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AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1616060 - SC (2016/0193749-9)

RELATORA : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


AGRAVANTE : JOSOÉ FORTKAMP JÚNIOR
ADVOGADOS : RENATO FLESCH - SC009040
JOSOE FORTKAMP JUNIOR (EM CAUSA PRÓPRIA) E OUTROS - SC018169
AGRAVADO : ROSANE MARIA KOMAN KIESENBERG
ADVOGADO : CAROLINA SOUZA CHUKST E OUTRO(S) - SC029780

EMENTA

AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MATERIAIS E MORAIS. ERRO MÉDICO. PRAZO PRESCRICIONAL QUINQUENAL.
ART. 27 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. TERMO INICIAL. CIÊNCIA
INEQUÍVOCA DO DANO SOFRIDO. REEXAME FÁTICO DOS AUTOS. SÚMULA N. 7
DO STJ.
1. A jurisprudência do STJ entende que se aplica o Código de Defesa do Consumidor
aos serviços médicos, inclusive no que tange ao prazo de prescrição quinquenal
previsto no art. 27 do Código de Defesa do Consumidor.
2. "A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que o prazo prescricional da
ação para indenizar dano irreversível causado por erro médico começa a fluir a partir
do momento em que a vítima tomou ciência inequívoca de sua invalidez, bem como da
extensão de sua incapacidade. Aplicação do princípio da actio nata" (AgRg no Ag
1.098.461/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Quarta Turma, julgado em 22.6.2010, DJe
de 2.8.2010).
3. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-probatória (Súmula n.
7/STJ).
4. Agravo interno a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 06/12/2022 a
12/12/2022, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Raul Araújo, Antonio Carlos Ferreira e
Marco Buzzi votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo.

Brasília, 12 de dezembro de 2022.

MARIA ISABEL GALLOTTI


Relatora
Superior Tribunal de Justiça
AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.616.060 - SC (2016/0193749-9)

RELATÓRIO

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: Josoé Fortkamp Júnior


interpõe agravo interno contra a decisão de fls. 601/604, na qual neguei provimento
recurso especial.
Sustenta que o termo inicial da contagem da prescrição se dá com o
conhecimento do dano, que ocorreu no momento em que a agravada teve ciência de
ter perdido a visão.
Afirma que a pretensão prescreve em três anos, nos termos do art. 206,
§ 3°, V, do Código Civil, e que, mesmo considerando eventual aplicação do Código
de Defesa do Consumidor ao caso dos autos, a pretensão prescreve em cinco anos,
de acordo com o art. 27 do Código de Defesa do Consumidor.
Alega que é necessária a realização de perícia médica judicial para se
estabelecer o nexo causal entre a conduta do agravante e a lesão da agravada, o
que não ocorreu no presente caso.
Argumenta que não transitou em julgado a decisão proferida no âmbito
do Conselho Regional de Medicina, não havendo, portanto, coisa julgada
administrativa.
Intimada para se manifestar acerca da interposição do recurso, a parte
contrária não apresentou impugnação.
É o relatório.

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RELATORA : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


AGRAVANTE : JOSOÉ FORTKAMP JÚNIOR
ADVOGADOS : RENATO FLESCH - SC009040
JOSOE FORTKAMP JUNIOR (EM CAUSA PRÓPRIA) E
OUTROS - SC018169
AGRAVADO : ROSANE MARIA KOMAN KIESENBERG
ADVOGADO : CAROLINA SOUZA CHUKST E OUTRO(S) - SC029780
EMENTA

AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MATERIAIS E MORAIS. ERRO MÉDICO. PRAZO PRESCRICIONAL
QUINQUENAL. ART. 27 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. TERMO
INICIAL. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO DANO SOFRIDO. REEXAME FÁTICO DOS
AUTOS. SÚMULA N. 7 DO STJ.
1. A jurisprudência do STJ entende que se aplica o Código de Defesa do
Consumidor aos serviços médicos, inclusive no que tange ao prazo de prescrição
quinquenal previsto no art. 27 do Código de Defesa do Consumidor.
2. "A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que o prazo prescricional da
ação para indenizar dano irreversível causado por erro médico começa a fluir a partir
do momento em que a vítima tomou ciência inequívoca de sua invalidez, bem como
da extensão de sua incapacidade. Aplicação do princípio da actio nata" (AgRg no
Ag 1.098.461/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Quarta Turma, julgado em
22.6.2010, DJe de 2.8.2010).
3. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-probatória (Súmula n.
7/STJ).
4. Agravo interno a que se nega provimento.

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VOTO

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI (Relatora): O recurso não


prospera.
Transcrevo os fundamentos da decisão agravada (fls. 601/604):

Trata-se de recurso especial interposto por Josoé Fortkamp Júnior, no


qual se alega violação dos arts. 125, 126, 131, 164, 333, 458 e 535 do
Código de Processo Civil de 1973; 189, 193, 197, 198, 199, 205, 206
e 207 do Código Civil; 3º, § 2°, do Código de Defesa do Consumidor;
e 93, IX, da Constituição Federal, além de dissídio jurisprudencial. O
acórdão recorrido está retratado na seguinte ementa (fl. 510):
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. RECURSO DA AUTORA.
ERRO MÉDICO. ALEGADA INOCORRÊNCIA DA
PRESCRIÇÃO. ACOLHIMENTO. APLICABILIDADE DO ART.
27, DO CÓDIGO CONSUMERISTA. RECLAMAÇÃO
MANEJADA DIANTE DO CONSELHO REGIONAL DE
MEDICINA. TERMO A QUO. DATA DA DECISÃO
CONDENATÓRIA PROFERIDA PERANTE O RESPECTIVO
ÓRGÃO DE CLASSE, NA QUAL A VÍTIMA TOMOU
CONHECIMENTO CONCRETO E INEQUÍVOCO DO
CAUSADOR DO DANO. PROPOSITURA DA AÇÃO
DENTRO DO PRAZO QUINQUENAL. PRESCRIÇÃO
ARREDADA. SENTENÇA REFORMADA.
CAUSA IMATURA. INVIABILIDADE DO JULGAMENTO POR
ESTA CORTE. EXEGESE DO ART. 515, §§ 1º E 2º, DO CPC.
INSTRUÇÃO PROCESSUAL NECESSÁRIA. RETORNO
DOS AUTOS À ORIGEM.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
O recorrente opôs embargos de declaração, que ficaram retratados na
seguinte ementa (fl. 524):
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL.
ALEGADA OBSCURIDADE NO JULGADO.
INOCORRÊNCIA. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA
EXAMINADA NO ARESTO. HIPÓTESES DOS ARTS. 535 E
536, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL,
INDEMONSTRADAS. PREQUESTIONAMENTO DE
DISPOSITIVOS. INVIABILIDADE. TESES DEVIDAMENTE
APRECIADAS, AINDA QUE SEM REMISSÃO EXPRESSA
AOS DISPOSITIVOS LEGAIS INVOCADOS. AUSÊNCIA DE
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VÍCIOS. RECURSO REJEITADO.
"Inocorrendo vícios do artigo 535 do CPC, incabíveis embargos
de declaração, mesmo para fins de prequestionamento." (ED
em AC n. 2012.020294-8, rel. Des. Domingos Paludo, j. em
27.11.2014).
Sustenta o recorrente que o termo inicial da prescrição "não começou
com a reclamação à autarquia, mas sim no dia em que a apelante
tomou ciência do dano e inequivocamente de sua autoria" (fl. 541).
Afirma que "O processo administrativo que tramitou no Conselho
Regional de Medicina sequer transitou em julgado, conforme
documentos de folhas 182 a 189 dos autos, não estabelecendo culpa
definitiva do recorrente" (fl. 542).
Argumenta, por fim, que não incide, ao presente caso, o Código de
Defesa do Consumidor.
Assim posta a questão, passo a decidir.
Destaco que o acórdão recorrido foi publicado antes da entrada em
vigor da Lei n. 13.105 de 2015, estando o recurso sujeito aos
requisitos de admissibilidade do Código de Processo Civil de 1973,
conforme Enunciado Administrativo 2/2016 desta Corte.
Inicialmente, é necessário salientar que a via especial não é a sede
própria para a discussão de matéria de índole constitucional, sob pena
de usurpação da competência exclusiva do STF.
Com relação à suposta ofensa aos arts. 458 e 535 do Código de
Processo Civil de 1973, verifico que não existe omissão ou ausência
de fundamentação na apreciação das questões suscitadas.
Além disso, não se exige do julgador a análise de todos os
argumentos das partes, a fim de expressar o seu convencimento. O
pronunciamento acerca dos fatos controvertidos, a que está o
magistrado obrigado, encontra-se objetivamente fixado nas razões do
acórdão recorrido.
No tocante à incidência do Código de Defesa do Consumidor, ao
presente caso, assim discorreu o julgado estadual (fl. 512):
(...)
Na hipótese, extrai-se da exordial que a insurgente pleiteia
indenização pelos danos materiais e morais decorrentes de
suposto erro médico causado pelo recorrido no dia
04.03.2004.
De plano, exsurge patente a aplicabilidade do Código de Defesa
do Consumidor à hipótese, em face da natureza da relação
havida entre as partes, nos termos do art. 3º, do mencionado
diploma legal. Além disto, existe expressa previsão no seu art.
14, § 4°: "A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais
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será apurada mediante a verificação de culpa."
