
direito. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 39 e 70. De fato, como pontua Renan Bernardi Kalil, in verbis: “O
algoritmo é considerado invisível, apesar de integrado em diversos aspectos do cotidiano das pessoas, torna-se
uma caixa preta e é afastado do escrutínio do público, passando a ser encarado como um elemento natural.
Contudo, não há neutralidade no gerenciamento de informações que dependem de escolhas procedimentais
de uma máquina programada por pessoas para automatizar julgamentos que emulam seres humanos por
aproximação” (KALIL, Renan Bernardi. A regulação do trabalho via plataformas digitais. São Paulo: Blucher,
2020, p. 88).
61
PRASSL, Jeremias. Humans as a service: the promise and perils of work in the gig economy. Oxford
University Press, 2018, p. 56-57.
62
CRAWFORD, Matthew B. The world beyond your head: on becoming an individual in an age of distraction.
Farrar, Straus and Giroux, 2015.
63
De fato, segundo esse filósofo, o resultado desse esforço culminou na filosofia emotivista, pregando que
juízos morais e de valor são nada senão expressões de preferências ou manifestações de atitude ou sentimento.
Também Herman Dooyeweerd, prolífico jusfilósofo holandês do século XX, lançou duras e bem fundamentadas
críticas sobre a alegada autonomia do pensamento filosófico. A respeito, vide, entre outros títulos do autor:
DOOYEWEERD, Herman. Raízes da cultura ocidental: as opções pagã, secular e cristã. São Paulo: Cultura
Cristã, 2015; DOOYEWEERD, Herman. No crepúsculo do pensamento ocidental: estudo sobre a pretensa
autonomia do pensamento filosófico. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2018.
66
MACINTYRE, Alasdair. After virtue. Gerald Duckworth & co. Ltd., 1981, p. 74. Jaques Ellul, também
comentando sobre esses casos, ressalta o ideal de amoralidade da técnica: a ideia de que é possível ser eficiente
e eficaz, resolvendo problemas, sem apelo a concepções particulares de valor. Vide: ELLUL, Jacques. A técnica
e o desafio do século. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.
67
WHITBECK, Caroline. Ethics in engineering practice and research. Cambridge University Press, 2011 apud
VALLERO, Daniel. Biomedical ethics for engineers: ethics and decision making in biomedical and biosystem
engineering. Elsevier, 2011, p. 14.
68
Vide a descrição do processo de engenharia em: VERKERK, Maarten J.; HOOGLAND, Jan; VAN DER
STOEP, Jan; DE VRIES, Marc J. Filosofia da tecnologia: uma introdução. Viçosa, Minas Gerais: Ultimato,
2018, capítulo 7.
69
WINNER, Langdon. Brandy, cigars and human values. In: The whale and the reactor: a search for limits
in an age of high technology. University of Chicago Press, Chicago, 1986, p. 155-163.
70
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio
de Janeiro, Editora Record, 1999.
71
O diagnóstico é feito por Hugh Lacey como uma estratégia que guia a pesquisa científica e consequente
desenvolvimento tecnológico. Vide: LACEY, Hugh. Valores e atividade científica 1. São Paulo: Editora 34, 2008.
72
Vide BORGMANN, Albert. Crossing the postmodern divide. University of Chicago Press, 2013.
6. CONCLUSÃO
73
Vide a exposição de Charles Taylor sobre o sujeito moderno em: TAYLOR, Charles. As fontes do self: a
construção da identidade moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1997.
REFERÊNCIAS
74
POSTMAN, Neil. Tecnopólio: a rendição da cultura à tecnologia. Tradução de Reinaldo Guarany. São
Paulo: Nobel, 1994, p. 14.
BÍBLIA SAGRADA. Novo Testamento, Atos dos Apóstolos, capítulo 17, versículo
28. Bíblia de Estudo Almeida. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição revista e
Atualizada. Barueri/SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
BIJKER, Wiebe E. Of bicycles, bakelites, and bulbs: toward a theory of sociotechnical
change. MIT press, 1997.
BORGES-DUARTE, Irene. Martin Heidegger: a técnica como Ge-stell. De facto
antropológico a paradigma epocal da modernidade tardia. In: OLIVEIRA, Jelson (org.).
Filosofia da tecnologia: seus autores e seus problemas. Caxias do Sul, RS: Educs, 2020.
BORGMANN, Albert. Technology and the character of contemporary life: a philosophical
inquiry. University of Chicago Press, 1984.
__________. Crossing the postmodern divide. University of Chicago Press, 2013.
CAÑIGUERAL, Albert. El trabajo ya no es lo que era: nuevas formas de trabajar, otras
maneras de vivir. Barcelona: Conecta, 2020.
CARR, Nicholas. Geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos
cérebros. Rio de Janeiro: Agir, 2019.
CRAWFORD, Matthew B. The world beyond your head: On becoming an individual
in an age of distraction. Farrar, Straus and Giroux, 2015.
CUPANI, Alberto. Filosofia da tecnologia: um convite. 3. ed. Florianópolis: Ed. da
UFSC, 2017.
DE STEFANO, Valerio. The rise of the — just-in-time workforcel: on-demand work,
crowdwork, and labor protection in the gig-economy. Comparative Labor Law & Policy
Journal, v. 37, n. 3, 2016.
DOOYEWEERD, Herman. Raízes da cultura ocidental: as opções pagã, secular e cristã.
São Paulo: Cultura Cristã, 2015.
__________. No crepúsculo do pensamento ocidental: estudo sobre a pretensa autonomia
do pensamento filosófico. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2018.
DOTSON, Taylor. Technically together: reconstructing community in a networked
world. MIT Press, 2017.
__________. Technology, choice and the good life: Questioning technological liberalism.
Technology in Society, v. 34, n. 4, p. 326-336, 2012.
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FLORIDI, Luciano. The 4th revolution: how the infosphere is reshaping human reality.
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GOUDZWAARD, Bob. Capitalismo e progresso: um diagnóstico da sociedade ocidental.
Viçosa: Ultimato, 2019.
VALLERO, Daniel. Biomedical ethics for engineers: ethics and decision making in bio-
medical and biosystem engineering. Elsevier, 2011.
VALLOR, Shannon. Technology and the virtues: A philosophical guide to a future worth
wanting. Oxford University Press, 2016.
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York: Oxford University Press, 2018.
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of things. University of Chicago Press, 2011.
VERKERK, Maarten J.; HOOGLAND, Jan; VAN DER STOEP, Jan; DE VRIES,
Marc J. Filosofia da tecnologia: uma introdução. Viçosa, Minas Gerais: Ultimato, 2018.
WINNER, Langdon. Autonomous technology: technics-out-of-control as a theme in
political thought. Mit Press, 1978.
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__________. Brandy, cigars and human values. In: The whale and the reactor: a search
for limits in an age of high technology. University of Chicago Press, Chicago, 1986.
WOODCOCK, Jamie; GRAHAM, Mark. The gig economy: a critical introduction.
Cambridge: Polity Press, 2020.
ZUBOFF, Shoshana. The age of the surveillance capitalism: the fight for a human future
at the new frontier of power. New York: PublicAffairs, 2019.
1
Doutoranda em PI, Universidade federal de Sergipe; Mestrado em Propriedade Intelectual, Transferência
de Tecnologia e Inovação – Universidade Federal da Bahia (2019-2020);
1. INTRODUÇÃO
prestação “normal” de trabalho caso alguma das partes assim o deseje no termo do prazo acordado (art. 167).”
(AMADO, J. L. Contrato de Trabalho. Coimbra Editora: Coimbra. 2013, pg. 162).
4
Ademais, quanto ao teletrabalho, e seus modos de exercício na França, importa trazer alguns ensinos de
Vera Winter: “Essa solução intermediária busca direcionar os teletrabalhadores de acordo com o perfil de cada
um: teletrabalho domiciliar, para quem consegue ultrapassar as dificuldades inerentes a um trabalho isolado,
e telecinéticos, para os que necessitam de ambiente de escritórios e da convivência de outros empregados,
dependendo ainda do tipo de atividade a ser desenvolvida. [...] Dessa maneira, há ocupação de espaços vazios,
3. REGULAÇAO E TELETRABALHO
com a fixação desses telecentros como polos locais de atividades diversificadas de telesserviços. Ocorre, assim,
“uma aposta na divulgação da opção pelo teletrabalho como política de ordenamento do território e do tempo
das pessoas”. (WINTER, 2005, p. 70-71)
5
“Não se nega que o contrato verbal também pode ser expresso e especificar as atividades que serão rea-
lizadas. No entanto, aqui parece que a intenção do legislador foi a de exigir contrato escrito nesse sentido.
Ademais, o § 1º fala em “aditivo” contratual, o que é mais utilizado para contratos escritos”. (MIZIARA,
Rafael. O novo regime jurídico do teletrabalho no Brasil. Disponível em:<https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/
handle/20.500.12178/116314/2017_miziara_raphael_novo_regime.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso
em 01. Mar. 2019.)
de qualquer apoio das entidades e organismos sindicais que possa aumentar sua
“força” no momento da negociação contratual.
Pode-se perceber que o legislador nada falou ou abordou efetivamente
sobre as normas de medicina e segurança da teletrabalhadora (normas de ordem
pública pelo que devem ser consideradas irrevogáveis), e não trouxe nada relati-
vamente aos conhecidos “equipamentos de segurança do trabalho”. Ao contrá-
rio, instituiu uma figura “estranha”, denominada de termo de reponsabilidade,
referente às diretivas dadas pelo patrão a esta trabalhadora; o legislador pareceu
isentar o empregador da responsabilidade quanto aos acidentes de trabalho
sofridos, apenas utilizando-se do argumento da “distância da sede da empresa”.
Desta feita, o empregador parece ter transferido os custos da atividade
empresarial, em relação ao custeio da infraestrutura do exercício do emprego
(BUBLITZ, 2012).
Releva ainda deixar claro o quanto foi modificado no art. 62, CLT, pelas
novas disposições da Lei 13.467/2017. A lei da reforma trabalhista incluiu o
inciso III no referido artigo (sobre as empregadas excluídas do controle e fixação
da jornada de trabalho), de modo que não assegura o ressarcimento/remuneração
do trabalho extraordinário (horas extras) às teletrabalhadoras, pois o tele-em-
prego seria, em tese, incompatível com a limitação de jornada diária de trabalho.
Conforme antes visto, portanto, o que acaba por acontecer é que a tele-
trabalhadora labora extraordinariamente, sem a devida compensação pecuniária
deste trabalho (AMADO, 2013), ante à necessidade de atingir determinados
resultados e metas específicas de produção, que são apresentados, ou melhor,
impostos, pelo empregador.
4. TERMO DE RESPONSABILIDADE E
RESPONSABILIZAÇAO DO EMPREGADOR
FRENTE `A TELE-EMPREGADA
novo Código Civil é inconstitucional por suposta afronta à parte final do art. 7º,
XXVIII, da Constituição Federal. A melhor exegese sistêmica da ordem cons-
titucional garante legitimidade ao parágrafo único do art. 927 do novo Código
Civil, vez que o caput do art. 7 º da Constituição Federal assegura um rol de
direitos mínimos sem prejuízo de outros que visam melhor condição social do
trabalhador”. (DALLEGRAVE NETO, 2010, pg. 113.) Portanto, ao confrontar a
responsabilidade constitucional do empregador em face da teoria do Risco, o autor
entende pela maior proteção possível das condições de trabalho da empregada,
estando, portanto, englobados os caracteres ambientais laborativos, bem como
relativamente às condições de saúde físicas e psíquicas das teletrabalhadoras.
José Dallegrave ainda encerra em sua obra que: “Sob o viés constitucional,
que coloca a pessoa humana em posição proeminente, não parece razoável que
o trabalhador seja vítima de agressões em seu ambiente do trabalho, ainda que
causadas sem intenção ou culpa patronal”.
