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Gotas

Literárias
16

Escritores Paragominenses

Paragominas -Pa
2023
COMISSÃO JULGADORA:
Denise Guiomar Franco Leal dos Santos
Mestra em letras na área da Linguagem e Letramento
Pela Universidade Federal do Pará
Neila Garcês
Mestra em Letras pela
Universidade Federal do Pará
Pablo Rossini Pinho Ramos
Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará
Ribamar Barroso
Especialista em Letras pela Universidade Federal do Pará

Elayne Nobre
Digitação dos originais, diagramação
Capa/Designer
Lucas Eduardo Moreira

Revisão ortográfica:

OBS: A revisão ortográfica foi realizada respeitando


o estilo pessoal de cada escritor.
© 2023 – SECULT
Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer
Av. Presidente Vargas, s/n° - Bairro Célio Miranda – Paragominas - Pará
Fone-Fax: (91) 3729-8017 / 8034
E-mail: secultpgm@hotmail.com - Facebook/ Instagram Secult
Paragominas
www.paragominas.pa.gov.br
Todos os direitos reservados
Tiragem desta edição: 1.000 exemplares
Impressão: Gráfica São Marcos

Gotas Literárias 16
Governo do Estado do Pará
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARAGOMINAS

João Lucidio Lobato Paes


Prefeito
Vera Lúcia Flores da Vera Cruz
Vice-Prefeita
Claudei Madalena de Souza
Secretário de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer
Jane Maria da Silva Vieira
Superidentente de Cultura , Turismo, Desporto e Lazer
Diretor(a) Financeiro
Caroline Oliveira de Barros
Elayne Cristina Nobre de Souza
Diretora da Biblioteca Pública Municipal
Welton Marques Gonzaga

Gotas Literárias 16
Mensagem
A leitura faz parte da minha vida desde a infância, e se tornou
um dos meus maiores prazeres. Neste mundo particular, consigo
sonhar, imaginar e viajar nos mais diversos mundos e conhecer
novas culturas, ideologias, filosofias e mais, aventuro-me no
desconhecido mundo das narrativas, deleito-me e apaixono-me nos
mais lindos Poemas e Cordéis, relembro emocionado das variadas
histórias contidas nas Memórias Literárias. Nas crônicas, seja qual for
o estilo, consigo abstrair, neste recorte do tempo, lições jamais
esquecidas.
Nesta 16ª edição especial do livro Gotas Literárias, tenho a
honra de ampliar o amor e o prazer pela leitura e, desta vez,
deleitando-me e conhecendo ainda mais o potencial literário de
escritores da nossa tão amada Paragominas.
Portanto, descobrir novos talentos e ratificar os que já existem
é mais que um desafio, é um prazer. Pois acredito que a leitura muda
vidas e permite ir além do que pensamos ou imaginamos. É com
imensa satisfação, que lançamos esta preciosa edição cujo objetivo é
despertar o gosto pela leitura literária e valorizar ainda mais nossos
queridos artistas.
Obrigado!

Lucídio Lobato Paes


Prefeito Municipal de Paragominas

Gotas Literárias 16
Apresentação
O Gotas Literárias é uma das ações da Biblioteca Municipal
Welton Marques Gonzaga, em parceria com a Prefeitura Municipal
de Paragominas e a Secretaria Municipal de Cultura, Turismo,
Desporto e Lazer. Dentre os mais diversos objetivos do projeto, os
que mais se destacam são os de fazer conhecer e reconhecer os
nossos artistas da literatura e o melhor, contribui para o
desenvolvimento das habilidades e competências leitora da
sociedade paragominense.
Nesta 16ª edição, o tema escolhido foi “O fazer literário, um
caminhar entre tempos”, o qual foi discorrido, nos mais diversos
gêneros textuais. A novidade desta edição foi também o formato que
abrangeu mais artistas, pois atendeu tanto a categoria amadora
quanto a categoria profissional, além da inserção do gênero textual
Memórias Literárias.
Portanto, todas as modificações permitiram que o presente
livro se tornasse lindo e especial, estes adjetivos se confirmam em
cada verso dos poemas e dos cordéis ou em cada parágrafo das
crônicas, das memórias literárias e dos contos. Então, convidamos
você, caro leitor, a se permitir mergulhar neste mundo fantástico que
é a leitura.
Claudei Madalena de Souza
Secretario de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer

Gotas Literárias 16
SUMÁRIO

POEMA PROFISSIONAL:

BORBOLETA COR DE VIOLETA


Edimar Alves de Lima

POESIA EM DIAS DIFICEIS – EM SERTÕES ESQUECIDOS


Jorleide Antunes Arruda
MULHER BELA
Maria de Nazaré Narcisa dos Santos
ELA DE NOVO
Daniel de Leon Carriconde

CONTO PROFISSIONAL:

AS FORMIGAS CIRURGIAS OU O SEGUNDO


NASCIMENTO DE TÓMAS
Jorge Wellington Corrêa Quadros
AROMA DE CARATÉR
Edimar Alves de Lima

CRÔNICA PROFISSIONAL

LINHA CRUZADA
Jorge Wellington Corrêa Quadros

A GRÁMATICA DO AMOR
Jorleide Antunes Arruda

CONTO AMADOR:
Gotas Literárias 16
CAMINHO A ESMO
Fábio Alves Silva
ROSAS BRANCAS
Alan Souza Cesário
EXPLORADOR – A SINA
Natalia Araújo Silva
MAIS DO QUE ADIANTA?
Moises Lemos Damacena
AMPULHETA
Maria Clara Lima Coutinho

CORDEL AMADOR:

OS VALENTE LUNA FEITOSA E OS VICENTE RISCA FACA


José Ricardo do Nascimento Feitosa
Paragominas – O Descortinar dos tempos
Daniel Sousa Mendonça
SONHO E CONQUISTA
Sidney José R.Castro

MEMÓRIAS AMADOR
PENSAMENTOS A CAMINHO DA ESCOLA
Ryan Dasmaceno dos Santos

HOJE ME LEMBREI DA MINHA AVÓ VITORIA


Maria Emília Alves Vieira
CHUVAS DA INFÂNCIA
Albino Lopes
Lembranças de um Amor
Lilian Cristina dos Santos

POEMA AMADOR

ANGÚSTIA DE MENTE INCONGRUENTE


Yala Fernanda de Souza Farias
Gotas Literárias 16
JÁ FUI...
Ryan Damasceno dos Santos
TRANSBORDA MENINO
Daniel de Sousa Mendonça
O VIAJANTE
Antônio Ailton Dias Mendes
HIFÉN
Fabio Alves Silva
Alan Souza Cesário
A TAL NOVIDADE
Moises Lemos Damacena
SAUDADE DA INFÂNCIA
Kenia Almeida da Silva
TU ÉS METADE
Maria Emília Alves Vieira
PARAGOMINAS
Oziel Miranda da Silva
SUSPIRO A ROSA
Danilo Almeida da Silva
UM AMOR QUE FIQUE
Marcos Endrey Araújo dos Santos
OS ENCANTOS DE PARAGOMINAS
José Ricardo do Nascimento Feitosa
GOSTO DE VOCÊ
Maicon Breno Vieira
MEU QUERIDO PASSADO E FUTURO
Maria E. Sousa Barroso
BELEZAS DO BRASIL
Maria Raimunda de Freitas Aguiar
INDAGAÇÕES
Lauren Ribeiro Prestes
A PASSOS LENTOS
Joelma Almeida dos Passos
BONS TEMPOS
Raquel de Sousa Pereira
VAGAMENTE
Renata Conceição Rocha

Gotas Literárias 16
CRÔNICA AMADOR
PASTEL CROCANTE
Albino Soares Costa

Gotas Literárias 16
Poema
Profissional

Gotas Literárias 16
Borboleta cor de violeta
No céu
O arco-íris apareceu
Feito calda de cometa
As crianças olhavam e davam piruetas
Foi quando a menina viu
Uma borboleta
Cor de violeta
Logo ela gritou:
-Julieta, Julieta, Julieta!
A borboleta fez uma careta.
E perguntou:
Eu?
Sim, sim,
Você não gostou?
A menina perguntou.
A borboleta pensou, pensou, pensou.
Bateu as asas, voou e gritou:
Mas que nome porreta.
Julieta, rima com violeta.
Menina agora vou pousar na alça de sua jaqueta
E nunca mais isso sairá da minha cabeça
No dia em que o arco-íris apareceu
Um nome lindo você me deu
Julieta agora sou eu!

