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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO

Ação Revisional de Contrato de Plano de Saúde

Proc. nº. 44556.11.8.2222.99.0001

Agravante: Maria da Silva

Agravado: Plano de Saúde Zeta S/A

MARIA DA SILVA (“Agravante”), viúva, aposentada, residente e domiciliada na


Rua Delta nº. 0000, nesta Capital, inscrita no CPF (MF) sob o nº. 111.222.333-44, com
endereço eletrônico ficto@ficticio.com.br, ora intermediada por seu mandatário ao
final firmado – instrumento procuratório acostado –, esse com endereço eletrônico e
profissional inserto na referida procuração, a qual, em obediência à diretriz fixada no
art. 77, inc. V, do CPC, indica-o para as intimações que se fizerem necessárias,
comparece, com o devido respeito a Vossa Excelência, não se conformando com a
decisão interlocutória de fls. 27/29, junto à Ação Revisional de Cláusula de Reajuste
de Plano de Saúde supracitada, e, por essa razão, vem interpor o presente recurso de

AGRAVO DE INSTRUMENTO
C/C

PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA RECURSAL,


com guarida no art. 995, parágrafo único c/c art. 1.015, inc. I, um e outro do
Código de Processo Civil, em razão das justificativas abaixo evidenciadas.

NOMES E ENDEREÇOS DOS ADVOGADOS

A Agravante informa o(s) nome(s) e endereço(s) dos


advogados habilitados nos autos, aptos a serem intimados dos atos processuais (CPC,
art. 1.016, inc. IV):

DA AGRAVANTE: Dr. Beltrano de tal, inscrito na Ordem dos Advogados do


Brasil, Seção do Estado, sob o nº. 11222333, com escritório profissional sito na Rua
dos Tabajaras, nº. 3344, nesta Cidade, endereço eletrônico beltrano@beltrano.com.br;

DO AGRAVADO: Deixa de indicar porquanto ainda não formada a relação


processual;

DA TEMPESTIVIDADE DESTE RECURSO

O recurso deve ser considerado como tempestivo. O patrono da parte


Agravante fora intimado da decisão atacada na data de 00 de março de 0000,
consoante se vê da certidão ora acostada. (CPC, art. 1.017, inc. I).

Dessarte, fora intimado em 00 de março de 0000, por meio do Diário da


Justiça nº. 0000 (CPC, art. 231, inc. VII c/c 1.003, § 2º). Igualmente, visto que o lapso
de tempo do recurso em espécie é quinzenal (CPC, art. 1.003, § 5º) e, por isso, atesta-
se que o prazo processual fora devidamente obedecido.
FORMAÇÃO DO INSTRUMENTO

a) Preparo (CPC, art. 1.007, caput c/c art. 1.017, § 1º)

A Agravante deixa de acostar o comprovante de


recolhimento do preparo, dado que à mesma foram concedidos os benefícios da
gratuidade da Justiça.

Com efeito, utiliza-se do preceito contido no art. 1017,


§ 1º, do CPC.

b) Peças obrigatórias e facultativas (CPC, art. 1.017, inc. I e III)

Os autos do processo em espécie não são eletrônicos.


Em razão disso, informa que o presente Agravo de Instrumento é instruído com cópia
integral do processo originário, entre cópias facultativas e obrigatórias, motivo tal que
declara como sendo autênticos e conferidos com os originais, sob as penas da lei.

· Procuração outorgado ao advogado do Agravante (CPC, art. 1.017, inc. I;

· Petição inicial da ação revisional (CPC, art. 1.017, inc. I);

· Decisão que deferiu a gratuidade da justiça da justiça (CPC, art. 99,


caput);
· Decisão interlocutória recorrida (CPC, art. 1.017, inc. I);

· Certidão narrativa de intimação do patrono da Recorrente (CPC, art.


