Você está na página 1de 12

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo,

protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.


fls. 512

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
PROCESSO Nº 1002598-76.2022.8.26.0053

PROCOMP AMAZÔNIA INDÚSTRIA ELETRÔNICA LTDA. (“PROCOMP”), já devidamente


qualificada nos autos do Mandado de Segurança em epígrafe, vem, respeitosamente e
tempestivamente, à presença de V. Exa., por seus advogados infra-assinados, por não se
conformar, data maxima venia, com o v. acórdão de Apelação (fls. 479-491), proferido pela C.
12ª Câmara de Direito Público do E. Tribunal de Justiça de São Paulo interpor

RECURSO ESPECIAL

ao C. Superior Tribunal de Justiça, com fundamento no artigo 105, inciso III, alínea “a”, da
Constituição Federal (CF), bem como nos artigos 1.029 e seguintes do CPC, conforme as razões
que seguem anexas, as quais requer sejam recebidas e devidamente processadas, observadas as
cautelas de estilo e de direito.

Termos em que, comprovando o recolhimento das custas de preparo recursal, nos termos do
artigo 1.007, do CPC/15 1 (Doc. 01), pede deferimento.

São Paulo, 12 de setembro de 2022.

1 Isenção de custas de porte de remessa e retorno dos autos, em razão dos autos serem encaminhados de forma eletrônica ao
C. STJ - art. 4º da Resolução nº 2/2017 do STJ.

DA #11960701 v1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
fls. 513
2/12

RAZÕES DE RECURSO ESPECIAL que apresenta PROCOMP


AMAZÔNIA INDÚSTRIA ELETRÔNICA LTDA., nos autos do RECURSO

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
DE APELAÇÃO Nº 1002598-76.2022.8.26.0053, em curso no E.
Tribunal de Justiça de São Paulo

Ilustres Julgadores,

1. TEMPESTIVIDADE

Esse recurso é tempestivo. O prazo de 15 (quinze) dias úteis para interposição deste Recurso dar-
se-á no dia 24.08.2022 (quarta-feira), e se encerra no dia 14.09.2022 (quarta-feira)2, a teor do
quanto disposto no artigo 224, §§ 2º e 3º, do Código de Processo Civil.

2. BREVE SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se de mandado de segurança impetrado com o objetivo de obter decisão judicial que
resguarde o direito líquido e certo da ora RECORRENTE de recolher o ICMS-DIFAL instituído pela
LC 190/22 apenas a partir de 01.01.2023, em respeito ao princípio da anterioridade insculpido
no art. 150, inc. III, alíneas ‘b’ e ‘c’, da CF/88, uma vez que a referida Lei Complementar foi
somente promulgada e publicada em 05.01.2022.

Após o regular processamento do feito, foi proferida a r. sentença de fls. 370/377 que concedeu
a segurança, nos seguintes termos:

Veja-se, pois, que o entendimento defendido pela autoridade se revela contraditório tanto no
nível da incidência concreta do Princípio da Anterioridade, sujeitando à paralisação de eficácia
norma local cuja aplicabilidade já se encontra suspensa por inexistência da norma federal geral,
quanto no nível do próprio fundamento abstrato do Princípio da Anterioridade, enfraquecendo a
segurança jurídica ao possibilitar a tributação surpresa dos contribuintes no mesmo exercício
financeiro.

DA #11113296 v1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
fls. 514
3/12

Nesses termos, a fim de garantir ampla efetividade à este basilar princípio do sistema tributário
nacional, nas hipóteses de tributos cuja cobrança se submeta à existência de normas gerais, mister
se faz interpretar a regra constitucional no sentido de que o prazo ânuo deve ser considerado
apenas e tão somente a partir do momento em que a lei instituidora da exação adquira eficácia

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
plena.
In casu, considerando que referida circunstância restou configurada em 04 de janeiro de 2.022, com
o advento da Lei Complementar Federal nº 190, conclui-se que a cobrança do DIFAL somente
poderá ocorrer a partir de 2.023, exercício financeiro seguinte, em estrita obediência ao artigo 150,
inciso III, alínea "b", da Constituição Federal.
Diante do exposto, CONCEDO A SEGURANÇA para o fim de determinar que a autoridade coatora
se abstenha de exigir da impetrante o recolhimento do ICMS - DIFAL em operações interestaduais
de vendas a não contribuintes situados no Estado de São Paulo durante o exercício financeiro de
2.022.