Nesta linha, também releva trazer o complemento de Carlos Eduardo
Soares, quando aduz que: “Princípios do direito ambiental auxiliam a compreensão
de eventos relacionados ao ambiente de trabalho. Assim, são relevantes aqueles
que indicam a preocupação por um desenvolvimento sustentável, a garantia de
participação da sociedade na defesa do meio ambiente, a precaução, a prevenção
e a responsabilidade objetiva do poluidor em pagar pelos danos”. (SOARES,
2017, pg. 123.)
Ultimamente, é necessário que se compreenda a devida possibilidade de
responsabilização objetiva do empregador, sendo essa a exegese dos princípios
ambientais que dispõem a respeito da responsabilidade do “poluidor” - no caso,
o empregador que não orienta devidamente à empregada para o exercício laboral
ou que não propicia/proporciona as condições “sanitárias” e “espaciais” básicas
para o bem-estar da tele-empregada.
5. ANÁLISES INTERNACIONALISTAS
REFERENCIAS
1. INTRODUÇÃO
2. OS SISTEMAS DE CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE
2
“En un sentido ontológico, se deberá considerar como el telos de toda constitución la creación de instituciones
para limitar y controlar el poder político. En este sentido, cada constitución presenta una doble significación
ideológica: liberar a los destinatarios del poder del control social absoluto de sus dominadores, y asignarles
una legítima participación en proceso del poder. Para alcanzar este propósito se tuvo que someter el ejercicio
del poder político a determinadas reglas y procedimientos que debían ser respetados por los detentadores
del poder” (LOEWENSTEIN, Karl. Teoría de la Constitución. 2. ed. Trad.: Alfredo Gallego Anabitarte.
Barcelona: Editorial Ariel, 1976, p. 151).
3
“Aí estão os três grandes objetivos, que, conjugados, iriam resultar no constitucionalismo: a afirmação da
supremacia do indivíduo, a necessidade de limitação do poder dos governantes e a crença quase religiosa nas
virtudes da razão, apoiando a busca da racionalização do poder” (DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de
teoria geral do Estado. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 198).
4
Nos célebres escritos sobre o federalismo norte americano, Alexander Hamilton, ainda no Século XVIII,
já propunha: “Não há posição fundada em princípios mais claros que aquela de que todo ato de um poder
delegado que contrarie o mandato sob o qual é exercido é nulo. Portanto, nenhum ato legislativo contrário
à Constituição pode ser válido. [...]
Uma Constituição é de fato uma lei fundamental, e como tal deve ser vista pelos juízes. Cabe a eles, portanto,
definir o seu significado tanto quanto o significado de qualquer ato particular procedente do corpo legislativo.
Caso ocorra uma divergência irreconciliável entre ambos, aquele que tem maior obrigatoriedade e validade
deve, evidentemente, ser preferido. Em outras palavras, a Constituição deve ser preferida ao estatuto, a intenção
do povo à intenção de seus agentes. [...]
Esta conclusão não supõe de modo algum uma superioridade do poder judiciário sobre o legislativo. Supõe
apenas que o poder do povo é superior a ambos, e que, quando a vontade do legislativo, expressa em suas leis,
entre em oposição com a do povo, expressa na Constituição, os juízes devem ser governados por essa última
e não pelas primeiras” (MADISON, James; HAMILTON, Alexander; JAY, John. Os artigos federalistas,
1787-1788. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 480-481).
5
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso
de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 15.
6
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 296.
7
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso
de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 1054-1056.
8
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 302.
9
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 53-54.
precedente ainda gera dúvidas sobre seu alcance, isto é, se a eficácia erga omnes se
daria, doravante, em quaisquer declarações incidentais de inconstitucionalidade
pronunciadas pelo STF — seja em controle concreto, seja em controle abstrato
de constitucionalidade, como há tempos defende o Min. Gilmar Mendes15 – ou
apenas quando essa declaração se desse em sede de controle abstrato.16 O STF,
entretanto, ainda não chegou a se pronunciar explicitamente sobre a referida
questão em julgamentos posteriores.
21
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 27. ed. São Paulo: Malheiros,
2006, p. 53-54.
22
BONAVIDES, Paulo, op. cit., p. 307.
23
“Em linhas gerais, o Tribunal Constitucional de Kelsen é um órgão independente, que possui compe-
tência privativa para f iscalizar a constitucionalidade das leis e dos atos normativos de forma abstrata, isto é,
independente de um caso concreto, quando provocado por ação específ ica para a análise da compatibili-
dade entre o ato infraconstitucional e a Constituição” (GONÇALVES, Nicole P. S. Mäder. O Supremo
como Corte Constitucional. In: CLÈVE, Clèmerson Merlin (coord.). Direito constitucional brasileiro:
organização do Estado e separação dos poderes. vol. II. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014,
[livro eletrônico]).
24
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 51.
25
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso
de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 1103-1106.
26
CAPPELLETI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 1988, p. 31.
27
PIZZOL, Patricia Miranda. Aspectos gerais da defesa dos direitos coletivos. In: PIZZOL, Patricia
Miranda. Tutela coletiva: processo coletivo e técnicas de padronização das decisões. São Paulo: Thomson
Reuters, 2019, [livro eletrônico].
28
“Em se tratando de ação coletiva de cumprimento, o sindicato autor da ação atua como substituto pro-
cessual, espécie de legitimação extraordinária, uma vez que ele atua judicialmente em nome próprio (sujeito
titular da ação), mas defendendo direitos ou interesses individuais homogêneos dos trabalhadores (titulares
do direito material deduzido na ação). Cuida-se, aqui, de autêntica ação coletiva para defesa de interesses
individuais homogêneos, nos moldes do art. 8º, III, da CF e do art. 92 do CDC” (LEITE, Carlos Henrique
Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 1574).
29
Segundo a lição de Fábio Konder Comparato, são características desse novo modelo econômico: “a mudança
do foco principal da atividade econômica, da produção industrial para a prestação de serviços; a supremacia
das indústrias baseadas no novo saber tecnológico, notadamente a informática e a robótica; e uma nova
estratificação social, com o aparecimento de uma elite de poder (a power elite de C. Wright Mills), dotada
de apreciável saber técnico” (COMPARATO, Fábio Konder. A civilização capitalista: para compreender o
mundo em que vivemos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, [livro eletrônico]).
30
“Realmente, as características da vida contemporânea produzem a emersão de uma série de situações
em que, longe de achar-se em jogo o direito ou o interesse de uma única pessoa, ou de algumas pessoas
individualmente consideradas, o que sobreleva, o que assume proporções mais imponentes, é precisamente o
fato de que se formam conflitos nos quais grandes massas estão envolvidas, e um dos aspectos pelos quais o
processo recebe o impacto desta propensão do mundo contemporâneo para os fenômenos de massa: produção
de massa, distribuição de massa, cultura de massa, comunicação de massa e, por que não, processo de massa?”
(BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Ações coletivas na Constituição Federal de 1988. In: MILARÉ, Édis
(coord.). Ação civil pública após 35 anos. São Paulo: Thomson Reuters, 2020, [livro eletrônico]).
31
“Com o advento do CDC, o âmbito de abrangência da LACP foi ampliado, de sorte que podem ser
propostas todas e quaisquer ações para a tutela dos direitos protegidos pela LACP (CDC 83, 90; LACP
21). [...] Não há mais limitação ao tipo de ação, para que as entidades enumeradas na LACP 5.º e CDC 82
estejam legitimadas à propositura da ACP para a defesa, em juízo, dos direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos” (NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Ação civil pública – art. 1º. In: NERY
JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Leis Processuais Civis anotadas e comentadas. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2019, [livro eletrônico]).
32
“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE.
INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS. CONTRATO PARA REALIZAÇÃO DE OBRA PÚBLICA.
1. O art. 127 da Constituição Federal estabelece a competência do Ministério Público para promover, por
meio da ação civil pública, na forma do seu art. 129 e do art. 1º, IV, da Lei n. 7.347/85, a defesa dos interesses
sociais e individuais indisponíveis. 2. É assente na doutrina e jurisprudência que o objeto da ação civil pública
abarca quaisquer direitos transindividuais, sejam eles difusos ou coletivos, ou mesmo individuais homogêneos,
uma vez que a defesa judicial promovida por meio de tais ações não se esgota nas hipóteses contempladas
no art. 1º da Lei n. 7.347/85. [...]” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (2. Turma). Recurso Especial
224.677/MT. Relator: Min. João Otávio de Noronha, 7 de junho de 2005. Disponível em: https://scon.
stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=199900673620&dt_publicacao=01/08/2005.
Acesso em: 6 mar. 2021).
33
PIZZOL, Patricia Miranda. Aspectos gerais da defesa dos direitos coletivos. In: PIZZOL, Patricia
Miranda. Tutela coletiva: processo coletivo e técnicas de padronização das decisões. São Paulo: Thomson
Reuters, 2019, [livro eletrônico].
34
NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Ação civil pública – art. 16. In: NERY JR., Nelson;
NERY, Rosa Maria de Andrade. Leis Processuais Civis anotadas e comentadas. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2019, [livro eletrônico].
35
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Ação civil pública na perspectiva dos direitos humanos. 2. ed. São
Paulo: LTr, 2008, p. 172.
36
ZAVASCKI, Teori Albino. A “revolução” brasileira no domínio do processo coletivo. In: ZAVASCKI,
Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2017, [livro eletrônico].
37
LEITE, Carlos Henrique Bezerra, op. cit., p. 87.
38
STF - ADI 1576 MC, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 16/04/1997, DJ
06-06-2003 PP-00029 EMENT VOL-02113-01 PP-00123. Ressalte-se que a referida ADI foi, posterior-
mente, extinta sem resolução de mérito.
exemplo, a uma comarca, ou a uma cidade, ou até, em caso de juiz que atua em
vara distrital, a apenas uma parte da cidade”.39
Na verdade, segundo aponta a doutrina, tudo leva a crer que a nova
redação decorreu de confusão dos “limites subjetivos da coisa julgada, matéria
tratada na norma, com jurisdição e competência, como se, v.g., a sentença de
divórcio proferida por juiz de São Paulo não pudesse valer no Rio de Janeiro e
nesta última comarca o casal continuasse casado”.40 A prevalecer a interpretação
literal do dispositivo, poder-se-ia ter “a produção de uma estranha sentença,
com duas qualidades: seria válida, eficaz e imutável em determinado território,
mas seria válida, eficaz e mutável fora desse território”.41
Nesse contexto, a proposta hermenêutica prevalecente considera como
de nenhuma eficácia a nova redação dada ao dispositivo, ante as normas que
regem o microssistema processual de tutela coletiva, como se vê, por exemplo,
das lições de Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, os quais, inclusive,
atribuem a pecha da inconstitucionalidade ao dispositivo:
A norma, na redação dada pela L 9494/97, é inconstitu-
cional e ineficaz. Inconstitucional por ferir os princípios
do direito de ação (CF 5.º XXXV), da razoabilidade e da
proporcionalidade e porque o Presidente da República a
editou, por meio de medida provisória, sem que houvesse
autorização constitucional para tanto, pois não havia urgên-
cia (o texto anterior vigorava há doze anos, sem oposição
ou impugnação), nem relevância, requisitos exigidos pela
CF 62 caput para que o Presidente da República possa,
em caráter absolutamente excepcional, legislar por MedProv.
Ineficaz porque a alteração ficou capenga, já que incide o
CDC 103 nas ações coletivas ajuizadas com fundamento
na LACP, por força do LACP 21 e CDC 90. [...]
Pela superveniência do CDC, houve revogação tácita da
LACP 16 (de 1985) pela lei posterior (CDC, de 1990),
conforme dispõe a LINDB 2.º § 1.º. Assim, quando editada
a L 9494/97, não mais vigorava o LACP 16, de modo que
ela não poderia ter alterado o que já não existia. Para que
a “nova redação” da LACP 16 pudesse ter operatividade
(existência, validade e eficácia formal e, por consequência,
material), deveria a L 9494/97 ter incluído na LACP o art.
39
ZAVASCKI, Teori Albino. Sentença e coisa julgada. In: ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo:
tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, [livro eletrônico].
