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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-RRAg - 67-31.2019.5.11.0013

ACÓRDÃO
1ª Turma
GMARPJ/esc

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1005A597F28DE09C66.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/17.
NULIDADE POR CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA.
INOCORRÊNCIA. INDEFERIMENTO DE EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS E
DE PERGUNTAS À PARTE AUTORA. PROVAS CONSIDERADAS
IRRELEVANTES PARA O DESLINDE DA CAUSA.
TRANSCENDÊNCIA NÃO DEMONSTRADA.
1. Ao Magistrado é autorizado indeferir, em decisão
fundamentada as diligências inúteis ou meramente
protelatórias. A isso, some-se que o Juiz apreciará a prova
constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver
promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu
convencimento.
2. No caso dos autos, constata-se que a matéria foi
suficientemente esclarecida, tendo o Tribunal Regional,
destinatário final da prova, firmado sua convicção com base nos
elementos fático-probatórios constantes dos autos.
3. Desse modo, em razão da teoria da persuasão racional e da
ampla liberdade do Magistrado trabalhista na direção do
processo (arts. 371 do CPC e 765 da CLT), o indeferimento do
requerimento de expedição de ofícios e de perguntas ao autor
não caracteriza cerceamento do direito de defesa, salvo se
demonstrada a imprescindibilidade ou mesmo relevância
jurídica das provas indeferidas.
Agravo de instrumento a que se nega provimento.
RECURSO DE REVISTA. VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/17.
AJUIZAMENTO DE INQUÉRITO PARA APURAÇÃO DE FALTA
GRAVE. MEMBRO DA CIPA. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO. PAGAMENTO DOS SALÁRIOS
REFERENTES AO PERÍODO DE SUSPENSÃO. NÃO
DEMONSTRAÇÃO DE AFRONTA LITERAL ÀS NORMAS LEGAIS
INDICADAS. ARESTOS INESPECÍFICOS. SÚMULA N.º 296, I, DO
TST. ART. 896, “a” E “c” DA CLT. EXAME DA TRANSCENDÊNCIA
PREJUDICADO.
1. A recorrente trouxe como fundamento jurídico, para o
reexame da tese adotada pela Corte Regional, afronta aos arts.
494 e 495 da CLT, porém, referidos dispositivos não tratam da
questão nuclear da presente demanda, qual seja, os efeitos da
extinção, sem resolução do mérito, do inquérito para apuração
de falta grave, razão pela qual não há como reputá-los
diretamente violados.
2. Do mesmo modo, a revista não pode ser admitida pela senda
da divergência jurisprudencial, nos termos do art. 896, a, da CLT
e da Súmula n.º 296, I, desta Corte Superior, uma vez que os
arestos colacionados são inservíveis ao fim colimado, pois não
abordam as particularidades do caso em discussão, partindo de
premissas fáticas distintas, uma vez que, na hipótese, o autor
pleiteou expressamente o pagamento dos salários na presente
ação.
3. Logo, uma vez não demonstrada afronta literal à norma legal
ou dissenso de teses, nos termos em que preceitua o art. 896,
“a” e “c”, da CLT, o recurso de revista não se viabiliza.
DANOS EXTRAPATRIMONIAIS. OMISSÃO NA ADMISSIBILIDADE
PELO TRIBUNAL REGIONAL. NÃO OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. PRECLUSÃO DA MATÉRIA. INSTRUÇÃO
NORMATIVA N.º 40 DO TST. TRANSCENDÊNCIA NÃO
EXAMINADA.
1. O art. 1º, § 1º, da IN n.º 40/2016 do TST, determina que, se
houver omissão no juízo de admissibilidade do recurso de
revista quanto a um ou mais temas, é ônus da parte interpor
embargos de declaração para o órgão prolator da decisão
embargada supri-la, sob pena de preclusão.
2. Na hipótese, o Presidente do Tribunal Regional não analisou o
tema “danos morais” constante do recurso de revista da parte
ré, limitando-se a submeter o apelo à apreciação desta Corte
Superior, em razão do recebimento do recurso de revista quanto
ao tema “salários vencidos”.
3. Cabia à recorrente impugnar, mediante embargos de
declaração, a omissão constante no juízo de admissibilidade do
seu apelo, sob pena de preclusão, ônus do qual não se
desincumbiu.
Recurso de revista não conhecido.

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Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista com Agravo nº
TST-RRAg - 67-31.2019.5.11.0013, em que é Agravante(s) e Recorrente(s) MANAUS AMBIENTAL S.A. e é
Agravado(s) e Recorrido(s) JOCINEI SOUZA DO NASCIMENTO.

Trata-se de agravo de instrumento e recurso de revista interpostos pela ré.


Foram apresentadas contraminuta e contrarrazões aos recursos.
Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho, em face do
disposto no art. 95, § 2º, II, do Regimento Interno do TST.
É o relatório.

VOTO

I – AGRAVO DE INSTRUMENTO

1. CONHECIMENTO

Satisfeitos os pressupostos legais de admissibilidade recursal, pertinentes à


tempestividade, à regularidade de representação e ao preparo, CONHEÇO do agravo de instrumento.

