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Nome: Janrye

A recuperação judicial como mecanismo de efetivação do princípio de


preservação da empresa

FALÊNCIA EM SUAS ORIGENS HISTÓRICAS.

Silva (1999: 345), em sua obra Vocabulário Jurídico, traz a seguinte definição para falência:
“FALÊNCIA: Derivado do latim fallere, de que se formou fallentia, possui originariamente, o sentido de
falha, defeito, carência, engano ou omissão”.
Dessa forma, ao deixar o devedor de pagar o credor, este tinha o direito de apoderar-se do falido, sujeitando-
o às punições que iam da prisão à mutilação.
expressão bancarrotta também foi utilizada para definir falência e serviu de influência para o surgimento do
antigo costume dos credores quebrarem a banca onde o mercador expunha suas mercadorias.
O vocábulo que, como vimos, tem sua origem italiana, precede de fato material: quando os banqueiros, que
se estabeleciam em bancas, onde faziam suas operações, não cumpriam seus encargos, por se verem
alcançados em pagamentos, então se lhes quebravam (rompiam) as bancas [...].
19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo de efetivação do princípio de preservação da empresa -
Brasil Escola https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 3/26 Para Arnoldi (1999: 59),
buscar subsídios na história é imprescindível à boa compreensão de um instituto jurídico.
Assim, para bem compreender o instituto da falência, devemos voltar à época em que o insolvente sofria
todo tipo de vexame e respondia por suas obrigações com a liberdade ou com a própria vida.
Vejamos, na lição de Diniz (1930 apud ARAÚJO, 1996:14), como se processava a execução contra o
insolvente na Índia: Nas leis de Manu, no livro IX refere-se que entre os indianos, o devedor era encerrado
num círculo do qual não se podia afastar sob pena de morte, só readquirindo a sua liberdade depois de ter
sido o credor completa e definitivamente reembolsado [...] Seguindo a lição de Diniz, percebe-se que na
Pérsia a execução processava-se de forma mais abrandada.
Não se limitavam, entretanto, as execuções às pessoas, e apesar de ser inalienável a propriedade immobiliar,
nella recahía a execução, para a percepção de fructos, numa espécie de antichrese.
Então o credor tinha o direito de tomar em penhor o cadáver do devedor, privando-o das honras fúnebres, até
que os herdeiros tomassem a si o pagamento de suas dívidas.
Por fim, Diniz relata o instituto da execução na Grécia: Depois que Sólon, na Grécia, mandou soltar todos os
devedores que estivessem presos, o direito grego, de fato, tomou um rumo novo, especialmente em Athenas.
Quando o devedor entrava em mora, o credor valia-se dos bens móveis, e, se não havia estes, dos imóveis,
prevalecendo-se de uma espécie de ação judicat, pela qual obtinha uma verdadeira immissio in
possessionem.
Praticava-se também o confisco de bens, sob o aspecto de execução nos bens do devedor, admitindo-se que,
contra o erário a que passava o patrimônio confiscado com o gravame de todas as dívidas, os credores
exercessem uma reclamação, com um processo minucioso, no qual se regulavam os dividendos [...].
Em Roma, ao tempo da Lei das XII Tábuas o credor tinha o poder de fazer justiça com as próprias mãos
(manus injectio), ou seja, o credor não satisfeito apropriava-se dos bens do devedor, este poderia ser vendido
como escravo ou ter seu corpo esquartejado.
Lima (1983: 47) apresenta-nos um sucinto relato: Se são muitos os credores é permitido, depois do terceiro
dia de feira, dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os credores, não importando cortar
mais ou menos;
Desse mecanismo institui-se, por Rutilio Rufo, a bonorum venditio, onde os bens do devedor eram
desempossados (missio in bona) e custodiados pelo credor para futura venda (bonorum venditio) e satisfação
dos créditos.
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da bonorum venditio baseava-se na morte civil do devedor, dando a impressão de ser um ato voluntário.
Para alguns autores este instituto seria o embrião da falência, como se vê na lição de Ferreira (1965 apud
ALMEIDA, 2002: 3-4) in verbis: Não poucos romanistas divisam na Lex Julia o assentamento do moderno
Direito Falimentar, por ter editado os dois princípios fundamentais – o direito dos credores de disporem de
todos os bens do devedor e o da par condictio creditorum.
