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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO

FEDERAL.

ELIZÂNGELA ALVES DE OLIVEIRA GONÇALO, brasileira, servidora pública, inscrita no


RG sob o nº 1.671.723 SSP-DF, e no CPF sob o nº 834.152.701-49, residente e domiciliada na
quadra 4, conjunto B, casa 27, Planaltina-DF, CEP 73.360-402, endereço eletrônico
contato@piscoerodrigues.adv.br, vem, respeitosamente, por seus advogados (procuração
anexa), com apoio no artigo 79 da Lei Complementar nº 840, de 2011, propor a presente

AÇÃO PELO PROCEDIMENTO COMUM


(AGENTE SOCIOEDUCATIVO – ADICIONAL DE INSALUBRIDADE)

em face do DISTRITO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público, que pode ser
regularmente citado na figura da Procuradoria-Geral do Distrito Federal, nos termos do
art. 111, inciso I, da Lei Orgânica do Distrito Federal, com sede no SAM bloco “I”, Edifício
Sede, Brasília-DF, CEP 70.350-515, endereço eletrônico ouvidoriapgdf@pg.df.gov.br,
conforme as razões de fato e direito a seguir articuladas.

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1. DA JUSTIÇA GRATUITA.

A autora requer a incidência dos benefícios da gratuidade da justiça, a teor do artigo


98 do Código de Processo Civil. Observa-se que, além da declaração de hipossuficiência
anexa, que faz ser presumida a veracidade da alegação, a remuneração percebida pela
autora não é suficiente para arcar com as despesas destes autos.

Ab initio, registre-se que, dada a natureza da presente demanda judicial, a produção


da prova pericial é imprescindível. Isso porque deverá ser comprovada a insalubridade
do ambiente de trabalho da autora, a despeito da juntada do anexo laudo técnico
individual. Com efeito, é sabidamente alto o custo das perícias judiciais. Veja-se, por
exemplo, a prova pericial produzida nos autos da Ação nº 0017640-68.2015.8.07.0018, que
alcançou o patamar de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

A isso soma-se o fato de que a autora desempenha função essencial no sustento de


sua família, não podendo, sem comprometimento de seu padrão de vida, despender os
recursos necessários para o trâmite regular da ação. Apenas a título de plano de saúde, a
autora tem um gasto mensal de aproximadamente R$ 830,00 (oitocentos e trinta reais), e,
de aluguel, de R$ 1.379,71 (mil, trezentos e setenta e nove reais e setenta e um centavos).

Veja-se que a autora percebeu uma remuneração líquida de R$ 4.739,42 (quatro mil,
setecentos e trinta e nove reais e quarenta e dois centavos) no mês de março de 2022, de
modo que, muito provavelmente, o custo para a produção da prova pericial ultrapassará
a totalidade de seu rendimento mensal.

Portanto, o deferimento da gratuidade da justiça, no particular, é condição sine qua


non para o acesso a jurisdição, sendo certo que, ausente o benefício, o autor não terá
condições de prosseguir na busca pela satisfação de seu direito.

De todo modo, subsidiariamente, a autora pugna pelo deferimento da gratuidade


ao menos quanto à produção da prova pericial, sob pena de não poder acessar o Poder
Judiciário. Veja-se que essa possibilidade tem respaldo no CPC, consoante o §5º do art. 98:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da
lei.

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(...)
§ 5º A gratuidade poderá ser concedida em relação a algum ou a
todos os atos processuais, ou consistir na redução percentual de despesas
processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso do procedimento.

Assim, diante de todo o exposto, pugna-se pelo deferimento da gratuidade de


justiça para o processo, ou, ao menos, para o ato da produção de provas.

2. DOS FATOS.

A autora é agente socioeducativa, nos termos da Lei nº 5.351, de 2014,


encontrando-se lotado, desde 20 de fevereiro de 1998, na Unidade de Internação de
Planaltina (UIP).

Como agente socioeducativa, cabe à autora, observada a Lei Federal nº 8.069, de


1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e a Lei Federal nº 12.594, de 2012, executar
atividades relacionadas a guarda, vigilância, acompanhamento e segurança dos
adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, sob regime de privação de
liberdade ou restrição de direitos e executar outras atividades da mesma natureza e nível
de complexidade determinadas em legislação específica, observadas as peculiaridades do
cargo.

A Unidade de Internação de Planaltina é destinada a atender jovens e adolescentes


que cumprem medidas socioeducativas, possuindo quatro módulos de internação.