Edimar Alves de Lima


1º Lugar

Gotas Literárias 16
POESIA EM TEMPOS DIFÍCEIS - EM SERTÕES
ESQUECIDOS.
Naquele árido sertão
a chuva era presente caro
sublime e raro,
carne era artigo de luxo
a fome resmungava no bucho...
vencidos, a gente dormia
e dela momentaneamente esquecia...
Naqueles tempos obscuros
a efêmera alegria brejeira
era admirar vaga-lumes
atraídos pela luz da fogueira
cintilando no escuro...
no escuro da noite
onde a dor se escondia!
Entre estreitas paredes
famílias se apertavam
seus meninos magros
em uma única cama se amontoavam...
O sono, a inocência guardava
as dores e desventuras do dia apaziguava!
Naquele chão esmarrido
umedecido pelo suor
de um povo sofrido
o rio corria na secura do tempo
tropeçando nos bancos de areia
sem cardumes, poesia e alento
sem esperança de mar!
Entre a chuva e a estiagem
morte & renascimento
na contramão do romantismo
a poesia social em movimento
Gotas Literárias 16
denunciando as escassas e magras riquezas
que os "fortes" alimentavam
e as gordas misérias
que os "fracos" sepultavam!
Naqueles tempos difíceis
uma menina franzina e arredia
de livros emprestados & sonhos intangíveis
sua humilde infância nutria
e o frágil dedo indicador
na terra seca e estéril
versos estorvantes já escrevia!

Jorleide Antunes
2º Lugar

Gotas Literárias 16
MULHER BELA
Mulher! Mulher!
Como te descrever?
Sem de ti nenhum milímetro esquecer?
No teu dia tornas-te malabarista,
Nessa ribalta viras artistas.
Mulher! Mulher!
De beleza feroz,
Onde muitas vezes
Escondes teu luar
a fim de tua família iluminar.
Mulher bela!
Que em defesa da família,
Te esmera e vira a mulher fera;
Tal qual a aurora boreal.
Nada temes, nada te faz mal.
Tuas lágrimas, tornam-se grandes enchentes;
Para proteger seus entes queridos.
Quando te machucas
Te esconde nos condimentos
Afirmas ser ele o culpado
De teus tristes sentimentos.
Ah! Cebola malina,
Me fazendo chorar?
Ardes-me os olhos...
E ficas a malina
Mulher! Mulher!
Que no teu cotidiano,
Viras circense, alegras
A todos e esqueces-te do teu Eu;
Nisso se perdeu.
Parabéns!
Mulher guerreira, fenomenal.

Gotas Literárias 16
E creias és a estrela,
Mesmo escondendo-te afinal.
Mulher! Mulher!
Mulher aguerrida
És a luz da tua e de muitas vidas.
Pegas os filhos no colo
Viras delegada, juíza...
Até o fim da vida.
Mulher de alma!
Depois da bravura e entre quatro paredes...
Que te apuras!
Nos braços do companheiro,
Ou no teu mundo criado
Por ti, par te alegrar
Sem a ninguém culpar!
Bravo! Mulher.
Mulher águia!
Que teu voo seja bem alto;
Que nunca por nada dessas do salto,
Com um sorriso sempre brilhas,
Exalas formosura constante,
Apesar da alma ferida,
Não se queixas da vida.
Oh! Mulher! Mulher!
Bravo! Bravo! Querida.
Vires e mostras-te feliz,
A todo instante;
Não importa o que sentes!

Maria de Nazaré Narcisa dos Santos


3ª Lugar

ELA, DE NOVO
Gotas Literárias 16
Me tira os pés do chão.
Me arrebata de mim e
Me altera a realidade.
Me altera toda a vontade
Num sonho sem fim.
Afasta tudo de mim:
Dor, problema ou aflição,
Me traz uma sensação
Que nada mais traz igual.
Não tem como pensar no mal
Eu diria até em nada, afinal.
Em pouco tempo termina,
Volto à minha rotina
De ver as coisas como são,
Mas fica em meu coração
Aquela sensação sem igual.
E a música chegou ao final.

Daniel de Leon Carriconde


4ª Lugar

Gotas Literárias 16
Conto
Profissional

Gotas Literárias 16
As Formigas Cirurgiãs ou
O Segundo Nascimento de Tomás

Tomás deu à luz a si mesmo. Não no sentido literal, mas no sentido


visceral. Aconteceu quando ele tinha nove anos. Era manhã recém-
nascida quando o avô Damião saiu para o quintal em busca de tala
para arapuca. Madrugadinha, o homenzarrão de pele vermelha e
peito nu levantava-se em silêncio. Calças jeans, botinas e chapéu de
palha, nunca camisa. Preparava café com beiju antes de partir para a
roça, mas só acordava depois de uma talagada no conhaque de
alcatrão.
Os cabelos lisos e prateados alcançavam os ombros e dançavam
enfeitiçados pela brisa enquanto Damião se dirigia aos afazeres
cotidianos. Os olhos amendoados e profundos chegavam sempre
antes, denunciando os perigos do caminho. Naquela manhã,
contudo, foi diferente. Ele não anteviu a chegada abrupta do
pequeno que em segredo seguia as suas pegadas felinas. O velho
desapareceu no meio do folharal. Atrás dele, o menino, sorrateiro
como a raposa. O grandalhão partiu em busca da carnaúba plantada
no limite do terreno. Extrairia dela a matéria-prima para a sua
armadilha. Dum talho, Damião decepou o ramo da palmeira. Sentou-
se no tamborete de costas para a senda de onde veio e se pôs a cortar
pacientemente os tocos para a armadilha. A tarefa meditativa era
perturbada apenas por umas maritacas que ziguezagueavam nas
copas das árvores. O velho gostava de sentir o vento crespo que
vinha das matas escovarem os seus cabelos enquanto a faca deslizava
na tala. Estava em paz. Cabeça baixa, concentrado em sua missão, só
notou o menino quando este já estava a um braço de distância.
Primeiro ouviu a palha seca estalar sob os pés do intruso e, no susto,
virou-se, faca em punho, abrindo de fora a fora a barriga do netinho.
Antes de cair desfalecido, o menino balbuciou uma palavra, “vovô”,
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enquanto tentava segurar as entranhas com as pequenas mãos.
Damião conteve o ímpeto de carregar o menino no colo ribanceira
acima. Temendo que as entranhas se espalhassem, preferiu voltar
sozinho em busca de ajuda. Não sem antes abençoar o neto que, em
choque, apagou. Mas ainda podia sentir o chão tremer com os passos
do avô. Logo, o som surdo se dissipou, o vozerio das maritacas ficou
distante e o mundo emudeceu por completo.
Damião invadiu o quintal aos berros. Os gritos chegaram primeiro,
alertando Joana sobre uma tragédia. A mulher correu para o quintal
onde encontrou o gigante que cambaleava ofegante.
– O carrinho de mão! Traz o carrinho, Joana, corre!
– Cadê o menino, paim? – respondeu Joana em desespero.
– O carrinho de mão, mulher! Cuida! Traz ataduras e um lençol
também.
O homem se dirigiu ao poço em busca de água limpa para esterilizar
a ferida. A mulher pôs tudo no carrinho de mão e tomou à dianteira.
No intervalo entre o desespero e o desequilíbrio, eles se encontraram.
O maldito folharal que os separava do menino se tornou um grande
labirinto. O homem levou as mãos à testa como se tentasse frear o
turbilhão na sua mente para poder, enfim, tentar discernir, entre
todas as sendas, aquela que o levaria até o netinho. O estertor de
Joana era maior:
– Paimmmmmmm! Cadê o menino, paimmmmmmm?
Longe dali, o menino sonhava, esquecido da vida. De repente,
morrer já não era mais nenhum mistério. Morrer era viver fora da
dor e da agonia. Era escutar o silêncio e enxergar a escuridão.
Naquele mesmo instante, uma ogiva cruzava o continente europeu e
se precipitava em algum lugar remoto do pacífico. A explosão foi
tamanha que era possível contemplá-la desde o espaço.
Infelizmente, não havia ninguém lá para testemunhar o espetáculo.
Em São Paulo, a multidão enfurecida bradava contra o aumento
abusivo da tarifa do transporte coletivo. Um homem explodia um

