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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.22.108636-6/001 Númeração 1086374-


Relator: Des.(a) Valdez Leite Machado
Relator do Acordão: Des.(a) Valdez Leite Machado
Data do Julgamento: 28/07/2022
Data da Publicação: 28/07/2022

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE REPARAÇÃO POR


DANOS MORAIS - FALECIMENTO DE FILHO EM ESTACIONAMENTO DE
EVENTO - RETIFICAÇÃO DO POLO PASSIVO APÓS CONTESTAÇÃO -
POSSIBILIDADE - ART 321 DO CPC/15.

- Restando esclarecido em contestação que um dos réus era apenas o


proprietário locador do imóvel onde ocorreu o evento em que o filho da
autora teria sido assassinado, deve ser mantida a decisão que determinou a
emenda da inicial, a partir do que restou apontado pela requerente na
impugnação à contestação, não havendo que se falar em inclusão da
agravante no polo passivo de ofício.

- Conforme disposto no art. 321 do CPC/15, o Juiz, ao verificar que a petição


inicial não preenche os requisitos dos artigos 319 e 320, ou que apresenta
defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito,
determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a
complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.

AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.22.108636-6/001 - COMARCA


DE VIÇOSA - AGRAVANTE(S): ORGANIZACAO BARATELLA E BALTAZAR
LTDA - EPP - AGRAVADO(A)(S): APARECIDA FIALHO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

DES. VALDEZ LEITE MACHADO

RELATOR

DES. VALDEZ LEITE MACHADO (RELATOR)

VOTO

Cuida-se de recurso de agravo de instrumento interposto por


Organização Baratella e Baltazar Eventos EIRELI, qualificada nos autos,
contra a decisão proferida pelo MM. Juiz da 1ª Vara Cível da Comarca de
Viçosa, que, na ação de reparação por danos morais ajuizada por Aparecida
Fialho, determinou a emenda da inicial, incluindo a ora agravante no polo
passivo da ação.

Alegou a agravante, em síntese, que a autora, ao ajuizar a ação de


reparação de danos na instância de origem, indicou como réu o "Sítio
Parthenon", para onde foi direcionada a citação e entregue na pessoa do Sr.
José Maria.

Afirmou que, no curso da ação, o "Sítio Parthenon" foi excluído da lide,


sendo, em sequência, a empresa ora recorrente citada para responder à
ação, por induzimento do juízo de origem, violando o princípio da inércia da
jurisdição.

Ressaltou ter sido indicada pelo juízo para figurar no polo passivo da
ação, sem que fosse apresentada qualquer vinculação aos fatos.

Argumentou ser da parte requerente, na ocasião da propositura da ação,


a prerrogativa de escolher contra quem vai demandar, não podendo, de
ofício, ser indicada a pessoa que o julgador entende que

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deverá figurar no polo passivo.

Entendendo presentes os requisitos legais, requereu a concessão do


efeito suspensivo, e ao final, o provimento definitivo, para reformar a decisão
que determinou a inclusão da empresa agravante no polo passivo da ação de
reparação de danos ajuizada pela agravada.

O pedido de efeito suspensivo foi deferido às f. 348-349 PDF.

A agravada apresentou a contraminuta de f. 354-356 PDF, pugnando


pela manutenção da decisão recorrida.

É o relatório em resumo.

Presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso, dele conheço.

Extrai-se dos autos que a agravada ajuizou uma ação de reparação de


danos morais em razão do falecimento de seu filho, Cleiton Fialho Rust, aos
29 anos, supostamente assassinado no estacionamento do "Sítio
Parthenon", na qual se realizava uma festa "calourada" dos estudantes da
Universidade de Viçosa, através de disparos de armas de fogo.

Inicialmente, a ação foi ajuizada em face de "Sítio Parthenon", Henrique


Celso Mamedi de Souza Júnior, Lucas Cardoso Gandolfi e "Equipe de
Segurança" (f. 15-20 PDF).

