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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2019.0000500623

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2125984-96.2019.8.26.0000, da Comarca de Cajamar, em que é agravante MONICA
PIGNATARE PONCHI BAPTISTA, é agravado ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 13ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores FLORA


MARIA NESI TOSSI SILVA (Presidente) e ANTONIO TADEU OTTONI.

São Paulo, 26 de junho de 2019

BORELLI THOMAZ
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

VOTO Nº: 28.111


AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº: 2125984-96.2019.8.26.0000
COMARCA: CAJAMAR
AGRAVANTE: MONICA PIGNATARE PONCHI BAPTISTA
AGRAVADA: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTERESSADOS: INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE BEBIDAS CAJAMAR LTDA. E
OUTROS

Execução fiscal. Constrição de numerário de coexecutado,


casado sob regime de comunhão parcial de bens. Pleito de
liberação, por sua mulher, agravante, por simples petição.
Deferimento de levantamento pela exequente. Insurgência
descabida. Inadequação da via eleita. Questão, ademais,
preclusa. Recurso desprovido.

Agravo de instrumento contra r. decisão que, em execução fiscal,


deferiu levantamento de numerário constrito pela exequente, interposto sob fundamento de
que metade do valor bloqueado pertence a agravante, que se insurgiu nos próprios autos
para a defesa de sua meação, através das petições de fls., não só em razão do princípio da
economia processual a fim de evitar a propositura de novas medidas judiciais, mas
também porque nestes autos e em casos análogos ao presente, o D. Juízo “a quo”
apreciou, deferiu e determinou o desbloqueio de valores correspondentes à meação do
cônjuge da parte executada e também relativa à importância pertencente à cotitular, sem
que fosse necessário o ajuizamento de ação própria, sendo, ademais, cabível a
desconstituição da penhora nos autos de execução, mediante requerimento incidental de
terceiro, notadamente quando desnecessária a dilação probatória.

Sustenta, ainda, que a defesa da meação da esposa, em execução


de dívida fiscal, por eventual ato ilícito do cônjuge, sócio da pessoa jurídica, não exige da
meeira a produção de prova negativa no sentido de que da operação não resultou

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benefício para a sociedade conjugal, mas, pelo contrário, o ônus da prova é invertido,
ausente tal comprovação.

Recurso bem processado. indeferido o efeito suspensivo, foi


dispensada a contraminuta.

É o relatório.

A Fazenda do Estado ajuizou execuções fiscais 037/97 (piloto),


040/97, 041/97 e 042/97 (apensos) contra “INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE BEBIDAS
CAJAMAR LTDA”. por débito de ICMS e multa, pelo valor, respectivamente, de R$
15.732,30, R$ 443.542,88, R$ 363.967,16 e R$ 26,288,87, incluídos os consectários legais
(págs. 17/24).

A exequente requereu inclusão do sócio José Baptista Pinto Neto,


marido da agravante, e dos demais sócios1 no polo passivo, deferida na pág. 27, ao que
pleiteou e teve deferida a expedição de ofício ao BACEN para informações acerca da
existência de ativos financeiros em nome dos sócios (págs. 28/29).

Encontrada a quantia de R$ 190.551,74 em conta corrente 22319-9,


transferida para conta poupança 23582-1 (ag. 3763), em nome de José Baptista Pinto Neto
no Banco Itaú (pág. 44), a exequente requereu expedição de ofícios solicitando
transferência dos valores bloqueados para conta judicial (aqui pág. 58; pág. 147
daqueles).

O D. Juiz decidiu: Pág. 147. Defiro. Primeiramente, defiro o


requerido as fls. 95, bloqueando-se as contas mencionadas até o limite do débito
(aproximadamente R$ 1.700.000,00), ressalvadas as hipóteses de contas conjuntas, caso
em que os bloqueios limitar-se-ão a 50% cinquenta por cento dos valores existentes.
Oficiem-se as instituições financeiras, com urgência (Pág. 60).

1Fares
Baptista Pinto, Aquiles Enrique José Manzi Preve e Angela de Campos Manzi.

