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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 271

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

SÉTIMA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0000464-64.2017.8.19.0053


APELANTE: CLAUDIONOR NUNES DA SILVA
APELADA: LUCIANE DA COSTA SOUZA
JUÍZO DE ORIGEM: CARTÓRIO DA 1ª VARA DA COMARCA DE SÃO JOÃO DA
BARRA
RELATOR: JDS. DES. ÁLVARO HENRIQUE TEIXEIRA DE ALMEIDA

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE GUARDA. ABANDONO DA


CAUSA. SENTENÇA DE EXTINÇÃO DO FEITO, NOS
TERMOS DO ART. 485, III DO CPC. INCONFORMISMO
DA PARTE AUTORA QUE ALEGA NULIDADE DA
CITAÇÃO FIRMADA POR OFICIAL DE JUSTIÇA
ATRAVÉS DE APLICATIVO DE TELEFONE (WHATSAPP),
BEM COMO NÃO TER HAVIDO REQUERIMENTO DA
PARTE CONTRÁRIA SOLICITANDO A EXTINÇÃO DO
FEITO, PUGNANDO PELA ANULAÇÃO DO DECISIUM.
PRETENSÃO RECURSAL QUE MERECE PROSPERAR.
CITAÇÃO POR APLICATIVO AUTORIZADA PELO
PROVIMENTO Nº 38/2020 DA CORREGEDORIA GERAL
DE JUSTIÇA – ATO CITATÓRIO REALIZADO POR MEIO
DE AUXILIAR DE JUSTIÇA QUE, EMBORA DOTADO DE
FÉ PÚBLICA, DEVE PREENCHER REQUISITOS MÍNIMOS
PARA AFERIÇÃO DE AUTENTICIDADE DA IDENTIDADE
DO CITANDO. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE
JÁ RECONHECEU A VIABILIDADE DA REALIZAÇÃO DA
CITAÇÃO POR MEIO DE APLICATIVO DE MENSAGEM
ATRAVÉS DA GARANTIA DE ELEMENTOS MÍNIMOS DE
AFERIÇÃO DA IDENTIDADE DA RECEPTORA. DÚVIDAS
QUANTO À IDENTIDADE DO CITANDO. CERTIDÃO
POSITIVA DE CITAÇÃO QUE NÃO ESTÁ
ACOMPANHADA DE QUALQUER PROVA ACERCA DA
IDENTIFICAÇÃO DO NÚMERO TELEFÔNICO USADO

Apelação Cível 0000464-64.2017.8.19.0053 (S)


ALVARO HENRIQUE TEIXEIRA DE ALMEIDA:16081 Assinado em 24/02/2023 20:38:52
Local: GAB. JDS ALVARO HENRIQUE TEIXEIRA DE ALMEIDA
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PARA CITAÇÃO, BEM COMO DA CONFIRMAÇÃO


ESCRITA DO CITANDO E SUA FOTO INDIVIDUAL.
RELAÇÃO PROCESSUAL JÁ FORMADA. EXTINÇÃO
POR ABANDONO QUE SOMENTE PODERIA OCORRER
SE PRECEDIDA DE PEDIDO DA PARTE CONTRÁRIA, NA
FORMA DO §6º, DO ARTIGO 485 DO CPC. SENTENÇA
DE EXTINÇÃO QUE DEVE SER ANULADA, A FIM DE SE
PROMOVER O PROSSEGUIMENTO DO FEITO.
RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO.

ACÓRDÃO
Vistos, discutidos e relatados estes autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº
0000464-64.2017.8.19.0053, em que figura como Apelante CLAUDIONOR NUNES DA
SILVA e Apelada LUCIANE DA COSTA SOUZA.