Completava-se a bonorum venditio, com larga série de providências, determinadas pelo pretor, contra os atos
fraudulentos de desfalque do seu patrimônio, praticados pelo devedor.
O Estado acentuou sua atuação nas questões de processo falimentar, chamando para si a liquidação do
patrimônio do devedor e impondo sua exclusividade na aplicação de sanções.
Neste aspecto, Batalha (1999: 66) ensina que: Ao contrário da tradição histórica, em que o falido era
presumidamente fraudulento e em que, o processo falimentar tinha em mira, antes de mais nada, a liquidação
do patrimônio para satisfação dos direitos dos credores, a tendência moderna, considerando a realidade
econômica de cada país, preocupa-se principalmente com a empresa, como unidade, por seus reflexos sociais
e econômicos, no contexto geral.
O segundo, em que a satisfação do direito dos credores passa à tutela do Estado e, por fim, o terceiro, em que
se busca satisfazer o direito dos credores sem paralisar as atividades da empresa, dada sua natureza
econômico-social.
Em 1521, no direito português, vigoravam As Ordenações Manoelinas (1521 – 1603) que, conforme
ensinamentos trazidos por Requião (1998: 15), regulavam o concurso de credores quando o patrimônio do
devedor era insuficiente para quitar os débitos.
Requião (1998: 16) descreve que: 19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo de efetivação do
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https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 5/26 Tornando-se insolvente o devedor, ou
quebrado na linguagem manoelina, não se podia fazer nenhuma diligência, execução ou penhora, no período
de um mês.
O devedor era preso: “E sendo o devedor condenado por sentença que passe em julgado” – determinava a
Ordenação – “faça-se em seus bens execuçam e nom lhe achando bens que bastem para a dita condenaçam,
em tal caso deve o dito devedor seer preso e retendo na cadea atee que pague o em que for condenado”.
O interesse principal da falência encontrava-se na apuração da responsabilidade criminal do falido, de
maneira que a liquidação da massa dependia da qualificação criminal da falência.
Por outro lado, para a homologação da concordata, o Código exigia a aceitação da maioria dos credores em
número, representando, pelo menos, 2/3 dos créditos sujeitos a seus efeitos.
Porém, a nova legislação fracassou ao determinar que os administradores da massa falida devessem ser
escolhidos dentre uma lista de quarenta nomes, elaborada pela Junta Comercial, cujos inscritos estivessem
fora dos quadros de falência.
Mendes (1930, apud REQUIÃO, 1998: 24) fez um importante comentário sobre a referida lei: Para que a Lei
nº 2024 produzisse todos os bons resultados de que seria capaz, era preciso que sua execução fosse
fiscalizada e garantida por um juiz enérgico, inteligente e ilustrado.
19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo de efetivação do princípio de preservação da empresa -
Brasil Escola https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 6/26 Este diploma foi revisto pelo
Decreto nº 5.746 de 1929, que não trouxe significativas alterações.
Destaca Claro (2009: 86) que o Decreto – lei nº 7.661 foi revogado no ano de 2005 pela Lei nº 11.101 – Lei
de Falências e de Recuperação de Empresas, mas continua em vigor, paralelamente ao texto atual, no que diz
respeito a alguns processos judiciais de falência e concordata que se iniciaram antes da vigência da atual lei.
Insta salientar que a Lei de Falências e Concordatas, Decreto – Lei nº 7.661, concebia o crédito como uma
relação obrigacional e desconsiderava a repercussão da insolvência no mercado, além de buscar o
ajustamento das relações entre credores e o ativo do devedor.
Ao permitir que o devedor e seus credores tenham ampla liberdade para decidir quais meios são mais
eficazes na busca da reestruturação financeira da empresa, o ambiente torna-se mais liberal.
Vejamos os ensinamentos de Pacheco (2007: 1): No último quartel do século XX, em sequência à acentuada
evolução que já se esboçara, desde o final da Segunda Guerra Mundial, com a reforma da Lei de falências
dos Estados Unidos (Brankruptcy Reform Act, de 1979), deu-se ênfase a possibilitar que, diante da
insolvência técnica ou financeira da empresa, houvesse soluções, com o objetivo principal de salvá-las da
crise, mantendo-as como unidade produtiva de riquezas, conservando o emprego, ensejando novas opções e
viabilizando novas formas de satisfação dos credores, com a minoração de suas perdas.
ideário nacional – desenvolvimentista ocorre principalmente no Brasil e na Argentina, e seu objetivo era a
criação, por assim dizer, de uma indústria moderna, mediante planejamento econômico e principalmente a
intervenção do Estado na economia e na própria sociedade organizada.