Foi determinada a emenda à inicial de f. 65 PDF, para informar a


profissão da autora, e a de f. 79 PDF, em razão de o juízo de origem ter
entendido que ""Sítio Parthenon" e "Equipe de Segurança" constituem
pessoas jurídicas, devendo diligenciar para obter e informar o CNPJ.
Alternativamente, não possuindo capacidade processual, deve a autora
emendar a inicial, com a retificação do polo passivo".

Impugnada a contestação pelo réu José Maria Baltazar às f. 160-

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168 PDF, esclareceu a autora que "Não restam dúvidas que ''Sitio
Parthenon'' pertence ao '' Buffet Cerimonial Parthenon'' é o nome fantasia da
empresa ORGANIZAÇÃO BARATELLA E BALTAZAR EVENTOS - CNPJ
01.005.782/0001-14, com sede à Rua Antônio Lopes Lélis, 199 - Santo
Antonio, Viçosa - MG, 36570-000, conforme endereço indicado na exordial"
(f. 161 PDF).

Neste contexto, às f. 232-233 PDF, foi novamente determinado a emenda


à inicial, nos seguintes termos:

"Outrossim, melhor compulsando o feito, verifica-se que a parte ré Sítio


Parthenon foi citada e intimada, consoante certidão de citação
(ID.84462342), na pessoa de seu representante legal, José Maria Baltazar.

Com efeito, em consulta realizada no site da Receita Federal, foi possível


verificar que o nome empresarial da parte ré é Organização Baratella e
Baltazar Eventos LTDA, e, também, que o Sócio-Administrador é, na
verdade, o sr. André Baratella Baltazar.

Assim, considerando que não há nos autos elementos que provem a


capacidade de José Maria Baltazar para receber citação em nome da ré,
forçoso reconhecer a invalidade da citação de ID. 84462342

1. Ante tais considerações, NÃO CONHEÇO a contestação apresentada ao


ID. 90728438, visto que juntada por pessoa alheia à relação jurídica da
presente demanda.

2. DECLARO a NULIDADE da citação realizada ao ID.84462342.

3. INTIME-SE a parte autora para diligenciar no sentido de obter a correta


qualificação da requerida, bem como de seu respectivo representante legal,
para fins de nova citação. Prazo de 15 (quinze) dias."

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A autora atendeu à determinação acima, sendo realizada a citação da


empresa ora agravante, que, na contestação de f. 255-265 PDF, arguiu a
preliminar de ilegitimidade passiva, restando decidido em relação a esta
questão que:

"À luz da chamada teoria da asserção, hodiernamente de grande aceitação


pela doutrina e jurisprudência pátrias, a análise das condições da ação deve
ocorrer no plano abstrato, levando-se em conta as alegações deduzidas pelo
autor, sem incursão na prova, sob pena de não se distinguir a relação de
direito material daquela travada no plano processual.

No caso vertente, a preliminar não prospera, pois cuida-se de ação de


reparação por danos morais, em que a autora, em síntese, alega a
responsabilidade solidária entre os fornecedores da cadeia de consumo.

Neste contexto, percebe-se que a legitimidade passiva do réu é um ponto


controvertido, dependendo, portanto, de prova.

É o caso, pois, de REJEITAR a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada.

(...)

Todavia, compulsando detidamente os autos, verifica-se que não houve


retificação do polo passivo processual de ofício deste Juízo, mas sim
oferecimento de prazo para parte autora emendar a inicial (ID.1189564929),
tendo como base os réus apresentados em exordial e a teoria da asserção."

Sobre o tema, em observância à efetividade e economia processual, os


artigos 338 e 339 do CPC/2015 dispõem que:

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"Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o
responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze)
dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu.

Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas


e pagará os honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados
entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos
termos do art. 85, § 8º.

Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito
passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob
pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos
prejuízos decorrentes da falta de indicação.

§ 1º O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze) dias,


à alteração da petição inicial para a substituição do réu, observando-se,
ainda, o parágrafo único do art. 338.

§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a petição


inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo réu.".

