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Indicar Órgão de Atuação

EXMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA Nº VARA CÍVEL DA COMARCA DE CIDADE,


CEARÁ

AÇÃO ORDINÁRIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM CONSIGNAÇÃO EM


PAGAMENTO E LIMINAR EM ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

NOME DO REQUERENTE, QUALIFICAÇÃO DO REQUERENTE,


vem, à presença de Vossa Excelência, por conduto do Defensor Público abaixo firmatário,
com supedâneo nas normas do Código Civil, Código de Processo Civil, Código de Defesa
do Consumidor, além de outros Cânones aplicáveis à espécie propor, como de fato propõe a
presente AÇÃO ORDINÁRIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM
CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO E LIMINAR EM ANTECIPAÇÃO DE TUTELA em face
da NOME DA FACULDADE, QUALIFICAÇÃO DA FACULDADE, na pessoa do seu
representante legal, pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor.

PRELIMINARMENTE

Requer os benefícios da justiça gratuita, em razão da parte estar


sendo assistido pela Defensoria Pública, por ser pobre na forma da lei, conforme
dispositivos insertos na Lei Federal 1.060/50, acrescida das alterações estabelecidas na Lei
Federal 7.115/83, bem como em atendimento ao preceito constitucional, na esfera federal,
da Lei Complementar Federal nº 80/94, reformada pela Lei Complementar Federal nº
132/2009 e, estadual, por meio da Lei Complementar Estadual nº. 06/97, tudo por apego á
égide semântica prevista no artigo 5°, LXXIV da Carta da República de 1988.

Av. Pinto Bandeira, nº 1.111, Luciano Cavalcante, Fortaleza-CE


CEP 60.811-170, Fone: (85) 3101-3434
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SINOPSE FÁTICA

DESCRIÇÃO DOS FATOS

FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Sabe-se que a boa-fé é um princípio normativo que exige uma


conduta das partes com honestidade, correção e lealdade. O princípio da boa-fé, assim, diz
que todos devem guardar fidelidade à palavra dada e não frustrar ou abusar da confiança
que deve imperar entre as partes.

Nas palavras de Tereza Negreiros:

“O princípio da boa-fé, como resultante necessária de uma ordenação


solidária das relações intersubjetivas, patrimoniais ou não, projetada
pela Constituição, configura-se muito mais do que como fator de
compreensão da autonomia provada, como um parâmetro para a sua
funcionalização à dignidade da pessoa humana, em todas as suas
dimensões.” (Fundamentos para uma Interpretação Constitucional do
Princípio da Boa-Fé, Ed. Renovar, Rio de Janeiro, 1998, pág. 222-
223).

No caso sub judice, a atitude promovida pela universidade requerida


vetoriza-se em um ato ilícito que na lição do inolvidável Orlando Gomes é:

“ação ou omissão culposa com a qual se infringe direta e


imediatamente um preceito jurídico do direito privado, causando-se
dano a outrem” (GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. Rio de
Janeiro, Forense, 1987, pág. 314).

Ora, Excelência, a partir do momento em que a requerida não

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regulariza a situação acadêmica do aluno, não permitindo sua matrícula, incorreu em ilícito e
quebra da boa-fé objetiva, que devem imperar entre os contratantes.

Nesse sentido, traz jurisprudência que dá supedâneo a pretensão


autoral, deixando clara a quebra da boa-fé objetiva da instituição em relação ao autor, bem
como a evidente falta de razoabilidade, tão necessária nas relações privadas e públicas.

ADMINISTRATIVO - ENSINO SUPERIOR - ALUNO INADIMPLENTE -


PAGAMENTO DAS PARCELAS COBRADAS - MATRÍCULA
EXTEMPORÂNEA - LIMINAR DEFERIDA - CONSOLIDAÇÃO DA
SITUAÇÃO FÁTICA – I - Inexiste qualquer ilegalidade na conduta de
Instituição de Ensino Superior que indefere pedido de matrícula de
aluno inadimplente. II- No caso, o impetrante adimpliu as parcelas
cobradas, ainda que posteriormente ao prazo para renovação da
matrícula. III- Situação fática consolidada, em razão de decisão liminar
que determinou a renovação da matrícula do impetrante no curso de
Direito, período 2008.1. IV- Remessa oficial improvida. (TRF-5ª R. -
REOAC 2008.84.01.001042-8 - (463484/RN) - 4ª T. - Relª Desª Fed.
Margarida Cantarelli - DJe 04.03.2009 - p. 257)