40
NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Ação civil pública – art. 16. In: NERY JR., Nelson;
NERY, Rosa Maria de Andrade. Leis Processuais Civis anotadas e comentadas. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2019, [livro eletrônico].
41
ZAVASCKI, Teori Albino. Sentença e coisa julgada. In: ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo:
tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, [livro eletrônico].
42
NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Ação civil pública – art. 16. In: NERY JR., Nelson;
NERY, Rosa Maria de Andrade. Leis Processuais Civis anotadas e comentadas. São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2019, [livro eletrônico]. Registre-se, também, por oportuno, a existência de uma corrente intermediária,
que propõe o seguinte: “O sentido da limitação territorial contida no art. 16, antes referido, há de ser identi-
ficado por interpretação sistemática e histórica. Ausente do texto original da Lei 7.347/1985, sua gênese foi
a nova redação dada ao dispositivo pelo art. 2.º da Lei 9.494, de 10.09.1997. [...] O que ele objetiva é limitar
a eficácia subjetiva da sentença (= e não da coisa julgada), o que implica, necessariamente, limitação do rol dos
substituídos no processo (= que se restringirá aos domiciliados no território da competência do juízo). [...]
Co
mpreendida a limitação territorial da eficácia da sentença nos termos expostos, é possível conceber idêntica
limitação à eficácia da respectiva coisa julgada. Nesse pressuposto, em interpretação sistemática e construtiva,
pode-se afirmar, portanto, que a eficácia territorial a que se refere o art. 16 da Lei 7.347/1985 diz respeito
apenas à eficácia das sentenças proferidas em ações coletivas para tutela de direitos individuais homogêneos,
de que trata o art. 2.º-A da Lei 9.494/1997, e não, propriamente, às sentenças que tratam de típicos direi-
tos transindividuais” (ZAVASCKI, Teori Albino. Sentença e coisa julgada. In: ZAVASCKI, Teori Albino.
Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2017, [livro eletrônico]).
43
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Corte Especial). Recurso Especial 1243887/PR. Relator: Min.
Luis Felipe Salomão, 19 de outubro de 2011. Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeor-
DoAcordao?num_registro=201100534155&dt_publicacao=12/12/2011. Acesso em: 6 mar. 2021.
44
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Corte Especial). Embargos de Divergência em Recurso Espe-
cial 1134957/SP. Relatora: Min. Laurita Vaz, 24 de outubro de 2016. Disponível em: https://scon.stj.jus.
br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201300519527&dt_publicacao=30/11/2016. Acesso
em: 6 mar. 2021.
4. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE EM
SEDE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA
45
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho (Subseção I Especializada em Dissídios Individuais). Embargos
em Recurso de Revista 139700-61.2002.5.03.0050. Relator: Min. Walmir Oliveira da Costa, 21 de novembro
de 2019. Disponível em: https://jurisprudencia-backend.tst.jus.br/rest/documentos/3b1e51bee005b4c0a-
12d7065a18120f7. Acesso em: 6 mar. 2021.
46
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Pleno). Recurso Extraordinário 1101937. Relator: Min. Alexandre
de Moraes, 4 março de 2021. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5336275.
Acesso em: 6 mar. 2021.
47
MENDES, Gilmar Ferreira. O controle incidental de normas no direito brasileiro. Revista dos Tribunais,
São Paulo, vol. 760, p. 11-39, fev. 1999, [documento eletrônico].
48
NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Ação civil pública – art. 1º. In: NERY JR., Nelson;
NERY, Rosa Maria de Andrade. Constituição Federal comentada e legislação constitucional. 2. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, [livro eletrônico].
49
ZAVASCKI, Teori Albino. Sentença com eficácia erga omnes e controle incidental de constitucionalidade.
In: ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, [livro eletrônico].
50
E M E N T A: RECLAMAÇÃO – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO
RECURSO DE AGRAVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – CONTROLE INCIDENTAL DE CONS-
TITUCIONALIDADE – QUESTÃO PREJUDICIAL – POSSIBILIDADE – INOCORRÊNCIA
DE USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – PRECEDEN-
TES – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - O Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a
legitimidade da utilização da ação civil pública como instrumento idôneo de fiscalização incidental de
constitucionalidade, pela via difusa, de quaisquer leis ou atos do Poder Público, mesmo quando contestados
em face da Constituição da República, desde que, nesse processo coletivo, a controvérsia constitucional,
longe de identificar-se como objeto único da demanda, qualifique-se como simples questão prejudicial,
indispensável à resolução do litígio principal. Precedentes. Doutrina (BRASIL. Supremo Tribunal Federal
(2. Turma). Embargos de Declaração na Reclamação 1898. Relator: Min. Celso de Mello, 10 de junho
de 2014. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6438642.
Acesso em: 6 mar. 2021).
53
ABBOUD, Georges. A importância de se conferir natureza de direito fundamental à judicial review. In:
ABBOUD, Georges. Processo constitucional brasileiro. 4. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020,
[livro eletrônico].
54
ABBOUD, Georges. Controle difuso de constitucionalidade e declaração de não recepção de leis
inconstitucionais em ações coletivas. Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 926, p. 571-606, dez. 2012,
[documento eletrônico].
55
Ibidem, [documento eletrônico].
56
LOEWENSTEIN, Karl. Teoría de la Constitución. 2. ed. Trad.: Alfredo Gallego Anabitarte. Barcelona:
Editorial Ariel, 1976, p. 309.
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Constituição Federal comentada
e legislação constitucional. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016,
[livro eletrônico].
NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Leis Processuais Civis anotadas
e comentadas. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, [livro eletrônico].
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765, p. 34-47, jul. 1999, [documento eletrônico].
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zação das decisões. São Paulo: Thomson Reuters, 2019, [livro eletrônico].
SADEK, Maria Tereza. Controle externo do Poder Judiciário. In: SADEK, Maria
Tereza. Reforma do Judiciário. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais,
2010, p. 66-133. Disponível em: <https://static.scielo.org/scielobooks/6kf82/pdf/sadek-
9788579820335.pdf>. Acesso em: 15/1/2021.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 27. ed. São Paulo:
Malheiros, 2006.
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva
de direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, [livro eletrônico].
Sites consultados
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pdf/80208000.pdf. Acesso em: 6 mar. 2021.
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Relator: Min. João Otávio de Noronha, 7 de junho de 2005. Disponível em: https://scon.
stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=199900673620&dt_publi-
cacao=01/08/2005. Acesso em: 6 mar. 2021.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Corte Especial). Embargos de Divergência em
Recurso Especial 1134957/SP. Relatora: Min. Laurita Vaz, 24 de outubro de 2016. Dispo-
nível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=20130
0519527&dt_publicacao=30/11/2016. Acesso em: 6 mar. 2021.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Corte Especial). Recurso Especial 1243887/PR.
Relator: Min. Luis Felipe Salomão, 19 de outubro de 2011. Disponível em: https://scon.
stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201100534155&dt_publi-
cacao=12/12/2011. Acesso em: 6 mar. 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2. Turma). Embargos de Declaração na Recla-
mação 1898. Relator: Min. Celso de Mello, 10 de junho de 2014. Disponível em: http://
Resumo: O presente estudo tem por objetivo analisar o impacto que a supres-
são das horas in itinere, trazida pela lei 13.467/2017 (Reforma Trabalhista),
trouxe para a classe operária. Dentro desse contexto, observa-se que as horas
in itinere (tempo de deslocamento) surgiram no ordenamento jurídico como
com intuito de proteger aqueles trabalhadores que passam bastante tempo
no deslocamento de sua casa para o trabalho. Inicia-se o estudo sob a análise
dos princípios especiais e específicos do direito do trabalho. Posteriormente,
estuda-se o surgimento e a caracterização das horas in itinere. Logo depois, é
analisado a (in)aplicabilidade da Lei nº 13.467/2017 nos contratos celebrados
e ainda vigentes antes da nova norma. Por fim, adentra-se na problemática
que é o estudo da extinção das horas in itinere, trazida pela nova lei, a qual
viola o princípio constitucional da vedação ao retrocesso social. Assim sendo,
1
Pós-Graduado em Novas Metodologias e Práticas Docentes no Ensino Superior - Faculdades Santo
Agostinho Vitória da Conquista/BA. Especialista em Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho
com Capacitação para o Ensino no Magistério Superior pela Faculdade Damásio de Jesus. Graduado em
Direito pela Faculdade do Sul - FACSUL/UNIME. Aluno Especial da Disciplina Estado, Sociedade e
Relações de Trabalho, oferecida pelo PPGD/UFBA, semestre letivo 2022.1. Membro Suplente do Grupo
de Estudos Contra Práticas Discriminatórias da Escola Judicial do TRT 5º Região. Advogado Sócio no
escritório Paulo Rocha Barra & Advogados Associados. Docente em curso Preparatório para o Exame de
Ordem (Curso Êxito). Docente no curso de Direito na Faculdade Santo Agostinho de Vitória da Conquista/
BA. Coordenador do Curso de Direito e do Núcleo de Carreiras e Estágios da Faculdade Santo Agostinho
de Vitória da Conquista. Vice-presidente da Comissão de Empreendedorismo Jurídico da OAB/ Subseção
Vitória da Conquista/BA (2020-2021).
conclui-se que o artigo 58, §2º, da CLT, não deve ter amparo legal, conside-
rando o princípio da vedação ao retrocesso social.
Abstract: The present study aims to analyze the impact that the suppression
of hours in itinere, brought by law 13.467/2017 (Labor Reform), brought to
the working class. Within this context, it is observed that the hours in itinere
(travel time) emerged in the legal system as in order to protect those workers
who spend a lot of time commuting from their home to work. The study begins
under the analysis of the special and specific principles of labor law. Subsequently,
the emergence and characterization of hours in itinere is studied. Soon after, the
(in)applicability of Law No. 13,467/2017 is analyzed in contracts concluded and
still in force before the new standard. Finally, we enter into the problem that is
the study of the extinction of hours in itinere, brought by the new law, which
violates the constitutional principle of sealing social retrogression. Therefore,
it is concluded that Article 58, §2, of the CLT, should not have legal support,
considering the principle of sealing social retrogression.
1. INTRODUÇÃO
A CLT prevê nos artigos 442 e 443, a possibilidade do contrato por tempo
determinado e indeterminado, quando se é presumido a forma mais favorável
ao empregado (BRASIL, 2017). Tal presunção, está explícita na Súmula 212 do
TST, onde cabe ao empregador provar o término do contrato, pois o princípio
da continuidade do emprego é favorável ao empregado, prevendo assim que a
relação empregatícia é de forma contínua. De maneira presumida, o término
do contrato de trabalho parte da inciativa do empregador e não do trabalhador,
que é dependente de remuneração para a sua subsistência (CAIRO JR, 2019).
O princípio da Inalterabilidade Contratual Lesiva, exposto do artigo
468 da CLT, trata da não possibilidade de alterar o contrato de trabalho, caso
tais alterações lesarem o empregado. Segundo Delgado, o referido princípio é
considerado um dos mais importantes no ramo justrabalhista:
Realmente, um dos mais importantes princípios gerais do
Direito que foi importado pelo ramo justrabalhista é o da
inalterabilidade dos contratos, que se expressa, no estuário
civilista originário, pelo conhecido aforismo pacta sunt
servanda (“os pactos devem ser cumpridos”). Informa tal
princípio, em sua matriz civilista, que as convenções firma-
das pelas partes não podem ser unilateralmente modificadas
no curso do prazo de sua vigência, impondo-se ao cumpri-
mento fiel pelos pactuantes. (DELGADO, 2019. p. 239).
Para que a alteração contratual seja licita, é necessário a existência do
consentimento do empregado, bem como a ausência de prejuízo para o traba-
lhador, conforme dispõe o artigo 468 da CLT. Ressalta-se que esse princípio é
mitigado nas hipóteses de Negociação Coletiva, a exemplo da possibilidade de
redução do salário, exposto no artigo 7º da Constituição Federal.