(...)
Anoto que o acórdão recorrido está em consonância com a
jurisprudência do STJ, que firmou o entendimento no sentido de que
se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos serviços médicos. A
propósito, confiram-se:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART. 544 DO
CPC/73) - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ERRO MÉDICO -
PRESCRIÇÃO QUINQUENAL - DECISÃO MONOCRÁTICA
QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO.
INSURGÊNCIA DOS AUTORES.
1. Consoante a jurisprudência consolidada no âmbito do
Superior Tribunal de Justiça, aplica-se o Código de Defesa do
Consumidor aos serviços médicos, inclusive o prazo
prescricional previsto no artigo 27 da Lei 8.078/1990.
Precedentes.
2. Não se suspende a prescrição da pretensão indenizatória
pelo fato de o ilícito civil também caracterizar fato criminoso,
visto não se aplicar o disposto no art. 200 do Código Civil ao
caso pois, ao tempo do fato ocorrido sequer havia previsão legal
nesse sentido, bem ainda em razão de inocorrência de relação
de prejudicialidade entre as esferas cível e criminal e da
inaplicabilidade do diploma civilista à espécie.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp 58.231/MS, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
Quarta Turma, julgado em 3.8.2017, DJe de 17.8.2017)
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.
PROPÓSITO INFRINGENTE. RECEBIMENTO COMO
AGRAVO REGIMENTAL. ERRO MÉDICO. INDENIZAÇÃO.
PRESCRIÇÃO. ARTIGO 27 DO CDC. PRECEDENTES.
1. A orientação jurisprudencial deste Superior Tribunal é no
sentido de que se aplica o Código de Defesa do Consumidor
aos serviços médicos, inclusive no que tange ao prazo de
prescrição quinquenal previsto no artigo 27 do CDC.
2. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental a
que se nega provimento.
(EDcl no REsp n. 704.272/SP, relatora Ministra Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, julgado em 2.8.2012, DJe de 15.8.2012)
Observo, por outro lado, que o Tribunal de origem afastou a alegação
de prescrição, conforme os seguintes fundamentos (fls. 513/514):
(...)
Argumenta a autora que a sua pretensão não se encontra
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prescrita, porquanto a decisão do Conselho Regional de
Medicina no processo ético-profissional deflagrado contra o
médico restou proferida em 28.03.2011 (fl 166).
Melhor sorte socorre à apelante.
O termo inicial da prescrição, concessa venia, não começou com
a reclamação à autarquia, mas sim no dia em que a apelante
tomou ciência do dano e inequivocamente de sua autoria.
Deveras, o fato ocorreu na data em que foi proferida a decisão
pelo Conselho Regional de Medicina.
Em outras palavras, o prazo prescricional não principiou quando
a autora ofereceu denúncia àquele conselho (21.03.2005 - fl.
197), mas no momento em que ela teve acesso ao julgamento
do ente responsável por analisar o processo administrativo,
decorrente do defeito na prestação do serviço pelo médico
(28.03.2011 - fl. 166).
Antes de tal pronunciamento, a recorrente não tinha
certeza de que havia falha profissional, requisito este
imprescindível ao marco da contagem da prescrição.
Admitir-se o contrário equivaleria a censurar quem age com
prudência e evita uma lide temerária.
(...)
Estreme de dúvidas que a prescrição, na espécie,
iniciou-se na oportunidade em que a demandante travou
conhecimento unívoco da responsabilidade subjetiva e dos
danos sofridos, qual seja, em 28.03.2011 (fl. 166).
Nesse desiderato, verifica-se que não se escoaram mais de
cinco anos entre a data da ciência plena da autoria e dos danos
sofridos (28.03.2011) até o ajuizamento da ação, concretizado
no dia 22.11.2011 (fl. 02). Por conseguinte, resulta inviável
apontar-se como prescrita a pretensão indenizatória da
postulante.
(...) (destaquei)
Com efeito, destaco que a jurisprudência desta Corte firmou o
entendimento no sentido de que, tratando-se de erro médico, o termo
inicial da prescrição começa a fluir da data da ciência inequívoca do
dano. Nesse sentido, cito o seguinte precedente:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO.
PRESCRIÇÃO. TERMO A QUO. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA
VÍTIMA DO DANO IRREVERSÍVEL. PRINCÍPIO DA ACTIO
NATA. MATÉRIA DE PROVA. SÚMULA 7/STJ.

