Você está na página 1de 25

Falência e Recuperação de Empresas

Curso de Direito
Falência e Recuperação de Empresas
• Conceito
• O insucesso empresarial
• Evolução histórica
• Princípios
• Legislação e sua abrangência
Falência e Recuperação de Empresas
• Introdução

• A insolvência, a incapacidade de adimplir as obrigações, é normalmente objeto da


ampla repreensão social. Palavras como insolvente, falido, quebrado estão marcadas
por um valor negativo, vexatório, intimamente ligado à ideia de caloteiro, criminoso,
fraudador, desonesto, trapincola, entre outros. A insolvência é por muitos
considerada um motivo de desonra e infâmia,
Falência e Recuperação de Empresas
um estado análogo ao crime, uma nódoa indelével na história de uma
pessoa. É uma tendência antiga, que tem em seu histórico até sustentação
jurídica, como na prática de considerar infames os falidos (fallit sunt
infames et infamissimi). Toda essa incompreensão e agressividade derivam
da impressão geral de que o insolvente chegou a esse estado porque quis,
por ser desonesto. (MAMEDE, 2022)
Falência e Recuperação de Empresas
Esboço histórico

Um dos assuntos mais discutidos ao longo dos tempos, nos estudos jurídicos de
direito privado é o tratamento que deve ser dedicado àqueles que se dedicam à
atividade econômica, em caso de dificuldade patrimonial. A falência é um instituto
intimamente ligado à evolução do próprio conceito de obrigação.

- Devedor comerciante = criminoso e fraudador.


Falência e Recuperação de Empresas

- Corpo atrelado à dívida sendo possível ser escravizado, preso,


morto ou banido

- A punição do devedor deixou de ser interessante e passou a


ser a proteção aos credores (concordata)

- Necessidade de proteger a empresa, a atividade.


Falência e Recuperação de Empresas
• Na fase mais primitiva do Direito Romano, antes da codificação da Lei das XII
Tábuas, o nexum admitia a adjudicação do devedor insolvente que, por sessenta
dias, permanecia em estado de servidão para com o credor. Não solvido o
débito nesse espaço de tempo, podia o credor vendê-lo como escravo no
estrangeiro (trans Tiberim, além do Tibre), ou até mesmo matá-lo, repartindo-
lhe o corpo segundo o número de credores, numa trágica execução coletiva.
Falência e Recuperação de Empresas
• Tal sistema perdurou até 428 a.C., com a promulgação da Lex Poetelia
Papiria, que introduziu no direito romano a execução patrimonial,
abolindo o desumano critério da responsabilidade pessoal.