Outro princípio relevante é o da Intangibilidade Salarial, a qual assegura
as garantias salariais jurídicas, de modo que garante o valor em benefício do
empregado. Tal garantia, deriva pelo fato do salário ter caráter alimentar, que
supre as necessidades essenciais do trabalhador. Segundo Delgado, o referido
princípio originou-se do princípio da irredutibilidade salarial, que engloba o
princípio da inalterabilidade contratual lesiva, vejamos:
O atual princípio justrabalhista projeta-se em distintas
direções: garantia do valor do salário; garantias contra
mudanças contratuais e normativas que provoquem a
redução do salário (aqui o princípio especial examinado
se identifica pela expressão princípio da irredutibilidade
salarial, englobando-se também, de certo modo, no prin-
cípio da inalterabilidade salarial lesiva); garantias contra
práticas que prejudiquem seu efetivo montante – trata-se
3
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 90 do TST. Horas in itinere. Justiça do Trabalho,
Brasília, 25 de abril de 2015. Disponível em < https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/
Sumulas_Ind_51_100.html#SUM-90> Acesso em 05/05/2022.
4
Art. 4º - Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do
empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada. BRASIL.
Lei nº 13.467 de 13 de julho de 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del5452.htm >. Acesso em 04/05/2022.
5
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 3 Região. Recurso Ordinário 0011539-82.2017.5.030090. Rela-
tor: Sércio da Silva Peçanha, Disponibilização: 05/10/2018, Disponível em: < https://trt-3.jusbrasil.com.br/juris-
prudencia/637200260/recurso-ordinario-trabalhista-ro-115398220175030090-0011539-8220175030090?ref=-
serp >. Acesso em: 01/04/2022.
6
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. Processo Nº ED-AgR-AIRR-0000184-47.2014.5.24.0106.
Relatora Kátia Magalhães Arruda. Brasília, 12 de dezembro de 2018. Disponível em <https://www.jusbrasil.
com.br/processos/164096314/processo-n-0000184-4720145240106-do-tst>. Acesso em: 20/04/2022.
7
SANTA CATARINA. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 658.312. Relator> Min.
Dias Toffoli. Florianópolis, 27 de novembro de 2014. Disponível em < https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/
paginador.jsp?docTP=TP&docID=7708619>. Acesso em 19/04/2022.
7. CONCLUSÃO
garante que uma vez conquistado determinado direito social, o legislador não
deve suprimi-lo sem que crie medidas compensatórias.
Nesse sentido, conclui-se que quando regulamentado um direito consti-
tucional social, ao legislador é vedado criar nova norma que apresente retrocesso
a matéria, seja ela de revogação parcial (derrogação) e/ ou integral (ab-rogação),
ou ainda qualquer outra medida que venha a ser menos benéfica em comparação
com à efetivação alcançada. Portanto, as horas in itinere, continuam sendo devidas
ao trabalhador seja ele urbano ou rural, considerando que o emprego do artigo 58,
§2º da CLT não se ampara perante o princípio da vedação ao retrocesso social.
REFERÊNCIAS
1
Doutor em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor
Titular da Universidade Estadual de Campinas. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2583-8876. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3546226919045934. Email: rheloani@gmail.com.
2
Doutor em Direito do Trabalho pela Universidade de São Paulo. Professor da Faculdade de Direito e do
Programa de Pós-Graduação em Direito Stricto Sensu da Universidade Federal do Pará. ORCID: https://
orcid.org/0000-0002-8644-5902. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5894619075517595. Email: ney.maranhao@
gmail.com.
3
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Pará. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1717-4034.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1841678598489321. Email: estevao.fragallo@gmail.com.
1. INTRODUÇÃO
4
HELOANI, Roberto; BARRETO, Margarida. Assédio Moral e Sexual. In: VIEIRA, Fernando de Oliveira
(Org.) Dicionário crítico de gestão e psicodinâmica do trabalho. Curitiba: Juruá, 2013, p. 55.
5
OIT. Organização Internacional do Trabalho. Convenção 155: Segurança e Saúde dos Trabalhadores.
Disponível em: <https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/WCMS_236163/lang--pt/index.htm>. Acesso
em 25 abr. 2021.
6
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5. ed. São Paulo: LTr,
2010, p. 59.
11
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 5. ed. São Paulo: LTr,
2010, p. 64.
12
SILVA, José Antônio Ribeiro de Oliveira. A saúde do trabalhador como um direito humano: conteúdo
essencial da dignidade humana. São Paulo: LTr, 2008, p. 120.
13
SILVA, José Antônio Ribeiro de Oliveira. A saúde do trabalhador como um direito humano: conteúdo
essencial da dignidade humana. São Paulo: LTr, 2008, p. 124-125.
16
ISTAS. Instituto Sindical de Trabajo y Ambiente y Salud. Guía para la intervención sindical en orga-
nización del trabajo y riesgos psicosociales. Madrid, 2015, p. 17.
17
EU-OSHA. European Agency for Occupational Safety and Health. Riscos Psicossociais e Estresse
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18
HELOANI, Roberto; BARRETO, Margarida. Assédio moral: gestão por humilhação. Curitiba: Editora
Juruá, 2018, p. 41-43.
19
OIT. Organização Internacional do Trabalho. Psychosocial Factors at Work: Recognition and Control.
Genebra, 1986, p. 5.
Laura María Chiena33 identifica que são, pelo menos, três as partes envolvidas
no assédio ou na violência do trabalho: o agressor, a vítima e o entorno – pelo
que se conclui que não é possível conceber a prática de assédio laboral dissociada
do meio ambiente de trabalho em que este ocorre.
Há, ainda, outras designações de tal fenômeno, a exemplo da gestão por
injúria e do assédio moral coletivo, onde se evidencia que a postura abusiva do
empregador compromete, como um todo, o clima organizacional, a saúde dos
trabalhadores e até mesmo o próprio rendimento da empresa. Não por acaso
é que se tem estudado cada vez mais o fenômeno do assédio organizacional34.
Cumpre ressaltar que muito embora as práticas de violência e assédio no
trabalho ocorram no âmbito de relações individuais, visto que se tratam de rela-
ções complexas, multifacetadas e, por vezes, ocultas, a dimensão organizacional
e coletiva do assédio têm ganhado cada vez mais atenção, já que a gestão do
trabalho é influenciadora e até mesmo determinante para que o assédio ocorra,
a partir da imposição de metas abusivas, jornadas aviltantes, competitividade
entre trabalhadores e situações injustas35.
Conclui-se, assim, que, de alguma maneira, mesmo episódios isolados
de assédio são, na prática, consequência da organização do trabalho, visto que
advêm da divisão do trabalho, do controle hierárquico, da dinâmica de poder
ou do desenho da estrutura produtiva36.
É certo que o assédio e a violência laboral constituem ameaças em diver-
sos aspectos, visto que impactam a dignidade dos trabalhadores sujeitos a tais
práticas sob diversas perspectivas. Como exemplo, podemos citar a potencial
discriminação e estigmatização das vítimas, sobretudo aliadas a outras formas
de violência, como o racismo e a misoginia no ambiente de trabalho37.
Enfim, o escasso reconhecimento da problemática da violência e assédio
laboral dentro das organizações não espelha o debate público que há muito
33
CHINEA, Laura María Melían. La eficácia del acuerdo marco europeo sobre acoso y violência em el
trabajo. In: QUINTANA, Margarita Isabel Ramos. Riesgos Psicosociales y Organización de la Empresa.
Navarra: Thomson Reuters, 2017, p. 240-241.
34
DELGADO, Gabriela Neves; DIAS, Valéria de Oliveira. Direito Fundamental ao Trabalho Digno e
Meio Ambiente do Trabalho Saudável: Uma Análise sob a Perspectiva do Assédio Organizacional. In:
FELICIANO, Guilherme Guimarães; SARLET, Ingo Wolfgang; MARANHÃO, Ney; FENSTERSEI-
FER; Tiago. Direito Ambiental do Trabalho: Apontamentos para uma Teoria Geral. Volume 5. São Paulo:
LTr, 2020, p. 155.
35
ANTUNES, José. Assédio moral no trabalho: Revendo a evidência. Psic., Saúde & Doenças, Lisboa,
v. 18, n. 3, 2017, p. 675.
36
HELOANI, José Roberto; CAPITÃO, Cláudio Garcia. Saúde Mental e Psicologia do Trabalho. São
Paulo em Perspectiva, 17(2) 2003, p. 106.
37
ANDRADE, Cristina Batista; ASSIS, Simone Gonçalves. Assédio moral no trabalho, gênero, raça e
poder: revisão de literatura. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 43:e11, 2018, p. 2.
vem permeando o tema. Luciana Baruki38, por exemplo, define tais práticas
como “pandemia” no ambiente de trabalho, seja por sua manifestação presente
de forma coletiva e de alta propagação, seja se utilizando, de forma análoga, de
um problema que se refere, também, à saúde ocupacional.
Destarte, as patologias da violência representam riscos psicossociais de
gravidade acentuada, visto que provocam danos que ultrapassam a esfera da
violação apenas da saúde. Afetam, em realidade, outros bens jurídicos e direitos
fundamentais dos trabalhadores, a exemplo da dignidade, da integridade física,
psíquica e sexual, da imagem e da honra.
Dessume-se, pois, que tais fenômenos demandam especial atenção, diálogo
e estratégias de combate e prevenção por instituições nacionais e internacionais.
É nesse contexto que surge a Convenção 190 da OIT, cuja proposta, abrangência
e reais possibilidades de eficácia serão discutidas a seguir.
38
BARUKI, Luciana Veloso. Riscos Psicossociais e Saúde Mental do Trabalhador: Por um Regime
Jurídico Preventivo. 2 Ed. São Paulo, LTr, 2018, p. 99.
39
RETSLAFF, Franciane de S.; PAGNONCELLI, Laís; LOPES, Luana de Oliveira; GUINSKI, Lucas
Costa. A Convenção nº 190 da OIT: como será recepcionada pelo ordenamento jurídico brasileiro? In:
SERAU JR., Marco Aurélio (coord.) Assédio Moral e Sexual no Trabalho: Comentários à Convenção Nº
190 da OIT. Belo Horizonte: Editora IEPREV, 2021, p. 234.
40
SCHAITZA, Angélica Pavelski Cordeiro; FACHIN, Melina Girardi. Direito ao Trabalho decente, livre
de violência e assédio: um diálogo constitucional-internacional? In: SERAU JR., Marco Aurélio (coord.)
Assédio Moral e Sexual no Trabalho: Comentários à Convenção Nº 190 da OIT. Belo Horizonte: Editora
IEPREV, 2021, p. 49.
41
OIT. Organização Internacional do Trabalho. Convenção 190: Sobre Assédio e Violência. Disponível
em: <https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---europe/---ro-geneva/---ilo-lisbon/documents/generi-
cdocument/wcms_729459.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2021.
Para além disso, o Artigo 8º, caput, da CLT, que prevê as técnicas de
interpretação e integração normativa na seara trabalhista, avaliza expressamente
a decisão pela jurisprudência e, ainda, dos princípios gerais do Direito e os
específicos do Direito do Trabalho na falta de disposições legais e contratuais,
o que é o caso dos riscos psicossociais e, mais especificamente, do assédio e
violência no trabalho no Brasil.
Finalmente, impende destacar o papel do controle de convencionalidade
interno, ou seja, a aplicação, por parte do órgão jurisdicional, de uma norma
convencional em detrimento de uma norma de direito interno (ou então, diante
de uma anomia do direito doméstico) para fins de preservação da dignidade
da pessoa humana45. Trata-se de prática aplicável às convenções da Organiza-
ção Internacional do Trabalho, sendo aceita e reconhecida pela jurisprudência
trabalhista.
