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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO QUINTO

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE BRASÍLIA/DF

PROCESSO N. 0720141-42.2024.8.07.0016

EMBARGANTE: RODRIGO BRESLER ANTONELLO


EMBARGADO: METROPOLES MIDIA E COMUNICACAO LTDA

RODRIGO BRESLER ANTONELLO, já devidamente qualificado nos


autos do processo em epígrafe, vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, em causa própria, opor os presentes
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
com supedâneo nas razões a seguir expostas:

DA DECISÃO EMBARGADA
Foi proferida a seguinte decisão:

“Trata-se de ação de obrigação de fazer c/c


indenização por danos morais tendo em vista a publicação
de matéria jornalística publicada pela parte ré.

Antes de tudo, cumpre a este Juízo analisar se


estão presentes os pressupostos de constituição e
desenvolvimento válido e regular do processo.

A pretensão deduzida pela parte autora é idêntica a


processo que tramitou neste mesmo 5º Juizado Especial
Cível de Brasília, sob o n. 0725061-64.2021.8.07.0016.
Naquela ação, as partes, o objeto, a causa de pedir, as
provas apresentadas, além dos valores pretendidos pela
parte demandante são exatamente os mesmos da presente
ação, e a sentença ali proferida, com base na revelia do réu e
favorável à parte requerente, já se encontra transitada em
julgado, com o seguinte dispositivo:

“Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTES os


pedidos da inicial.

Resolvo o mérito da demanda, nos termos do art.


487, I do CPC”.

Diz o artigo 337, § 2.º do CPC que “Uma ação é


idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma
causa de pedir e o mesmo pedido”.

Portanto, há coisa julgada quando se repete ação


que já foi decidida por decisão transitada em julgado (artigo
337, §§ 3.º e 4.º do CPC).

No caso em análise, a identidade das ações é


indubitável e patente, sendo que em ambas, apesar de
pequenas alterações no texto, o pedido é o mesmo
(obrigação de fazer c/c indenização por danos morais).

Por conseguinte, não restam dúvidas quanto à


questão posta sob nova análise do Poder Judiciário, a qual foi
atingida pelo instituto da coisa julgada, conforme previsto no
art. 502 do Código de Processo Civil, in verbis:

“Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a


autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de
mérito não mais sujeita a recurso.”.

Desse modo, a pretensão autoral encontra-se


fulminada pela coisa julgada material, razão pela qual a
extinção prematura do feito é medida que se impõe.

Dispositivo

Posto isso, EXTINGO o processo sem resolução do


mérito, com fundamento no artigo 485, inciso V, parte final do
Código de Processo Civil (coisa julgada)”.

A decisão acima é OBSCURA, pois apesar da reportagem


questionada ser a mesma dos autos n. 0725061-64.2021.8.07.0016, A
CAUSA DE PEDIR AQUI NESTES AUTOS É A MANUTENÇÃO DA REPORTAGEM.
Naqueles autos citados na sentença o Autor requereu danos
morais, aqui, DIFERENTEMENTE, NÃO HÁ PEDIDO DE DANOS MORAIS
conforme indicado na sentença, mas apenas pedido para apagar a
reportagem.

Ocorre que o pedido do Autor não é sobre responsabilidade civil,


mas sobre a manutenção da reportagem após haver um julgamento
com trânsito em julgado, inclusive por este QUINTO JUIZADO
ESPECIAL, que concluiu pela ilegalidade da publicação nos autos n.
0702182-09.2023.8.07.9000. Vejamos o acórdão:

JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. RECURSO


INOMINADO. DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
APRESENTAÇÃO DE NOVOS DOCUMENTOS. PRECLUSÃO.
INOVAÇÃO RECURSAL
VEDADA. MATÉRIA JORNALÍSTICA. LIBERDADE DE
EXPRESSÃO. DIREITO À IMAGEM. DIREITO À
INFORMAÇÃO. DANOS MORAIS. CABÍVEIS. VALOR
ARBITRADO COM RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. ÍNDICE DE CORREÇÃO
MONETÁRIA. INPC. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO.
1. Trata-se de Ação de Indenização cuja sentença
julgou parcialmente procedente o pedido inicial para
condenar os réus, solidariamente, a pagarem ao autor o valor
de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização pelos
danos morais; bem como à obrigação de fazer, consistente
em retirar da internet a reportagem “Organizador de festa
clandestina interditada pela PMDF é servidor do STF”.
2. Os réus interpuseram, conjuntamente, recurso
inominado próprio regular e tempestivo. Alegam, em síntese,
que o recorrido apareceu nas redes sociais promovendo a
“Brave Party” - Festa de réveillon que tinha previsão de durar
quatro dias em um hotel-fazenda no Gama/DF. Argumentam
que o autor organiza festa em com o nome ‘Brave’ há vários
anos e que diversos meios de comunicação o vinculam com
a festa. Afirmam, ainda, que não podem ser
responsabilizados por comentários realizados por terceiros
em seu site e que a intenção nunca foi de difamar o recorrido.
Impugna o índice da taxa de juros aplicado à indenização e o
valor da condenação. Contrarrazões apresentadas.
3. A princípio, cabe destacar que a apresentação de
documento preexistente apenas em sede recursal, no bojo
do Recurso Inominado, é vedado e enseja a aplicação dos
efeitos decorrentes da preclusão operada, segundo a
expressa disposição normativa do artigo 223 do CPC, motivo
pelo qual não se conhece
dos documentos apresentados com a peça recursal.
4. A princípio, cabe destacar que a divulgação
de matéria jornalística de interesse público insere-se no
âmbito do direito de informação previsto no art. 220 da
Constituição Federal: “A manifestação do pensamento, a
criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição”. A liberdade de
imprensa, enquanto projeção das liberdades de
comunicação e de manifestação do pensamento, reveste-se
de conteúdo abrangente, por compreender, dentre outras
prerrogativas relevantes que lhe são inerentes, (a) o direito de
informar, (b) o direito de buscar a informação, (c) o direito de
opinar e (d) o direito de criticar (AI 690841 AgR/SP - SÃO
PAULO AG. REG. NO AGRAVO DE INSTRUMENTO Relator(a):
Min. CELSO DE MELLO), de modo que, de regra, não pode ser
limitada. Não obstante, a liberdade de manifestação do
pensamento e de informação jornalística não é absoluta. A
jurisprudência pacífica do STF é no sentido de que o
ordenamento jurídico não admite a liberdade de
manifestação do pensamento como abrigo para a prática de
ilícitos e abusos.
5. O princípio da liberdade de imprensa e o direito à
informação não são absolutos, devendo harmonizar-se com
os demais direitos fundamentais previstos no texto
constitucional, principalmente no que diz respeito ao direito
à intimidade, à honra e à vida privada. Assim, embora a
liberdade comunicacional deva ser prestigiada, ela pode
dar lugar à reparação civil quando manifestamente
extrapole o dever de informar, por exemplo, quando utiliza
expressões depreciativas ou injuriosas, ou quando noticia
fatos da intimidade do indivíduo sem qualquer interesse
informativo.
6. No presente caso, conforme a documentação
apresentada pelos réus em contestação, não é possível
concluir que houve a devida comprovação do que foi
veiculado na matéria jornalística (ID 32499535). As imagens
extraídas das redes sociais do requerente apontam que ele
tem envolvimento com a festa realizada, mas não há
comprovação efetiva de que o recorrido fosse, realmente, o
organizador do evento, como foi destacado na matéria
jornalística objeto dos autos. Ademais, conforme comprova
a imagem apresentada pelo autor em réplica (ID 32501012,
página 3), a frase de sua tatuagem – “be brave”- é utilizada
por várias pessoas, de modo que este fato, por si só, não tem
a aptidão de induzir à conclusão de ser o recorrido o
organizador da festa citada na matéria jornalística.
7. Logo, conclui-se que os recorrentes não
comprovaram a veracidade das informações trazidas
na matéria jornalística em questão, pois, apesar de citarem
que o recorrido era “o responsável pela organização da festa
que tinha previsão de durar quatro dias” e que a casa do
autor “foi alvo de busca e apreensão” ou que o requerente
“teve bens penhorados pela Justiça para garantir o
pagamento de uma dívida fruto de uma condenação por
danos morais”, não apresentaram prova nesse sentido. Não
consta dos autos “denúncias”, processos administrativos ou
judiciais envolvendo o recorrido.
8. Cumpre destacar, ainda, que a matéria jornalística
em apreço estampa imagem do autor e o cargo que o mesmo
exerce, informações pessoais que podem influenciar a
opinião pública.
9. Evidencia-se, logo, que a reportagem colacionada
possui conteúdo ofensivo à honra do autor e ultrapassa os
limites legais e constitucionais da liberdade de imprensa,
existindo abuso da liberdade de expressão e fato ofensivo à
honra, passível de indenização por danos morais.
9. O valor fixado a título de dano moral deve levar em
conta os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade,
o dano e a sua extensão, a situação do ofendido e a
capacidade econômica do ofensor, sem que se torne causa
de enriquecimento ilícito do ofendido, razão pela qual o valor
arbitrado amolda-se ao conceito de justa reparação.
10. Quanto ao índice de correção que deve incidir
sobre a condenação, deverá ser aplicado o INPC, que é
índice oficial, e não a SELIC. Nesse sentido: “A taxa SELIC é
aplicável nas hipóteses expressamente previstas em Lei. In
casu, aplica-se o índice do INPC para a correção monetária
e os juros moratórios de 1% ao mês (CCB 406, e CTN 161,
§1º)”. (Acórdão n.1069428, 20140020209656AGI, Relator:
FERNANDO HABIBE. 4ª TURMA CÍVEL, Data de
Julgamento: 24/01/2018, Publicado no DJE: 29/01/2018.
p.: 455/467).
11. Recurso da parte conhecido e não provido.
Sentença mantida por seus próprios fundamentos.
12. Custas recolhidas. Condenada a parte recorrente
ao pagamento dos honorários advocatícios em favor do
patrono da parte recorrida, arbitrados em 10% (dez por
cento) sobre o valor da condenação (art. 55 da Lei n.º
9.099/95).
13. Acórdão elaborado de conformidade com o
disposto nos artigos 46 da Lei 9.099/1995.
Ora, se naqueles autos foi concluído que a publicação sobre a
realização de festa no réveillon era ilegal, POR QUE NESTE AUTOS A
PUBLICAÇÃO É LEGALIZADA?

