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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR MÁRIO PARENTE TEÓFILO NETO

Processo: 0044072-18.2012.8.06.0064 - Agravo de Execução Penal


Agravante: Raphael Saraiva de Oliveira. Agravado: Ministério Público do
Estado do Ceará. Custos Legis: Ministério Público Estadual

EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL.


PEDIDO DE REMIÇÃO DE PENA POR CONCLUSÃO DO ENSINO
FUNDAMENTAL EM AMBIENTE PRISIONAL. REALIZAÇÃO DA PROVA DO
ENCCEJA. APENADO JÁ HAVIA CONCLUÍDO O ENSINO FUNDAMENTAL
ANTES DO INÍCIO DO CUMPRIMENTO DA PENA. IMPOSSIBILIDADE DE
CONCESSÃO. PEDIDO DE LIBERDADE CONDICIONAL INDEFERIDO POR
AUSÊNCIA DE BOM COMPORTAMENTO DURANTE A EXECUÇÃO DA PENA.
ORDEM CONHECIDA E IMPROVIDA.
1. O apelante sustentou que o apenado apresentou bom comportamento durante o
cumprimento da pena e que possui contrato de trabalho formalizado e ainda vigente, o que lhe
garantirá a subsistência, razão pela qual deveria ser concedida a liberdade condicional. Narrou
que o juízo da execução remiu 52 dias da pena em razão do projeto remição pela leitura
(projeto livro aberto), mas não considerou a conclusão do ensino fundamental do apenado
para a remição.
2. Embora pleiteie a remição de pena por aprovação na prova do ENCCEJA, tem-se que o
agravante já havia concluído o ensino fundamental antes de sua realização. A finalidade
reeducativa da pena não foi observada neste caso, uma vez que não há fato novo apto a
evidenciar o fomento de aquisição de novos conhecimentos por parte do apenado, que tão
somente realizou exame compatível com o nível de ensino que já lhes era auferido
anteriormente.
3. Conta nos autos que o apenado cometeu falta grave em 14/4/2020, razão pela qual foi-lhe
negado livramento condicional. Referidas faltas não devem ser utilizadas como fundamentos
para negar o benefício do livramento condicional por tempo indeterminado, mas não se pode
deixar de ponderá-las, uma vez que essas devem ser levadas em consideração quando da
análise do requisito subjetivo para a concessão da benesse.
4. Os requisitos “bom comportamento durante a execução da pena” e “não cometimento de
falta grave nos últimos 12 (doze) meses” não devem ser confundidos, uma vez que um
considera o comportamento do apenado na integralidade do cumprimento da pena, ao passo
que o outro leva em conta as suas faltas graves cometidas no lapso temporal de 12 meses.
5. Muito embora as faltas graves não sejam consideradas ad aeternum, sobretudo
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considerando o art. 112, §7º da LEP (“o bom comportamento é readquirido após 1 (um) ano
da ocorrência do fato, ou antes, após o cumprimento do requisito temporal exigível para a
obtenção do direito”), também não se notam elementos robustos para evidenciar o bom
comportamento.
6. Por analogia ao art. 55 da LEP, que aduz que as recompensas têm em vista o bom
comportamento reconhecido em favor do condenado, de sua colaboração com a disciplina
e de sua dedicação ao trabalho; e levando em conta o art. 112, §1º da LEP, que dispõe que o
apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa conduta carcerária,
comprovada pelo diretor do estabelecimento, ainda não resta atingido o requisito subjetivo
do bom comportamento, por ausência de comprovação.
7. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutido o presente agravo em execução nº 0044072-18.2012.8.06.0064,


ACORDAM os desembargadores da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Ceará, à
unanimidade, em CONHECER do recurso, mas para NEGAR-LHE PROVIMENTO, nos
termos do voto do relator.

