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RELATÓRIO
Sobreveio recurso especial interposto por Banco Santander Brasil S.A., com
base na alínea "a" do permissivo constitucional, no qual se alega violação ao art. 359 do
Código de Processo Civil.
Sustenta, em síntese, que "[...] não há que se falar sequer em incidência de
astreintes para o caso de não serem localizados os documentos em tela", à luz do
entendimento consolidado na Súmula 372 desta Corte Superior.
Assevera que a falta de apresentação dos documentos requisitados somente
pode levar à busca e apreensão, mas nunca à aplicação de multa por ato atentatório à
dignidade da Justiça ou o reconhecimento de crime de desobediência. No ponto, também
pondera ser impossível a incidência da regra da presunção de veracidade.
Aduz a inocorrência de ato atentatório à dignidade da Justiça, ressaltando a
garantia ao exercício do direito de defesa assegurado no inciso LV do art. 5º da Carta Maior.
Não foram apresentadas contrarrazões ao recurso especial, consoante
certidão à fl. 230.
Crivo positivo de admissibilidade na origem (fls. 233-238).
É o relatório.
VOTO
No ponto, acrescente-se que o novo Código de Processo Civil, em seu art. 774,
também apresenta redação similar, destacando que a conduta do executado pode ocorrer
por ação ou omissão, além de criar uma hipótese específica para o caso de dificultar ou
embaraçar a realização da penhora, in litteris:
3.1. Infere-se, pois, dos dispositivos acima transcritos, que o ato atentatório à
dignidade da Justiça se restringe ao processo de execução, caracterizando-se somente a
conduta de deslealdade processual praticada pelo executado.
Isso porque o código se utiliza da expressão "ato do executado", além do fato
de as hipóteses previstas nos incisos I, II e IV se referirem a circunstâncias inerentes ao
procedimento executivo.
Ademais, apesar de o inciso III do art. 600 do CPC tratar da situação de
resistência injustificada às ordens judiciais, podendo levar à conclusão de que seria aplicável
a qualquer "tipo de processo", inclusive o de conhecimento, isso não se revela, a meu juízo,
como possível. A razão é bem simples: a cabeça do dispositivo, conforme já destacado, faz
alusão expressa a "atos do executado", e somente dele.
A doutrina também perfilha essa linha de raciocínio ao lecionar que "visando
preservar a ética e a probidade na execução, impõe o legislador, nesses dispositivos,
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deveres de lealdade e cooperação especificamente para o executado, exigindo que
contribua para a efetividade da prestação jurisdicional" e, por conseguinte, "desrespeitados
esses deveres, incorre o devedor em ato atentatório à dignidade da justiça, ilícito processual
(abuso do seu direito de litigar/atuar em juízo)" (JUNIOR, Fredie Didier; BRAGA, Paula Sarno;
OLIVEIRA, Rafael Alexandria. Curso de direito processual civil - volume 5. Salvador:
Juspodivm, 2013, p. 333) [original sem grifos].
Na mesma linha, Araken de Assis explicita que "comparativamente ao dever do
art. 14, porém, o art. 600, que se restringe ao processo executivo (rectius: às execuções
em geral), caracteriza somente a deslealdade imputável ao executado" (ASSIS, Araken.
Manual da execução. São Paulo: Revista dos Tribunais: 2010, p. 393).
Cândido Rangel Dinamarco acrescenta que "todos esses casos são de
deslealdade processual perpetrada pelo executado, nunca pelo exequente (v. caput);
e isso corresponde à deliberada intenção do legislador, no sentido de agilizar a execução
forçada, combatendo a lentidão da Justiça e reprimindo atos que lhe impeçam o curso
normal, em seu desprestígio" (DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. São Paulo:
Malheiros, 2002, p. 186) [original sem grifos].
Acerca do tema, confira-se precedente da Quarta Turma do STJ, dos idos de
1999, também restringindo a aplicação do art. 600 do CPC ao "processo de execução":
3.2. Com efeito, para as hipóteses acima destacadas, o art. 601 do CPC regula
a sanção no patamar de até 20% (vinte por cento) sobre o valor atualizado da execução, a
ser revertido em proveito do exequente, ipsis litteris:
Art. 601. Nos casos previstos no artigo anterior, o devedor incidirá em multa
fixada pelo juiz, em montante não superior a 20% (vinte por cento) do
valor atualizado do débito em execução, sem prejuízo de outras
sanções de natureza processual ou material, multa essa que reverterá em
proveito do credor, exigível na própria execução. [original sem grifos]
Mais uma vez, fica claro que a norma aqui discutida tem o seu âmbito de
aplicação limitado às execuções, pois, repita-se, até o valor da multa tem como parâmetro o
montante cobrado na execução, a ser revertido em proveito do credor/exequente.
Acerca da multa, o em. Ministro Teori Albino Zavascki explicita que "seu caráter
é eminentemente punitivo, e não indenizatório, razão pela qual, na fixação do valor, o juiz
levará em conta, não necessariamente a existência ou o montante do dano que possa ter
sofrido o credor, mas sim a gravidade da culpa ou do dolo com que agiu o devedor"
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(ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de execução - parte geral. São Paulo: Revistas dos
Tribunais, 2004, p. 82) [original sem grifos].
4. Nesse viés, o STJ apresenta entendimento sobre a utilização do método
restritivo de interpretação das normas que estabelecem penalidades. No caso ora invocado,
ficou sufragado que o art. 600 do CPC não poderia ser aplicado a terceiro, pois, como já
amplamente debatido, o dispositivo fala em "ato do executado", in verbis: