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AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2095238 - SP (2022/0085589-7)

RELATORA : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


AGRAVANTE : SOPEC - SOCIEDADE PAULISTA DE ENSINO E CULTURA LTDA
ADVOGADO : ADRIANO BONAMETTI - SP139271
AGRAVADO : FLAVIANA TEIXEIRA CONSTANTINO
ADVOGADO : ALMIRO CAMPOS SOARES JUNIOR - SP272811
INTERES. : INSTITUIÇÃO CHADDAD DE ENSINO LTDA
ADVOGADO : JOSIANE DE OLIVEIRA ALVES VIANA - SP401314

EMENTA

DIREITO CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. ENCERRAMENTO
ANTECIPADO DE CURSO SUPERIOR. AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO POR SI SÓ.
INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR QUE POSSUI AUTONOMIA
ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA.
1. A extinção antecipada de curso superior encontra amparo na autonomia
universitária, motivo pelo qual a indenização por dano moral será cabível tão somente
se configurada a existência de alguma conduta desleal ou abusiva da instituição de
ensino. Precedentes.
2. A cláusula que prevê a extinção de curso superior não é abusiva por si só. Cabe ao
Tribunal estadual promover o exame da conformidade da conduta da instituição de
ensino com o princípio da boa fé.
3. De rigor o retorno dos autos para que o Tribunal de origem observe a jurisprudência
desta Corte.
4. Agravo interno parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 06/12/2022 a
12/12/2022, por unanimidade, dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Raul Araújo, Antonio Carlos Ferreira e
Marco Buzzi votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo.

Brasília, 12 de dezembro de 2022.

MARIA ISABEL GALLOTTI


Relatora
Superior Tribunal de Justiça
AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2.095.238 - SP (2022/0085589-7)

RELATÓRIO

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: Trata-se de agravo interno


interposto em face de decisão proferida pela Presidência desta Corte Superior, a
qual não conheceu do agravo em recurso especial, uma vez que a parte agravante
deixou de impugnar especificamente os fundamentos da decisão agravada,
nomeadamente a ausência de similitude fática.
Em seu recurso, a agravante sustenta que houve a impugnação dos
fundamentos da decisão agravada, especialmente porque comprovou a existência
de dissenso jurisprudencial e a similitude fática e jurídica entre os acórdãos
paradigmas e o acórdão recorrido.
Reitera seus argumentos acerca da licitude da extinção de curso
superior, pois, enquanto instituição de ensino privada, detém autonomia universitária
para tanto.
Afirma que atuou conforme dita o princípio da boa fé., fornecendo
informação adequada e prévia aos alunos, bem como oferecendo alternativas em
iguais condições e valores.
Assevera que o acórdão estadual efetivamente contrariou a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e de outro Tribunal local.
Intimada, a agravada não apresentou impugnação (e-STJ, fl. 706).
É o relatório.

AREsp 2095238 Petição : 463636/2022 C54252415547029030801:@ C425098047890032524434@


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AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2.095.238 - SP (2022/0085589-7)

RELATORA : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


AGRAVANTE : SOPEC - SOCIEDADE PAULISTA DE ENSINO E CULTURA
LTDA
ADVOGADO : ADRIANO BONAMETTI - SP139271
AGRAVADO : FLAVIANA TEIXEIRA CONSTANTINO
ADVOGADO : ALMIRO CAMPOS SOARES JUNIOR - SP272811
INTERES. : INSTITUIÇÃO CHADDAD DE ENSINO LTDA
ADVOGADO : JOSIANE DE OLIVEIRA ALVES VIANA - SP401314
EMENTA

DIREITO CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
ENCERRAMENTO ANTECIPADO DE CURSO SUPERIOR. AUSÊNCIA DE ATO
ILÍCITO POR SI SÓ. INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR QUE POSSUI
AUTONOMIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA.
1. A extinção antecipada de curso superior encontra amparo na autonomia
universitária, motivo pelo qual a indenização por dano moral será cabível tão
somente se configurada a existência de alguma conduta desleal ou abusiva da
instituição de ensino. Precedentes.
2. A cláusula que prevê a extinção de curso superior não é abusiva por si só. Cabe
ao Tribunal estadual promover o exame da conformidade da conduta da instituição
de ensino com o princípio da boa fé.
3. De rigor o retorno dos autos para que o Tribunal de origem observe a
jurisprudência desta Corte.
4. Agravo interno parcialmente provido.

