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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.22.107611-0/001 Númeração 5012402-


Relator: Des.(a) Rui de Almeida Magalhães
Relator do Acordão: Des.(a) Rui de Almeida Magalhães
Data do Julgamento: 27/07/2022
Data da Publicação: 29/07/2022

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - RESPONSABILIDADE CIVIL - PRIVAÇÃO


DE PARTICIPAÇÃO NA PRÓPRIA COLAÇÃO DE GRAU - CONDUTA
ANTIJURÍDICA DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO - AUSÊNCIA DE
INFORMAÇÃO QUANTO À DATA - DANO MORAL CONFIGURADO -
QUANTUM INDENIZATÓRIO - RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE
- RECURSO PRINCIPAL E ADESIVO NÃO PROVIDOS. A omissão da
instituição de ensino em informar ao aluno a data prevista para sua colação
de grau, mesmo quando provocada por este, gera dano moral indenizável em
razão da frustação da legítima expectativa de participar da cerimônia ao lado
dos colegas, familiares e amigos. Contudo, para fixação do dano moral deve
se atentar para a proporcionalidade e razoabilidade.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.22.107611-0/001 - COMARCA DE


UBERLÂNDIA - APELANTE(S): DOUGLAS DANILO GARCIA NASCIMENTO
EM CAUSA PRÓPRIA, EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S/A -
APELADO(A)(S): DOUGLAS DANILO GARCIA NASCIMENTO EM CAUSA
PRÓPRIA, EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S/A

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 11ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO PRINCIPAL E ADESIVO.

DES. RUI DE ALMEIDA MAGALHÃES

RELATOR

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

DES. RUI DE ALMEIDA MAGALHÃES (RELATOR)

VOTO

Trata-se de recursos de apelação principal e adesivo interposto por


EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL (Apelante principal - doc.
ordem 43) S/A, e DOUGLAS DANILO GRACIA NASCIMENTO (Apelante
adesivo - doc. ordem 49), em face da sentença proferida pelo MM. Juiz de
Direito da 9ª Vara Cível da comarca Uberlândia, que julgou procedente o
pedido formulado na inicial.

Na origem, o autor, ora apelante adesivo, ajuizou AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS (doc. ordem 2) em desfavor da ré, ora
apelante principal, e aduziu, em apertada síntese, que ao concluir sua
graduação no curso de Direito junto a ré, se matriculou em um curso de Pós-
Graduação em fevereiro de 2019, oportunidade em que lhe foi dado um
prazo para apresentar o certificado de conclusão do curso de graduação.

Defende que, apesar de várias tentativas para descobrir a data da


realização da colocação de grau, ocasião em que seria entregue o referido
certificado, a ré não lhe enviou o e-mail contendo as informações sobre o
evento, impedindo-o de participar.

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Argumentou que essa situação lhe causou constrangimento, angústia e


humilhação, uma vez que não pôde participar da cerimônia da sua colação
de grau por culpa exclusiva da ré.

Por essa razão, requereu a sua condenação da ré, ora apelante principal,
ao pagamento de R$ 20.000,00, a título de danos morais ou, eventualmente,
na hipótese de outro entendimento, que a indenização seja arbitrada pelo
juízo.

A sentença recorrida (doc. ordem 39) tem o seguinte dispositivo:

(...) Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado na inicial,


resolvendo o mérito do processo, nos termos do art. 487, I, do CPC, para:

a) CONDENAR a ré ao pagamento da quantia de R$ 10.000,00 (dez mil


reais), a título de indenização por danos morais, o qual deverá ser corrigido
monetariamente a partir do arbitramento (súmula 362/STJ), pelos índices
divulgados pela CGJ-TJMG e acrescido de juros moratórios de 1% ao mês, a
partir da data do evento danoso, qual seja, data da entrega dos certificados
de conclusão e convites de colação, em 15/03/2019 (Id.114318382), nos
termos do art. 398 do CC e súmula 54 do STJ.

