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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000573090

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2168693-10.2023.8.26.0000, da Comarca de Mauá, em que é agravante E. M.,
são agravados Y. B. A. M. e D. B. A. M..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 9ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator,
que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores GALDINO


TOLEDO JÚNIOR (Presidente sem voto), CÉSAR PEIXOTO E JANE FRANCO
MARTINS.

São Paulo, 11 de julho de 2023.

EDSON LUIZ DE QUEIROZ


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 37321
AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 2168693-10.2023.8.26.0000
AGRAVANTE: E. M.
AGRAVADOS: Y. B. A. M. E D. B. A. M.
COMARCA: MAUÁ
JUIZ (A): JULIANA NISHINA DE AZEVEDO

Agravo de instrumento. Ação exoneratória de alimentos.


Genitor contra filhos maiores. Decisão indeferiu a concessão
de tutela de urgência. Alegação de que os alimentandos
atingiram a maioridade, estão exercendo atividade
laborativa e não necessitam mais da pensão. Ausência de
provas idôneas preconstituídas acerca da desnecessidade
dos alimentos. Exoneração que poderia prejudicar a
subsistência dos alimentandos. Impossibilidade de
pagamento não comprovada.
Alteração das possibilidades do alimentante ou das
necessidades dos alimentandos não provadas neste
momento processual. Necessidade de instauração de
contraditório para desconstituir o presumido. O contraditório
é um dos princípios basilares do direito; a mitigação de seu
exercício só pode ocorrer em situações excepcionais,
inexistentes no caso concreto.
Agravo não provido.

Vistos.

Trata-se de agravo de instrumento interposto contra


decisão que, em ação exoneratória de alimentos movida pelo genitor contra dois
filhos que atingiram a maioridade, indeferiu a tutela de urgência pleiteada.

Insurge-se o alimentante, requerendo a desobrigação


total do pagamento dos alimentos. Aduz que os filhos atingiram a maioridade, são
saudáveis, exercem atividade laborativa remunerada e, portanto, são capazes de
prover o próprio sustento. Afirma ainda que está desempregado e sem condições
de promover a própria subsistência.

O recurso foi processado sem a concessão da tutela


antecipada requerida.

É o relatório do essencial.
Agravo de Instrumento nº 2168693-10.2023.8.26.0000 -Voto nº 37321 MM 2
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Em sede de cognição sumária, cabe apenas analisar o


preenchimento dos requisitos necessários para a concessão da tutela de
urgência de natureza antecipada, sob pena de se antecipar o julgamento de
mérito, que depende da observância do devido processo legal, ou seja, do pleno
exercício do contraditório e da ampla defesa, com a produção de todas as provas
que se fizerem necessárias.

Dispõe o artigo 300, caput, do Código de Processo


Civil/2015, que a tutela provisória de urgência poderá ser concedida se houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito invocado e o perigo de risco
ao resultado útil do processo.

Nesse sentido é o posicionamento de HUMBERTO


THEODORO JÚNIOR, em "Novo Código de Processo Civil Anotado", 20ª edição,
2016, Editora Forense, página 361:

"O perigo de dano refere-se ao interesse processual em obter uma


justa composição do litígio, seja em favor de uma ou de outra
parte, o que não poderá ser alcançado caso se concretize o dano
temido. Ele nasce de dados concretos, seguros, objeto de prova
suficiente para autorizar o juízo de grande probabilidade em torno
do risco de prejuízo grave. Pretende-se combater os riscos de
injustiça ou de dano derivados da espera pela finalização do curso
normal do processo. Há que se demonstrar, portanto, o 'perigo na
demora da prestação da tutela jurisdicional' (NCPC, art. 300). Esse
dano corresponde, assim, a uma alteração na situação de fato
existente no tempo do estabelecimento da controvérsia ou seja,
do surgimento da lide -, que é ocorrência anterior ao processo.
Não impedir sua consumação comprometerá a efetividade da
tutela jurisdicional a que faz jus o litigante".

No atual estágio do processo, pela documentação


encartada aos autos, plausível a manutenção do entendimento adotado pelo D.
Juízo de Primeiro Grau, pois não há elementos que autorizem a pretensão
exoneratória, nesta fase processual.

Como se sabe, após a maioridade do filho e a


cessação do poder familiar, nos termos dos artigos 5º e 1.630 e seguintes do
Código Civil, não ocorre a extinção definitiva da obrigação de prestar alimentos. O
dever de sustento se extingue com a maioridade quando cessa o poder familiar,
entretanto, a obrigação alimentar decorrente de relação de parentesco pode
continuar, se comprovado o prolongamento da necessidade do alimentando.

Sendo assim, maioridade civil não implica,


imediatamente, em extinção da obrigação dos pais de prestar de alimentos aos
filhos. Ou seja, deve-se analisar o contexto fático de cada família, suas
necessidades e possibilidades, devendo prevalecer o princípio da solidariedade
familiar e da dignidade da pessoa humana.

Embora o agravante alegue não possuir condições de


Agravo de Instrumento nº 2168693-10.2023.8.26.0000 -Voto nº 37321 MM 3
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arcar com os alimentos como fixados, pois desempregado, não há prova acerca
da efetiva impossibilidade de pagamento. A questão do desemprego é sempre
transitória, sendo que o trabalho autônomo é por vezes mais vantajoso do que
emprego formal.

Também não há demonstração cabal de alteração das


necessidades dos alimentandos, ausentes nos autos elementos seguros acerca
dos motivos que ensejariam a exoneração. Nesse sentido, em que pese os
agravados já terem atingido a maioridade, como bem salientou o Juízo de
primeiro grau, é possível que eles estejam em curso de ensino superior ou
profissionalizante.

Nas ações exoneratórias e de revisão de pensão


alimentícia, devem ser provadas mudanças havidas nas condições econômicas e
fáticas, seja dos alimentandos, seja do alimentante.

Estipula o artigo 1.699 do Código Civil que:

"Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação


financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o
interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias,
exoneração, redução ou majoração dos alimentos."

A exoneração/redução dos alimentos é medida


delicada, considerando que reflete gravemente na vida do alimentando. Sem a
oitiva da parte contrária, inviável o acolhimento do pedido neste momento,
considerando que o adequado sustento pode ser prejudicado.

Por todo exposto e sem a presença de elementos


seguros a autorizar a justa solução do caso, não há como acolher a pretensão
pleiteada. Necessária, pois, a completa instrução do feito para solução final da
controvérsia.

Finalizando, as demais questões arguidas pelas partes


ficam prejudicadas, segundo orientação do Superior Tribunal de Justiça,
perfilhada pela Ministra Diva Malerbi, no julgamento dos EDcl no MS 21.315/DF,
proferido em 08/06/2016, já na vigência CPC/2015: "o julgador não está obrigado a
responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado motivo
suficiente para proferir a decisão (...), sendo dever do julgador apenas enfrentar as questões
capazes de infirmar a conclusão adotada na decisão recorrida".

Na hipótese de apresentação de embargos de


declaração contra o presente Acórdão, ficam as partes intimadas a se manifestar,
no próprio recurso, a respeito de eventual oposição ao julgamento virtual, nos
termos do art. 1º da Resolução n.º 549/2011, com a redação alterada pela
Resolução nº 772/2017 do Órgão Especial deste E. Tribunal de Justiça,
entendendo-se o silêncio como concordância.

Agravo de Instrumento nº 2168693-10.2023.8.26.0000 -Voto nº 37321 MM 4


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Pelo exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao agravo de


instrumento interposto.

EDSON LUIZ DE QUEIROZ


RELATOR
(documento assinado digitalmente)

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