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2020/2021
Prestação de serviço
Artigo 1154.º do Código Civil
(Noção)
Contrato de prestação de serviço é aquele em que uma das partes se obriga
a proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou
manual, com ou sem retribuição.
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1. O mandato presume-se gratuito, excepto se tiver por objecto
actos que o mandatário pratique por profissão; neste caso, presume-
se oneroso.
(…)
Depósito
Artigo 1185.º do Código Civil
(Noção)
Depósito é o contrato pelo qual uma das partes entrega à outra uma
coisa, móvel ou imóvel, para que a guarde, e a restitua quando for
exigida.
Artigo 1186.º do Código Civil
(Gratuidade ou onerosidade do depósito)
É aplicável ao depósito o disposto no artigo 1158.º
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1. O MÉTODO TIPOLÓGICO / INDICIÁRIO – tipo legal; método aproximativo
utilizado para identificar os sintomas da subordinação e não os seus elementos
estruturais.
O método tipológico é um método aproximativo e essa aproximação se faz a
partir da identificação de certos indícios
Cfr. Ac. do STJ de 21-01- 2009, proc. nº 08S2270, Rel. Mário Pereira.
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- Ónus da prova (art. 342º CC)
- Presunções judiciais e legais (arts. 349/351º)
- Presunção legal – inversão do ónus da prova
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A parte autora, interessada, deve produzir prova no sentido de demonstrar a existência de
subordinação jurídica, uma vez que a parte que invocar um direito deve fazer a prova dos
factos constitutivos do direito alegado (art. 342º, nº 1, do CC). E cabe à parte contrária fazer a
prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito invocado (art. 342º, nº2).
Se houver dúvidas quanto à natureza dos factos alegados, considera-se que são constitutivos
do direito (art. 343º, nº 3, do CC) e, por isso, incumbem ao autor provar.
A existência de uma presunção legal afasta, digamos assim, as regras de repartição do ónus da
prova.
Presunções, segundo o art. 349º, são “ilações que a lei ou o julgador tira de um facto
conhecido para firmar um facto desconhecido”.
Um exemplo de presunção judicial é aquele em que se aplica o critério do homem médio. Ora,
há dúvidas sobre se uma pessoa conhece determinados factos. Mas, tendo em conta o
contexto concreto e as especificidades do caso, seria impossível que uma pessoa
medianamente inteligente, avisada e sensata não os conhecesse. Concretizando: o trabalhador
alega que prestava a sua atividade para uma determinada empresa diariamente, muitas
testemunhas confirmam a tese do trabalhador, o suposto superior hierárquico, que também
estava diariamente na empresa, não sabe deste facto.
Um exemplo de presunção legal: art. 12º do CT
Quem tem uma presunção legal escusa de provar o facto a que a ela conduz (art. 350º do CC),
portanto, um trabalhador escusa de provar a existência de subordinação jurídica, cabendo
apenas provar a base para a aplicação da presunção legal. No caso do art. 12º do CT, basta que
o trabalhador alegue e prove apenas dois daquelas características.
A presunção pode ser ilidida pelo beneficiário do trabalho, pelo que se admite prova em
contrário. Portanto, é uma presunção relativa, é uma presunção “juris tantum” (pertence
somente ao direito - por oposição à presunção “juris et de jure”, que significa “de direito e por
direito”)
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relação contratual, se essa designação e essas cláusulas estiverem
em correspondência com a realidade, ou seja, com aquilo que, de
facto, aconteceu na vigência da relação.
2. Quando isso não suceder, a relação contratual deve ser
qualificada juridicamente em função da relação que realmente
existiu, da sua vida e da sua dinâmica e não em função da
denominação e de cláusulas totalmente desfasadas da realidade
que nos é retratada pela matéria de facto provada no processo.
