Você está na página 1de 7

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2014.0000088222

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº

0021113-69.2012.8.26.0008, da Comarca de São Paulo, em que é apelante

ALDEMIR RAMOS DOS SANTOS, é apelado CMF SECURITIZADORA

S/A.

ACORDAM, em 21ª Câmara de Direito Privado do Tribunal

de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento

ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este

acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmo.

Desembargadores ADEMIR BENEDITO (Presidente) e MAIA DA

ROCHA.

São Paulo, 17 de fevereiro de 2014.

VIRGILIO DE OLIVEIRA JUNIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

RELATOR
Assinatura Eletrônica

VOTO N.: 25984

APELAÇÃO N.: 0021113-69.2012.8.26.0008


COMARCA: SÃO PAULO
APELANTE: ALDEMIR RAMOS DOS SANTOS
APELADO: CMF SECURITIZADORA S/A

Ação monitória. Cheques sem eficácia executiva.


Embargos monitórios não acolhidos. Apelação.
Embargante que confirma a emissão dos cheques, mas
alega que a causa da emissão foi empréstimo realizado
ao dono da empresa em que trabalhava. Princípios da
cartularidade e da autonomia. Art. 13 da Lei dos Cheques
Lei 7.357/85. Inoponibilidade das exceções pessoais ao
terceiro de boa-fé. Art. 25 da Lei dos Cheques. Terceiro
de boa-fé. Ausência de qualquer elemento probatório
acerca da má-fé do réu. Presunção de boa-fé.
Embargante que deverá requerer, em ação própria,
eventual restituição decorrente do empréstimo realizado.
Precedentes do TJSP e do STJ. Sentença mantida.
Recurso desprovido.

A CMF Securitizadora S.A. ingressou com ação


monitória para cobrar do réu a importância de R$ 18.292,04,
representada por três cheques. A r. sentença não acolheu os embargos
monitórios. Inconformado, apela o embargante. Alega que os cheques

APELAÇÃO Nº 0021113-69.2012.8.26.0008 SÃO PAULO 2/7


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

foram emitidos em razão de empréstimo realizado ao dono da empresa


em que trabalhava e, por isso, as cártulas são inexigíveis. Recurso
processado e contrariado em seguida.

É o relatório.

Cuidam os autos de ação monitória amparada por


cheques sem força de título executivo.

A r. sentença não acolheu os embargos.

Apela o embargante suscitando que os cheques foram


emitidos em razão de empréstimo realizado ao dono da empresa em
que trabalhava e que, por isso, as cártulas são inexigíveis. Juntou
decisão em processo trabalhista que determinou em sede de tutela
antecipada a inexigibilidade dos cheques perante ele.

Sem razão, contudo.

O credor apresentou juntamente com a petição inicial


os cheques em testilha, emitidos e assinados pelo réu.

Desse modo, o credor se desincumbiu do ônus de


demonstrar o fato constitutivo de seu direito, nos termos do artigo 333,
inciso I, do Código de Processo Civil. Isso porque o cheque é título de
crédito e goza dos princípios da autonomia e da cartularidade, que são
suficientes para comprovar o crédito ali mencionado.

Por outro lado, o devedor não nega que assinou os


APELAÇÃO Nº 0021113-69.2012.8.26.0008 SÃO PAULO 3/7
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

cheques, mas sustenta que a origem do crédito ali inscrito não é idônea,
pois decorre de empréstimo realizado ao dono da empresa em que
trabalhava.

Fato é que a causa de emissão dos cheques, qual seja,


empréstimo realizado ao dono da empresa em que trabalhava, não
pode prejudicar terceiro de boa-fé, que é o caso do autor da ação
monitória.

O artigo 13 da Lei dos Cheques Lei 7.357/85 -


estabelece que:

“As obrigações contraídas no cheque são autônomas e


independentes”.

O artigo 25 da mesma lei determina expressamente


que:

“Quem for demandado por obrigação resultante de


cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações
pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o
portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor”.

O embargante em nenhum momento contestou a


regularidade da emissão da cártula. Ao revés, confirmou que emitiu o
cheque em testilha, mas requer a declaração de sua inexigibilidade em
razão de se tratar de empréstimo realizado ao seu então superior
hierárquico na empresa em que trabalhava.

APELAÇÃO Nº 0021113-69.2012.8.26.0008 SÃO PAULO 4/7


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

O autor da ação monitória é terceiro de boa-fé, eis


que não há qualquer elemento probatório nos autos a sugerir o
contrário.