1.017, inc. I);

· Tabela de reajuste da ANS (CPC, art.1.017, inc. III);

· Boletos pagos do plano de saúde (CPC, art.1.017, inc. III);

· Contrato firmado com a operadora de plano de saúde (CPC, art. 1.017,


inc. III);

· Cópia integral do processo (CPC, art. 1.017, inc. III).

Diante disso, pleiteia-se o processamento do presente


recurso, sendo o mesmo distribuído a uma das Câmaras de Direito Privado deste
Egrégio Tribunal de Justiça (CPC, art. 1.016, caput), para que seja, inicialmente, e
com urgência, submetido para análise do pedido de tutela recursal (CPC, art. 1.019,
inc. I).

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de janeiro de 0000.

Beltrano de tal

Advogado – OAB (PP) 112233


RAZÕES DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

Agravante: Maria da Silva

Agravado: Plano de Saúde Zeta S/A

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO

PRECLARO RELATOR

DOS FATOS E DO DIREITO

(CPC, art. 1.016, inc. II)

( 1 ) – CONSIDERAÇÕES DO PROCESSADO

A Recorrente ajuizara ação revisional de cláusula de


reajuste de fator etário, com o fito de anular cláusula que permite aumento, aleatório,
em virtude de fator etário.

Sustentou-se, em síntese, que o reajuste não tem


fundamento concreto, margeando-se, tão-só, pelo simples fato de se alcançar a idade
de 59 anos de idade. Assim, sofrera reajuste abusivo decorrente de, exclusivamente,
sua faixa etária.
Lado outro, argumenta-se que o reajuste, em razão da
idade, viola o artigo 15, § 3º, do Estatuto do Idoso. Ademais, esse dispositivo se aplica
aos contratos celebrados anteriormente à sua vigência.

Porém, conclusos os autos, ao apreciar o pedido de


tutela de urgência, almejando-se a suspensão do reajuste aplicado, o magistrado de
planície indeferiu-o.

( 2 ) – A DECISÃO RECORRIDA

De boa conduta processual que evidenciemos, de


pronto, a decisão interlocutória atacada, para que esta Relatoria possa melhor se
conduzir.

Decidiu o senhor magistrado, processante do feito, em


seu último ato processual, ora hostilizado, in verbis:

(...)

Desse modo, a abusividade dos reajustes, ao menos nesse momento, procedidos


pelo plano de saúde, não se mostra evidente.

Urge asseverar, portanto, o fato de haver previsão de reajuste do contrato de


plano de saúde em razão da faixa etária, mesmo para idosos, não configura, por si só,
abusividade. Tal entendimento foi inclusive firmado recentemente em sede de
Recurso representativo da controvérsia no STJ.

De outro modo, exige-se, para o deferimento da tutela liminar, fundada na


urgência, a existência de "elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo" (art. 300, caput).
Destarte, mister se faz a demonstração da plausibilidade da pretensão do
direito material afirmado, somado ao perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo, o que, na espécie, não restou demonstrado.

Assim sendo, entendo que não se pode afirmar, neste momento, plausibilidade
nas alegações dos recorrentes, de forma a conceder a tutela provisória pretendida,
devendo-se aguardar a dilação probatória, quando será possível aferir a alegada
abusividade de forma mais robusta.

Por isso, INDEFIRO o pedido de tutela de urgência, por não atender aos
pressupostos processuais para esse intento.

Eis, pois, a decisão interlocutória guerreada, a qual, sem


sombra de dúvidas, permissa venia, merece ser reformada.

( 3 ) – ERROR IN JUDICANDO

Concessa venia, o magistrado, ao indeferir o pedido de


tutela de urgência, laborou em nítido equívoco.