A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 7ª Câmara Cível


do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em
DAR PROVIMENTO ao recurso para ANULAR A SENTENÇA, nos termos do voto do
Relator.
RELATÓRIO
Trata-se de apelação cível interposta pela parte autora CLAUDIONOR
NUNES DA SILVA, contra sentença proferida pelo MM Juízo da 1ª Vara da Comarca
de São João da Barra, que em ação de guarda julgou extinto o processo sem resolução
do mérito, nos seguintes termos (índice 000204):

Pela análise dos autos constata-se ter a parte autora sido


regularmente intimada para dar andamento ao feito, sob pena de
extinção (fls.201), quedando-se inerte.

Assim, por força do disposto no §1º do art. 485 do CPC, JULGO


EXTINTO O FEITO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, na forma do
art. 485, III, do CPC.

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Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e


honorários, os quais fixo em 10% (dez por cento) do valor da
causa, observando a gratuidade de justiça.

Inconformado, o Autor, então, apelou, no índice 000227, sustentando a


ilegalidade da intimação via WhatsApp pelo Oficial de Justiça, eis que o OJA não juntou
aos autos comprovantes de recibo, foto ou documento da parte intimada, conforme
determina o STJ.

Informa, ainda, não ter havido requerimento da parte contrária, no sentido


de solicitar a extinção do feito, sem resolução do mérito, conforme determina a Súmula
240 do STJ.

Pugna pela anulação da sentença impugnada, determinando-se o regular


prosseguimento do feito.

Por fim, prequestiona matéria constitucional.

Contrarrazões (índice 000246) pelo desprovimento do recurso.

Manifestação da Procuradoria de Justiça, no índice 000261, pela


anulação da sentença.
VOTO
Em juízo de admissibilidade, reconheço a presença dos requisitos
intrínsecos e extrínsecos, imprescindíveis à interposição do recurso, pelo que merece
ser conhecido.

Cinge-se a controvérsia recursal em verificar se preenchidos os requisitos


para a extinção do processo sem julgamento do mérito por abandono da causa pelo
autor.

É a lide na sua essência.

O ordenamento processual admite a extinção do feito, sem apreciação do


mérito, quando a inércia do autor em promover as diligências e atos processuais a seu

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encargo caracterizar o abandono da causa, a teor do que dispõe o art. 485, III, do CPC,
in verbis:

“Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


(...)III. por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir,
o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
(...)§ 1º Nas hipóteses descritas nos incisos II e III, a parte será
intimada pessoalmente para suprir a falta no prazo de 5 (cinco)
dias. ”

Essa é uma sanção imposta à parte que abandona a causa em que


persegue a tutela de seu próprio interesse, sendo que, para caracterizar o abandono, a
lei processual exige expressamente a prévia intimação pessoal do autor para cumprir
seus encargos no prazo de cinco dias, como dispõe o § 1º do artigo supracitado.

Neste ponto, anote-se que a matéria encontra previsão nos enunciados nº


132 e 166 deste Tribunal de Justiça, a seguir:

“Nº. 132 - A intimação da parte para fins de extinção do processo


na hipótese do art. 485, parágrafo 1º do Código de Processo Civil,
poderá ser determinada de ofício pelo juiz. ”

“Nº. 166 - A intimação pessoal, de que trata o art. 485, § 1º, do


Código de Processo Civil, pode ser realizada sob a forma postal. ”

Assim, para extinguir-se o feito é imprescindível a intimação pessoal da


parte autora, a qual, inclusive, pode dar-se por via postal, mediante carta com AR
(aviso de recebimento) ou CR (carta registrada), desde que reste cabalmente
comprovado que o autor foi devidamente cientificado.

Na presente hipótese, verifica-se que o juízo de origem determinou, no


índice 000192, a intimação da parte apelante para que desse andamento ao processo,
sob pena de extinção.

Observa-se que o Oficial de Justiça realizou a citação do Apelante através


de ligação telefônica enviando cópia do mandado pelo aplicativo de mensagem
WhatsApp (índice 000201).

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Pela leitura do inteiro teor do mandado, entendo assistir razão ao


Apelante. Isso porque a sua citação, atestada pelo OJA, não preencheu requisitos
mínimos para aferição de autenticidade da identidade do citando.

Veja-se que na diligência empreendida, não constou informação sobre


fotografia do Recorrente, tampouco confirmação de recebimento, por escrito, do
mandado que fora encaminhado.