2. MÉRITO

O Juízo de admissibilidade do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região negou


seguimento ao recurso de revista interposto, nos seguintes termos:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / ATOS PROCESSUAIS / NULIDADE / CERCEAMENTO


DE DEFESA.
Alegação(ões):
- violação do(s) incisos LIV e LV do artigo 5º da Constituição Federal.
Sustenta que o juízo de primeiro grau indeferiu a produção de prova de substancial
importância para o processo, decisão mantida pelo acórdão regional, pelo que requer sua nulidade
por cerceamento de defesa.
Consta no v. acórdão (id. da98681):
"(...)
Da nulidade da sentença por cerceamento de defesa.
A reclamada, preliminarmente, argui a nulidade da sentença, por cerceamento do direito de
defesa, uma vez que o juízo de primeiro grau indeferiu a expedição de ofícios para obtenção
de informações do reclamante junto a órgãos públicos, bem como negou a formulação de
determinadas perguntas ao obreiro, em audiência, o que teria prejudicado a sustentação das
teses vertidas em contestação.
Analiso.
Como se sabe, o simples indeferimento do pedido de produção de prova no processo, por si
só, não tem o condão de caracterizar cerceamento ao direito de defesa, pois o Juízo, nos
termos do art. 765 da CLT c/c art. 370 do CPC, tem ampla liberdade na direção do processo,
podendo determinar as diligências que entender necessárias à resolução da lide, devendo,
ainda, velar pelo rápido andamento da causa.
No presente caso, é possível observar que a reclamada, na audiência de instrução (Id 40af746),
reiterou requerimento a expedição de ofícios ao INSS, MTE e Receita Federal, para verificar se
o reclamante manteve outra ocupação durante o período em que esteve afastado das
atividades laborais, o que foi negado pelo juízo de primeiro grau, uma vez que o autor
apresentou CTPS em audiência, na qual não constavam anotações posteriores à admissão na
reclamada.
Nesse aspecto, é relevante destacar que a existência ou não de outra ocupação do reclamante
não constitui questão prejudicial ao direito pleiteado, qual seja, o recebimento de
remuneração pelo período durante o qual esteve vigente seu vínculo empregatício com a
reclamada, o qual apenas findou em 6/5/2019, conforme noticiou nos autos a própria empresa
(Id dab66da). Assim, resta incontroverso o período de duração do vínculo empregatício entre
as partes, sendo certo que a existência ou não do exercício de atividades paralelas pelo autor,
no período, não interfere na apreciação jurídica dos fatos narrados nos autos.
Por outro lado, o indeferimento das perguntas, realizado pelo juízo de primeiro grau, na
mesma audiência, encontra justificativa no mesmo raciocínio. Consta do respectivo termo:
"que indefere o juízo perguntas sobre eventuais compras no período em que laborou na
reclamada, pois tais questões estão ligadas a processo com trânsito em julgado, sendo de
pouca valia neste momento" (Id 40af746 - pág. 2). Conforme se observa, a presente
reclamatória não tem por objeto a apuração de eventual falta grave cometida pelo
reclamante, o que foi pretendido pela empresa em processo anterior (0000714-
81.2014.5.11.0019), já finalizado. Por fim, a superveniente rescisão contratual sem justa causa,
realizada pela reclamada após o fim da instrução processual e antes da prolação da sentença
nestes autos, conforme noticiado em alegações finais (Id dab66da) prejudica a análise de
eventuais faltas cometidas pelo obreiro, motivo pelo qual não subsiste interesse da reclamada
em apurar tais fatos, sob pena de caracterização de comportamento contraditório da parte.
Dessa forma, entendo que o prejuízo alegado pela parte reclamada não resta caracterizado,
tendo em vista que as provas pretendidas não se mostram necessárias ao deslinde da
controvérsia em debate, além de se encontrarem prejudicadas por ato superveniente da
reclamada.
Pelo exposto, rejeito a preliminar.
(...)".
De acordo com o artigo 896, §1º-A, inciso III, da CLT, incluído pela Lei 13.015/2014, a parte que

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recorre deve "expor as razões do pedido de reforma, impugnando todos os fundamentos jurídicos da
decisão recorrida, inclusive mediante demonstração analítica de cada dispositivo de lei, da Constituição
Federal, de súmula ou orientação jurisprudencial cuja contrariedade aponte" .
Na hipótese, a parte recorrente não observou o referido inciso, uma vez que, ao expor as
razões do pedido de reforma, não impugnou os fundamentos jurídicos da decisão recorrida. Destaco
que a exigência do dispositivo supra não se cumpre com a mera alegação genérica de que a
recorrente "impugna os fundamentos da decisão recorrida", devendo as razões recursais estarem
vinculadas aos fundamentos jurídicos expendidos no acórdão regional, no sentido de demonstrar
por que devem ser afastados, o que não restou observado no apelo quanto aos artigos 765 da CLT e
370 do CPC, sendo inviável, portanto, o processamento do recurso de revista no presente tópico.'