Inconformado com a r. sentença, o RECORRIDO interpôs recurso de apelação visando a reforma


da r. sentença sob o fundamento de que a instituição do ICMS-DIFAL se deu com a publicação,
em 14.12.2021, da Lei Estadual 14.470/21, cuja eficácia ficou suspensa até a data da edição da
LC 190/22, o qual teve seu provimento, nos termos abaixo transcritos:

Com isso, foi editada a Lei Complementar n.º 190, de 04 de janeiro de 2022, que modificou
algumas regras da Lei Complementar n.º 87/1996 e estabeleceu normas gerais acerca da
diferença de alíquotas de ICMS. No artigo 3.º, determinou expressamente que se observasse o
disposto no artigo 150, inciso III, alínea “c”, da Constituição Federal (anterioridade
nonagesimal).
Esse novo regramento não se confunde com aquele que institui ou majora o tributo, este sim
submetidos ao princípio da anterioridade geral previsto no artigo 150, inciso III, alínea “b”, da
Lei Maior.
Nesse contexto, não é possível afirmar que a Lei Complementar n.º 190/2022, que apenas
regulamentou a cobrança do ICMS-DIFAL no que tange aos contribuintes e ao sujeito ativo,
deva se submeter a tal princípio constitucional.
No âmbito do Estado de São Paulo, a instituição da cobrança do diferencial de alíquotas deu-
se efetivamente com a edição da Lei Estadual n.º 17.470/2021, que alterou a Lei Estadual n.º
6.374/1989, a qual dispõe sobre a instituição do Imposto sobre Operações Relativas à
Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação ICMS.
(...)
Por conseguinte, é de rigor a reforma da sentença, a fim de se denegar a ordem mandamental.

Dessa forma, a RECORRENTE, genuinamente irresignada, interpõe este Recurso Especial, com
fundamento no artigo 105, inciso III, alínea “a”, da CF, buscando a reforma do v. Acórdão
recorrido por contrariedade e negativa de vigência à lei federal, assim como por ter dado a essa
legislação interpretação divergente da adotada pelo C. STF, como passa a expor.

DA #11113296 v1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
fls. 515
4/12

A RECORRENTE noticia, desde já, que na mesma data de interposição deste Recurso, também
interpôs Recurso Extraordinário, com fundamento no art. 102, inc. III, alínea “a”, da Constituição

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
Federal.

3. CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL

No caso dos autos, inexistem dúvidas quanto aos fatos retratados, mas sim quanto à norma
jurídica que deve ser a eles aplicada, de modo que não há acervo probatório a ser examinado. A
presente discussão se limita à requalificação jurídica dos fatos a que a exigência fiscal se reporta.

Nesse sentido, o ponto central em debate é o fato de o v. acórdão ir de encontro à tese fixada
pelo STF em repercussão geral, de que “a cobrança do diferencial de alíquota alusivo ao ICMS,
conforme introduzido pela Emenda Constitucional nº 87/2015, pressupõe edição de lei
complementar veiculando normas gerais”, ou seja, desconsidera-se a impossibilidade de a
RECORRENTE ser compelida ao pagamento do ICMS-DIFAL até que satisfeito o requisito da dupla
anterioridade (nonagesimal e anual) para fins de aplicação Lei Complementar nº 190/22,
publicada em 05 de janeiro de 2022.

(a) CONTRARIEDADE E DISPOSITIVOS LEGAIS

No contexto acima narrado, o cabimento deste Recurso Especial com base no artigo 105, inciso
III, alínea “a”, da CF, decorre de o v. Acórdão recorrido ter contrariado o art. 3º, LC 190/2022,
que expressamente vincula a exigência do ICMS-DIFAL à anterioridade (nonagesimal e anual).

