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PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

1ª VARA CÍVEL
DA COMARCA DE CAPÃO BONITO
Processo nº: 1001897-02.2022.8.26.0123

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001897-02.2022.8.26.0123 e código AEB1B05.
SENTENÇA

Processo nº: 1001897-02.2022.8.26.0123


Classe - Assunto Mandado de Segurança Cível - Garantias Constitucionais
Impetrante: Igreja Presbiteriana de Capao Bonito
Impetrado: Giulliano Soares do Santos e outro

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FELIPE ABRAHAM DE CAMARGO JUBRAM, liberado nos autos em 16/08/2022 às 10:45 .
Vistos.

Trata-se de mandado de segurança impetrado pela IGREJA


PRESBITERIANA DE CAPÃO BONITO em face do DIRETOR DA DIVISÃO DE RENDAS DA
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAPÃO BONITO, objetivando a declaração de seu direito
líquido e certo à obtenção do “habite-se”, independentemente da comprovação da quitação de
débitos tributários pendentes.

A autoridade impetrada prestou informações (fls. 110/111).

Manifestação do Ministério Público (fls. 116).

É o relatório. FUNDAMENTO E DECIDO.

A autoridade apontada como coatora indeferiu a concessão do


“habite-se” do imóvel descrito na petição inicial, com base nos artigos 22, caput e art. 165, VII
da Lei Complementar Municipal n° 015/2002, que assim dispõem:

Art. 22. A concessão de “habite-se” e de autorizações para


reformas, demolições, desdobros, desmembramentos, agrupamentos,
loteamentos e condomínios ficarão condicionados à plena regularização
tributária do imóvel perante o Cadastro Imobiliário e o fisco municipal,
sem prejuízo das demais exigências legais.

Art. 165. Aos contribuintes que se encontrarem em débito com a


Fazenda Municipal serão vedados:
(...)
VII - concessão de “habite-se” e autorizações para
reforma/demolição predial, desdobro e agrupamento de lotes,
desmembramentos, parcelamento do solo e loteamento urbanos.

De fato, a prova dos autos aponta no sentido de que o pedido


de concessão do “habite-se”, realizado pela impetrante, foi indeferido pela Autoridade
Municipal unicamente em razão da existência de débitos fiscais gravados na inscrição
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SÃO PAULO

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cadastral, não havendo qualquer menção de irregularidades técnicas na construção ou
incompatibilidades no projeto.

Ocorre que a concessão do “habite-se” é ato administrativo

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FELIPE ABRAHAM DE CAMARGO JUBRAM, liberado nos autos em 16/08/2022 às 10:45 .
vinculado e, uma vez comprovado o preenchimento dos requisitos técnicos exigidos, é dever
da Municipalidade conceder o alvará.

Neste sentido, leciona Hely Lopes Meirelles: “Terminada


regularmente a construção, de conformidade com o alvará, a ocupação do edifício deve ser
precedida de vistoria e expedição do alvará de utilização, conhecido por 'habite-se'” (Direito
Municipal Brasileiro, Ed. Malheiros, 17ª ed., p. 510).

Trata-se, portanto, de expressão do poder de polícia municipal


relativo ao controle das obras e construções, competência estranha à esfera do sistema
tributário.

Descabido, assim, o condicionamento da expedição do “habite-


se” à quitação de débitos tributários municipais gravados no cadastro do contribuinte, como
espécie de sanção para coagir o administrado a pagar suas dívidas, uma vez que a
Municipalidade dispõe de meios legais e eficazes para a cobrança de débitos tributários, como
a execução fiscal.

Na mesma linha, vem reiteradamente decidindo o Egrégio


Tribunal de Justiça de Estado de São Paulo:

“Agravo de Instrumento. Mandado de Segurança. Expedição de


"habite-se" condicionado ao pagamento de ISS. Decisão que indeferiu a
liminar. Pretensão à reforma. Acolhimento. Presença dos requisitos
previstos no art. 7º, III, da Lei 12.016/2009. Município que dispõe de
meios próprios para satisfação do crédito tributário quando o valor é
devido. Relevância da fundamentação. Vedação à autotutela estatal para
fins coercitivos em matéria tributária. Precedentes deste TJSP, baseados
nas Súmulas 70, 323 e 547 do STF, que impedem a negação do "habite-
se" como forma de forçar o cumprimento de obrigações tributárias, as
quais possuem formas próprias de exação. Decisão reformada. Recurso
provido.” ( Agravo de Instrumento nº 2016118-61.2016.8.26.0000, 18ª
Câmara de Direito Público, Rel. Des. Ricardo Chimenti, j. em 28/09/17).

“ISSQN Entidade religiosa Imunidade tributária Templo construído


pelos fiéis, em regime de mutirão Imóvel relacionado ao atendimento das
finalidades essenciais da entidade religiosa -- Ausência de prestação de
serviço apta a ensejar a incidência do ISS Fazenda Pública que não
logrou comprovar a prestação de serviços por terceiros Tributo indevido
HABITE-SE - Condicionamento da expedição do documento à
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comprovação de quitação do ISS Impossibilidade Ato administrativo
municipal que deve se limitar ao exame da regularidade formal da obra,
no exercício do poder de polícia, sem condicioná-lo à quitação de
tributos, sob pena de configuração de abuso de direito, pelo meio
indireto e coercitivo da cobrança de dívidas fiscais, sem a utilização do
procedimento adequado para tal -- Vedação pelas súmulas 70, 323 e
547 do STF RECURSO NÃO PROVIDO.” (Apelação nº

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FELIPE ABRAHAM DE CAMARGO JUBRAM, liberado nos autos em 16/08/2022 às 10:45 .
1007830-79.2016.8.26.0053, 15ª Câmara de Direito Público, Rel. Des.
Fortes Muniz, j. em 28/09/17

“Mandado de Segurança. Certificado de conclusão de obra


("habite-se"). Impetrante que teve negado seu pedido de expedição de
"auto de conclusão de obra", em razão da existência de débito de ISS
Imposto Sobre Serviço. Inadmissibilidade. Não pode a Administração
condicionar a conclusão do procedimento administrativo ao recolhimento
de tributo. Recursos oficial e voluntário improvidos, mantida a sentença
que concedeu a segurança para afastar a exigência do prévio
pagamento de ISS como requisito para a obtenção do "habite-se".”
(Apelação / Reexame Necessário nº 1019391-66.2017.8.26.0053, 11ª
Câmara de Direito Público, Rel. Des. Aroldo Viotti, j. em 26/09/17).

É o caso, portanto, de reconhecer o direito líquido e certo da


impetrante à concessão do “habite se”, desde que preenchidos os requisitos técnicos
necessários, independentemente da comprovação da quitação de débitos tributários.

Ante o exposto, CONCEDO a segurança para declarar o direito


da impetrante à emissão do “Habite-se”, desde que preenchidos os requisitos técnicos
necessários, independente do pagamento de qualquer tributo. Custas pela vencida. Sem
condenação em honorários advocatícios (art. 25 da Lei Federal nº 12.016/09).

Expeça-se ofício para a autoridade impetrada com cópia desta


sentença. Após o processamento de eventuais recursos voluntários, subam os presentes autos
ao Egrégio Tribunal de Justiça, com as nossas homenagens, para reexame necessário.

Publique-se e intimem-se, com ciência ao Ministério Público.

Capão Bonito, 16 de agosto de 2022.

FELIPE ABRAHAM DE CAMARGO JUBRAM


Juiz de Direito

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME


IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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