FERREIRA, 1986: 212-213), relata com objetividade o quadro econômico do Brasil no fim dos anos 50:
Entre 1956 e 1961 o Brasil alcançou taxas de crescimento mais espetaculares dos últimos cinquenta anos.
A fórmula de desenvolvimento adotada foi a de industrialização a qualquer custo, escudada em fortíssima
proteção aduaneira e apoiada por grandes incentivos cambiais, e a proliferação das grandes obras públicas
federais, de acordo com
o
A respeito, observa Bulgarelli (1992 apud LOPES, 2008: 42): No que tange a falência propriamente dita,
conquanto a lei e as interpretações doutrinárias e jurisprudenciais dos seus dispositivos venham dando
soluções razoáveis aos conflitos verificados, sofre, no entanto, ainda de um certo ranço punitivo, faltando-lhe
por isso um cunho de modernidade, voltado para a reconstrução ou recuperação das empresas em
dificuldades, o que já vem sendo cogitado ou efetivado em grande número de países.
Abrão (1985 apud ARNOLDI, 1999: 433) faz uma análise do que deveria ser reformulado no institudo de
45: [...] devem constar na reforma da Lei Falimentar, a extinção da concordata preventiva, nos moldes em
que ela vem sendo processada, posto que enseja fraudes e prejuízo aos credores.
[...] o grande problema da atual legistação falimentar está na sua índole, eminentemente, processual e
repressiva, dando-se ênfase a questões de ordem, puramente, técnico-jurídica, quando o fundamental nessa
matéria é o elemento econômico, devendo ser objeto da legislação, a exemplo dos países mais avançados, a
função preventiva e saneadora da empresa.
No que se refere à Teoria da Empresa, Arnoldi (1999: 432) explica: Com suporte na Teoria da Empresa, os
autores fazem a dissociação entre a sorte da empresa e do empresário, mostrando que por atos impensados,
por decisões mal tomadas, por situações de política econômica, a empresa não pode, pura e simplesmente,
ser liquidada, com o encerramento de suas atividades, posto que traz sensíveis prejuízos à economia do País,
o desemprego dos operários, com repercussão no campo social [...].
direito da empresa em crise é, na realidade, um conjunto de medidas de natureza econômicoadministrativa,
acordadas entre o agente econômico devedor e seus credores, supervisionadas pelo Estado-juiz, como
expediente preventivo da liquidação.
Ampara-se na convicção haurida na experiência histórica de que, mediante procedimentos de soerguimento
da empresa em crise, os credores têm melhor perspectivas de realização de seus haveres, os fornecedores não
perdem o cliente, os empregados mantêm seus empregos e o mercado sofre menos (impossível não sofrer) os
impactos e as repercussões da insolvência empresarial.
11.101/05 continua, paralelamente a esta, em pleno e efetivo vigor, no que se refere à processos judiciais de
falências e concordatas 19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo de efetivação do princípio de
preservação da empresa - Brasil Escola https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 8/26 que
se iniciaram antes da vigência da atual lei.
Do exposto, conclui-se que a empresa como unidade econômica de distribuição de bens e/ou serviços e
geradora de empregos, independente do seu perfil, está suscetível a passar por crises, porém não se deve
deixar que este momento afete o mercado e a sociedade de modo geral.
A transição da Lei de Falências e Concordatas para Lei de Falências e de Recuperação de Empresas (Lei nº
11.101/05) representa hoje uma grande evolução no tratamento dos organismos empresariais em situação
patológica, face ao seu objetivo maior, que é a preservação da unidade produtiva e a prevenção da falência.
evolucão da atividade empresarial Nos primórdios da civilização, baseando-se no imediatismo da
sobrevivência, a produção e o consumo fundamentavam-se num ciclo de economia fechada, caracterizada,
como ensina Bücher (1936 apud FILHO;
Apesar do crescente desenvolvimento, o processo de transformação econômica, como expõe Lobo (1993: 3-
4), foi muito lento: Da “indústria doméstica, de natureza rural predominante”, “que se processava para
satisfazer as necessidades do lar, seja ele pequeno ou grande”, passando pela “indústria da tribo”, “quando
esta possui o monopólio de determinada matérias-primas ou produtos fabricados”, e pela “especialização
para o mercado”, com divisão local das profissões, até chegar “à produção para o cliente e para o mercado”,
transcorreram quase cinquenta séculos: nos quarenta e cinco primeiros (de 2.000 a.C.
