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AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2317439 - RN (2023/0081309-8)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO


AGRAVANTE : APEC - SOCIEDADE POTIGUAR DE EDUCAÇÃO E CULTURA
LTDA
ADVOGADOS : PAULO DE SOUZA COUTINHO FILHO - RN002779
INGRID DIAS DA FONSECA - RN018335
LUANNA GRACIELE MACIEL - RN016432
AGRAVADO : VITORIA DUARTE DE ARAUJO MEIRELLES
ADVOGADO : MARIA ESTHER DA CONCEIÇÃO FELIX BARBALHO - RN012368

EMENTA

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS.
VIOLAÇÃO DOS ARTS. 11 E 489 DO NCPC. ALEGAÇÕES
GENÉRICAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 284 DO
STF. COBRANÇA DO VALOR INTEGRAL DE MENSALIDADE DE
ENSINO, MESMO QUANDO O CONSUMIDOR CURSA POUCAS
DISCIPLINAS. ABUSIVIDADE. CONSONÂNCIA COM O
ENTENDIMENTO DO STJ. INVIABILIDADE DE REEXAME DO
CONTRATO.INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS NºS 5 E 7 DO STJ.
AGRAVO CONHECIDO. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO.

DECISÃO

Trata-se de agravo em recurso especial interposto por APEC –SOCIEDADE


POTIGUAR DE EDUCAÇAO E CULTURA LTDA. (APEC) contra decisão que não
admitiu seu apelo nobre.

É o relatório.

Decido.

O agravo é espécie recursal cabível, foi interposto tempestivamente e com


impugnação adequada aos fundamentos da decisão recorrida.

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: terça-feira, 07 de novembro de 2023


Documento eletrônico VDA39032085 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Moura Ribeiro Assinado em: 06/11/2023 14:22:40
Publicação no DJe/STJ nº 3752 de 07/11/2023. Código de Controle do Documento: df25d12d-0fc8-4600-9ab1-33debf20b3f8
CONHEÇO, portanto, o agravo e passo ao exame do recurso especial, que
não merece prosperar.

Nas razões de seu apelo nobre, interposto com base no art. 105, III, alíneas
a e c, da CF, APEC alegou a violação dos arts. 186, 188 e 927 do CC e 11 e 489 do
NCPC, ao sustentar que (1) o acórdão estadual padece de deficiência de
fundamentação; e (2) não praticou ato ilícito.
Pois bem.

(1) Da alegação genérica de violação aos arts. 11 e 489 do NCPC

Nas razões do seu recurso, APEC alegou, genericamente, que o acórdão


estadual padece de deficiência de fundamentação sem, contudo, indicar quais seriam
os pontos sobre os quais o Tribunal de origem teria incorrido em nulidade.

Nestes casos, ante a deficiente fundamentação do recurso, incide a Súmula


nº 284 do STF, por analogia: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a
deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia.

Não se conhece, portanto, da violação ao art. 1.022, do NCPC.

(2) Do ato ilícito

O TJRN foi claro ao consignar que a cobrança integral das mensalidades,


sem considerar o número de disciplinas cursadas, mostra-se abusiva, concluindo que
a instituição de ensino deve cobrar as suas mensalidades no valor proporcional às
disciplinas cursadas pelo autor, ou seja, conforme os serviços que prestar ao aluno,
restando-lhe devida a restituição dos valores que adimpliu em excesso, sob pena de
enriquecimento sem causa da ré.
O acórdão estadual está de acordo com o entendimento do STJ sobre o
tema:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ENSINO


SUPERIOR. MENSALIDADE. COBRANÇA INTEGRAL.
IMPOSSIBILIDADE. DISCIPLINAS. CORRELAÇÃO. SÚMULA N.
83/STJ. INOVAÇÃO. PRECLUSÃO.
1. É abusiva cláusula contratual que dispõe sobre o pagamento
integral da semestralidade quando o aluno não cursa todas as
disciplinas ofertadas no período.
2. A parte, em agravo regimental, não pode, em face da preclusão
consumativa, inovar em sua argumentação, trazendo questões não
expostas no recurso especial.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp n. 1.509.008/SE, relator Ministro João Otávio de
Noronha, Terceira Turma, julgado em 16/2/2016, DJe de 19/2/2016.)

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DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. APRECIAÇÃO
DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. INVIABILIDADE. COBRANÇA DO
VALOR INTEGRAL DE MENSALIDADE DE ENSINO, MESMO
QUANDO O CONSUMIDOR CURSA POUCAS DISCIPLINAS.
IMPOSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO EM DOBRO DO VALOR PAGO.
NECESSIDADE DE CARACTERIZAÇÃO DA MÁ-FÉ. INVERSÃO DO
ÔNUS DA PROVA. APRECIAÇÃO PELO JUIZ ACERCA DA
NECESSIDADE.
1. A jurisprudência do STJ não admite cobrança de mensalidade de
serviço educacional pelo sistema de valor fixo, independentemente do
número de disciplinas cursadas. Notadamente no caso em julgamento,
em que o aluno cursou novamente apenas as disciplinas em que
reprovou, bem como houve cobrança integral da mensalidade, mesmo
quando era dispensado de matérias cumpridas em faculdade anterior.
2. Com efeito, a previsão contratual e/ou regimental que imponha o
pagamento integral da mensalidade, independentemente do número
de disciplinas que o aluno cursar, mostra-se abusiva, por ferir o
equilíbrio e a boa-fé objetiva.
3. Não é cabível a devolução em dobro do valor cobrado
indevidamente, pois a jurisprudência desta Corte entende ser
imprescindível a demonstração da má-fé por parte de quem realizou a
cobrança, o que não foi constatado pelas instâncias ordinárias.
4. A inversão do ônus da prova, prevista no artigo 6º, VIII, do CDC
exige apreciação acerca da sua necessidade pelo juiz que, de forma
prudente e fundamentada, deve avaliar, no caso concreto, a
necessidade da redistribuição da carga probatória.
5. Recurso especial parcialmente provido para reconhecer o direito do
consumidor ao abatimento proporcional das mensalidades pagas.
(REsp n. 927.457/SP, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta
Turma, julgado em 13/12/2011, DJe de 1/2/2012.)

Ademais, rever as conclusões quanto ao ponto demandaria,


necessariamente, reexame do conjunto fático-probatório dos autos e do contrato
firmado entre as partes, o que é vedado em razão dos óbices das Súmulas nºs 5 e 7 do
STJ.

Nessas condições, CONHEÇO do agravo para NÃO CONHECER do recurso


especial.

MAJORO em 5% o valor dos honorários advocatícios anteriormente fixados


em favor da recorrida, limitados a 20%, nos termos do art. 85, § 11, do NCPC.

Por oportuno, previno que a interposição de recurso contra esta decisão, se


declarado manifestamente inadmissível, protelatório ou improcedente, poderá acarretar
condenação às penalidades fixadas nos arts. 1.021, § 4º, ou 1.026, § 2º, ambos do
NCPC.

Publique-se. Intimem-se.

Brasília, 06 de novembro de 2023.

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Ministro MOURA RIBEIRO
Relator

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