3. A presunção de laboralidade prevista no art. 12° n. ° 1 do CT
de 2009 apresenta duas grandes diferenças em relação à prevista
no art. 12° do CT de 2003: a primeira tem a ver com o tipo de
indícios de subordinação indicados pelo legislador, que são agora
indícios em sentido próprio, porque não se confundem com os
elementos essenciais do contrato de trabalho, antes apontam para
tais elementos, designadamente para o elemento de subordinação
do trdalhador; a segunda diferença tem a ver com a natureza do
enunciado legal destes indícios, que passou a ser exemplificativa,
bastando assim teoricamente que apenas dois desses indícios
ocorram para que possa ser presumida a existência de um contrato
de trabalho;
4. Esta presunção aplica-se não só às relações contratuais iniciadas
após a entrada em vigor do CT de 2009, mas também às relações
iniciadas antes dessa data e se mantenham em execução; ou seja,
ao contrato em vigor em determinado momento, aplica-se a
presunção que nesse momento conste da lei vigente;
5. Se o empregador puser termo a um contrato de trabalho nulo
ou anulável, invocando a sua invalidada, a cessação deverá ser
considerada lícita e o trabalhador terá apenas direito à- prestações
correspondentes ao tempo em que o contrato esteve em
execução; mas se puser temo ao contrato inválido através de um
acto unilateral que não consubstancie a invocação desse vício, e a
cessação da relação vier a ser qualificada como despedimento
ilícito e o contrato declarado inválido, por sentença judicial, a
declaração da ilicitude do despedimento confere ao trabalhador o
direito aos salários e à indemnização previstas nos arts. 390°, n.°1 e
.91°, n.°1 do CT.
1. Sendo o contrato nulo ou anulável, a cessação do contrato
será sempre lícita, desde que o empregador invoque, por qualquer
forma, a sua desconformidade com a lei ou faça uma qualquer
referência, ainda que menos rigorosa, à impossibilidade legal da
sua subsistência.
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características associadas à presunção de laboralidade, tendo-se
provado factos que inculcam no sentido da inexistência de
subordinação jurídica, o contrato não se tem como de trabalho. 4.
A condenação extra vel ultra petitum pressupõe a
irrenunciabilidade de certos direitos substantivos do trabalhador,
estando limitada aos factos de que o tribunal possa servir-se.
RL 22-03-17 (Isabel Lima), proc. 112/15.6T8CSC 4ª Secção.
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Trabalho beneficia.
III. Neste caso, a dúvida pode e deve ser resolvida pela indagação
das características enunciadas no artº 12º, nº 1, do C. Trabalho,
averiguando se opera a presunção de laboralidade.
Presunção de
laboralidade afastada I. A diferenciação entre contrato de trabalho e contrato de
– reconhecimento do prestação de serviço centra-se, essencialmente, em dois elementos
contrato de prestação distintivos: no objecto do contrato (no contrato de trabalho existe
de serviços uma obrigação de meios, de prestação de uma actividade
intelectual ou manual, e no contrato de prestação de serviço uma
obrigação de apresentar um resultado) e no relacionamento entre
as partes: com a subordinação jurídica a caracterizar o contrato de
trabalho e a autonomia do trabalho a imperar no contrato de
prestação de serviço.
Contrato de prestação
de serviços - (…)
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advogado Não é possível concluir pela existência de um contrato de
trabalho entre as partes, se o autor, ao abrigo do contrato que o
vinculou à ré, fazia consulta jurídica a esta e aos seus associados,
nas instalações e com o equipamento da ré, patrocinava
judicialmente uma e outros em causas que surgissem,
relacionadas com as suas actividades (fazendo-o, por vezes, a
pedido da ré e na sequência de pressão do associado, mesmo que
ao autor parecesse que as possibilidades de sucesso seriam muito
reduzidas ou inexistentes), com acompanhamento administrativo
feito pela ré, mediante contrapartida mensal fixa, que foi sendo
actualizada ao longo dos anos, tendo o autor gozado um mês de
férias, sendo a ré que distribuía pelo autor e restantes advogados
o trabalho relativo às reclamações e impugnações judiciais das
decisões das Repartições de Finanças, constatando-se, todavia,
também, que o autor tinha períodos de presença na ré, mediante
acordo prévio entre ambos, mas se não houvesse nenhum
associado para atender, ou o atendimento terminasse antes do
fim do período de consultas, o autor podia abandonar as
instalações da ré, e o aumento de serviço, verificado a partir de
data não apurada, levou a que o autor e restantes advogados da
ré preparassem nos seus gabinetes particulares parte do serviço
que prestavam àquela.