Leães (1984 apud JÚNIOR, W., 2008: 7), de maneira didática, sintetiza o crescimento empresarial a partir da
evolução ocorrida no cenário econômico mundial: Com o progresso da técnica e da economia de massa, o
fulcro da comercialidade sofre nova extrapolação, deslocando-se da noção de ato para noção de atividade.
Já, em fins do Século XIX, fazia notar a profunda transformação na estrutura do sistema capitalista, que se
precipitaria, no nosso século, com o deflagrar da Guerra de 1914 – 1918, com as grandes crises de 1921 e de
1929, e, por fim, com a 2ª Grande Guerra Mundial.
Chega-se, assim, a um novo ponto de referência para o Direito Comercial, a atividade negocial, isto é, a
prática reiterada de atos negociais, de modo organizado e unificado, por um mesmo sujeito, visando a uma
finalidade econômica organizada, e, portanto, à noção de empresa, como núcleo do Direito Mercantil.
Ainda sobre a expansão industrial, Galbraith (1983 apud LOBO, 1993:8) lembra: Há oitenta anos, a
sociedade anônima achava-se confinada às indústrias em que, parecia, a produção tinha de ser em grande
escala – construção de ferrovias, navegação a vapor, fabricação 19/02/2019 A recuperação judicial como
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https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 9/26 de aço, extração e refino de petróleo e
certos empreendimentos de mineração.
Hoje ela também vende secos e molhados, mói sementes de cereais, edita jornais e oferece divertimentos
públicos, atividades que eram outrora da esfera do proprietário individual ou da firma pequena.
No final de 1974, as 200 maiores empresas industriais dos Estados Unidos – 1/10 de 1% de todas as
indústrias – tinham dois terços de todo ativo empregado na produção industrial, e mais de 3/5 de todas as
vendas, empregos e renda líquida.
Entretanto, no final do século XX, após intensa expansão tecnológica, esse objetivo muda e a empresa passa
a representar um importante papel social como geradora de empregos, arrecadadora de impostos e
estimuladora do consumo conforme entendimento de Coimbra (2000: 28).
Teoria da Empresa Para melhor compreensão das tendências atuais do direito de empresa faz-se necessário
uma abordagem histórica das teorias que explicam o âmbito de atuação do direito comercial.
Em breves linhas Queiroz (2005: 61) ensina que, pela teoria subjetiva antiga, somente eram considerados
comerciantes os que estavam matriculados nas corporações, daí, portanto, apenas estes tinham acessos aos
tribunais especiais e aos privilégios da concordata e da falência.
Machado (2003 apud GAMA, 2007: 14) comenta a teoria da empresa com a seguinte afirmação: [...] o cerne
dessa teoria está nesse ente economicamente organizado que se chama ‘empresa’, a qual pode se dedicar
tanto a atividades eminentemente comerciais como a atividades de prestação de serviços ou agricultura antes
não abrangidos pelo direito comercial.
Sob esse enfoque, Queiroz (2005: 65) ensina que o conceito de empresa pode ser tanto econômico como
jurídico, sendo que o conceito econômico é mais facilmente alcançado, como a organização de trabalho e
capital que tem como fim a produção de bens ou serviços visando à troca.
Ainda na esfera econômica, Vivante (1922 apud ABRÃO, 1997: 40) doutrina que a “empresa é um
organismo econômico que recolhe e põe em prática sistematicamente os fatores necessários para obter um
produto destinado à troca, a risco do empresário”.
[...] O segundo perfil, segundo Asquini, é o funcional, 19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo
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https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 10/26 apresentando-se, destarte, a empresa como
força em movimento ou, em última análise, como a própria atividade empreendedora dirigida a um fim
produtivo.
Nesse sentido, Goulart (2006 apud LOPES, 2008: 37) ressalta: [...] pode-se tomar a empresa tanto como um
conjunto organizado de recursos economicamente relevantes (os fatores de produção ou insumos) quanto
como conjunto de transações ou relações jurídicas contratuais destinadas ao constante agrupamento e
organização destes mesmos fatores de produção.