A demandada interpõe o presente agravo de instrumento objetivando a reforma


da decisão acima transcrita. Apresenta impugnação ao óbice apresentado na decisão denegatória.
Reitera a arguição de nulidade por cerceamento do direito de defesa em razão do indeferimento do
requerimento da expedição de ofícios e das perguntas direcionadas à parte autora.
Na hipótese, a parte agravante não logra êxito em acessar a via recursal de
natureza extraordinária.
O Tribunal Regional, ao rejeitar a preliminar suscitada, registrou que “a reclamada,
na audiência de instrução (Id 40af746), reiterou requerimento a expedição de ofícios ao INSS, MTE e Receita Federal, para
verificar se o reclamante manteve outra ocupação durante o período em que esteve afastado das atividades laborais, o que foi
negado pelo juízo de primeiro grau, uma vez que o autor apresentou CTPS em audiência, na qual não constavam anotações
posteriores à admissão na reclamada”.
Fundamentou que “a existência ou não de outra ocupação do reclamante não constitui questão
prejudicial ao direito pleiteado, qual seja, o recebimento de remuneração pelo período durante o qual esteve vigente seu vínculo
empregatício com a reclamada, o qual apenas findou em 6/5/2019, conforme noticiou nos autos a própria empresa (Id dab66da).
Assim, resta incontroverso o período de duração do vínculo empregatício entre as partes, sendo certo que a existência ou não do
exercício de atividades paralelas pelo autor, no período, não interfere na apreciação jurídica dos fatos narrados nos autos”.
Concluiu que “o indeferimento das perguntas, realizado pelo juízo de primeiro grau, na mesma
audiência, encontra justificativa no mesmo raciocínio. Consta do respectivo termo: "que indefere o juízo perguntas sobre
eventuais compras no período em que laborou na reclamada, pois tais questões estão ligadas a processo com trânsito em
julgado, sendo de pouca valia neste momento" (Id 40af746 - pág. 2). Conforme se observa, a presente reclamatória não tem por
objeto a apuração de eventual falta grave cometida pelo reclamante, o que foi pretendido pela empresa em processo anterior
(0000714-81.2014.5.11.0019), já finalizado. Por fim, a superveniente rescisão contratual sem justa causa, realizada pela
reclamada após o fim da instrução processual e antes da prolação da sentença nestes autos, conforme noticiado em alegações
finais (Id dab66da) prejudica a análise de eventuais faltas cometidas pelo obreiro, motivo pelo qual não subsiste interesse da
reclamada em apurar tais fatos, sob pena de caracterização de comportamento contraditório da parte ”.
Anote-se que o parágrafo único do art. 370 do CPC autoriza o magistrado
indeferir, em decisão fundamentada – o que ocorreu no caso dos autos -, as diligências inúteis ou
meramente protelatórias. A esse dispositivo, soma-se o art. 371, o qual preceitua que o juiz apreciará a
prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão
as razões da formação de seu convencimento.
Desse modo, em razão da teoria da persuasão racional e da ampla liberdade do
magistrado trabalhista na direção do processo (arts. 371 do CPC e 765 da CLT), se o magistrado
considerou que os elementos de prova produzidos nos autos eram suficientes para formar seu
convencimento, bem como que as provas requeridas eram irrelevantes para o deslinde da causa, o
indeferimento dessas, não caracterizou cerceamento do direito de defesa.
Confira-se, a título de exemplo, os seguintes precedentes desta Corte Superior:

AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. RITO SUMARÍSSIMO. INEXISTÊNCIA


DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. Deve ser esclarecido que o indeferimento da produção
de provas não importa em cerceamento do direito de defesa, porquanto o magistrado considerou os
elementos de convicção constantes no conjunto probatório dos autos. Na hipótese dos autos, o TRT
manteve a sentença que indeferiu a expedição de ofício ao INSS, sob o fundamento de que os
depoimentos constantes da audiência foram suficientes ao convencimento do julgador. Nesse
contexto, a produção da prova alegada pela parte não teria o condão de alterar a situação jurídica
consolidada. Precedentes. Agravo não provido. (Ag-AIRR-100872-96.2019.5.01.0521, 2ª Turma,
Relatora Ministra Maria Helena Mallmann, DEJT 19/12/2022).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO A ACÓRDÃO PUBLICADO NA


VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. NULIDADE. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA
INDEFERIMENTO DE PERGUNTAS À TESTEMUNHA. TRANSCENDÊNCIA DA CAUSA NÃO
RECONHECIDA. 1. O sistema processual pátrio consagra o princípio do convencimento racionalmente
fundamentado, sendo facultado ao magistrado firmar sua convicção a partir de qualquer elemento

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de prova legalmente produzido, desde que fundamente sua decisão. Assim, em relação à arguição de
nulidade por cerceamento do direito de defesa, somente será possível o reconhecimento da
transcendência da causa, nos aspectos político e jurídico, quando o indeferimento de diligências
consideradas inúteis ou meramente protelatórias, nos termos do artigo 370, parágrafo único, do
Código de Processo Civil, encontrar-se carente de fundamentação, de maneira a obstar o exercício
do amplo direito de defesa assegurado no artigo 5º, LV, da Constituição da República. 2. No caso dos
autos não se vislumbra cerceamento do direito de defesa, uma vez que, conforme registrado pela
Corte regional, o indeferimento das perguntas formuladas pela reclamada às testemunhas do
obreiro, com o objetivo de demonstrar o gozo do intervalo intrajornada, se deu em razão do juízo de
primeiro grau já ter formado o seu convencimento com base nas provas até então produzidas. 3.
Dessa forma, não verificada a nulidade arguida, não há cogitar no reconhecimento de
transcendência da causa. 4. Agravo de Instrumento não provido. [...] (AIRR-12212-28.2016.5.15.0009,
6ª Turma, Relator Ministro Lelio Bentes Correa, DEJT 21/05/2021).

