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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Autos nº. 0003537-94.2021.8.16.0018

Recurso Inominado Cível n° 0003537-94.2021.8.16.0018


4º Juizado Especial Cível de Maringá
Recorrente(s): SOLUÇÃO FINANCEIRA - SERVIÇOS DE RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO EIRELI
Recorrido(s): LUCIANE APARECIDA LOPES JUSTINI
Relator: Camila Henning Salmoria

RECURSO INOMINADO. CONTRATAÇÃO DE ASSESSORIA PARA


RENEGOCIAÇÃO DE FINANCIMENTO DE VEÍCULO. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. PRESTAÇÃO DO SERVIÇO NÃO COMPROVADA. FATO
EXTINTIVO DO DIREITO DA AUTORA. ÔNUS DO RÉU. RESCISÃO
CONTRATUAL E RESTITUIÇÃO DE VALORES MANTIDA. FALHA NA
PRESTAÇÃO QUE OCASIONOU O AJUIZAMENTO DE BUSCA E APREENSÃO
DO VEÍCULO. PARTE AUTORA QUE FIRMOU ACORDO PARA O PAGAMENTO
DAS PARCELAS VENCIDAS. PAGAMENTO DE JUROS E MULTA EM VIRTUDE
DO ATRASO. REQUERIDA RESPONSÁVEL PELO ATRASO. RESSARCIMENTO
DOS PREJUÍZOS DEVIDO. DANO MORAL CONFIGURADO. INDENIZAÇÃO
MANTIDA. VALOR INDENIZATÓRIO QUE NÃO SE MOSTRA EXORBITANTE OU
IRRISÓRIO. IMPOSSIBILIDADE DE MINORAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO NÃO PROVIDO.

1.Relatório: a autora relatou que procurou a requerida para este intermediasse


a negociação de seu contrato de financiamento de veículo junto ao Bradesco
PSA, pelo valor de R$ 9.200,00. Ainda, relatou que foi orientada a parar de
pagar as parcelas do financiamento para que ocorresse a negociação, tendo
inclusive entregue o carnê a requerida. Entretanto, narrou que não houve a
prestação do serviço narrado e em decorrência da ausência de pagamento foi
ajuizada ação de busca e apreensão do veículo, na qual o autor firmou acordo
pagamento das parcelas vencidas com medo perder seu veículo, tendo
desembolsado o valor de R$ 3.644,51 referente a juros e multa. Diante dos
fatos narrados, requereu a rescisão do contrato firmado entre as partes, a
restituição dos valores pagos, ressarcimento dos prejuízos suportados e
indenização por danos morais. A sentença julgou procedente a pretensão
inicial para o fim de declarar a rescisão do contrato firmado, condenar a
requerida a devolução dos valores pagos no importe de R$ 1.226,68, o
ressarcimento do importe de R$3.644,51,00 referente aos juros e multa e
indenização por danos morais no valor de R$ 4.000,00. A requerida interpôs
recurso visando a reforma da decisão para o fim de julgar improcedentes os
pedidos iniciais alegando a regular prestação dos serviços e validade do
contrato firmado. Subsidiariamente, requereu a minoração do valor
indenizatório fixado a título de danos morais.
2. A respeito da rescisão contratual e da devolução de valores, extrai-se da
sentença a ser mantida: “(...) nota-se que ao longo do contrato, a Requerida
informa que seria possível um desconto de no mínimo 50% do débito e que
atuaria visando à redução do débito da Requerente ou quitação antecipada na
esfera extrajudicial. Outro ponto a ser destacado é que a Requerida estava na
posse do carnê com as faturas de pagamento do empréstimo contraído pela
Requerente, o que impossibilitaria qualquer pagamento pela Requerente.
Ademais, a Requerida não demonstrou que tenha atuado extrajudicialmente
junto à instituição financeira em tratativas para formalizar a negociação do
contrato, somado a isto a Requerente foi orientada a suspender os
pagamentos, o que culminou no ajuizamento de ação de busca e apreensão.
Sabe-se que a Requerida não possui margem para ingerência na atuação da
instituição financeira, mas considerando a conduta da Requerida em reter as
faturas para pagamento e não realizar as tratativas extrajudiciais, resta
caracterizada a falha na prestação dos serviços da Requerida. (...)
Considerando que não houve a efetiva prestação dos serviços contratados, hei
de julgar procedente o pedido de restituição do valor pago pela Requerente
relativo à prestação do serviço contratado e não prestado.”

