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JUR0229_v2.

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Parte Geral II e
Processo de Conhecimento I
Disciplina: Parte Geral II e Processo de Conhecimento I
Autoria: Luís Henrique Bortolai

Estudo de Caso
1. Caso
Afrânio, vendedor de cachorro quente na cidade de Poços de Caldas/MG, utiliza o seu veículo como meio de
transporte para se deslocar até as festas nas quais participa, bem como nas vendas regulares que faz na praça
central da cidade. Após um problema com um dos seus fornecedores, por conta do pagamento de um boleto
devidamente quitado, porém não compensado pelo banco, Afrânio teve seu nome inscrito nos órgãos de
proteção ao crédito, mesmo tendo justificado e apresentado todos os comprovantes ao seu fornecedor, algo,
infelizmente, em vão.
Diante disso, Afrânio ingressa com ação contra o banco, devido ao problema causado pela não compensação
do boleto devidamente pago, bem como contra o seu fornecedor, porque deixou claro que o pagamento foi
feito e o problema foi causado por conta exclusiva do banco. Em sua petição inicial, o procurador de Afrânio
faz os seguintes pedidos: expedição de ordem judicial para retirada imediata do seu nome do SPC/SERASA
em sede de tutela antecipada; a condenação ao banco e ao fornecedor para pagamento de indenização por
danos morais, com valor a ser arbitrado pelo magistrado. A petição inicial foi instruída com documentos que
comprovam as alegações trazidas, com a atribuição do valor da causa de R$ 3 mil reais, não trazendo
qualquer tipo de alegação com relação à possibilidade de realização de audiência de conciliação para o caso,
mesmo sabendo da excelente estrutura existente na Comarca.

2. Papel do aluno e sua participação na resolução do problema


Diante dessa situação apresentada, na figura do magistrado que recebeu tal caso, numa análise inicial, você
consideraria apta ou não tal pretensão, tomando como base todas as informações acima apresentadas? Se a
resposta for negativa, que providência você, como juiz, deve tomar? Traga embasamento doutrinário e
jurisprudencial, que possa fundamentar o seu posicionamento.

3. Objetivos
Gerais
 Desenvolver a prática do magistrado, diante de um caso concreto apresentado.
 Planejar as atividades no tempo disponível e na medida em que a situação necessita.
 Desenvolver a autonomia na realização de pesquisas.
 Ser criativo na solução do desafio.

Específicos
 Compreender a necessidade de um estudo aprofundado do tema em relação à pesquisa doutrinária e
jurisprudencial sobre a situação, de modo a apresentar uma manifestação processual coerente.
 Retratar determinada situação jurídica hipotética capaz de instigar a reflexão do tema de
forma ampla e profunda.
 Promover a interpretação contextual para que melhor se possa compreender a manifestação
geral de um dado problema.
 Estimular o desenvolvimento de raciocínio crítico e argumentativo.
 Desafiar o aluno a identificar e avaliar a problematização e a propor solução.
 Compreender o instituto da análise da petição inicial a partir do estudo de caso proposto.
 Identificar os requisitos apresentados sobre o assunto no Novo Código de Processo Civil em
questão e verificar se eles foram respeitados.
 Examinar se é possível, conforme entendimento jurisprudencial sobre o caso.

4. Atividades
Considerando as informações contidas no enunciado deste estudo de caso, você deve apoiar-se seu trabalho
conforme os itens que seguem e apoiando-se nas leituras complementares, tanto doutrinárias como
jurisprudenciais, em:

ARRUDA ALVIM NETTO, José Manoel. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2019.
BEDAQUE, José Roberto dos Santos, e TUCCI, José Rogério Cruz e. Causa de pedir e pedido no processo civil.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. Campinas: Bookseller, 1998.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. v. 1, 2 e 3. 7 ed. São


Paulo: Malheiros, 2017.
MARINONI, Luiz Guilherme et al. Curso de processo civil. São Paulo: RT, 2015, v. 2.
MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de Conhecimento. Curso de Processo Civil. V.
2. 12ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. 28ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, v. 2.

THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil II. 9 ed. Ed. Rio de Janeiro:
Gen/Forense, 2015.

5. Resolução
O CASO
Afrânio, vendedor de cachorro quente na cidade de Poços de Caldas/MG, utiliza o seu veículo como meio de
transporte para se deslocar até as festas nas quais participa, bem como nas vendas regulares que faz na praça
central da cidade. Após um problema com um dos seus fornecedores, por conta do pagamento de um boleto
devidamente quitado, porém não compensado pelo banco, Afrânio teve seu nome inscrito nos órgãos de
proteção ao crédito, mesmo tendo justificado e apresentado todos os comprovantes ao seu fornecedor, algo,
infelizmente, em vão.
Diante disso, Afrânio ingressa com ação contra o banco, devido ao problema causado pela não compensação
do boleto devidamente pago, bem como contra o seu fornecedor, porque deixou claro que o pagamento foi
feito e o problema foi causado por conta exclusiva do banco. Em sua petição inicial, o procurador de Afrânio
faz os seguintes pedidos: expedição de ordem judicial para retirada imediata do seu nome do SPC/SERASA em
sede de tutela antecipada; a condenação ao banco e ao fornecedor para pagamento de indenização por danos
morais, com valor a ser arbitrado pelo magistrado. A petição inicial foi instruída com documentos que
comprovam as alegações trazidas, com a atribuição do valor da causa de R$ 3 mil reais, não trazendo qualquer
tipo de alegação com relação à possibilidade de realização de audiência de conciliação para o caso, mesmo
sabendo da excelente estrutura existente na Comarca.
Diante dessa situação apresentada, na figura do magistrado que recebeu tal caso, numa análise inicial, você
consideraria apta ou não tal pretensão, tomando como base todas as informações acima apresentadas? Se a
resposta for negativa, que providência você, como juiz, deve tomar? Traga embasamento doutrinário e
jurisprudencial, que possa fundamentar o seu posicionamento.
Apresentar resolução do caso de forma escrita, devendo ser postada no ambiente virtual acadêmico
respectivo no prazo estipulado.
Diante dos fatos narrados, na figura do magistrado que recebeu a petição inicial apresentada pelo
advogado de Afrânio, seria adequada a apresentação de um despacho para a realização da emenda da inicial,
uma vez que falhas foram apresentadas e necessitam ser sanadas para regular prosseguimento do feito, quais
sejam:
- apresentação de valor para os danos morais pleiteados perante o banco, uma vez que não pode ficar
ao encargo do magistrado tal situação, com fundamento no artigo 292, inciso V do Novo CPC, regularizando o
valor da causa, de modo a pleitear o que realmente deseja com a ação.

Essa mesma linha doutrinária é seguida por Didier Júnior (2015):

Problema que merece cuidadosa análise é a do pedido genérico nas ações


de reparação de dano moral: o autor deve ou não quantificar o valor da
indenização na petição inicial? A resposta é positiva: o pedido nestas
demandas deve ser certo e determinado, delimitando o autor quanto
pretende receber como ressarcimento pelos prejuízos morais que sofreu.
Quem, além do próprio autor, poderia quantificar a “dor moral” que alega
ter sofrido? Como um sujeito estranho e por isso mesmo alheio a esta “dor”
poderia aferir a sua existência, mensurar a sua extensão e quantificá-la em
pecúnia? A função do magistrado é julgar se o montante requerido pelo
autor é ou não devido; não lhe cabe, sem uma provocação do demandante,
dizer quanto deve ser o montante. Ademais, se o autor pedir que o
magistrado determine o valor da indenização, não poderá recorrer da
decisão que, por absurdo, a fixou em um real (R$ 1,00), pois o pedido teria
sido acolhido integralmente, não havendo como se cogitar interesse
recursal. O art. 292, V, do CPC, parece ir por este caminho, ao impor como
o valor da causa o valor do pedido nas ações indenizatórias, “inclusive as
fundadas em dano moral”. Somente é possível a iliquidez do pedido, nestas
hipóteses, se o ato causador do dano puder repercutir, ainda, no futuro,
gerando outros danos (p. Ex.: uma situação em que a lesão à moral é
continuada, como a inscrição indevida em arquivos de consumo ou a
contínua ofensa à imagem); aplicar-se-ia, então, o inciso II do par.1º do art.
624, aqui comentado. Fora dessa hipótese, incabível a formulação de
pedido ilíquido. (DIDIER JÚNIOR, 2015, p. 581)