Nesse sentido, salienta-se que todas as técnicas jurídicas supracitadas
(a interpretação ampliativa dos direitos fundamentais, a integração normativa
e o controle de convencionalidade) já têm sido aplicadas, ainda que de forma
incipiente, pela jurisprudência brasileira no que tange à Convenção 190 da
OIT. Chama-se especial atenção para o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª
Região, que não apenas fixou tese sobre o assédio laboral baseado na Convenção
190 da OIT, em conjunto com a Convenção n.º 155, como também adotou o
entendimento de que o assédio moral no trabalho constitui dano moral in re
ipsa. Colaciona-se, nesse sentido, a tese fixada pela Corte Regional, presente
em diversos julgados:
“ASSÉDIO MORAL. INOBSERVÂNCIA DE DIREI-
TOS HUMANOS, NORMAS INTERNACIONAIS E
DIREITOS E GARANTIAS PREVISTOS NA CONS-
TITUIÇÃO DA REPÚBLICA. VIOLAÇÃO DA DIG-
NIDADE HUMANA NA RELAÇÃO DE TRABALHO.
CONVENÇÃO 155 DA OIT. CONVENÇÃO 190 DA
OIT. DANO MORAL IN RE IPSA. (...) Embora o Brasil
não tenha ratificado, ainda, a Convenção 190 da OIT, a
referida norma encontra-se alicerçada nas core obligations
previstas na Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos
Fundamentais no Trabalho. Nesse sentido, a referida Declara-
ção destaca que os princípios fundamentais no trabalho (core
obligations) devem ser observados pelos membros da OIT
somente pelo fato de tais entes integrarem a Organização,
ou seja, independente das normas que tratam dos princípios
fundamentais do trabalho terem sido ratificadas pelos esta-
45
CANTOR, Ernesto Rey. Control de Convencionalidad de las leyes y derechos humanos. México, D.F.:
Editorial Porruá, 2008, p. 48-49.
6. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1
Graduado em Direito pela UESB, Especialista em Advocacia Trabalhista e Previdenciária pela UNISC,
Mestre e Doutorando em Ciências Sociais pela UFBA. Possui experiência nas áreas de Direito e Sociologia,
com ênfase em Direito do Trabalho e Sociologia do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas:
Trabalho, Precarização e Terceirização.
Abstract: This article presents the partial results of ongoing research and
reflects on the relationship between the crisis of capital, the precarization of
Labor, and the normative measures related to the workplace that emerged in
the context of the pandemic caused by COVID-19 (coronavirus). Its justifica-
tion is given by the emergence and relevance of the topic for academic debate
in the current pandemic scenario, notably in labor sociology and labor law. Its
objective is to relate the labor regulations that have recently emerged in Brazil,
in particular, from the labor reform to the Provisional Measures nº 905, 927,
and 936, with the concepts of crisis of capital and precarization of social work
relations. For the methodology of the article, a qualitative approach was adopted,
making use of the varied collection and analysis techniques, such as literature
review, document research (when we sought to analyze the recent and main
regulations relating to the world of labor, from labor reform to those edited
during the pandemic), and finally, content analysis. The partial results of the
ongoing research were that the flexibilization and deregulation of various labor
standards were included in several interim measures without any urgency or
relevance in the context of the pandemic and without this having represented
a guarantee of employment for the workers, especially informal workers and
workers with precarious jobs. Despite the preliminary nature of this work, it
is concluded that, regardless of the context that gave rise to the measures to
combat the pandemic and unemployment, the provisional measures analyzed
are placed in a situation of not only environmental and health crisis, but also
economic crisis, with the expansion of neoliberal reforms in the country and
the intensification of the tendency to discard the right to work and making
social labor relations more precarious.
1. INTRODUÇÃO
II
2
“Art. 106. Fica instituído o Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social
da União, que vigorará por vinte exercícios financeiros, nos termos dos arts. 107 a 114 deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias” – todos os destaques acrescidos em itálico.
3
“Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre
outros, dispuserem sobre: [...]”.
4
“Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia e expressa dos que
participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor
12
“Art. 2º. [...]. X - transporte remunerado privado individual de passageiros: serviço remunerado de trans-
porte de passageiros, não aberto ao público, para a realização de viagens individualizadas ou compartilhadas
solicitadas exclusivamente por usuários previamente cadastrados em aplicativos ou outras plataformas de
comunicação em rede”.
13
Em 28 de julho de 2021, através da MP 1.058/2021, em meio à crise política do governo Bolsonaro, o
Ministério do Trabalho e Previdência Social foi recriado oficialmente (BRASIL, 2021a).
14
“Art. 16. Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor
desta Emenda Constitucional fica assegurado o direito à aposentadoria quando preencher, cumulativa-
mente, os seguintes requisitos: I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos
de contribuição, se homem; e II - idade de 56 (cinquenta e seis) anos, se mulher, e 61 (sessenta e um)
anos, se homem”.
15
“Art. 19. [...]. I - aos segurados que comprovem o exercício de atividades com efetiva exposição a agentes
químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por
categoria profissional ou ocupação, durante, no mínimo, 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos,
nos termos do disposto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, quando cumpridos:
a) 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 15 (quinze) anos de
contribuição; b) 58 (cinquenta e oito) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 20 (vinte)
anos de contribuição; ou c) 60 (sessenta) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 25 (vinte
e cinco) anos de contribuição”.
16
“Art. 23. A pensão por morte concedida a dependente de segurado do Regime Geral de Previdência Social
ou de servidor público federal será equivalente a uma cota familiar de 50% (cinquenta por cento) do valor
da aposentadoria recebida pelo segurado ou servidor ou daquela a que teria direito se fosse aposentado por
incapacidade permanente na data do óbito, acrescida de cotas de 10 (dez) pontos percentuais por dependente,
até o máximo de 100% (cem por cento)”.
17
“Art. 26. [...] § 2º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da média
aritmética definida na forma prevista no caput e no § 1º, com acréscimo de 2 (dois) pontos percentuais para
cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos de contribuição nos casos: [...]”.
18
“Art. 15. [...] § 4º Fica permitida a utilização de registro de ponto por exceção à jornada regular de trabalho,
mediante acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho”.
19
“Art. 1º Fica instituído o Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, modalidade de contratação destinada à
criação de novos postos de trabalho para as pessoas entre dezoito e vinte e nove anos de idade, para fins de registro
do primeiro emprego em Carteira de Trabalho e Previdência Social. [...]. Art. 3º Poderão ser contratados
na modalidade Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, os trabalhadores com salário-base mensal de até um
salário-mínimo e meio nacional”.
20
“Art. 5º. [...]. § 1º O Contrato de Trabalho Verde e Amarelo poderá ser utilizado para qualquer tipo de
atividade, transitória ou permanente, e para substituição transitória de pessoal permanente”.
21
“Art. 15. [...]. § 3º Caso o empregador opte pela contratação do seguro de que trata o caput, permanecerá
obrigado ao pagamento de adicional de periculosidade de cinco por cento sobre o salário-base do trabalhador.
22
“Art. 68. Fica autorizado o trabalho aos domingos e aos feriados”.
III
23
“Art. 6º. Ao final de cada mês, ou de outro período de trabalho, caso acordado entre as partes, desde que
inferior a um mês, o empregado receberá o pagamento imediato das seguintes parcelas: I - remuneração; II -
décimo terceiro salário proporcional; e III - férias proporcionais com acréscimo de um terço. § 1º A indenização
sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, prevista no art. 18 da Lei nº 8.036, de 11 de
maio de 1990, poderá ser paga, por acordo entre empregado e empregador, de forma antecipada, mensalmente,
ou em outro período de trabalho acordado entre as partes, desde que inferior a um mês, juntamente com as
parcelas a que se refere o caput. § 2º A indenização de que trata o §1º será paga sempre por metade, sendo o
seu pagamento irrevogável, independentemente do motivo de demissão do empregado, mesmo que por justa causa,
nos termos do disposto no art. 482 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº
5.452, de 1943. Art. 7º No Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, a alíquota mensal relativa à contribuição
devida para o FGTS de que trata o art. 15 da Lei nº 8.036, de 1990, será de dois por cento, independentemente
do valor da remuneração.
24
“Art. 627. A fim de promover a instrução dos responsáveis no cumprimento das leis de proteção do
trabalho, a fiscalização observará o critério de dupla visita nas seguintes hipóteses: [...]”.
25
“Art. 18. Durante o estado de calamidade pública a que se refere o art. 1º, o contrato de trabalho poderá ser
suspenso, pelo prazo de até quatro meses, para participação do empregado em curso ou programa de qualificação
profissional não presencial oferecido pelo empregador, diretamente ou por meio de entidades responsáveis
pela qualificação, com duração equivalente à suspensão contratual”. [...]. § 2º O empregador poderá conceder
ao empregado ajuda compensatória mensal, sem natureza salarial, durante o período de suspensão contratual
nos termos do disposto no caput, com valor definido livremente entre empregado e empregador, via negociação
individual.
26
“Art. 4º. Durante o estado de calamidade pública a que se refere o art. 1º, o empregador poderá, a seu critério,
alterar o regime de trabalho presencial para o teletrabalho, o trabalho remoto ou outro tipo de trabalho a distância
e determinar o retorno ao regime de trabalho presencial, independentemente da existência de acordos individuais
ou coletivos, dispensado o registro prévio da alteração no contrato individual de trabalho”.
35
“Art. 8º. [...]. § 1º A suspensão temporária do contrato de trabalho será pactuada, conforme o disposto nos
arts. 11 e 12 desta Lei, por convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo de trabalho ou acordo individual
escrito entre empregador e empregado, devendo a proposta de acordo, nesta última hipótese, ser encaminhada
ao empregado com antecedência de, no mínimo, 2 (dois) dias corridos”.
36
“Art. 12. As medidas de que trata o art. 3º desta Lei serão implementadas por meio de acordo individual
escrito ou de negociação coletiva aos empregados: [...]. III - portadores de diploma de nível superior e que
percebam salário mensal igual ou superior a 2 (duas) vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral
de Previdência Social”.
37
“Art. 9º O Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda poderá ser acumulado com
o pagamento, pelo empregador, de ajuda compensatória mensal, em decorrência da redução proporcional de
jornada de trabalho e de salário ou da suspensão temporária de contrato de trabalho de que trata esta Lei. § 1º
A ajuda compensatória mensal de que trata o caput deste artigo: I - deverá ter o valor definido em negociação
coletiva ou no acordo individual escrito pactuado; II - terá natureza indenizatória”.
2. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Maurício Azevedo de; DUTRA, Renata Queiroz; SILVA, Selma Cristina.
Neoliberalismo e flexibilização da legislação trabalhista no Brasil e na França. Cader-
nos do CEAS, Salvador/Recife, n. 242, p. 558-581, set./dez., 2017. Disp. em: <https://
cadernosdoceas.ucsal.br/index.php/cadernosdoceas/article/view/401>. Acesso em: 1
dez. 2021.
BRASIL. Decreto nº 10.854, de 10 de novembro de 2021c. Regulamenta disposições
relativas à legislação trabalhista e institui o Programa Permanente de Consolidação,
Simplificação e Desburocratização de Normas Trabalhistas Infralegais e o Prêmio
Nacional Trabalhista, e altera o Decreto nº 9.580, de 22 de novembro de 2018. Disp.
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Decreto/D10854.
htm>. Acesso em: 1 dez. 2021.
_______. Emenda Constitucional nº 95, de 15 de dezembro de 2016. Altera o Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
emendas/emc/emc95.htm>. Acesso em: 1 dez. 2021.
_______. Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019b. Altera o
sistema de previdência social e estabelece regras de transição e disposições transitórias.
Disp. em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc103.
htm>. Acesso em: 1 dez. 2021.
_______. Medida Provisória nº 805, de 1º de janeiro de 2019a. Estabelece a orga-
nização básica dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Mpv/mpv870.htm>.
Acesso em: 1 dez. 2021.
_______. Medida Provisória nº 905, de 11 de novembro de 2019d. Institui o Contrato
de Trabalho Verde e Amarelo, altera a legislação trabalhista, e dá outras providências.
Disp. em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Mpv/mpv905.
htm>. Acesso em: 1 dez. 2021.
_______. Medida Provisória nº 927, de 22 de março de 2020b. Dispõe sobre as medi-
das trabalhistas para enfrentamento do estado de calamidade pública reconhecido pelo
Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19), e dá outras providências.
Disp. em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/mpv/mpv927.
htm>. Acesso em: 1 dez. 2021.