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VOTO

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI (Relatora): A irresignação


merece parcial provimento.
A recorrente manifestou agravo contra decisão que negou seguimento
a recurso especial interposto em face de acórdão com a seguinte ementa (e-STJ, fl.
480/481):
Apelação. Prestação de serviços educacionais. Ação de indenização
por danos materiais e morais. Sentença de parcial procedência.
Acolhimento apenas do pedido de indenização por danos morais.
Apelação interposta pelas rés. Legitimidade da ré, cujo logotipo e
nome fantasia constaram de todos os instrumentos firmados com a
autora. Confusão nos documentos disponibilizados aos alunos sobre
qual das rés era a efetiva prestadora dos serviços. Extinção do curso
de ensino superior ministrado pelas rés à autora. Contrato que
continha apenas informação genérica acerca da possibilidade de
extinção do curso por ausência de quorum mínimo, mas sem
disciplinar as opções que seriam oferecidas ao aluno nesse caso.
Encerramento do curso informado aos alunos às vésperas do início
das aulas. Opções ofertadas aos alunos que não se mostram capazes
de, nem mesmo, minimizar os prejuízos causados. Oferta de
continuidade do curso em outra cidade, com distância aproximada de
130 km ou de transferência para outros cursos que em nada se
relacionam com aquele que era cursado pela autora e, ainda assim,
ministrados também em outra cidade. Autora que, sem melhor opção,
precisou, por si só, procurar outra instituição de ensino às vésperas do
ano letivo. Danos morais configurados. Quantum indenizatório fixado
na r. sentença em valor razoável, que não merece redução. Recursos
não providos.

Alegou, na ocasião, violação dos artigos 53, inciso I e § 1º, inciso I, da


Lei 9.394/63, e do artigo 944 do Código Civil. Apontou divergência jurisprudencial.
Sustentou que o exercício da autonomia universitária foi violado pelo
acórdão recorrido, pois as instituições de ensino privadas gozam de autonomia para
extinguir cursos, não havendo ilegalidade em cláusula que determina a extinção,
caso não haja preenchimento de número mínimo de vagas.
Afirma que o processo de extinção da instituição foi amplamente
divulgado e que aos alunos foram oferecidas alternativas para a continuidade dos
estudos em iguais condições e valores.
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Pleiteia o reconhecimento da licitude dos termos contratuais firmados
entre as partes ou, subsidiariamente, da necessidade de se reduzir o valor de R$
10.000,00 (dez mil reais) fixado a título de indenização.
A Corte local concluiu pela abusividade da cláusula contratual que
previa as condições para o encerramento do curso e, quanto às alternativas
oferecidas, entendeu que não eram suficientes. Transcrevo (e-STJ, fls. 484/489):