Atividade de (…)
assessoria técnica – A actividade de assessoria técnica – prevista no contrato firmado
prestação de serviços entre Autor e Ré – não é incompatível com a noção legal do
contrato de prestação de serviço, nomen, aliás, que as partes
deram àquele contrato.
XIV. Não é de qualificar como sendo de natureza laboral o vínculo
que existiu entre o Autor e a Ré quando não logrou apurar-se
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qualquer indício no sentido de aquele estar sujeito às ordens e
instruções desta, quer quanto à forma da execução contratada,
quer quanto à fiscalização da sua actividade, e não logrou apurar-
se que estivesse sujeito a horário de trabalho e a eventuais
consequências do seu incumprimento, designadamente a nível
disciplinar e de retribuição.
Contrato de avença –
I. O Tribunal superior deve conhecer questões novas, isto é, não
inexistência de abuso
levantadas no tribunal recorrido, desde que não tenham sido
de direito –
decididas com trânsito em julgado e versem sobre questões de
reconhecimento do
conhecimento oficioso, tal como sucede com a invocação do
contrato de trabalho
“abuso de direito”.
Art. 334º CC. II. Não litiga em abuso de direito quem pretende ver reconhecida
a natureza laboral da relação que estabeleceu com outrem e
peticionar créditos respeitantes à mesma, ainda que
anteriormente tenha outorgado um denominado “contrato de
avença” e tenha sido tratado como “prestador de serviços”, visto
que durante a vigência da relação sempre se encontrava numa
situação de dependência que, presumivelmente , não lhe permitia
exercer em pleno os seus direitos.
III. Se num contrato de trabalho nulo, o empregador não invocar a
nulidade do contrato para colocar termo à relação laboral que
mantinha com o trabalhador adoptando comportamento que
configura um despedimento ilícito, deve ser paga indemnização
calculada nos termos gerais.
Vontade do
trabalhador – I. Ao longo dos mais de 20 anos em que o autor prestou serviço
empresa queria a para a ré efectuou funções de desenhador projectista, realizando
configuração do desenho à mão, a régua e esquadro, grafismos e perspectiva, no
contrato como âmbito da decoração de interiores e elaborando projectos de
contrato de trabalho – arquitectura e de execução de obras, bem como projectos de
trabalhador não quis alterações, funções estas que eram
– desenhador/a – desempenhadas tanto nas instalações da ré, como fora delas, sem
projetista – que tivesse de assinar o livro de ponto, obrigatório para os
mediador/a - trabalhadores subordinados.
orçamentista
II. Também durante este tempo, resultou provado que o autor
trabalhou para outras entidades, na execução de trabalhos
idênticos aos que desenvolvia para a ré, teve um atelier próprio,
em conjunto com outros arquitectos, não tendo aceite a proposta
que lhe foi feita pela ré para que fizesse descontos para a
Segurança Social, como trabalhador dependente.
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III. Esta recusa do autor além de inviabilizar, por vontade própria, a
sua integração nos quadros da empresa ré como trabalhador
subordinado, reforçou, ainda, a convicção da ré de que o autor
queria uma relação de prestação de serviços, que lhe dava mais
liberdade de actuação, e só assim se justifica que, logo em Janeiro
de 2009, a ré tenha alertado o autor que iria prescindir dos seus
serviços mas só o vindo a fazer em Julho do mesmo ano(factos 35 e
36).
IV. Assim, a sentença recorrida não decidiu de forma correcta pois
da análise dos factos provados não resultaram indícios suficientes
de que entre autor e ré existia uma relação de trabalho
subordinado que caracteriza o contrato de trabalho.
