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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR MÁRIO PARENTE TEÓFILO NETO
considerando o art. 112, §7º da LEP (“o bom comportamento é readquirido após 1 (um) ano
da ocorrência do fato, ou antes, após o cumprimento do requisito temporal exigível para a
obtenção do direito”), também não se notam elementos robustos para evidenciar o bom
comportamento.
6. Por analogia ao art. 55 da LEP, que aduz que as recompensas têm em vista o bom
comportamento reconhecido em favor do condenado, de sua colaboração com a disciplina
e de sua dedicação ao trabalho; e levando em conta o art. 112, §1º da LEP, que dispõe que o
apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa conduta carcerária,
comprovada pelo diretor do estabelecimento, ainda não resta atingido o requisito subjetivo
do bom comportamento, por ausência de comprovação.
7. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
benefício de livramento condicional em 14/4/2021, mas lhe foi negada a benesse em razão de
ter ele cometido falta grave.
Sustentou que a falta grave ocorreu há mais de dois anos, em 14/4/2020. Que o
apenado apresentou bom comportamento durante o cumprimento da pena e que possui
contrato de trabalho formalizado e ainda vigente, o que lhe garantirá a subsistência.
Narrou que o juízo da execução remiu 52 dias da pena em razão do projeto
remição pela leitura (projeto livro aberto), mas não considerou a conclusão do ensino
fundamental do apenado.
Suscitou que fosse deferido o pedido de livramento condicional e que fosse
remida a pena em razão da conclusão do ensino fundamental.
Contrarrazões às págs. 18/20.
Parecer do ministério público às págs. 30/36, opinando pelo conhecimento e
improvimento do agravo.
É o relatório.
VOTO
LEP.
A prova do ENCCEJA é direcionada à certificação de conclusão no ensino
fundamental ou médio. No âmbito penal, sua destinação visa a obtenção de novos
conhecimentos por parte do apenado, de modo a por a salvo a finalidade reeducativa da pena.
In casu, embora pleiteie a remição de pena por aprovação na prova do ENCCEJA,
tem-se que o agravante já havia concluído o ensino fundamental antes de sua realização.
A finalidade reeducativa da pena não foi observada neste caso, uma vez que não há fato
novo apto a evidenciar o fomento de aquisição de novos conhecimentos por parte do
apenado, que tão somente realizou exame compatível com o nível de ensino que já lhes
era auferido anteriormente.
Nesse sentido:
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL.
EXECUÇÃO PENAL. VIOLAÇÃO DO ART. 126 DA LEP. PLEITO
DE RECONHECIMENTO DA REMIÇÃO PELO ESTUDO.
APROVAÇÃO NO ENEM (EXAME NACIONAL DO ENSINO
MÉDIO) APÓS A CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO.
SENTENCIADO PORTADOR DE DIPLOMA DE CURSO
SUPERIOR. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DA BENESSE.
1. Visando à ressocialização do apenado e tendo como base o direito
fundamental à Educação, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por
meio da Recomendação n. 44/2013 - posteriormente substituída pela
Resolução n. 391/2021 -, estabeleceu a possibilidade de remição de
pena à pessoa privada de liberdade, que, por meio de estudos por conta
própria, vier a ser aprovada nos exames que certificam a conclusão do
ensino fundamental ou médio (ENCCEJA ou outros) e aprovação no
Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
2. Com efeito, o propósito da remição pelo estudo não é
simplesmente diminuir o tempo de encarceramento, mas,
sobretudo, fomentar a aquisição de novos conhecimentos e
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Conta nos autos que o apenado cometeu falta grave em 14/4/2020, razão pela qual
foi-lhe negado livramento condicional em 27/4/2021(mov. 83) por esse motivo. Nessa
decisão, o juiz da execução utilizou os mesmos fundamentos acima transcritos, evidenciando
que negou o pedido de livramento condicional duas vezes pelos mesmos motivos (uma em
2021 e outra em 2022).
Referidas faltas não devem ser utilizadas como fundamento para negar o benefício
do livramento condicional por tempo indeterminado, mas não deixo de ponderá-las, uma vez
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que essas devem ser levadas em consideração quando da análise do requisito subjetivo para a
concessão da benesse.
Saliento que o comportamento do preso deve ser tomado em sua integralidade:
"As faltas graves praticadas pelo apenado durante todo o cumprimento da pena, embora não
interrompam a contagem do prazo para o livramento condicional, justificam o indeferimento
do benefício por ausência do requisito subjetivo. 3. Não se aplica limite temporal à análise
do requisito subjetivo, devendo ser analisado todo o período de execução da pena, a fim
de se averiguar o mérito do apenado" (STJ, HC 564.292/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 16/6/2020, DJe 23/6/2020).
À luz da doutrina: “com a edição da Lei 10.792/2003, o art. 112, caput, da Lei de
Execução Penal refere-se ao ‘bom comportamento carcerário’, e não mais ao
comportamento satisfatório. Contudo, a redação do CP foi mantida (art. 83, III). Esse
requisito deve ser comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional, levando em
conta o modo de agir do condenado após o início da execução da pena, desprezando-se seu
comportamento pretérito. Nos termos da súmula 441 do STJ: ‘a falta grave não interrompe o
prazo para obtenção de livramento condicional’. No caso concreto, entretanto, a prática de
falta grave pode inviabilizar o benefício, em face da ausência de um dos seus requisitos
subjetivos, qual seja, o bom comportamento carcerário”. (MASSON, Cleber. Código
Penal Comentado. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019. p. 456).
É dizer, que embora tais faltas não sejam consideradas ad aeternum, sobretudo
considerando o art. 112, §7º da LEP (“o bom comportamento é readquirido após 1 (um) ano
da ocorrência do fato, ou antes, após o cumprimento do requisito temporal exigível para a
obtenção do direito”), também não se notam elementos robustos para evidenciar o bom
comportamento.
Por analogia ao art. 55 da LEP, que aduz que as recompensas têm em vista o
bom comportamento reconhecido em favor do condenado, de sua colaboração com a
disciplina e de sua dedicação ao trabalho; e levando em conta o art. 112, §1º da LEP, que
dispõe que o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa conduta
carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento, entendo que ainda não resta
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É como voto.