[...] CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. CONTRADITA DA TESTEMUNHA. EXAME DO


DEPOIMENTO COMO INFORMANTE. CONFRONTO COM OS DEMAIS ELEMENTOS DE PROVA.
MANIFESTO PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. REQUERIMENTO DE EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO AO
BACEN. ALEGAÇÃO DE QUE A PROVA É NECESSÁRIA PARA COMPROVAR A CONDIÇÃO DE SÓCIA DA
AUTORA. DESNECESSIDADE. FORMAÇÃO DO CONVENCIMENTO DO JULGADOR COM RESPALDO
NOS DEMAIS ELEMENTOS PROBATÓRIOS DOS AUTOS. A Corte de Origem consignou que tanto o
requerimento de ofício ao BACEN como a juntada do regulamento da OAB nada acrescentaria às
circunstâncias fáticas em que ocorreu a prestação de serviços, tampouco evidenciaria sobre a
presença ou não dos requisitos previstos no art. 3º da CLT. Assim, não há falar em cerceamento de
defesa, na medida em que havia elementos nos autos para formação do convencimento do juiz, o
qual julgou desnecessária a juntada de tais documentos. Imperioso destacar que o Princípio do
Convencimento Motivado (artigo 371 do CPC), integrante dos Princípios gerais do Direito Processual,
permite ao magistrado a liberdade para apreciar as provas que lhe são apresentadas, desde que
fundamente sua decisão. E essa faculdade atinge tanto a valoração quanto a produção das provas,
uma vez que o juiz deve conduzir o processo de forma efetiva e célere e pode indeferir a prova que
entender desnecessária, conforme previsto nos artigos 765 da CLT e 370, parágrafo único, do CPC.
De igual forma, não há falar em cerceamento de defesa pelo fato de acolher a contraditada da
testemunha, contudo considerar seu depoimento como informante. Tal circunstância não conduz à
nulidade, porquanto tais depoimentos foram analisados dentro do contexto fático e em cotejo com
as demais informações e provas dos autos, sendo atribuição do juiz a valoração que possam
merecer. O procedimento converge com os princípios do contraditório e da ampla defesa, assim
como da economia, da celeridade e da duração razoável do processo, consoante estabelece os
artigos 829 e 765, ambos da CLT, e art. 5º, LXXVIII, da Constituição da República. Agravo conhecido e
não provido. [...] (Ag-AIRR-100-63.2015.5.03.0181, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas
Brandao, DEJT 04/08/2023).

[...] CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DE PERGUNTA FORMULADA À


TESTEMUNHA. Nos termos do art. 370 do CPC, o juiz detém ampla liberdade na condução do
processo, podendo indeferir as diligências que entender desnecessárias ou impertinentes, conforme
o seu convencimento. No caso, o Regional, diante das demais provas prestadas, entendeu suficiente
a comprovação da atividade bancária prestada pelo trabalhador. Não se constata, portanto, a
alegada violação do art. 5º, LV, da Constituição Federal. Agravo de instrumento conhecido e
desprovido. [...] Agravo de instrumento conhecido e desprovido. (AIRR-1848-72.2015.5.02.0080, 7ª
Turma, Relator Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 26/05/2023).

AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.467/2017,


INTERPOSTO PELA RECLAMADA. CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DE TESTEMUNHAS E
DE EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO. EXISTÊNCIA NOS AUTOS DE ELEMENTOS PROBATÓRIOS SUFICIENTES AO
CONVENCIMENTO DO JULGADOR. NULIDADE NÃO RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE
TRANSCENDÊNCIA. 1. A causa não detém nenhum dos indicadores de transcendência previstos no
art. 896-A da CLT. 2. Com efeito, o valor da causa atribuído na petição inicial (R$ 25.000,00) não é
elevado, motivo pelo qual não há transcendência econômica. 3. A decisão do Tribunal Regional não
contraria Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou Súmula do
Supremo Tribunal Federal, nem contraria jurisprudência pacífica e reiterada desta Corte Superior,
circunstância que afasta a possibilidade de transcendência política. Pelo contrário, o acórdão
proferido pela Corte de origem está de acordo com a jurisprudência do TST, segundo a qual não
configura cerceamento de defesa o indeferimento do pedido de produção de provas quando estas se
revelarem irrelevantes ou desnecessárias, diante da existência nos autos de elementos outros
suficientes à formação do convencimento do julgador acerca da matéria controvertida. Esse é
exatamente o caso destes autos: a oitiva de testemunhas e a expedição de ofício requeridas pela
empresa ré se revelaram inúteis, tendo em vista que o perito de confiança do Juízo, ao estabelecer o
nexo de concausalidade e o percentual de responsabilidade da empresa, considerou em seu laudo as
atividades da autora paralelas ao vínculo de emprego, circunstância que a reclamada pretendia ver
analisada/valorada com a produção probatória indeferida. 4. Por sua vez, a controvérsia dos autos
não afeta matéria nova atinente à interpretação da legislação trabalhista, pelo que não há
transcendência jurídica. 5. Finalmente, inexiste transcendência social, pois não se trata de recurso
interposto pela reclamante, na defesa de direito social constitucionalmente assegurado. 6. Nesses
termos, revela-se inviável o processamento do recurso de revista. Agravo conhecido e não provido.
(Ag-AIRR-20771-24.2020.5.04.0531, 8ª Turma, Relatora Ministra Delaide Alves Miranda Arantes, DEJT
05/09/2023).