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Em 13.11.09 a agravante informou ser casada com José desde


25/11/93, sob o regime da comunhão parcial de bens e, por questão de processual e a fim
de evitar propositura de novas medidas judiciais, requereu desbloqueio de 50% dos
valores bloqueados pertencentes a ora requerente e imediata expedição do competente
Alvará de Levantamento (págs. 72/73).

A D. Juíza determinou: Manifeste-se a exequente (pág. 88), ao que


a agravada requereu o LEVANTAMENTO de todos os depósitos judiciais exsitentes nos
autos (pág. 89).

A agravante reiterou o requerimento (págs. 90/92), ao que a D.


Juíza decidiu: Em que pese as alegaões da peticionária, nos ofícios encaminhados as
instituições bancárias constaram a advertência referente a conta conjunta, restringindo-se
neste caso o bloqueio em 50% de modo que necessária melhor análise das informações.
Assim expeça-se oficio ao Banco Itaú, a fim de encaminhar os extratos bancários das
contas nº 3763-22319-9, 3763-23682-1, bem como a ttularidade das mesmas, e caso sejam
conjuntas, informe ainda a data da inclusão da Sra. Mônica (pág. 93).

A agravada reiterou o pedido de LEVANTAMENTO dos valores


depositados nos autos (pág. 94), pleiteando a agravante a expedição do competente Alvará
de Levantamento de 50% do valor depositado na agência desse Fórum (pág. 95, pág. 277
daqueles) .

A D. Juíza deciidu: Preliminarmente, apresente a exequente


memória de cálculo atualizado do débito, nos termos da decisão de fls. 51/52 dos
embargos em apenso. Fls. 277 e ss: Nos autos há determinação para penhora de apenas
50% dos valores existentes em conta, quando verificada a hipótese de conta conjunta,
conforme decisões de fls. 128 e 224. Assim, já decidido o pleiteado pelos peticionários. No
entanto, por medida de cautela, este Juízo houve por bem determinar a apresentação de
extratos bancários e outras informações a serem prestadas pelo Banco Itaú, antes do
levantamento dos depósitos judiciais, sendo expedido o ofício aquela instituição às fls.
274. Assim reitere-se o ofício com urgência (pág. 97).

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A agravante reiterou tratar-se de meeira do executado, ou seja,


possui 50% (cinquenta por cento) de todos os bens comuns, por consequência, da quantia
bloqueada pertencem à mesma, ainda que a referida conta esteja apenas em nome do
cônjuge (págs. 103/104).

A D. Juíza decidiu: O bloqueio questionado foi noticiado ao Juízo


às fls. 101, como valores constantes da conta nº 22319-9, posteriormente transferidos
para conta poupança nº 23582-1/500. Com constou às fls. 287, a conta nº 22319-9 (onde
presume-se que ocorreu o bloqueio) é de titularidade individual. Apenas a conta poupança
nº 23581-1 é conjunta entre os cônjuges. Assim retire-se o ofício à instituição financeira,
solicitando-se cópia do extrato bancário à época do bloqueio, o motivo da transferência
noticiada, bem como a data de inclusão da Sra Monica na titularidade da conta poupança
(pág. 105).

O Banco Itaú trouxe os extratos e informou ser José único titular de


ambas as contas (págs. 107/114), ao que este requereu imediato desbloqueio de 50% dos
valores bloqueados, os quais pertencem sua esposa (págs. 115/118).

A agravante reiterou, em 08.07.16, ser indevido o bloqueio de sua


meação, pois possui o percentual de 50% dos valores existentes na conta (págs. 119/121;
págs. 366/368 daqueles), pleiteando, em, 09.03.17, o desarquivamento do feito e
pronunciamento expresso sobre o pedido de desbloqueio de 50% dos valores constritos e
que comprovadamente pertencem à Requerente (pág. 120; pág. 370 daqueles).

A D. Juíza decidiu: Com razão a exequente. Os requeridos


delongam indefinidamente o feito, protocolando diversas petições de conteúdos
semelhantes, sem, contudo, utilizarem-se dos meios processuais adequados para tanto. A
irresignação deve ser veiculada pelas ações e instrumentos próprios previstos no
ordenamento jurídico. Passados diversos anos desde o início desta execução, os
requeridos assim não o fizeram. Do exposto, defiro o levantamento requerido pela
exequente após apresentação de planilha atualizada do débito. Prazo: 15 dias. E, por

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consequência, indefiro o pedido de fls. 366-368/370-381. Intime-se (pág. 123).