Note o início da reportagem questionada:

No mesmo rumo, apesar de decorrer da mesma reportagem, a


causa de pedir e pedido aqui nesses autos é diverso, pois o que se pede
não é responsabilidade civil pela publicação, mas que a manutenção
da reportagem é indevida, a qual OBVIAMENTE PREJUDICA A IMAGEM
DO AUTOR.

Não há pedido de censura, pois a reportagem, apesar de


equivocada, foi devidamente publicada, porém na esteira do
entendimento do Supremo Tribunal Federal, é possível haver a
determinação da retirada de publicação jornalística quando esta fere
direitos fundamentais da honra e dignidade.

É de fácil verificação que uma breve pesquisa no google apareça


a reportagem publicada pelo réu, o qual evidentemente atribui conduta
criminosa ao Autor.

Não é possível que seja direito do réu, ETERNAMENTE, mesmo


após o esclarecimento dos fatos pelo Poder Judiciário, tenho o direito
de ferir os direitos de imagem e honra do Autor.

Ora, Excelência, é só colocar o nome completo do Autor que a


reportagem aparece em PRIMEIRO LUGAR, junto com uma FOTO DE
PÁGINA COMPLETA DO AUTOR, o que demonstra a completa
desproporção dos direitos de informação da honra.

A manutenção da reportagem é indevida e deve ser prontamente


retirada.
Portanto, sendo CAUSA DE PEDIR DIVERSA, devem ser
acolhidos os presentes embargos de declaração, face a latente
obscuridade da sentença.

DOS PEDIDOS
Pelo exposto, requer o embargante sejam acolhidos os
presentes embargos, a fim de que seja suprido o ponto obscuro da
sentença.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Brasília, 22 de março de 2024.

RODRIGO BRESLER ANTONELLO

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