A contrariedade desse dispositivo, autoriza o processamento do presente recurso, apesar de já


evidenciada, será examinada em maiores detalhes adiante.

(b) PREQUESTIONAMENTO

A par dos fundamentos acima, cumpre mencionar que a matéria aqui demonstrada foi
categoricamente enfrentada no v. Acórdão recorrido, bem como foi devidamente alegada pelo

DA #11113296 v1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
fls. 516
5/12

RECORRENTE no deslinde processual, fato que demonstra o cumprimento do requisito de


prequestionamento.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
Os dispositivos legais que nortearão o debate ora proposto e as respectivas matérias jurídicas
foram devidamente abordadas, conforme textualmente registrado no v. acórdão. Confira-se:

“Com isso, foi editada a Lei Complementar n.º 190, de 04 de janeiro de 2022, que modificou
algumas regras da Lei Complementar n.º 87/1996 e estabeleceu normas gerais acerca da diferença
de alíquotas de ICMS. No artigo 3.º, determinou expressamente que se observasse o disposto no
artigo 150, inciso III, alínea “c”, da Constituição Federal (anterioridade nonagesimal).
Esse novo regramento não se confunde com aquele que institui ou majora o tributo, este sim
submetidos ao princípio da anterioridade geral previsto no artigo 150, inciso III, alínea “b”, da Lei
Maior.
Nesse contexto, não é possível afirmar que a Lei Complementar n.º 190/2022, que apenas
regulamentou a cobrança do ICMS-DIFAL no que tange aos contribuintes e ao sujeito ativo, deva
se submeter a tal princípio constitucional.
(...)
Portanto, a cobrança do DIFAL/ICMS pode se dar a partir de 2022, pois a anterioridade anual
prevista no mencionado artigo 150, inciso III, alínea “b”, da Constituição Federal deve considerar a
lei que instituiu ou aumentou a DIFAL, ou seja, a Lei Estadual n.º 17.470/2021, e não a lei
complementar que estabeleceu regras gerais.”

Assim, não há como afastar a cristalina existência de tal pressuposto recursal.

5. VIOLAÇÃO DE LEI FEDERAL PELO V. ACÓRDÃO RECORRIDO

Assim, a RECORRENTE passa a demonstrar a improcedência do v. Acórdão recorrido.

5.1. DAS RAZÕES COM FUNDAMENTO NA ALÍNEA “A”, DO INCISO III, DO ART. 105 DA CF -
Violação ao artigo 3º, da Lei Complementar 190/2022 – Necessidade de aplicação da aplicação
do princípio da anterioridade nonagesimal e anual à Lei Complementar.

Ao julgar a questão do ICMS-DIFAL instituído por meio de Convênio CONFAZ e por Leis Estaduais,
à revelia de uma Lei Complementar Nacional, conforme estabelece a Constituição Federal em
seu art. 146, inc. III, o STF reconheceu a inconstitucionalidade do imposto.

Art. 146. Cabe à lei complementar:


...
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta
Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes;

DA #11113296 v1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
fls. 517
6/12

b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;


c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
No caso do ICMS, há ainda previsão específica quanto à reserva de matéria à Lei Complementar,
no art. 155, § 2º, XII.

art. 155. [...]


...
XII - cabe à lei complementar:
a) definir seus contribuintes;
b) dispor sobre substituição tributária;
c) disciplinar o regime de compensação do imposto;
d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição do estabelecimento responsável, o local das
operações relativas à circulação de mercadorias e das prestações de serviços;
...
i) fixar a base de cálculo, de modo que o montante do imposto a integre, também na importação
do exterior de bem, mercadoria ou serviço.

Todavia, a esperada Lei Complementar - LC 190/22 -, aprovada pelo Congresso Nacional em


20.12.2021, foi promulgada e publicada somente em 04.01 e 05.01.2022, respectivamente, o que
impede a sua produção de efeitos ainda no exercício de 2022, conforme estabelece o art. 150,
inc. III, alíneas ‘b’ e ‘c’, da CF/88 e o próprio art. 3ª da LC 190/2022.

