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ESTADO DE MATO GROSSO

PODER JUDICIÁRIO

PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

Número Único: 1001213-80.2019.8.11.0000


Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO (202)
Assunto: [Constrição / Penhora / Avaliação / Indisponibilidade de
Bens, Efeito Suspensivo / Impugnação / Embargos à Execução]
Relator: Des(a). SEBASTIAO BARBOSA FARIAS

Turma Julgadora: [DES(A). SEBASTIAO BARBOSA FARIAS,


DES(A). CLARICE CLAUDINO DA SILVA, DES(A). JOAO FERREIRA
FILHO, DES(A). MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS, DES(A).
MARILSEN ANDRADE ADDARIO, DES(A). NILZA MARIA POSSAS DE
CARVALHO, DES(A). SEBASTIAO DE MORAES FILHO, DES(A).
SERLY MARCONDES ALVES]

Parte(s):
[MARCIONE PEREIRA DOS SANTOS - CPF: 555.809.639-04
(ADVOGADO), CASEMIRO ALVAREZ FILHO - CPF: 005.374.899-91
(AGRAVANTE), JUREMA AUXILIADORA SENHORANO LOPES - CPF:
095.266.410-00 (AGRAVADO), LUCIANO LOPES FLECK - CPF:
658.444.830-49 (AGRAVADO), CASEMIRO ALVAREZ NETO - CPF:
775.154.639-53 (PROCURADOR), ESPÓLIO DE CASEMIRO
ALVAREZ FILHO (AGRAVANTE), CASEMIRO ALVAREZ NETO - CPF:
775.154.639-53 (REPRESENTANTE/NOTICIANTE), MARCO
AURELIO DE MARTINS E PINHEIRO - CPF: 038.724.081-00
(ADVOGADO)]

A CÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em
epígrafe, a PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal
de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência
Des(a). SEBASTIAO BARBOSA FARIAS, por meio da Turma
Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE,
PROVEU O RECURSO.

E MENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE


EXECUÇÃO – HOMOLOGAÇÃO DE LAUDO DE
AVALIAÇÃO – NOMEAÇÃO DE CORRETOR DE
IMÓVEIS, SEM APRESENTAÇÃO PRÉVIA DO SEU
CURRÍCULO – FASE DE VERIFICAÇÃO DAS
QUALIFICAÇÕES SUPRIMIDA - PARECER TÉCNICO DE
AVALIAÇÃO MERCADOLÓGICA– REGRAS DA ABNT –
NECESSIDADE DE PERITO ESPECIALIZADO –
DETERMINAÇÃO DE REALIZAÇÃO DE NOVA PERÍCIA
POR ENGENHEIRO AGRÔNOMO - NULIDADE DA
DECISÃO QUE NOMEOU PERITO E HOMOLOGOU O
LAUDO – RECURSO PREJUDICADO.

Prestigiando a segurança, e minimizando os riscos


de prejuízos às partes e ao resultado útil do processo, a Lei
nº 13.105/2015 é incisiva ao dispor que para o cargo de
perito só pode ser nomeado o profissional que for
especializado na área de conhecimento do objeto da
perícia. Ciente de sua nomeação, o expert deverá, em
cinco dias, apresentar seu currículo com comprovação de
especialização quanto ao objeto da perícia (art. 465, § 2º,
II, CPC), devendo ser substituído se “faltar-lhe
conhecimento técnico ou científico” (art. 468, I, CPC).

Suprimida a fase de verificação das qualificações do


perito nomeado, e, verificado a falta de conhecimento
técnico ou científico do perito nomeado, deve-se
determinar a nomeação de novo perito, desta vez,
engenheiro agrônomo, para elaboração do laudo de
avaliação mercadológica dos imóveis rurais, seguindo as
regras da ABNT.

RELATÓRIO

Recurso de Agravo de Instrumento , com pedido de


efeito suspensivo, interposto por ESPÓLIO DE CASEMIRO
ALVAREZ FILHO, contra decisão proferida pelo Juízo da 1ª Vara
Cível da Comarca de Barra do Garças/MT, que, nos autos da
Execução de Obrigação de Fazer n. 10100-29.2017.811.0004 cód.
255798, não acolheu a impugnação à avaliação realizada e
homologou o valor constante na perícia.

Relata o agravante que foi nomeado o perito, Sr


Carlos Alberto Bezerra Barros para realização de uma nova perícia;
determinou o magistrado “a quo” que fosse depositado o valor dos
honorários periciais para que fosse dado início aos trabalhos, com
a designação de data para realização da avaliação e a intimação das
partes para o devido acompanhamento.

