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Portadores de visão monocular devem ser considerados deficientes para fins de

preenchimento da cota prevista no art. 93 da Lei 8.213/91.

O Decreto n. 3.298/99, que regulamenta a Lei Federal n. 7.853/89, dispõe sobre o conceito
de pessoa com deficiência para fins de preenchimento da vaga destinada a pessoas
portadoras de deficiência física.

Antigamente a interpretação que vinha sendo dada pelo Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) ao art. 4º, III, do Decreto n. 3.298/99 era no sentido de que as pessoas com visão
monocular não poderiam ser computadas na cota de deficientes, porque referido dispositivo
legal consideraria pessoa com deficiência visual aquela cuja acuidade visual fosse igual ou
menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica, ou cuja acuidade visual
estivesse entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica, ou nos casos nos
quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos fosse igual ou menor que
60º.

Era esse entendimento que constava do Manual editado pelo Ministério do Trabalho e
Emprego no ano de 2007, intitulado de "A inclusão das pessoas com deficiência no
mercado de trabalho".

Finalmente, a partir de setembro de 2011, o Ministério do Trabalho e Emprego passou a


considerar deficientes, para fins de preenchimento da cota prevista no art. 93 da Lei
8.213/91, os portadores de visão monocular em razão de inúmeras decisões do Poder
Judiciário (Justiça Federal, Súmula do Superior Tribunal de Justiça, Supremo Tribunal
Federal) que deram interpretação ao art. 4º em harmonia com o art. 3º do Decreto nº
3.298/99, o qual confere proteção não apenas àqueles que têm deficiência permanente ou
incapacidade física, mas também aos portadores de deficiência, situação na qual se
enquadram os portadores de visão monocular.

Como bem observou a Ministra Cármen Lúcia no voto convergente proferido no processo
n.º STF-ROMS-26.071-1/DF, cujo relator foi o eminente Ministro Carlos Ayres de Brito, a
ambliopia - ou visão monocular - importa para o indivíduo severa restrição em sua
capacidade sensorial, com a alteração das noções de profundidade e distância, além da
vulnerabilidade do lado do olho cego. Transcrevemos abaixo a ementa do referido julgado
proferido pelo STF:

"DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM


MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATO PORTADOR
DE DEFICIÊNCIA VISUAL. AMBLIOPIA. RESERVA DE VAGA. INCISO VIII DO
ART. 37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. § 2º DO ART. 5º DA LEI N.º 8.112/90. LEI
N.º 7.853/89. DECRETO N.ºS 3.298/99 E 5.296/2004.

1. O candidato com visão monocular padece de deficiência que impede a comparação entre
os dois olhos para saber-se qual deles é o -melhor-.
2. A visão univalente - comprometedora das noções de profundidade e distância - implica
limitação superior à deficiência parcial que afete os dois olhos.

3. A reparação ou compensação dos fatores de desigualdade factual com medidas de


superioridade jurídica constitui política de ação afirmativa que se inscreve nos quadros da
sociedade fraterna que se lê desde o preâmbulo da Constituição de 1988.

4. Recurso ordinário provido.

(Processo n.º STF-RMS-26.071-1-Distrito Federal, relator Ministro Carlos Brito, acórdão


publicado no DJU de 1º/2/2008)

O Superior Tribunal de Justiça, em 28/4/2009, editou a Súmula n. 377, segundo a qual "o
portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas
reservadas aos deficientes"

No mesmo sentido, a jurisprudência da Justiça do Trabalho, especialmente do Tribunal


Superior do Trabalho conforme se vê dos seguintes julgados:

“MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATA


PORTADORA DE VISÃO MONOCULAR. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. VAGA
DESTINADA A PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA FÍSICA.
RECONHECIMENTO. 1. O escopo da legislação, no que tange à observância do critério
erigido em Lei e consagrado no edital do concurso, relativo à destinação de vagas a pessoas
portadoras de deficiência, é assegurar o acesso de pessoas portadoras de deficiência ao
mercado de trabalho, buscando não apenas reduzir as dificuldades materiais decorrentes de
sua condição especial, mas, sobretudo, superar a barreira maior que se impõe à sua total
inclusão em todos os aspectos da vida social: o preconceito. Nisso consiste a ação
afirmativa, ferramenta essencial na promoção da igualdade real entre os seres humanos –
Primado básico dos direitos fundamentais reconhecidos desde a declaração universal dos
direitos humanos de 1948. Por meio da ação afirmativa, dá-se sentido e conteúdo ao
princípio isonômico consagrado na cabeça do artigo 5º da Constituição da República. 2. A
ambliopia – Ou visão monocular – Importa para o indivíduo severa restrição em sua
capacidade sensorial, com a alteração das noções de profundidade e distância, além da
vulnerabilidade do lado do olho cego. 3. Inafastável, portanto, o reconhecimento do direito
líquido e certo da impetrante, pela realização do escopo material do princípio da igualdade,
a ser considerada para a vaga destinada a pessoas portadoras de deficiência física, no caso
de certame público, nos termos do edital do concurso, observada a sua classificação
definitiva. 4. Entendimento que se afina com a jurisprudência consagrada pelo Supremo
Tribunal Federal, intérprete máximo da Constituição da República. Precedente do órgão
especial. 5. Segurança concedida. (TST; MS 195676/2008-000-00-00.5; Rel. Min. Lelio
Bentes Corrêa; DEJT 15/05/2009; Pág. 264)
“MANDADO DE SEGURANÇA - CONCURSO PÚBLICO - CANDIDATO
DEFICIENTE - VISÃO MONOCULAR - DIREITO LÍQUIDO E CERTO À RESERVA
DE VAGA.
1. O art. 4º, III, do Decreto n.º 3.298/99 considera deficiência visual -cegueira, na qual a
acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a
baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor
correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os
olhos for igual ou menor que 60º ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições
anteriores-.
2. Esse dispositivo deve ser interpretado em harmonia com o art. 3º do Decreto n.º
3.298/99, que confere proteção não apenas àqueles que têm deficiência permanente ou
incapacidade física, mas também aos portadores de deficiência, situação em que se
enquadra o Impetrante.
3. Por essa razão, os portadores de visão monocular são qualificados como deficientes, pois
sujeitos a anormalidade em sua visão que os torna incapazes de desempenhar atividade
dentro do padrão considerado normal para o ser humano. 4. Assim, impõe-se reconhecer o
direito aos portadores de visão monocular de concorrerem em concursos públicos na
condição de deficientes físicos. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e do Superior
Tribunal de Justiça. Segurança concedida. (Processo n.º TST-MS-198.742/2008-000-00-
00.6, Ministra MARIA CRISTINA PEDUZZI publicado no DJU de 24/4/2009)

"VISÃO MONOCULAR. DEFICIÊNCIA FÍSICA COMPROVADA. DECRETO Nº


3.298/99. REINTEGRAÇÃO AO EMPREGO. Comprovada deficiência física do
empregado - Visão monocular -, caracterizada como deficiência física nos termos dos art.
3º e 4º do Decreto nº 3.298/99 e pela sociedade brasileira de oftamologia, mister reconhecer
a inexistência de motivo para a dispensa do empregado. Recurso ordinário da reclamada
conhecido e não provido. (TRT 10ª R; RO 27200-51.2009.5.10.0005; Relª Desª Heloisa
Pinto Marques; DEJTDF 01/07/2010; Pág. 80)

"MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. DEFICIENTE VISUAL.


VISÃO MONOCULAR. CONCESSÃO DA SEGURANÇA. O art. 3º, inciso I, do Decreto
nº 3.298/99 considera deficiência como sendo toda perda ou anormalidade de uma estrutura
ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho
de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano. O impetrante é
portador de cegueira legal, irreversível no olho esquerdo, provocada por coristoma
retiniano, conforme fez prova com a juntada do atestado médico. Neste contexto, é razoável
a conclusão de que os portadores de visão monocular são qualificados como deficientes,
pois tal anormalidade os torna incapazes de desempenhar atividade dentro do padrão
considerado normal para o ser humano. 2. Segurança concedida para assegurar ao
impetrante que o seu nome seja incluído na lista dos candidatos, portadores de deficiência
física, aprovados para o cargo de analista judiciário área administrativa especialidade
contabilidade. (TRT 21ª R; MS 25900-92.2011.5.21; Ac. 113.737; Relª Juíza Lygia Maria
de Godoy Batista; Julg. 01/12/2011; DORN 14/12/2011; Pág. 18)

Por fim, vale destacar que tramita no Congresso Nacional o Estatuto da Pessoa com
Deficiência - Projeto de Lei n.º 7.699/2006 - que estabelece inequivocamente a visão
monocular como deficiência visual. São os seguintes os termos da proposta legislativa :

"Art. 2º Considera-se deficiência toda restrição física, intelectual ou sensorial, de natureza


permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades
essenciais da vida diária e/ou atividades remuneradas, causada ou agravada pelo ambiente
econômico e social, enquadrada em uma das seguintes categorias: I deficiência física (....);
II – deficiência auditiva: (...); III – deficiência visual: visão monocular (....)”

Fonte: Última Instância, por Aparecida Tokumi Hashimoto ( Advogada sócia do escritório
Granadeiro Guimarães Advogados ), 27.08.2012

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