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Superior Tribunal de Justiça
1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que o
prazo prescricional da ação para indenizar dano irreversível
causado por erro médico começa a fluir a partir do momento em
que a vítima tomou ciência inequívoca de sua invalidez, bem
como da extensão de sua incapacidade. Aplicação do princípio
da actio nata.
2. O acórdão recorrido fundamentou sua decisão no fato de que
o julgamento da lide pelo magistrado de primeiro grau, com
declaração da ocorrência da prescrição, foi prematuro, tendo em
vista que o delineamento da controvérsia depende ainda da
análise de um contexto probatório não produzido pelas partes .
3. Qualquer conclusão em sentido contrário ao que decidiu o
aresto impugnado envolve o reexame do contexto
fático-probatório dos autos, providência incabível em sede de
recurso especial, conforme o que dispõe a Súmula 7/STJ.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no Ag 1.098.461/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
Quarta Turma, julgado em 22.6.2010, DJe de 2.8.2010)
No caso dos autos, a Corte local expressamente consignou que a
recorrida tomou ciência inequívoca do dano por ela sofrido em
28.3.2011, sendo que a ação de indenização por danos materiais e
morais foi ajuizada em 22.11.2011.
Dessa forma, a pretensão da autora, ora recorrida, não se encontra
prescrita, pois não transcorrido o prazo quinquenal previsto no art. 27
do Código de Defesa do Consumidor.
Em face do exposto, nego provimento ao recurso especial.
Intimem-se.

Destaco, inicialmente, que a jurisprudência do STJ já decidiu que se


aplica o Código de Defesa do Consumidor aos serviços médicos. A propósito,
confiram-se:

CIVIL. CONSUMIDOR. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC.
OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANO MORAL E MATERIAL. ERRO MÉDICO. CIRURGIA
PLÁSTICA. APLICAÇÃO DO CDC (ART. 27). TERMO INICIAL DO
PRAZO PRESCRICIONAL. DATA DA CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO
FATO. TRIBUNAL LOCAL QUE, COM BASE NOS FATOS DA
CAUSA, RECONHECEU ESTAR PRESCRITA A PRETENSÃO DA
AUTORA. REFORMA DO ENTENDIMENTO. SÚMULA Nº 7 DO

