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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.22.091006-1/001 Númeração 0910079-


Relator: Des.(a) Marcelo Pereira da Silva (JD Convocado)
Relator do Acordão: Des.(a) Marcelo Pereira da Silva (JD Convocado)
Data do Julgamento: 28/07/2022
Data da Publicação: 29/07/2022

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS - FIM DO CASAMENTO - TRAIÇÃO - PRESCRIÇÃO -
NÃO OCORRÊNCIA. A pretensão de indenização por danos morais
decorrentes de traições durante o casamento deve observar o prazo
prescricional de três anos, nos termos do artigo 206, § 3º, V, do Código Civil.
O termo inicial para a contagem da prescrição é a data da sentença que
reconheceu o divórcio. Não há que se falar em ocorrência da prescrição se a
ação foi ajuizada antes do término do prazo de três anos da data da
sentença que reconheceu o divórcio.

AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.22.091006-1/001 - COMARCA


DE VARGINHA - AGRAVANTE(S): DANIELLE EDITH GOMES -
AGRAVADO(A)(S): WEMERSON SEBASTIAO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 12ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

JD. CONVOCADO MARCELO PEREIRA DA SILVA

RELATOR

JD. CONVOCADO MARCELO PEREIRA DA SILVA (RELATOR)

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VOTO

DANIELLE EDITH GOMES agrava da decisão (ordem 02), integrada pela


deliberação de embargos de declaração (ordem 03), proferida nos autos da
ação de indenização, ajuizada por WEMERSON SEBASTIÃO, que rejeitou
prejudicial de mérito ventilada nos autos, nos seguintes termos:

"Trata-se de AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS proposta por


WEMERSON SEBASTIÃO em face de DANIELLE EDITH GOMES. Os autos
vieram conclusos para saneamento. Decido. Partes legítimas e bem
representadas não havendo nulidades ou irregularidades a serem sanadas.
Quanto à Impugnação a justiça gratuita, intime-se o Requerente para, no
prazo de 15 dias, juntar aos autos suas últimas 03 declarações de bens e
rendimentos prestadas à Receita Federal. A Requerida suscitou prejudicial
de mérito da prescrição, sob o argumento de que os fatos que deram ensejo
à propositura da presente ação ocorreram em 20/07/2017. No entanto, a
presente ação somente foi ajuizada em 30/03/2021, ou seja, após o prazo
prescricional previsto no art. 206, §3º, V, do CC. Em relação à prescrição, é
de se salientar que o art. 189, do CC, consagra o princípio da actio nata,
segundo o qual a prescrição só começa a correr após a efetiva lesão do
direito. O mencionado dispositivo legal prevê que, "violado o direito, nasce
para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a
que aludem os arts. 205 e 206". Pelo princípio actio nata, o início da
contagem do prazo prescricional ocorre quando o titular do direito
supostamente toma conhecimento de seu nascedouro ou de sua violação,
momento em que tem interesse para ingressar em juízo. Consistindo a
prescrição na extinção da pretensão pelo decurso do tempo, a violação em si
do direito não basta para deflagrar a fluência do prazo prescricional, pois
apenas o conhecimento da lesão possibilita ao respectivo titular o exercício
do direito de ação. Nesse sentido são os ensinamentos de Cristiano Chaves
de Farias e Nelson Rosenvald: [...]. Analisando os

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autos, entendo que o Requerente não tomou conhecimento da alegada


infidelidade quando do divórcio, em 20/07/2017, mas tão somente em abril de
2018, quando contratou um detetive particular para seguir a Requerente,
flagrando-a com o suposto concubino, como demonstram as fotografias
juntadas na petição de ID 8319798015. Considerando que a ação foi
proposta em 30/03/2021, a pretensão autoral não restou atingida pela
prescrição. Isto posto, rejeito a prejudicial de mérito. Intimem-se as partes
para, no prazo de 05 dias, especificarem provas. P.I.C".

A agravante sustenta a prescrição da pretensão reparatória da ação de


indenização de origem, fundamentada no descumprimento de suas
obrigações como mãe e esposa, e, ainda, abandono do lar, provocados pela
existência de suposto relacionamento extraconjugal dela, ajuizada pelo
agravado, em 30/03/2021, o qual afirmou nos autos que soube do
envolvimento extramatrimonial no mês de abril de 2018.

