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Dizer que este tema jurídico de direito substantivo e processual, da mais adequada
forma de proteger situações de grande fragilidade na vida social dos cidadãos, em
circunstâncias de enorme vulnerabilidade e a precisarem de ajuda devido a estarem
afectados nas suas capacidades racionais e, por isso mesmo, a padecerem de anomalias
que os torna incapazes de gerirem a sua pessoa e os seus bens. Tal anomalia
incapacitante afecta a pessoa nas suas faculdades intelectuais e pode a referida anomalia
surgir derivado a múltiplos factores de ordem natural congénita ou motivada por
circunstâncias acidentais do quotidiano da vida, com reflexos de graves repercussões no
respeitante à livre determinação da vontade própria daquele cidadão assim afectado.
1.2. OBJECTIVOS
Definir a incapacidade,
Mencionar e explicar a incapacidade dos interditos à luz do dispositivo legal,
Indicar as causas e tipos de incapacidade dos interditos,
Metodologia
A sentença de interdição definitiva deve ser registada, sob pena de não poder ser
invocada contra terceiro de boa fé (art. 147.°). É obvio que só e suprível urna
incapacidade de exercício de direitos. (Por isso, quanto ao casamento, não ha
possibilidade de suprimento da incapacidade dos interditos por anomalia psíquica (art.
1601, al.); estamos perante uma incapacidade negociai de gozo. Só os interditos por
surdez-mudez ou cegueira tem plena capacidade matrimonial. Também, quanto ao
testamento, só os interditos por anomalia psíquica estão feridos de unia incapacidade do
tipo incapacidade de gozo, tendo os surdos-mudos e cegos capacidade testamentaria de
gozo e de exercício. Não ha qualquer lugar para o instituto da assistência no suprimento
duma incapacidade por interdição.
VALOR DOS ACTOS PRATICADOS PELO INTERDITO
Segundo Professor da Mota Pinto existem três períodos para distinguir O Regime legal,
aplicável à generalidade dos negócios jurídicos, nomeadamente:
1- Depois do registo da sentença de interdição definitiva.
Os negócios jurídicos praticados neste período estão feridos de anulabilidade
(“art. 148.”). O Código de SEABRA declarava-os ≪nulos de direito≫, formula que,
sugerindo embora a ≪nulidade absoluta≫, era, por força do elemento sistemático de
interpretação, entendida no sentido de nulidade relativa (anulabilidade) sem mais
averiguações. O regime era, portanto, igual ao da nova lei. Quanto ao prazo para a
invocação da anulabilidade, e as pessoas com legitimidade para argui-la, e aplicável, por
força do artigo 139.°, com as necessárias adaptações, o artigo 125.° Podem assim
requerer a anulação o representante do interdito durante a vigência da interdição, no
prazo de um ano a contar do conhecimento do negocio, o próprio interdito, no prazo de
um ano a contar do levantamento da interdição, e qualquer herdeiro deste, no prazo de
um ano a contar da morte do incapaz ( 263 ). Trata-se, por outro lado, de uma invalidade
sanável por confirmação das pessoas com legitimidade para invocá-la. A anulação não
pode ser excluída mediante a alegação de intervalo lucido do demente, falta de
prejudicialidade do acto ou desconhecimento, pela contraparte, da interdição.
2- NA PENDÊNCIA DO PROCESSO DE INTERDIÇÃO.
Se o acto foi praticado depois de publicados os anúncios da proposição da acção,
exigidos no artigo 945. ° do Código de Processo Civil, e a interdição vem a ser
decretada, haverá lugar a anulabilidade, desde que as mostre que o negócio causou
prejuízo ao interdito (art. 149. °). “A exigência da prejudicialidade do acto constava já
do artigo 956.”, n.º 2, do Código de Processo Civil.
A doutrina punha o problema de saber se o prejuízo se devia apreciar com
referencia ao momento em que o acto foi praticado ou se se devia fazer uma
apreciação actual, isto e, no momento em que se decidia sobre a anulação.
Fosse qual fosse a melhor solução, não ha duvida que a interpretação mais
chegada ao texto do artigo 956. ° do Código de Processo Civil era a que
permitia a anulação de negócios que, tendo sido embora celebrados nas
condições em que o faria uma pessoa normal e sensata, se vieram a tomar
desvantajosos para o interdito por forca de eventualidades posteriores.