Fortaleza, 21 de março de 2023

MÁRIO PARENTE TEÓFILO NETO


Presidente do Órgão Julgador

RELATÓRIO

Trata-se de Agravo de Execução interposto por Raphael Saraiva de Oliveira


contra decisão do Juiz de Direito da 3ª Vara de Execução Penal da Comarca de Fortaleza que
indeferiu o pedido de livramento condicional e deferiu parcialmente o pedido de remição de
pena.
Em suas razões recursais, págs. 2/7, a defesa discorreu que o agravante fez jus ao
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benefício de livramento condicional em 14/4/2021, mas lhe foi negada a benesse em razão de
ter ele cometido falta grave.
Sustentou que a falta grave ocorreu há mais de dois anos, em 14/4/2020. Que o
apenado apresentou bom comportamento durante o cumprimento da pena e que possui
contrato de trabalho formalizado e ainda vigente, o que lhe garantirá a subsistência.
Narrou que o juízo da execução remiu 52 dias da pena em razão do projeto
remição pela leitura (projeto livro aberto), mas não considerou a conclusão do ensino
fundamental do apenado.
Suscitou que fosse deferido o pedido de livramento condicional e que fosse
remida a pena em razão da conclusão do ensino fundamental.
Contrarrazões às págs. 18/20.
Parecer do ministério público às págs. 30/36, opinando pelo conhecimento e
improvimento do agravo.
É o relatório.

DESEMBARGADOR MÁRIO PARENTE TEÓFILO NETO


Relator

VOTO

A insurgência do apelante diz respeito ao indeferimento do pedido de livramento


condicional e de remição de pena em razão da conclusão do ensino fundamental.
Os pedidos foram indeferidos em 22 de setembro de 2022 (mov. 173). A
intimação da defesa foi expedida em 23/9/2022 (evento 174) e confirmada em 30/9/2022
(mov. 180). Foi interposto o Agravo em Execução aos 3 de outubro de 2022 (vide mov. 181).
Da análise, tem-se por tempestivo o recurso em questão, eis que se adequa ao
prazo firmado na súmula 700 do Supremo Tribunal Federal, conforme já evidenciado pelo
magistrado da execução na decisão acostada na movimentação 182 dos autos.
Presentes os demais pressupostos recursais objetivos e subjetivos de
admissibilidade, o conhecimento do recurso é medida que se impõe.
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Na decisão constante na movimentação 173 o magistrado remiu a sanção do


apenado em 52 dias em razão do Projeto Leitura, mas não se manifestou com relação a
possibilidade de remição por conclusão do ensino fundamental.
Em juízo de retratação, na movimentação 189, o magistrado dispôs:
"No caso em exame, o apenado realizou a prova do ENCCEJA, no
entanto, o sentenciado já possui certificação do ensino
fundamental anterior, pois o artigo 1º, inciso IV da
Recomendação nº 44/2013 do CNJ esclarece que a hipótese de
concessão de remição ao apenado é apenas no caso de não estiver
vinculado a atividades regulares de ensino, o que não é o caso dos
autos. Por esses fundamentos, e acolhendo o parecer do representante
do Ministério Público, INDEFIRO pedido de remição pelo
ENCCEJA ao apenado em razão de já ter concluído o ensino
fundamental anteriormente. Quanto ao juízo de retração do
indeferimento de livramento condicional, mantenho decisão de mov.
173.1 em todos seus fundamentos."
Em consulta aos documentos acostados na movimentação 157, a defesa acostou
Certificado de conclusão do ensino fundamental, considerando os resultados obtidos no
Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos - ENCCEJA,
realizado em ambiente prisional.
Datado em 8 de fevereiro de 2020, consta no documento que o apenado atingiu as
seguintes pontuações:
- 132 na área de conhecimento Língua Portuguesa, língua Estrangeira
moderna, arte e educação física;
- 7,25 em redação;
- 120 em matemática;
- 152 em história e geografia;
- 150 ciências naturais.
O Ministério Público entendeu em seu parecer que o apenado não deveria fazer jus
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ao benefício porque já havia concluído o ensino fundamental quando começou a responder a


pena, eis que na movimentação 1.7 (na página 4 de seu arquivo) contém a informação de que
o réu possuía "1º grau completo".
Já na ficha do réu, presente na página 65 do mesmo documento, consta que o
apenado possui grau de instrução "nível médio completo" e possui a profissão de estudante.
Na pág. 25 do processo 0150916-45.2016.8.06.0001, onde se encontra o termo de
interrogatório prestado em 9 de julho de 2016, o acusado disse que possuía o 1º grau
completo.
Inicialmente, cumpre entender do que se trata o "ENCCEJA". Em consulta ao sítio
eletrônico do MEC, extraiu-se:

"O Encceja tem como principal objetivo construir uma referência


nacional de educação para jovens e adultos por meio da avaliação de
competências, habilidades e saberes adquiridos no processo escolar ou
nos processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na
convivência humana, no trabalho, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais, entre
outros.
A participação no Encceja é voluntária e gratuita, destinada aos jovens
e adultos residentes no Brasil e no exterior, inclusive às pessoas
privadas de liberdade, que não tiveram oportunidade de concluir
seus estudos na idade apropriada.
No Brasil e no exterior, o Encceja pode ser realizado para pleitear
certificação no nível de conclusão do ensino fundamental e ensino
médio. Para certificação do ensino fundamental, é preciso ter, no
mínimo, 15 anos completos na data de realização do exame. A
certificação do ensino médio exige a idade mínima de 18 anos
completos no dia de aplicação da prova."
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No que tange as normas correlatas:


Lei de Execução Penal:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou
semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo
de execução da pena
§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar -
atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante,
ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no
mínimo, em 3 (três) dias;

Recomendação nº 44 de 26/11/2013 do CNJ:


Art. 1º Recomendar aos Tribunais que:
(...)
IV - na hipótese de o apenado não estar, circunstancialmente,
vinculado a atividades regulares de ensino no interior do
estabelecimento penal e realizar estudos por conta própria, ou com
simples acompanhamento pedagógico, logrando, com isso, obter
aprovação nos exames nacionais que certificam a conclusão do
ensino fundamental Exame Nacional para Certificação de
Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA) ou médio Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM), a fim de se dar plena aplicação
ao disposto no § 5º do art. 126 da LEP (Lei n. 7.210/84), considerar,
como base de cálculo para fins de cômputo das horas, visando à
remição da pena pelo estudo, 50% (cinquenta por cento) da carga
horária definida legalmente para cada nível de ensino [fundamental ou
médio - art. 4º, incisos II, III e seu parágrafo único, todos da
Resolução n. 03/2010, do CNE], isto é, 1600 (mil e seiscentas) horas
para os anos finais do ensino fundamental e 1200 (mil e duzentas)
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horas para o ensino médio ou educação profissional técnica de nível


médio;

Resolução nº 391 de 10/5/2021 do CNJ:


Art. 3ª. O reconhecimento do direito à remição de pena pela
participação em atividades de educação escolar considerará o número
de horas correspondente à efetiva participação da pessoa privada de
liberdade nas atividades educacionais, independentemente de
aproveitamento, exceto, quanto ao último aspecto, quando a pessoa
tiver sido autorizada a estudar fora da unidade de privação de
liberdade, hipótese em que terá de comprovar, mensalmente, por meio
da autoridade educacional competente, a frequência e o
aproveitamento escolar.
Parágrafo único. Em caso de a pessoa privada de liberdade não
estar vinculada a atividades regulares de ensino no interior da
unidade e realizar estudos por conta própria, ou com
acompanhamento pedagógico não-escolar, logrando, com isso,
obter aprovação nos exames que certificam a conclusão do ensino
fundamental ou médio (Encceja ou outros) e aprovação no Exame
Nacional do Ensino Médio - Enem, será considerada como base de
cálculo para fins de cômputo das horas visando à remição da pena
50% (cinquenta por cento) da carga horária definida legalmente
para cada nível de ensino, fundamental ou médio, no montante de
1.600 (mil e seiscentas) horas para os anos finais do ensino
fundamental e 1.200 (mil e duzentas) horas para o ensino médio
ou educação profissional técnica de nível médio, conforme o art.
4o da Resolução n o 03/2010 do Conselho Nacional de Educação,
acrescida de 1/3 (um terço) por conclusão de nível de educação, a
fim de se dar plena aplicação ao disposto no art. 126, § 5o , da
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LEP.
A prova do ENCCEJA é direcionada à certificação de conclusão no ensino
fundamental ou médio. No âmbito penal, sua destinação visa a obtenção de novos
conhecimentos por parte do apenado, de modo a por a salvo a finalidade reeducativa da pena.
In casu, embora pleiteie a remição de pena por aprovação na prova do ENCCEJA,
tem-se que o agravante já havia concluído o ensino fundamental antes de sua realização.
A finalidade reeducativa da pena não foi observada neste caso, uma vez que não há fato
novo apto a evidenciar o fomento de aquisição de novos conhecimentos por parte do
apenado, que tão somente realizou exame compatível com o nível de ensino que já lhes
era auferido anteriormente.
Nesse sentido:
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL.
EXECUÇÃO PENAL. VIOLAÇÃO DO ART. 126 DA LEP. PLEITO
DE RECONHECIMENTO DA REMIÇÃO PELO ESTUDO.
APROVAÇÃO NO ENEM (EXAME NACIONAL DO ENSINO
MÉDIO) APÓS A CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO.
SENTENCIADO PORTADOR DE DIPLOMA DE CURSO
SUPERIOR. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DA BENESSE.
1. Visando à ressocialização do apenado e tendo como base o direito
fundamental à Educação, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por
meio da Recomendação n. 44/2013 - posteriormente substituída pela
Resolução n. 391/2021 -, estabeleceu a possibilidade de remição de
pena à pessoa privada de liberdade, que, por meio de estudos por conta
própria, vier a ser aprovada nos exames que certificam a conclusão do
ensino fundamental ou médio (ENCCEJA ou outros) e aprovação no
Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
2. Com efeito, o propósito da remição pelo estudo não é
simplesmente diminuir o tempo de encarceramento, mas,
sobretudo, fomentar a aquisição de novos conhecimentos e
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ferramentais educacionais por parte do apenado, de modo a