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caixa eletrônico no interior de Minas. Nascia o primeiro ser humano
gestado por um homem. Os periódicos davam conta de uma senhora
sexagenária que sofreu combustão espontânea. Nenhum desses
eventos, porém, afetou em absoluto a ciranda dos globos celestes.
O mundo nunca parou de girar. E enquanto a vida se esvaía pelas
rachaduras do solo, o mato seco agradecia pelo alimento.
– Paimmmmmmmm! Olha ali, paimmmmmmmm!
Joana e Damião avistaram o corpo franzino e correram na sua
direção, já esperando pelo pior.
Quando lá chegaram, o susto foi ainda maior. Volteando o inteiro
corpo do menino, havia centenas de cadáveres de formigas, todas
sem cabeça. Pai e filha se entreolharam estarrecidos.
Joana minguou a toada. Já Damião, destemido, chegou mais perto
para ver, desacreditando nos próprios olhos. As formigas entraram
na ferida e vieram costurando o menino de dentro para
fora. As mordidas uniam pele com pele. Depois de cada mordida, o
corpo era arrancado e a cabeça ficava lá, dependurado feito pinça. O
menino havia sido operado. Mas, por quem?
Joana saiu do transe, embrulhou o menino no manto, tal qual Maria
ao pé da cruz, encostou levemente o ouvido no frágil peito e gritou:
– Ele vive! Ele vive, paim! Meu filho vive!
O garoto voltou à vida, mas não voltou a si. Acordou depois de três
dias. Falava em línguas estranhas.
– É língua de anjo, paim. – dizia Joana, conformada e agradecida por
cada respiração do menino. Damião olhava de canto, sem expressar
palavra. O menino não saía do quarto, passava o dia perdido em
devaneios, conversando com sombras, nada se aproveitando do
incompreensível colóquio. Quando ganhou força, passou a investir
contra os membros da casa. Não os reconhecia, nem a eles nem a si
mesmo. Damião decidiu falar, dizia que aquilo era coisa de
encantado. Queria levá-lo à dona Bené, curandeira da região,
para tentar reverter o feitiço. Joana não concordava, dizia que aquilo

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era mistério divino, não queria profanar o menino com crendices
pagãs. Por isso, decidiram levá-lo ao padre Odílio, homem de pouca
fala, barba branca escorrida, vestia-se como um capuchinho e tinha
sempre à mão um cajado. Diziam que era santo. Em uma terra de
coronéis, talvez ele realmente fosse. Mas padre, mesmo, ele não era
não. Muitos vinham à igrejinha de taipa onde operava milagres.
Gente de toda parte e a todo o momento. Dizem que não dormia,
recolhia-se em oração num quartinho aos fundos do casebre. Nessas
ocasiões, deixava o cajado em pé, na frente da igreja, para receber os
peregrinos. O cajado ficava em pezinho, sustentado apenas pelo
vento, indício da força mística do padre.
Pai, filha e neto foram se encontrar com o santo. Joana se benzeu
diante do cajado e partiu para a entrada da igrejinha. Padre Odílio
surgiu de dentro das sombras e ergueu uma das mãos na
direção dos três que se detiveram de imediato. Em seguida, fez um
sinal chamando apenas a mulher e o menino. Padre, menino e
mulher mergulharam na escuridão. Quando saíram de lá,
Joana disse ao pai:
– Esse não sabe de nada não, paim! Disse que é encantamento e que a
única pessoa com autoridade para libertar o menino é dona Bené.
Joana partiu de lá arrastando o filho pelo braço. Tinha um olhar
abrumado e a esperança coberta de cinzas. De certo não levaria o
menino à mulher. Não achava correto. Ia contra os seus princípios.
Princípios estes não herdados, já que o próprio pai vinha de uma
longa linhagem de pajés. Por essa razão não lhe havia sido concedida
a permissão para pisar no terreiro do padre.
Para Damião, seria bem fácil, se quisesse, rebentar qualquer feitiço
atirado sobre um dos seus.
O porém é que ele, em circunstâncias pretéritas, passara o cajado
adiante. Era um fardo difícil de carregar, assim como o é para a
própria dona Bené. Mais fácil era levar a vida no arado. E a razão da
sua decisão carece de mais linha do que esse novelo pode dar.

Gotas Literárias 16
Fiquemos, por ora, com as razões de Joana, coitadinha. Nunca
culpou o pai pelo ocorrido com o menino. Entendeu no seu
desespero que a mão do destino havia guiado a faca. E decidiu,
portanto, que o destino era o rival com quem lutaria até o fim para
salvar a cria de suas entranhas. Não deixaria mais o menino brincar
sozinho no terreno, à beira do mato, temendo que fosse levado de
vez por aquela força que lhe queria tomar de conta. Teve-o sempre à
beira da saia, resguardado dos perigos e da própria infância. Só às
vezes é que dava a ele algum alento. Era quando o pavio do dia já
estava quase queimado e os raios solares tingiam de um dourado
cobre as roupas no varal.
Enquanto Joana recolhia as roupas, o menino ia ajuntando pedrinhas
pelo caminho e depositando numa lata. De volta a casa, a mulher
rasgava três tiras da barra do vestido que lhe cobria o corpo e com
elas fazia um boneco para o pequeno. Ele se distraía um pouco com o
brinquedo de pano e mais tarde voltaria a se ocupar das pedrinhas,
lavando-as na bacia de borracha e polindo-as com uma escova de
engraxate. Não eram pedras comuns, descobriu que tinham um
coração translúcido, ligeiramente avermelhado, tal qual um rubi.
Aprendeu a desbastá-las com um cinzel e a dar-lhes diferentes
formas. Mais tarde, descobriu de maneira intuitiva que as pedras
podem conter algum poder, assim como as sementes. O velho que
andava com ele não fazia alarde, mas era um verdadeiro mestre:
apresentou-lhe a uma planta cujas sementes serviriam de amuleto. O
menino sozinho forjou um colar de contas com tais sementes e pôs
no pescoço. Ele não sabia, mas o avô, em outras épocas, usava um
idêntico. Certa tarde, depois de recolher as roupas no varal, Joana
sentiu uma moleza enorme devido ao sol castigante e caiu no sono. O
menino foi para o meio do quintal, dispôs as pedras ao redor e
deitou-se no meio delas com o colar de contas ao peito. Fechou os
olhos e meditou profundamente. Não demorou, caiu no sono
também.

Gotas Literárias 16
Naqueles dias, Damião andava longe de casa, era tempo de levar
para a cidade o produto do cultivo e trazer mantimentos de lá.
Nessas ocasiões, aproveitava para se perder pelas ruelas notívagas
do mercado central à caça de diversão e esquecer-se, por um
momento, de que era um ser humano. A noite mal havia estendido o
seu manto constelado quando Damião saiu por uma porta com uma
garrafa na mão, tentando aprumar o passo. A garrafa fazia plong
plong. E quando virou a esquina continuou plong plong a ecoar no
escuro. Estava acabado e feliz.
Lembrou-se do neto, já tinha idade para vir com ele à cidade, já era
hora de aprender algo sobre a vida e sobre as mulheres. Mas teve o
pensamento interrompido por um farfalhar de asas conhecido. Um
pássaro gigante cruzou o céu e ao passar por sobre a cabeça de
Damião, soltou um sibilo medonho. Damião teve um
pressentimento, sabia que era hora de voltar para casa.
Durante todo o caminho de volta, Damião sentiu um nó na garganta.
Sabia que era tarde para qualquer remédio. Sabia que o destino havia
vencido. E pela primeira vez se sentiu culpado. As nuvens escuras
chegaram antes dele. Uma cascata de raios fez a manhã nascer
prematuramente na floresta. Para encurtar viagem, pegou uma senda
no meio do mato. Ao chegar, avistou Joana, Padre Odílio e dona
Bené no meio do terreno. Eles também ouviram o sibilo da ave
lúgubre cortar o negro véu da noite e correram para acudir o menino.
Os três olhavam pálidos para o céu. Era o menino, suspenso no ar.
Flutuava como num sonho. Bastou que Damião se assomasse
no quintal para que a tempestade de raios cessasse exatamente do
jeito que começou, de repente, e a noite voltasse a reinar serena. Ao
mesmo tempo, o menino despencou lá de cima e caiu diretamente no
colo de dona Bené. A curandeira olhou para a mãe. Joana abaixou a
cabeça resignada e sacudiu afirmativamente.
– Pode levar.
Bené era altiva e resoluta. Descendente de rainha. Guardava pérolas

Gotas Literárias 16
em sua boca e não as malgastava com quem não tivesse ouvidos para
ouvir. Mulher, negra e mãe de milhares, apesar de ela mesma nunca
ter gerado. Era a enfermeira local. Estudou em colégio de freira e
ainda trajava o hábito. Carregava um crucifixo de madeira de
oliveira no peito, mas na cabeça ostentava um ojá da mais alta
hierarquia feito em tecido bramante com urdidura de cânhamo.
Atuava com a ciência e com a magia das ervas, conhecimento
herdado dos ancestrais. Bené sabia das coisas. Ela, sim, sabia de
quem era a culpa. Foi Damião quem não cumpriu a promessa
feita quando passou o fardo adiante. Não é fácil se livrar de um fardo
desses. A cobrança veio e recaiu pesada sobre o neto. Bené acolheu o
menino com doçura e o levou para casa a fim de fechar-lhe o corpo.
Disse-lhe que seria como nascer de novo, um nascimento para uma
arte muito antiga, a arte da encantaria. E decretou que todo o mal
sofrido se voltasse contra quem o conjurou.
Damião era matinta.