Logo, não há nulidade a ser declarada.


Os fundamentos acima expendidos demonstram que a causa não oferece
transcendência em nenhuma de suas modalidades.
NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento.

II – RECURSO DE REVISTA

CONHECIMENTO

O recurso é tempestivo, tem representação regular, satisfeito o preparo.

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1005A597F28DE09C66.
Atendidos referidos pressupostos de admissibilidade, prossegue-se ao exame do apelo.

AJUIZAMENTO DE INQUÉRITO PARA APURAÇÃO DE FALTA GRAVE. MEMBRO DA


CIPA. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. PAGAMENTO DOS SALÁRIOS
REFERENTES AO PERÍODO DE SUSPENSÃO

A Corte Regional, na fração de interesse, fundamentou sua decisão nos seguintes


termos, verbis:

A reclamada impugna o deferimento do pagamento de salários vencidos ao reclamante,


alegando que houve suspensão lícita do contrato de trabalho do autor, durante a qual não ocorreu
prestação do labor, sendo indevida a respectiva remuneração. Subsidiariamente, requer a limitação
da condenação ao período entre o trânsito em julgado do inquérito para apuração de falta grave e a
demissão do autor, bem como pela compensação ou dedução dos valores pagos em TRCT.
Analiso.
Inicialmente, para melhor entendimento da controvérsia ora em debate, faz-se necessário
resumir os fatos narrados pelas partes ao longo de suas manifestações nos autos.
O reclamante foi admitido na reclamada em 28/8/2009 e, desde 24/3/2014, encontrava-se
afastado de suas funções, sem perceber remuneração, para apuração de suposta falta grave
cometida no labor (Id b907745 - pág. 19).
A reclamada ajuizou, em 22/04/2014, inquérito judicial para apuração de falta grave (processo
0000714-81.2014.5.11.0019, Id d6795bc - pág. 1), pois o autor detinha estabilidade como membro da
CIPA, àquela época. Tal inquérito judicial foi extinto, sem resolução do mérito, por ausência de
interesse processual, sob o fundamento de que a estabilidade de membro da CIPA não exige a
instauração do procedimento judicial para a dispensa por justa causa, sendo lícita a realização da
dispensa por justa causa diretamente pela empregadora e cabendo ao trabalhador, caso queira,
questionar posteriormente o ato demissório em juízo. A extinção do inquérito, sem resolução do
mérito, foi sucessivamente mantida pelo E. TRT-11 e, ao fim, pelo C. TST, por acordão que transitou
em julgado em 11/12/2018, conforme Id 34ea148 - págs. 52 a 54.
Durante todo o período de tramitação do inquérito judicial para apuração de falta grave (de
abril de 2014 a dezembro de 2018), o reclamante permaneceu sem laborar e sem receber salários da
reclamada.
Finalmente, em 23/1/2019, o obreiro ajuizou a presente reclamatória, em que expõe o
encerramento do inquérito judicial em questão e pleiteia o retorno ao trabalho junto à reclamada,
bem como o recebimento das remunerações não pagas no período de março de 2014 até seu efetivo
retorno às atividades.
Durante o curso do presente processo, após a realização da audiência de instrução, a
reclamada decidiu rescindir o contrato de trabalho do autor, sem justa causa, no dia 6/5/2019, com
aviso prévio indenizado, conforme TRCT de Id e69863c.
No presente momento, pois, há controvérsia acerca do direito ao recebimento da
remuneração no período de afastamento do autor, que perdurou de março de 2014, quando o
empregado foi suspenso pela reclamada, a maio de 2019, quando foi demitido sem justa causa,
dispensa essa que fulminou a pretensão autoral de retorno ao trabalho, igualmente pleiteada de
início.
Nessa seara, analisando os autos, é possível constatar que a reclamada apresentou ao
reclamante, no dia 24/3/2014, um aviso de suspensão do contrato de trabalho para apuração de falta
grave (Id b907745 - pág. 19), do qual o obreiro tomou ciência na mesma data, conforme assinatura
aposta no documento. Tal aviso comunica que, com fundamento no art. 494 da CLT, deliberou-se
pela suspensão do contrato de trabalho até decisão final no inquérito para apuração de falta grave, a
ser instaurado no prazo de 30 dias, conforme art. 853 da CLT.
Conforme já relatado, o inquérito judicial foi ajuizado em 22/4/2014 (processo 0000714-
81.2014.5.11.0019, Id d6795bc - pág. 1), logo, dentro do prazo legal, e restou extinto, sem resolução
do mérito, com trânsito em julgado ocorrido em 11/12/2018.
O art. 494 da CLT, que serviu como fundamento para a suspensão do contrato de trabalho
realizada pela reclamada, bem como os dispositivos seguintes, disciplinam da seguinte forma a
suspensão contratual em questão e suas consequências:
Art. 494 - O empregado acusado de falta grave poderá ser suspenso de suas funções, mas a
sua despedida só se tornará efetiva após o inquérito e que se verifique a procedência da
acusação.
Parágrafo único - A suspensão, no caso deste artigo, perdurará até a decisão final do processo.
Art. 495 - Reconhecida a inexistência de falta grave praticada pelo empregado, fica o
empregador obrigado a readmiti-lo no serviço e a pagar-lhe os salários a que teria direito no
período da suspensão.
Art. 496 - Quando a reintegração do empregado estável for desaconselhável, dado o grau de
incompatibilidade resultante do dissídio, especialmente quando for o empregador pessoa
física, o tribunal do trabalho poderá converter aquela obrigação em indenização devida nos
termos do artigo seguinte.
Art. 497 - Extinguindo-se a empresa, sem a ocorrência de motivo de força maior, ao
empregado estável despedido é garantida a indenização por rescisão do contrato por prazo
indeterminado, paga em dobro.
Conforme se observa do texto legal, são previstas expressamente as consequências para a
hipótese de procedência da acusação, situação na qual se tornará efetiva a dispensa do empregado,
bem como para o caso de reconhecimento da inexistência de falta grave, caso em que deverá o
empregador pagar os salários devidos no período da suspensão, além de readmitir o trabalhador, ou
dispensá-lo mediante o pagamento de indenização. A lei silencia, contudo, quanto aos efeitos da
extinção, sem resolução do mérito, do inquérito para apuração de falta grave, o que se verifica no
presente caso.
Nessa seara, a reclamada apresenta, em seu recurso, jurisprudência no sentido de ser indevido
o pagamento dos salários do período de suspensão, mesmo quando não há julgamento do mérito do
inquérito judicial, nos seguintes termos:
INQUÉRITO PARA APURAÇÃO DE FALTA GRAVE. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE
MÉRITO. SALÁRIOS E VANTAGENS REFERENTES AO PERÍODO DE SUSPENSÃO. IMPOSSIBILIDADE.
A extinção de inquérito para apuração de falta grave, sem resolução de mérito, não implica
em necessária condenação do autor às verbas salariais devidas ao longo do período de
suspensão do contrato, quando assim não requereu o réu, por meio de reconvenção ou
pedido contraposto. Recurso provido. (n.n) (TRT-18 2132200900118000 GO 02132-2009-001-18-
00-0, Relator: PLATON TEIXEIRA DE AZEVEDO FILHO, Data de Publicação: DJ Eletrônico Ano IV,