Consta da inicial que a autora firmou com as rés contrato de prestação


de serviços educacionais relativo ao curso superior de Engenharia
Civil, sendo que, quando estava no 5º semestre, em 2018, foi
informada que o curso seria encerrado por não ter atingido o número
mínimo de alunos, tendo sido lhe oferecidas três opções: 1) viajar 170
km, todos os dias, até a cidade de Avaré/SP para dar continuidade no
curso; 2) escolher outro curso na cidade de Itapetininga; 3) receber a
devolução da matrícula que já havia pago, caso decidisse pedir
transferência para outra instituição. Considerando as opções
verdadeiro engodo, ajuizou a presente demanda visando ao
ressarcimento pelos danos materiais e morais sofridos.
As rés não negam o encerramento do curso na unidade onde a autora
se encontrava matriculada, em decorrência da ausência de quorum
mínimo, arguindo que agiram no exercício regular de direito e que
deram opções aos alunos para reparar o prejuízo da melhor forma
para cada um. Não se ignora a autonomia das instituições de ensino
superior para criação, organização e extinção de cursos e programas
de educação, nos termos do art. 207 da Constituição Federal e do art.
53, inciso I, da Lei 9.394/1996, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional.
Contudo, é igualmente relevante consignar que a instituição de ensino
não pode simplesmente invocar o exercício de tal autonomia para
justificar a descontinuidade da prestação dos serviços a que foi
contratada.
Em que pese a inviabilidade econômico-financeira para a instituição de
ensino continuar a oferecer um curso pela ausência de quantidade
mínima de alunos matriculados, o aluno não pode ser prejudicado com
a mera interrupção do curso, incumbindo à instituição de ensino
ofertar alternativas ao aluno com iguais condições e valores, de forma
a minimizar os prejuízos decorrentes da impossibilidade de finalizar o
curso tal como planejado inicialmente.
Alegam as rés que a autora tinha pleno conhecimento da possibilidade
de encerramento do curso no caso de inviabilidade por ausência de
quorum mínimo, sendo que houve informação nesse sentido no

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contrato firmado e em editais publicados semestralmente pela
faculdade.
Infere-se a fls. 244 dos autos que, do contrato firmado pela autora
constou mesmo a cláusula IX, segundo a qual: “A contratada se
reserva o direito de não abrir turmas que apresentem menos do que
25 (vinte e cinco) alunos, sendo termo inicial ou não”. No entanto, na
hipótese, deve-se ter em mente que a relação é disciplinada pelo
Código de Defesa do Consumidor (artigos 2º e 3º, da Lei nº
8.078/1990), pelo qual tem-se a mitigação da aplicação do princípio da
pacta sunt servanda, a fim de proteger a parte hipossuficiente na
relação. Daí resulta que, tratando-se de contrato firmado entre as
partes tipicamente de adesão, mostra-se abusiva a cláusula restritiva
de direito, que beneficia apenas a instituição de ensino, garantindo-lhe
o direito de extinguir o curso a qualquer momento em razão da
inviabilidade financeira, sem garantir ao aluno, previamente, as opções
que lhe serão ofertadas. O serviço oferecido pelas rés caracteriza-se
de longa duração, uma vez que os cursos superiores são ministrados
em vários semestres, pelo que não pode o aluno, consumidor
contratante, ficar à deriva com inconstante incerteza sobre a
continuidade do curso que contratou e sem conhecimento das opções
que terá em caso de sua extinção.
Tanto isso é verdade que, ao aditar o contrato para a rematrícula no
semestre seguinte, as rés alteraram a citada cláusula, passando a
constar que: “A contratada se reserva o direito de não abrir turmas
que apresentem menos do que 50 (cinquenta) alunos, sendo termo
inicial ou não” (fl. 248 realce não original).
Se isso não bastasse, os alunos foram informados sobre a extinção do
curso às vésperas do início das aulas do primeiro semestre de 2018,
tanto que o instrumento de rescisão foi firmado em fevereiro daquele
ano (fls. 255/256).
Ademais, embora as rés tenham oferecido opções aos alunos quando
da extinção do curso, não se mostram elas condizentes com as
condições inicialmente contratadas pela autora.
As opções ofertadas pelas rés foram as seguintes: 1) continuidade do
curso em outra instituição conveniada, na cidade de Avaré, a pouco
mais de 130 km de distância de Tatuí; 2) continuidade da graduação,
em outra instituição conveniada, em Itapetininga (Administração,
Biomedicina, Farmácia, Fisioterapia, Enfermagem ou Psicologia); 3)
devolução do valor pago de matrícula para transferência à outra
instituição de ensino a escolha do aluno.
Não há como exigir que o aluno se desloque 130 Km todos os dias, no
período noturno, ainda que tenham as rés garantido que seria