• Já na Idade Média, a tutela estatal assumiu papel especial condicionando


a atuação dos credores à disciplina judiciária.
Falência e Recuperação de Empresas
• Na Idade Média, ensina Octávio Mendes, começa a desenvolver-se nas
repúblicas italianas de Gênova, Florença e Veneza uma divisão no
tratamento jurídico da insolvência, percebendo-se que a quebra do
comerciante tinha particularidades e merecia tratamento distinto; nascia,
então, o instituto da falência, como procedimento específico para cuidar
da insolvência comercial, que agora evoluiu para insolvência empresarial.
Falência e Recuperação de Empresas
• Luiz XIV inspira-se nessas normas e práticas (usus) para introduzir na
França, em 1673, uma ordenança específica para o comércio. No entanto,
somente a legislação napoleônica deu ao tema um tratamento disciplinar
específico, distinguindo a insolvência civil da insolvência empresarial. Foi
esta legislação que influenciou, no Brasil, a edição do Código Comercial
de 1850. (MAMEDE, 2022)
Falência e Recuperação de Empresas
• No Direito Português, a insolvência já era objeto de tratamento no século XV,
quando as Ordenações Afonsinas repetiam a mecânica da cessio bonorum,
reconhecendo, ademais, a figura da moratória (inducias moratórias); essa
solução é repetida pelas Ordenações Manuelinas. Já as Ordenações Filipinas
(século XVI) tomam a insolvência por seu aspecto penal, dela cuidando em
minúcias no Livro V, título LXVI, considerando que o falido fraudulentamente
não era um criminoso comum e atribuindo-lhe a condição especial de públicos
ladrões.
Falência e Recuperação de Empresas
• Posteriormente, alguns Alvarás Reais, do século XVIII, aplicados tanto no
período colonial e, após a independência, até a edição do Código
Comercial de 1850, registravam estruturas jurídico-estatais para cuidar da
insolvência comercial: uma Junta que solicita o Bem-Comum do
Comércio, ao lado de um Juiz Conservador do Comércio e um Fiscal de
Comércio, que atuavam na defesa dos interesses reais e dos credores.
Falência e Recuperação de Empresas
Destaca-se o Alvará de 13 de novembro de 1756, no qual se previam
quatro situações de não pagamento das obrigações comerciais: (1)
impontualidade – falta de pagamento em dia; (2) ponto – parada total
de pagamento; (3) quebra – impossibilidade de pagar as obrigações; e
(4) bancarrota – quebra fraudulenta, sendo o falido condenado como
público ladrão.
Falência e Recuperação de Empresas
• Miranda Valverde, em 1931, dizia que o instituto da falência atravessara no
Brasil três fases importantes, a principiar pela publicação do Código Comercial
de 1850 – ele, portanto, não considera os momentos anteriores, quando, já
Estado independente, aplicava-se aqui a legislação lusitana. É a fase influenciada
pela legislação francesa, merecendo algumas alterações, justificadas por
algumas situações urgentes, a exemplo dos Decretos 3.308 e 3.309, de 1864,
3.516, de 1865, 3.065, de 1879 (instituindo a figura da concordata por
abandono, que foi inscrita nos artigos 844 e 845 do Código Comercial).
Falência e Recuperação de Empresas
• O processo, todavia, era lento e oneroso, não tanto em função da lei, mas da
execução que se lhe dava. Essa fase encerra-se, na República, com a edição do
Decreto 917, em 1890, modificando totalmente a estrutura legislativa da
falência, em projeto redigido por Carlos de Carvalho. Mas foi sistema que caiu
em descrédito, segundo Valverde, por uma série de numerosos fatores, entre os
quais a autonomia excessiva dos credores e o falseamento do sistema na
aplicação da lei, quando se cancelavam os princípios que a inspiravam.
Falência e Recuperação de Empresas
• Assim, em 1902, veio a Lei 859, que conservou o pensamento e o método do
Decreto 917/1890, fazendo algumas alterações. Fracassou, com o que foi
preciso dar fim a essa segunda fase, segundo a recordação de Valverde, o que se
fez com a edição da Lei 2.024/1908, que seria uma síntese bem formulada dos
princípios animadores do Decreto 917/1890, expurgados os seus defeitos, bem
como os defeitos da Lei 859/1902; mas foi preciso, com o passar do tempo, fazer
alterações, o que justificou o Decreto 5.746/1929.
Falência e Recuperação de Empresas
• “Uma lei de falências gasta-se depressa no atrito permanente com a
fraude. Os princípios jurídicos podem ficar, resistir, porque a sua
aplicação não os esgota nunca. As regras práticas, que procuram
impedir o nascimento e desenvolvimento da fraude, é que devem
evoluir” (Miranda Valverde, apud, Mamede, 2022)
Falência e Recuperação de Empresas
• Por ocasião da Ditadura Vargas, encomendou-se a um grupo de juristas a
elaboração de um anteprojeto para uma nova Lei de Falências: Noé
Azevedo, Joaquim Cantuo Mendes de Almeida, Silvio Marcondes,
Filadelfo Azevedo, Hahnemann Guimarães e Luís Lopes Coelho. O
trabalho por eles desenvolvido culminou com a edição do Decreto-lei
7.661/45, que reforçou os poderes do magistrado
Falência e Recuperação de Empresas
diminuiu o poder dos credores – abolindo a assembleia que os reunia para
deliberar sobre assuntos do procedimento falimentar – e transformou a
concordata (preventiva ou suspensiva) num benefício, em lugar de um
acordo de vontades. Já na década de 70, percebeu-se a necessidade de
reformas; os debates então iniciados, todavia, só surtiriam efeito muitos
anos depois, com a edição da Lei 7.274/84.
Falência e Recuperação de Empresas

• O lance final dessa evolução foi a apresentação ao Congresso


Nacional, em 1993, de um projeto de lei de uma nova
regulamentação jurídica para a falência, o que, após muitas
discussões, culminou com a edição da Lei 11.101/2005.

• Por fim, tem-se a reforma promovida pela Lei 14.112/2020


Falência e Recuperação de Empresas

• Princípios
• Em seu relatório à Comissão de Assuntos Econômicos, o Senador Ramez Tebet
indicou doze princípios que orientaram a redação dos 201 artigos que compõem
a Lei n. 11.101/2005 e que permitirão, aos aplicadores, sua correta
interpretação.

• O primeiro desses princípios é a preservação da empresa.


Falência e Recuperação de Empresas
• Os conceitos de empresa e de empresário também devem ser separados.
• o Estado deverá permitir a recuperação das sociedades e empresários recuperáveis. (art.
50)

• retirar do mercado as sociedades ou empresários não recuperáveis.


• a Lei deverá visar, como princípio básico, à proteção aos trabalhadores.
• Buscou a Lei reduzir o custo do crédito no Brasil. As garantias conferidas pelos credores
deveriam ser preservadas, assim como a ordem de classificação de créditos deveria ser clara
Falência e Recuperação de Empresas
• A Lei deverá se orientar pela celeridade e pela eficiência em seus
procedimentos

• A celeridade não poderá comprometer, entretanto, a segurança jurídica.


• A celeridade não poderá comprometer, entretanto, a segurança jurídica.
• Como os credores são os maiores interessados na eficiência dos institutos, a
eles deverá se conferir participação ativa no procedimento falimentar e
recuperacional.
• a maximização do valor dos ativos do falido.
Falência e Recuperação de Empresas
• Atento à condição especial das microempresas e empresas de pequeno
porte, a Lei deveria conferir procedimento menos burocratizado e que
permitisse a estas maior facilidade de acesso, com custos reduzidos.

• Por fim, o PLC n. 71/2003, que se converteu na Lei n. 11.101/2005, tinha


como orientação o maior rigor na punição de crimes relacionados à
falência e à recuperação.
Falência e Recuperação de Empresas

• Princípio da preservação da empresa:


• Princípio da Inerência do risco
• Princípio do impacto social da crise da empresa
• Princípio do tratamento paritário dos credores

Você também pode gostar