Jorge Wellington Corrêa Quadros


1ª lugar

Aroma de caráter
Em um reino cujo Rei era um homem íntegro e de bom coração, que
governava com equidade e sabedoria, vivia um monarca já de idade
avançada, viúvo e que nunca tivera filhos, pois era estéreo. No
castelo havia muitos serviçais, entre eles um fabricante de móveis,
este
Gotas Literárias 16
era muito estimado pelos lordes e pelo próprio rei e tinha ele duas
filhas gêmeas fisicamente idênticas que chamavam atenção por
serem magnificamente belas. No entanto, ambas eram de
personalidades distintas. Uma amava e namorava um jovem plebeu
que cultivava terras de terceiros para sobreviver, porém, muito
bonito, honrado e respeitado por todos os agricultores na localidade
onde
vivia. A Jovem não ligava para a condição financeira do seu
namorado, pois sonhava ela em acumular algumas moedas de prata
ou até mesmo de ouro no cultivo de ervas aromáticas, ofício
aprendido com sua mãe, que fora jardineira, e com as ervas
aromáticas que cultivava, fazia chás saborosíssimos, cheirosíssimos e
inigualáveis. Suas habilidades lhes renderam o cargo de fazedora de
chá no palácio real, funções de grande prestígio e inveja por muito
no reino. O próprio rei amava beber seus chás de todas as tardes
sendo servido pela bela donzela e elogiava-a constantemente,
dizendo lhe:
- O aroma dos seus chás é o reflexo do seu caráter e o sabor da sua
doce personalidade.
Enquanto degustava o doce sabor dos chás, contava-lhe os grandes
feitos históricos, aventuras e perigos que vivera em seus longos dia
até ali, e como fora feliz ao lado da sua saudosa rainha, mesmo sem
nunca ter tido o prazer de realizar o sonho dela e dele de gerarem
um herdeiro.
A outra filha do fazedor de móveis, gostava de tirar vantagens da
sua beleza, vivia ganhando presentes dos cavaleiros, lordes e
guerreiros, com quem sempre viajava e não se incomodava com o
fato de ir para cama com eles em troca de moedas e mimos. Para
manter o status de donzela, ela fazia abortos sempre que
engravidava e usava para isso as escondidas, as próprias ervas que
sua irmã cultivava. Não se misturava com os homens do baixo clero,
ainda criticava a irmã por ser virgem e namorar um plebeu:

Gotas Literárias 16
-Você vai morrer pobre sem nada, sua tola.
A moça não ligava para o que dizia a irmã, a sua maior preocupação
era o seu pai, pois ele sofria muito com as atitudes banais e
repugnantes da filha gananciosa.
A jardineira sempre bem centrada, habilidosa e amável fazia seu
velho pai, fabricante de móveis, esquecer as decepções sofridas pelos
comentários que circulavam no reino sobre sua inconsequente filha.
O velho admirava a filha jardineira e gostava do rapaz que ela
escolheu para amar.
- É pobre, mas é trabalhador, dizia o pai.
Em um despretensioso dia de sol, quando o crepúsculo da tarde se
aproximava, no horário que a jovem sempre cuidava de suas ervas,
“como borboleta ao redor de uma flor”, assim ela regava seu jardim.
Inesperadamente ela foi surpreendida pelo jovem lavrador, que
trazia consigo um reluzente anel, simples, mas muito bonito, ali
mesmo debaixo da claridade dos raios brilhantes do pôr do sol,
sentados entre as mais lindas e perfumadas ervas, ele pôs o anel no
dedo da moça e olhando o brilho de suas lindas retinas azuis
pediu-a em noivado, imediata ela o beijou, responde com o mais
puro e sincero amor:
- Sim, Sim. Sim.
Tomados de alegria entrelaçaram suas vidas para sempre, fizeram
amor pela primeira vez, o fizeram como quem já sabia, “feliz é, quem
do amor melhor aproveitar o presente dia!
”.
Na volta para casa o tempo mudou, a noite chegara e com ela uma
forte tempestade, o jovem montou em seu cavalo e partiu para seu
rincão, corria contra o vento e a chuva, ainda no meio da floresta,
quando de uma nuvem negra ele viu um raio surgir e atingir uma
árvore, grande e velha; não lhe sobrou tempo para esquivar-se, a
árvore não resistiu ao impacto do raio, caiu sobre o a rapaz e seu
cavalo os matando imediatamente.

Gotas Literárias 16
A dor e a tristeza tomaram o coração da moça que ficou muito
abalada quando soube da fatalidade, chorava copiosamente e
sempre, todos ficaram abatidos por ver a moça em tal estado e por
saberem do triste fato, até o rei tentava em vão consolá-la dizendo:
- Você é linda e jovem, logo alguém ganhará seu coração:
- Meu coração morreu com meu agricultor. Respondeu ela.
Os dias foram passando e tudo no corpo da moça começou a mudar,
sofria repentinamente e sem explicação tonturas, enjoos e desejos
estranhos, sua irmã logo deduziu dizendo:
- Você está grávida, agora você está acabada, quem vai querer uma
mãe solteira? Você vai morrer de trabalhar para criar seu filho
bastardo.
O que a infeliz gananciosa não imaginava é que sua sorte era
terrivelmente triste, pois em uma das suas viagens foi contaminada
com a poderosa bactéria da tuberculose por um lorde a quem ela
acompanhava.
O tempo passou. A criança nasceu um menino forte, saudável e
bonito, sempre que entrava no palácio ele aproveitava, corria
livremente pelos corredores enquanto sua mãe preparava o chá para
o rei. Por sua vez, o rei adorava a criança e com ela brincava, lhe
colocava no colo, lhe fazia cafuné, “o menino ganhou o coração do
rei”.
Já bem debilitado o rei não tinha dúvida, morreria em pouco tempo,
então chamou o clero e decidiu editar e sancionar uma lei:
- O reino deverá ser governado por uma junta formada por membros
da corte até o menino, neto do fazedor de móveis e filho da jovem
cultivadora de ervas atingir a idade adulta, pois a partir de agora ele
é o único herdeiro do trono e será preparado pelos melhores mestres
do reino para então governar, sua mãe receberá também, a honra e
status de uma rainha.
No dia seguinte ainda tomada de alegria, surpreendentemente a

Gotas Literárias 16
jovem chorou mais vez, sua irmã e o rei morrem como quisera o
destino, ambos no mesmo dia.·.

Edimar Alves de Lima


2º Lugar

Gotas Literárias 16
Crônica
Profissional

Gotas Literárias 16
Linha Cruzada

Fazia tempo que não via um daqueles, sobretudo, naquela


disposição, assim, em par, um de costas para o outro formando duas
asas em frente às quais as pessoas costumavam fazer fotos à
semelhança de anjos. Ele mesmo tinha uma coleção dessas fotos que
tirava na sua câmera Polaroid, presente do aniversário de 15 anos.
Meninos não debutam, mas aquela era uma idade especial e ele teve
o direito de escolher um presente à altura. Pediu a câmera. Os anos
se passaram, a Polaroid abriu falência e os orelhões saíram de moda.
Por isso, encontrar aquele par de orelhas em forma de asas em uma
rua remota da cidade foi uma experiência surpreendente, nostálgica
e terrível ao mesmo tempo. Explico. A princípio foi um encontro
inocente. Pegou o celular e tentou fazer uma “selfie” com os
aparelhos de fundo. A foto não saiu legal. Esperou passar por ali
alguém que nunca vinha, para ajudá-lo a garantir o “story” perfeito.
Então, tentou ele mesmo. Não deu certo. Desistiu, mas antes de
partir, decidiu se certificar se o aparelho funcionava. Ligaria a cobrar
para o próprio número. Uma questão passou pela sua cabeça: Que
empresa atualmente estaria responsável pelos telefones públicos?
Tirou o fone do gancho e pendurou na orelha apoiando com o
ombro, como fazia antigamente. Uma voz do outro lado da linha o
assustou:
– Pois não, senhor!
Ele parou um momento, sem entender. Não havia discado nenhum
número até então.
A voz insistiu:
– Senhor!
"Como é possível?", pensou consigo mesmo. Ele não esperava que
funcionasse. Menos ainda que existiria alguém do outro lado da
linha.
– Senhor!