Nesse ponto, há que se destacar que a conclusão do processo legislativo ainda no dia 20.12.2021,
e a expectativa de que a referida Lei fosse promulgada e publicada ainda no ano de 2021,
determinou que o legislador incluísse o art. 3º na LC 190/2022 e, assim, a produção de efeitos
somente após o decurso do prazo de 90 (noventa) dias da sua publicação, em respeito ao
princípio da anterioridade tributária, o que significa dizer que o legislador tem plena consciência
de que a LC 190/22 está sujeita ao princípio da anterioridade - cláusula pétrea estabelecida
pela Carta Magna no capítulo das limitações ao poder de tributar.

Vale lembrar que, o art. 150 da CF/88, no seu inciso III, alíneas ‘b’ e ‘c’, estipula que é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos: (i) no mesmo exercício
financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; e (ii) antes de
decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,
observado o disposto na alínea b.

DA #11113296 v1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
fls. 518
7/12

As exceções a essas regras foram tratadas no § 1º do próprio art. 150 3, o qual, no entanto, não
estabeleceu qualquer exceção para o ICMS. E o art. 3º da LC 190 reconhece expressamente tal

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
aspecto, tendo sido violado pelo acórdão recorrido.

Os tributos não sujeitos ao princípio da anterioridade anual por expressa disposição


constitucional são: imposto de importação (II), imposto de exportação (IE), imposto sobre
operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos e valores mobiliários (IOF), imposto
sobre produtos industrializados (IPI), imposto extraordinário de guerra e empréstimo
compulsório decorrente de calamidade pública ou guerra externa.

Já os tributos não sujeitos ao princípio da anterioridade nonagesimal são: II, IE, IOF, imposto de
renda (IR), imposto extraordinário de guerra, empréstimo compulsório decorrente de
calamidade pública ou guerra externa; e a base de cálculo do imposto sobre a propriedade de
veículos automotores (IPVA) e do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU).

Pois bem, não havendo qualquer exceção, fica evidente e indubitável que o ICMS está sujeito à
anterioridade anual e nonagesimal, conforme regra insculpida na Carta Magna e claramente
ratificada no art. 3º da LC 190/2022, o que significa dizer que a promulgação e a publicação da
LC 190/22 apenas em 2022 estabelecem que o ICMS-DIFAL somente poderá ser cobrado pelos
Estados de destino dos produtos, vendidos a não contribuintes do ICMS, apenas a partir de
01.01.2023.

E nem se alegue que o art. 3º da LC 190/22 citou, apenas, a alínea ‘c’ em seu art. 3º como regra
à produção de efeitos da norma!
A uma porque o texto da Lei Complementar foi aprovado pelo Senado Federal ainda no ano de
2021 e se esperava que a sua promulgação e publicação ocorresse ainda no ano de 2021, por isso
que o referido art. 3º fez menção apenas à alínea ‘c’ do inc. III do art. 150 da CF/88, de forma que

3
art. 150.
...
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a
vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação
da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. (Redação dada pela EC 42/003)

DA #11113296 v1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
fls. 519
8/12

a produção de efeitos da norma ficasse vinculada apenas à regra da anterioridade nonagesimal.


No entanto, não foi isso que ocorreu! O Presidente da República somente promulgou a Lei em

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
04.01.2022, ocorrendo sua publicação em 05.01.2022.

E a duas porque a redação da alínea ‘c’ do inc. III do art. 150 da CF/88 - citada na LC 190/22 - faz
referência expressa à observância da alínea ‘b’, sendo evidente, portanto, que a Lei se referiu
expressamente tanto à anterioridade nonagesimal quanto à anualidade.

Assim, podemos considerar que a regra de anterioridade – que é única – para o caso de ICMS
contempla os dois limites, ou seja, o do ano e de no mínimo 90 (noventa) dias. Dessa forma, não
se pode admitir ler a alínea ‘c’ sem considerar a alínea ‘b’ e vice-versa.