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concedido desconto na mensalidade no valor corresponde aos gastos
com o deslocamento (fls. 255/256). Isso porque o problema maior não
consiste nas despesas que a transferência iria acarretar, mas, sim, os
transtornos com o deslocamento para outra cidade, o enfrentamento
de trânsito, a necessidade de utilizar rodovias em período noturno e o
tempo dispensado com a viagem.
A segunda opção ofertada pelas rés não pode, nem de longe, servir
de amparo à autora, pois os cursos disponibilizados (Administração,
Biomedicina, Farmácia, Fisioterapia, Enfermagem ou Psicologia) em
nada se relaciona com o que era por ela cursado (Engenharia Civil),
sendo pouco provável, que houvesse, inclusive, aproveitamento de
matérias, tal como alegam as rés. Além disso, tais cursos sequer eram
oferecidos na cidade de Tatuí, sendo em uma faculdade conveniada
em Itapetininga.
Por fim, não restou alternativa à autora, senão, concordar com a
terceira opção oferecida pelas rés de reaver o valor pago da matrícula
e procurar, por si só, outra instituição que aceitasse sua transferência,
a fim de que pudesse finalizar o curso escolhido de Engenharia Civil.
Desse modo, não há dúvida de que os fatos acarretaram à autora
mais que mero aborrecimento, sendo que as incertezas e a
preocupação em procurar outra instituição de ensino às vésperas do
início do ano letivo, por certo, ensejaram abalo psíquico à autora, que
merece reparação.
Nesse sentido (...)
No que tange ao valor, o arbitramento dos danos morais deve ser feito
guardando proporcionalidade com o grau de culpa do infrator e com a
pretensão e situação retratada nos autos, sendo certo que o valor dos
danos morais, que têm natureza punitiva e ao mesmo tempo
reparadora, deve ser estimado em termos razoáveis, não se
justificando imposição que possa implicar enriquecimento ilícito nem
aquela que não exerça função reparadora.
Portanto, à luz dos critérios supracitados e levando-se em
consideração as peculiaridades do caso concreto e o grau de culpa
das rés, reputase adequado o quantum fixado na r. Sentença, no
importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais); o suficiente para causar
repreensão à parte ré, evitando a reiteração da conduta ilícita e, no
que tange à autora, para compensar e atenuar os danos morais
experimentados, sem, contudo, representar enriquecimento imotivado.

Sobre o tema, tem-se que a jurisprudência desta Corte se firmou no


sentido de que a extinção antecipada de curso superior, ainda que por razões de
ordem econômica, encontra amparo no art. 207 da Constituição Federal e na Lei nº
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9.394/1996, que asseguram autonomia universitária de ordem administrativa e
financeira, motivo pelo qual a indenização por dano moral será cabível tão somente
se configurada a existência de alguma conduta desleal ou abusiva da instituição de
ensino.
A propósito:

RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. ENSINO SUPERIOR.


PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS POR INSTITUIÇÃO PRIVADA.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - CDC. EXTINÇÃO
ANTECIPADA DE CURSO. AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA.
CONDUTA DESLEAL OU ABUSIVA. AUSÊNCIA.
1. O contrato de prestação de serviços educacionais está sujeito às
disposições contidas no Código de Defesa do Consumidor - CDC. O
estudante é um consumidor de serviços educacionais. A universidade,
por sua vez, deve prestar seus serviços na forma contratada,
oferecendo salas de aula, professores e conteúdo didático- científico
adequados ao bom desenvolvimento do curso universitário.
2. A extinção antecipada de curso superior, ainda que por razões de
ordem econômica, encontra amparo no art. 207 da Constituição
Federal e na Lei nº 9.394/1996, que asseguram autonomia
universitária de ordem administrativa e financeira, motivo pelo qual a
indenização por dano moral será cabível tão somente se configurada a
existência de alguma conduta desleal ou abusiva da instituição de
ensino.
3. Na hipótese, segundo as instâncias ordinárias, a universidade teria
comunicado previamente a extinção do curso, oferecido restituição
integral dos valores pagos e oportunidade de transferência, o que
demonstra transparência e boa-fé, não caracterizando, por
conseguinte, nenhum ato abusivo a ensejar indenização por danos
morais.
4. Recurso especial não provido.
(REsp 1155866/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 10/02/2015, DJe 18/02/2015)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PROCESSUAL CIVIL. ENSINO SUPERIOR. INSTITUIÇÃO
PRIVADA. EXTINÇÃO ANTECIPADA DE CURSO. DANOS
MATERIAIS E MORAIS. REAPRECIAÇÃO DE PROVAS.
INVIABILIDADE. SÚMULAS Nº 7/STJ. DISSÍDIO NÃO
CONFIGURADO. EMBARGOS PROTELATÓRIOS. MULTA. ART.
1.026, § 2º DO CPC/2015. CABIMENTO.