A despeito de a citação por aplicativo ser autorizada pelo Provimento nº


38/2020 da Corregedoria Geral de Justiça, a diligência, para ter sua validade
confirmada, deve se revestir de mínimas condições de checagem da autenticidade do
destinatário do mandado, consoante decidiu o Superior Tribunal de Justiça, em
precedente sobre a matéria (HC 641.877/DF, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, julgado em
09/03/2021, DJe 15/03/2021), nos termos dos trechos a seguir:

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL EM HABEAS


CORPUS. CITAÇÃO POR WHATSAPP. VALIDADE DO ATO
CONDICIONADA À CERTEZA DE QUE O RECEPTOR DAS
MENSAGENS TRATA-SE DO CITANDO. PREJUÍZO
CONFIGURADO. RECURSO PROVIDO. 1. Embora não haja
óbice à citação por WhatsApp, é necessária a certeza de que
o receptor das mensagens trata-se do Citando. Precedente:
STJ, HC 652.068/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
SEXTA TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021. 2. A
Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça proferiu
julgado no qual consignou que, para a validade da citação por
WhatsApp, há "três elementos indutivos da autenticidade do
destinatário", quais sejam, "número de telefone, confirmação
escrita e foto individual" (HC 641.877/DF, Rel. Ministro RIBEIRO
DANTAS, julgado em 09/03/2021, DJe 15/03/2021). Na hipótese,
todavia, nenhuma dessas circunstâncias estão materializadas ou
individualizadas, inequivocamente. 3. A Oficiala de Justiça, ao
atestar o cumprimento da citação, limitou-se a consignar que
contatou o Recorrente por ligação telefônica, oportunidade em
que foi declarado o "desejo na nomeação de Defensor Público
para acompanhar a defesa e confirmou o recebimento da contrafé,
a qual foi deixada em sua residência quando da diligência".
Todavia, não há a indicação sobre se o número no qual atesta ter
realizado a citação é do Recorrente. 4. O prejuízo à ampla defesa
foi devidamente declinado pela Defensoria Pública Estadual, a

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qual, em sua inicial, ressaltou que não teve êxito em contatar o


Réu, que não estava cientificado da acusação (STJ, HC
699.654/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado
em 16/11/2021, DJe 25/11/2021; v.g.). 5. Recurso provido para
anular a citação e todos os atos posteriores que dependam do
devido conhecimento dos termos da acusação pelo Citando, sem
prejuízo, todavia, da tramitação regular da causa após a
concretização da citação que certifique validamente a identidade
do Réu, assegurada a observância do art. 357 do Código de
Processo Penal. (RHC n. 159.560/RS, relatora Ministra Laurita
Vaz, Sexta Turma, julgado em 3/5/2022, DJe de 6/5/2022.)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO PRÓPRIO. CITAÇÃO VIA WHATSAPP. NULIDADE.
REGRA DOS TRÊS ELEMENTOS DE VERIFICAÇÃO NÃO
ATENDIDA IN CASU. PRECEDENTE DESTE STJ.
INADEQUAÇÃO DA CITAÇÃO. PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF
QUE NÃO SE APLICA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
ORDEMPARCIALMENTE CONCEDIDA, DE OFÍCIO, COM
RESSALVA. I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo
entendimento firmado pela Primeira Turma do col. Pretório
Excelso, sedimentou orientação no sentido de não admitir habeas
corpus em substituição ao recurso adequado, situação que implica
o não conhecimento da impetração, ressalvados casos
excepcionais em que, configurada flagrante ilegalidade apta a
gerar constrangimento ilegal, seja possível a concessão da ordem
de ofício. II - No caso concreto, verifica-se que existe norma
interna do eg. Tribunal de origem autorizando, excepcionalmente,
a medida da citação via aplicativo de mensagens. III - Ainda no
ano de 2017, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, por
unanimidade, a utilização do aplicativo WhatsApp como
ferramenta de intimações. Esta foi a decisão tomada durante o
julgamento virtual do Procedimento de Controle Administrativo
(PCA), de n. 0003251- 94.2016.2.00.0000, ao se contestar a
decisão da Corregedoria do eg. Tribunal de Justiça d o Estado de
Goiás (TJGO), que proibira a utilização do mencionado aplicativo
no âmbito do Juizado Civil e Criminal da Comarca de
Piracanjuba/GO. IV - Assim, embora a situação em voga seja de
citação, merece destaque esta Quinta Turma já assentou que,
"Abstratamente, é possível imaginar-se a utilização do Whatsapp
para fins de citação na esfera penal, com base no princípio pas
nullité sans grief. De todo modo, para tanto, imperiosa a adoção
de todos os cuidados possíveis para se comprovar a
autenticidade não apenas do número telefônico com que o