Anteriormente a publicidade da acção. Acerca do regime destes actos, isto e,
acerca das condições da sua anulação, rege o aniso 150.§.cuja estatuição remete
para o disposto acerca da incapacidade acidental. A incapacidade acidental esta
prevista e regulada no artigo 2577, nos termos do qual a declaração negociai
feita por quem se encontrava acidentalmente incapacitado de entender o sentido
dela ou não tinha o livre exercício da sua vontade e anulável, desde que o facto
seja notório ou conhecido do declaratório (266). Não ha, portanto que fazer
hoje qualquer distinção entre a hipótese de o incapaz por anomalia psíquica,
surdez-mudez ou cegueira vir a ser ulteriormente interdito e a hipótese de
nunca chegar a ser decretada a interdição. Ao contrário do que resultava do
artigo 335. ° e único do Código de 1867. Em qualquer das hipóteses, a
anulabilidade tem, como condições necessárias e suficientes, os seguintes
requisitos:
1) Que, no momento do acto, haja uma incapacidade de entender o sentido da
declaração negociai ou falte o livre exercício da vontade.
2) Que a incapacidade natural existente seja notória ou conhecida do declaratório
(contraparte nos contratos, destinatário da declaração nos negócios unilaterais
recepticios, destinatário dos efeitos da declaração nos negócios unilaterais não
recepticios). O requisito notoriedade era já exigido no artigo 335. ° do Código de
SEABRA e a determinação do seu sentido originou correntes doutrinais diversas. O n.°2
do artigo 257. ° não da margem as duvidas então surgidas, pois esclarece que notório e
um facto que uma pessoa de normal diligencia teria podido notar. Em face do exposto,
resulta que, para a anulabilidade destes actos, não basta à prova da incapacidade
natural, ao contrario do que, para o sistema do Código de 1867, chegou a sustentar
(cremos que sem razão) MANUEL DE ANDRADE. Exige-se igualmente, para tutela da
boa fé do declaratório e da segurança jurídica, a prova da cognoscibilidade da
incapacidade.
2) A delimitação da incapacidade do interdito e a natureza da interdição como
suprimento legal da anomalia
A nossa lei vigente distingue, neste campo, duas modalidades de regime para
declarar à ajuda ao incapacitado, a interdição e a inabilitação destinando-se a
primeira para os casos mais graves e a segunda para as causas incapacitantes
que, no entender do juiz, não justifica a primeira e opta então pela medida
protectora menos grave, a par da prodigalidade para as situações que a
justifiquem. Neste sentido, quando as deficiências existentes não tenham um
grau elevado de gravidade, que não impeçam nem excluam totalmente a
indispensável aptidão do visado para gerir os seus interesses: nestes casos o juiz
optará pelo instituto da inabilitação3 que tem como primordial preocupação a
defesa dos interesses do interditando, como de resto é bem sublinhado nas
disposições do artigo 145.º do C.C, ao referir-se aí que: “o tutor deve cuidar
especialmente de saúde do interdito …”.
No respeitante à interdição e em face do que se dispõe na lei ficam sujeitos a ela,
depois de decretada pelo tribunal, as pessoas singulares maiores, como
concretamente resulta do que se disposto no n.º 2 do artigo 138.º do C.C, e cuja
operatividade carece sempre de uma decisão judicial onde seja apreciada a
necessária ocorrência em relação à pessoa do arguido accionada por quem
demonstre legitimidade e onde se revelem os factos que provem e justifiquem a
necessária medida em face de determinada afectação incapacitante, que
comprovadamente seja recomendada, com rigor, e se demonstre imprescindível
aquela medida a decretar pelo tribunal.
Sendo certo que há algumas semelhanças entre a interdição e a inabilitação,
porém, há diferenças que importa sublinhar: desde logo em relação à sua
vigência, enquanto a inabilitação surge com a reforma do C.C., de 1966; a
interdição é um instituto muito antigo, remontando ao direito romano, nas
expressões de “furiosos, o insanos, o demens, o mente captus”.