Segundo a agravante, na data de 16/07/2017 deixou o lar conjugal em


razão das ameaças sofridas pelo agravado e, por causa das trocas das
fechaduras do imóvel, não conseguiu acessar seus pertences, conforme
comprova Boletim de Ocorrência formalizado em 20/07/2017, e, assim, a
afirmação de conhecimento da traição em julho de 2018 é contraditória com
a alegação de ciência da infidelidade por meio da mãe dele em abril de 2018.

Pontua incongruência de declarações do agravado nos autos, pois ele


também informou que somente soube da relação extraconjugal da agravante
após intimado para contestar ação de divórcio litigioso. Defende o cabimento
de condenação dele em litigância de má-fé, porque altera a verdade dos
acontecimentos.

Requer a concessão dos benefícios da justiça gratuita, a concessão do


efeito suspensivo ativo e o provimento do recurso para declarar a prescrição
da ação indenizatória.

Indeferido o pedido de justiça gratuita (ordem 111), a agravante

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recolheu o preparo (ordem114).

Admitido o processamento do recurso (ordem 115).

Em contraminuta (ordem 117), o agravado pugna pelo desprovimento do


recurso.

É o relatório.

Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Aduz a agravante a ocorrência da prescrição da ação de indenização por


dano moral, visto que o agravado já tinha ciência da infidelidade em
16/07/2017.

O artigo 197 do Código Civil dispõe que:

"Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade


conjugal".

De acordo com o artigo 1.571 do Código Civil:

"A sociedade conjugal termina: I - pela morte de um dos cônjuges; II - pela


nulidade ou anulação do casamento; III - pela separação judicial; IV - pelo
divórcio".

Ainda, é cediço que a pretensão de reparação civil prescreve em 3 anos.


Verbis:

"Art. 206. Prescreve: § 3o Em três anos: V - a pretensão de reparação civil".

Desse modo, o termo inicial para a contagem da prescrição, in casu, é a


data da sentença que reconheceu o divórcio.

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Nesse sentido:

"EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS E MATERIAIS - PRESCRIÇÃO - NÃO OCORRÊNCIA - FIM DO
CASAMENTO - TRAIÇÃO - RESPONSABILIDADE SUBJETIVA - AUSÊNCIA
DE CULPA - AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO - AFASTADO O DEVER DE
INDENIZAR. - O termo inicial para a contagem da prescrição no caso sub
judice é a data da sentença que reconheceu o divórcio; e a data da
interrupção da prescrição, segundo o §1° do art. 219 do CPC/73 é a data da
propositura da ação, de modo que não restou configurada a ocorrência da
prescrição. - São requisitos para a ocorrência do dever de reparar: a
configuração de um ato ilícito, a comprovação do dano e o nexo causal entre
o ato ilícito e o dano causado. - Nos termos da teoria da responsabilidade
civil subjetiva é indispensável que se demonstre a culpa para a constatação
do ato ilícito. - Assim, ausentes os pressupostos condutores do dever de
reparar, na forma que preceitua o Código Civil, não há que se falar em
condenação por danos morais e materiais". (TJMG - Apelação Cível
1.0313.15.024832-3/001, Relator(a): Des.(a) Pedro Aleixo , 16ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 31/10/2018, publicação da súmula em 09/11/2018)

Não consta nos presentes autos a data da sentença que reconheceu o


divórcio.

Ocorre que, por meio dos documentos anexados pelas partes, verifico
que a ação de divórcio litigioso foi ajuizada em 01/09/2017 (f.198 - ordem
única), sendo a contestação apresentada em 08/08/2018 (f.251 - ordem
única) e, somente em 03/02/2020, foi realizada a audiência (ff.648/654 -
ordem única).

A ação de indenização por dano moral foi ajuizada em 30/03/2021.

Conclui-se, portanto, que não restou configurada a prescrição trienal para


reparação civil, devendo ser mantida a decisão agravada.

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Diante do exposto, nego provimento ao recurso.

Condeno a agravante ao pagamento das custas recursais.

DES. JOSÉ AUGUSTO LOURENÇO DOS SANTOS - De acordo com o(a)


Relator(a).

DESA. JULIANA CAMPOS HORTA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO."

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