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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
GDD
Nº 71006442594 (Nº CNJ: 0054709-33.2016.8.21.9000)
2016/CÍVEL

RECURSO INOMINADO. COBRANÇA.


RECONHECIMENTO, DE OFÍCIO, DA ILEGITIMIDADE
ATIVA DE LISIANE. EMPRÉSTIMO ENTRE
PARTICULARES (PAI E FILHO). DÉBITO DECORRENTE
DE AÇÃO PENAL. VALORES ENTREGUES PELO
AUTOR PARA DEPÓSITO JUDICIAL. TRANSAÇÃO
PENAL. AJUDA DE TERCEIROS AO AUTOR PARA
INTERCEDER EM FAVOR DO RÉU, SEU FILHO. NA
DEFESA ALEGA O RÉU ADIMPLEMENTO DO DÉBITO.
FATO MODIFICATIVO E EXTINTIVO DO DIREITO DO
AUTOR. NECESSIDADE DE O RÉU REALIZAR A
PROVA. CARÊNCIA DE ELEMENTOS PARA
DEMONSTRAR ADIMPLEMENTO DO DÉBITO.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DA AÇÃO EM
RELAÇÃO ÀS PARTES JOÃO CARLOS E JOÃO LUIZ,
MANTIDA POR SEUS FUNDAMENTOS.
RECURSO IMPROVIDO.

RECURSO INOMINADO QUARTA TURMA RECURSAL CÍVEL

Nº 71006442594 (Nº CNJ: 0054709- COMARCA DE SÃO FRANCISCO DE


33.2016.8.21.9000) ASSIS

JOAO LUIZ SANTOS DO AMARAL RECORRENTE

JOAO CARLOS MOREIRA DO AMARAL RECORRIDO

LISIANE SANTOS DO AMARAL RECORRIDO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Juízes de Direito integrantes da Quarta Turma Recursal Cível


dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do Sul, à unanimidade, em negar
provimento ao recurso.
Participaram do julgamento, além da signatária (Presidente), os eminentes
Senhores DR. RICARDO PIPPI SCHMIDT E DR. LUIS ANTONIO BEHRENSDORF
GOMES DA SILVA.

Porto Alegre, 16 de dezembro de 2016.

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
GDD
Nº 71006442594 (Nº CNJ: 0054709-33.2016.8.21.9000)
2016/CÍVEL

DR.ª GLAUCIA DIPP DREHER,


Relatora.

RELATÓRIO
JOÃO CARLOS MOREIRA DO AMARAL e LISIANE SANTOS DO
AMARAL ajuizaram Ação de Cobrança contra JOÃO LUIZ SANTOS DO AMARAL.
Requerem os autores que o réu seja condenado a pagar a dívida, no valor de R$ 5.450,00,
decorrente de empréstimo para depósito judicial para pagamento de transação penal. Na ação
penal, o procurador do réu atuou como defensor constituído, sendo o réu condenado a pena
base de 02 anos de reclusão e o recurso de apelação desta, foi improvido. Designada
audiência admonitória, para que o réu providenciasse o valor equivalente a 10 salários
mínimos. Com o empréstimo e depósito do valor, foi dada por cumprida a transação penal.
Na presença do advogado do réu (declaração de fls. 04/05), o requerido prometeu ao autor
devolver os valores com maior brevidade, menos de 30 dias, pois teria que pagar a seu amigo
que lhe emprestou para completar o total exigido judicialmente. Passados mais de 90 dias,
nada foi resolvido. Requerem a procedência da ação com a condenação do réu ao pagamento
de R$5.450,00.

Na audiência de conciliação (fl.32), a parte ré postulou a extinção do feito,


por ausência de provas e questionando a capacidade da parte autora, em face da tramitação
da ação de interdição. Após manifestações das partes, proferido despacho na fl. 51, no qual o
Juízo de origem determinou o seguimento da ação.

Realizada audiência de instrução nas fls. 64, com contestação oral, alegando
falta de provas e postulando a improcedência da ação. Colhidos depoimentos pessoais das
partes e testemunhas nas fls. 66/67.
Sentença proferida nas fls.71/73, julgando procedente pedido dos autores,
condenando o réu a pagar o valor de R$5.450,00.
Recurso Inominado da parte ré nas fls.78/83, defendendo a quitação do
débito. Refere que a prova da existência do débito toca ao autor, pois a declaração do débito

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firmada pelo advogado que atuou em prol do réu no processo crime, não tem credibilidade
necessária para justificar a sentença, já que também se declara credor do réu. Refere das
divergências dos autos. Requer a reforma da sentença e a improcedência da ação. Deferido
AJG ao recorrente na fl. 90.
Contrarrazões juntadas nas fls. 98/104.