Sobreveio manifestação do perito informando que


não poderia realizar o laudo, por problemas de saúde, conforme se
vê da petição datada de 03/05/2.017, entretanto, após cinco dias,
em 08/05/2.017 o mesmo perito protocola petição, pedindo
desconsideração do último comunicado e informa que realizou o
laudo de vistoria, procedendo a juntada do seu laudo de avaliação.

Todavia, nenhuma das partes foi intimada para


acompanhamento, sendo que o agravante foi surpreendido com
atribuição do valor de R$ 2.456,33 o hectare.

É contra esse laudo que agravante apresentou


impugnação alegando: I) nulidade por ausência de intimação; e II)
quanto ao erro de avaliação; iii)

No que tange ao primeiro ponto, defende que o


CPC prevê expressamente a necessidade de intimação das partes a
respeito do início da realização da prova pericial, nos termos do
artigo 474. O fato se justifica a fim de se evitar a feitura de provas
periciais de caráter sigiloso, desprovidas de participação das partes
da relação processual. Traz julgado do STJ e deste eg. Tribunal de
Justiça quanto a nulidade de perícia produzida sem intimação das
partes.

Assevera que: “Ao determinar escopo de evitar que


o laudo pericial resulte exclusivamente do perito do Juízo. Há a
clara intenção de permitir que as partes, por seus assistentes
técnicos, possam acompanhar a produção da prova, até para que
possam contraditar com maior segurança as conclusões do expert
(fls. 313 )”. (id. 6005760, pág. 16).

No que tange ao segundo ponto, defende que


houve inobservância da NBR 14653-3; explica que o agravante
apresentou laudo realizado por avaliador contratado e encontro
valor do hectare na área penhora em R$ 5.780, totalizando R$
25.189.330,16, entretanto, o “expert” do juízo atribuiu a mesma
área o valor médio de R$ 2.456,33, uma diferença de R$
15.000.000,00.

Afirma que na elaboração de um laudo de avaliação


de imóvel rural se exige a NBR 14653-3, devendo constar a
classificação do imóvel rural, para aferição do seu preço, quanto
aos recursos naturais, em especial, os florestais e hídricos, o que
foi completamente desconsiderado pelo perito.

Explica que a NBR 14653-3 exige, que eventual


avaliação de imóvel rural, para que possa atender os requisitos
técnicos necessários, efetue uma completa caracterização da
região onde o mesmo está inserido, abordando os aspectos físicos
do terreno, bem como, aspectos ligados à infra-estrutura pública e
fundiária, bem como que para estimativa de valor de mercado, a
NBR 14653-3, exige do perito, que proceda minucioso
levantamento de dados, o qual se constitui na base do processo
avaliatório, com indicação clara e precisa das fontes, orçamento
das construções e indicação se se trata de avaliação para
pagamento à vista ou à prazo.

No que tange a inegável vocação pastoril, o perito


não indica o custo da sua formação, decorrente da sua diminuição
da capacidade.

Concluiu que “a referida avaliação não respeitou os


critérios necessários que norteiam o ato, incorrendo o Sr. Avaliador
em erro, ensejando a necessidade de nova avaliação, o que foi
indeferido pela decisão agravada”. Invoca o artigo 873, I, do CPC.
Prosseguindo, ainda sobre avaliação, defende a
discrepância de valores, entre a avaliação judicial e extrajudicial,
devendo ser aplicado o artigo 873, III, do CPC, para que o bem
seja oferecido pelo seu valor de mercado.

Requer, em julgamento monocrático o provimento


do recurso, anulando-se a decisão gravada, em face da ausência de
intimação das partes para realização do ato; alternativamente, a
concessão do efeito suspensivo alegando, em breve síntese, para
se evitar a perpetuação do flagrante ilícito durante o processo e os
atos expropriatórios de adjudicação serão iniciados.

No mérito requer o provimento do recurso para o


fim de declarar a nulidade da perícia de avaliação, determinando a
produção de novo laudo, com a devida intimação das partes;
alternativamente, que seja determinada nova avaliação dos bens
imóveis.

A liminar foi deferida (id. 6044308).

Foi apresentada contraminuta (id. 6241930) pelo


desprovimento do recurso, condenando a parte agravada em
litigância de má-fé, aplicando-se a multa estatuída no §2º do
artigo 77 do CPC, por infringir o inciso IV e VI do mesmo artigo,
além de majorar os honorários advocatícios.

Foram prestadas informações (id. 6758303).