Ou seja, não promulgada e publicada a LC 190/22 no ano de 2021, mas apenas em 2022, a
produção de efeito, isto é, a cobrança do ICMS-DIFAL é autorizada apenas a partir de 01.01.2023,
nos termos do art. 150, inc. III, alíneas ‘b’ e ‘c’, da CF/88, que estabelece o princípio da
anterioridade tributária.

Pois:

• se o STF julgou inconstitucional a cobrança do ICMS-DIFAL pelos Estados e Distrito


Federal com base no Convênio CONFAZ 93/15, por falta de Lei Complementar instituindo
as normas gerais do tributo, e

• se o STF definiu que a Lei 87/96 (Lei Kandir) não dispunha sobre o ICMS correspondente
ao diferencial de alíquotas na hipótese de o consumidor final não ser contribuinte do
imposto, conforme se extrai dos votos do Ministro-Relator Marco Aurélio e dos Ministros
Dias Toffoli e Edson Fachin,

A regência normativa para cobrança do imposto discrepa, a mais não poder, das balizas delineadas
no texto constitucional. Surge a impropriedade sob o ângulo formal. O que nos vem da Carta da
República? A atribuição, ao legislador complementar, de dispor sobre conflito de competência em
matéria tributária e editar normas gerais, definindo especialmente, no que concerne a imposto, o
fato gerador, a base de cálculo e o contribuinte – artigo 146, incisos I e III, alínea “a”. Indaga-se: A
sistemática introduzida pela Emenda de nº 87/2015 exauriu a regra matriz do tributo, prescindindo
da exigência constitucional de veiculação da matéria via lei complementar? A resposta é

DA #11113296 v1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
fls. 520
9/12

desenganadamente negativa. A nova disciplina, no que estabelecida a cobrança do diferencial de


alíquota em favor da unidade federativa de destino, imputado ao remetente o recolhimento,
encerra dados de ordem material, espacial e pessoal, sinalizando imprescindível a espécie
legislativa.” (Trecho do voto do Ministro Marco Aurélio)