Conforme será aprofundado nos tópicos subsequentes, as atividades rotineiras da


autora a expõem a diversos fatores de risco, tendo em vista o contato com materiais
cortantes, inclusive contaminados com sangue e secreção, o contato físico com jovens e
adolescentes internados, em razão das revistas e inspeções físicas, o contato com roupas
pessoais, íntimas e de cama sujas para serem recolhidas ou durante a revista, o contato
com tubulações de esgoto para inspeções, e o contato com lixos e restos para inspeções.

Ainda, as atividades da autora exigem fisicamente a exposição à radiação não


ionizante, em razão dos trabalhos externos, além de ser o trabalho exercido
permanentemente em pé, com riscos de agressão em razão do contato próximo a jovens e
adolescentes em processo de ressocialização.

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Assim, a autora está exposta a inúmeros patógenos, inclusive vírus, bactérias,
fungos e outros agentes infecciosos, bem como a uma sobrecarga emocional, o que
caracteriza o ambiente como insalubre.

Entretanto, o réu se recusa a pagar o adicional devido, ao argumento de inexistir


fato gerador para pagamento do adicional, o que impõe o ajuizamento da presente ação.

De se destacar que a autora instrui a presente petição com prova emprestada


compreendida em laudos produzidos em ações versando também sobre as condições de
trabalho de agentes socioeducativos lotados na Unidade de Internação de Planaltina (UIP),
bem como aquele elaborado nos autos da Ação Coletiva nº 2015.01.1.071871-8, todos
capazes de comprovar o ambiente hostil no qual presta seu trabalho, de modo que a
pretensão deve ser acolhida, conforme a seguir articulado.

3. DA COMPETÊNCIA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA.

A presente ação tem como pretensão a condenação do réu a pagar, a título de


adicional de insalubridade ou de periculosidade, os respectivos valores em razão da
exposição da autora a agentes insalubres ou perigosos.

O apoio legal da pretensão consta nos artigos 79 e seguintes do Estatuto do Servidor


Público do Distrito Federal (LC nº 840/2011). Ainda, o pedido está fundamentado em
prova emprestada para a concessão de adicional ocupacional, subscrita por engenheiros
de segurança do trabalho que funcionam como peritos deste e. TJDFT.

Assim, tendo em vista que decorre da Constituição a competência dos Juizados


Especiais fazendários para julgar causas de menor complexidade, revela-se competente
uma das varas da Fazenda Pública do Distrito Federal o julgamento desta demanda, que
possui complexidade maior do que a suportada pelos Juizados Especiais.

Nesse sentido, a jurisprudência das Turmas Recursais, que pode ser consolidada no
seguinte precedente:

JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. PROCESSUAL


CIVIL. RECURSO DO SERVIDOR PÚBLICO. AGENTE DE GESTÃO
EDUCACIONAL DA CARREIRA ASSISTÊNCIA À EDUCAÇÃO DO
DISTRITO FEDERAL. ESPECIALIDADE VIGILÂNCIA. INEXISTÊNCIA

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DE LAUDO PERICIAL APTO À COMPROVAÇÃO DO DIREITO DO
SERVIDOR AO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE.
IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DE PROVA EMPRESTADA.
NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL, EM ÂMBITO
INDIVIDUAL. COMPLEXIDADE. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA
ABSOLUTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS, POR COMPLEXIDADE,
ACOLHIDA NO JUÍZO DE ORIGEM, MANTIDA. RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Gratuidade de justiça deferida, tendo
em vista a comprovação a hipossuficiência inferida dos documentos
apresentados aos autos (ID 13551789). (...) 7. No caso em comento,
inexiste nos autos Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho
reconhecendo o direito da autora ao recebimento do Adicional de
Periculosidade. (...) 11. Revelando-se indispensável a produção de prova
pericial complexa que afira as condições habituais de trabalho, no local
de atividade do pleiteante, verifica-se a incompetência do Juizado
Especial de Fazenda Pública para o processamento e julgamento da lide.
12. Nesse contexto, não merece reforma a sentença que reconheceu que
acolheu de preliminar de incompetência absoluta dos Juizados Especiais
da Fazenda Pública, extinguindo o feito sem julgamento do mérito, nos
termos do artigo 51, II, da Lei 9.099/1995. 13. Recurso conhecido e
improvido. 14. Condenado o recorrente ao pagamento de custas
processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% do valor da
condenação, os quais se encontram suspensos haja vista a gratuidade de
justiça deferida (Lei 9.099/95, Art. 55). 15. A súmula de julgamento servirá
de acórdão, conforme inteligência dos artigos 2º e 46 da Lei n. 9.099/95, e
em observância aos princípios informadores dos Juizados Especiais.
(Acórdão 1227402, 07170589120198070016, Relator: CARLOS
ALBERTO MARTINS FILHO, Terceira Turma Recursal, data de
julgamento: 4/2/2020, publicado no DJE: 11/2/2020. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

