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Parte Geral II e
Processo de Conhecimento I
Disciplina: Parte Geral II e Processo de Conhecimento I
Autoria: Luís Henrique Bortolai
Estudo de Caso
1. Caso
Afrânio, vendedor de cachorro quente na cidade de Poços de Caldas/MG, utiliza o seu veículo como meio de
transporte para se deslocar até as festas nas quais participa, bem como nas vendas regulares que faz na praça
central da cidade. Após um problema com um dos seus fornecedores, por conta do pagamento de um boleto
devidamente quitado, porém não compensado pelo banco, Afrânio teve seu nome inscrito nos órgãos de
proteção ao crédito, mesmo tendo justificado e apresentado todos os comprovantes ao seu fornecedor, algo,
infelizmente, em vão.
Diante disso, Afrânio ingressa com ação contra o banco, devido ao problema causado pela não compensação
do boleto devidamente pago, bem como contra o seu fornecedor, porque deixou claro que o pagamento foi
feito e o problema foi causado por conta exclusiva do banco. Em sua petição inicial, o procurador de Afrânio
faz os seguintes pedidos: expedição de ordem judicial para retirada imediata do seu nome do SPC/SERASA
em sede de tutela antecipada; a condenação ao banco e ao fornecedor para pagamento de indenização por
danos morais, com valor a ser arbitrado pelo magistrado. A petição inicial foi instruída com documentos que
comprovam as alegações trazidas, com a atribuição do valor da causa de R$ 3 mil reais, não trazendo
qualquer tipo de alegação com relação à possibilidade de realização de audiência de conciliação para o caso,
mesmo sabendo da excelente estrutura existente na Comarca.
3. Objetivos
Gerais
Desenvolver a prática do magistrado, diante de um caso concreto apresentado.
Planejar as atividades no tempo disponível e na medida em que a situação necessita.
Desenvolver a autonomia na realização de pesquisas.
Ser criativo na solução do desafio.
Específicos
Compreender a necessidade de um estudo aprofundado do tema em relação à pesquisa doutrinária e
jurisprudencial sobre a situação, de modo a apresentar uma manifestação processual coerente.
Retratar determinada situação jurídica hipotética capaz de instigar a reflexão do tema de
forma ampla e profunda.
Promover a interpretação contextual para que melhor se possa compreender a manifestação
geral de um dado problema.
Estimular o desenvolvimento de raciocínio crítico e argumentativo.
Desafiar o aluno a identificar e avaliar a problematização e a propor solução.
Compreender o instituto da análise da petição inicial a partir do estudo de caso proposto.
Identificar os requisitos apresentados sobre o assunto no Novo Código de Processo Civil em
questão e verificar se eles foram respeitados.
Examinar se é possível, conforme entendimento jurisprudencial sobre o caso.
4. Atividades
Considerando as informações contidas no enunciado deste estudo de caso, você deve apoiar-se seu trabalho
conforme os itens que seguem e apoiando-se nas leituras complementares, tanto doutrinárias como
jurisprudenciais, em:
ARRUDA ALVIM NETTO, José Manoel. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2019.
BEDAQUE, José Roberto dos Santos, e TUCCI, José Rogério Cruz e. Causa de pedir e pedido no processo civil.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. Campinas: Bookseller, 1998.
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil II. 9 ed. Ed. Rio de Janeiro:
Gen/Forense, 2015.
5. Resolução
O CASO
Afrânio, vendedor de cachorro quente na cidade de Poços de Caldas/MG, utiliza o seu veículo como meio de
transporte para se deslocar até as festas nas quais participa, bem como nas vendas regulares que faz na praça
central da cidade. Após um problema com um dos seus fornecedores, por conta do pagamento de um boleto
devidamente quitado, porém não compensado pelo banco, Afrânio teve seu nome inscrito nos órgãos de
proteção ao crédito, mesmo tendo justificado e apresentado todos os comprovantes ao seu fornecedor, algo,
infelizmente, em vão.