_______. Medida Provisória nº 928, de 23 de março de 2020. Altera a Lei nº 13.979, de
6 de fevereiro de 2020, que dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência
de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável
pelo surto de 2019, e revoga o art. 18 da Medida Provisória nº 927, de 22 de março
38
Advogada trabalhista; Mestre em Direito do Trabalho (PUC-SP); Vice-Presidente da OAB/BA (triênio
2022/2024); especialista em Direito do Trabalho e Direitos Humanos; Presidente da Comissão de Direitos
Humanos do Instituto dos Advogados da Bahia (CDH-IAB).
39
Advogada; especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Católica do Salvador
(Ucsal); Mestranda em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); membro da Comissão de
Direitos Humanos do Instituto dos Advogados da Bahia (CDH-IAB); Presidente da Comissão de Seleção
e Inscrição da OAB/BA (triênio 2022/2024).
the labor legal system. The proposed scope is to break the division existing in
an unequal society since its inception, by framing the theme of female and
black violence as only an abstract discourse that sees the racial issue as a struc-
tural cut, and not as a cancer. Social. In this context, we seek to demonstrate
the urgency of promoting, materially, the guarantee of the right to equality of
workers, especially with regard to race and gender, so that the Dignity of the
Human Person is presented, in fact, as a the main purpose of the Democratic
State of Law.
Keywords: Labor and power relations, violence against black women, human
rights and constitutional labor law, work environment and racism. forms of combat.
1. INTRODUÇÃO
40
Expressão aqui traduzida por uma pessoa ou um grupo de pessoas posto em situação de desvantagem
originado por um tratamento discriminatório.
41
Que segue o entendimento de Paulo Freire.
42
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo
(org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo, e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos
Aires: CLA CSO, 2005, p. 117.
43
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo
(org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo, e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos
Aires: CLA CSO, 2005, p. 126.
44
NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo:
Perspectiva, 2016, p. 81.
45
GOMES, Flávio dos Santos; DOMINGUES, Petrônio; PAIXÃO, Marcelo. Raça, pós-emancipação,
cidadania e modernidade no Brasil. In: GOMES, Flávio dos Santos; DOMINGUES, Petrônio. Da nitidez e
invisibilidade: legados do pós-emancipação no Brasil. Belo Horizonte: Fino Traço, 2013, p. 312.
46
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.
47
VALE, Silvia Teixeira; LACERDA, Rosângela Rodrigues. Curso de direito constitucional do trabalho.
São Paulo: LTr, 2021. p. 251.
48
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de
sexo, idade, cor ou estado civil.
49
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
50
MAIOR, Jorge Luiz Souto. O direito do trabalho como instrumento de justiça social. São Paulo: LTr,
2000. p. 248.
51
DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. São Paulo: LTr, 2015, p. 183.
“(...)
A identidade social do homem somente será assegurada se o
seu trabalho for digno. A explicação deve ser compreendida
por meio da contradição permanente que se desenvolve
na sociedade civil: ao mesmo tempo em que o trabalho
possibilita a construção da identidade social do homem,
pode também destruir a sua existência, caso não existam
condições mínimas para o seu exercício.
Se o obreiro ganha mal, se não existem condições mínimas
de salubridade, por exemplo, não há espaço para a con-
cretização da dignidade. O Direito será mera abstração.
Compreender o trabalhador enquanto mero instrumento
para a realização de determinado ofício, tônica da sociedade
contemporânea, compromete o entendimento maior de que
o homem deve ser um fim em si mesmo”.
A possibilidade de acesso ao emprego se trata de condição precípua à
reprodução da vida, sendo a sua exclusão uma forma de negação da própria
cidadania.
E é nesse cenário de necessidade de proteção à dignidade humana do tra-
balhador, parte hipossuficiente de uma relação laboral, que se revela a importância
de se debater acerca das questões limitantes à atuação mais firme e destacada da
mulher negra nos espaços de trabalho e de poder, a fim de se ver concretizados
os ideais republicanos do Estado Democrático de Direito.
o seu bem-estar social, a sua saúde. Pensemos que, com a mulher negra, isso
ocorre, na medida em que, para ela, é impedida, de forma sorrateira, silenciosa,
a ascensão e a chegada aos cargos mais altos, por exemplo.
Pois bem. O fato é que a literatura de grande parte das situações de prá-
ticas racistas apontam um cenário de lacuna ética acerca dos Direitos Humanos
da população negra. Os agressores demonstram um desrespeito à legislação e
o descompromisso ético com a vítima, adotando condutas ilícitas, agressivas e
odiosas. Na verdade, o privilégio branco leva o negro para um lugar no qual não
não se vislumbra o reconhecimento da pessoa como ser humano.
E cabe aqui registrar que, infelizmente, a mídia favorece essa imagem.
Muitas vezes, revela a figura do negro como criminoso, como no rio de janeiro,
por exemplo, onde vemos confrontos diários entre a polícia e moradores de
favela, e resta sugerida, pela mídia, a relação do homem preto-pobre-favelado,
que tem a intenção de roubar ou lesar alguém ou o estado.
Todos esses discursos odiosos e diariamente reafirmados reforçam a difi-
culdade da ocupação por parte dos negros nos cargos de chefia ou de gerência.
Quando ocupam esses lugares, acabam enfrentando situações de exposição e,
muitas vezes, de humilhação.
Para Raissa Roussenq Alves, o “projeto de branqueamento elaborado e
mantido pela elite branca alçou este grupo ao padrão de referência da condição
humana ao mesmo tempo em que estabeleceu o negro livre como um “problema
a ser solucionado”52, observando que o fortalecimento do autoconceito branco
legitima a sobreposição sócio-econômica e política.
É realidade que o silêncio acerca do papel que os negros ocupam e
ocuparam numa sociedade que perpetua as desiguldades sociais se impõe, seja
de forma simbólica, seja concreta, à continuidade da proteção aos interesses
brancos e seus privilégios.
Por esta razão é que não há interesse, pela população branca, em se dis-
cutir esse legado - que é como se revela a escravidão. A brancura, nesse sentido,
apresenta-se não só como uma forma de identidade dominadora, mas como o
principal requisito do que venha a significar um ser humano livre.
Ocorre que, para a maior parte dos brancos, isso não causa indignação,
e estes acabam se mantendo em posição silenciosa, fazendo ecoar as vozes
ensurdecedoras de mais uma forma de violência. A verdade é que todos esses
fatos contribuem para a formação do chamado “pacto de invisibilidade” do ser
negro na sociedade.
Entre o silêncio e a negação: trabalho escravo contemporâneo sob a ótica da população negra. Belo
52
8. A LUTA ANTIRRACISTA
53
Os primeiros estudos referentes ao tema foram desenvolvidos na área da Biologia, pelo etologista Konrad
Lorenz. Nas suas pesquisas, Lorenz observou a atuação de alguns animais de pequeno porte quando se sentiam
ameaçados por outros animais (em regra, maiores), principalmente, no que dizia respeito à disputa territorial.
Concluiu que o combate envolvia comportamento agressivo por parte dos animais menores que, em grupo,
utilizavam-se de artifícios para expulsar o “invasor”. A tal comportamento, Konrad deu o nome de “mobbing”.
Nesse contexto, por uma minoria incomodada com a posição ocupada pela
população negra – que, contraditoriamente, revela-se como maioria no Brasil -,
surgem políticas afirmativas, a exemplo das cotas, que são erroneamente tratadas
como modalidades de premiação à incompetência negra.
Sob esta perspectiva, as políticas afirmativas se revelam, não como um
produto prático de uma retórica discursiva, mas, quase sempre, de um produto
de interesses políticos. Cabe ao Estado adotar, por exemplo, um modelo de
Políticas Públicas (e universalistas) que possibilite a luta em face das desigual-
dades raciais. São essas organizações que forçam a queda de detrerminados
preconceitos, favorecendo e abrindo os espaços de participação.
Ocorre que o que se vê, na atualidade, é a ausência de projetos consis-
tentes e duradouros capazes de transformar a nação, que sejam desenvolvidos
e gestados pelas classes políticas brasileiras. Faz-se necessário criar um projeto
de debates onde se mostre bipolarizado um olhar para as bases de um passado
brasileiro (equivocado) e as possibilidades de um futuro transformado à nação,
no qual a mulher negra tenha a sua identidade e o seu papel social valorizados.
As práticas antirracistas precisam imperar com a retirada das barreiras
que impossibilitam o crescimento do profissional negro, e isso depende de uma
modificação dos padrões de uma visão social, de mudança de cultura e um debte
crítico e aprofundado por aqueles que, de fato, possuem interesse em modificar
o panorama social da atualidade.
9. CONCLUSÃO
A grande saída deve passar, portanto, pela ideia de se pensar como uma
negra, o que significa reconhecer o diálogo entre a opressão sofrida e o privilégio
branco, a fim de que se possa interpretar a igualdade por meio das relações de
poder que constroem um lugar social para cada grupo. É deixar de compreen-
der a raça como uma classificação formal para desconstituir o fenômeno da
invisibilidade social.
REFERÊNCIAS
Selma Carloto1
1. INTRODUÇÃO
1
Autora das obras: Compliance Trabalhista, Lei Geral de Proteção de Dados enfoque nas relações de
Trabalho, Manual Prático de Adequação à Lei Geral de Proteção de Dados e coordenadora/autora da obra
LGPD comentada, enfoque nas relações de trabalho. Pesquisadora da Usp, departamento de Direito Civil,
de Lei Geral de Proteção de Dados. Coordenadora de pós graduação de Direito, Tecnologia e Cyberse-
gurança. Exin Data Protection Officer (certificação de DPO). Professora convidada da Fundação Getúlio
Vargas da FGV Direito Rio e dos MBAs de Gestão de Pessoas, Gestão Empresarial e Gestão Comercial
da área de Direito. Membro do Instituto Nacional de Proteção de Dados. Mestre pela Universidade de São
Paulo (USP). Doutoranda em engenharia da informação na Universidade Federal do ABC em Inteligência
Artificial. Doutorado em Direito do Trabalho na Universidade Federal de Buenos Aires (UBA). Especialista
pela FADISP. Autora dos livros publicados na Argentina, Editorial Quorom, Manual de Derecho Laboral
e Interesses Metaindividuais e ações coletivas.
e-mail: selmacarloto@hotmail.com inst.selmacarloto@hotmail.com
2
CARLOTO, Selma. Lei Geral de Proteção de Dados. Editora LTR. Terceira edição. 2022.
entre outros, os quais apenas poderão tratar dados de acordo com as instruções
claras do controlador, não podendo utilizá-los para finalidades distintas, ou além
daquela determinada pelo controlador.
O operador, subcontratante, na União Europeia, poderá apenas decidir
sobre certos assuntos, como, por exemplo, qual software usar, segregação de
acesso e outras medidas técnicas e administrativas de segurança da informação,
o que não altera seu papel como operador.
Talvez ficasse mais claro, se no Brasil tivéssemos repetido as nomen-
claturas eleitas e utilizadas pela legislação da União Europeia, não dando
uma falsa ideia de que o empregado, um servidor, uma equipe, ou departa-
mento, possam ser considerados agentes de tratamento e assim polo passivo
em uma ação judicial dos entes legitimados para ações civis públicas, ou
mesmo em uma ação individual, ou uma sanção da Autoridade Nacional de
Proteção de Dados.
Esta diferenciação é fulcral não apenas para os profissionais especializados
na área, mas também para o cidadão comum e principalmente em uma imple-
mentação por uma empresa ou entidade, principalmente pelo papel assumido
pelo controlador, como responsável pelas atividades de tratamento.
Tínhamos já anteriormente importantes documentos que nos ajudavam
na interpretação da Lei Geral de Proteção de Dados e nas diferenças entre os
agentes de tratamento e mesmo o DPO, ou encarregado, (o qual não é agente
de tratamento), mas estes eram da União Europeia, como a guideline de número
07/2020 do CEPD (Comitê Europeu de Proteção de Dados) e o anterior parecer
do Grupo de Trabalho do Artigo 29 de número 1/2010.