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
No que diz respeito ao ICMS correspondente ao diferencial de alíquotas na hipótese de o
consumidor final não ser contribuinte do imposto, tenho, para mim, que não há, na atual versão
da LC nº 87/96, qualquer disposição sobre isso.
Note-se que não se infere dessa lei complementar, por exemplo, (i) quem é o contribuinte dessa
exação, isto é, se é o remetente ou o destinatário; (ii) se há ou não substituição tributária na
hipótese; (iii) quem deve ser considerado o destinatário final, se, v.g., o destinatário físico ou se o
destinatário jurídico dos bens; (iv) quando ocorre o fato gerador da nova obrigação, se, por
exemplo, na saída da mercadoria do estabelecimento, na entrada dela no estado de destino ou,
ainda, em sua entrada no estabelecimento ou no domicílio do consumidor final; (v) onde ocorre o
fato gerador, para efeito de cobrança da exação.
Vai na mesma direção o parecer de Sacha Calmon & Misabel Derzi Consultores e Advogados,
acostado ao memorial apresentado por Andrade Maia Advogados em 28/10/20.
No referido parecer, se consigna a impossibilidade de se extrair, quer do próprio texto
constitucional, quer da Lei Kandir em vigor, as disciplinas sobre o momento no qual será devido o
ICMS correspondente ao diferencial de alíquotas, sobre os critérios para se considerar quem é
consumidor final e sobre a base de cálculo do tributo. No parecer, se demonstra, também, a
inviabilidade da utilização, para se suprir a carência dessas disciplinas, dos arts. 11, II, c; 12, XIII; e
13, IX, § 3º, da Lei Kandir, em razão de esses dispositivos estarem conectados apenas com o
diferencial de alíquotas no caso das prestações de serviço de transporte.
Ainda de acordo com o que consta do mencionado parecer, todo esse quadro se prova pela edição
do convênio ora questionado e de novas leis estaduais tratando desses pontos.
A ausência de disposições na Lei Kandir sobre ICMS relativo ao diferencial de alíquotas em
comento é corroborada pelo fato de estarem em trâmite na Câmara dos Deputados ao menos
dois projetos de lei complementar versando sobre o tema. Nesse sentido, cito o PLP nº 218/2016
e o PLP nº 325/16.
...
Em síntese, não havendo normas em lei complementar tratando do ICMS correspondente ao
diferencial de alíquotas na hipótese de operações ou prestações interestaduais com consumidor
não contribuinte do tributo, cabe perquirir se podem os estados e o Distrito Federal efetivar a
cobrança desse imposto antes do advento de tais normas, suprindo-as com a celebração de
convênio interestadual.
Adianto que, a meu ver, a resposta é negativa.
...
No que diz respeito à alínea b do inciso VIII do § 2º do art. 155 da Constituição Federal, surgiram
duas teses. A primeira é a de que o remetente seria substituto tributário quanto ao imposto
correspondente ao diferencial de alíquotas, sendo o destinatário seu verdadeiro contribuinte. A
segunda tese é a de que o remetente seria o próprio contribuinte do aludido diferencial. Quer se
adote a primeira tese, quer a segunda, é certo que a EC nº 87/2015, no tocante ao ICMS
correspondente ao diferencial de alíquotas nas operações ou prestações interestaduais com
destinatário não contribuinte do imposto, criou uma nova relação jurídico-tributária, tendo num
dos polos (sujeito ativo) o estado de destino.
Não se encontra, na parte permanente do texto constitucional, qualquer disposição no sentido de
que convênios interestaduais podem suprir a ausência de lei complementar para efeito de
tributação pelo ICMS. Em suma, consigno que não pode o convênio interestadual suprir a ausência
de lei complementar, dispondo sobre obrigação tributária, contribuintes, bases de
cálculo/alíquotas e créditos de ICMS nas operações ou prestações interestaduais com consumidor
final não contribuinte do imposto, como fizeram as cláusulas primeira, segunda, terceira e sexta do
Convênio ICMS nº 93/15.” (Trecho do voto do Ministro Dias Tofolli)

A despeito dos substanciosos argumentos trazidos da tribuna pelo representante dos Estados
não assiste razão vez que a Lei Complementar em matéria de ICMS é imprescindível quando
encontre-se diante de nova hipótese de incidência, a exemplo, da aplicação no DIFAL nas

DA #11113296 v1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
fls. 521
10/12

operações interestaduais praticadas com não-contribuintes. É bem sabido que, também, cabe à
lei complementar, segundo o art. 146, III, a, da Carta Maior, estabelecer normas gerais em
matéria de legislação tributária, especialmente sobre a definição de tributos e de suas espécies,
bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
geradores, bases de cálculo e contribuintes. (Trecho do voto do Ministro Edson Fachin)

não restam dúvidas de que a LC 190/22, estabelecendo as normas gerais do ICMS-DIFAL, trouxe
ao mundo jurídico os aspectos indispensáveis à regra matriz de incidência, instituindo a
possibilidade da cobrança do tributo - por isso descrevendo, sim, uma nova relação jurídico-
tributária. Conforme art. 3º da norma.

Por este motivo, é inegável que está também sujeita às limitações do poder de tributar previstos
na Constituição Federal e, assim, ao princípio da anterioridade tributária, previsto no art. 150,
inc. III, alíneas ‘b’ e ‘c’, da CF/88, tendo o v. acórdão recorrido violado o art. 3º da LC 190/22.

5.2. DA RELEVÂNCIA DA QUESTÃO FEDERAL

Por fim, a questão federal ora em análise é tão latente que, o Supremo Tribunal Federal (STF) ao
julgar o recurso extraordinário (RE) 1.287.019 em conjunto com a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 5.469, em repercussão geral (tema 1.093), definiu a tese de que a
cobrança do diferencial de alíquota alusivo ao ICMS (ICMS-DIFAL), conforme introduzido pela EC
87/15, pressupõe edição de lei complementar.