No mesmo diapasão, aduzindo sobre a violação ao princípio da


razoabilidade:

ADMINISTRATIVO - ENSINO SUPERIOR - CURSO DE DIREITO -


MATRÍCULA EXTEMPORÂNEA - POSSIBILIDADE - ALUNO QUE
ASSISTE ÀS AULAS DO PERÍODO PRETENDIDO, FAZ
TRABALHOS E REALIZA PROVAS - 1- A comprovada participação,
desde o início do sexto semestre do referido curso, nas atividades
discentes, assistindo às aulas, realizando trabalhos e provas,
recomenda a matrícula do impetrante no referido período, mesmo que
extemporaneamente. A recusa à matrícula, no caso, em face dessas
circunstâncias, viola o princípio da razoabilidade. 2- Remessa oficial
desprovida. Sentença concessiva da segurança confirmada. (TRF-1ª
R. - RN 2008.41.00.002332-8/RO - 6ª T. - Rel. Des. Fed. Daniel Paes
Ribeiro - DJe 31.08.2009 - p. 358)

Fazendo menção à restrição da matrícula por formalidades

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administrativas da instituição:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS


ESCOLARES - INADIMPLÊNCIA COMPROVADA E REGULARIZADA
- MATRÍCULA EXTEMPORÂNEA - Interesse da agravante em
continuar os estudos pagando todos os débitos. Restrição da
matrícula por formalidades administrativas. Prejuízo não demonstrado
para à agravada. Recurso provido. (TJSP - AI 990.10.209960-1 - São
João da Boa Vista - 38ª CDPriv. - Rel. Maury Bottesini - DJe
24.06.2010 - p. 1147)

A empresa ré, assim como as demais entidades privadas de ensino


superior, está amparada por generosa legislação que lhes assegura o inabalável direito de
propriedade ao vedar o direito à renovação das matrículas em caso de inadimplência,
conforme prevê o artigo 5º da Lei Federal nº 9.870/99. Não estaria, assim, a demandada
obrigada a tolerar o ingresso e a frequência de alunos em débito. Bastaria se valer do
disposto no artigo 5º para negar a rematrícula e interromper a prestação do serviço.

Entretanto, diversamente, admitem o ingresso e frequência de tais


alunos; e se o fazem não é sem nenhum interesse. Afinal, é algo vantajoso tolerar que tais
alunos frequentem alguns semestres sem pagar, pois quando concluírem os créditos e
estiverem na dependência da expedição do diploma para conseguir melhor colocação do
mercado de trabalho, os estabelecimentos acenam com acordos financeiros quase sempre
abusivos.

Estabelece o artigo 5º da Lei Federal 9.870/99, que as instituições de


ensino não estão obrigadas a renovarem a matricula dos alunos inadimplentes, verbis:

"Art. 5º - Os alunos já matriculados, salvo quando inadimplentes, terão


direito à renovação das matrículas, observado o calendário escolar da
instituição, o regimento da escola ou cláusula contratual."

Analisando-se o dispositivo legal supra transcrito, constata-se que a


intenção do legislador pátrio foi não só a de garantir a renovação da matricula dos alunos já
se vinculados à faculdade, mas também a de tutelar os interesses das instituições de ensino

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privadas, na medida em que reconhece a possibilidade de não renovação da matrícula dos


alunos inadimplentes.

O procedimento adotado pela requerida é ilegal, em razão do


estabelecido no artigo 6º da Lei nº 9.870, de 23 de novembro de 1999:

“Art. 6º - São proibidas a suspensão de provas escolares, a retenção


de documentos escolares ou a aplicação de quaisquer outras
penalidades pedagógicas por motivo de inadimplemento, sujeitando-
se o contratante, no que couber, às sanções legais e administrativas,
compatíveis com o Código de Defesa do Consumidor.”

Em que pese o disposto na norma acima transcrita, o seu rigor tem


sido abrandado pelos órgãos jurisdicionais pátrios, por versar sobre o direito fundamental à
educação, conforme disposto no art. 205 da Constituição Federal, in litteris:

Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

O caso vertente trata-se, portanto, de hipótese em que há claramente


um conflito – ainda que aparente – entre princípios constitucionais, estando de um lado à
livre iniciativa e de outro o direito à educação, que deverá ser solucionado por meio do
método da ponderação de valores, de forma que nenhum deles seja integralmente
sacrificado.