Para Dellore (2016):


[a] impossibilidade de pedido genérico de dano moral (art. 292, V). Ainda que
o mais adequado fosse tratar do tema no tópico do pedido, o NCPC inova ao
apontar que o valor da causa na ação indenizatória,inclusive a fundada em
dano moral, será o valor pretendido. Portanto, a partir de agora, o próprio
autor deverá indicar, desde a inicial, qual o valor pretendido a título de danos
morais. E, por óbvio, se o juiz conceder a indenização nesse valor, não haverá
interesse recursal – evitando recursos esdrúxulos em que o autor dizia “deixei
a critério do juiz o valor do dano, mas não gostei do critério dele”. (DELLORE,
2016)
Também é entendimento antigo no STJ, como se vê da seguinte ementa:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DANO MORAL. LOJAS DE DEPARTAMENTOS.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL E CÁRCERE PRIVADO. INDENIZAÇÃO.
QUANTUM. RAZOABILIDADE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
AUSÊNCIA. INTERESSE RECURSAL ALTERAÇÃO DO PEDIDO. INOCORRÊNCIA.
RECURSO DESACOLHIDO. (…) V – Não carece de interesse recursal a parte que,
em ação de indenização por danos morais, deixa a fixação do quantum ao
prudente arbítrio do juiz, e posteriormente apresenta apelação discordando
do valor arbitrado. Nem há alteração do pedido quando a parte, apenas em
sede de apelação, apresenta valor que, a seu ver, se mostra mais justo. (…)
(REsp 265.133/RJ, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA
TURMA, julgado em 19/09/2000, DJ 23/10/2000, p. 145).

o valor da causa deve corresponder ao benefício econômico


almejado pela autora e descrito na petição inicial da ação
indenizatória. (STJ, AgRg no AREsp 819.016/SP, 4ª Turma, rel. Min.
Luis Felipe Salomão, DJe 1.3.2016)
Como visto, pode o autor formular pedido genérico nas ações indenizatórias, “quando
não for possível determinar, desde logo, as co nsequências do ato ou do fato”. Embora não
precise quantificar o valor postulado, o autor, na ação indenizatória, deve especificar o
prejuízo sofrido. Não se pode pedir a condenação do réu a pagar o “prejuízo sofrido” ou os
“danos suportados” ou a indenizar as “perdas e danos”. É preciso, ao menos, especificar quais
foram os prejuízos sofridos e deixar para precisar o valor ao longo do procedimento ou em
liquidação de sentença, por não ser possível determinar, desde logo, as consequências do ato
ou fato, lícito ou ilícito (DA CUNHA, 2016).
Ainda segundo Didier Junior (2010):
Como um dos elementos objetivos da demanda (junto com a causa de
pedir), adquire o pedido importância fundamental na atividade processual.
Em primeiro lugar, o pedido bitola a prestação jurisdicional, que não poderá
ser extra, ultra ou infra/citra petita, conforme prescreve o princípio da
congruência (arts. 128 e 460 do CPC). Serve o pedido também como
elemento de identificação da demanda, para fins de verificação da
ocorrência de conexão, litispendência ou coisa julgada. O pedido é,
finalmente, o parâmetro para a fixação do valor da causa (art. 259 do CPC).
(DIDIER JÚNIOR, 2010, p. 437-438)