Diante disso, Afrânio ingressa com ação contra o banco, devido ao problema causado pela não compensação
do boleto devidamente pago, bem como contra o seu fornecedor, porque deixou claro que o pagamento foi
feito e o problema foi causado por conta exclusiva do banco. Em sua petição inicial, o procurador de Afrânio
faz os seguintes pedidos: expedição de ordem judicial para retirada imediata do seu nome do SPC/SERASA em
sede de tutela antecipada; a condenação ao banco e ao fornecedor para pagamento de indenização por danos
morais, com valor a ser arbitrado pelo magistrado. A petição inicial foi instruída com documentos que
comprovam as alegações trazidas, com a atribuição do valor da causa de R$ 3 mil reais, não trazendo qualquer
tipo de alegação com relação à possibilidade de realização de audiência de conciliação para o caso, mesmo
sabendo da excelente estrutura existente na Comarca.
Diante dessa situação apresentada, na figura do magistrado que recebeu tal caso, numa análise inicial, você
consideraria apta ou não tal pretensão, tomando como base todas as informações acima apresentadas? Se a
resposta for negativa, que providência você, como juiz, deve tomar? Traga embasamento doutrinário e
jurisprudencial, que possa fundamentar o seu posicionamento.
Apresentar resolução do caso de forma escrita, devendo ser postada no ambiente virtual acadêmico
respectivo no prazo estipulado.
Diante dos fatos narrados, na figura do magistrado que recebeu a petição inicial apresentada pelo
advogado de Afrânio, seria adequada a apresentação de um despacho para a realização da emenda da inicial,
uma vez que falhas foram apresentadas e necessitam ser sanadas para regular prosseguimento do feito, quais
sejam:
- apresentação de valor para os danos morais pleiteados perante o banco, uma vez que não pode ficar
ao encargo do magistrado tal situação, com fundamento no artigo 292, inciso V do Novo CPC, regularizando o
valor da causa, de modo a pleitear o que realmente deseja com a ação.
Portanto, o pleito genérico do dano moral, segundo a redação apresentada pelo novo diploma
processual civil, restringe a parte, de modo a determinar, com um mínimo de exatidão, o valor pretendido
com a ação.
Tal ponto assume relevância ainda maior, uma vez que, não sendo acolhido o pedido em sua
integralidade pelo magistrado, ocorrerá a sucumbência recíproca, fazendo jus ao pagamento de honorários
ao advogado da parte vencida, o que pode, em algumas situações, desestimular os pedidos de grande monta
no dano moral.
Theodoro Júnior (2002) destaca sobre o pedido genérico, especial cuidado que deve ser tomado
pela parte:
Nas ações de indenização, que são aquelas em que mais frequentemente
ocorrem pedidos genéricos, tem o autor sempre de especificar o prejuízo a
ser ressarcido. Expressões vagas como “perdas e danos” e “lucros
cessantes” não servem para a necessária individualização do objeto da
causa. Necessariamente haverá de ser descrita a lesão suportada pela vítima
do ato ilícito, v.g.: prejuízos (danos emergentes) correspondentes à perda
da colheita de certa lavoura, ou ao custo dos reparos do bem danificado, ou
à desvalorização do veículo após o evento danoso, ou, ainda, os lucros
cessantes representados pela perda do rendimento líquido do veículo
durante sua inatividade para reparação, ou dos aluguéis do imóvel durante
o tempo em que o dono ficou privado de sua posse etc. (THEODORO JÚNIOR,
2002, p. 327)
Theodoro Júnior (2011) lembra bem o assunto quando anota:
O valor da causa não corresponde necessariamente ao valor do objeto
imediato material ou imaterial, em jogo no processo, ou sobre o qual versa
a pretensão do autor perante o réu. É o valor que se pode atribuir à relação
jurídica que se afirma existir sobre tal objeto. (...) Determina-se, portanto,
o valor da causa apurando-se a expressão econômica da relação jurídica
material que o autor quer opor ao réu. O valor do objeto imediato pode
influir nessa estimativa, mas nem sempre será decisivo. (THEODORO
JÚNIOR, 2011, p. 284)
De acordo com o inc. VII do art. 319 do CPC/2015, deve o autor manifestar,
desde logo, se opta pela realização ou não da audiência de conciliação ou
mediação (cf. também o § 5º do art. 334 do CPC/2015). Essa manifestação é
indispensável, a fim de que se realize a citação do réu para comparecer à
referida audiência (cf. art. 334, caput, do CPC/2015) ou para apresentar
resposta (contando-se o prazo nos termos do art. 231 do CPC/2015, cf. art.