Assim, a aplicação pura e simples do art. 5º da Lei 9.870/99


ensejaria o sacrifício integral do direito à educação em favor do interesse meramente
patrimonial – mormente em caso como o presente, sendo abusivas as cobranças hodiernas,
pois fruto de atitude acintosa e contrária à boa-fé pela faculdade demandada, como se viu.

Nesse sentido, chega-se a conclusão que a cláusula é abusiva


quando imputar o ônus ao consumidor em desvantagem exagerada, ofendendo o direito do
consumidor, que constitui arcar com os honorários de advogado para agir contrário aos seus

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próprios direitos/interesses.

O Código de Defesa do Consumidor consagra o princípio da


transparência e harmonia das relações de consumo (art. 4º), definindo como abusiva a
cláusula que coloque o consumidor em desvantagem exagerada, ou seja, incompatível com
a boa-fé e equidade (art. 51, IV), preceituando que as cláusulas contratuais serão
interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor (art. 47), impondo-se, nos contratos
de adesão, que estes sejam redigidos em termos claros de modo a facilitar sua
compreensão (art. 54, § 3º).

Para que haja a ponderação de valores no caso, imperiosa se faz a


mitigação da norma em comento para permitir que seja a realizada a matrícula e seja
declarada a abusividade da cobrança das mensalidades em atraso do ano próximo passado,
sendo, pois, a pretensão da ré uma cobrança abusiva que redundaria, se aceita, em
enriquecimento ilícito, indubitavelmente repugnada pela lei, pela doutrina e jurisprudência.

Ademais, não há que se falar que a previsão constitucional em


comento se dirige apenas ao Estado, eis que já restou pacificado na hodierna dogmática
constitucional que os direitos fundamentais também vinculam os particulares, o que tem sido
denominado pela doutrina de eficácia horizontal dos direitos fundamentais, mormente em
caso como o presente em que a Constituição atribui expressamente tal obrigação a toda a
sociedade.

Neste sentido, aliás, tem sido o posicionamento do TJDFT em casos


análogos, verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE


ENSINO SUPERIOR. RENOVAÇÃO DE MATRÍCULA.
INADIMPLÊNCIA. POSSIBILIDADE.

Não pode a instituição superior de ensino impedir a matrícula do aluno


inadimplente e privá-lo de seu direito constitucionalmente garantido à
educação, como meio coercitivo para reaver seu crédito, mormente
quando já quitado o débito.

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Para receber as parcelas que se encontram em atraso, deverá se


valer das vias apropriadas, propondo a ação adequada para satisfazer
seu crédito.

Agravo provido. (20080020033708AGI, Relator ANA MARIA DUARTE


AMARANTE BRITO, 6ª Turma Cível, julgado em 04/06/2008, DJ
23/07/2008 p. 70)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE INDEFERIU A


LIMINAR EM AÇÃO CAUTELAR PARA RENOVAÇÃO DE
MATRÍCULA DE ALUNO INADIMPLENTE. ENSINO SUPERIOR. ART.
5º DA LEI. 9. 870/99. ÚLTIMO SEMESTRE. EFEITO SUSPENSIVO
CONCEDIDO. RENOVAÇÃO DE MATRÍCULA. SITUAÇÃO FÁTICA
CONSOLIDADA.

1. Embora a negativa de renovação de matrícula de aluno


inadimplente encontra previsão no art. 5º da lei n° 9.870/99, a meu
ver, deve se privilegiar, no caso, o exercício do direito constitucional à
educação previsto no art. 205 da Constituição Federal, em detrimento
do interesse financeiro da instituição de ensino.

2. Desta feita, deve-se preservar a situação fática consolidada com o


deferimento da liminar postulada nos autos, em abril do deste ano,
assegurando a matrícula e, consequentemente, o direito do impetrante
de freqüentar as aulas e a efetuar provas no 8º e último semestre do
curso de educação física, sendo, no caso, desaconselhável sua
desconstituição.” (20060020034749AGI, Relator ASDRUBAL
NASCIMENTO LIMA, 5ª Turma Cível, julgado em 28/06/2006, DJ
14/09/2006 p. 119)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. INSTITUIÇÃO DE ENSINO


SUPERIOR. ALUNO INADIMPLENTE. RENOVAÇÃO DE
MATRÍCULA. RECUSA.