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1005A597F28DE09C66.
Nº 136 de 02.08.2010, pág.8.)
Ocorre que, ao contrário do precedente em tela, no presente caso o obreiro pleiteou
expressamente o pagamento das verbas, não por meio de reconvenção ou pedido contraposto no
inquérito judicial, mas mediante o ajuizamento da presente ação autônoma. Trata-se de hipótese
considerada no inteiro teor do julgado em questão, nos seguintes termos:
"Segundo narra a inicial, o requerente, fazendo uso da faculdade presente no artigo 494 da
CLT, suspendeu o requerido em 16/10/2009 e, ato contínuo, propôs o inquérito judicial para
apuração de falta grave.
O inquérito proposto, contudo, pelos motivos explicitados em linhas volvidas, acabou extinto,
sem resolução de mérito.
Assim, se o requerido deixou de trabalhar por iniciativa da empresa, procedimento mais
tarde tido por inadequado, competia àquele buscar seus direitos por meio próprio,
inclusive poderia tê-lo feito nesta mesma ação, seja por pedido contraposto, seja por meio de
reconvenção, mas não o fez." (n.n)
(TRT-18 2132200900118000 GO 02132-2009-001-18-00-0, Relator: PLATON TEIXEIRA DE
AZEVEDO FILHO, Data de Publicação: DJ Eletrônico Ano IV, Nº 136 de 02.08.2010, pág.8.)
No presente caso, considerando que o autor buscou seus direitos por meio próprio, e
constatada a inadequação do procedimento adotado pela reclamada, que erroneamente propôs
inquérito judicial para apuração de falta grave em hipótese na qual não se fazia cabível - conforme
decisão transitada em julgado nos autos de nº 0000714-81.2014.5.11.0019 - afigura-se adequada a
pretensão de recebimento dos salários vencidos, mesmo sem a prestação do labor no período.
Ressalte-se, nesse aspecto, que coube à reclamada a escolha por reiterar a tese de cabimento
do inquérito judicial, pelas sucessivas instâncias judiciais, no processo nº 0000714-81.2014.5.11.0019,
enquanto poderia, desde o início, ter aplicado a demissão por justa causa diretamente ao obreiro,
independentemente da formalidade do procedimento judicial.
Ademais, não merece prosperar o pedido subsidiário de limitação da condenação ao período
de estabilidade do reclamante, isto é, até o fim de seu mandato como membro da CIPA, uma vez que,
para tanto, bastaria que a reclamada tivesse tomado a iniciativa de rescindir o contrato de trabalho
assim que cessada a causa de estabilidade, porém não o fez, permanecendo igualmente inerte
quando transitada em julgado a extinção do inquérito judicial, ocasião na qual, mais uma vez, deixou
de promover a pretendida dispensa do autor, vindo a se manifestar apenas após o ajuizamento da
presente ação pelo obreiro, momento no qual a empresa decidiu rescindir o contrato de trabalho do
autor sem justa causa, conforme TRCT de Id e69863c.
Nesse aspecto, não há como se acolher, igualmente, o pedido de exclusão do pagamento dos
salários no período entre o trânsito em julgado do inquérito judicial e a demissão do empregado,
tendo em vista que eventual alegação de abandono de emprego, pela ausência de retorno do
trabalhador após o término da suspensão contratual, resta afastada pela realização da dispensa sem
justa causa, atitude que contraria a alegação do cometimento de infração pelo trabalhador.
Assim, uma vez que a empresa, voluntariamente, decidiu encerrar o vínculo contratual com o
reclamante de forma imotivada, não há mais que se invocar a existência de falta grave cometida pelo
obreiro, logo, por motivo de congruência, o período de vigência do contrato sem prestação do labor
deve receber o tratamento jurídico do art. 495 da CLT, isto é, o reconhecimento da inocorrência da
falta grave, tendo como consequência o pagamento de todos os salários a que o obreiro teria direito
ao longo do período.
Quanto ao pedido de compensação e dedução, conforme afirmou a reclamada em seu próprio
recurso, a sentença de embargos de declaração (Id ffd9068 - pág. 2) já delimitou a condenação
corretamente, ao determinar "o pagamento de todos os salários não pagos no período até a
dispensa do autor, bem como pagamento das demais parcelas trabalhistas do período em que ficou
afastado: férias, 13º salário, FGTS (8%) - o qual deverá ser depositado na conta vinculada do autor,
PLR, auxílio alimentação e transporte e anuênio."
Logo, as verbas da condenação não se confundem com as do TRCT, que correspondem ao
aviso prévio indenizado, com seus reflexos de 13º salário e férias, além de férias proporcionais,
considerando o período aquisitivo anterior à suspensão contratual (Id e69863c). Assim as verbas
contidas no TCRT e as abrangidas pela condenação são distintas, pelo que não há que se falar com
compensação.
Nada a reformar.