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oficial de justiça realiza a conversa, mas também a identidade


do destinatário das mensagens. (...). Como cediço, a tecnologia
em questão permite a troca de arquivos de texto e de imagens, o
que possibilita ao oficial de justiça, com quase igual precisão da
verificação pessoal, aferir a autenticidade da conversa. É possível
imaginar-se, por exemplo, a exigência pelo agente público do
envio de foto do documento de identificação do acusado, de um
termo de ciência do ato citatório assinado de próprio punho,
quando o oficial possuir algum documento do citando para poder
comparar as assinaturas, ou qualquer outra medida que torne
inconteste tratar-se de conversa travada com o verdadeiro
denunciado. De outro lado, a mera confirmação escrita da
identidade pelo citando não nos parece suficiente. (...). Necessário
distinguir, porém, essa situação daquela em que, além da escrita
pelo citando, há no aplicativo foto individual dele. Nesse caso,
ante a mitigação dos riscos, diante da concorrência de três
elementos indutivos da autenticidade do destinatário, número de
telefone, confirmação escrita e foto individual, entendo possível
presumir-se que a citação se deu de maneira válida, ressalvado o
direito do citando de, posteriormente, comprovar eventual
nulidade, seja com registro de ocorrência de furto, roubo ou perda
do celular na época da citação, com contrato de permuta, com
testemunhas ou qualquer outro meio válido que autorize concluir
de forma assertiva não ter havido citação válida" (HC n.
641.877/DF, Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de
15/3/2021). V - Em complemento, necessário salientar que a
jurisprudência desta eg. Corte de Justiça há muito se firmou no
sentido de que a declaração de nulidade exige a comprovação de
prejuízo, em consonância com o princípio pas de nullité sans grief,
consagrado no art. 563 do Código de Processo Penal. VI - Nas
situações concretas, em tese, o próprio paciente deveria aceitar
que a citação se desse por meio de sistema telemático - isso é o
que supriria o aspecto da necessidade de prévia e espontânea
adesão ao uso do aplicativo. No caso dos autos, tal anuência
prévia não existiu. VII - De outra forma, os parâmetros assentados
por esta Quinta Turma, "das três formas de verificação", não
foram obedecidos in casu, pois, deles, apenas o envio de
documento por foto se fez presente. Habeas corpus não
conhecido. Ordem concedida PARCIALMENTE, de ofício, para
anular a citação via WhatsApp, pela carência de comprovação da
autenticidade do citando; com a ressalva de que a referida
tecnologia ainda poderá ser novamente utilizada, respeitados os
parâmetros fixados neste julgado, em consonância com o HC n.
641.877/DF, Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de

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15/3/2021. (HC n. 679.962/PR, relator Ministro Jesuíno Rissato


(Desembargador Convocado do Tjdft), Quinta Turma, julgado em
5/10/2021, DJe de 8/10/2021.)

Verifica-se que a certidão positiva de citação (índice 000201) não está


acompanhada de qualquer prova acerca da identificação do número telefônico usado
para citação (se de fato pertence ao Apelante), bem como de sua confirmação escrita
quanto ao recebimento e foto individual.