Na decisão de id. 7011020, determinei a suspensão


da tramitação do processo.

É o relatório.

V OTO RELATOR

Conforme relatado, o presente recurso é contra


decisão proferida pelo Juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de Barra
do Garças/MT, que, nos autos da Execução de Obrigação de Fazer
n. 10100-29.2017.811.0004, cód. 255798, não acolheu a
impugnação à avaliação realizada e homologou o valor constante
na perícia.

Em síntese são duas as teses recursais:


i) Nulidade da avaliação por ausência de intimação
das partes, da data da realização; e ii) Erro na avaliação.

Quanto à primeira tese, o agravante defende


ofensa ao artigo 474 do CPC, que determina a ciência das partes da
data e local designado para ter início da prova.

Aduz que o juiz “a quo” já havia determinado que


se procedesse à intimação das partes; que indicou assistente para
o ato; e que o acompanhamento, desde o primeiro momento das
tarefas técnicas desenvolvidas pelo Perito, confere ampla
transparência e lisura ao processo e permite a produção de laudo
pericial que retrate os fatos da forma mais fidedigna possível, a fim
de dar suporte adequado ao magistrado, no exercício da atividade
jurisdicional.

Assevera que houve prejuízo na realização da


perícia, sem a sua intimação, posto que foi cerceado seu direito de
acompanhar a produção da prova e contraditar com maior
segurança as conclusões do expert.

Pois bem.
Registro de antemão que há nulidade a ser
reconhecida nos autos, pelas razões que passo a expor.

O avaliador, o Sr. Carlos Alberto Bezerra Barros foi


nomeado pelo juízo “a quo” aos 03 de novembro de 2.016, em
face das impugnações apresentadas pelas partes quanto ao valor
de avaliação apresentado por Oficial de Justiça.

Entretanto, após a nomeação e intimado o perito,


não foi apresentado por ele o currículo, para que as partes
pudessem analisar e impugnar tempestivamente, se fosse o caso,
suas especializações para o mister.

De duas uma, ou o juiz incorreu em “error in


procedendo”, ao suprimir a fase de apresentação de currículo ou a
inércia do próprio nomeado (de apresentação do currículo ou
recusa) cerceou o direito das partes em impugnar suas
especialidades.

Digo isso porque, prestigiando a segurança, e


minimizando os riscos de prejuízos às partes e ao resultado útil do
processo, o Novo Código de Processo Civil é incisivo ao dispor que
para o cargo de perito só pode ser nomeado o profissional que for
especializado na área de conhecimento do objeto da perícia.

Com efeito, o artigo 465 do Código de Processo


Civil é expresso quando impõe ao juiz o dever de nomear apenas
“perito especializado no objeto da perícia”. Destarte, ciente de sua
nomeação, o expert deverá, em cinco dias, apresentar seu
currículo com comprovação de especialização quanto ao objeto da
perícia (art. 465, § 2º, II, CPC), devendo ser substituído se
“faltar-lhe conhecimento técnico ou científico” (art. 468, I, CPC).

No caso dos autos, há necessidade de parecer


técnico de avaliação mercadológica do real valor de mercado das
áreas, de 4.024ha. Desmembrados de várias matrículas e duas
áreas de posse, tratando- se, pois, de análises complexas.

Com o devido respeito ao trabalho desenvolvido


pelo Corretor de Imóvel, compartilho do entendimento de que a
questão envolve avaliação técnica especializada, passível de
realização, exclusivamente, por engenheiro ou arquiteto. Sequer
tecnólogo. Assim determina o art. 7º, c, da Lei nº 5.194/66, que
regulamenta o exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto e
Engenheiro-Agrônomo:
“Art. 7º As atividades e atribuições profissionais do
engenheiro, do arquiteto e do engenheiro-agrônomo
consistem em:

(...)

c) estudo, projetos, análises, avaliações, vistorias,


perícias, pareceres (gm) e divulgação técnica; engenharia
e da arquitetura é que possui formação técnica específica
para realizar o trabalho em apreço.”

Embora tenha conhecimento de que a Resolução n.


1.066/2.007 da COFESI, autorize a elaboração de Laudo Técnico
de Avaliação Mercadológica, tem-se que, o Corretor de Imóveis,
sem a devida inscrição no Cadastro Nacional de Avaliadores
Imobiliários, só pode opinar quanto à comercialização imobiliária,
nos termos do artigo 1º., § único da Resolução mencionada e
artigo 3º, in fine, da Lei nº 6.530, de 12 de maio de 1978 e não
elaborar pareceres complexos, utilizando-se das regras da ABNT.