Nesse sentido Ferri (1984 apud LOBO, 1993: 20) assevera: [...] a predisposição de bens e de serviços para o
mercado em geral não é, na realidade prática, o fruto de uma atividade acidental e improvisada, mas é objeto
de uma atividade especializada e profissional, a qual se explica através de organismos econômicos
permanentes que nela existem.
Esse organismo econômico, que se concretiza na organização dos fatores de produção e que se propõe à
satisfação das necessidades alheias e a atender às exigências do mercado em geral, assume, na terminologia
econômica, o nome de empresa.
Outro aspecto interessante a abordar é que o Código Civil italiano de 1942 não conseguiu definir empresa,
no entanto, trouxe o conceito de empresário que, conforme os ensinamentos de Júnior, E., (2009: 26), refere-
se a pessoa que exerce profissionalmente atividade econômica organizada, objetivando a produção ou troca
de bens e serviços.
No Brasil o legislador, seguindo o arquétipo italiano, também não definiu empresa e, na mesma linha,
conceituou empresário no artigo 966, caput, do Código Civil de 2002, da seguinte forma: “Considera-se
empresário que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de
bens e serviços”.
Coelho (2009: 10) extrai do conceito de empresário o seguinte conceito para empresa: “Se empresário é
definido como o profissional exercente de ‘atividade econômica organizada para a produção ou circulação de
bens ou de serviços’, a empresa somente pode ser a atividade com estas características”.
Vejamos, então, o objetivo dessa teoria, fazendo uso das palavras de Arnoldi (1999: 432): Com suporte na
Teoria da Empresa, os autores, fazem a dissociação entre a sorte da empresa e do empresário, mostrando que
por atos impensado, por decisões mal tomadas, por situações de política econômica, a empresa não pode,
pura e simplesmente, ser liquidada, com o encerramento de suas atividades, posto que traz sensíveis
prejuízos à economia do País, o desemprego dos operários, com repercussão no campo social.
Prejuízo aos sócios e acionistas que não tomaram nenhuma decisão e o não recolhimento dos tributos por
parte do Estado, sendo mais uma unidade produtora a deixar de produzir seus produtos e, acrescentamos nós,
às vezes, até sem similares no mercado.
19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo de efetivação do princípio de preservação da empresa -
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recordar que a empresa nasceu com a produção para o mercado, desenvolveu-se, organizouse e ao final do
século XX alcançou relevante importância no cenário econômico e político mundial.
Em 1521, no direito português, vigoravam As Ordenações Manoelinas (1521 – 1603) que, conforme
ensinamentos trazidos por Requião (1998: 15), regulavam o concurso de credores quando o patrimônio do
devedor era insuficiente para quitar os débitos.
Requião (1998: 16) descreve que: 19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo de efetivação do
princípio de preservação da empresa - Brasil Escola
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 5/26 Tornando-se insolvente o devedor, ou
quebrado na linguagem manoelina, não se podia fazer nenhuma diligência, execução ou penhora, no período
de um mês.
O devedor era preso: “E sendo o devedor condenado por sentença que passe em julgado” – determinava a
Ordenação – “faça-se em seus bens execuçam e nom lhe achando bens que bastem para a dita condenaçam,
em tal caso deve o dito devedor seer preso e retendo na cadea atee que pague o em que for condenado”.
O interesse principal da falência encontrava-se na apuração da responsabilidade criminal do falido, de
maneira que a liquidação da massa dependia da qualificação criminal da falência.
Por outro lado, para a homologação da concordata, o Código exigia a aceitação da maioria dos credores em
número, representando, pelo menos, 2/3 dos créditos sujeitos a seus efeitos.
Porém, a nova legislação fracassou ao determinar que os administradores da massa falida devessem ser
escolhidos dentre uma lista de quarenta nomes, elaborada pela Junta Comercial, cujos inscritos estivessem
fora dos quadros de falência.
Mendes (1930, apud REQUIÃO, 1998: 24) fez um importante comentário sobre a referida lei: Para que a Lei
nº 2024 produzisse todos os bons resultados de que seria capaz, era preciso que sua execução fosse
fiscalizada e garantida por um juiz enérgico, inteligente e ilustrado.