Neste exato sentido, é o posicionamento deste Tribunal de Justiça do


Estado do Rio de Janeiro em casos semelhantes ao presente. Confira-se:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.


ALIMENTOS. NULIDADE DA CITAÇÃO. Na espécie, trata-se de
ação de alimentos em que o apelado foi citado através de
aplicativo de celular - Whatsapp. Não se desconhece que a
tecnologia é aliada do Poder Judiciário na comunicação com as
partes e na efetividade do processo. No entanto, no caso dos
autos, a citação realizada pelo aplicativo, não traz segurança
quanto a correção da citação. Necessidade de observância de
recente julgado do E. STJ no HC 641877. Natureza do direito
dos autos que recomenda a aplicação nestes autos, do
precedente aplicável no âmbito do Processo Penal. Sentença
anulada de ofício e declarado prejudicado o recurso, nos termos
do voto do Desembargador Relator. (0001420-62.2021.8.19.0046
- APELAÇÃO. Des(a). CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ
JÚNIOR - Julgamento: 12/05/2022 - DÉCIMA SEGUNDA
CÂMARA CÍVEL)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. RÉU


CONSIDERADO REVEL. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DOS
PEDIDOS QUANTO A FIXAÇÃO DE ALIMENTOS.
IRRESIGNAÇÃO DO RÉU. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DE
CITAÇÃO FIRMADA POR OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR
ATRAVÉS DE APLICATIVO DE TELEFONE (WHATSAPP).
CITAÇÃO POR APLICATIVO AUTORIZADA PELO
PROVIMENTO Nº 38/2020 DA CORREGEDORIA GERAL DE
JUSTIÇA – ATO CITATÓRIO REALIZADO POR MEIO DE
AUXILIAR DE JUSTIÇA QUE, EMBORA DOTADO DE FÉ
PÚBLICA, DEVE PREENCHER REQUISITOS MÍNIMOS PARA
AFERIÇÃO DE AUTENTICIDADE DA IDENTIDADE DO
CITANDO. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE JÁ

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RECONHECEU A VIABILIDADE DA REALIZAÇÃO DA CITAÇÃO


POR MEIO DE APLICATIVO DE MENSAGEM ATRAVÉS DA
GARANTIA DEELEMENTOS MÍNIMOS DE AFERIÇÃO DA
IDENTIDADE DA RECEPTORA, NOS TERMOS DO TRECHO A
SEGUIR (HC 680.613). DÚVIDAS QUANTO À IDENTIDADE DO
CITANDO. CERTIDÃO POSITIVA DE CITAÇÃO QUE NÃO ESTÁ
ACOMPANHADA DE QUALQUER PROVA ACERCA DA
IDENTIFICAÇÃO DO NÚMERO TELEFÔNICO USADO PARA
CITAÇÃO, BEM COMO DA CONFIRMAÇÃO ESCRITA DO
CITANDO E SUA FOTO INDIVIDUAL. RECONHECIMENTO DA
INVALIDADE DA CITAÇÃO E NECESSIDADE DE
AFASTAMENTO DOS EFEITOS DA REVELIA. NO ENTANTO,
HAJA VISTA A NATUREZA DE SUBSISTÊNCIA DA
PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA, DEVE-SE MANTER OS
ALIMENTOS PROVISÓRIOS DEFERIDOS NOS TERMOS DA
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA PROFERIDA. RECURSO
CONHECIDO A QUE SE DÁ PROVIMENTO PARA ANULAR A
SENTENÇA. (Apelação nº 0002369-13.2021.8.19.0038- Des.
Lucia Helena do Passo- julgamento: 22/09/2022- Vigésima
Sétima Câmara Cível)

Verifica-se, ainda, que a relação processual já estava formada, motivo pelo


qual a extinção por abandono somente poderia ocorrer se precedida de pedido da parte
contrária, na forma do §6º, do artigo 485, do CPC, o que tampouco foi observado pelo
juízo a quo. Veja-se:

“Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: (...) III - por não
promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; (...) § 6º Oferecida
a contestação, a extinção do processo por abandono da causa
pelo autor depende de requerimento do réu. ”

Dessa maneira, a extinção do processo por abandono da parte autora não


poderia ser decretada de ofício pelo juiz, dependendo de requerimento do réu,
conforme verbete sumular n. 240 do STJ, in verbis:

“A extinção do processo, por abandono da causa pelo autor,


depende de requerimento do réu”.