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1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência
do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs
2 e 3/STJ).
2. A extinção antecipada de curso superior, ainda que por razões de
ordem econômica, encontra amparo no art. 207 da Constituição
Federal e na Lei nº 9.394/1996, que asseguram autonomia
universitária de ordem administrativa e financeira, motivo pelo qual a
indenização por dano moral será cabível tão somente se configurada a
existência de alguma conduta desleal ou abusiva da instituição de
ensino.Precedente.
3. Na hipótese, acolher a tese da agravante exigiria exceder os
fundamentos do acórdão impugnado e adentrar no exame das provas
e cláusulas contratuais, procedimentos vedados em recurso especial,
a teor da Súmula nº 7/STJ.
4. Rever o conjunto fático-probatório da causa obsta a admissão do
recurso especial tanto pela alínea "a" quanto pela alínea "c" do
permissivo constitucional.
5. Não escapa a parte recorrente da imposição da multa do art. 1.026,
§ 2º, do CPC/2015 diante da oposição de embargos de declaração
com intuito manifestamente protelatório.
6. Agravo interno não provido."
(AgInt no AREsp 1313942/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/5/2019, DJe
21/5/2019)

RECURSO ESPECIAL. INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR.


VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. INÉPCIA
DA PETIÇÃO INICIAL. INEXISTÊNCIA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. EXTINÇÃO DE CURSO
SEQUENCIAL. POSSIBILIDADE. AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA.
PECULIARIDADES DO CASO QUE REVELAM A CONDUTA
ABUSIVA E ILEGAL DA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL. DANO
MORAL RECONHECIDO. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. Não há falar em violação ao art. 535 do Código de Processo Civil
na hipótese em que o acórdão recorrido resolve todas as questões
pertinentes ao litígio, tornando-se dispensável que venha a examinar
todos os argumentos trazidos pelas partes.
2. A ação de indenização proposta em desfavor de instituição privada
de ensino, tendo por fundamento a extinção de curso superior, deve
ser julgada e processada na Justiça comum estadual.
3. Não se revela inepta a petição inicial que, nos autos da ação de
indenização, requer ao magistrado o arbitramento do valor da

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reparação por dano moral ao seu prudente arbítrio, sem que isso
implique violação ao art. 286, caput, do Código de Processo Civil.
4. A instituição educacional privada de ensino superior goza de
autonomia universitária, nos termos do art. 207 da Constituição
Federal, razão pela qual é possível proceder à extinção de curso
superior, conforme preceito constante do art. 53, I, da Lei n.
9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
5. Apesar da autonomia universitária quanto à possibilidade de
extinção de curso superior, o caso revela que a conduta da instituição
de ensino se mostrou abusiva.
6. Não se verifica que a instituição de ensino tentou realizar convênio
com outras faculdades ou universidades que oferecessem curso
idêntico ou similar, com o intuito de atender aos interesses dos alunos
que pretendiam a formação em tempo mais curto.
7. Inexiste comprovação da existência de outras instituições que
oferecessem curso equivalente na mesma região, de modo que os
alunos pudessem realizar a transferência sem grandes transtornos
operacionais e/ou financeiros.
8. A conduta da instituição de ensino afrontou o § 1º do art. 4º da
Resolução n. 1/1999, do Conselho Nacional de Educação, segundo o
qual os cursos sequenciais de formação específica podem ser
encerrados a qualquer tempo, desde que seja assegurada a
conclusão dos estudos, no próprio curso, dos alunos nele
matriculados.
9. Recurso especial não provido.
(REsp n. 1.453.852/GO, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta
Turma, julgado em 27/10/2015, DJe de 20/11/2015.)

