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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

1ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS - PROJUDI


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Autos nº. 0011474-11.2020.8.16.0045

Recurso: 0011474-11.2020.8.16.0045
Classe Processual: Recurso Inominado Cível
Assunto Principal: Indenização por Dano Moral
Recorrente(s): MARCIA LEMES
Recorrido(s): LUCIANO BORDIN

EMENTA: RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


PUBLICAÇÃO E COMENTÁRIO EM REDE SOCIAL. ABUSO DE
LIBERDADE DE EXPRESSÃO, COM VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA
PERSONALIDADE DO AUTOR. OFENSA. HONRA OBJETIVA E
IMAGEM ATINGIDAS. DANO MORAL MANTIDO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO MINORADO. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE.
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

1. RELATÓRIO

Relatório dispensado conforme art. 38 da Lei 9.099/95.

2. VOTO

Tendo em vista que a admissibilidade recursal definitiva compete a esta Turma


Recursal, passo a apreciar o pedido de assistência judiciária gratuita formulado pela parte
recorrente.

Do escrutínio dos documentos juntados à seq. 14, verifica-se que a parte não
aufere renda e se encontra desempregada, motivo pelo qual faz jus ao benefício da assistência
judiciária gratuita.

Assim, encontram-se supridos os requisitos intrínsecos e extrínsecos de


admissibilidade, motivo pelo qual deve o recurso ser conhecido.

Trata-se de ação de indenização por dano moral ajuizada em face dos réus, por
ofensas proferidas em rede social, bem como pela divulgação de vídeo satírico do autor.

A ré formulou pedido contraposto de indenização por dano moral, alegando


violação à sua imagem, à sua intimidade e à sua livre expressão.
Sobreveio sentença de procedência do pedido inicial, condenando-se a ré ao
pagamento de indenização no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), e de improcedência do
pedido contraposto.

Inconformada, pleiteia a ré o afastamento da condenação e, alternativamente, a


minoração do quantum indenizatório.

E, da análise dos autos, tem-se que lhe assiste razão em parte.

Restou incontroverso que a autora realizou comentários e publicações em rede


social a respeito do autor (seqs. 1.5 e 1.6), chamando-o de “senhor otário” e “retardado”. e
acusando-o de fazer “política suja”, em resposta a declarações suas em programa postado na
internet (seqs. 86.4 e 86.5) sobre manifestações de professores na Câmara Municipal da
cidade de Arapongas/PR, na qual trabalhou como assessor parlamentar de vereador.

Cinge-se a controvérsia à colisão entre direitos fundamentais exercidos pelas


partes, quais sejam, a liberdade de manifestação de pensamento e de expressão, de um lado,
e a inviolabilidade à honra e à imagem, de outro.

O direito de criticar a pessoa em razão do exercício de função pública não admite


a violação de outros direitos fundamentais do indivíduo, como a honra objetiva e a imagem
pessoal. Nesse sentido, cumpre determinar a ocorrência ou não do ato ilícito previsto no art.
187 do Código Civil.

Analisando-se as postagens da ré, tem-se que se mostraram vexatórias, com o


condão de ocasionar dano moral ao autor, porquanto não foram observados os limites da
liberdade de expressão e manifestação do pensamento.

Nesse sentido, convém destacar que os termos e os comportamentos atribuídos


ao autor, apesar de atacarem sua posição e atuação políticas, excederam manifestamente a
liberdade de expressão, violando a honra do autor ao ofendê-lo com palavras impróprias e
capazes de atingir sua moral.

Veja-se que, nada obstante a ré alegar que estava apenas respondendo às


declarações feitas pelo autor em programa postado na internet, das gravações acostadas aos
autos não se verifica quaisquer ofensas à sua honra ou à sua imagem. Ainda que assim não
fosse, a ocorrência de tais ofensas pelo autor em relação à ré não seria capaz de afastar a
responsabilidade desta pelos danos ocasionados.

Da mesma forma, o argumento de que vários professores também se


manifestaram contrariamente ao autor tampouco tem o condão de descaracterizar a conduta
da ré como abuso de direito, haja vista que a existência de mais ofensas e falas vexatórias não
têm a capacidade de desconfigurar os danos ocasionados pela atuação específica da ré.

No que toca à alegação de que, em seu depoimento pessoal (seq. 87.2), o autor
demonstrou não se lembrar do teor específico das ofensas proferidas pela ré, tem-se que tal
circunstância, embora indique um dano desprezível à honra subjetiva do reclamante, não
afasta a ocorrência de violação à sua honra objetiva e imagem perante a coletividade.
Assim sendo, tem-se que restaram caracterizados os requisitos ensejadores do
dever de indenizar da ré no caso em tela, não havendo que se falar em reforma da sentença
no que toca à indenização pelo dano moral sofrido pelo autor.

Em relação ao pleito sucessivo de minoração do quantum indenizatório, tem-se


que este merece acolhida. Isto porque resta consolidado, tanto na doutrina como na
jurisprudência pátria, o entendimento de que a fixação do valor da indenização por dano moral
deve ser feita com razoabilidade, levando-se em conta determinados critérios, como a situação
econômica da parte autora, o porte econômico da parte ré, o grau de culpa e a extensão do
dano, visando sempre à atenuação da ofensa, a atribuição do efeito sancionatório e a
estimulação de maior zelo na condução das relações.

Destarte, mostra-se excessivo o valor arbitrado pelo juízo a quo, impondo-se a


reforma da sentença no sentido de minorar o quantum indenizatório de R$ 4.000,00 (quatro mil
reais) para R$ 2.000,00 (dois mil reais), valor este que melhor se adequa às finalidades do
instituto, às peculiaridades do caso e às decisões semelhantes desta Turma Recursal,
evitando ainda o enriquecimento ilícito.

Este valor deve ser corrigido pela média do INPC/IGPDI a partir da decisão
condenatória, com incidência de juros de mora de 1% ao mês a partir do evento danoso,
conforme o Enunciado nº 1, “b”, da Turma Recursal Plena do Paraná.

Com tais considerações, voto por dar parcial provimento ao recurso


interposto, reformando-se a sentença unicamente para minorar o quantum indenizatório.

Diante do êxito parcial do recurso, condeno a parte recorrente ao pagamento de


verba honorária, arbitrada em 10% sobre o valor da condenação, com fulcro no art. 55 da Lei
n° 9.099/95, e custas processuais, na forma da Lei Estadual nº 18.413/14, observada a
suspensão na cobrança caso a parte seja beneficiária da assistência judiciária gratuita.

3. DISPOSITIVO

Ante o exposto, esta 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por
unanimidade dos votos, em relação ao recurso de MARCIA LEMES, julgar pelo(a) Com
Resolução do Mérito - Provimento em Parte nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Maria Fernanda Scheidemantel Nogara
Ferreira Da Costa, sem voto, e dele participaram os Juízes Vanessa Bassani (relator), Nestario
Da Silva Queiroz e Bruna Richa Cavalcanti De Albuquerque.

Curitiba, 27 de outubro de 2022

VANESSA BASSANI

Juíza Relatora

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