É cediço, que o deferimento da tutela provisória de


urgência pressupõe a demonstração da probabilidade do direito, bem como a
comprovação do perigo de dano ou de ilícito, ou ainda, o comprometimento da
utilidade do resultado final que a demora do processo pode causar. (CPC, art. 300,
caput)

Cumulativamente com o preenchimento dos citados


pressupostos, necessário que os efeitos da tutela de urgência deferida sejam
reversíveis, considerando que sua concessão se dá com base em juízo de cognição
sumária, consoante preceitua o art. 300, § 3º do CPC.
3.1. Quanto à probabilidade do direito

Na espécie, nada obstante os fundamentos lançados no


decisório hostilizado, a probabilidade do direito da recorrente está demonstrada,
constando da peça de defesa apresentada pelo plano de saúde, a planilha de reajustes
por faixa etária, os reajustes aplicados pela ANS, os índices de correção monetária
para o período, ocorrendo tais aumentos, exclusivamente, após os 59 anos de idade.

Como se depreende do documento de identidade da


recorrente, essa conta com a idade de 61 anos de idade.

Doutro giro, os reajustes se mostram indevidos,


máxime por se apoiar, unicamente, em razão da alteração de sua faixa etária, tanto ao
completar 53 anos, quanto ao completarem 59 anos, incidindo reajustes consideráveis
de 74,27% e 86,32%, respectivamente. É visível a disparidade.

Convém notar, lado outro, que o reajuste dessa faixa


etária é muito superior aos demais reajustes de outras faixas etárias, dessa mesma
operadora aqui demandada. Sem dúvida, impusera-se um ônus excessivo ao usuário,
tornando-se quase que inviável o pagamento das ulteriores parcelas.

Nesse compasso, desnecessárias delongas para se


perceber que o aumento foi aleatório; sem fundamento à tamanha majoração; muito
além da inflação do período. É dizer, se compararmos aos outros aumentos, por outras
faixas etárias, mostra-se inescusável que o incremento é desnivelado. Sequer houve
uma diluição do reajuste; algo como que feito para afastar os idosos, que mais
necessitam, e que para eles “oneram os custos do plano”.

Portanto, é indubitável o aumento da mensalidade fora


efetuado exclusivamente em razão da faixa etária alcançada, sem qualquer outra
motivação.

Observemos, de modo exemplificativo, o que já


decidira nesse tocante:
APELAÇÃO. PLANO DE SAÚDE. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO
CONFIGURADO. INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL. INOCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO.
PRAZO. DEZ ANOS. REAJUSTE BASEADO EM MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PERCENTUAL. CRITÉRIOS.

1. A peça inaugural atende aos requisitos previstos no artigo 282 do Código de


Processo Civil de 1973, então vigente, pois os pedidos ali formulados, além de certos e
determinados, decorrem logicamente dos fatos expostos. 2. A prescrição ocorre em 10
(dez) anos, quando a Lei não lhe haja fixado prazo menor (artigo 205 do Código Civil).
3. Em se tratando de relação de consumo, as cláusulas previstas em regulamento de
plano de assistência à saúde, ao qual aderiu o usuário, devem ser interpretadas
favoravelmente a este, nos termos do art. 47 do Código de Defesa do Consumidor. 4.
Permite-se o reajuste da mensalidade vinculada ao plano de saúde em decorrência da
idade, desde que a variação estabelecida no contrato não seja sobremaneira elevada. 5.
Para os contratos firmados ou adaptados entre 2/1/1999 e 31/12/2003, deverão ser
cumpridas as regras constantes na Resolução CONSU nº 6/1998, que determina sejam
observadas 7 (sete) faixas etárias e que o limite de variação entre a primeira e a última
(o reajuste dos maiores de 70 anos) não poderá ser superior a 6 (seis) vezes o previsto
para os usuários entre 0 e 17 anos, não podendo também a variação de valor na
contraprestação atingir o usuário idoso vinculado ao plano ou seguro saúde há mais de
10 (dez) anos. (Tese firmada no julgamento do RESP 1568244/RJ. Superior Tribunal
de Justiça). [ ... ]

RECURSO INOMINADO. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE DE MENSALIDADE POR


MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. CONTRATO POSTERIOR À LEI Nº 9.658/98.
PARTICIPAÇÃO DO SEGURADO HÁ MAIS DE 10 ANOS.

