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PROCESSO Nº TST-RO-1096-65.2018.5.12.

0000

A C Ó R D Ã O
Órgão Especial
GMALR/lhp
RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE
SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO.
INSCRIÇÃO. ANALISTA JUDICIÁRIO. PESSOA
COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA. SURDEZ
UNILATERAL. ANACUSIA. RESERVA DE VAGA
1. A jurisprudência majoritária do Órgão Especial do
TST caminha no sentido de que a perda auditiva igual
ou superior a 41 decibéis (dB) em pelo menos um dos
ouvidos (surdez unilateral), aferida por audiograma nas
frequências de 500HZ, 1.00OHZ, 2.000HZ e 3.000HZ,
caracteriza deficiência auditiva de grau profundo –
anacusia – devendo ser considerada deficiência, apta a
permitir a participação na lista. Inteligência dos arts. 3º
e 4º do Decreto nº 3.298/99 com a redação do Decreto
nº 5.296/2004.
2. Nessa condição, assegura-se à pessoa com surdez
unilateral, nos concursos públicos, a reserva de vagas
destinadas aos candidatos com deficiência física.
Precedentes. Ressalva de entendimento pessoal em
contrário.
3. Recurso Ordinário conhecido e ao qual se dá
provimento.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Ordinário n° TST-RO-


1096-65.2018.5.12.0000, em que é Recorrente PRISCILA ALMEIDA FARIAS e Recorrido UNIÃO
(PGU) e Autoridade Coatora DESEMBARGADORA PRESIDENTE DO TRIBUNAL
REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO.
Trata-se de Recurso Ordinário em Mandado de Segurança em face do v.
acórdão prolatado pelo Eg. TRT da 12ª Região que denegou a segurança, por entender que a
Impetrante não é portadora de deficiência auditiva, nos termos do art. 4º do Decreto nº 3.298/99.
A d. Procuradoria-Geral do Trabalho, em parecer de fls. 383/385 da
numeração eletrônica, opinou pelo conhecimento e não provimento do recurso ordinário.
É o relatório.

VOTO

1. CONHECIMENTO
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Atendidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso


ordinário.
2. MÉRITO DO RECURSO ORDINÁRIO
Para melhor compreensão da matéria discutida, convém que se proceda a
um breve retrospecto dos fatos.
A candidata PRISCILA ALMEIDA FARIAS prestou concurso público
para o cargo de Analista Judiciário, Área Judiciária, do Quadro Permanente de Pessoal do Tribunal
Regional do Trabalho da 12ª Região, na condição de pessoa com deficiência auditiva unilateral
(anacusia à direita).
No prazo de inscrição, encaminhou ao TRT de origem o laudo médico
atestando a sua deficiência, tal como previsto no Edital do Concurso.
Habilitada no certame, em sexto lugar, na condição de pessoa com
deficiência, foi convocada para o exame médico admissional.
A Junta Médica formada pelo Eg. TRT da 12ª Região, todavia, concluiu que
a surdez unilateral da candidata não se amolda no conceito de deficiente auditivo previsto no Decreto
nº 3.298/99 (com a redação do Decreto nº 5.296/2004), exigindo a legislação perda auditiva bilateral
(fl. 101 da numeração eletrônica).
Diante do revés, PRISCILA ALMEIDA FARIAS impetrou mandado de
segurança, com pedido de liminar, perante o Eg. TRT da 12ª Região, contra ato do Exmo Presidente
daquela Corte, com o propósito de cassar a ordem judicial que a excluiu do rol de vagas reservadas
aos candidatos com deficiência, aprovados em concurso público realizado em 2018, para o
provimento de cargos do Quadro Permanente de Pessoal do TRT de Santa Catarina.
No Regional, o Relator do processo indeferiu a liminar requerida para
suspender os efeitos do ato atacado e determinar a reserva de vaga a que a Impetrante sustenta ter
direito de ser nomeada (fl. 308/310 da numeração eletrônica).
As informações de praxe foram prestadas pela Exma Presidente do Eg. TRT
da Décima Segunda Região, que assim se pronunciou:

" O presente mandamus foi impetrado contra o ato desta Presidência


que homologou o Laudo Médico-Pericial da Junta Médica Oficial deste
Regional, cuja conclusão não reconheceu, à luz do art. 4°, II, do Decreto n°
3.298/1999, a condição de pessoa portadora de deficiência auditiva da
candidata Priscila Almeida Farias.
A impetrante afirma que é portadora de anacusia unilateral, isto é,
deficiência auditiva sensorioneural unilateral, com ausência total de audição
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na orelha direita, em grau profundo, sem limiar de audibilidade e


irreparável (CID 10 H90.4).
Argumenta que o inc. II do art. 4° do Decreto 3.298/1999, com a
interpretação fundamentada nas normas e princípios constitucionais, não
exige que a deficiência auditiva seja bilateral, sendo necessário apenas que
ela esteja presente, ainda que seja unilateral ou parcial, desde que a partir de
quarenta e um decibéis (dB).
Argumenta a impetrante que o ato impugnado contraria o
ordenamento jurídico, com prejuízo a direito líquido e certo ao
preenchimento de vaga destinada à pessoa portadora de deficiência,
conforme previsto no Edital n° 01/2017, do Concurso Público.
Requer a concessão de liminar para suspender os efeitos do ato coator
que a excluiu da concorrência reservada aos deficientes no concurso
público deste Tribunal e, por decorrência lógica, seja reincluída no certame
na condição de pessoa com deficiência, bem como seja providenciada a
imediata reserva de sua vaga.
A liminar foi indeferida por Vossa Excelência, tendo em vista que na
decisão atacada não foi verificada abusividade ou ilegalidade capaz de
revelar presente, em primeira análise, a fumaça do bom direito,
especialmente considerando-se que a limitação física de que é acometida a
autora não é, nos moldes do Decreto n° 3.298/1999, considerada deficiência
auditiva.
Diante dos fatos sumariamente resenhados, dirijo-me a Vossa
Excelência para, em tempo, prestar as informações que seguem.
A impetrante, no ato de sua inscrição no Concurso Público em foco e
utilizando-se da prerrogativa instituída no Edital n° 1, de 26 de junho de
2017, requereu sua inscrição como portadora de deficiência.

O Edital, em seu Capítulo 6, estabelece o seguinte:


[...]
Nos moldes especificados no Capítulo 6 do Edital, a candidata
submeteu-se à avaliação da Junta Médica Oficial deste Regional que emitiu
seu parecer conclusivo no sentido de desconsiderar, como deficiência, a
surdez unilateral.

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A classificação de candidatos portadores de deficiência foi feita, no


âmbito deste Tribunal, pelos parâmetros estabelecidos pelo Decreto n°
3.298/1999, que, regulamentando a Lei n° 7.853/1989, "dispõe sobre a
Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e
consolida as normas de proteção", entre outras providências.

Consoante referida norma:

Art. 3° Para os efeitos deste Decreto, considera-se:


I - deficiência - toda perda ou anormalidade de uma
estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que
gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do
padrão considerado normal para o ser humano;
Art. 4° É considerada pessoa portadora de deficiência a
que se enquadra nas seguintes categorias: II - deficiência
auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um
decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências
de 500HZ, 1.OOOHZ, 2.000HZ e 3.000HZ; (Redação dada
pelo Decreto n° 5.296, de 2004)

Esses, pois, os parâmetros adotados pela Junta Médica Oficial, que


concluiu pelo não enquadramento da condição médica da impetrante como
portadora de deficiência, haja vista ser portadora de perda unilateral de sua
capacidade auditiva.

Os elementos trazidos pela impetrante não atestam de maneira cabal


ser ela portadora de deficiência para fins de tratamento diferenciado quanto
ao acesso a cargos públicos.
Cabe reiterar, por fim, que a ilegalidade passível de questionamento
pela via do mandado de segurança há de ser flagrante e incontestável.
Uma vez erigido diretamente sobre norma jurídica vigente e válida,
afasta-se a ilegalidade direta e irrefutável do ato impetrado.
Era o que cabia informar." (fls. 317/322)

Submetido o mandado de segurança a julgamento, o Eg. Tribunal a quo


denegou a segurança à nomeação para o cargo de Analista Judiciário, Área Judiciária, em vaga
reservada a pessoa com deficiência.