facilitar a sua reintegração social.
3. No caso, tendo o apenado concluído o ensino médio e superior
antes do início do cumprimento da pena, incabível a remição
penal por aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio, visto
que tal situação destoa do escopo da norma.
4. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1979591/SP, Relator Ministro Sebastião Reis, Sexta
Turma, STJ, Data do Julgamento 19/4/2022, Data da Publicação
25/4/2022).
Pelo exposto, não cabe o deferimento do pedido de remição de pena.
Já no tocante ao pedido de livramento condicional, este foi indeferido pelos
seguintes fundamentos:
No caso em exame, verifico, ao analisar o relatório da situação
carcerária, que o apenado cumpriu o tempo necessário previsto na
LEP para o deferimento do livramento condicional. Contudo,
analisando o requisito subjetivo, o apenado não vem demonstrando
bom comportamento durante a execução da pena, pois consta na
aba de eventos que o apenado empreendeu fuga durante o
cumprimento da pena, em 24/06/2016, bem como teve uma falta
grave dentro da unidade prisional homologada em 30/11/2020.

Conta nos autos que o apenado cometeu falta grave em 14/4/2020, razão pela qual
foi-lhe negado livramento condicional em 27/4/2021(mov. 83) por esse motivo. Nessa
decisão, o juiz da execução utilizou os mesmos fundamentos acima transcritos, evidenciando
que negou o pedido de livramento condicional duas vezes pelos mesmos motivos (uma em
2021 e outra em 2022).
Referidas faltas não devem ser utilizadas como fundamento para negar o benefício
do livramento condicional por tempo indeterminado, mas não deixo de ponderá-las, uma vez
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que essas devem ser levadas em consideração quando da análise do requisito subjetivo para a
concessão da benesse.
Saliento que o comportamento do preso deve ser tomado em sua integralidade:
"As faltas graves praticadas pelo apenado durante todo o cumprimento da pena, embora não
interrompam a contagem do prazo para o livramento condicional, justificam o indeferimento
do benefício por ausência do requisito subjetivo. 3. Não se aplica limite temporal à análise
do requisito subjetivo, devendo ser analisado todo o período de execução da pena, a fim
de se averiguar o mérito do apenado" (STJ, HC 564.292/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 16/6/2020, DJe 23/6/2020).
À luz da doutrina: “com a edição da Lei 10.792/2003, o art. 112, caput, da Lei de
Execução Penal refere-se ao ‘bom comportamento carcerário’, e não mais ao
comportamento satisfatório. Contudo, a redação do CP foi mantida (art. 83, III). Esse
requisito deve ser comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional, levando em
conta o modo de agir do condenado após o início da execução da pena, desprezando-se seu
comportamento pretérito. Nos termos da súmula 441 do STJ: ‘a falta grave não interrompe o
prazo para obtenção de livramento condicional’. No caso concreto, entretanto, a prática de
falta grave pode inviabilizar o benefício, em face da ausência de um dos seus requisitos
subjetivos, qual seja, o bom comportamento carcerário”. (MASSON, Cleber. Código
Penal Comentado. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019. p. 456).
É dizer, que embora tais faltas não sejam consideradas ad aeternum, sobretudo
considerando o art. 112, §7º da LEP (“o bom comportamento é readquirido após 1 (um) ano
da ocorrência do fato, ou antes, após o cumprimento do requisito temporal exigível para a
obtenção do direito”), também não se notam elementos robustos para evidenciar o bom
comportamento.
Por analogia ao art. 55 da LEP, que aduz que as recompensas têm em vista o
bom comportamento reconhecido em favor do condenado, de sua colaboração com a
disciplina e de sua dedicação ao trabalho; e levando em conta o art. 112, §1º da LEP, que
dispõe que o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa conduta
carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento, entendo que ainda não resta
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atingido o requisito subjetivo do bom comportamento, por ausência de comprovação.