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STJ. DISSÍDIO NÃO COMPROVADO. RECURSO
PROTELATÓRIO. INCIDÊNCIA DA MULTA DO ART. 1.021, § 4º,
DO NCPC. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO, COM
IMPOSIÇÃO DE MULTA.
1. Aplica-se o NCPC, a este recurso ante os termos do Enunciado
Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de
9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015
(relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016)
serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do
novo CPC.
2. Nos termos do art. 27 do CDC, prescreve em cinco anos a
pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou
do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a
contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua
autoria.
3. A alteração do entendimento adotado pela Corte de origem, acerca
da data em que ocorreu a ciência inequívoca da ocorrência de erro
médico, dando início à contagem do prazo prescricional quinquenal,
demandaria, necessariamente, novo exame do acervo
fático-probatório constante dos autos, providência vedada na via
estreita do recurso especial, conforme o óbice previsto no enunciado
n. 7 da Súmula deste Tribunal Superior.
4. A jurisprudência desta Corte firmou o entendimento de que não é
possível o conhecimento do recurso especial interposto pela
divergência jurisprudencial na hipótese em que o dissídio é apoiado
em fatos e não na interpretação da lei. Isso porque a Súmula nº 7 do
STJ também se aplica aos recursos especiais interpostos pela alínea
c, do permissivo constitucional. Precedente: AgRg no Ag
1.276.510/SP, Rel. Ministro PAULO FURTADO (Desembargador
Convocado do TJ/BA), DJe 30/6/2010).
5. Em razão da improcedência do presente recurso, e da anterior
advertência em relação a incidência do NCPC, incide ao caso a multa
prevista no art. 1.021, § 4º, do NCPC, no percentual de 3% sobre o
valor atualizado da causa, ficando a interposição de qualquer outro
recurso condicionada ao depósito da respectiva quantia, nos termos
do § 5º daquele artigo de lei.
6. Agravo interno não provido, com imposição de multa.
(AgInt no REsp n. 1.782.848/RJ, relator Ministro Moura Ribeiro,
Terceira Turma, julgado em 15.4.2019, DJe de 22.4.2019.)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.


PROPÓSITO INFRINGENTE. RECEBIMENTO COMO AGRAVO
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Superior Tribunal de Justiça
REGIMENTAL. ERRO MÉDICO. INDENIZAÇÃO. PRESCRIÇÃO.
ARTIGO 27 DO CDC. PRECEDENTES.
1. A orientação jurisprudencial deste Superior Tribunal é no sentido de
que se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos serviços
médicos, inclusive no que tange ao prazo de prescrição quinquenal
previsto no artigo 27 do CDC.
2. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental a que
se nega provimento.
(EDcl no REsp n. 704.272/SP, relatora Ministra Maria Isabel Gallotti,
Quarta Turma, julgado em 2.8.2012, DJe de 15.8.2012)

Observo, por outro lado, que o Tribunal de origem afastou a alegação


de prescrição, conforme os seguintes fundamentos (fls. 513/514):

(...)
Argumenta a autora que a sua pretensão não se encontra prescrita,
porquanto a decisão do Conselho Regional de Medicina no processo
ético-profissional deflagrado contra o médico restou proferida em
28.03.2011 (fl 166).
Melhor sorte socorre à apelante.
O termo inicial da prescrição, concessa venia, não começou com a
reclamação à autarquia, mas sim no dia em que a apelante tomou
ciência do dano e inequivocamente de sua autoria. Deveras, o fato
ocorreu na data em que foi proferida a decisão pelo Conselho
Regional de Medicina.
Em outras palavras, o prazo prescricional não principiou quando a
autora ofereceu denúncia àquele conselho (21.03.2005 - fl. 197), mas
no momento em que ela teve acesso ao julgamento do ente
responsável por analisar o processo administrativo, decorrente do
defeito na prestação do serviço pelo médico (28.03.2011 - fl. 166).
Antes de tal pronunciamento, a recorrente não tinha certeza de
que havia falha profissional, requisito este imprescindível ao
marco da contagem da prescrição. Admitir-se o contrário
equivaleria a censurar quem age com prudência e evita uma lide
temerária.
(...)
Estreme de dúvidas que a prescrição, na espécie, iniciou-se na
oportunidade em que a demandante travou conhecimento
unívoco da responsabilidade subjetiva e dos danos sofridos,
qual seja, em 28.03.2011 (fl. 166).
Nesse desiderato, verifica-se que não se escoaram mais de cinco

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anos entre a data da ciência plena da autoria e dos danos sofridos
(28.03.2011) até o ajuizamento da ação, concretizado no dia
22.11.2011 (fl. 02). Por conseguinte, resulta inviável apontar-se como
prescrita a pretensão indenizatória da postulante.
(...) (destaquei)