De se observar, portanto, que é inevitável as produção de prova técnica pericial para


corroborar o laudo individual que instrui a presente demanda, sendo certa, portanto, a
competência dessa MM. Vara da Fazenda Pública.

4. DA OBSERVÂNCIA DO QUE FOI DECIDIDO NA AÇÃO Nº 2015.01.1.071871-8.

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A questão jurídica trazida nestes autos não é nova. Em verdade, o sindicato
representante da categoria ajuizou ação coletiva, tombada sob o nº 2015.01.1.071871-8
(0017640-68.2015.8.07.0018), que foi julgada pelas instâncias ordinárias.

Naqueles autos, o voto do e. Desembargador Mário-Zam Belmiro Rosa, relator,


proferido no Acórdão 1146190, foi no sentido de que, para se reconhecer o direito ao
adicional de insalubridade para a atividade de agente socioeducativo, faz-se necessário o
ajuizamento de ações individuais autônomas, com laudos periciais individualizados,
capazes de demonstrar as condições de insalubridade a que cada servidor está exposto.
Senão, veja-se:

Na petição inicial foi afirmado que todos os servidores da Carreira


Socioeducativa trabalham em ambiente insalubre e requerido o pagamento
do adicional respectivo. Logo, na própria demanda deve ser definido se o
pedido procede, improcede ou procede em parte em relação a alguns
servidores.
A rigor, representa ação autônoma aquela em que o servidor deve
demonstrar que trabalha em ambiente insalubre, ou seja, que atende aos
requisitos legais para o reconhecimento do adicional de insalubridade,
circunstância que descortina a inadequação da liquidação de sentença,
procedimento que, no contexto de demanda coletiva, tem contornos
definidos: demonstrar que o liquidante sofreu os danos genericamente
admitidos na sentença condenatória.

O c. TJDFT, em síntese, chegou à conclusão assinalada por compreender que o


laudo pericial feito no bojo de ação coletiva, que não dedica atenção – por sua própria
natureza – às peculiaridades de cada servidor, justifica e autoriza o ajuizamento de ação
autônoma, que busca produzir as provas específicas que evidenciam a exposição de
trabalho em condições insalubres.

Dessa forma, então, a mencionada ação coletiva não exclui da autora o direito de
questionar a mora do réu nesta ação, calcada em laudo individual que impõe a concessão
do adicional. Pelo contrário, o c. TJDFT reforça a pretensão da autora, eis que as
peculiaridades de sua lotação autoriza o deferimento do pedido.

5. DA NECESSIDADE DO DEFERIMENTO DO ADICIONAL.

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A já conhecida NR 15, do então Ministério do Trabalho, indica que o servidor
perceber o adicional de insalubridade em caso de exposição, dentre outros, a riscos
biológicos, físicos, ergonômicos e de acidentes.

A autora, no caso dos autos, está exposta aos agentes de risco, conforme se
depreende da análise dos laudos anexos, produzidos em processos que versam
exatamente sobre a situação dos autos: agente socioeducativa lotada na Unidade de
Internação de Planaltina.

De acordo com o perito atuante nos autos do Processo nº 0703858-74.2020.8.07.0018,


o agente socioeducativo lotado na unidade se mantém em contato diário com
equipamentos sanitários, tubulações de esgotos e restos de lixo. A respeito do tema, as
imagens 47 e 48 – colacionadas no laudo – demonstram que, para fins de realização de
revista, o agente insere o antebraço quase inteiro na bacia sanitária, sendo que as luvas
fornecidas pela instituição garantem a cobertura somente da mão e de parte do pulso,
“fazendo com que o líquido da pia entre em contato com a pele do agente”. Para melhor
visualização, pede-se venia para colacionar as imagens citadas:

Ainda nesta mesma ação, e tratando sobre os Equipamentos de Proteção Individual


(EPIs) fornecidos, pede-se venia para colacionar também o excerto abaixo, bastante
esclarecedor acerca de sua (in)eficácia:

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As mesmas considerações podem ser observadas nos demais laudos anexos, a
exemplo daquele produzido no curso do Processo nº 0703790-27.2020.8.07.0018. De acordo
com o i. Perito, “é frequente a inserção das mãos dentro da bacia sanitária de objetos
estranhos” e “o reclamante está exposto de forma habitual e permanente a esgotos
(galerias e tanques)”.