Diferentes são ainda os efeitos que resultam da declaração da inabilitação que
apenas limita a capacidade de exercício nos casos especificados na sentença que
a decretou como decorre do previsto no artigo 954.º, número 2 do CPC, ou seja,
ambos os casos limitam a capacidade de exercício, mas em graus diferentes, por
diferentes serem também os graus de incapacidade que servem de fundamento a
um caso e outro, sendo que no caso da interdição retira totalmente a capacidade
de exercício ao protegido, pelo que incumbe aos seus representantes legais suprir
o problema da incapacidade. Bem diferente do que se prevê, no que respeita ao
suprimento das incapacidades no regime da inabilitação, 6 onde os
representantes legais apenas auxiliam nos casos e nod) Para a competente acção
de interdição, em processo especial, nos termos previstos nos artigos 944.º e
seguintes do CPC., tem competência o tribunal comum, com a possibilidade de
recurso de apelação para a 2ª Instância, e na lei substantiva, como resulta do que
se dispõe no artigo 140.º e seguintes do C.C. Detendo legitimidade para a
requerer: o cônjuge, o tutor ou curador do interditando, por qualquer parente
sucessível ou pelo Ministério Público, pelos pais quando o interditando seja
menor e esteja sob a protecção do poder paternal, tal como se dispõe nos
números 1 e 2, do artigo 141.º do C.C. São estas mesmas entidades, assim como
o próprio interdito, como se prevê nas disposições do artigo 151.º do C.C., que
têm também legitimidade para requererem ao tribunal o necessário levantamento
da interdição, nos mesmos termos previstos no artigo supracitado do C.C.,
quando as circunstâncias concretas o justifiquem, por se não verificar a
necessidade da medida antes decretada, por ter cessado a causa que determinou,
o decretamento da adequada protecção judicial que, naquele momento, se
impunha e no momento actual, dadas as circunstâncias de melhoria que se
verificam no protegido, tornaram a medida antes decretada desnecessária e
justificativas do levantamento da interdição.
a) Esta acção tem de ser proposta, em termos legais, pelas pessoas mencionadas no
artigo 141.º do C.C, que prevê duas situações consoante o interditando esteja ou não
sujeito ao poder paternal e a ser exercido pelos pais. Neste caso só os progenitores que
exerçam o poder paternal e o Ministério Público, como se dispõe no n.º 2 do citado
artigo 141.º do C.C., têm legitimidade para requererem a interdição; no caso de não
estar sujeito ao poder paternal, têm legitimidade o Ministério Público, o cônjuge, o tutor
ou curador e quaisquer parentes sucessíveis, como se dispõe nos artigos 141.º, n.º1, e
2133.º do C.C.
Em conclusão
As consequências jurídicas dos actos dos interdito como já se referiu, aos interditos por
anomalia psíquica está vedada a possibilidade, por incapacidade, para casar, perfilhar e
testar, como decorre do disposto nos artigos 1601.º, 1850.º e 2189.º do C.C. Porém, nos
casos de incapacidade natural, mas faltando a declaração de interdição, o acto do
incapaz poderá ser anulado desde que se verifiquem os pressupostos da incapacidade
acidental, como resulta, v.g., do que se dispõe no artigo. 2199.º do C.C. Todavia, as
consequências da celebração de qualquer destes negócios pelo incapaz conduzem ao
regime da anulabilidade no casamento e na perfilhação, como se dispõe na alínea a) do
artigo 1631.º e 1861.º do C.C., respectivamente, e, para o testamento, a nulidade no caso
de interdição como se prevê no artigo 2190.º do C.C. E a anulabilidade no caso de
incapacidade acidental, como resulta do disposto no artigo 2199.º do mesmo diploma. A
incapacidade dos interditos mantém-se mesmo que termine a causa que lhe deu origem
e só deixa de operar quando a decisão judicial levante a interdição anterior e
judicialmente decretada. O levantamento da interdição tem o seu regime no artigo 958.º
do CPC., e pode ser requerido pelo próprio interdito ou qualquer das pessoas com
legitimidade para a requerer, desde que, em conformidade com o disposto no artigo
151.º do C.C., que neste caso remete para o que se dispõe no artigo 141.º, e que se
refere à legitimidade do cônjuge, do tutor ou curador, por qualquer parente sucessível
ou pelo Ministério Público.
Bibliografia
ASCENSÃO, José de Oliveira, Direito Civil. Teoria Geral. Introdução. As Pessoas. Os
Bens, 3.ed., São Paulo, Saraiva, 2010.
MOTA PINTO, Carlos Alberto da, Teoria Geral do Direito Civil, 3.ed, Coimbra,
Coimbra Editora, 1990.