Gotas Literárias 16
– Quem é?
– Telebrás, senhor. Como posso ajudar?
– Pensei que a empresa tivesse fechado há anos.
– Não fechou senhor. O crédito da sua ficha vai acabar. Deseja falar
com qual número?
De fato, a estatal foi desativada em 1998, mas reativada em 2010,
acumulando prejuízos desde então.
– Ficha? Não existem fichas desde quando eu era criança. – retrucou.
– Isso é algum tipo de trote, senhor? Vou desligar. Tem outra pessoa
na linha.
A atendente desligou, mas ele continuou lá, tentando entender o que
aconteceu. De repente, entrou uma terceira voz e ele ouviu a
conversa entusiasmada de um jovem casal. Era Lucas que finalmente
ganhava coragem e ia pedir Bruna em casamento. Deixara o interior
onde as oportunidades eram escassas para tentar a sorte na capital.
Foi um ano horrendo, chegou a dormir na rua. Mas era sisudo
e, para ele, tentar era sinônimo de conquistar, tudo era questão de
tempo. Aquela chamada era para dizer que o tempo da colheita
chegara: apenas seis meses depois de sua admissão na Mesbla da
Padre Eutíquio, em Belém do Pará, foi promovido a supervisor de
vendas. A partir de agora, as coisas iam melhorar e Bruna finalmente
ouviria a frase tão esperada. Lucas já tinha a passagem da noiva
comprada e a aguardava com ansiedade. Os dois desligaram, já o
terceiro, seguiu lá, consternado.
Largou o telefone e pôs-se a refletir:
– Como ficou a situação do casal quando a Mesbla faliu em 1999?

Jorge Wellington Corrêa Quadros


1º Lugar

Gotas Literárias 16
A GRAMÁTICA DO AMOR

Há tempos reviro enciclopédias e dicionários para entender de amor


e encontrar a receita gramatical perfeita para um bom
relacionamento, mas geralmente me perco nos ingredientes. Nunca
vi algo tão engenhoso - difícil de adoçar e fácil de salgar. O amor por
se tratar de um substantivo abstrato e nada singular, vivido por sujeitos
ocultos e às vezes indeterminados e que desejam torná-lo concreto, já é
por si só de difícil e complexa compreensão.
É desastroso ao amanhecer, tentar plantar flores em corações
desprovidos de jardins e no fim da noite proferir palavras
trabalhadas para quem te espera ansiosamente com fome de
beijos – para estes, palavras são bobagens, e se carregá-las de poesia e
figuras de linguagem, aí que ficará entediante, causando sono e
fazendo com que a paixão adormeça antes da próxima aurora.
Todavia, há quem sinta falta de romantismo e seja ávido por
profusão de palavras poéticas, que se delira com adjetivos dos mais
diversos, ainda que pronunciados à revelia, com o único intuito de
apaziguar os ânimos em momentos conflitantes. Se lhe falta
habilidade com as palavras açucaradas, melhor passar longe desses
corações ajardinados e de almas vaidosas e famintas por exclamações,
tais como:
- Nossa... Como você é linda (o) meu amor!
- Adoro você minha princesa! (que ao amanhecer pode se tornar uma
bruxa).
- Você é um homem maravilhoso, forte, gentil, educado... Um
verdadeiro príncipe (que em pouco tempo poderá ser visto como um
sapo).
Tais elogios obviamente alimentam o ego... E o amor tem ego? Ah...
se tem! A vaidade do amor é a mais perversa: Aprisiona, sufoca e
exige o que não se conquistou. Então não seria isso paixão? Daquelas
paixões exacerbadas, doentias, egoístas e possessivas que dão
ênfase aos pronomes “eu” e “meus”. Essa antiga e vaidosa senhora
adora a frequência de afirmações recebidas em detrimento das
negações. Ao longo dos séculos, ela tem sido a responsável por finais
dramáticos de histórias de amor que causariam inveja até mesmo a
Shakespeare. Na gramática do amor ainda figuram os etc`s que
Gotas Literárias 16
dominam, cansam e minam as relações. Somadas à desconfiança,
fomentam as dúvidas, seguidas de inúmeras interrogações.
São tantas, que causam irritação e impaciência:
- Como? Onde? Quando? Com quem? E por quê?
É comum deparar-se também, com as intransigentes e antipáticas
vírgulas que precedem os não menos antipáticos advérbios: mas,
porém... que sem pedir licença interrompem os raciocínios,
assassinam os diálogos e culminam em discussões permeadas por
palavras ásperas que cuspidas sem cerimônia e piedade ferem a alma
revelando os sujeitos ocultos que cada um traz dentro de si. Sujeitos
estes, que às vezes desagradam e até assustam.
Mediante tamanho desgaste, nenhuma outra palavra salvará a
relação, seja ela proferida no sentido denotativo ou conotativo.
Afinal... o quê na gramática poderia alimentar e salvar o amor? Os
verbos? Talvez...
mas somente aqueles capazes de causarem delírios e conforto: Sentir,
tocar... [pele & alma],compreender, respeitar, compartilhar, doar,
resignar... E até o último ponto final... AMAR!
Amar incondicionalmente, ainda que o outro traga na bagagem as
mais diversas figuras de linguagem, adjetivos, advérbios, verbos,
substantivos, interrogações, exclamações, vírgulas, etc’s, orações
subordinadas e/ou coordenadas que nem sempre vão agradar aos
sujeitos, mas que certamente poderão ser selecionadas para compor
uma cartilha sentimental que nos oriente a escrever um belo e
duradouro romance, aprendendo a contabilizar e administrar os
possíveis conflitos, imperfeições e desilusões que perpassam pelas
entrelinhas do amor.

Jorleide Antunes
2º Lugar

Gotas Literárias 16
Conto Amador

CAMINHO A ESMO
Ele tinha o levantar quase imóvel e os seus passos não eram nada
audaciosos.

Gotas Literárias 16
Arrastava-se de maneira quase que inaudível e insolúvel, ei-lo ali.
O seu olhar brumoso era como um abajur sem utilidade para alguém
que nunca lê um livro a noite, mas é esse olhar que perdura e
mantém-se fixo na parede a procura de algo que ainda não se sabe
bem o que. Ele percebe o relógio e sente ser exatamente igual,
aos ponteiros parados, a ausência de ritmo e na escassez de fonemas
que sufocou a onomatopeia deixando tudo em um completo silêncio
estarrecedor.
Seus lábios estalam, ele espreme os olhos e força a vista a fim de
alcançar a superfície do relógio quase ilegível em meio à penumbra,
a hora do relógio parou, e elas não correspondem às horas que
realmente o dia está indicando que são, não se sabe exatamente quais
de fato deveriam estar marcando, só sabe que não está certo, é
intuição pois os últimos raios de sol atravessando as frestas
despedem-se do Hall de entrada abrindo espaço para corpos opacos
e para o frio que parece escapar com a vida quando se esvai ao raiar
do dia. Aquele relógio está parado há tempos (ninguém sabe
quanto), e assim estava ele após ter tomado conhecimento de seu
estado ébrio e hostil. Verdade seja dita, ele apercebeu-se disso
outrora, mas vã era-lhe a razão que não foi suficiente para tentar
consertar ou ao menos trocar as pilhas, em seu âmago algo lhe dizia
para não se esforçar tanto, outras vezes sim, mas nunca correr o risco
de se deixar enganar pois, as pessoas somente veriam aquilo que
querem ver, nenhum palmo além de seus próprios narizes e nenhum
centímetro a mais do que aquilo que as convém.
Em seu afã as coisas passaram a ter mais ênfase, ainda que a ênfase
fosse mínima e insuficiente, pois a vida lhe parecia não passar de um
grande rolo compactador, esmagando tudo ao chão enquanto somos
o asfalto. O seu corpo jaz condenado e toda a sua tortura reduzia-se
na ironia do inferno lhe servir o café frio e amuado de açúcar.
Cansados eram os seus olhos, esses que de chamas singulares
possuíam muitas almas para devorar, e assim caminhava a esmo com