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Entendeu aquela Corte, em síntese, que a surdez unilateral (anacusia) não


constitui deficiência física definida no Decreto nº 3.298/99 com a redação do Decreto nº 5.296/2004.
Em consequência, concluiu que o candidato acometido de tal patologia não tem o direito de concorrer,
nos concursos públicos, às vagas reservadas aos deficientes físicos.
A ementa do acórdão regional é reveladora da tese esposada por aquela
Corte:

" MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO.


CANDIDATO APROVADO. ANALISTA JUDICIÁRIO, ÁREA
JUDICIÁRIA. DEFICIÊNCIA AUDITIVA UNILATERAL
TOTAL.INCLUSÃO NA LISTA DE CANDIDATOS RESERVADA AOS
PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS. INAPLICÁVEL.
INTELIGÊNCIA DO ART. 4º DO DECRETO nº 3.298/1999.
SEGURANÇA NEGADA. A surdez unilateral permanente não é condição
suficiente ao enquadramento de candidato a cargo público na condição de
deficiente, porquanto, a teor do disposto no art. 4º do Decreto nº 3.298/99,
somente a perda auditiva bilateral autoriza referido enquadramento."

Daí o presente recurso ordinário em mandado de segurança.


Como visto, o cerne da questão reside em definir se a surdez unilateral
amolda-se ao conceito de deficiente auditivo previsto no Decreto nº 3.298/99, com a redação do
Decreto nº 5.296/2004, autorizando o candidato com surdez em apenas um dos ouvidos a concorrer,
em concurso público, à vaga reservada a pessoa deficiente.
Incontroverso nos autos que a Candidata PRISCILA ALMEIDA FARIAS
apresenta surdez unilateral com perda total da audição do ouvido direito (anacusia à direita),
reconhecida por Junta Médica instituída pelo Eg. TRT de origem (fl. 109), como também por médico
particular (fls. 38/39). Indiscutível, também, que o ouvido esquerdo não exibe patologia.
Como se sabe, a reserva de percentual de cargos e empregos públicos para
destinação a pessoas com deficiência adquiriu matriz constitucional.
Assim dispõe o art. 37, VIII, da Constituição Federal:

"a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as


pessoas portadoras de deficiência e definirá critérios de sua admissão."

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No plano infraconstitucional, a Lei nº 7.853/89 estabelece normas gerais


que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de
deficiência e sua efetiva integração social.
Por sua vez, o Decreto nº 3.298/99, que regulamentou a aludida Lei, define
os critérios para se aferir a condição de "pessoa deficiente", para fins de reserva de mercado de
trabalho.
Preconiza o art. 3º, I, do Decreto nº 3.298/99:

"Art. 3º Para os efeitos deste Decreto, considera-se:


I – deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou
função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o
desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser
humano."

Mais especificamente, o art. 4º do mencionado


Decreto, com a redação do Decreto nº 5.296/04, conceitua
"deficiência auditiva":

"Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se


enquadra nas seguintes categorias:
[...]
II – deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta
e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de
500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz."

Como se percebe, o conceito de deficiência auditiva alude à expressão


"perda bilateral" da capacidade de ouvir.
O advento da nova redação do art. 4º, II, do Decreto n. 3.298/99 fixou
conceito jurídico mais restrito de deficiente auditivo e, assim, não seria possível enquadrar pessoa com
surdez unilateral em tal qualidade jurídica.
Vale lembrar que o tradicional entendimento jurisprudencial no sentido de
que o portador de surdez unilateral poderia concorrer, em concursos públicos, às vagas destinadas a
portadores de deficiência, sofreu alteração após o Supremo Tribunal Federal ter decidido, no
julgamento do MS 29.910 AgR/DF (Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em
21/06/2011, DJe 1º/08/2011).
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No referido julgado, a Eg. Segunda Turma do STF concluiu que "a perda
auditiva unilateral não é condição apta a qualificar o candidato a concorrer às vagas destinadas aos
portadores de deficiência."
Na esteira do referido precedente do STF, o Órgão Especial do Superior
Tribunal de Justiça alterou o antigo posicionamento daquela Corte, no julgamento do MS 18.966/DF
(Rel. P/ Acórdão Min. Humberto Martins, julgado em 02/10/2013, DJe 20/03/2014), para se alinhar ao
entendimento de que o candidato portador de surdez unilateral não deve concorrer em concurso
público às vagas destinadas a portadores de deficiência.
O destacado acórdão do STJ, no exame da ratio da legislação, buscou
proteger os hipervulneráveis, ou seja, buscou assegurar a vaga no serviço público àqueles que mais
precisam.
Posteriormente à referida decisão, o Superior Tribunal de Justiça, revisando
a jurisprudência até então prevalente, consolidou o novo entendimento ao editar a Súmula nº 552:

Súmula nº 552 do STJ - "O portador de surdez unilateral não se


qualifica como pessoa com deficiência para o fim de disputar as vagas
reservadas em concursos públicos" (Órgão Julgador: Corte Especial, Data
da Decisão: 04/11/2015, DJe 09/11/2015).

A meu juízo, a anterior redação do Decreto nº


3.298/99 abarcava a pretensão da impetrante de ser qualificada como
deficiente.
Sucede, todavia, que com o advento da nova redação
do art. 4º, II, do Decreto nº 3.298/99 (alterado por força do
Decreto 5.296/2004) fixou-se conceito jurídico mais restrito de
deficiente auditivo e, assim, afigura-se-me inviável enquadrar
pessoa com surdez unilateral em tal qualidade jurídica.
A despeito de tais considerações, no âmbito deste
Eg. Órgão Especial do Tribunal Superior do Trabalho, há o
entendimento jurisprudencial, atual e majoritário, no sentido de que
portadores de deficiência auditiva unilateral total tem direito de
concorrer à reserva de vaga destinada às pessoas com deficiência,
conforme demonstram os seguintes precedentes:

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RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA.


CONCURSO PÚBLICO. ANALISTA JUDICIÁRIO. SURDEZ
UNILATERAL. PESSOA COM DEFICIÊNIA. DIREITO LÍQUIDO E
CERTO AO DEFERIMENTO DA INSCRIÇÃO NA CONDIÇÃO DE
PORTADOR DE DEFICIÊNCIA FÍSICA . PRECEDENTES DO ÓRGÃO
ESPECIAL. Nos termos do art. 1º da Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, "pessoas com deficiência são aquelas
que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições
com as demais pessoas". Partindo da perspectiva de que o preceito em
referência foi alçado ao patamar de norma constitucional, uma vez que
internalizado pelo legislador ao ordenamento jurídico pátrio pelo quorum
qualificado a que se refere o art. 5º, §3º, da Constituição Federal, o Poder
Público, jungido ao princípio da legalidade estrita, não pode contrariar ou
reduzir a sua abrangência com base na interpretação do Decreto nº
3.298/99, de natureza infralegal . Nessa senda, a jurisprudência tranquila
desse Órgão Especial está posta no sentido de que a surdez unilateral
permanente é condição suficiente ao enquadramento de candidato a cargo
público na condição de deficiente. Com efeito, a referida limitação física
configura um obstáculo a mais a ser superado pelo portador da falha
sensorial, circunstância essa que o distingue dos demais participantes do
certame e o habilita a concorrer às vagas destinadas às pessoas com
deficiência. Portanto, como medida assecuratória da igualdade em sua
dimensão substancial, a pessoa com surdez unilateral faz jus às vagas
destinadas a portadores de necessidades especiais. Precedentes.Recurso
ordinário de que se conhece e a que se dá provimento para que seja
concedida a segurança . Prejudicado o julgamento do agravo regimental
apresentado pela Fazenda Pública. (TST, Órgão Especial, Processo RO-
139-64.2018.5.12.0000, Relatora Ministra MARIA HELENA
MALLMANN, DEJT 26/10/2018)

RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO


PÚBLICO. INSCRIÇÃO DE CANDIDATA COMO PORTADORA DE
NECESSIDADES ESPECIAIS. DEFICIÊNCIA AUDITIVA
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UNILATERAL TOTAL (ANACUSIA). A jurisprudência do Órgão Especial


do Tribunal Superior do Trabalho está orientada no sentido de que, não
obstante o Decreto nº 5.296/2004 ter alterado a redação original do Decreto
nº 3.298/1999, no sentido de considerar como deficiência auditiva apenas a
perda bilateral, a interpretação da legislação que visa à promoção das
pessoas portadoras de necessidades especiais, incluindo-se os princípios
constitucionais da cidadania e da dignidade da pessoa humana, acrescidos
do objetivo constitucional de "promover o bem de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação" (inciso IV do artigo 3º da Constituição Federal), impõe a
conclusão de que toda perda de audição, mesmo a unilateral ou parcial,
de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, implica no enquadramento do
candidato como portador de necessidades especiais . Na hipótese, a
candidata é portadora de anacusia lateral (ausência total de audição em um
dos aparelhos auditivos), o que lhe confere o direito à inclusão na lista de
candidatos portadores de deficiência, a teor do que dispõe o art. 4º, II, do
Decreto nº 3.298/1999 .Recurso ordinário conhecido e provido. (TST,
Órgão Especial, Processo RO-293-13.2017.5.23.0000, Relator Ministro
EMMANOEL PEREIRA, DEJT de 18/10/2018)

MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO.