335, caput e III, do CPC/2015). Caso o autor requeira a citação do réu para
comparecer à audiência de conciliação ou mediação, e detecte o juiz que, na
hipótese, não se admite autocomposição (cf. art. 334, § 4º, II, do CPC/2015),
deverá corrigir o procedimento, determinando a citação do réu para, desde
logo, apresentar resposta. (MEDINA, 2015. p. 327)
Para Fredie Didier (2015, p. 55-556), o silêncio da parte autora indicará vontade de participar da
referida audiência.
Do ponto de vista de Mazzola (2017):
Pensamos, ainda, que a opção do legislador de condicionar a dispensa do ato
ao desinteresse de ambas as partes têm – ao menos nesse momento de
sedimentação do NCPC – um viés pedagógico, pois nem todos os
jurisdicionados estão familiarizados com a mediação e seus princípios, e
poder-se-ia imaginar que a audiência de conciliação do artigo 334 seria uma
versão "antecipada" da inócua audiência do art. 331 do CPC/73, o que, porém,
não é verdade. Como se sabe, aquela não é realizada pelos juízes ou seus
assessores, mas sim por conciliares capacitados, fora da respectiva serventia
judicial, observando-se a estrita confidencialidade (art. 166 do NCPC).
(MAZZOLA, 2017)
Caso entenda ser um excesso de formalismo, o fato de obrigar a parte a emendar a inicial, ou mesmo
intimar a parte para que se manifeste sobre a possibilidade ou não de ocorrência da audiência de conciliação,
apenas e tão somente por não constar, no caso, deve o magistrado designar tal audiência, conforme já dispõe
a doutrina abaixo destacada:
A petição inicial tem de contar com expressa referência à opção pela realização ou não de audiência
de conciliação ou de mediação (art. 319, VII, CPC). A ausência de referência deve ser interpretada a
favor da sua realização. (MARINONI; ARENHART; ; MITIDEIRO, 2011) Para Luis Guilherme Aidar Bondioli:
O legislador conferiu papel de destaque a duas técnicas de solução de controvérsia, quais sejam, a conciliação
e a mediação, com o escopo de estimular o fim mais célere do litígio e consequentemente do processo. Tanto
é assim que programou para momento liminar deste uma audiência para a conciliação ou a mediação, que não
se realiza apenas nas duas hipóteses previstas no § 4º do art. 334 do CPC/2015. (…). Disso tudo se extrai que
o autor somente está obrigado a inserir na petição inicial sua opção pela não realização dessa audiência; se
ele silenciar a respeito do assunto, o juiz deve simplesmente obedecer ao roteiro traçado pelo art. 334, que
leva à natural designação daquela audiência. Eis a interpretação para o inc. VII do art. 319 do CPC/2015. Logo,
no silêncio do autor acerca da conciliação ou da mediação, não cabe determinação para a emenda da petição
inicial nem o indeferimento desta; para a correlata audiência, vale a máxima quem cala consente (com sua
realização). (BONDIOLI, 2016. p. 865-866)
Sob a óptica de Eduardo Cambi:
Não obstante o art. 319, VII, do NCPC estabeleça que na petição inicial deva constar a opção do autor pela
realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação, a ausência de manifestação expressa na petição
inicial (art. 334, § 4º, I, e § 5º, do NCPC) implica a concordância do autor com a realização da audiência de
conciliação ou mediação, exceto se houver aditamento da petição inicial por iniciativa do autor. Isso significa
que não cabe ao juiz nem indeferir (por não ser hipótese prevista no art. 330 do NCPC) nem, tampouco,
determinar a emenda da petição inicial (exegese do art. 321 do NCPC). Portanto, caso nenhuma das partes se
manifeste expressamente quanto a não realização da audiência de conciliação ou de mediação ou quando
apenas uma das partes mostrar tal desinteresse, presentes os demais requisitos legais, a audiência do art. 334
do NCPC deve ser marcada e realizada. A parte que deixar de comparecer e não apresentar justificativa
adequada pratica ato atentatório à dignidade da justiça e fica sujeita à sanção prevista no art. 334, § 8º, do
NCPC. (CAMBI, 2016, p. 942)
Para Marcus Vinícius Rios Gonçalves:
Não se trata, propriamente, de um requisito da inicial, mas da oportunidade
que o autor tem de manifestar desinteresse na audiência inicial de tentativa