Estatuto do idoso. Norma cogente de aplicação imediata, inclusive aos


contratos firmados anteriormente à sua vigência. Abusividade do reajuste em razão da
idade. Repetição do indébito. Restituição do excesso na forma simples. Recurso
parcialmente provido. [ ... ]
CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE INDIVIDUAL NÃO ADAPTADO. REAJUSTE
POR MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA (66 ANOS). AUSÊNCIA DE CLAREZA QUANTO AOS
CRITÉRIOS DE AUMENTO. ABUSIVIDADE. SUBSTITUIÇÃO PELO PERCENTUAL DE
11,75%. REAJUSTES ANUAIS. ÍNDICES PREVISTOS PELA ANS. APELO
PARCIALMENTE PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME.

1. O reajuste de mensalidade de plano de saúde por mudança de faixa etária do


beneficiário é válido desde que (i) haja previsão contratual, (ii) sejam observadas as
normas expedidas pelos órgãos governamentais reguladores e (iii) não sejam aplicados
percentuais desarrazoados ou aleatórios que, concretamente e sem base atuarial
idônea, onerem excessivamente o consumidor ou discriminem o idoso. RESP nº
1.568.244rj (tema 952). 2. Na espécie, a cláusula contratual que trata do reajuste por
mudança de faixa etária não especifica o percentual de aumento a incidir sobre o valor
da mensalidade por ocasião dos deslocamentos. Tal circunstância, por si só, já implica
em abusividade, visto que inexiste qualquer demonstração dos critérios utilizados e
dos cálculos atuariais realizados para justificar os percentuais adotados pela
seguradora. 3. Visando a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do contrato,
o índice utilizado pela seguradora (78,17%) deverá se amoldar ao que restou decidido
na ação civil pública (processo nº 0030284-04.2004.8.17.0001), na qual foi fixado o
percentual de 11,75%. 4. Recurso parcialmente provido para aplicar a majoração de
11,75%, relativa à mudança de faixa etária (a partir dos 66 anos), sem prejuízo da
aplicação dos reajustes anuais definidos pela ans. [ ... ]

Em verdade, veja-se que no mês anterior ao reajuste, a


parcela era de R$ 000,00; logo em seguida, unicamente por conta do fator etário, a
parcela passou ao montante de R$ 000,00. Isso representa um aumento próximo a
87% (oitenta e sete por cento). Abusivo ao extremo, sem dúvida.

Dessarte, é consabido que as regras contratuais


atinentes aos planos de saúde devem ser interpretadas em conjunto com as
disposições do Código de Defesa do Consumidor. Com esse proceder se alcança os fins
sociais preconizados na Constituição Federal.
Não se descura o entendimento já enfatizado pelo STJ,
em sede de recursos repetitivos (REsp nº. 1.568.244/RJ), no qual, ad litteram:

Reajuste de natureza etária admitido desde que (I) haja previsão contratual; (II)
sejam observadas as normas expedidas pelos órgãos governamentais reguladores; e,
(III) não sejam aplicados percentuais desarrazoados ou aleatórios que, concretamente
e sem base atuarial idônea, onerem excessivamente o consumidor ou discriminem o
idoso. III. Demonstrada previsão expressa de reajuste do prêmio fundado em alteração
de faixa etária.

A discussão, aqui delineada, desse modo, escapa da


incidência desse entendimento. Como alhures já afirmado, a majoração imposta não
tem guarida, máxime porque, em notória discriminação ao idoso, aplicado
aleatoriamente e sem qualquer justificativa atuarial.

Os aumentos impostos à Autora denotam práticas


abusivas e traduz-se como contrato oneroso. Em face disso, devem ser repelidas por
meio de comando judicial, segundo o que preceitua o Código de Defesa do
Consumidor:

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas


abusivas:

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua


idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou
serviços;

(...)

V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;


(...)

X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.

Art. 51 – São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais


relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o


consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
equidade;

(...)