É o relatório.

VOTOS
DR.ª GLAUCIA DIPP DREHER (RELATORA)

Eminentes colegas.
Conheço do recurso inominado, pois preenchidos os pressupostos de
admissibilidade.
Preliminarmente, é de ser apreciada a legitimidade ativa de Lisiane Santos
do Amaral. Trata-se de ação de cobrança, entre particulares (pai e filho), decorrente de
valores obtidos em conta do autor, bem como junto a terceiros, visando o depósito judicial da
transação penal, envolvendo o recorrente/réu neste feito e também naquela demanda.
A autora Lisiane não é citada em momento algum dos autos como credora,
nem mesmo comprova qualquer interesse na causa. Assim, de ofício, impõe-se seja
reconhecida a ilegitimidade ativa de Lisiane Santos do Amaral e a extinção da ação, sem
julgamento de mérito, em relação a esta.
No mérito, incontroverso que as partes, pai e filho, realizaram empréstimo
entre si e, ainda, o autor complementou a quantia devida pelo réu para formalizar a transação
penal, com a ajuda financeira de terceiros, ficando o autor responsável pelo adimplemento
dos valores perante estes.
Embora o autor não tenha anexado aos autos cópia de extrato do Banco do
Brasil para comprovar o alegado saque de sua conta, nem mesmo a oitiva dos demais
credores em juízo como testemunhas, o réu alega que teria adimplido integralmente suas
obrigações. A afirmativa de adimplemento é fato modificativo e extintivo do direito do autor.
Portanto, nos termos do art. 373, II, CPC, a prova do alegado pagamento tocava ao réu.

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Nos autos foram colhidos depoimentos das partes e testemunhas nas fls.
66/67. A testemunha da parte autora é o então advogado do réu na demanda penal, e o
mesmo que firma a declaração de débito de fls. 04/05, que instruiu a ação de cobrança. Em
seu depoimento, ratifica os termos de fls. 04/05, acrescendo que a mãe do réu, divorciada do
autor e “pediu para que a testemunha conversasse com o autor para que o mesmo perdoasse
a dívida considerando que o requerido era seu filho.” (fl.67). Refere, ainda, a testemunha
que arcou com as custas do processo criminal, sem nunca ter sido ressarcido pelo réu.

Já a testemunha da parte ré, sua genitora, ouvida como informante, discorre


sobre o pagamento dos valores obtidos pelo réu para o depósito judicial na transação penal
proposta pelo MP na ação crime. Afirma que o réu já realizou o pagamento integral do
débito, mas não sabe afirmar o valor e que o adimplemento se deu em sua residência. Que
está divorciada do autor e desde então (03/03/2011), não fala mais com o mesmo. O
pagamento da dívida do réu/filho ao autor/genitor, foi realizado em dinheiro, inclusive com
parte do auxílio maternidade de sua esposa. Neste sentido, também referiu o réu em seu
depoimento, mas não juntou provas.

Destarte, considerando-se que resta incontroversa a dívida e que o autor


buscou complementar os valores solicitados pelo réu perante terceiros, responsabilizando-se
pessoalmente perante estes, aliado à ausência de prova oral ou documental a demonstrar que
os pagamentos foram realizados dando quitação do empréstimo, não é o caso de ser provido
o recurso do réu.
Nos termos do art. 46 da Lei nº 9.099/95, confirmo em sua maior parte a
proposta de decisão homologada e torno os referidos fundamentos parte integrante do
presente acórdão.

Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a


indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença
for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.

Diante do exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso do réu e,


de ofício, reconhecer a ilegitimidade ativa de Lisiane Santos do Amaral e a extinção da ação,
sem julgamento de mérito, em relação a esta, nos termos do art. 17 c/c art. 485, VI, CPC

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Custas pela parte recorrente, que arcará, ainda, com honorários advocatícios
fixados em 10% sobre o valor da condenação.

DR. RICARDO PIPPI SCHMIDT - De acordo com o(a) Relator(a).

DR. LUIS ANTONIO BEHRENSDORF GOMES DA SILVA - De acordo com o(a)


Relator(a).

DR.ª GLAUCIA DIPP DREHER - Presidente - Recurso Inominado nº 71006442594,


Comarca de São Francisco de Assis: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.
UNÂNIME."

Juízo de Origem: JUIZADO ESPECIAL CIVEL ADJUNTO SAO FRANCISCO DE ASSIS


- Comarca de São Francisco de Assis

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