Portanto, o pleito genérico do dano moral, segundo a redação apresentada pelo novo diploma
processual civil, restringe a parte, de modo a determinar, com um mínimo de exatidão, o valor pretendido
com a ação.
Tal ponto assume relevância ainda maior, uma vez que, não sendo acolhido o pedido em sua
integralidade pelo magistrado, ocorrerá a sucumbência recíproca, fazendo jus ao pagamento de honorários
ao advogado da parte vencida, o que pode, em algumas situações, desestimular os pedidos de grande monta
no dano moral.
Theodoro Júnior (2002) destaca sobre o pedido genérico, especial cuidado que deve ser tomado
pela parte:
Nas ações de indenização, que são aquelas em que mais frequentemente
ocorrem pedidos genéricos, tem o autor sempre de especificar o prejuízo a
ser ressarcido. Expressões vagas como “perdas e danos” e “lucros
cessantes” não servem para a necessária individualização do objeto da
causa. Necessariamente haverá de ser descrita a lesão suportada pela vítima
do ato ilícito, v.g.: prejuízos (danos emergentes) correspondentes à perda
da colheita de certa lavoura, ou ao custo dos reparos do bem danificado, ou
à desvalorização do veículo após o evento danoso, ou, ainda, os lucros
cessantes representados pela perda do rendimento líquido do veículo
durante sua inatividade para reparação, ou dos aluguéis do imóvel durante
o tempo em que o dono ficou privado de sua posse etc. (THEODORO JÚNIOR,
2002, p. 327)
Theodoro Júnior (2011) lembra bem o assunto quando anota:
O valor da causa não corresponde necessariamente ao valor do objeto
imediato material ou imaterial, em jogo no processo, ou sobre o qual versa
a pretensão do autor perante o réu. É o valor que se pode atribuir à relação
jurídica que se afirma existir sobre tal objeto. (...) Determina-se, portanto,
o valor da causa apurando-se a expressão econômica da relação jurídica
material que o autor quer opor ao réu. O valor do objeto imediato pode
influir nessa estimativa, mas nem sempre será decisivo. (THEODORO
JÚNIOR, 2011, p. 284)

Destaca-se a opinião de Morais (2016), ao afirmar que:


Outra novidade foi a inclusão do inc. V, prevendo que na ação indenizatória,
inclusive a fundada em dano moral, o valor da causa será o valor pretendido.
No código anterior, como não havia previsão específica, os advogados
optavam por não atribuir um valor certo quando o pedido envolvia o dano
moral. Isto era feito para não fixar o valor da causa correspondente e
diminuir o valor das custas. A estratégia era pedir o dano moral de forma
genérica com a solicitação de que o magistrado fixasse o valor do dano e
atribuindo o valor de alçada na inicial. Assim procedendo, o valor de
pagamento das custas diminuiria, consideravelmente, no momento da
propositura da ação. Posteriormente, se houvesse determinação da
complementação de custas, ela seria proporcional ao valor fixado pelo
magistrado. Em realidade, a mudança acabará permitindo que valores altos
tenham que ser atribuídos à causa, em razão do pedido feito, com a
consequência de pagamento de custas na mesma proporção. No entanto, se
o magistrado, na sentença, fixar um valor menor, a parte autora terá
dificuldade para receber a diferença do valor de custas pagas em excesso.
(MORAIS, 2016)
Segundo Daniel Amorim Assumpção Neves (2015, p. 224), a previsão do inciso V, antes
referido, contraria a posição consolidada do Superior Tribunal de Justiça, pois era autorizada a fixação
do valor da causa de forma genérica.
Isso pode, num primeiro momento, causar certo problema quanto à melhor interpretação que
os Tribunais devem realizar nesses casos, porém, como a redação é clara, no sentido de que cabe à
parte autora estabelecer os parâmetros básicos do dano moral pretendido, tal ponto em breve será
superado e o entendimento superado.
Ainda segundo Morais (2016):
Caso o autor não fixe corretamente o valor da causa, o juiz poderá determinar
a correção de ofício ou o réu impugnar o valor dado. Ele fará isto, arguindo
uma preliminar de contestação, sob pena de preclusão. A consequência, em
razão da decisão do magistrado constatando o erro no valor da causa, será a
complementação de custas. (MORAIS, 2016)
Humberto Theodoro Junior, analisando o novo CPC, relembra o posicionamento doutrinário
no sentido de que o juiz podia corrigir de ofício o valor da causa, quando ele estava determinado na
legislação e conclui que a mesma regra poderá ser aplicada para o CPC/15. Portanto, o autor
apresenta uma distinção entre valores legais e aqueles que são estimados pela parte quando não há
valor econômico que possa ser de pronto indicado. Ainda segundo Theodoro Junior, se o valor da
causa estiver previsto no art. 291 ou em legislações esparsas, o juiz poderá corrigir de ofício a
inadequação do valor indicado na inicial. No entanto, se não houver regra legal específica, o
magistrado, para determinar a alteração do valor, dependerá de impugnação pelo réu, em preliminar
de contestação, com possibilidade de preclusão caso ele não use esta prerrogativa. (THEODORO
JUNIOR, 2015, p. 594).
Nas ações de indenização por dano moral ou à imagem (Constituição Federal, artigo 5, inciso V e X), o
pedido deve ser certo e determinado, fixado pelo autor. (NERY JÚNIOR; NERY, 2015, p. 895).
Em sede de análise do Recurso Especial n. 1.534.559/SP, a Ministra Nancy Andrighi, em julgamento
realizado em 22 de novembro de 2016, do STJ firmou entendimento que o autor só não necessitaria já
apresentar um valor certo para o dano moral pleiteado, quando ele não tem acesso a todas as informações
necessárias para tal fixação, ou que dependesse de outras provas ainda não realizadas. No caso em tela, o
autor pode sim já determinar qual seria o seu prejuízo, tomando como base os fatos narrados.
Portanto, no caso em tela, como o ator tem conhecimento, ainda que mínimo, do prejuízo por ele
sofrido, cabe a esse já apresentar um valor na petição inicial, de modo a, inclusive, possibilitar que os réus
possam se manifestar sobre isso com maior precisão e, numa eventual audiência de conciliação, chegarem a
um acordo.