19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo de efetivação do princípio de preservação da empresa -
Brasil Escola https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 6/26 Este diploma foi revisto pelo
Decreto nº 5.746 de 1929, que não trouxe significativas alterações.
Destaca Claro (2009: 86) que o Decreto – lei nº 7.661 foi revogado no ano de 2005 pela Lei nº 11.101 – Lei
de Falências e de Recuperação de Empresas, mas continua em vigor, paralelamente ao texto atual, no que diz
respeito a alguns processos judiciais de falência e concordata que se iniciaram antes da vigência da atual lei.
Insta salientar que a Lei de Falências e Concordatas, Decreto – Lei nº 7.661, concebia o crédito como uma
relação obrigacional e desconsiderava a repercussão da insolvência no mercado, além de buscar o
ajustamento das relações entre credores e o ativo do devedor.
Ao permitir que o devedor e seus credores tenham ampla liberdade para decidir quais meios são mais
eficazes na busca da reestruturação financeira da empresa, o ambiente torna-se mais liberal.
Vejamos os ensinamentos de Pacheco (2007: 1): No último quartel do século XX, em sequência à acentuada
evolução que já se esboçara, desde o final da Segunda Guerra Mundial, com a reforma da Lei de falências
dos Estados Unidos (Brankruptcy Reform Act, de 1979), deu-se ênfase a possibilitar que, diante da
insolvência técnica ou financeira da empresa, houvesse soluções, com o objetivo principal de salvá-las da
crise, mantendo-as como unidade produtiva de riquezas, conservando o emprego, ensejando novas opções e
viabilizando novas formas de satisfação dos credores, com a minoração de suas perdas.
ideário nacional – desenvolvimentista ocorre principalmente no Brasil e na Argentina, e seu objetivo era a
criação, por assim dizer, de uma indústria moderna, mediante planejamento econômico e principalmente a
intervenção do Estado na economia e na própria sociedade organizada.
FERREIRA, 1986: 212-213), relata com objetividade o quadro econômico do Brasil no fim dos anos 50:
Entre 1956 e 1961 o Brasil alcançou taxas de crescimento mais espetaculares dos últimos cinquenta anos.
A fórmula de desenvolvimento adotada foi a de industrialização a qualquer custo, escudada em fortíssima
proteção aduaneira e apoiada por grandes incentivos cambiais, e a proliferação das grandes obras públicas
federais, de acordo com
o
A respeito, observa Bulgarelli (1992 apud LOPES, 2008: 42): No que tange a falência propriamente dita,
conquanto a lei e as interpretações doutrinárias e jurisprudenciais dos seus dispositivos venham dando
soluções razoáveis aos conflitos verificados, sofre, no entanto, ainda de um certo ranço punitivo, faltando-lhe
por isso um cunho de modernidade, voltado para a reconstrução ou recuperação das empresas em
dificuldades, o que já vem sendo cogitado ou efetivado em grande número de países.
Abrão (1985 apud ARNOLDI, 1999: 433) faz uma análise do que deveria ser reformulado no institudo de
45: [...] devem constar na reforma da Lei Falimentar, a extinção da concordata preventiva, nos moldes em
que ela vem sendo processada, posto que enseja fraudes e prejuízo aos credores.
[...] o grande problema da atual legistação falimentar está na sua índole, eminentemente, processual e
repressiva, dando-se ênfase a questões de ordem, puramente, técnico-jurídica, quando o fundamental nessa
matéria é o elemento econômico, devendo ser objeto da legislação, a exemplo dos países mais avançados, a
função preventiva e saneadora da empresa.
No que se refere à Teoria da Empresa, Arnoldi (1999: 432) explica: Com suporte na Teoria da Empresa, os
autores fazem a dissociação entre a sorte da empresa e do empresário, mostrando que por atos impensados,
por decisões mal tomadas, por situações de política econômica, a empresa não pode, pura e simplesmente,
ser liquidada, com o encerramento de suas atividades, posto que traz sensíveis prejuízos à economia do País,
o desemprego dos operários, com repercussão no campo social [...].
direito da empresa em crise é, na realidade, um conjunto de medidas de natureza econômicoadministrativa,
acordadas entre o agente econômico devedor e seus credores, supervisionadas pelo Estado-juiz, como
expediente preventivo da liquidação.