Desse modo, os cheques são válidos e deverão ser


devidamente pagos pelo autor.

Eventual prejuízo decorrente do empréstimo


realizado deverá ser objeto de ação própria.

Essa é a jurisprudência deste e. Tribunal de Justiça:

[a] “Ação declaratória julgada procedente. Cheque.


Inoponibilidade das exceções pessoais. Elementos dos autos que não
fazem ver má-fé do apelante. Apelada que não contestou a higidez
quanto à emissão da cártula. Inconformismo que se cingiu à inexistência
de relação jurídica com o apelante. Circunstância que não exime o
emitente da obrigação representada pelo cheque. Hipótese em que a
cártula já havia circulado. Impossibilidade de oponibilidade de exceções
pessoais ao terceiro de boa-fé. Apelante que podia levar o cheque não
pago a protesto. Inexistência de ato ilícito que resultasse em abalo moral.
Recurso provido, para o fim de ser julgada improcedente a ação” [TJSP,
Ap. 0006807-02.2011.8.26.0309, Rel. Des. Castro Figliolia, 12ª Câmara
de Direito Privado, DJ 31.07.2013];

[b] “Responsabilidade civil Indenizatória. Dano moral.


Sentença de improcedência. Cambial. Cheque. Protesto. Título hígido.
Prevalente a obrigação cambial. Exceções pessoais inoponíveis a terceiro

APELAÇÃO Nº 0021113-69.2012.8.26.0008 SÃO PAULO 5/7


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

de boa-fé (...)” [TJSP, Ap. 0002992-32.2007.8.26.0278, Rel. Des.


Fernandes Lobo, 22ª Câmara de Direito Privado, DJ 11.07.2013];

[c] “Declaratória de inexigibilidade de título. Cheque.


Endosso translativo. Sustação do cheque em virtude de desacordo
comercial com o credor originário. Inoponibilidade das exceções pessoais
ao terceiro de boa-fé. Ausência de prova da má-fé da endossatária, ora
apelada (...)” [TJSP, Ap. 0002842-21.2012.8.26.0005, Rel. Des. Afonso
Bráz, 17ª Câmara de direito Privado, DJ 26.06.2013].

O Superior Tribunal de Justiça tem o mesmo


entendimento:

[a] “Recurso especial. Ação de regresso. Cheque pós-


datado. Endosso. Terceiro. Desconto antes da data combinada. Recurso
improvido. 1 A relação jurídica subjacente a emissão do cheque não
pode ser oponível ao endossatário que se presume terceiro de boa-fé, ao
tomar a cártula por meio de endosso, ressalvada a possibilidade de
confirmação da má-fé por parte deste (...)” [STJ, REsp 1.169.414/RJ, Rel.
Min. Sidnei Beneti, 3ª Turma, DJ 04.10.2011];

[b] “Execução ajuizada por portador de cheque,


terceiro de boa-fé. Embargos do devedor oferecidos pelo emitente,
alegando descumprimento do negócio subjacente, rejeitados pela
sentença e acolhidos em segundo grau de jurisdição. O cheque é título
literal e abstrato. Exceções pessoais, ligadas ao negócio subjacente,
somente podem ser opostas a quem tenha participado do negócio.
Endossado o cheque a terceiro de boa-fé, questões ligadas a causa

APELAÇÃO Nº 0021113-69.2012.8.26.0008 SÃO PAULO 6/7


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

debendi originária não podem ser manifestadas contra o terceiro


legítimo portador do título. Lei 7357/85, artigos 13 e 25. Recurso especial
conhecido e provido, para o restabelecimento da sentença de
improcedência dos embargos” [STJ, REsp 2.814/MT, Rel. Min. Athos
Carneiro, 4ª Turma, DJ 19.06.1990, RSTJ vol. 13, p. 379].

Por fim, a Justiça do Trabalho não tem competência


para declarar a inexigibilidade de título, eis que se trata de matéria
alheia à sua esfera de atuação. Desse modo, não há que se suscitar
hipótese de a presente decisão ser conflitante com a decisão proferida
em sede de tutela antecipada na Justiça do Trabalho, pois a
competência para se decidir acerca da matéria em testilha é da Justiça
Estadual.

Nada há, portanto, a se reparar na r. sentença.

Ante do exposto, nega-se provimento ao recurso.

Desembargador Virgilio de Oliveira Junior


Relator
Assinatura eletrônica

APELAÇÃO Nº 0021113-69.2012.8.26.0008 SÃO PAULO 7/7

Você também pode gostar