Ainda, naquele mesmo processo, o i. Perito, ao responder aos quesitos formulados


pela parte autora, relatou que (i) há, nas dependências da Unidade de Internação de
Planaltina (UIP), interno testado positivo para COVID-19, que (ii) a autora está exposto
a riscos ocupacionais biológicos, ergonômicos e de acidente, de maneira “habitual e
permanente”, e que (iii), em determinadas ocasiões ocorrem agressões entre os internos,
que fazem necessária a intervenção do agente socioeducativo.

Como se vê, de acordo com as análises periciais que já vêm sendo promovidas na
unidade de internação em que lotada a autora, mostra-se habitual e permanente a
exposição a lixeiras, latrinas, tubulações de esgoto, ralos e chuveiros, sendo que os EPI’s
se resumem a apenas um par de luvas para procedimento cirúrgico, o que nitidamente
demonstra um claro desvio de finalidade e ineficácia do EPI disponível.

É dizer, impõe-se o reconhecimento, no caso concreto, do que dispõe o art. 79 da LC


840, de 2011:
Art. 79. O servidor que trabalha com habitualidade em locais
insalubres ou em contato per­manente com substâncias tóxicas, radioativas
ou com risco de vida faz jus a um adicional de insalubridade ou de
periculosidade.

Ora, a habitualidade e o local insalubre está comprovado nos laudos anexos, em


que se demonstra a grave exposição de risco por que passa a autora.

De acordo com o artigo 83 da mencionada LC nº 840/2011:

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Art. 83. O adicional de insalubridade ou de periculosidade é devido
nos termos das normas legais e regulamentares pertinentes aos
trabalhadores em geral, observados os percentuais seguintes, incidentes
sobre o vencimento básico:

I – cinco, dez ou vinte por cento, no caso de insalubridade nos graus


mínimo, médio ou máximo, respectivamente;

Como se vê, o adicional deve ser pago no valor máximo, de 20%, haja vista a
incidência do anexo 14 da NR 15:

Insalubridade de grau máximo Trabalho ou operações, em contato


permanente com:
- pacientes em isolamento por doenças infecto-contagiosas, bem
como objetos de seu uso, não previamente esterilizados;
- carnes, glândulas, vísceras, sangue, ossos, couros, pêlos e dejeções
de animais portadores de doenças infectocontagiosas (carbunculose,
brucelose, tuberculose);
- esgotos (galerias e tanques); e
- lixo urbano (coleta e industrialização).

Veja que a autora tem exposição não só a jovens ou adolescentes com doenças
infectocontagiosas, mas a fossas e lixos, que devem ser rotineiramente inspecionados a fim
de garantir a segurança dos jovens e adolescentes, dos servidores públicos e da própria
sociedade.

Ademais, cite-se que, no bojo de ações autônomas, este c. TJDFT tem se inclinado
para a formação de uma jurisprudência favorável ao servidor público, haja vista a evidente
e permanente sujeição a agentes socioeducativos a condições de trabalho insalubres. Veja-
se, nesse sentido, trecho de r. sentença proferida recentemente pelo MM. Juízo da e. 1ª
Vara de Fazenda Pública nos autos do Processo nº 0704131-53.2020.8.07.0018:

“As normas que disciplinam a matéria estão elencadas no art. 7º,


inciso XXIII, da CF/1988, no art. 79 da Lei Complementar do DF nº 840/2011
e no art. 1º do Decreto do DF nº 32.547/2010 que garantem aos servidores
do Distrito Federal o adicional de remuneração para as atividades penosas,
insalubres ou perigosas.