Ampara-se na convicção haurida na experiência histórica de que, mediante procedimentos de soerguimento
da empresa em crise, os credores têm melhor perspectivas de realização de seus haveres, os fornecedores não
perdem o cliente, os empregados mantêm seus empregos e o mercado sofre menos (impossível não sofrer) os
impactos e as repercussões da insolvência empresarial.
11.101/05 continua, paralelamente a esta, em pleno e efetivo vigor, no que se refere à processos judiciais de
falências e concordatas 19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo de efetivação do princípio de
preservação da empresa - Brasil Escola https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 8/26 que
se iniciaram antes da vigência da atual lei.
Do exposto, conclui-se que a empresa como unidade econômica de distribuição de bens e/ou serviços e
geradora de empregos, independente do seu perfil, está suscetível a passar por crises, porém não se deve
deixar que este momento afete o mercado e a sociedade de modo geral.
A transição da Lei de Falências e Concordatas para Lei de Falências e de Recuperação de Empresas (Lei nº
11.101/05) representa hoje uma grande evolução no tratamento dos organismos empresariais em situação
patológica, face ao seu objetivo maior, que é a preservação da unidade produtiva e a prevenção da falência.
evolucão da atividade empresarial Nos primórdios da civilização, baseando-se no imediatismo da
sobrevivência, a produção e o consumo fundamentavam-se num ciclo de economia fechada, caracterizada,
como ensina Bücher (1936 apud FILHO;
Apesar do crescente desenvolvimento, o processo de transformação econômica, como expõe Lobo (1993: 3-
4), foi muito lento: Da “indústria doméstica, de natureza rural predominante”, “que se processava para
satisfazer as necessidades do lar, seja ele pequeno ou grande”, passando pela “indústria da tribo”, “quando
esta possui o monopólio de determinada matérias-primas ou produtos fabricados”, e pela “especialização
para o mercado”, com divisão local das profissões, até chegar “à produção para o cliente e para o mercado”,
transcorreram quase cinquenta séculos: nos quarenta e cinco primeiros (de 2.000 a.C.
Leães (1984 apud JÚNIOR, W., 2008: 7), de maneira didática, sintetiza o crescimento empresarial a partir da
evolução ocorrida no cenário econômico mundial: Com o progresso da técnica e da economia de massa, o
fulcro da comercialidade sofre nova extrapolação, deslocando-se da noção de ato para noção de atividade.
Já, em fins do Século XIX, fazia notar a profunda transformação na estrutura do sistema capitalista, que se
precipitaria, no nosso século, com o deflagrar da Guerra de 1914 – 1918, com as grandes crises de 1921 e de
1929, e, por fim, com a 2ª Grande Guerra Mundial.
Chega-se, assim, a um novo ponto de referência para o Direito Comercial, a atividade negocial, isto é, a
prática reiterada de atos negociais, de modo organizado e unificado, por um mesmo sujeito, visando a uma
finalidade econômica organizada, e, portanto, à noção de empresa, como núcleo do Direito Mercantil.
Ainda sobre a expansão industrial, Galbraith (1983 apud LOBO, 1993:8) lembra: Há oitenta anos, a
sociedade anônima achava-se confinada às indústrias em que, parecia, a produção tinha de ser em grande
escala – construção de ferrovias, navegação a vapor, fabricação 19/02/2019 A recuperação judicial como
mecanismo de efetivação do princípio de preservação da empresa - Brasil Escola
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 9/26 de aço, extração e refino de petróleo e
certos empreendimentos de mineração.
Hoje ela também vende secos e molhados, mói sementes de cereais, edita jornais e oferece divertimentos
públicos, atividades que eram outrora da esfera do proprietário individual ou da firma pequena.
No final de 1974, as 200 maiores empresas industriais dos Estados Unidos – 1/10 de 1% de todas as
indústrias – tinham dois terços de todo ativo empregado na produção industrial, e mais de 3/5 de todas as
vendas, empregos e renda líquida.
Entretanto, no final do século XX, após intensa expansão tecnológica, esse objetivo muda e a empresa passa
a representar um importante papel social como geradora de empregos, arrecadadora de impostos e
estimuladora do consumo conforme entendimento de Coimbra (2000: 28).
Teoria da Empresa Para melhor compreensão das tendências atuais do direito de empresa faz-se necessário
uma abordagem histórica das teorias que explicam o âmbito de atuação do direito comercial.