Gotas Literárias 16
aquele velho diabo à espreita de sua companhia quando então cruzar
a esquina, é uma emboscada e essa é a sina, e que façanha era para
ele sentar-se com esse pobre diabo para dividir a mesa, estar a espera
do moer das coisas e cosedura, é decepcionante, ele está frustrado,
quer levantar-se, subir do lume e desviar os seus olhos, é que o diabo
come e mastiga com a boca aberta, mas estava preso nessa visão e as
grades que o prendiam ali se fortaleciam cada vez que lhe surgia o
pensamento de ser livre, suas escolhas somente eram o luxo de
escolher a cela e dividi-la com o seu destino que se igualava à uma
pessoa terrível. E uma pessoa terrível derruba até mesmo os
melhores de nós. O destino era senhor do tempo, ou o tempo era o
senhor do destino, talvez os dois tivessem tomado um ao outro em
matrimônio ou os dois fossem um só. O tempo lhe era como um
velho fumante, com a sua toxicomania consumia a todos como quem
consome cigarros guardados nos bolsos, tira-os, acende, inala, traga e
sopra, por conseguinte o que sobra decora bueiros e as ruas
cinzentas, somos uma parte do vício, morrendo no tempo e assim
matando-o, servimos apenas como uma pequena porcentagem de
nicotina sucumbindo na dependência de um tabagista.
Ele caminha até o armário da pia, lava o rosto e após refrescar a face
analisa o que está ao redor questionando o porquê de haver tantas
sacolas inutilmente acumuladas embaixo da pia? Sem obter a
resposta para a questão do aglomerado de sacolas ali, sabendo que é
ele quem assim o faz, talvez por reflexo do que sua mãe fazia, ou
porque ele à viu fazer, ou quem sabe ainda queira fazer parecer que é
ela que esteja assim fazendo.
É somente uma repetição de cenas nostálgicas, que ele reproduz
igual, no seu armário e na sua pia que agora vomita sacolas das
compras que fazia sozinho. Como essas sacolas,
amassadas e sem serventia; tem esperança de que sirva um dia, ao
menos para armazenar o livro e lançá-lo fora. Exaustiva lhes eram as
especulações baratas e histórias que soavam querendo uma página

Gotas Literárias 16
nos livros como frases de uma caneta já quase sem tinta que
tentando escrever sobre um papel molhado destroça-o por inteiro.
Ele é como o seu jeans morto, desbotado e sem elasticidade, mas que
segue a sua vida com o que disseram sobre um bom jeans nunca sair
de moda, então ele se veste disso e se pega em qualquer rua
onde somente vê construções inacabadas, fantasmas em prédios,
vigas expostas e tudo mais em corrosão. Por que será que eles nunca
acabam? Ninguém se importa.
Ao perceber que sua xícara de chá favorita está vazia enquanto as de
outros descem pelo ralo da pia quando esfriaram demais, ele desce
até o espelho e tenta congelar na face uma única expressão: desânimo
(?) descontentamento (?). Não quer adivinhar. Se
sente tenso e depois triste. Não triste o bastante a ponto de escrever
uma carta suicida para cometer o suicídio após. Mas triste o
suficiente para escrever qualquer coisa.
É o que ele está fazendo agora. Como disse, isso não se trata de uma
carta suicida.
Só é quase a mesma coisa!