Com efeito, reitero que a jurisprudência desta Corte firmou o


entendimento de que, tratando-se de erro médico, o termo inicial da prescrição
começa a fluir da data da ciência inequívoca do dano. Nesse sentido, cito o seguinte
precedente:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. PRESCRIÇÃO.
TERMO A QUO. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA VÍTIMA DO DANO
IRREVERSÍVEL. PRINCÍPIO DA ACTIO NATA. MATÉRIA DE
PROVA. SÚMULA 7/STJ.
1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que o prazo
prescricional da ação para indenizar dano irreversível causado por
erro médico começa a fluir a partir do momento em que a vítima
tomou ciência inequívoca de sua invalidez, bem como da extensão de
sua incapacidade. Aplicação do princípio da actio nata.
2. O acórdão recorrido fundamentou sua decisão no fato de que o
julgamento da lide pelo magistrado de primeiro grau, com declaração
da ocorrência da prescrição, foi prematuro, tendo em vista que o
delineamento da controvérsia depende ainda da análise de um
contexto probatório não produzido pelas partes .
3. Qualquer conclusão em sentido contrário ao que decidiu o aresto
impugnado envolve o reexame do contexto fático-probatório dos
autos, providência incabível em sede de recurso especial, conforme o
que dispõe a Súmula 7/STJ.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no Ag 1.098.461/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Quarta
Turma, julgado em 22.6.2010, DJe de 2.8.2010)

No caso dos autos, a Corte local expressamente consignou que a


agravada tomou ciência inequívoca do dano por ela sofrido em 28.3.2011, sendo
que a ação de indenização por danos materiais e morais foi ajuizada em 22.11.2011.
Dessa forma, a pretensão da autora, ora agravada, não se encontra
prescrita, pois não transcorrido o prazo quinquenal previsto no art. 27 do Código de
Defesa do Consumidor.
Ressalto, por fim, que rever a conclusão do acórdão recorrido, que
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REsp 1616060 Petição : 701756/2022 C542425515083<50023209@ C4255<0092029032212218@
2016/0193749-9 Documento Página 10 de 11
Superior Tribunal de Justiça
entendeu que a ciência inequívoca do dano se deu em 28.3.2011, demandaria o
reexame do acervo fático dos autos, o que encontra óbice na Súmula n. 7 do STJ.
Em face do exposto, nego provimento ao agravo interno.
É como voto.

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REsp 1616060 Petição : 701756/2022 C542425515083<50023209@ C4255<0092029032212218@
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TERMO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
AgInt no REsp 1.616.060 / SC
Número Registro: 2016/0193749-9 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
00106983120118240036 00941977920158240000 036110106984 20140162499 20140162499000100
20140162499000200 36110106984

Sessão Virtual de 06/12/2022 a 12/12/2022

Relator do AgInt
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO

Secretário
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : JOSOÉ FORTKAMP JÚNIOR


ADVOGADOS : RENATO FLESCH - SC009040
JOSOE FORTKAMP JUNIOR (EM CAUSA PRÓPRIA) E OUTROS - SC018169
RECORRIDO : ROSANE MARIA KOMAN KIESENBERG
ADVOGADO : CAROLINA SOUZA CHUKST E OUTRO(S) - SC029780

ASSUNTO : DIREITO CIVIL - RESPONSABILIDADE CIVIL - INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL -


ERRO MÉDICO

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : JOSOÉ FORTKAMP JÚNIOR


ADVOGADOS : RENATO FLESCH - SC009040
JOSOE FORTKAMP JUNIOR (EM CAUSA PRÓPRIA) E OUTROS - SC018169
AGRAVADO : ROSANE MARIA KOMAN KIESENBERG
ADVOGADO : CAROLINA SOUZA CHUKST E OUTRO(S) - SC029780

TERMO

A QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 06/12/2022 a 12/12


/2022, por unanimidade, decidiu negar provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora.
Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Raul Araújo, Antonio Carlos Ferreira e Marco Buzzi
votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo.

Brasília, 13 de dezembro de 2022

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