TÉCNICO JUDICIÁRIO, ÁREA ADMINISTRATIVA. DEFICIÊNCIA
AUDITIVA UNILATERAL TOTAL. DIREITO DE CONCORRER À
RESERVA DE VAGA DESTINADA ÀS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA.É incontroverso que a impetrante é acometida de surdez
unilateral total e que esta se caracteriza como deficiência em seu sentido
amplo, uma vez que acarreta incapacidade para o desempenho de
atividades, considerando-se o padrão normal para o ser humano, consoante
preconizam o art. 3º, inciso I, do Decreto nº 3.298/99 e o art. 1º da
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
incorporado ao nosso ordenamento jurídico pelo Decreto nº 6.949/2009
com status de emenda constitucional, na esteira do artigo 5º, § 3º, da
Constituição Federal. Nesse sentido, o artigo 4º, inciso II, do Decreto nº
3.298/99, com a redação conferida pelo Decreto nº 5.296/2004, ao definir
como hipótese de deficiência auditiva a "perda bilateral, parcial ou total, de
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quarenta e um decibéis (dB) ou mais" , deve ser interpretado de acordo com


os fins sociais a que se dirige a norma e com as exigências do bem comum,
segundo regra de hermenêutica prevista no artigo 5º da LINDB, de forma a
compatibilizá-la com todo o ordenamento jurídico e a viabilizar a
implementação das políticas públicas de ações afirmativas, com a
eliminação das distorções acarretadas pela desvantagem física. Assim, a
pessoa com surdez unilateral, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais,
deve ser considerada deficiente auditiva para o fim de reserva de vagas
nos concursos públicos, com vistas a lhe possibilitar a participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas (precedentes deste Órgão Especial no mesmo sentido).Recurso
ordinário conhecido e provido para conceder a segurança. . (TST, Órgão
Especial, Processo RO-6-56.2017.5.12.0000, Relator Ministro JOSÉ
ROBERTO FREIRE PIMENTA, DEJT de 17/11/2017)

"RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATO INSCRITO COMO PORTADOR
DE NECESSIDADES ESPECIAIS (PNE). ENQUADRAMENTO
NEGADO. DEFICIÊNCIA AUDITIVA UNILATERAL TOTAL.
DECRETO Nº 3.298/1999 QUE REGULAMENTA A LEI Nº 7.853/89.
INEXIGIBILIDADE DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA BILATERAL.
Nos termos dos arts. 1º e 2º, da Lei nº 7.853/89, 3º e 4º, do Decreto nº
3.298/1999, que a regulamenta, a deficiência auditiva unilateral (anacusia)
é suficiente para assegurar ao candidato o direito de concorrer e, caso
aprovado no concurso público, ser empossado em vaga destinada aos
portadores de necessidades especiais, conforme previsão dos arts. 37, VIII,
da Constituição da República e 5º, § 2º, da Lei nº 8.112/1990. Assim,
inexigível a bilateralidade da deficiência auditiva para enquadramento do
candidato como portador de necessidade especial. Precedentes." (TST,
Órgão Especial, Processo RO-8402-45.2010.5.02.0000, Relator Ministro
Walmir Oliveira da Costa, DEJT 14/12/2012)

"MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO.