X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de


maneira unilateral;

Sobressai-se da norma acima mencionada que são


nulas de pleno direito as obrigações consideradas incompatíveis com a boa-fé ou à
equidade.

A esse propósito, vale trazer à colação as lições de


Orlando da Silva Neto, nas quais revela argumentos ao artigo 39, do CDC, à luz dos
reajustes de planos de saúde. Confira-se:

A fragilidade dos idosos, por exemplo, se verifica nos reajustes excessivos em


contratos de natureza continuada, quando da mudança de faixa etária, prática que
vem sendo reprimida pelo Judiciário. [ ... ]
Nesse contexto, professa Rizzato Nunes que:

Dessa maneira percebe-se que a cláusula geral de boa-fé permite que o juiz crie
uma norma de conduta para o caso concreto, atendo-se sempre à realidade social, o
que nos remete à questão da equidade, prevista no final da norma em comento. [ ... ]

É necessário não perder de vista a posição da


jurisprudência:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE REPARAÇÃO POR DANOS


MORAIS E MATERIAIS NA QUAL A AUTORA RELATA QUE É TITULAR DE PLANO DE
SAÚDE OFERECIDO PELA RÉ HÁ MAIS DE DEZ ANOS E QUE, AO COMPLETAR 61
ANOS DE IDADE, TEVE O VALOR DE SUA PRESTAÇÃO MENSAL REAJUSTADO EM
47,14%. PEDIDOS CUMULADOS DE MANUTENÇÃO DO PLANO COM A PRESTAÇÃO NO
PATAMAR ANTERIOR AO REAJUSTE, RESTITUIÇÃO DE VALORES INDEVIDAMENTE
PAGOS E COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS.

2. Procedência parcial, acolhendo somente o pedido de recálculo da


mensalidade com os reajustes anuais e cálculo de reajuste por faixa etária conforme a
média da inflação segundo o IGPM. Apelo da ré. 3. Aplicabilidade das normas
constantes do CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Artigo 35-G da Lei nº 9.656/98
que se aplica subsidiariamente aos contratos de plano de saúde. 4. RESP
1.568.244/RJ, com repercussão geral (Tema 952/STJ), que decidiu que o reajuste da
mensalidade do plano de saúde em razão da faixa etária é possível, desde que obedeça
a determinados parâmetros que afastem a abusividade dos aumentos e haja previsão
no contrato. 5. A cláusula do contrato de adesão cláusula que prevê o reajuste por
faixa etária não indica o respectivo percentual. 6. Sob a ótica da legislação
consumerista, a prática de reajuste alheio à estipulação contratual se mostra abusiva,
nos termos do artigo 39, XIII, do CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Veda-se,
também, a submissão do consumidor a situação de vantagem manifestamente
excessiva para o fornecedor (artigo 39, V, do CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR).
7. Restou comprovado nos autos a alegação da autora quanto ao expressivo aumento
de sua mensalidade. Onerosidade que se reconhece, capaz de causar desequilíbrio
contratual, configurando reajuste abusivo por parte da ré8. Em conformidade com o
item 9 do RESP nº 1.568.244/RJ, uma vez reconhecida a abusividade do aumento
praticado pela operadora de plano de saúde em virtude da alteração de faixa etária do
usuário, é necessária a apuração de percentual adequado e razoável de majoração da
mensalidade em virtude da inserção do consumidor na nova faixa etária, o que deverá
ser feito por meio de cálculos atuariais na fase de cumprimento de sentença, devendo
a ré devolver à autora os valores cobrados a maior, acrescida dos consectários legais
constantes do julgado. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO. [ ... ]

Acrescente-se a incidência do Estatuto do Idoso, haja


vista a possibilidade da retroatividade da Lei a alcançar contratos anteriores.

O contrato em tablado fora celebrado entre as partes


no dia 05 de janeiro de 1997. É dizer, depois dessa data várias leis ordinárias foram
promulgadas, além de decretos e regulamentos, todos regrando a matéria ora trazida à
baila.

