Você está na página 1de 5

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000352814

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1004177-80.2016.8.26.0114, da Comarca de Campinas, em que é apelante PREFEITURA
MUNICIPAL DE CAMPINAS, é apelado SANTA CRISTINA FOMENTO MERCANTIL
LTDA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 15ª Câmara de Direito Público


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em
parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores RAUL DE FELICE


(Presidente sem voto), RODRIGUES DE AGUIAR E EUTÁLIO PORTO.

São Paulo, 19 de maio de 2020.

SILVA RUSSO
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 32068
Apelação nº 1004177-80.2016.8.26.0114
Comarca de Campinas
Apelante: Município de Campinas
Apelada: Santa Cristina Fomento Mercantil Ltda

APELAÇÃO AÇÃO ANULATÓRIA CDA nula por ter sido


lavrada a partir de nota fiscal preenchida por erro da contribuinte,
quanto ao valor do serviço Tentativa administrativa de
cancelamento da nota fiscal eletrônica Pedido indeferido pela
municipalidade na via administrativa Sentença que declarou nula
a CDA e condenou o Município de Campinas ao pagamento das
despesas processuais e dos honorários advocatícios Decisão
mantida, quanto à distribuição dos ônus da sucumbência
Municipalidade que deu causa à ação judicial e ficou vencida -
Princípio da derrota objetiva (art. 85 do CPC) Juros, porém,
indevidos (art. 535 do CPC) - Sentença reformada nesse aspecto
Recurso provido em parte

Cuida-se de recurso de apelação interposto pelo


Município de Campinas contra a sentença de fls. 86/95, declarada à fls.
115/117, que julgou procedente a ação movida por SANTA CRISTINA
FOMENTO MERCANTIL LTDA para declarar anula a CDA nº 00040865,
ante a comprovação de erro no preenchimento da guia. Condenou o
Município de Campinas, ainda, ao pagamento das custas e despesas
processuais, bem como dos honorários advocatícios no valor de em10%
sobre o valor atualizado da causa, nos termos do artigo 85, §3º, incisos I a
V, do Código de Processo Civil.

Em suas razões recursais, o Município de


Campinas alega que seu recurso restringe-se a discutir a distribuição dos
ônus da sucumbência e encargos. Nesse sentido, alega que restou provado
nos autos que foi a autora, ao inserir informação errada na nota fiscal

Apelação Cível nº 1004177-80.2016.8.26.0114 -Voto nº 32068 2


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

eletrônica, quem deu causa ao processo, de modo que não pode a


municipalidade ser condenada ao pagamento de tais verbas. Sustenta,
ainda, que toda contenda judicial poderia ter sido evitada se a autora
houvesse cumprido sua obrigação tributária acessória consistente em
requerer o cancelamento das notas fiscais eletrônicas emitidas com
incorreções. Conclui que caberia à autora arcar com as custas e despesas
processuais e os honorários de advogado, em face da aplicação do
princípio da causalidade, corolário do princípio da sucumbência.
Subsidiariamente, requereu seja afastada a incidência de juros de mora a
partir do trânsito em julgado, uma vez que não cabe falar em mora da
Fazenda, já que esta apenas pode realizar seus pagamentos via precatório
ou ofício requisitório. (fls 120/131)

Recurso tempestivo, isento de preparo e


respondido (fls.136/137).

É o relatório.

Decorre dos autos que a autora, em 16/01/2013


emitiu a nota fiscal eletrônica (NFSE) nº 00010503 no valor de R$
183.000,60 quando, na realidade, o valor correto seria de R$ 183,60.

Ao notar seu equívoco, em 12/02/2013, a autora


buscou atendimento junto à municipalidade para cancelar a referida nota
fiscal com a consequente emissão de outra em valor correto.

Houve a abertura de processo administrativo, mas


ao fim o Município de Campinas negou o pedido de cancelamento da nota
fiscal sob o fundamento de que tal pedido apenas poderia ter ocorrido até
cinco dias após a emissão da nota equivocada.

Apelação Cível nº 1004177-80.2016.8.26.0114 -Voto nº 32068 3


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Em decorrência disso, a autora não realizou o


pagamento do ISSQN e, então, o débito foi inscrito em dívida ativa e a CDA
foi protestada.

Diante deste quadro, a autora buscou o Poder


Judiciário para que fosse reconhecido seu equívoco no momento do
preenchimento da nota fiscal eletrônica com o consequente cancelamento
desta.

Como já relatado, o pedido foi acolhido em


primeiro grau, tendo o magistrado sentenciante condenado o Município de
Campinas ao pagamento das custas e despesas processuais, além dos
honorários advocatícios.

Vem, então, a municipalidade em recurso de


apelação alegar que foi a autora quem deu causa à ação judicial, pois não
observou o disposto na IN DRM/SMF 004/2009 a qual prevê que: a NFSe
Campinas poderá ser cancelada por meio do Sistema NFSe Campinas até
o 5º dia do mês subsequente ao de sua emissão.

Ora, de fato, a autora não observou tal regra, a


qual, porém, ante o princípio da legalidade, não é obrigatória, porquanto
não decorre de Lei, mas de instrução normativa, o que não impediria a
municipalidade de aceitar a retificação da nota fiscal, mesmo além
daquele prazo.

Assim sendo, é possível afirmar que essa


recalcitrância acarretou a presente ação judicial.

Isso porque, a autora buscou a municipalidade

Apelação Cível nº 1004177-80.2016.8.26.0114 -Voto nº 32068 4


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

para informá-la sobre o erro cometido, pediu a abertura de processo


administrativo e, mesmo demonstrando que o valor inserido na nota fiscal
estava equivocado, teve seu pedido de cancelamento negado.

Já em juízo, o Município de Campinas enfrentou


os argumentos apresentados pela autora alegando ser devido o valor
apurado a título de ISSQN com base na nota fiscal equivocada, saindo
vencido da contenda, o que lhe impõe pagar a sucumbência, pelo princípio
da derrota objetiva (art. 82 § 2º e 85 todos do CPC).

Ainda, não se pode afirmar que foi a autora quem


deu causa a esta ação, pois se estava provado que a nota fiscal havia sido
preenchida com erro, viável seu cancelamento pela via do processo
administrativo.

Por tais razões, a sentença deve ser mantida, no


tocante à distribuição dos ônus de sucumbência.

Quanto ao pedido subsidiário, qual seja, de


afastamento dos juros de mora a partir do trânsito em julgado da
sentença, deve ser acolhido, pois na fase de execução - cumprimento da
sentença - a fazenda pública é intimada, para impugnar a pretensão,
querendo e não para pagar (art. 535 do CPC), por isso sedo incabíveis os
aludidos acréscimos, que, então, restam, agora, excluídos.

Ante o exposto, para o fim supra, dá-se


provimento em parte, ao presente apelo.

SILVA RUSSO - RELATOR

Apelação Cível nº 1004177-80.2016.8.26.0114 -Voto nº 32068 5

Você também pode gostar