Assim, anoto que o encerramento de curso universitário ou de


instituição universitária, não constitui ato ilícito, por si só.
Na hipótese, observa-se que a Corte de origem não se manifestou
sobre a existência de alguma conduta abusiva ou desleal da instituição de ensino,
para configuração do dano moral, de modo que se faz necessário o retorno dos
autos à origem, ante a impossibilidade de reexame de fatos e provas nesta instância,
nos termos da Súmula 7/STJ.
Nesse sentido já decidiu esta Quarta Turma:

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MATERIAIS. ENCERRAMENTO ANTECIPADO DE CURSO
SUPERIOR. AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO. INSTITUIÇÃO DE

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ENSINO SUPERIOR QUE POSSUI AUTONOMIA
ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Segundo o entendimento do STJ, ""A extinção antecipada de curso
superior, ainda que por razões de ordem econômica, encontra amparo
no art. 207 da Constituição Federal e na Lei nº 9.394/1996, que
asseguram autonomia universitária de ordem administrativa e
financeira, motivo pelo qual a indenização por dano moral será cabível
tão somente se configurada a existência de alguma conduta desleal ou
abusiva da instituição de ensino".(REsp 1155866/RS, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
10/02/2015, DJe 18/02/2015).
2. Na hipótese, o tribunal estadual, de forma contrária à jurisprudência
desta Corte, concluiu que houve ato ilícito por parte da instituição de
ensino, em razão do encerramento antecipado do curso superior
cursado pela agravante.
3. Todavia, não se manifestou sobre a existência de eventual
comunicação prévia à extinção do curso, oferecimento de restituição
integral dos valores pagos e/ou oportunidade de transferência. Sendo
assim, de rigor o retorno dos autos para que o Tribunal de origem
observe a jurisprudência desta Corte.
4. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp n. 2.045.625/SP, relator Ministro Raul Araújo,
Quarta Turma, julgado em 27/6/2022, DJe de 29/6/2022.)

Conclui-se portanto que o recurso merece parcial provimento.


Ante o exposto, conheço do agravo para dar parcial provimento ao
recurso especial, a fim de determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem, para
que julgue a demanda nos termos da jurisprudência do STJ.
É o voto.

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TERMO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
AgInt no AREsp 2.095.238 / SP
Número Registro: 2022/0085589-7 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
10070492220188260624 1007049222018826062450000

Sessão Virtual de 06/12/2022 a 12/12/2022

Relator do AgInt
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO

Secretário
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO

AGRAVANTE : SOPEC - SOCIEDADE PAULISTA DE ENSINO E CULTURA LTDA


ADVOGADO : ADRIANO BONAMETTI - SP139271
AGRAVADO : FLAVIANA TEIXEIRA CONSTANTINO
ADVOGADO : ALMIRO CAMPOS SOARES JUNIOR - SP272811
INTERES. : INSTITUIÇÃO CHADDAD DE ENSINO LTDA
ADVOGADO : JOSIANE DE OLIVEIRA ALVES VIANA - SP401314

ASSUNTO : DIREITO DO CONSUMIDOR - CONTRATOS DE CONSUMO - ESTABELECIMENTOS


DE ENSINO

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : SOPEC - SOCIEDADE PAULISTA DE ENSINO E CULTURA LTDA


ADVOGADO : ADRIANO BONAMETTI - SP139271
AGRAVADO : FLAVIANA TEIXEIRA CONSTANTINO
ADVOGADO : ALMIRO CAMPOS SOARES JUNIOR - SP272811
INTERES. : INSTITUIÇÃO CHADDAD DE ENSINO LTDA
ADVOGADO : JOSIANE DE OLIVEIRA ALVES VIANA - SP401314

TERMO

A QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 06/12/2022 a 12/12


/2022, por unanimidade, decidiu dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora.
Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Raul Araújo, Antonio Carlos Ferreira e Marco Buzzi
votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo.

Brasília, 13 de dezembro de 2022

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