A demandada sustenta que, apenas em caso de improcedência do inquérito de


apuração de falta grave, é devido o pagamento dos salários referente ao período de suspensão
contratual. Alega que “a suspensão contratual se deu de forma lícita, conforme previsto na CLT. Além disso, se não há
prestação de serviços, também não é devido qualquer pagamento de salário durante o período de afastamento”. Aponta
violação dos arts. 494, 495 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e 884 do Código Civil. Traz
arestos.
O recurso não alcança conhecimento.
Examinando o teor do recurso de revista, verifica-se que a parte recorrente trouxe
como fundamento jurídico, para o reexame da tese adotada pela Corte Regional, afronta aos arts. 494 e
495 da CLT.
Ocorre que, referidos dispositivos não tratam da questão nuclear da presente
demanda, qual seja, os efeitos da extinção, sem resolução do mérito, do inquérito para apuração de
falta grave, razão pela qual não há como reputá-los diretamente violados.
Outrossim, a pretensão revisional não logra êxito com arrimo no art. 884 do
Código Civil, porquanto ausente o prequestionamento exigido pela Súmula 297, I, do TST.
Do mesmo modo, a revista não pode ser admitida pela senda da divergência
jurisprudencial, nos termos do art. 896, a, da CLT e da Súmula n.º 296, I, desta Corte Superior, uma vez
que os arestos colacionados são inservíveis ao fim colimado, pois não abordam as particularidades do
caso em discussão, partindo de premissas fáticas distintas, uma vez que, na hipótese, o autor pleiteou
expressamente o pagamento dos salários na presente ação.

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Logo, uma vez não demonstrada afronta literal à norma legal ou dissenso de
teses, nos termos em que preceitua o art. 896, “a” e “c”, da CLT, o recurso de revista não se viabiliza.
Ante os óbices apresentados, inviável a análise quanto à transcendência da matéria.
NÃO CONHEÇO.

DANOS EXTRAPATRIMONAIS. OMISSÃO NA ADMISSIBILIDADE PELO TRIBUNAL


REGIONAL. NÃO OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRECLUSÃO

O Tribunal “a quo”, quanto aos danos extrapatrimoniais, decidiu da seguinte


forma, in verbis:

O reclamante postula a reforma da sentença, para que seja majorada a indenização por danos
morais fixada pelo juízo de primeiro grau. A reclamada, por sua vez, pleiteia a improcedência do
pedido de indenização por danos morais, aduzindo que não agiu de forma ilícita ao proceder à
suspensão do contrato de trabalho do obreiro, tampouco ao não lograr êxito no inquérito de
apuração de falta grave.
Analiso.
Como se sabe, o dano moral consiste na lesão provocada aos interesses ou bens imateriais do
indivíduo, tais como a honra, a privacidade, a intimidade, a saúde, a integridade física dentre outros,
que, consequentemente, traz dor, angústia, aflição, humilhação, enfim uma série de perturbações
emocionais que diminuem a autoestima da pessoa. O dano moral atinge a esfera íntima da vítima,
causando lesões subjetivas que nem sempre são possíveis de identificar. Essas lesões podem ocorrer
através da prática ou omissão de algum ato.
O dano moral tem sua origem na responsabilidade subjetiva, consagrada no artigo 186, do
CCB. Nos termos do referido dispositivo legal, a culpa é o principal elemento da responsabilidade
subjetiva. Considera-se, aí, a ideia do dever violado, sendo a negligência e a imprudência condutas
culposas voluntárias que trazem um resultado involuntário, caracterizado pela previsibilidade e pela
falta de cuidado.
Nesse diapasão, para a caracterização do dano moral é imprescindível configurarem-se os
seguintes requisitos: dano resultante à vítima; ato ou omissão violadora de direito de outrem; nexo
causal entre o ato ou omissão e o dano; culpa; comprovação real e concreta da lesão.
Primeiramente, não há como se negar que o descumprimento das obrigações trabalhistas, por
parte do empregador, gera transtorno ao trabalhador, em razão da impossibilidade de honrar seus
compromissos financeiros. Tampouco se poderia negar o sofrimento daquele que, mesmo depois de
ter alienado a sua força de trabalho, não pôde dispor, voluntariamente, da quantia que lhe é devida
como contraprestação.
Assim, tendo em vista que a reclamada não efetuou tempestivamente o pagamento das verbas
salariais devidas ao autor, caracterizado está o dano moral, em face do sofrimento, angústia e
incerteza de não poder contar com sua fonte de subsistência para prover suas necessidades básicas
e de seus familiares.
Ainda que não haja prova contundente de prejuízos adversos decorrentes da mora, tal como a
inscrição em cadastro de inadimplentes ou o pagamento de juros por dívidas vencidas, nesta
hipótese presume-se o dano, que decorre do ato ilícito cometido pelo empregador (mora no
pagamento de verbas salariais).
No presente caso, entendo que os requisitos para a configuração do dano moral restaram
devidamente demonstrados, uma vez que foi necessário o obreiro acionar a Justiça do Trabalho para
ter seus salários quitados.
Por conseguinte, entendo, da mesma forma que o juízo de primeiro grau, que é cabível o
pagamento de indenização por danos morais de modo a compensar o sofrimento da vítima e evitar a
repetição desta prática, atendendo-se, assim, aos fins punitivo, terapêutico e reparatório do
instituto.
No tocante ao valor da indenização, o art. 944 do CC prevê que a indenização do dano mede-se
pela sua extensão, o que, evidentemente, não afasta o justo e equilibrado arbitramento judicial, pois,
embora de caráter discricionário, não prescinde da análise subjetiva do julgador, atendendo às
circunstâncias de cada caso, à posse do ofensor e à situação pessoal do ofendido. A primeira medida
é amenizar a dor moral para, em seguida, reparar suas perdas.
Quanto ao ofensor, impõe-se, por meio do "quantum", desestimular a prática de atos
moralmente danosos, aí consistindo seu caráter exemplar.
O juiz tem liberdade para fixar o valor, pautando-se no bom senso e na lógica do razoável, a
fim de se evitar extremos (ínfimos ou vultosos).
No presente caso, mostra-se adequada a quantia de R$ 2.000,00 (dois mil reais), fixada pelo
juízo de primeiro grau, dentro do limite de três vezes o último salário contratual do ofendido, nos
termos do art. 223-G, §1º, I, da CLT, uma vez que a indenização não tem por finalidade o
enriquecimento do empregado, mas sim caráter eminentemente pedagógico, figurando-se razoável
como forma de reparar e amenizar todo sofrimento causado pela reclamada ao empregado.
Pelo exposto, nada a reformar.

A ré argumenta, em síntese, que não há falar em pagamento de indenização por


danos extrapatrimoniais, uma vez que a suspensão do contrato de trabalho, e consequentemente, do
pagamento dos salários, foi totalmente lícita. Aponta violação dos arts. 5º, V e X, da Constituição Federal
(CF), 186, 927 e 944 do Código Civil.
O recurso não alcança conhecimento.
O art. 1º, § 1º, da Instrução Normativa n.º 40/2016 do TST, determina que, se
houver omissão no juízo de admissibilidade do recurso de revista quanto a um ou mais temas, é ônus da
parte interpor embargos de declaração para o órgão prolator da decisão embargada supri-la, sob pena
de preclusão.
Na hipótese, a Corte de origem não analisou o tema “danos morais” constante do

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recurso de revista da parte ré, limitando-se apenas a submeter o apelo à apreciação desta Corte
Superior, em razão do recebimento do recurso de revista quanto ao tema “salários vencidos”.
Desse modo, cabia à recorrente impugnar, mediante embargos de declaração, a
omissão constante no juízo de admissibilidade do seu apelo, sob pena de preclusão, ônus do qual não
se desincumbiu.
Logo, inviável a análise da matéria, ante a ocorrência da preclusão.
Diante do óbice apresentado, resta prejudicada a análise quanto à
transcendência do tema.
NÃO CONHEÇO.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por


unanimidade: I - conhecer do agravo de instrumento interposto e, no mérito, negar-lhe provimento; II –
não conhecer do recurso de revista.

Brasília, 3 de abril de 2024.


Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

AMAURY RODRIGUES PINTO JUNIOR


Ministro Relator

Firmado por assinatura digital em 03/04/2024 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura
de Chaves Públicas Brasileira.

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