Em breves linhas Queiroz (2005: 61) ensina que, pela teoria subjetiva antiga, somente eram considerados
comerciantes os que estavam matriculados nas corporações, daí, portanto, apenas estes tinham acessos aos
tribunais especiais e aos privilégios da concordata e da falência.
Machado (2003 apud GAMA, 2007: 14) comenta a teoria da empresa com a seguinte afirmação: [...] o cerne
dessa teoria está nesse ente economicamente organizado que se chama ‘empresa’, a qual pode se dedicar
tanto a atividades eminentemente comerciais como a atividades de prestação de serviços ou agricultura antes
não abrangidos pelo direito comercial.
Sob esse enfoque, Queiroz (2005: 65) ensina que o conceito de empresa pode ser tanto econômico como
jurídico, sendo que o conceito econômico é mais facilmente alcançado, como a organização de trabalho e
capital que tem como fim a produção de bens ou serviços visando à troca.
Ainda na esfera econômica, Vivante (1922 apud ABRÃO, 1997: 40) doutrina que a “empresa é um
organismo econômico que recolhe e põe em prática sistematicamente os fatores necessários para obter um
produto destinado à troca, a risco do empresário”.
[...] O segundo perfil, segundo Asquini, é o funcional, 19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo
de efetivação do princípio de preservação da empresa - Brasil Escola
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 10/26 apresentando-se, destarte, a empresa como
força em movimento ou, em última análise, como a própria atividade empreendedora dirigida a um fim
produtivo.
Nesse sentido, Goulart (2006 apud LOPES, 2008: 37) ressalta: [...] pode-se tomar a empresa tanto como um
conjunto organizado de recursos economicamente relevantes (os fatores de produção ou insumos) quanto
como conjunto de transações ou relações jurídicas contratuais destinadas ao constante agrupamento e
organização destes mesmos fatores de produção.
Nesse sentido Ferri (1984 apud LOBO, 1993: 20) assevera: [...] a predisposição de bens e de serviços para o
mercado em geral não é, na realidade prática, o fruto de uma atividade acidental e improvisada, mas é objeto
de uma atividade especializada e profissional, a qual se explica através de organismos econômicos
permanentes que nela existem.
Esse organismo econômico, que se concretiza na organização dos fatores de produção e que se propõe à
satisfação das necessidades alheias e a atender às exigências do mercado em geral, assume, na terminologia
econômica, o nome de empresa.
Outro aspecto interessante a abordar é que o Código Civil italiano de 1942 não conseguiu definir empresa,
no entanto, trouxe o conceito de empresário que, conforme os ensinamentos de Júnior, E., (2009: 26), refere-
se a pessoa que exerce profissionalmente atividade econômica organizada, objetivando a produção ou troca
de bens e serviços.
No Brasil o legislador, seguindo o arquétipo italiano, também não definiu empresa e, na mesma linha,
conceituou empresário no artigo 966, caput, do Código Civil de 2002, da seguinte forma: “Considera-se
empresário que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de
bens e serviços”.
Coelho (2009: 10) extrai do conceito de empresário o seguinte conceito para empresa: “Se empresário é
definido como o profissional exercente de ‘atividade econômica organizada para a produção ou circulação de
bens ou de serviços’, a empresa somente pode ser a atividade com estas características”.
Vejamos, então, o objetivo dessa teoria, fazendo uso das palavras de Arnoldi (1999: 432): Com suporte na
Teoria da Empresa, os autores, fazem a dissociação entre a sorte da empresa e do empresário, mostrando que
por atos impensado, por decisões mal tomadas, por situações de política econômica, a empresa não pode,
pura e simplesmente, ser liquidada, com o encerramento de suas atividades, posto que traz sensíveis
prejuízos à economia do País, o desemprego dos operários, com repercussão no campo social.
Prejuízo aos sócios e acionistas que não tomaram nenhuma decisão e o não recolhimento dos tributos por
parte do Estado, sendo mais uma unidade produtora a deixar de produzir seus produtos e, acrescentamos nós,
às vezes, até sem similares no mercado.
19/02/2019 A recuperação judicial como mecanismo de efetivação do princípio de preservação da empresa -
Brasil Escola https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/14839 11/26 Em rápida síntese, podemos
recordar que a empresa nasceu com a produção para o mercado, desenvolveu-se, organizouse e ao final do
século XX alcançou relevante importância no cenário econômico e político mundial.

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