O primeiro dos dispositivos legais em estudo foi a Lei


Federal nº. 9.656/98, que assim reza:

Art. 35-E. A partir de 5 de junho de 1998, fica estabelecido para os contratos


celebrados anteriormente à data de vigência desta Lei que: (Incluído pela Medida
Provisória nº 2.177-44, de 2001)

I - qualquer variação na contraprestação pecuniária para consumidores


com mais de sessenta anos de idade estará sujeita à autorização prévia da ANS;
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

(...)
§ 1º Os contratos anteriores à vigência desta Lei, que estabeleçam
reajuste por mudança de faixa etária com idade inicial em sessenta anos ou mais,
deverão ser adaptados, até 31 de outubro de 1999, para repactuação da cláusula de
reajuste, observadas as seguintes disposições:

I - a repactuação será garantida aos consumidores de que trata o parágrafo


único do art. 15, para as mudanças de faixa etária ocorridas após a vigência desta Lei,
e limitar-se-á à diluição da aplicação do reajuste anteriormente previsto, em reajustes
parciais anuais, com adoção de percentual fixo que, aplicado a cada ano, permita
atingir o reajuste integral no início do último ano da faixa etária considerada;
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

II - para aplicação da fórmula de diluição, consideram-se de dez anos as


faixas etárias que tenham sido estipuladas sem limite superior;

III - a nova cláusula, contendo a fórmula de aplicação do reajuste, deverá


ser encaminhada aos consumidores, juntamente com o boleto ou título de cobrança,
com a demonstração do valor originalmente contratado, do valor repactuado e do
percentual de reajuste anual fixo, esclarecendo, ainda, que o seu pagamento
formalizará esta repactuação; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

IV - a cláusula original de reajuste deverá ter sido previamente submetida


à ANS;

V - na falta de aprovação prévia, a operadora, para que possa aplicar


reajuste por faixa etária a consumidores com sessenta anos ou mais de idade e dez
anos ou mais de contrato, deverá submeter à ANS as condições contratuais
acompanhadas de nota técnica, para, uma vez aprovada a cláusula e o percentual de
reajuste, adotar a diluição prevista neste parágrafo.

§ 2º Nos contratos individuais de produtos de que tratam o inciso I e o §


1o do art. 1o desta Lei, independentemente da data de sua celebração, a aplicação de
cláusula de reajuste das contraprestações pecuniárias dependerá de prévia aprovação
da ANS.
Fazendo alusão à regra acima citada, também na
mesma Lei, em seu art. 15 e seu parágrafo único há uma ênfase de que:

Art. 15. A variação das contraprestações pecuniárias estabelecidas nos


contratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei, em razão
da idade do consumidor, somente poderá ocorrer caso estejam previstas no contrato
inicial as faixas etárias e os percentuais de reajustes incidentes em cada uma delas,
conforme normas expedidas pela ANS, ressalvado o disposto no art. 35-E.

Parágrafo único. É vedada a variação a que alude o caput para


consumidores com mais de sessenta anos de idade, que participarem dos produtos de
que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o, ou sucessores, há mais de dez anos.

Contudo, o Estatuto do Idoso (Lei nº. 10.741/2003)


dispõe em seu art. 15, § 3º, que:

É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de


valores diferenciados em razão da idade.

Dessarte, o Estatuto do Idoso foi claro ao obstar que as


pessoas mais velhas fossem afetadas pelos impactos de alterações feitas pelos planos
de saúde privados.

A Lei Federal nº. 9.656/98, em seu art. 15, exclui os


idosos que participassem do plano há mais de dez anos. No entanto, o Estatuto do
idoso fez referência genérica, atingindo todos os filiados com idade acima de sessenta
anos.

( ... )
HELENA A. SALOMÃO ROCHA
OAB/MA 6322
(assinado digitalmente)

Helena Salomão Avenida Antares, n.913, Recanto dos Vinhais, São


advogada Luís - MA. (98) 98858-2629 / 98590-8162
(Whatsapp).

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