CANDIDATA INSCRITA COMO PORTADORA DE NECESSIDADES
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PROCESSO Nº TST-RO-1096-65.2018.5.12.0000

ESPECIAIS. ENQUADRAMENTO COMO PNE NEGADO PELA


COMISSÃO CENTRAL DO CONCURSO. DEFICIÊNCIA AUDITIVA
UNILATERAL. ARTIGOS 3º E 4º DO DECRETO 3.298/1999. A
interpretação dos arts. 3º e 4º do Decreto 3.298/1999 (com a redação dada
pelo Decreto 5.296/2004) em harmonia com os dispositivos da Constituição
da República, mormente com os seus arts. 1º, incs. II e III, e 3º, inc. IV, os
quais evidenciam que, mediante as denominadas ações afirmativas, sejam
efetivadas as políticas públicas de apoio, promoção e integração dos
portadores de necessidades especiais, leva à conclusão de que a deficiência
auditiva unilateral é suficiente para assegurar o direito do candidato
concorrer a uma das vagas destinadas aos portadores de necessidades
especiais a que aludem os arts. 37, inc. VIII, da Constituição da República e
5º, § 2º, da Lei 8.112/1990, não se exigindo que a deficiência auditiva seja
bilateral. [...].Recurso Ordinário a que se dá parcial provimento." (Processo
RO-11800-35.2011.5.21.0000, Relator: Ministro João Batista Brito Pereira,
Órgão Especial, DEJT 15/10/2012)

"[...] CONCURSO PÚBLICO PARA SERVIDOR. PERDA


AUDITIVA SUPERIOR A 41 dB EM UM DOS OUVIDOS.
ENQUADRAMENTO COMO DEFICIENTE PARA CONCORRER A
VAGA DESTINADA AOS PORTADORES DE NECESSIDADES
ESPECIAIS. O art. 4º do Decreto nº 3.298/99, que enumera as deficiências
hábeis a autorizar que o candidato em concurso público concorra às vagas
reservadas aos portadores de necessidades especiais, exige perda auditiva
bilateral superior a 41 dB, não permitindo em sua literalidade enquadrar
como deficiente o impetrante, portador de perda auditiva bilateral de 46,5
dB na orelha direita e 30 dB na orelha esquerda. Contudo, o rol de
deficiências previsto no dispositivo regulamentar em foco não é exaustivo,
demandando leitura à luz do conceito de deficiência oferecido pelo art. 1º
da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
norma trazida para a ordem jurídica interna com status de Emenda
Constitucional, nos termos do art. 5º, § 3º, da CF. Nesse contexto,
considerando que a perda auditiva de que é portador o impetrante foge do
padrão de normalidade física, trazendo-lhe limitações sensoriais que
impedem a sua convivência em pé de igualdade com as demais pessoas,
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impõe-se reconhecer a sua condição de deficiente físico, tendo direito


líquido e certo à reserva de vagas prevista nos arts. 37, VIII, da CF e 5º, §
2º, da Lei nº 8.112/90. Precedentes deste Órgão Especial e do Superior
Tribunal de Justiça. Remessa necessária e recurso ordinário conhecidos e
não providos." (Processo ReeNec e RO-29400-69.2011.5.21.0000,
Relatora: Ministra Dora Maria da Costa, Órgão Especial, DEJT
15/10/2012)

Ante o entendimento prevalente no Órgão Especial, cumpre-me, por


disciplina judiciária, apenas ressalvar meu entendimento pessoal em sentido contrário, data vênia.
Ante o exposto, dou provimento ao recurso ordinário para, reformando o v.
acórdão regional, conceder a segurança e, reconhecendo a condição de deficiente auditiva da
impetrante, determinar a sua permanência na lista especial reservada à pessoa com deficiência para o
provimento do cargo de Analista Judiciário, Área Judiciária, em vaga reservada a deficiente físico, de
forma a assegurar-lhe o exercício de todos os direitos daí decorrentes relativos ao aproveitamento do
Concurso Público nº 01/2017 do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros do Órgão Especial do Tribunal Superior do
Trabalho, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário e, no mérito, dar-
lhe provimento para reformando o v. acórdão regional, conceder a segurança e, reconhecendo a
condição de deficiente auditiva da impetrante, determinar a sua permanência na lista especial
reservada à pessoa com deficiência para o provimento do cargo de Analista Judiciário, Área Judiciária,
em vaga reservada a pessoa com deficiência física, de forma a assegurar-lhe o exercício de todos os
direitos daí decorrentes relativos ao aproveitamento do Concurso Público nº 01/2017 do Tribunal
Regional do Trabalho da 12ª Região.
Brasília, 2 de setembro de 2019.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


ALEXANDRE LUIZ RAMOS
Ministro Relator

Firmado por assinatura digital em 05/09/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

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