3. No tocante ao ressarcimento dos prejuízos suportados pelo pagamento das


parcelas em atraso, cumpre observar que a parte autora comprou que realizou
acordo junto a instituição financeira nos autos de busca e apreensão para a
quitação das parcelas em atraso (agosto/2020 a janeiro/2021), comprovando o
pagamento das parcelas em atraso, bem como de valores referentes a juros de
mora, multa, honorários e despesas (mov. 1.34 a 1.36). Considerando que a
requerida deu causa ao pagamento das referidas parcelas em atraso, deve
ressarcir os prejuízos causados. Assim, ressalta-se da sentença a ser mantida:
“Ademais, devem ser restituídos à Requerente os valores pagos decorrente de
juros e correções pelo atraso no pagamento das parcelas pela Requerente.”

4. No que tange a indenização por danos morais e valor indenizatório,


reitera-se: “Assim é o entendimento doutrinário aplicável à matéria: Em sede
de prestação de serviços é que, com mais frequência, se localizam os danos
que afetam a esfera moral dos consumidores. [...] Mais importa ao consumidor
alcançar, em sua plenitude, o ressarcimento da ordem moral do que a
reparação dos danos materiais inculcados ao fornecedor relapso. Os
aplicadores da norma jurídica devem se conscientizar dessa legitima
expectativa dos consumidores, não se furtando aprofundar o estudo de cada
caso (...) Para a fixação do dano moral, a análise das circunstâncias do caso
concreto, tais como a gravidade do fato, o grau de culpa do ofensor, o lapso
temporal em que foi mantida a inscrição e a situação econômico-financeira dos
litigantes, atentando-se para que a indenização não se torne fonte de
enriquecimento sem causa, nem seja considerada inexpressiva, a atender ao
duplo objetivo de compensar a vítima e afligir, razoavelmente, o autor do dano.
(...) Assim, o valor observadas as circunstâncias do caso concreto expostas
deve ser fixado em R$ 4.000,00 (quatro mil reais).”

5. Precedentes dessa Turma Recursal: RI 0019808-18.2020.8.16.0018 - Rel.:


Juíza Maria Roseli Guiessmann - J. 22.11.2021 e RI 0006160-25.2021.8.16.0021 -
Rel.: Juíza Manuela Tallão Benke - J. 31.01.2022.
DISPOSITIVO

Presentes os pressupostos de admissibilidade conheço do recurso interposto.

A sentença recorrida deve ser mantida por seus próprios fundamentos, na forma do
que preceitua o artigo 46 da Lei nº 9.099/95.

Diante do exposto, voto no sentido de conhecer e negar provimento ao recurso


inominado.

Ante a derrota recursal, vota-se pela condenação da recorrente ao pagamento das


custas e dos honorários advocatícios, estes fixados em 20% sobre o valor da condenação (art. 55 da Lei n.
9099/95).

Ante o exposto, esta 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por
unanimidade dos votos, em relação ao recurso de SOLUÇÃO FINANCEIRA - SERVIÇOS DE
RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO EIRELI, julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito - Não-Provimento nos
exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Camila Henning Salmoria


(relator), com voto, e dele participaram os Juízes Maria Roseli Guiessmann e Fernanda De Quadros
Jorgensen Geronasso.

20 de maio de 2022

Camila Henning Salmoria

Juiz (a) relator (a)

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