Ato contínuo, a referida decisão de inconstitucionalidade foi modulada para passar a produzir
efeitos somente a partir de 2022 (01.01.2022), de forma a conferir um prazo para o Poder
Legislativo editar a Lei Complementar necessária à exigência do ICMS-DIFAL. Nesse sentido, veja
os trechos do voto dos Ministros Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso:

As cláusulas ficariam vigentes até 31 de dezembro de 2021, tempo no qual o Congresso Nacional
poderá ratificá-las por meio de lei complementar. Ratificar é modo de dizer; enfim, o Congresso
poderá ponderar sobre elas, editando uma lei complementar. (proposta de modulação – Min. Dias
Toffoli)

Portanto, Presidente, como considero que ambas as interpretações têm a sua razoabilidade e os
seus fundamentos, e considerando o impacto fiscal que se produziria sobre os estados, estou
modulando e conferindo um prazo de 1 ano ao Congresso Nacional para editar a lei
complementar que me parece necessária. Findo esse prazo, sem a edição de lei, a
inconstitucionalidade se aplica e, portanto, não poderá prevalecer essa sistemática. Minha tese

DA #11113296 v1
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
fls. 522
11/12

de julgamento é a seguinte: as alterações promovidas pela Emenda Constitucional nº 87, de 2015,


na sistemática do recolhimento do ICMS em operações interestaduais, demandam regulamentação
por lei complementar. (voto Min. Luís Roberto Barroso)

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.
Tal disposição foi repetida pela Lei Complementar 190/22, com a nova redação que deu à Lei
Complementar 87/96 (art. 4º, § 2º, inc. II). No entanto, a dita Lei Complementar - LC 190/22 - foi
promulgada apenas em 04.01.2022 e publicada no Diário Oficial da União em 05.01.2022, o que
significa dizer que ela só produzirá efeitos a partir de 01.01.2023, nos termos do princípio da
anterioridade tributária, previsto no art. 150, inc. III, alíneas ‘b’ e ‘c’ da CF/88.

Resta evidente, portanto, que a relevância da questão federal decorrente da violação do art. 3º,
LC 190/2022, por ter deixado de vincular à anterioridade (nonagesimal e anual), visto que no
caso do ICMS para que o DIFAL seja exigido depende do princípio da anterioridade do exercício
e da noventena, decorrente das disposições constitucionais presentes no art. 150, III, “c”.

6. DO PEDIDO

Diante de todo exposto, a RECORRENTE demonstrou o cabimento do presente Recurso Especial,


com fundamento no art. 105, inc. III, alínea “a”, da Constituição Federal, bem como da
procedência de seu pedido, pelas razões jurídicas que o amparam.

Assim, a RECORRENTE pleiteia seja conhecido e provido este Recurso Especial para estender os
efeitos do v. Acórdão de Apelação, com a concessão integral da segurança, a fim de assegurar o
direito líquido e certo de recolher o ICMS-DIFAL estabelecido na LC 190/22 apenas a partir de
01.01.2023, em respeito ao artigo 3º, da LC 190, bem como ao princípio da anterioridade
insculpido no art. 150, inc. III, alíneas ‘b’ e ‘c’ da CF/88.

Requer também que todas as publicações e intimações relativas ao presente feito sejam
realizadas exclusivamente em nome dos advogados MARCELO SALLES ANNUNZIATA, inscrito
na OAB/SP nº 130.599 e PRISCILA FARICELLI DE MENDONÇA, inscrita na OAB/SP 234.846,
ambos com escritório na Av. Pedroso de Moraes, nº 1.201, Pinheiros, São Paulo/SP, CEP 05419-
001, tel. (11) 3356-2054, sob pena de nulidade, nos termos do art. 272, § 2º, do CPC, bem como

DA #11113296 v1
DA #11113296 v1
push.tax@demarest.com.br.

São Paulo, 12 de setembro de 2022


Termos em que, pede deferimento.
que eventuais futuras comunicações eletrônicas se deem por meio do endereço:
12/12
fls. 523

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:34 , sob o número WPRO22010882210.
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC901D6.

Você também pode gostar