1 - A inadimplência do aluno não constitui motivo suficiente para


impedir a sua matrícula no semestre seguinte. Compete ao credor
propor a ação adequada para cobrar o seu débito.

2 - Recurso conhecido e improvido. Unânime.” (AGI


2003.00.2.006966-5 - Acórdão n° 182529 - 5ª Turma Cível – Rel.ª

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Des.ª Haydevalda Sampaio - DJU: 03.12.2003 Pág. 70)

O Tribunal de Justiça do Estado do Ceará assim já decidiu:

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. REEXAME NECESSÁRIO.


DECISÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA QUE AUTORIZA A
REMATRÍCULA DE ALUNA SUPOSTAMENTE EM ATRASO COM A
MENSALIDADE. REEXAME CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Trata-
se de Reexame Necessário, referente a Mandado de Segurança
impetrado por Priscilla Uchoa Martins, nos autos do Processo n.º
2008.0004.2511-3/1 interposto contra ato do Representante da
Universidade Regional do Cariri - URCA. 2. Verifica-se do pedido
esposado na exordial que o objetivo pretendido pela impetrante é o de
obter ordem mandamental que lhe assegure a rematrícula no curso de
graduação em direito mantido pela Universidade Regional do Cariri -
URCA, na Unidade Descentralizada de Iguatu, sem a necessária
apresentação de quitação da mensalidade não vencida. 3. Observa-
se, in casu, a nítida ofensa ao princípio da eficiência por parte da
Administração da URCA em não providenciar a rematrícula da
Impetrante. 4. Não se cabe alegar que a negativa de efetivação da
matrícula da impetrante no curso de direito, deu-se em razão de não
ter sido paga a mensalidade referente ao mês de fevereiro, já que da
leitura da Lei nº 9.870/99, artigos 5º e 6º, § 1º, conclui-se que a
inadimplência do aluno junto à universidade deve ser sanada através
dos meios legais e não por coação administrativa que resulte em
constrangimento ilegal. 5. Reexame Necessário conhecido para
confirmar a sentença proferida em todos os seus termos. (Relator(a):
CLÉCIO AGUIAR DE MAGALHÃES- Comarca: Fortaleza Órgão
julgador: 5ª Câmara Cível Data de registro: 13/12/2011).

Segundo o entendimento pacífico do STJ, a existência de débitos


junto à instituição de ensino não deve interferir na prestação dos serviços educacionais. Os
débitos devem ser exigidos em ação própria, sendo vedada à entidade educacional interferir
na atividade acadêmica dos seus estudantes para obter o adimplemento de mensalidades
escolares (REsp 1.081.936).

Deve, assim, a empresa demandada, por seus representantes,

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atender aos ditames de uma conduta conforme os postulados da boa-fé, não sendo
tolerado, segundo o venire contra factum proprium, que possa voltar sobre seus próprios
passos, atuando de modo eminentemente contraditório em face de uma atuação pretérita.

Deste modo, a mudança repentina por parte daquele que se obrigou


pode, como é o caso sub judice, surpreendeu negativamente a outra parte, causando-lhe
prejuízos de grande monta. Destarte, à promovida se proíbe o venire contra factum
proprium, ou seja, os comportamentos contraditórios, de modo que o segundo
comportamento frustra a justa expectativa gerada pelo primeiro comportamento, violando a
conduta imposta pela boa-fé objetiva.

Como abordado nos fatos, Excelência, o autor foi surpreendido com


o comportamento imprevisto da empresa ré no descumprimento de sua oferta (30% de bolsa
transferência), motivo pelo qual, temendo perder importante desconto, suspendeu o
pagamento das mensalidades, a fim de tentar reaver o seu crédito de forma administrativa.

Com efeito, o estabelecimento de ensino demandado descumpriu (e


ainda descumpre) o contrato, uma vez que não mais aceitou o que dantes ofertou,
redundando em cobrança de valores indevidos, pois ao arrepio do contratado, bem como no
constrangimento de tais cobranças, haja vista o inacolhimento do pedido de renovação de
matrícula. É, pois, caso de exceção de contrato não cumprido, que se acha insculpida no
artigo 476 do NCCB, in verbis:

“Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida


a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.”