Fábio Alves Silva


1º Lugar

ROSAS BRANCAS

Ele tenta olhar em volta. Não reconhece o quarto. Um quarto de


hospital.
Então se pergunta o porquê de estar em um hospital. É um sonho.
Estava tudo
Gotas Literárias 16
tão claro, tudo reluzindo. Os olhos ardiam; tenta fechar
forçadamente. Tenta
levantar. Seu corpo não responde. Mesmo com toda aquela luz, não
conseguia
ver nada com nitidez; talvez justamente por causa dela. Não era um
sonho.
Lembra com um choque. Onde ela está? Ele não a via. Ela não estava
ali.
Seu corpo é tomado por um desespero e uma agonia; seu peito
começa
a arder. Ouve barulhos por todos os cantos; sons agudos e irritantes.
De
repente pessoas ao seu redor, pegavam, falavam, encaravam, mas ele
não
entendia o que era toda aquela comoção. Ouvia frases cortadas, sem
sentido:
“você precisa de ajuda”, “estamos com você”, “você vai ficar bem”.
Eles
falavam. Sentia mãos lhe tocando e pegando em suas cabeças, em
seus
rostos, as bocas em formatos estranhos; alguém começa a chorar e
alguém
consolava.
– O que vamos fazer? Ele vai morrer desse jeito! Só Deus sabe quantos dias
ele está assim!! – Dava pra ouvir a dor na voz; a fala era chorosa e em
agonia.
– Calma! Vai ficar tudo bem. Ele é forte ...
– Mas já faz mais de um ano que ela nos deixou; ele precisa superar ... E
mais
isso agora ... Meu Deus .... É muito sofrimento pro meu filho ...
– Onde ele conseguiu tantos remédios? Era por isso que não nos respondia
ou visitava .... o que ele estava pensando? Por que não nos pediu ajuda?
– Eu só queria tirar dele toda essa dor e agonia. Ele não pode fazer isso de
novo...!
A conversa continuou. Talvez. Ou eles saíram do quarto. Não dava
pra
saber; eles choravam. Naquela cama, ele não conseguia abrir a boca,
Gotas Literárias 16
ou se
mexer; seus olhos não conseguiam permanecer abertos. Era dele que
eles
estavam falando.
Seus olhos o venceram. Dormiu de novo. Talvez. Sabe se lá há
quanto
tempo, tudo estava acontecendo, ele talvez não soubesse dizer como
tudo o levou
a esse momento. Nessa cama de hospital e ela o visitando em sonhos.
Samuel não queria aceitar, simplesmente não podia aceitar e muito
menos sabia como se fazia isso. Foi tudo muito rápido. Só alguns
meses entre
a terrível anunciação e a partida. Um câncer, como uma grande
tragédia
natural; daquelas que ninguém previu e ninguém ficou imune aos
seus danos.
E só deixou rastros de destruição, dor e luto. Depois disso, um
grande vazio,
repleto de tristeza e tormento engoliu tudo o que Samuel conhecia e
amava.
Naquela manhã, meados de julho – apenas alguns dias para o
próximo
aniversário de casamento – ela tentou dizer adeus, mas até isso foi
tirado dela.
Sobrou apenas seu corpo. Frio e sem brilho. Ficou apenas o que
sobrou de sua
existência ao lado do esposo; que não sabia a densidade da escuridão
que lhe
aguardava pelos próximos meses. Ele ficou com ela nos seus braços.
Por
tempo demais; mas não o suficiente. Torcendo que fosse um sonho, e
que em
súbito desespero iria acordar e ele iria visitá-la e ela estaria lhe
esperando com
um sorriso amarelo e sem energia.
Não era um sonho.
Por algum tempo ele conseguiu continuar com a vida sem sua
Gotas Literárias 16
Verônica. Por
algum tempo deu certo, mas não foi muito. Trabalhou, visitou seus
amigos e
seus pais. Foi visitar alguns familiares dela e seus. Foi a bares,
dançou e até
ficou bêbado; foi aos jogos com os colegas do trabalho e jantou com
uma moça
que encontrou no Tinder. Mas ainda estava dentro daquele enorme
vazio. Ele
ainda estava destroçado, imerso em dor e não conseguia viver com o
luto.
Quando Verônica estava em sua vida, ele amava tudo que ela amava;
ia
a lugares que o deixavam entediado, ouvia suas músicas preferidas
como se
fossem suas também. Aqueles filmes antigos; os clichês, odiava tanto
quanto
odeia hoje. Mas ela fazia com que tudo fosse agradável, fosse incrível
demais.
Então era fácil; Samuel não precisava de um grande esforço; por
causa dela
ele amava tudo por ela. Ele amava aquela vida.
Pouco mais de um ano que ela foi tirada de sua vida; com crueldade
e
violência. Samuel nunca havia conhecido alguém como ela. Aquela
energia, o
poder na gargalhada e como ela despertava o melhor em todos. Era
inteligente e
muito esperta; tinha piadas tão sem graça que ele não conseguia se
controlar e
ria tanto que chorava; foi fácil se apaixonar pelo jeito de Verônica ver
a vida, de se divertir com tudo e se entregar. Ela sabia que era
preciso apreciar tudo e todos, que não tínhamos tempo para
desperdiçar. Ela não desperdiçava. Samuel de alguma forma esperou
um milagre. Mesmo ele que nunca teve fé para esperar tal
coisa; nunca acreditou em deuses, ou santos, na força do universo ou
nada místico. Sempre acreditou que estamos aqui à nossa própria
Gotas Literárias 16
sorte; somos apenas resultados de inúmeros acasos e processos
aleatórios que seguem ordens naturais. Agora só tem a casa vazia,
sem a essência que a fazia ser um lar; ele começou a perceber que não
conseguiria continuar. Ele começou a viver pra se lembrar do
máximo que podia.
Acorda e o dia escorre como areia nos dedos; levando suas tarefas
rotineiras ir e vir sem sentido algum. Ele dorme. E enquanto suas
pálpebras o vencem, ele afirma pra si mesmo, como em uma prece,
que não vai se perdoar por ter dormido, se pela manhã não lembrar
dela com a mesma consistência de hoje. Samuel sabia que iria perder
Verônica em sua consciência. Ela não seguraria seus braços em um
abraço apaixonado e quente, e se envolveria no seu calor e no seu
cheiro doce. Ele sabia que um dia sua memória não seria tão
forte a ponto de ter clareza do formato dos seus olhos e as linhas ao
redor dos olhos quando ela sorria; e a maciez das suas mãos e som de
sua gargalhada. Ele não lembraria da fragrância dos cabelos. Um dia
sua mente iria lhe convencer de
que tudo era só passado.
Ele estava certo. O tempo é cruel.
Já havia perdido o interesse por tudo e por todos. Começou a beber e
fumar; a tomar remédios pra dormir, pra dor, antibióticos e
analgésicos ou qualquer coisa que amenizasse a dor e o livrasse do
seu estado de agonia e dos pensamentos que estavam o
enlouquecendo. Quanto mais bebia e consumia todo tipo de remédio
ele percebia que não sentia o vazio o comprimindo e já não
pensava tanto em tudo com tanta velocidade e dormia quase por
todo o dia e por noites inteiras.
E sonhava com ela. E ficou recorrente. Ela vinha mais vezes.
Verônica vinha o visitar. Talvez ela sempre estivesse presente. Ele só
precisava fechar os olhos. Talvez ela se recusasse ir embora sem ele.
Talvez, ele pensava, poderia se juntar a ela. Noite após noite. Sono
após sono. Então ela começou há ficar mais tempo; mais e mais. Ele
podia jurar que sentia tocar seu rosto e beijar sua boca, enquanto
seus cabelos caiam sobre seu corpo, causando uma sensação
formigante e gostosa. O perfume nos cabelos, os olhos fitando os
seus; e ela se deita em sua cama; sente o colchão afundar um pouco,
enquanto ela se encolhe, se aconchegando ao seu lado. As cores, a
Gotas Literárias 16
textura, o cheiro.
Tudo era real.
Não se sabe ao certo por quanto tempo, ficaram juntos dessa forma;
Samuel já não separava o que era real e o tempo em que estava
dormindo.
Perdeu seu emprego. Foi inevitável; já não via sentido em sair de
casa; ou banhar, ou comer, ou falar com as pessoas. Abria o e-mail e
o WhatsApp. Centenas de mensagens. Ligações perdidas. Todos
estavam preocupados; ele nem tinha certeza disso. Não conseguia
responder ninguém. Só alguma mensagem curta para seus pais: “vou
ficar bem”, “estou bem”. Eles não sabiam se era verdade. Samuel
também não. Ele só queria ficar na cama, e dormir, e dormir e
dormir; assim poderia vê-la e ficar ali e sentir seu amor de novo, seu
toque, seu coração, seu beijo. Ele podia tê-la de novo.
Forjou umas receitas pra comprar mais remédios, soníferos ou
qualquer coisa; conseguia dormir por mais tempo. A gavetinha do
criado ao lado da cama, já não comportava tantas caixas e cartelas.
Depois daquela primeira noite, muito depois da sua partida, ele só a
tinha naquela dimensão. Então fez tudo para ficar com ela; só tinha
isso. E não podia perder; ele não conseguiria perder isso também.
Samuel tinha que estar com ela. Acorda. Abre os olhos e fita o teto e
percebe, através das cortinas, o sol intenso lá fora. Quase meio-dia.
Pensa comigo mesmo, sem nenhum motivo para fazer essa
preposição. Se levanta com esforço quase teatral. Anda pela
casa. Toma um banho sem proposito; faz café que não bebe; liga a TV
e não assiste. Vai até a janela e segura a cortina. Não abre. Volta pra
cama. Abre a gaveta do criado mudo; pega uma cartela de um
remédio qualquer; tantos quantos pode encher a palma da mão;
engole algumas cápsulas com um copo de água que já estava ali; se
deita. Fecha os olhos com força, e sente uma dor no estômago. Um
gosto horrível na boca sobe as suas narinas em um suspiro fundo e
leve. Não sente as mãos. Um calor percorre seu corpo e sente até suor
se formando na testa. Um arrepio desce na espinha; seu estômago se
revira e solta um granido de dor; mas sem muita força. Sente
calafrios. Não sente seus pés. Não consegue abrir os olhos e seus
pensamentos se diluem no vazio da mente e já não há nada por trás
deles, só escuridão e silêncio. Então ele dorme. É o que parece. Mas
Gotas Literárias 16
talvez não seja só um sono prolongado.
Um lugar tão verde que reluz; o céu incrivelmente azul e o mar ao
longe.
Samuel se move em passos lentos. Verônica está ao seu lado. Mas ele
não tinha notado ela antes. Estranho.
– Hoje é o nosso aniversário de casamento. Nossas bodas de alguma coisa,
sei lá. – A voz o toma com um leve susto, mesmo sendo calma e
confortante.
Samuel olha pra ela. O rosto passível e feliz. Ela está incrível, em um
vestido, como da outra vez que celebraram nessa cidadezinha
litorânea. As flores na mão de Samuel – ele não havia notado as
flores também –. As preferidas de Verônica. Rosas brancas.
Arranjadas em um pequeno buquê, com uma fita pendendo em
forma de laço.
Ele sorri e entende; aperta a mão de Verônica na sua. Finalmente ele
vai ficar com ela para sempre. Ele não sente o medo, costumeiro, de
acordar. Ele sente paz e um conforto. Eles estão parados, com olhos
atentos, cheios de emoção. Verônica e Samuel estão em frente a uma
lápide; ele tenta focar direito; fecha e abre os olhos. Ele lê. O nome
dela inscrito ali. Sua data de nascimento e a data da sua .... Samuel a
olha e tenta falar alguma coisa; lê e sente medo. Seu estômago aperta.
Ela segura sua mão e encosta a cabeça em seu ombro. Pode sentir que
ela sorri. Verônica sussurra alguma coisa; mas ele não ouve. Uma
respiração e ela solta sua mão; ele treme e sente um arrepio gélido,
estranho. O coração acelera, seus olhos se espantam; ele não sente o
ar em seus pulmões. Ele se vê só; ele e esse maldito buquê de rosas
brancas. Sempre detestou branco. Samuel as joga no chão. E de
repente nada. Tudo muda a sua volta; apenas silêncio e um grande
vazio reluzentemente branco

Alan Souza Cesário


2ª Lugar

Gotas Literárias 16
Explorador: A sina

Logo viu-se acostumado com o frio e o silêncio em meio às nebulosas


de tons estonteantes, serpenteando através do vazio com sua nave
entre as chuvas de meteoritos prontos para estraçalhar o que
encontrassem pela frente. A lembrança de Constantina, o pedaço de
terra no qual nasceu e pelo qual lutava pelo direito de retornar, se
tornou, através dos arcos que ultrapassava, um motivo de temor.
O que me espera de volta?
Sentiu, uma vez mergulhado na narrativa dessa existência, a
sensação de que talvez não fosse capaz de retornar.
Havia ido mais longe qualquer um naquele vasto universo já foi.
Havia perdido a comunicação.
Havia perdido o rumo.
Só lhe restava explorar aquela terra primitiva e desconhecida.
Encontrar ali, um lugar.
E quando conseguiu, fechou o arquivo e devolveu o computador
para a escrivaninha, guardou a caderneta de apontamentos na
gaveta, voltando-se para a estante, dedilhou as lombadas.
Não era mais um major de uma armada estelar, perdido no espaço
infinito até cair nas águas de um oceano em mundo a muito
abandonado e primitivo.
Talvez leria Bran Stoker, ou só na próxima vez. Sua mente não
descansou.
Acabou embarcando noutra jornada, da vampira puro sangue em
busca de um refúgio longe da opressão dos homens da sua própria
espécie. E mais adiante, exploraria as profundezas do oceano quando
encarnasse a misteriosa Ophelia, herança das odiosas sereias que
aterrorizavam a Baía do Silêncio.
Do nada, encontrou Byron na boca do príncipe lobisomem, e mesmo
quando se suspendia dessa realidade de volta para sua, uma pessoa
bonita na outra calçada lhe fazia recitar num murmúrio “Ela caminha
em beleza...”.
O amor dele crescia selvagem a cada linha, infectando a maneira