Nesse sentido, seguem as respectivas ementas:

“APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. SENTENÇA


DE EXTINÇÃO DO PROCESSO COM FUNDAMENTO NO ART.

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485, III, DO CPC/15, POR ABANDONO DA


CAUSA. EXTINÇÃO DO PROCESSO, POR ABANDONO DA
CAUSA PELO AUTOR, QUE DEPENDE DE REQUERIMENTO
DA PARTE RÉ. SÚMULA 240 DO STJ. AUSÊNCIA
DE INTIMAÇÃO PESSOAL DA DEFENSORIA PÚBLICA, QUE
PRESTA ASSISTÊNCIA À RÉ. ERROR IN PROCEDENDO.
ANULAÇÃO DA SENTENÇA. PRECEDENTES. RECURSO
PROVIDO (Apelação nº 0015552-07.2013.8.19.0208 – Des.
Sandra Santarém Cardinali - Julgamento: 10/02/2022 -
Vigésima Sexta Câmara Cível).

"Apelações Cíveis. Ação de Cobrança. Processual Civil.


Paralisação do feito. Sentença terminativa, com fulcro no art. 485,
III, do CPC, por abandono da causa. Irresignações do Autor e de
dois dos Réus. Questão apreciável de ofício e ainda não
examinada atinente à ausência de requerimento dos Réus
pela extinção do processo. Prévia intimação pessoal que atendeu
ao disposto no art. 485, §1º, do CPC. Aviso de Recebimento
devidamente assinado e acostado aos autos. Error in procedendo
constatado, entretanto, diante da falta de pleito dos Demandados,
já integrados à relação processual. Inteligência do art. 485, §6º, do
CPC ("Oferecida a contestação, a extinção do processo
por abandono da causa pelo autor depende de requerimento
do réu.") e do Verbete nº 240 da Súmula do Insigne Tribunal
da Cidadania ("A extinção do processo, por abandono da
causa pelo autor, depende de requerimento do réu.").
Precedentes. Atipicidade procedimental configurada. Anulação do
decisum com o consequente prosseguimento do feito em 1º grau.
Conhecimento dos recursos, com a anulação ex officio da
sentença, julgando-se prejudicados os Apelos (Apelação nº
0008614-36.2014.8.19.0054 –Des. Sérgio Nogueira de Azeredo
- Julgamento: 19/08/2021 - Décima Primeira Câmara Cível).

No que concerne ao prequestionamento, é cediço que o julgador não tem


que declinar, a cada passo, a norma de lei em que se funda a decisão, desde que, não
deixe de apreciar as questões postas, como se deu no presente caso, mostrando-se
desnecessário o prequestionamento explícito dos dispositivos invocados, já que, claras
restaram na decisão as razões do julgamento. Até porque, “para ser atendido o
requisito da admissibilidade do prequestionamento, o Tribunal a quo tem que examinar
e decidir a questão posta, não sendo necessária, no acórdão, a expressa menção ao
dispositivo legal em que se fundamentou a decisão” (EResp 165.212- MS, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros).

Apelação Cível 0000464-64.2017.8.19.0053 (S)


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Desse modo, forçoso reconhecer que a solução impugnada incorreu em


error in procedendo, a ensejar sua invalidação.

À conta de tais fundamentos, voto no sentido de DAR PROVIMENTO ao


recurso para ANULAR a sentença, determinado o retorno dos autos ao Juízo de
origem, devendo o feito prosseguir até os seus ulteriores termos.

Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2023.

JDS. DES. ÁLVARO HENRIQUE TEIXEIRA DE ALMEIDA


Relator

Apelação Cível 0000464-64.2017.8.19.0053 (S)

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