Não pode, portanto, a faculdade demandada exigir o pagamento das


prestações em atraso, em face de inadimplemento do demandante, se não satisfez a sua
obrigação contratual, fato que persiste até os dias atuais, conforme documentos inclusos.

A respeito do assunto, vejamos o magistério de Sílvio Rodrigues:

“A exceptio non adimpleti contractus pode ser invocada, qualquer que


seja a causa geradora do inadimplemento do contrato. Porque, tendo
uma prestação sua causa na outra, deixando aquela de ser cumprida,

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seja qual for o motivo, cessa de exigir a causa de cumprimento da


segunda. (Dos Contratos e Declarações Unilaterais de Vontade, 25
edição, Ed. Saraiva, 1997, v.3, pág.77).

Vejamos, outrossim, algumas regras do Digesto consumeristas que


se aplicam perfeitamente ao caso em lide e socorre as pretensões do peticionante:

Art. 30 - Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa,


veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a
produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor
que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a
ser celebrado.

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas:

XI - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou


contratualmente estabelecido;

Art. 42 - Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será


exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.

Art. 48 - As declarações de vontade constantes de escritos


particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo
vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos
termos do artigo 84 e parágrafos.

Dessarte, o que se busca aqui é o restabelecimento da situação


acadêmica do requerente, de modo que este não perceba prejuízos na sua formação por
mera arbitrariedade da instituição e tenha garantido o direto ínsito na Carta Magna. Negar a
pretensão autoral no presente caso seria contrariar o preceito constitucional de incentivar o
desenvolvimento da pessoa para o exercício da cidadania.

Diante de todo o exposto, evidente está que o autor se viu diante de


um verdadeiro defeito do serviço, tendo em vista que suas expectativas legítimas foram
frustradas, não restando dúvida da conduta irregular e ilegal da requerida, devendo esse r.
juízo reparar o erro, imediatamente, a fim de amenizar a angústia e sofrimento que

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acompanha o suplicante até os dias atuais.

DA TUTELA ANTECIPADA

O artigo 273, I do CPC prevê a possibilidade de o juiz, a


requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no
pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da
alegação e haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

Da mesma forma é a prescrição do CDC, ex textus:

Art. 84 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de


fazer ou não fazer, o Juiz concederá a tutela específica da obrigação
ou determinará providências que assegurem o resultado prático
equivalente ao do adimplemento.

§ 1º - A conversão da obrigação em perdas e danos somente será


admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela
específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

§ 2º - A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa


(artigo 287 do Código de Processo Civil).

§ 3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo


justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao Juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o
réu.

§ 4º - O Juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor multa


diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente
ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o
cumprimento do preceito.

Com efeito, a tutela antecipada é a decisão provisória que satisfaz


total ou parcialmente, imediatamente o direito material deduzido. Exige verossimilhança

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baseada em prova segura, inequívoca. A tutela antecipa os efeitos do provimento final.

A prova inequívoca é a prova robusta, consistente, que conduza a


um juízo de probabilidade. É prova com boa dose de credibilidade; não é prova absoluta,
irrefutável. É qualquer meio de prova, em geral documental, capaz de influir, positivamente,
no convencimento do juiz – prova suficiente para o surgimento do verossímil.
Verossimilhança é o juízo que permite chegar a uma verdade provável sobre os fatos:
elevado grau de probabilidade da versão apresentada pelo autor.

As considerações feitas na fundamentação bem evidenciam a


existência do requisito da inequívoca verossimilhança. É fato incontroverso que muitos
alunos em débito têm frequentado às aulas, realizado trabalhos e provas, enfim, têm
praticado os atos da vida acadêmica com a aquiescência das faculdades.

Impõe-se a conclusão de que a autora ostenta a qualidade


consumidora e, portanto, faz jus ao exercício de todos os direitos que lhe são assegurados
pela lei, principalmente porque nada deve à universidade demandada.

O fato é que mesmo alunos em débito não perdem a qualidade de


alunos e consumidores perante os estabelecimentos de ensino porque estes deixaram de
cobrar as mensalidades em atraso e por pura conveniência. Não pode, portanto, utilizar de
meios tortuosos para forçar o pagamento de um débito que ao menos existe legalmente.