de conciliação, que se realiza no procedimento comum, antes da contestação
do réu. Essa audiência deve, obrigatoriamente, ser designada, salvo se o
processo for daqueles que não admite autocomposição, ou se ambas as
partes manifestarem desinteresse na sua realização. A inicial é a oportunidade
que o autor tem para manifestá-lo. Mas ainda que ele o faça, o juiz deve
designá-la, pois somente se o réu também o fizer, ela será cancelada. Ele deve
fazê-lo por petição, apresentada com 10 dias de antecedência, contados da
data marcada para a audiência. Se o autor silenciar a respeito de sua opção,
presume-se que ele concorda com a realização, já que ela só não será marcada
se o desinteresse for expressamente manifestado por ambas as partes.
(GONÇALVES, 2016, p. 422)
Diante de todo o exposto, entendemos que o legislador não apresentou palavras soltas na lei.
Dispôs-se, expressamente, que existe a necessidade de manifestação da parte autora, quando da
apresentação das suas razões iniciais, se deseja ou não a ocorrência de audiência de conciliação. No
caso de eventual omissão, pode o magistrado entender que será marcada tal sessão, uma vez que o
legislador é taxativo ao afirmar que só não ocorrerá a audiência de conciliação se ambas as partes se
opuserem e o direito debatido for indisponível.
Referências
BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR., Fredie;
TALAMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno (coord.). Breves comentários ao novo Código de Processo
Civil. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 865-866.
BONDIOLI, Luiz Guilherme Aidar. Procedimento Comum. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; Didier
Jr., Fredie; TALAMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno (orgs.). Breves Comentários ao Novo Código de
Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 818.
CAMBI, Eduardo. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR., Fredie; TALAMINI, Eduardo;
DANTAS, Bruno (coord.). Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. 2ª ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 942.
DELLORE, Luiz. Pedido de indenização e o CPC: fim da indústria do dano moral? Disponível em:
<https://www.jota.info/colunas/novo-cpc/novo-cpc-e-o-pedido-de-indenizacao-fim-da-industria-do-
dano-moral-22022016>. Acesso em: 25 jan. 2018.
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I, 17ª ed. Salvador: JusPodivm, 2015,
p. 55-556.
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil. Vol. 1. 12ª ed. Salvador: Juspodivm,
2010, p. 437-438.
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil,
parte geral e processo de conhecimento. 17ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador : JusPodivm, 2015, p.
581.
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 6ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 422.
MARINONI, Luiz; ARENHART, Sérgio; MITIDEIRO, Daniel. Novo Código de Processo Civil, 1ª ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 341.
MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de Processo Civil comentado: com remissões e notas
comparativas ao CPC/1973. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 327.
MORAIS, Maria Lúcia Baptista. Requisitos da petição inicial no Novo CPC. Revista Páginas de
Direito, Porto Alegre, ano 16, nº 1347, 13 de dezembro de 2016. Disponível em:
<http://www.tex.pro.br/index.php/artigos/344-artigos-dez-2016/7797-requisitos-da-peticao-inicial-no-
novo-cpc>. Acesso em: 25 jan. 2018.
NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao código de processo civil,
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 895.
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil – Lei 13.105/2015. São Paulo:
Método, 2015, p. 224.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria Geral do direito
processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum, v. 1. 56ª ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 594.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Código de processo civil anotado. Rio de Janeiro: Forense,
2011, p. 284.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense,
2002, p. 327.