3
ANPD. GUIA ORIENTATIVO PARA DEFINIÇÕES DOS AGENTES DE TRATAMENTO DE
DADOS PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos
Agentes de Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias.
4
ANPD. GUIA ORIENTATIVO PARA DEFINIÇÕES DOS AGENTES DE TRATAMENTO DE
DADOS PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos
Agentes de Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias. Acesso em 25 jun 2021.
5
ANPD. GUIA ORIENTATIVO PARA DEFINIÇÕES DOS AGENTES DE TRATAMENTO DE
DADOS PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos
Agentes de Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias.
Não existe impedimento para uma pessoa natural ser contratada como
operadora em atividades específicas de tratamento de dados, sendo considerada
6
ANPD. GUIA ORIENTATIVO PARA DEFINIÇÕES DOS AGENTES DE TRATAMENTO DE
DADOS PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos
Agentes de Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias.
7
ANPD. GUIA ORIENTATIVO PARA DEFINIÇÕES DOS AGENTES DE TRATAMENTO DE
DADOS PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos
Agentes de Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias.
8
A ANPD também destaca este ponto em seu guia de agentes de tratamento e encarregado. ANPD.
GUIA ORIENTATIVO PARA DEFINIÇÕES DOS AGENTES DE TRATAMENTO DE DADOS
PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos Agentes de
Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias.
9
ANPD. GUIA ORIENTATIVO PARA DEFINIÇÕES DOS AGENTES DE TRATAMENTO DE
DADOS PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos
Agentes de Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias.
Empresa A Contabilidade
Compartilhamento
de dados pessoais
CONTROLADORA OPERADORA
10
BRASIL. Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.
htm. Acesso em 17 jun.2022.
11
ANPD. GUIA ORIENTATIVO PARA DEFINIÇÕES DOS AGENTES DE TRATAMENTO DE
DADOS PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos
Agentes de Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias.
6. CONTROLADORIA CONJUNTA
12
ANPD. GUIA ORIENTATIVO PARA DEFINIÇÕES DOS AGENTES DE TRATAMENTO DE
DADOS PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos
Agentes de Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias.
13
EDPB, Guidelines 07/2020 on the concepts of controller and processor in the GDPR, set. 2020. Dis-
ponível em: < https://edpb.europa.eu/sites/edpb/files/consultation/edpb_guidelines_202007_controllerpro-
cessor_en.pdf> Acesso: 25 jun. 2021.
CARLOTO, Selma. Lei Geral de Proteção de Dados. Editora LTR. Terceira edição. 2022
14
DADOS PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos
Agentes de Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias.
7. CONCLUSÃO
DADOS PESSOAIS E DO ENCARREGADO. Disponível em: Guia Orientativo para Definições dos
Agentes de Tratamento https://www.gov.br › pt-br › assuntos › noticias.
REFERÊNCIAS
Selma Carloto1
1. O QUE É?
1
Membro do Instituto Nacional de Proteção de Dados. Autora de diversas obras de Lei Geral de Proteção
de Dados e de Compliance Trabalhista da editora LTR. Cooordenadora e coautora da obra Inteligência
Artificial nas Relações de Trabalho, editora Mizuno e coordenadora e coautora da obra Manual de Relações
de Trabalho em Visual Law. Pesquisadora da Usp, departamento de Direito Civil, de Lei Geral de Proteção
de Dados. Coordenadora de pós graduação de Compliance e Direito Digital e Metaverso, Tecnologias
emergente e cybersegurança da Faculdade Esper. Data Protection Officer (certificação de DPO). DPO e
Compliance Officer as a servisse. Professora convidada da Fundação Getúlio Vargas da FGV Direito Rio e
dos MBAs de Gestão de Pessoas, Gestão Empresarial e Gestão Comercial da área de Direito. Mestre pela
Universidade de São Paulo (USP). Doutoranda em engenharia da informação na Universidade Federal do
ABC em Inteligência Artificial. Doutorado em Direito do Trabalho na Universidade Federal de Buenos
Aires (UBA). Especialista pela FADISP. Autora dos livros publicados na Argentina, Editorial Quorom,
Manual de Derecho Laboral e Interesses Metaindividuais e ações coletivas.e-mail:selmacarloto@hotmail.
com inst.selmacarloto@hotmail.com
2. PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA
2
PWC Grécia recebe multa de €150Mil por violar GDPR. Disponível em: https://minutodaseguranca.
blog.br/pwc-grecia-recebe-multa-de-e150mil-por-violar-gdpr/. Acesso em 18 jun. 2022.
A maioria das empresas não faz políticas de privacidade para seus empre-
gados ou colaboradores4, apenas para clientes e este seria um documento funda-
mental para informá-los sobre como seus dados serão tratados, principalmente
porque estamos diante de relações assimétricas e com um maior risco de invasão
aos direitos fundamentais.
Constata-se que, que onde se precisa de uma maior proteção e trans-
parência, devido à assimetria oriunda do poder de direção, que se contrapõe à
subordinação, é onde há maiores abusos e violações de princípios de proteção
de dados, incluindo-se o da transparência e informação prévia.
3
BRASIL. Lei n. 13.709/2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em 18 jun. 2022.
4
Este termo é mais utilizado, nas empresas, do que empregado.
5. CONCLUSÃO
Indicação de leitura, sobre o tema, do capítulo desequilíbrio de poder nas relações de trabalho na obra:
5
CARLOTO, Selma. Lei Geral de Proteção de Dados. Editora LTR. 3ª. Edição. 2020
REFERÊNCIAS
1
Juíza do Trabalho no TRT da 5ª Região. Mestra em Direito pela UFBA. Doutora pela PUC/SP, Pós-
-Doutora pela Universidade de Salamanca. Professora convidada do curso de pós-graduação lato sensu da
Faculdade Baiana de Direito, EMATRA5, CERS, CEJAS, UCSAL e da Escola Judicial do TRT da 5ª, 6ª,
10ª e 16ª Regiões. Diretora da EMATRA5, biênio 2019/2021. Membra do Conselho editorial da Revista
eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho da Quinta Região e da Revista Vistos etc. e do Conselho
acadêmico da ENAMATRA, órgão de docência da ANAMATRA. Autora de livros e artigos jurídicos.
Ex-professora substituta da UFRN.
2
Procuradora do Trabalho do Ministério Público do Trabalho da 5ª Região. Professora Adjunta da Uni-
versidade Federal da Bahia. Mestre em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia. Doutora em
Direito do Trabalho e da Seguridade Social pela Universidade de São Paulo. Professora convidada do curso
de pós-graduação lato sensu da Faculdade Baiana de Direito, CERS, UCSAL, UNIFACS e das Escolas
Judiciais do TRT da 5ª, 6ª e 16ª Regiões.
1. INTRODUÇÃO
Os movimentos sociais estão na ordem do dia. A preocupação com a
teorização sobre os movimentos sociais deve-se à sua visibilidade na sociedade,
na qualidade de fenômenos sociais e históricos concretos. Há uma necessidade
ingente de estabelecimento de marcos conceituais e teóricos, considerando-se
que as doutrinas tradicionais já não respondem às questões de primacial rele-
vância acerca do fenômeno.
A prática dos movimentos sociais não contribui para um entendimento
uníssono sobre a sua ontologia, porquanto são múltiplos e heterogêneos os
temas eleitos como bandeiras de luta, em cada uma das mobilizações, instáveis
por sua própria natureza, porém capazes de provocar rupturas e mudanças no
sistema social. É imprescindível, portanto, destacar novos paradigmas concei-
tuais acerca dos movimentos sociais - este é o objetivo do presente estudo, ou
seja, fornecer elementos para uma teorização mais sólida e consistente, que é
fulcrada na teoria dos sistemas, de Niklas Luhmann.
No primeiro item do estudo, serão apresentadas as principais teorias
tradicionais e contemporâneas acerca dos movimentos sociais, em seus aspectos
mais destacados, ressaltando-se também as suas inconsistências. Em seguida,
serão explanados alguns conceitos da teoria dos sistemas, cujo domínio é fun-
damental para a compreensão dos movimentos sociais à luz desta teoria, objeto
do terceiro item. Por derradeiro, serão tecidas considerações acerca das críticas
à teoria sistêmica e os argumentos para superação das objeções.
3
LEE, Alfred McClung. New outline of the principles of sociology. New York: Barnes & Noble, 1951.
4
GOHN, Maria da Glória. Teoria dos movimentos sociais - paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo:
Loyola, 2011, p. 40.
5
STAGGENBORG, Suzanne. Social Movements. Oxford: Oxford University Press. 2011, p. 26.
Revista de Ciências Sociais, São Paulo, USP, vol. 11, p. 121-133, 2004. Entrevista realizada por Rômulo
Figueira Neves.
10
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2012, p. 9-15.
Em meados dos anos 70, surge uma nova concepção, nas ciências bio-
lógicas, para explicação do fenômeno da vida. Esta tese, denominada de teoria
dos sistemas, foi sustentada pelo neurobiólogo Humberto Maturana e pelo
biólogo e filósofo Francisco Varela, ambos chilenos. Conquanto alguns autores
se reportem a uma adaptação desta teoria para as ciências sociais, o fato é que
houve uma verdadeira evolução da concepção inicial, com algumas rupturas
metodológicas.
Com efeito, a sociologia jamais seria a mesma após o advento da complexa
teoria dos sistemas idealizada por Luhmann, em face da sua envergadura teórica
e genialidade para explicação da complexidade contemporânea. Antes, porém,
da investigação acerca de sua contribuição para a teoria dos movimentos sociais,
é mister um prévia e sintética explanação acerca dos principais elementos da
teoria dos sistemas, a fim de possibilitar a compreensão das inovações carreadas.
É mister gizar, inicialmente, que a teoria dos sistemas é caraterizada
pela universalidade, ou seja, por pretender explicar todos os fenômenos sociais
através de uma única tese, o que está na contramão do pensamento sociológico
tradicional, que não acredita em uma única teoria que seja capaz, de modo
idôneo e eficaz, de açambarcar todo o universo fenomenológico da sociedade.
Com este desiderato, a teoria dos sistemas estará sempre calcada na abstração
e complexidade, bem como na utilização de uma terminologia própria. Assim,
o ideário sistêmico «buscou um aporte universal, que superasse a estreiteza da
conexão entre micro e macro, e alcançasse maior precisão conceitual»11.
A interdisciplinaridade é também uma característica muito forte da teoria
dos sistemas, porquanto muitos dos seus paradigmas conceituais serão trazidos
das ciências naturais, em especial a biologia, mas também da cibernética e da
neurofisiologia.
Ao mesmo tempo, é preciso que o intérprete se desnude em relação a
alguns preconceitos, oriundos da sociologia tradicional, para compreender a
obra de Luhmann. Em primeiro lugar, a teoria dos sistemas afirma que o ser
humano não é parte integrante da sociedade. Em verdade, a sociedade é um
sistema composto apenas por comunicação, estruturado com base na diferen-
ciação funcional:
Para a antiga tradição europeia da filosofia social e da
filosofia do direito era evidente que o homem encontrava
sua liberdade e sua virtude, sua sorte e seu direito enquanto
11
NEVES, Clarissa Baeta; SAMIOS, Eva Machado Barbosa (Coords.). Niklas Luhmann: a nova teoria dos
sistemas. Porto Alegre: EDUFRGS, 1997, p. 17.
17
KUNZLER, Caroline de Morais. A teoria dos sistemas de Niklas Luhmann. Revista Estudos de Sociologia,
v. 9, n. 16, p. 123-136, 2004.
18
LUHMANN, Niklas. O conceito de sociedade. In: NEVES, Clarissa Baeta; SAMIOS, Eva Machado
Barbosa (Orgs.). Niklas Luhmann: a nova teoria dos sistemas. Porto Alegre: EDUFRGS, 1997, p. 107.
21
SOBOTTKA, Emíl Albert. Sem objetivo? Movimentos sociais vistos como sistema social. In: RODRI-
GUES, L.; MENDONÇA, D.. Ernesto Laclau e Niklas Luhmann: pós-fundacionismo, abordagem sistêmica e as
organizações sociais. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006, p. 123.