- apresentação de manifestação expressa sobre o comparecimento ou não em audiência de


conciliação, conforme disposição do artigo 319, inciso VII do Novo CPC. Silenciando a parte, deve o magistrado
designar a audiência, uma vez que a redação do Novo CPC é clara no sentido de que é necessária a negativa
de ambas as partes para sua não ocorrência, para que o tema não admita a autocomposição.
Importante o apontamento realizado por Luiz Guilher Aidar Bondioli:
No artigo 319 do CPC/15 o legislador acrescentou mais um requisito que é a
opção do autor pela realização da audiência de conciliação ou de mediação.
Há, sem dúvida, o estímulo ao uso de meios consensuais de resolução de
conflito e por este motivo a doutrina está entendendo que se o autor não fizer
qualquer menção ao seu desejo de não realizar a audiência, o juiz deve
designá-la. Sendo assim, caso o autor não faça referência a este requisito o
juiz não deverá mandar emendar a inicial em 15 dias. (BONDIOLI, 2015, p.
818)
Conforme apresenta o artigo 321 e seu parágrafo único, do Novo Código de Processo Civil, é
obrigatório que a parte preencha todos os requisitos da petição inicial, podendo complementar isso
em até 15 (quinze) dias, conforme complementações a serem apontadas pelo juiz, sob pena de
indeferimento da inicial.
Segundo o Procurador Federal Dorgival Viana Júnior,
Do texto inicial do artigo 334 apresentado […], extraem-se as seguintes
conclusões: Em regra, a audiência deve ser sempre designada, salvo
indeferimento/determinação de emenda da inicial ou improcedência liminar.
Entre a data da designação e da audiência deve haver um hiato mínimo de 30
dias, enquanto que o réu deve ser citado pelo menos 20 dias antes da
realização da audiência de conciliação ou mediação. A audiência será
presidida por conciliador ou mediador, sendo possível que seja presidida por
servidor com outras funções, onde não haja estas figuras. A audiência de
conciliação ou mediação poderá ser cindida quando a autoridade que a
preside entender que tal providência é necessária, não podendo ser marcada
a continuação para data superior a 2 meses da primeira sessão. O autor é
intimado por seu advogado, o réu, por ser sua primeira participação no
processo, é intimado pessoalmente. (VIANA JÚNIOR, sem data)
Tais pontos são fundamentais para a superação de paradigmas e evitar que os litígios sejam colocados
apenas nas mãos dos respectivos advogados. É importante que as partes tenham voz ativa e possam
participam efetivamente da melhor resposta a ser apresentada no processo, evitando que os atos processuais
se concentrem única e exclusivamente nas mãos dos advogados.
Do ponto de vista de Medina (2015):