CONDENO a ré ao pagamento das custas processuais e honorários


advocatícios. Fixo os honorários advocatícios em 10% do valor da
condenação.

Sobrevindo a apresentação de recurso de apelação por qualquer das

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partes, dê-se vista à parte apelada para contrarrazões no prazo legal (art.
1.010, §1º, do CPC). Vindo aos autos as contrarrazões ou certificada a
inércia do

apelado, remetam-se os autos ao TJMG, dispensando-se a admissibilidade,


nos termos do art. 1.010, §3º, do CPC).(...)

Em suas razões recursais (doc. ordem 43), alega a apelante principal,


que não praticou ato ilícito ou agiu de má-fé, uma vez encaminhou o e-mail
de comunicação da Cerimônia de colação de grau para o endereço
cadastrado no sistema, bem como, tendo em vista a impossibilidade dele
comparecer ao ato, tentou minimizar as consequências, providenciando a
certidão de conclusão de curso para o aluno e disponibilizando a primeira
data possível para nova participação na cerimônia.

Sustenta que o autor, ora apelante adesivo, não sofreu qualquer


constrangimento ou dano, uma vez que efetivamente concluiu a graduação e
obteve o certificado.

Defende a inexistência de conduta ilícita, dano ou nexo de causalidade


capaz de gerar dano moral indenizável. Aduz que, subsidiariamente, caso
seja mantida a condenação em dano moral, deve o valor ser reduzido à luz
da proporcionalidade e razoabilidade, por ser exorbitante e excessivo o valor
de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Por fim, pugna pelo provimento do recurso para reformar a sentença e


julgar totalmente improcedente a pretensão inicial.

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O autor, ora apelante adesivo, sustenta em suas razões, que o valor de


R$ 10.000,00 (dez mil reais) fixados a título de dano moral é ínfimo, pois tal
valor não corresponde ao valor econômico desta ação, ou seja, não condiz
com o bem perseguido e tampouco é capaz de alcançar seu principal
objetivo.

Aduz que, o dano moral além de punir tem caráter pedagógico.

Sustenta que em razão do ato ilícito da ré, ora apelante principal,


experimentou grande constrangimento, angústia e humilhação, por culpa
única e exclusiva da recorrida, uma vez que em razão da falha procedimental
o recorrente adesivo não foi avisado da cerimônia de colação de grau, sendo
impedido de celebrar um momento tão importante na presença de familiares,
amigos e professores. Sustenta que o dano experimentado ultrapassa os
meros aborrecimentos.

Por fim, pugna pelo conhecimento e provimento do recurso adesivo para


reformara a sentença e majorar o valor arbitrado a título de danos morais.

Contrarrazões ao apelo principal (doc. ordem 47), pugnando pelo seu não
conhecimento, sem, contudo, suscitar qualquer preliminar e, no mérito, pelo
seu desprovimento e pela majoração dos honorários sucumbenciais.

Contrarrazões ao recurso adesivo (doc. ordem 52) pugnando pelo

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seu desprovimento.

Em síntese, é o relatório.

Presentes os pressupostos de admissibilidade recursal e não havendo


preliminares suscitadas e tampouco a serem conhecidas de ofício, conheço
do recurso.

Passo à análise do mérito recursal.

Da atenta análise dos autos verifico que em 07/02/2019 (doc. ordem 9) o


autor, ora apelante adesivo, encaminhou e-mail para a ré, ora apelante
principal, solicitando informações sobre a data prevista para sua colação de
grau.

Contudo, somente em 09/04/2019 (doc. ordem 10), a ré respondeu ao e-


mail informando que a data da entrega dos certificados de conclusão de
curso e convites da colação seria 15/03/2019 e a data da cerimônia seria
06/04/2019, portanto, quando da resposta ao e-mail tais datas já haviam se
passado.

Constata-se ainda que em 28/05/2019 em resposta a outro e-mail


encaminhado pelo autor, a ré, se desculpa com o autor pelo ocorrido e lhe
oferece a oportunidade de participar da colação de grau da próxima turma,
caso ele fizesse questão de participar da cerimônia

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para tirar fotos e levar a família (doc. ordem 11).