22
LUHMANN, Niklas. La sociedad de la sociedad. Ciudad del Mexico: Herder, 1997, p. 674-675.
do que outros, mas todos pecadores). Para estas mobilizações sociais, a culpa é
sempre do outro, que não resolve o problema de modo adequado ou o negli-
gencia; o movimento social, portanto, como se considera superior à sociedade,
não comete erros, mas apresenta as soluções mais adequadas e escorreitas para
os problemas, sempre imputando a culpa no outro, jamais admitindo sequer
uma fatia da responsabilidade pelo entorno social.
Êxito e falta de êxito são igualmente fatais para os movimentos sociais.
A transformação exitosa do tema acontece fora do movimento e, no melhor
dos casos, se lhe atribui um “mérito histórico”. Por outro lado, a falta de êxito
desanima os participantes. Talvez este dilema seja a razão pela qual os novos
movimentos sociais buscam contato entre si, simpatizam uns com os outros
- sempre e quando exista como condição mínima uma ideia alternativa, um
protesto e um não identificar-se com os círculos dominantes25.
Segundo o sociólogo, portanto, atualmente os movimentos sociais têm
uma dupla função: fornecer uma autodescrição específica da sociedade moderna
e chamar a atenção para os problemas26. Destarte, funcionam como verdadeiro
sistema imunológico, comparação que também encontra-se lastreada por outros
autores que sufragam a teoria dos sistemas. A contradição, pois, não é vista de
modo pejorativo, ou como algo prejudicial; em verdade, a contradição é ine-
rente ao funcionamento do sistema, é uma reação do sistema contra ele próprio
diante da qual não consegue imediatamente uma cognição ou uma solução. A
contradição introduz um maior nível de insegurança e incerteza no sistema, pois
aumenta a complexidade do sistema ao permitir um excesso de possibilidades
em uma situação de pressão por seleção. Por conseguinte, o paradoxo é instável
e não pode ser reproduzido indefinidamente - esta é a razão da necessidade de
sua diferenciação, como subsistema específico de comunicação. Este sistema é,
especificamente, o conflito social.
As contradições se diferenciam como subsistema social dentro de cada
um dos sistemas funcionais (e, por esta razão, são denominados de sistemas
parasitários) e disparam o “alarme” da necessidade do sistema funcional reduzir
a complexidade, ou seja, operar em torno daquele tema suscitado. A solução
para o conflito, portanto, é dada não por suas comunicações internas, mas pelo
seu sistema funcional hospedeiro, que em verdade se constitui em seu ambiente.
A alternativa para os conflitos que não são absorvidos pelos procedimento é
organizar-se enquanto protesto. O movimento social “dispara o alarme” por
mudanças dentro do sistema funcional - por esta razão, é possível equipará-lo
25
LUHMANN, Niklas. La sociedad de la sociedad. Ciudad del Mexico: Herder, 1997, p. 680-681.
26
LUHMANN, Niklas. Systemtheorie und Protestbewegungen. In: HELLMANN, Kai-Uwe. Protest.
Systemtheorie und soziale Bewegungen. Berlim: Suhrkamp, 1996, p. 192-194.
27
BACHUR, João Paulo. Distanciamento e crítica: limites e possibilidade da teoria de sistemas de Niklas Luhmann.
2009. Tese (Doutorado em Ciência Política) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Univer-
sidade de São Paulo, São Paulo, p. 279.
6. CONCLUSÃO
A partir do estudo das teorias acerca dos movimentos sociais que mais
adeptos angariaram, é possível afirmar a insuficiência paradigmática destas
para explicação do fenômeno. Destarte, é imperiosa a conclusão de que a teo-
ria dos sistemas, de Niklas Luhmann, que define os movimentos sociais como
subsistemas sociais autopoiéticos, não funcionais e parasitários, é a que melhor
se coaduna com a complexidade atual da sociedade polimórfica e policêntrica,
fornecendo um aporte teórico mais consistente e com maior densidade que os
seus predecessores.
REFERÊNCIAS
1
Discente do 9º período do curso de Bacharelado em Direito do UNIFAMAZ – Centro Universitário
Metropolitano da Amazônia. Email: mendoncayanka@gmail.com.
2
Advogada. Professora da Graduação do Curso de Direito e de Pós-graduação. Mestre em Direito pela
Universidade Federal do Pará (PPGD/UFPA). Especialista em Direito e Processual do Trabalho pela Uni-
versidade da Amazônia (UNAMA). Pós-graduanda em Direito Previdenciário. Bacharel em Direito pelo
Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA). Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual
(IBDP). Email: semiramesleao@hotmail.com.
that threaten the psychological, moral and sexual dignity of women, who have
the right to the proper work environment.
1. INTRODUÇÃO
2.1. Conceito
por ter similaridades quanto ao constrangimento sofrido, neste caso, pela mulher
no ambiente de trabalho, e, além disso, através da leitura do caput do art. 216-A, o
ato de constrangimento com o intuito de receber favorecimento sexual, utilizan-
do-se, para tanto, de cargo ou função de superior hierárquico na relação laboral,
caracterizando, assim, grave violência psicológica, moral e sexual a mulher.
Para além dos termos definidos pelo Código Penal, a Consolidação das Leis
Trabalhistas, em seu art. 483, também trata do assédio, mas mais especificamente
do que se conhece como assédio moral. O assédio moral ocorre quando forem
exigidos serviços superiores às forças do empregado, defesos por lei, contrários
aos bons costumes, ou alheios ao contrato; quando o empregado é tratado com
rigor excessivo ou até mesmo quando há ofensa física, dentre outros previstos
em lei. Essa conduta acarreta na rescisão indireta do contrato de trabalho, pois
o empregador enseja a rescisão do contrato.
A respeito da violência moral, dispõe o inciso V que seria qualquer con-
duta que configure calúnia, difamação ou injúria. Mas vamos além, para fins de
definição acerca do assédio moral para o presente trabalho, utilizamos a definição
do extinto Ministério do Trabalho, através do artigo da Secretária Nacional da
Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane Silva (2014), que assim dispõe:
“O assédio moral e sexual são atos cruéis e desumanos que
caracterizam uma atitude violenta e sem ética nas relações
de trabalho praticada por um ou mais chefes contra seus
subordinados. Trata-se da exposição de trabalhadoras e
trabalhadores a situações vexatórias, constrangedoras e
humilhantes durante o exercício de sua função. Esses atos
visam humilhar, desqualificar e desestabilizar emocional-
mente a relação da vítima com a organização e o ambiente
de trabalho, o que põe em risco a saúde, a própria vida da
vítima e seu emprego”.
Portanto, a mera exposição a situações que causem desconforto a mulher,
prejudicando sua saúde emocional, e, por conseguinte, tornando o ambiente de
trabalho e as relações interpessoais lá construídas como algo detestável, caracte-
rizam, para o presente trabalho, a violência moral, e, portanto, o assédio moral.
O assédio sexual é crime tipificado pelo art. 216-A do Código Penal, que
dispõe sobre o delito da seguinte forma: Constranger alguém com o intuito
de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua
“Você está louca”, “você está exagerando”, “isso não aconteceu”: frases que
mulheres escutam hodiernamente em vários locais, como no ambiente doméstico
ou laboral. De forma geral, o manipulador tenta convencer a mulher de que
está errada, louca, e que não há razão naquilo que ela pensa. No ambiente de
trabalho, é muito comum vermos esse tipo de comportamento como tentativa
de ocultação de práticas de assédio sexual ou moral, convencendo a mulher de
que aquilo na verdade não foi tão grave quanto pareceu.
A respeito do assunto, explica Stern (2007, p.12, apud Souza, p. 12, 2017):
[...] O Efeito Gaslight resulta do relacionamento entre duas
pessoas: um gaslighter (aquele que pratica o gaslighting)
que precisa estar certo no sentido de preservar o seu ego e
o seu senso de ter poder no mundo; e o gaslightee (aquele
que sofre o gaslighting), que permite que o gaslighter defina
o seu senso de realidade, porque ela o idealiza e busca sua
aprovação. Gaslighters e gaslighttes podem ser de ambos os
gêneros, e o gaslighting pode acontecer em qualquer tipo de
relacionamento. Mas eu vou me referir a Gaslighters como
“ele” e a Gaslightees como “ela”, pois é o que mais tenho
visto em minha prática. Eu vou explorar uma variedade de
relacionamentos – com amigos, família, chefes, e colegas
– mas o relacionamento romântico entre homem-mulher
será meu maior foco.
No ambiente do trabalho, tal prática pode deixar sequelas prejudiciais
tanto à carreira quanto a estabilidade psíquica e emocional da mulher. A mulher
vítima da prática de “gaslighting”, possivelmente vítima também de um assédio
sexual ou moral no local em que trabalha, terá consequências como: diminuição
5. CONCLUSÃO
irá deter poder aquisitivo, portanto, não irá movimentar a economia, e, como já
foi dito anteriormente, as mulheres representam quase a metade do mercado
de trabalho segundo pesquisa do IBGE feita em 2019.
Ademais, com o desestímulo a denúncia e ao combate desta problemática,
as empresas demonstram um claro sinal de que a mulher, para se manter no
mercado de trabalho, deve prejudicar sua saúde mental e emocional a todo o
custo. Tal premissa evidencia-se com o fato de que apenas 19% das empresas
promovem ações de combate a violência contra a mulher no ambiente corpora-
tivo5. Em relação a estas empresas, apenas 9% possuem canal de ouvidoria para
apoio à mulher e oferecem serviços psicológicos fora de sua sede e apoio jurídico.
Portanto, apesar dos mecanismos de combate oferecidos pelo poder
público demonstrados no item 3 deste artigo, ainda é muito necessário promo-
ver a conscientização na ambiência privada, bem como estimular a denúncia a
qualquer ato violento contra a mulher. Ressalta-se que a denúncia, ainda que
não feita pela mulher, pode ser feita por colegas de trabalho que reconheçam a
problemática e não desejam permanecer omissos em relação ao ocorrido.
Diante da breve exposição sobre a violência contra a mulher no ambiente
do trabalho, é inequívoco dizer que tais atos não são cabíveis em sociedade e
devem ser, de todas as formas, combatidos. A mulher, como sujeito detentor
de direitos e deveres, merece o tratamento adequado ao seu meio ambiente de
trabalho, visando a repressão máxima da desigualdade existente das relações
de poder em sociedade. Não é mais cabível que a mulher não possa ocupar
determinados espaços, ou se manifestar da forma que lhe caiba por pura dis-
criminação social. Ao contrário. Deve-se ao máximo estimular a fala da mulher,
a sua evolução profissional, sua ocupação e liderança no trabalho, pois é este o
caminho para um ambiente laboral mais justo e igualitário.
REFERÊNCIAS
5
Pesquisa feita pelo Instituto Vasselo Goldoni e Talenses Group intitulada “Violência e Assédio contra
a Mulher no Mundo Corporativo” no ano de 2019. 311 empresas foram ouvidas por meio de um questio-
nário online.
senado.leg.br/institucional/omv/acoes-contra-violencia/servicosespecializados-de-a-
tendimento-a-mulher. Acesso em: 31 dez 2020.
PRASABER. Mulheres no mercado de trabalho – carreiras e desafios. 08 mar 2020.
PraValer. Disponível em: https://www.pravaler.com.br/mulheres-no-mercado-de-tra-
balho-carreiras-e-desafios/. Acesso em: 20 dez 2020.
RODRIGUES, Léo. Estudo revela tamanho da desigualdade de gênero no mercado
de trabalho: Fatores como afazeres domésticos trazem limitações. Agência Brasil, Rio
de Janeiro, 04 de março de 2021. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/
economia/noticia/2021-03/estudo-revela-tamanho-da-desigualdade-de-genero-no-
-mercado-de-trabalho. Acesso em: 24 de fevereiro de 2022.
SALLES, Fernando. Mulheres ocupam, no máximo, 10% dos cargos de chefia na maioria
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