De acordo com o inc. VII do art. 319 do CPC/2015, deve o autor manifestar,
desde logo, se opta pela realização ou não da audiência de conciliação ou
mediação (cf. também o § 5º do art. 334 do CPC/2015). Essa manifestação é
indispensável, a fim de que se realize a citação do réu para comparecer à
referida audiência (cf. art. 334, caput, do CPC/2015) ou para apresentar
resposta (contando-se o prazo nos termos do art. 231 do CPC/2015, cf. art.
335, caput e III, do CPC/2015). Caso o autor requeira a citação do réu para
comparecer à audiência de conciliação ou mediação, e detecte o juiz que, na
hipótese, não se admite autocomposição (cf. art. 334, § 4º, II, do CPC/2015),
deverá corrigir o procedimento, determinando a citação do réu para, desde
logo, apresentar resposta. (MEDINA, 2015. p. 327)
Para Fredie Didier (2015, p. 55-556), o silêncio da parte autora indicará vontade de participar da
referida audiência.
Do ponto de vista de Mazzola (2017):
Pensamos, ainda, que a opção do legislador de condicionar a dispensa do ato
ao desinteresse de ambas as partes têm – ao menos nesse momento de
sedimentação do NCPC – um viés pedagógico, pois nem todos os
jurisdicionados estão familiarizados com a mediação e seus princípios, e
poder-se-ia imaginar que a audiência de conciliação do artigo 334 seria uma
versão "antecipada" da inócua audiência do art. 331 do CPC/73, o que, porém,
não é verdade. Como se sabe, aquela não é realizada pelos juízes ou seus
assessores, mas sim por conciliares capacitados, fora da respectiva serventia
judicial, observando-se a estrita confidencialidade (art. 166 do NCPC).
(MAZZOLA, 2017)
Caso entenda ser um excesso de formalismo, o fato de obrigar a parte a emendar a inicial, ou mesmo
intimar a parte para que se manifeste sobre a possibilidade ou não de ocorrência da audiência de conciliação,
apenas e tão somente por não constar, no caso, deve o magistrado designar tal audiência, conforme já dispõe
a doutrina abaixo destacada:
A petição inicial tem de contar com expressa referência à opção pela realização ou não de audiência
de conciliação ou de mediação (art. 319, VII, CPC). A ausência de referência deve ser interpretada a
favor da sua realização. (MARINONI; ARENHART; ; MITIDEIRO, 2011) Para Luis Guilherme Aidar Bondioli:
O legislador conferiu papel de destaque a duas técnicas de solução de controvérsia, quais sejam, a conciliação
e a mediação, com o escopo de estimular o fim mais célere do litígio e consequentemente do processo. Tanto
é assim que programou para momento liminar deste uma audiência para a conciliação ou a mediação, que não
se realiza apenas nas duas hipóteses previstas no § 4º do art. 334 do CPC/2015. (…). Disso tudo se extrai que
o autor somente está obrigado a inserir na petição inicial sua opção pela não realização dessa audiência; se
ele silenciar a respeito do assunto, o juiz deve simplesmente obedecer ao roteiro traçado pelo art. 334, que
leva à natural designação daquela audiência. Eis a interpretação para o inc. VII do art. 319 do CPC/2015. Logo,
no silêncio do autor acerca da conciliação ou da mediação, não cabe determinação para a emenda da petição
inicial nem o indeferimento desta; para a correlata audiência, vale a máxima quem cala consente (com sua
realização). (BONDIOLI, 2016. p. 865-866)
Sob a óptica de Eduardo Cambi:
Não obstante o art. 319, VII, do NCPC estabeleça que na petição inicial deva constar a opção do autor pela
realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação, a ausência de manifestação expressa na petição
inicial (art. 334, § 4º, I, e § 5º, do NCPC) implica a concordância do autor com a realização da audiência de
conciliação ou mediação, exceto se houver aditamento da petição inicial por iniciativa do autor. Isso significa
que não cabe ao juiz nem indeferir (por não ser hipótese prevista no art. 330 do NCPC) nem, tampouco,
determinar a emenda da petição inicial (exegese do art. 321 do NCPC). Portanto, caso nenhuma das partes se
manifeste expressamente quanto a não realização da audiência de conciliação ou de mediação ou quando
apenas uma das partes mostrar tal desinteresse, presentes os demais requisitos legais, a audiência do art. 334
do NCPC deve ser marcada e realizada. A parte que deixar de comparecer e não apresentar justificativa
adequada pratica ato atentatório à dignidade da justiça e fica sujeita à sanção prevista no art. 334, § 8º, do
NCPC. (CAMBI, 2016, p. 942)
Para Marcus Vinícius Rios Gonçalves:
Não se trata, propriamente, de um requisito da inicial, mas da oportunidade
que o autor tem de manifestar desinteresse na audiência inicial de tentativa
de conciliação, que se realiza no procedimento comum, antes da contestação
do réu. Essa audiência deve, obrigatoriamente, ser designada, salvo se o
processo for daqueles que não admite autocomposição, ou se ambas as
partes manifestarem desinteresse na sua realização. A inicial é a oportunidade
que o autor tem para manifestá-lo. Mas ainda que ele o faça, o juiz deve
designá-la, pois somente se o réu também o fizer, ela será cancelada. Ele deve
fazê-lo por petição, apresentada com 10 dias de antecedência, contados da
data marcada para a audiência. Se o autor silenciar a respeito de sua opção,
presume-se que ele concorda com a realização, já que ela só não será marcada
se o desinteresse for expressamente manifestado por ambas as partes.
(GONÇALVES, 2016, p. 422)
Diante de todo o exposto, entendemos que o legislador não apresentou palavras soltas na lei.
Dispôs-se, expressamente, que existe a necessidade de manifestação da parte autora, quando da
apresentação das suas razões iniciais, se deseja ou não a ocorrência de audiência de conciliação. No
caso de eventual omissão, pode o magistrado entender que será marcada tal sessão, uma vez que o
legislador é taxativo ao afirmar que só não ocorrerá a audiência de conciliação se ambas as partes se
opuserem e o direito debatido for indisponível.