Dessa forma, o feito não pode ser extinto de plano com base em
ilegitimidade passiva alegada pelo réu em sede de contestação, sem que
seja facultada à parte autora a substituição do polo passivo, conforme o
previsto nos arts. 338 e 339 do CPC/15, acima citados.

Assim, a meu ver, na hipótese, ao contrário do que defende a empresa


agravante, não há de se falar que houve a inclusão da recorrente no polo
passivo de ofício.

Ademais, nos termos do que dispõe o art. 321, do Código de Processo


Civil (CPC), "O juiz, ao verificar que a petição inicial não

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preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e


irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que
o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando
com precisão o que deve ser corrigido ou completado".

Desta forma, ao ser determinada a emenda da inicial, o julgador deverá


indicar o que deve ser corrigido ou completado pela parte autora, exatamente
o que foi feito no caso em análise.

Foi determinada no juízo de origem a emenda da inicial, corrigindo o polo


passivo, após ter sido informado na contestação de f. 140-155 PDF que a
pessoa citada é distinta do represente legal da empresa Organização
Baratella e Baltazar Eventos EIRELI, ora recorrente.

Neste interim, não há qualquer nulidade a ser declarada ou mesmo,


neste momento processual, não há como ser acolhida a preliminar de
ilegitimidade passiva da ora agravante, uma vez que, não sendo por ela
negada a organização do evento em que os fatos narrados na inicial
ocorreram, deverá eventual (ir)responsabilidade pelos danos ser apurada
junto ao mérito.

A título de ilustração colaciono:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO MONITÓRIA - CONTRATO PARA


DESCONTO DE TÍTULOS - BORDERÔS E TÍTULOS NÃO
APRESENTADOS - INDEFERIMENTO DA INICIAL POR AUSÊNCIA DE
DOCUMENTO INDISPENSÁVEL À PROPOSITURA DA AÇÃO -
NECESSIDADE DE PRÉVIA OPORTUNIDADE DE
EMENDA/COMPLEMENTAÇÃO - ARTIGOS 320 E 321 DO CPC -
NULIDADE CONFIGURADA. O indeferimento da inicial, por ausência de
documento indispensável à propositura da ação, pressupõe prévia
oportunidade de emenda/complementação, nos moldes do comando
imperativo do art. 321 do CPC, sob pena de nulidade. (TJMG - Apelação
Cível 1.0000.18.128469-6/002, Relator

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(a): Des.(a) Mônica Libânio , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em


10/11/2021, publicação da súmula em 10/11/2021)

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - ARTIGO 1.022 DO CPC -


VÍCIO NO JULGADO - EFEITOS INFRINGENTES - ILEGITIMIDADE ATIVA -
PRINCÍPIOS DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS, RAZOABILIDADE
E ECONOMIA PROCESSUAL - PETIÇÃO INICIAL - INÉPCIA -
IRREGULARIDADE SANÁVEL - APLICAÇÃO DO ARTIGO 321 DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. Verificando-se a ocorrência de omissão, cabe o
julgamento dos embargos com o intuito de supri-la, decidindo a questão, que,
por lapso, escapou à decisão embargada. Lado outro, se resta configurada a
obscuridade e/ou a contradição, o decisório deverá ser expungido,
eliminando-se o defeito nele detectado. Ante a literalidade do artigo 321 da
Lei Instrumental, deve o juiz, obrigatoriamente, determinar a emenda da
inicial ou que o autor a complete, indicando com precisão o que deve ser
corrigido ou completado; somente se não for atendido, poderá indeferir a
petição inicial. (TJMG - Embargos de Declaração-Cv 1.0145.13.060192-
8/002, Relator(a): Des.(a) Dárcio Lopardi Mendes , 4ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 24/06/2021, publicação da súmula em 29/06/2021)

Diante do exposto, revogo a decisão que deferiu o efeito suspensivo e


nego provimento ao recurso.

Custas recursais pela parte agravante.

DESA. EVANGELINA CASTILHO DUARTE - De acordo com o(a) Relator(a).

DESA. CLÁUDIA MAIA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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