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O art. 3º do Decreto Distrital nº 32.547/2010 condiciona o pagamento
do adicional de insalubridade à elaboração de perícia técnica para auferir
se o servidor está exposto a fatores de risco físicos e biológicos e o grau de
tais riscos.
Frisa-se que a ausência de pedido administrativo e/ou elaboração dos
Relatório de Atividades Desenvolvidas até que todo o processo
administrativo seja concluído não impede a apreciação do pedido
formulado nos autos.
Por óbvio, devem estar comprovadas que as atividades exercidas
são insalubres, de modo a evitar a enriquecimento ilícito por parte do
servidor.
No caso, há laudo elaborado pela autora juntado pelo ID n.
65993582 em que se atesta a insalubridade.
Frisa-se que o laudo descreve pormenorizadamente as atividades
desempenhadas pela autora e as condições do ambiente de trabalho,
fatos esses que não foram contestados pelo réu, devendo ser
considerados como efetivamente comprovados.
Ademais, como já salientado na decisão saneadora, destaca-se que há
entendimento deste e. TJDFT no sentido de que o contato com agentes de
risco pode ocorrer em locais que não sejam ambientes
médicos/hospitalares, considerando que o rol do Anexo 14 da NR-15
(Normas Regulamentares do Ministério do Trabalho) não é taxativo,
exatamente porque as condições insalubres podem ocorrer em outros
locais.
Especificamente, nota-se que não houve controvérsia quanto às
atividades exercidas pela autora, bem como não se impugnou sobre o
contato da autora com os agentes de risco, motivo pelo qual o pedido
merece deferimento.
(…)
Logo, o Distrito Federal deve ser condenado ao pagamento do
adicional de insalubridade em grau máximo, correspondente a 20%
(vinte por cento) incidente sobre o vencimento básico da autora (…).”

Conforme se depreende da leitura do r. julgado transcrito, a concessão do adicional


de insalubridade se faz obrigatória quando o laudo técnico específico demonstrar, de
forma inequívoca, as condições insalubres no trabalho desempenhado pelo agente
socioeducativo – exatamente como demonstrado por intermédio dos laudos anexo.
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Assim, presentes os requisitos legais em razão das provas concretas produzidas
nestes autos, deve ser deferido o adicional de insalubridade, ao menos no grau de 20%.

6. DA UTILIZAÇÃO DAS PROVAS EMPRESTADAS.

Conforme adiantado nos tópicos antecedentes, a autora, a fim de corroborar as


alegações expostas, colaciona, a título de prova emprestada, laudos periciais produzidos
nos autos das ações individuais 0703431-77.2020.8.07.0018, 0703858-74.2020.8.07.0018 e
0703790-27.2020.8.07.0018, bem como aquele produzido no curso da ação coletiva nº
2015.01.1.071871-8.

Quanto às ações individuais, cumpre ressaltar que, em todos os processos, os


autores são profissionais que ocupam, em idêntica unidade de internação, exatamente o
mesmo cargo daquele que ocupado pela autora da presente demanda. Ou seja, trata-se,
em todos os casos, de agentes socioeducativos lotados na Unidade de Internação de
Planaltina (UIP), sendo os laudos produzidos, então, perfeitamente aplicáveis à hipótese
dos autos.

Ademais, embora, na Ação Coletiva, o c. TJDFT tenha compreendido pela


necessidade de se produzirem laudos específicos para cada servidor, o fato de que todos
peritos tenham chegado a idêntica conclusão serve para fortalecer o direito da autora.

Quanto ao tema de prova emprestada, o c. TJDFT, em precedente recente, de


relatoria do e. Desembargador Robson Barbosa de Azevedo, ao analisar questão jurídica
semelhante àquela tratada nos presente autos, entendeu ser plenamente viável o
aproveitamento do laudo pericial produzido no curso da ação coletiva mencionada:

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL E DIREITO


ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. AGENTE
SOCIOEDUCATIVO. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. SUSPENSÃO
DO PROCESSO. REPETITIVO DO STJ. MOMENTO PROCESSUAL
INADEQUADO. PERÍCIA JUDICIAL. PROVA EMPRESTADA. AÇÃO
COLETIVA. POSSIBILIDADE. CONDIÇÕES DE TRABALHO
INSALUBRES. LEI COMPLEMENTAR DISTRITAL 840/2011. NORMA
REGULAMENTAR Nº 15 DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E