Inclusive é essa a intepretação dos “considerandos”


da referida resolução. Veja:
“CONSIDERANDO o disposto no art. 3º da Lei n.º
6530/78 que atribui ao Corretor de Imóveis, entre outras,
a competência para opinar sobre comercialização
imobiliária;

CONSIDERANDO o disposto no art. 39, VIII da Lei


nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), que
impede o fornecimento de serviços em desacordo com as
normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, na
sua inexistência, com as diretrizes das normas técnicas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT;

CONSIDERANDO a normatização, pela ABNT, dos


procedimentos gerais na avaliação de bens, através da
norma NBR 14653- 1, e das avaliações de imóveis urbanos
e rurais através das normas NBR 14653-2 e NBR 14653-3,
respectivamente;

CONSIDERANDO que as grades curriculares dos


cursos de avaliação de imóveis e superiores em gestão
imobiliária incluem disciplinas em que são ministrados os
conhecimentos necessários à elaboração de Parecer Técnico
de Avaliação Mercadológica;”

Voltando-se ao caso dos autos, além de não ter


sido apresentado o currículo. Previamente. pelo Corretor de
Imóveis, com suas qualificações para devida análise pelas partes, o
nomeado, primeiramente, informou nos autos sua impossibilidade
de fazê-lo, (por problemas de saúde); contudo, poucos dias depois
pediu a desconsideração e juntou o laudo, sem qualquer
formalidade.

Destarte, ou o perito deveria ter apresentado seu


currículo ou deveria escusar-se, se não especializado, o que não
aconteceu, pois, foi suprimida a fase.

Sobre o assunto, e ressaltando que o perito tem o


dever de se escusar quando não for especializado, o Superior
Tribunal de Justiça já decidiu pela reabertura da fase instrutória
para que fosse nomeado novo perito especialista, in verbis:

“Processo civil. Previdência privada. Fundação


SISTEL. Alegado esvaziamento das reservas de
contingência e das reservas especiais do Plano PBS.
Hipótese em que se alega que tais reservas foram rateadas
e indevidamente utilizadas para distribuição, em dinheiro,
de benefícios aos participantes do Plano PBS que optassem
por migrar para o Plano Visão. Consequente necessidade
de se promover substancial aumento das contribuições dos
que não fizeram a migração de planos, a fim de repor o
equilíbrio atuarial. Matéria de prova. Determinação de
perícia. Confirmação, pelo perito, de seu desconhecimento
acerca das técnicas necessárias para promover cálculo
atuarial. Questão reputada meramente acessória pelo
Tribunal. Reforma do acórdão recorrido. Devolução dos
autos à origem para complementação da perícia. - Na
hipótese em que o próprio perito confirma seu
desconhecimento acerca das técnicas necessárias à
realização de cálculos de avaliação atuarial, e
considerando-se que a questão assume grande
importância para a decisão da lide, torna-se
necessária a nomeação de profissional especializado
nessa área do conhecimento, para que complemente
o laudo pericial entregue. - A ausência de
impugnação tempestiva da nomeação do perito pelo
autor deve ser relativizada em determinadas
circunstâncias. Não é possível exigir das partes que
sempre saibam, de antemão, quais são exatamente
as qualificações técnicas e o alcance dos
conhecimentos do perito nomeado. - É dever do
próprio perito escusar-se, de ofício, do encargo que
lhe foi atribuído, na hipótese em que seu
conhecimento técnico não seja suficiente para
realizar o trabalho pericial de forma completa e
confiável. Recurso conhecido e provido para o fim de
determinar a reabertura da fase instrutória com a
nomeação de novo perito especializado em cálculos
atuariais.” (STJ - REsp: 957347 DF 2007/0125813-4,
Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento:
23/03/2010, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação:
DJe 28/04/2010) (destaquei)

Nessa senda, não identifico outra solução senão


determinar, a realização de nova perícia, desta vez a cargo de
engenheiro agrônomo, tendo em vista que o despacho de
nomeação e a homologação do laudo, incorreram em “error in
procedendo” e cerceamento de defesa.

Ante todo exposto, REVOGO , a decisão que


nomeou o perito Carlos Alberto Bezerra Barros e decisão, na parte
que homologa o laudo por ele apresentado, determinando a
realização de nova perícia, de parecer técnico de avaliação
mercadológica, desta vez a cargo de engenheiro agrônomo, a ser
nomeado.

Prejudicado o recurso.

É como voto.
Data da sessão: Cuiabá-MT, 25/06/2019

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