Dispunha o artigo 1.046, do CPC/73, então vigente:

Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho
na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de
penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação,
arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer Ihe sejam manutenidos ou
restituídos por meio de embargos.
(...)
§ 3º - Considera-se também terceiro o cônjuge quando defende a posse de
bens dotais, próprios, reservados ou de sua meação.

É dizer, não havia embasamento legal para veiculação da


insurgência por simples petição, a revelar inadequação da via eleita.

Sobre o tema, confira entendimento no E. Superior Tribunal de


Justiça:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. PROCESSO CIVIL. INTERPRETAÇÃO


DO ART. 1.046, § 3.º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
EXECUÇÃO. CÔNJUGE. EMBARGOS DO DEVEDOR. EMBARGOS DE
TERCEIRO. MEAÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA. EMBARGOS
CONHECIDOS, MAS REJEITADOS. 1. "A intimação do cônjuge enseja-
lhe a via dos embargos à execução, nos quais poderá discutir a própria
causa debendi e defender o patrimônio como um todo, na qualidade de
litisconsorte passivo do(a) executado(a) e a via dos embargos de terceiro,
com vista à defesa da meação a que entende fazer jus" (REsp 252854/RJ,
QUARTA TURMA, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA,
DJ de 11/09/2000) Não obstante, o cônjuge só será parte legítima para
opor embargos de terceiro quando não tiver assumido juntamente com seu
consorte a dívida executada, caso em que, figurando no polo passivo do

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processo de execução como corresponsável pelo débito, não se lhe é


legítimo pretender eximir seu patrimônio como "terceiro".3. Embargos de
divergência conhecidos, mas rejeitados2.

Confira-se, ainda, precedente desta Corte, em av. acórdão sob


relatoria do I. Desembargador Gilberto Leme:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL


C.C. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE QUANTIAS PAGAS, COBRANÇA
DE MULTA CONTRATUAL E INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS
E MORAIS. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
DESCONSIDERAÇÃO DE PERSONALIDADE JURÍDICA. PENHORA
DE CONTA CORRENTE DE TITULARIDADE DO AGRAVANTE E
DE SUA ESPOSA-EXECUTADA. TERCEIRO PREJUDICADO.
INSURGÊNCIA. SIMPLES PETIÇÃO. INADMISSIBILIDADE. VIA
ADEQUADA. EMBARGOS DE TERCEIRO. EXEGESE DO ART. 674
DO CPC. DECISÃO MANTIDA. Não se admite a insurgência de
terceiro, estranho à execução, que se vê atingido por penhora de sua
conta bancária em decorrência de decisão judicial, por simples petição
nos autos do cumprimento de sentença ou da execução, mas, sim, deve
valer-se do meio processual adequado, qual seja embargos de terceiro.
Recurso desprovido3 (destaquei).

Demais disso, de relevo notar que houve expresso indeferimento do


pedido de levantamento pela agravante no decisum de pág. 97, calhando aqui nova
transcrição, no que pertine: Nos autos há determinação para penhora de apenas 50% dos
valores existentes em conta, quando verificada a hipótese de conta conjunta, conforme
decisões de fls. 128 e 224. Assim, já decidido o pleiteado pelos peticionários (destaquei),
ausente insurgência a tempo e modo, a acarretar preclusão sobre o tema.

2
EREsp nº 306.465/ES, rel. Min. LAURITA VAZ, j. 20/03/13.
3
Agravo de Instrumento nº 2253946-10.2016.8.26.0000, j. 05.03.18.

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Nem se alegue ser necessário aguardo, pela agravante, da resposta


ao ofício expedido pelo MM. Juízo para obter novo pronunciamento sobre a questão,
reedito, expressamente decidida, já que, por evidente, tinha plena ciência ser seu marido,
José, o único tiular das contas.

Assinalo, por fim, que eventuais embargos de declaração serão


julgados em ambiente virtual (Resolução 549/2011, deste E. Tribunal de Justiça, com a
redação dada pela Resolução 772/2017).

Nego provimento ao recurso.

BORELLI THOMAZ
Relator

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