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EMPREGO. ROL EXEMPLIFICATIVO. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO.
(…)
3. É plenamente cabível a utilização do laudo técnico produzido em
ação coletiva, no qual foi oportunizado ao apelado o pleno acesso ao
contraditório e ampla defesa, podendo inclusive apresentar os quesitos
a serem respondidos pelo perito.
4. Constatado em laudo pericial que o apelante, Agente
Socioeducativo, trabalha constantemente em local e sob condições
insalubres desde 20/07/2012, com exposição a doenças infectocontagiosas,
incidem as normas que regulamentam a matéria para os trabalhadores em
geral, consoante art. 83 da Lei Complementar Distrital 840/11. Porém, o
adicional de insalubridade deverá incidir sobre o vencimento básico do
apelante apenas a partir de 14/04/2014, uma vez que ficou reconhecida a
prescrição das parcelas incidentes em datas anteriores.
5. Embora o Anexo 14 da NR-15 (Normas Regulamentares do
Ministério do Trabalho) estabeleça que o contato com agentes biológicos
ocorre em hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios,
postos de vacinação e outros estabelecimentos destinados aos cuidados da
saúde humana, este rol não é taxativo, porque o contato constantemente
com os mais diversos agentes biológicos agressivos a saúde pode
perfeitamente ocorrer em outros locais.
6. A ausência de laudo individualizado não é suficiente para fulminar
o direito da autora, visto que a prova constante dos autos é clara e
suficiente para demonstrar as condições em que o mesmo trabalha, uma
vez que exerce as atividades constantes da Lei 5.351/14. Além disso, o
exercício das atividades foi verificado por perícia colacionada aos autos,
ficando evidenciada a situação insalubre das atividades desenvolvidas
pelo apelante.
7. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Sentença reformada.
(TJDFT. Proc. 0700439-80.2019.8.07.0018. Rel. desembargador Robson
Barbosa de Azevedo)

De acordo com o precedente acima mencionado, “o referido processo não transitou


em julgado até o presente momento, sendo plenamente cabível a utilização do laudo
técnico produzido em ação coletiva, no qual foi oportunizado ao apelado o pleno acesso

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ao contraditório e ampla defesa, podendo inclusive apresentar os quesitos a serem
respondidos pelo perito.”

Com efeito, e isso vale tanto para os laudos individuais quanto para os coletivos, a
produção se sujeitou, devidamente, aos institutos do contraditório e da ampla defesa, e,
especialmente, por parte do mesmo ente fazendário que figura como réu nos presentes
autos. Assim, mostra-se plenamente viável a utilização dos laudos periciais ora
colacionados, nos termos do art. 372 do CPC.

Portanto, a teor da faculdade conferida pelo dispositivo mencionado, a autora


pugna pelo aproveitamento das provas periciais produzidas nos autos das ações
individuais 0703431-77.2020.8.07.0018, 0703858-74.2020.8.07.0018 e 0703790-
27.2020.8.07.0018, bem como aquela produzido no curso da ação coletiva nº
2015.01.1.071871-8.

7. DO PEDIDO.

Ante o exposto, requer:

I – seja deferida a gratuidade de justiça para o processo, ou, subsidiariamente, ao menos


para o ato da produção de prova, nos termos do art. 98, §5º, do CPC;

II – a citação do réu para responder ao pedido no prazo legal;

III – sejam julgados procedentes os pedidos para:

a) reconhecer o direito da autora em perceber o adicional de insalubridade previsto


nos artigos 79 e 83, inciso I, da LC nº 840/2011, no grau de 20%; subsidiariamente,
requer o deferimento no patamar de 10 ou de 5%, nesta ordem;

b) condenar o réu a pagar o adicional de insalubridade desde 20 de fevereiro de 1998,


ressalvadas as verbas prescritas, e;

c) condenar o réu a incluir no contracheque da autora o adicional de insalubridade


requerido no item a) enquanto persistir o trabalho no ambiente insalubre.

IV – a condenação do réu nos ônus de sucumbência, inclusive honorários advocatícios, nos


termos do art. 85, §3º, do CPC;

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V – em face da natureza da causa, a autora não opta pela audiência de conciliação ou
mediação;

VI – a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial as provas


emprestadas anexas, pericial e testemunhal, e a juntada posterior de documentos.

VII – sejam as publicações e intimações feitas em nome dos advogados Donne Pisco e
Joaquim Pedro de Medeiros Rodrigues.

Atribui-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

Brasília, 16 de maio de 2022.

Assinado digitalmente Assinado digitalmente


Donne Pisco Joaquim Pedro de Medeiros Rodrigues
OAB-SP 424.206 OAB-DF 24.638

Assinado digitalmente
Arthalides Coelho Pisco
OAB-DF 66.385

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