Referências

BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR., Fredie;
TALAMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno (coord.). Breves comentários ao novo Código de Processo
Civil. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 865-866.

BONDIOLI, Luiz Guilherme Aidar. Procedimento Comum. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; Didier
Jr., Fredie; TALAMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno (orgs.). Breves Comentários ao Novo Código de
Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 818.

CAMBI, Eduardo. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR., Fredie; TALAMINI, Eduardo;
DANTAS, Bruno (coord.). Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. 2ª ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 942.

DA CUNHA, Leonardo Carneiro. Opinião 666 – Valor da causa na ação de


indenização. Disponível em:
<https://www.leonardocarneirodacunha.com.b r/opiniao/opiniao-66-valor-da-causa-na-
acao-de-indenizacao/>. Acesso em: 25 jan. 2018.

DELLORE, Luiz. Pedido de indenização e o CPC: fim da indústria do dano moral? Disponível em:
<https://www.jota.info/colunas/novo-cpc/novo-cpc-e-o-pedido-de-indenizacao-fim-da-industria-do-
dano-moral-22022016>. Acesso em: 25 jan. 2018.

DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I, 17ª ed. Salvador: JusPodivm, 2015,
p. 55-556.

DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil. Vol. 1. 12ª ed. Salvador: Juspodivm,
2010, p. 437-438.

DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil,
parte geral e processo de conhecimento. 17ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador : JusPodivm, 2015, p.
581.
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 6ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 422.

MARINONI, Luiz; ARENHART, Sérgio; MITIDEIRO, Daniel. Novo Código de Processo Civil, 1ª ed.
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