No que tange ao fundado receio de dano irreparável ou de difícil


reparação, inevitável a comparação com o periculum in mora ou risco de dano iminente do
processo cautelar, refletindo-se, no dizer autorizado de Ovídio Baptista da Silva, na
exposição a perigo do direito provável.

Ao comentar os requisitos para a concessão da tutela antecipada, o


Professor Luiz Guilherme Marinoni assim disserta:

"É possível a concessão da tutela antecipatória não só quando o dano


é apenas temido, mas igualmente quando o dano está sendo ou já foi
produzido.

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Nos casos em que o comportamento ilícito se caracteriza como


atividade de natureza continuativa ou como pluralidade de atos
suscetíveis de repetição, como, por exemplo, nas hipóteses de
concorrência desleal ou de difusão notícias lesivas à personalidade
individual, é possível ao juiz dar a tutela para inibir a continuação da
atividade prejudicial ou para impedir a repetição do ato." (in "A
Antecipação da Tutela na Reforma do Processo Civil", Ed. Malheiros,
p. 57).

Quanto ao dano irreparável ou de difícil reparação, este se encontra


patente, uma vez que resta cristalino que a demora da prestação jurisdicional trará prejuízos
de difícil reparação à parte requerente, a qual está impedido de continuar com seus estudos,
para, no futuro, galgar uma atividade laborativa e assim poder oferecer uma qualidade de
vida melhor para si e para os seus familiares.

O periculum in mora está igualmente evidente na medida em que a


conduta do estabelecimento requerido expõe de maneira permanente seus alunos à prática
arbitrária de negar acesso a renovação de matrículas, provas, trabalhos e outros
documentos acadêmicos, bem como negar a expedição de diploma de conclusão a alunos
que foram aprovados em todos os créditos.

Ademais, caso não seja concedida a tutela antecipada


imediatamente, haverá sério comprometimento na formação acadêmica, atrasando a
conclusão do curso e solapando os anseios do jovem estudante, ora requerente, assim
ensejará na inevitável rescisão do seu contrato de estágio por falta de comprovação da
regularidade de sua condição de estudante universitário.

Vale frisar, por fim, que a medida em questão é reversível a qualquer


momento. Neste sentido é a decisão adiante do Colendo Superior Tribunal de Justiça,
verbis:

“A exigência da irreversibilidade inserta no § 2º do art. 273 do CPC


não pode ser levada ao extremo, sob pena de o novel instituto da
tutela antecipatória não cumprir a excelsa missão a que se destina”
(STJ-2ª Turma, Resp 144.656-ES, rel. Min. Adhemar Maciel, j.6.10.97,

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não conheceram, V.u., DJU 27.10.97,p.54.778)

No mesmo sentido já dissertou o festejado Ministro Sálvio de


Figueiredo em sua recente obra:

“As exigências de prova inequívoca e reversibilidade do provimento


devem ser interpretadas cum grano salis e com observância do
princípio da proporcionalidade” (in CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
ANOTADO, SALVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, 7ª EDIÇÃO,2003)

Importante trazer à colação os ensinamentos doutrinários do


eminente jurista Nelson Nery Junior, proferidos em sua magnífica obra Código de Processo
Civil Comentado, onde com maestria preleciona que:

“Ações que admitem a tutela antecipada. Em toda ação de


conhecimento, em tese, é admissível a antecipação de tutela, seja a
ação declaratória, constitutiva (positiva ou negativa), condenatória,
mandamental etc. A providência tem cabimento, quer a ação de
conhecimento seja processada pelo rito comum (ordinário ou sumário)
ou especial, desde que verificados os pressupostos da norma sob
comentário” (...) (ob. cit. ,5ª edição; 2001, p.732)

Destarte, a verossimilhança da alegação, ao lado da prova


inequívoca do direito buscado pelo(a) postulante e do receio de dano irreparável à sua
própria subsistência trazem a esta querela o cumprimento integral da égide semântica
prevista no artigo 273, caput e inciso I, do Código de Ritos Civil.

Destaque-se, nesta ansa, decisão recente do nosso Egrégio Tribunal


de Justiça do Estado do Ceará, ex textus:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - DECISÃO CONCESSIVA


DE TUTELA ANTECIPADA - PRESENÇA DOS REQUISITOS
ENSEJADORES DO INSTITUTO - RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO.