V. Deste modo, a comunicação da ré ao autor, em 7 de Julho de
2009, que não necessitava mais dos seus serviços não configura
qualquer despedimento ilícito, devendo a ré ser absolvida de todos
os pedidos formulados pelo autor. (Elaborado pela Relatora)
Trabalhadora de (…)
limpeza – prestação VII – Não se demonstra a existência de um contrato de trabalho
de serviços entre a autora e a ré, na valoração global das seguintes
circunstâncias:
- a autora foi contratada inicialmente, por forma verbal, por uma
empresa, e mais tarde, em 26 de Janeiro de 1983, mediante a
subscrição de um documento escrito, pela antecessora da ré, para
efectuar a limpeza de uma Central de Telecomunicações
(denominada Estação Automática), durante 4 horas diárias (que em
1992 passaram a 5 horas), efectuadas dentro do período normal de
trabalho (09.00h às 12.30h e das 13.30h às 18.00 h), quando a
autora entendesse ser mais adequado e de forma a não perturbar
outros trabalhos em curso, mediante o pagamento de um preço
por hora, pago mensalmente;
- cabia à ré o pagamento e fornecimento dos materiais necessários
à limpeza, tendo sido confiado à autora a chave, mais tarde cartão,
da porta de entrada do edifício que permitia o acesso naquelas
horas;
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- inicialmente a ré não inseriu a autora na Segurança Social, nem
lhe processou descontos, o que veio a fazer mais tarde
(descontando-lhe 11% a título de taxa social única, que entregava
àquela entidade);
- a ré nunca concedeu férias à autora, nem lhe pagou subsídio de
férias ou de Natal, bem como o subsídio de refeição, vindo esta a
reclamar tal pagamento apenas em Setembro de 2005;
- a ré era a única entidade para quem a autora prestava a
actividade, verificando-se que algumas vezes foi o próprio marido
da autora quem procedeu à execução dos serviços de limpeza.
VIII – No caso, embora os descontos para a Segurança Social, a
partir de determinado momento, a exclusividade da prestação da
autora a favor da ré e o fornecimento por esta dos instrumentos de
trabalho apontem para a existência de um contrato de trabalho,
em contrapartida, outros de maior relevância, apontam em sentido
contrário, como sejam o facto de a autora não estar sujeita a
horário de trabalho (desde que observasse o ciclo diário) e de
algumas vezes ter sido o próprio marido da autora a efectuar os
serviços de limpeza e de ao longo do contrato nunca a ré ter
concedido férias à autora, nem lhe ter pago o correspondente
subsídio nem o subsídio de Natal.
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hierárquica e obedecia às ordens e instruções fornecidas pela
respectiva chefia, e estava ainda sujeito a um controlo de
pontualidade e assiduidade, bem como a um regime de férias
anuais que conferia o direito ao pagamento da remuneração certa.
II. Neste contexto, assume um diminuto relevo o nomen juris dado
pelas partes ao contrato e o não exercício de actividade em
exclusividade, bem como certos desvios detectados quanto ao
regime retributivo, como sejam o modo de quitação, a não inclusão
do trabalhador nas folhas de remunerações enviadas para a
segurança social e o não pagamento de subsídios de férias ou de
Natal;
III. Não incorre em abuso de direito o trabalhador que só após a
denúncia do contrato operada pela entidade empregadora vem
discutir judicialmente a natureza jurídica da relação contratual em
causa, para efeito de impugnar a decisão unilateral de extinção do
contrato e reclamar os correspondentes créditos laborais;
IV.A reintegração do trabalhador resultante do reconhecimento
judicial da ilicitude do despedimento constitui uma obrigação de
prestação de facto infungível, pelo que é admissível a condenação
da entidade patronal em sanção pecuniária compulsória, nos
termos previstos no artigo 829º-A, do Código Civil.
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trabalho.
STJ, 15/09/2016 (Ana Luísa Geraldes), proc. nº
329/08.0TTFAR.E1.S1.
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