Apesar das frequências de trabalho acostadas nas movimentações 191/194 serem
tomadas como elementos subjetivos positivos, caracterizando a comprovação de que trata o
art. 83, III, “c”; não se constata ainda, cabalmente, o “bom comportamento durante a execução
da pena”.
Por fim, registro que os requisitos “bom comportamento durante a execução da
pena” e “não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses” não devem ser
confundidos, uma vez que aquele considera o comportamento do apenado na integralidade do
cumprimento da pena, ao passo que o outro leva em conta as suas faltas graves cometidas no
lapso temporal de 12 meses. Neste sentido:
EMENTA: AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL. LIVRAMENTO
CONDICIONAL. ARTIGO 83 DO CÓDIGO PENAL. NOVA
REDAÇÃO. LEI 13.964/2019. REQUISITO SUBJETIVO. FALTA
GRAVE NO CURSO DA EXECUÇÃO. Compreende-se, nos termos
da Súmula nº 441 do Superior Tribunal de Justiça, atinente ao
requisito objetivo, disciplinado no caput e incisos I, II, IV e V do
artigo 83 do Código Penal, que "a falta grave não interrompe o prazo
para obtenção de livramento condicional". Para a concessão do
livramento condicional, além do requisito objetivo (incisos I, II, IV e
V e caput do artigo 83), deve ser considerado o requisito subjetivo
(inciso III do artigo 83), que abrange o "bom comportamento durante
a execução da pena" (alínea "a"); o "não cometimento de falta grave
nos últimos 12 (doze) meses" (alínea "b"); o "bom desempenho no
trabalho que lhe foi atribuído" (alínea "c"); e a "aptidão para prover a
própria subsistência mediante trabalho honesto" (alínea "d"). Não há
contradição entre as alíneas "a" (bom comportamento durante a
execução da pena) e "b" (não cometimento de falta grave nos últimos
12 (doze) meses) do inciso III do artigo 83 do Código Penal. Exige-
se, além do não cometimento de falta grave nos últimos doze meses,
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bom comportamento durante toda a execução da pena. Praticada falta


grave nos últimos doze meses, indefere-se o benefício. Não praticada,
verifica-se o período anterior para efeito do "bom comportamento".
Nele havida prática de falta ou faltas, analisa-se sua repercussão no
"comportamento durante a execução da pena" para se deferir ou não o
benefício. (...) Os requisitos das alíneas "a" (bom comportamento
durante a execução da pena) e "b" (não cometimento de falta
grave nos últimos 12 (doze) meses) do inciso III do artigo 83 do
Código Penal são diversos. Não se confundem. Ambos devem ser
atendidos pelo sentenciado para a concessão do livramento
condicional. No livramento condicional, o espaço temporal, no qual
se deve aferir o "bom comportamento" do sentenciado, abrange todo
o período de execução da pena, não apenas parte dele (art. 83, III, "a",
do Código Penal, na nova redação da Lei nº 13.964/2019) (...).”
(TJDF, Acórdão 1327450, 07512168920208070000, Relator: MARIO
MACHADO, Primeira Turma Criminal, data de julgamento:
18/3/2021, publicado no PJe: 26/3/2021).
Pelo exposto, CONHEÇO e NEGO PROVIMENTO ao recurso, mantendo
íntegra a r. decisão atacada.

É como voto.

Fortaleza, 21 de março de 2023.

DES. MÁRIO PARENTE TEÓFILO NETO


RELATOR

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