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A persuasão retórica pode manifestar-se sobre a forma activa (quando, por exemplo, deliberadamente convencemos o nosso
superior hierárquico a aumentar o salário), mas também sob a forma passiva (por exemplo, o aliciamento do espectador por parte
da publicidade através de um anúncio esteticamente cativante). Ou pode destinar-se a fins específicos (vote no candidato X) ou
fins genéricos e mais abstractos (convencer que o socialismo, enquanto sistema político-económico, é preferível ao comunismo,
por exemplo). A persuasão forma, assim, uma espécie de cimento que agrega diferentes pessoas a propósitos comuns e que por
isso facilita a acção colectiva Lundberg, 2008: 5).
É claro que a Retórica praticada na Antiguidade Clássica é muito diferente da Retórica Contemporânea. Afinal, os meios de
comunicação de massa (a imprensa, a rádio, a televisão, a internet, entre outros) colocaram aos oradores novos desafios para
chegarem às suas audiências, sendo o mais importante deles, terem de ser convincentes, não em situações de interacção face-a-
face mas em contextos de quasi-interacção mediatizada (Thompson, 1995). Por Samuel Mateus 17 outro lado, o número de
mensagens persuasivas é actualmente exponencial e são muito mais rápidas do que na Antiguidade. Um anúncio de publicidade
pode dar a volta ao mundo em 80 segundos apenas através das partilhas nas redes sociais online. Além disso, o próprio acto de
persuadir se institucionalizou (Perloff, 2003: 5). Isto é, as sociedades assumem a persuasão como uma profissão e muitas
profissões da comunicação possuem, no seu âmago, esta génese persuasiva tal como os Publicitários, os profissionais de Relações
Públicas ou os Marketeers.
Corroborando aquilo que sócrates e Cícero haviam escrito, Thomas Hobbes escreve na obra Man and Citizen: “(…) Mas a
linguagem também tem as suas desvantagens; nomeadamente, porque o homem é o único entre os animais que, por conta da
significação universal dos nomes, pode criar regras gerais para si mesmo na arte de viver, tal como nas outras artes; e, deste
modo, ele pode inventar erros e passá-los para o uso dos outros…. Portanto, pelo discurso, o homem não se torna melhor, ele
ganha apenas maiores possibilidades” (1.3). Para Hobbes1 , a Retórica é, sobretudo, um veículo de concretização da sociedade
civil (Gross, 2006: 65). Aliás, o discurso é cria1. Hobbes foi o primeiro a traduzir a Retórica de Aristóteles para Inglês, em 1638.
Introdução à Retórica no Séc.XXI 18 dor do mundo das possibilidades humanas (Bitzer 1968), daí a sua ligação com a Política e a
Sociedade
A Retórica encontra o seu expoente máximo na Democracia, em especial, no Espaço Público onde os cidadãos pugnam por uma
sociedade livre no momento em que procuram provocar a adesão dos seus pares aos seus ideais. Persuadir é levar os sujeitos –
capazes de livremente as rejeitarem – a voluntariamente aderirem ou afiliar-se nas ideias que lhe são propostas. É requerer o
assentimento para transformar o modo de pensar sobre determinado assunto. Por isso, desde o passado até à
contemporaneidade, verificamos a estreita ligação entre a democracia e a retórica.
Aristóteles (384–322 a.C.) desenvolveu um tratado alargado sobre a retórica, que ainda é alvo de estudo cuidadoso.
Na frase de abertura de A Arte da Retórica, afirma que "a retórica é a contraparte [literalmente, antístrofe] da dialética".
Assim, enquanto os métodos dialéticos são necessários para encontrar a verdade em questões teóricas, métodos
retóricos são necessários em assuntos práticos, tais como a defesa da culpa ou inocência de alguém, quando acusado
perante a lei ou para decidir um curso de ação prudente a ser tomado por uma assembleia deliberativa.
1. Meios de persuasão
2. Segundo Aristóteles, a persuasão "é uma espécie de demonstração, pois certamente ficamos completamente
persuadidos quando consideramos que algo nos foi demonstrado". Aristóteles identificou três classes de meios de
persuasão (apelos à audiência) que nomeou ethos, pathos e logos: primeiro, a persuasão é conseguida através
do próprio orador que, pelo seu carácter e forma como discursa, nos consegue fazer pensar que é credível;
segundo, a persuasão pode vir de dentro dos próprios ouvintes, quando o discurso desperta as suas emoções;
terceiro, a persuasão é feita através do próprio discurso, quando prova uma verdade por meio dos argumentos
adequados. Cada discurso combina os três apelos, equilibrando ou enfatizando o ethos, o pathos ou o logos.
3. Ethos: é a forma como o orador convence o público de que está qualificado para falar sobre o assunto, como o
seu caráter ou autoridade podem influenciar a audiência. Pode ser feito de várias maneiras: por ser uma figura
notável no domínio em causa ou por ser relacionado com o tema em questão. Por exemplo, quando uma revista
afirma que um professor do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT) prevê que a era robótica chegará em
2050, o uso do nome "MIT" (uma universidade americana de renome mundial para a investigação avançada em
matemática, ciência e tecnologia) estabelece uma credibilidade "forte".
4. Pathos: o uso de apelos emocionais para alterar o julgamento do público. Pode ser feito através de metáforas e
outras figuras de retórica, da amplificação, ao contar uma história ou apresentar o tema de uma forma que evoca
fortes emoções na platéia.
5. Logos: o uso da razão e do raciocínio, quer indutivo ou dedutivo, para a construção de um argumento. Os apelos
ao logos incluem recorrer à objetividade, estatística, matemática, lógica (por exemplo, quando um anúncio afirma
que o seu produto é 37% mais eficaz do que a concorrência, está fazendo um apelo lógico); o raciocínio
indutivo utiliza exemplos (históricos, míticos ou hipotéticos) para tirar conclusões; o raciocínio dedutivo usa
geralmente proposições aceites para extrair conclusões específicas. Argumentos logicamente inconsistentes ou
enganadores chamam-se falácias.
A composição do discurso
A elaboração do discurso e sua exposição perante um público requerem a atenção a vários aspectos que se
complementam. Quintiliano (35–95) compilou os aspectos técnicos da arte na e definindo desde então os cinco
cânones da retórica: a estrutura linguística do discurso é definida na expressão oral do discurso é trabalhada
na memoria.
1-invenção).
O objetivo desta fase é estabelecer o conteúdo do discurso. que significa "encontrar". Trata-se do momento em que o
orador deve recolher e seleccionar os argumentos adequados para a exposição e defesa da sua causa.
2-disposição dos argumentos
Visa organizar os elementos da invenção num todo estruturado. São relevantes nesta fase o número e a ordem das
partes do discurso. Os discursos podem ter uma estrutura bipartida (na qual duas partes estão em tensão recíproca) ou
tripartida (que pressupõe uma evolução linear, com princípio, meio e fim). A estrutura tripartida, mais comum, consiste
num exórdio, parte inicial que tem como objectivo captar a atenção e interesse do ouvinte; uma parte média com o
tema e da posição do orador e razões que sustentam a tese) e, finalmente, uma posicao, recapitulação e apelo ao
auditório.