I - Presentes os requisitos ensejadores da tutela antecipada, impõe-se


o seu deferimento.

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(...)

(AI 2002000146584 CE- 2ª Câmara Cível – Rel. Des. Gisela Nunes


Costa - j.31.03.2004 - grifamos)

Requer-se, desse modo, que seja liminarmente concedida a tutela


cautelar na presente demanda, a fim de devolver a dignidade constitucional ao autor,
viabilizando a continuidade regular no ensino superior, não prejudicando assim sua vida, no
que tange a sua formação acadêmica e pessoal, dado o caráter promotor de cidadania
inerente à educação.

DOS PEDIDOS

Em face do exposto, requer, se digne Vossa Excelência de:

1) Deferir a gratuidade judiciária requerida, na conformidade do


dissertado em preliminar;

2) Acolher os argumentos consignados na presente inicial e o


deferimento da concessão da tutela antecipada liminarmente, inaudita altera pars, ao
amparo das normas citadas, para o fim de:

2.1) AUTORIZAR a consignação em pagamento dos valores em


atraso no montante incontroverso deduzido pelo autor, ou seja, VALOR EM ATRASO, pois
em consonância com o acordo firmado entre os litigantes, até ulterior deliberação, no banco
que Vossa Excelência indicar para depósitos mensais, requerendo-se, de logo, expedição
de ofício para abertura de conta exclusivamente para este fim, até o final da presente
querela;

2.2) DETERMINAR ao diretor geral da NOME DA FACULDADE que


promova a devida regularização da situação acadêmica do autor, permitindo-se-lhe a
matrícula no semestre SEMESTRE DA MATRÍCULA, de modo que passe a integrar a turma

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de alunos do curso de NOME DO CURSO, com todos os consectários daí decorrentes, sob
pena de multa diária de r$ 1.000,00;

3) Empós as concessões liminares, mandar CITAR a requerida, para,


querendo, apresentar a defesa que tiver, sob as penas do artigo 319 do CPC;

4) Conceder a inversão do ônus da prova em favor do requerente,


nos moldes entabulados pelo Código de Defesa do Consumidor, principalmente para
determinar a faculdade requerida que faça juntar aos autos o comprovante de transferência,
o comprovante de escolaridade e a matrícula atualizada, para o fim de averbação no estágio
do requerente na empresa RAZÃO SOCIAL DA EMPRESA;

5) Intimar o douto representante do Ministério Público, para


acompanhar este feito até o final já que se trata de norma de interesse social conforme
artigo 1º do CDC;

6) Empós os ulteriores termos, julgar procedente a presente esgrima,


para o fim de reconhecer o direito do requerente, de modo a regularizar, definitivamente, a
sua situação acadêmica junto a universidade requerida, tornando-se definitiva a liminar
concedida, sendo considerada cassada qualquer determinação que impeça a execução da
matrícula do requerente no SEMESTRE DA MATRÍCULA semestre do ano de ANO DA
MATRÍCULA;

7) RECONHECER a mora do estabelecimento de ensino, em face de


suas práticas abusivas, entre elas a de cobrar valores indevidos (art. 39, XI),
descumprimento da oferta (art.30) e constrangimento na cobrança das mensalidades (art.
42), que impediram que o requerente pudesse fazer os devidos pagamentos nos seus
vencimentos, sem sobressaltos, haja vista as normas do CDC serem de ordem pública
(REsp. 1.061.530/RS, 2ª Seção, ministra Nancy Andrighi, DJe 10/03/2009);

8) CONDENAR, finalmente, a requerido no pagamento das verbas de


sucumbência, na base de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, os quais
deverão ser revertidos à DEFENSORIA PÚBLICA-GERAL DO ESTADO DO CEARÁ.

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Protesta e requer provar o alegado por todos os meios de provas


admitidos em direito, juntada de novos documentos, perícias, depoimentos pessoais e
inquirição de testemunhas (oportunamente arroladas), tudo desde já requerido.

Dá à causa, para efeitos meramente processuais, o valor de VALOR


DA CAUSA.

Nesses termos.
Pede deferimento.
CIDADE, DIA DE MÊS DE ANO.

NOME DO(A) DEFENSOR(A) PÚBLICO(A)


Defensor(a) Público(a)

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