A parte ré, por sua vez, funda sua pretensão no fato de que encaminhou
e-mail com as informações sobre a colação de grau para o e-mail cadastrado
pelo autor. Contudo, não traz prova de suas alegações e além do mais
reconhece o erro na prestação dos serviços e se desculpa com a parte
autora.

Logo, está demonstrado nos autos que a parte autora, ora apelante
adesiva, foi privada do seu legítimo direito de participar da sua cerimônia de
colação de grau, com os demais colegas, amigos e familiares, por erro
imputado à ré, ora apelante principal.

Nessa forma, à luz da responsabilidade objetiva do fornecedor havendo


v iolaç ão d e u m d e v e r j u r íd ico a r e sp o n sa b ilid a d e civil se dá
independentemente da demonstração de culpa à luz do art. 14 do Código de
Defesa do Consumidor.

Logo, no caso concreto, reconhecida a falha na prestação do serviço,


demonstrada a existência do dano moral e do nexo de causalidade e, não
tendo a parte ré, ora apelante principal trazido aos autos nenhuma
excludente de responsabilidade, impõe-se o reconhecimento da existência de
dano moral indenizável.

Contudo, quanto ao montante fixado a título de danos morais, tenho em


que pese a conduta da ré evidenciar falha nos serviços prestados, sendo
inafastável a responsabilidade ré, os danos morais

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devem ser fixados com prudência, devendo o magistrado ser pautar pela
razoabilidade e proporcionalidade.

Há prova do ilícito civil, do dano e do nexo causal, pelo que deve ser a
parte autora indenizada, consoante dispõe o art. 186, CC/02.

Quanto à indenização por dano moral, o art. 5º, X, da Constituição


Federal preceitua que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação".

Assim, entendo que o quantum indenizatório deve seguir os critérios da


razoabilidade e da proporcionalidade, sendo fixado num valor que tenha
realmente o condão de reparar ou ao menos amenizar o dano sofrido.

Se é certo que o valor da indenização por dano moral não pode ser fonte
de ganho fácil para quem o sofreu, este também não pode ser irrisório a
ponto de não reparar o dano, e deve levar em conta o dano no caso
concreto. E no presente caso, em que não houve dano moral grave, pois não
houve repercussão social ou cobrança vexatória, tenho que o valor de
R$10.000,00 (dez mil reais) é suficiente e razoável.

Ademais, é preciso levar em consideração que, a ré, ora apelante


principal, ofereceu ao autor a possibilidade de colação de grau em ouro
evento futuro, que muito embora não tenha a mesma importância é capaz de
minorar o dano experimentado.

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Registre-se ainda que, em que pese o fato de a parte autora, ora


apelante adesiva, ressaltar que se matriculou em um pós-graduação não há
nos autos qualquer demonstração de prejuízo em relação ao curso ou sua
conclusão, sobretudo porque a declaração de conclusão de curso fora
emitida.

Logo, tenho que dano moral se dá apenas pela privação de participar de


sua colação de grau, sem qualquer repercussão social grave ou sem
qualquer peculiaridade que imponha uma compensação maior do que a
estabelecida pelo juiz na origem.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO AOS RECURSOS PRINCIPAL E


ADESIVO.

Custas recursais pelos apelantes, suspensa a exigibilidade em relação ao


apelante adesivo, em razão de justiça gratuita que lhe fora deferida.

Nos termos do que dispõe o art. 85, § 11, do CPC, majoro os honorários
advocatícios suportados pelos apelantes para 16% do valor da condenação,
sendo que o acréscimo de 3% para cada parte, suspensa a exigibilidade em
relação ao apelante adesivo.

É como voto.

SÚMULA:

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DES. MARCOS LINCOLN - De acordo com o(a) Relator(a).

DESA. MÔNICA LIBÂNIO ROCHA BRETAS - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO PRINCIPAL


E ADESIVO."

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