Gotas Literárias 16
como via o amor em seu próprio mundo.
Conhecimento era a porta do mundo, e muitas vezes odiaria ter a
chave.
Você lia sobre amor, mistério e o medo, aprendia a encontrar suas
encarnações -
produzir? - dentro da realidade, mesmo assim, de boa vontade
migraria para qualquer
terra criada pela mente de homens e mulheres cujas vidas de carne e
osso, eram geográfica e socialmente nada mais que um parágrafo
noutra página.
Invejava até o ódio deles, principalmente a coragem de quem
enfrentava
sistemas distópicos ou questionava a utopia em voga.
Tudo acabava quando fechava o livro. Quem vai fechar minha mente?
Quando a sereia e a vampira partem depois do Fim, você não sabe
quem realmente deixou quem. Era você na pele delas, ou algum tipo
de possessão cósmica, o acesso a um conhecimento remanescente no
astral como os antigos xamãs faziam?
Havia uma proposta no fundo da sua mente, a semente de outra
encarnação começou a brotar, e logo não haveria espaço para outra,
nem a planta do vizinho. As flores brotavam em seus dedos, pétalas
caíam quando o arquivo travava e sua aflição desbordava num
sentimento de abandono.
Quem vai fechar minha mente?
Ela vai para Grécia dançar nos salões dos deuses, e em volta das
fogueiras dos pagãos vikings, ela te obrigava a dançar com a pele de
um urso em sua cabeça, você é um berseker!
“O dragão se convertia em mulher e a mulher se casava com um rei
bastardo.”
“A princesa foi substituída por uma amante de outro mundo e
bradou: Se você
nasceu para ser imperatriz, não pare até se tornar uma!”
“Mas em seguida estava se divorciando do homem a quem foi fiel
por vinte anos.”
Você não tem nada!
Você só inventa, recria. Sobre o tempo deles e o seu, sobre o tempo
de homens reais e o tempo de mundos que nunca foram.
Gotas Literárias 16
Você os cria, navega com eles, como um verdadeiro explorador, é
diretor e roteirista, até atua, mas nunca será eles como eles são você.
Você escreve. Quanto desprezo...
E talvez a filha dele leia, como você leu o filho de outros. Talvez o
tempo encontre o que você criou, ainda que não encontre você,
desbordando em contos que jamais serão lidos.
Ainda assim, você não para!
E mais mundos, mais povos, mais sentimentos desabrocham em seus
dedos do que jamais farão nas mãos do governante mais poderoso de
seu mundo. Seu reinado nem mesmo é real, ele nunca, e com sorte,
vai passar das folhas de um livro ou das telas de cinema. Ele é
abstrato, um delírio é real só para quem cria.
Esquizofrenia ou Criatividade?
Importa? Você explora. É a única verdade nesse mundo, nesse tempo,
e nos outros. Essa é a sua sina.

Natalia Araújo Silva


3ª Lugar

Gotas Literárias 16
MAS DO QUE ADIANTA?

Senti um frio nas minhas entranhas por conta da queda. Meu corpo
se distanciava do chão à cima cada vez mais rápido, congelando-me
e esvoaçando as mechas dos meus cabelos. Senti um grande
arrependimento de ter criado a máquina para fugir do Mundo
Incrédulo até que me choquei contra o chão, batendo com o
cóccix .
— AAAAAARGH! — gritou um garoto, pulando da sua cama de
susto. Seu semblante manifestava medo e curiosidade. — Quem é
você?
— Eu... — Meu coração batia fortemente, dificultando minha fala. —
Eu sou você... de outro mundo... do Mundo Incrédulo.
— O quê?! — Ele com certeza estava mais assustado que eu. — Você
fugiu?! E
é do mundo-lá-debaixo?
— Sim, digamos que o seu mundo é o melhor de todos, o Mundo
Maravilha,
certo? — indaguei.
— Certo — confirmou ele. — Aqui, todas as decisões de todas as
pessoas são as certas...
—verdes cercando um belo rio corrente, árvores cheias de folhas e
mar de flores distribuídas pela cidade, crianças correndo e
brincando, além do segundo plano: um céu azul repleto de nuvens
brancas como a neve que caía no monte lá no fundo.
Nunca tinha visto algo igual àquilo. Era bem melhor que um bando
de fumantes andando pela minha antiga rua repleta de possas, sem
uma única fonte de luz. Meus olhos brilhavam. Não sentia um pingo
de saudades do meu antigo mundo. Queria ficar ali durante toda a
eternidade.
O menino me olhou torto. Devolvi o olhar, ainda encantado com
tudo que sentia e me indagando o motivo do garoto não estar
encantado também. Ele, por sua vez, parecia estar pensando em
dezenas de perguntas ao mesmo tempo, mas acabou me
Gotas Literárias 16
perguntando a que eu mais temia:
— Como você chegou aqui?
— Então... — eu hesitei, mas sabia que teria de responder. — Eu
quebrei as regras e criei uma máquina capaz de viajar pelo espaço-
tempo tão, mas tão rápido que é capaz de quebrar a realidade.
Assim, eu mudei do pior mundo para o melhor.
— Você tomou essa decisão ainda no seu mundo? — Eu sabia onde
essa conversa chegaria.
— Sim, no meu mundo.
— Essa... essa foi uma péssima decisão!
— Mas... tudo bem, eu não estou certo — aceitei a verdade. — Mas
esse lugar é muito melhor do que de onde eu vim. Por favor, me
deixa ficar?
— Ok, ok — disse ele. Eu não acreditava como alguém poderia ser
tão bom. — Você só precisa de algumas roupas — Ele abriu seu
armário e tirou um dos seus conjuntos, sem pensar muito em qual já
que todos eram iguais. — Tome isto.
Agradeci a ele e me vesti. Não resisti ao impulso e abracei-o. Foi uma
sensação boa poder sentir um pouco de uma amizade, mesmo sendo
comigo mesmo.
— Só tome cuidado, porque eu ouvi falar que existem tipos policiais,
que rastreiam invasores...
Antes dele completar a frase, um homem com o dobro da minha
altura apareceu no local por teletransporte.
— Há um invasor aqui! — bradou ele, fitando nossos olhos.
Meu corpo inteiro se estremeceu. Eu não sabia o que fazer. Não
queria voltar pro meu mundo, aquele lugar podre onde todos
queriam apenas o bem do próprio umbigo. Queria continuar onde eu
estava... queria um mundo que me acolhesse como um filho... queria
o Mundo Maravilha...
— Sou eu! — disse o garoto. Meus olhos se arregalaram, mas eu não
tive coragem de repreendê-lo. — Eu sou o invasor!
O policial jogou o garoto no ombro e caminhou para fora do quarto.
Antes de desaparecer, ele sorriu genuinamente para mim como se
dissesse: “Se cuida”.
Eu não conseguia me movimentar. Meu corpo inteiro estava
tremendo.
Gotas Literárias 16
Eu havia me dado bem. Mas do que adiantou? Senti uma lágrima
escorrer ao perceber que meu único amigo estava agora andando em
uma rua escura com poças de lama e fumaça de cigarro.

Moisés Lemos Damacena


4º Lugar

Gotas Literárias 16
AMPULHETA

Me considero alguém meio que ingênuo demais, sempre dizendo


sim, sendo legal com todos, sempre me colocando por último
e por isso acabei assim, confiei demais em alguém que até meus
instintos diziam pra correr, mas ele era grande e antigo amigo que
havia voltado a morar em nossa cidade.
Como poderia negar jantar em sua casa, se antes éramos
inseparáveis?
Meu primeiro erro foi aceitar ir aquele jantar, ser inocente o bastante
para ir confiando na pessoa que não vai há anos que sem mais nem
menos havia me deixado;
O segundo erro foi não obedecer a meus próprios instintos e ir
adiante, entrando naquela casa de energia pesada;
O terceiro erro começou no jantar, éramos eu e ele jantando e
novamente ignorei meu instinto gritante de correr daquele lugar.
Logo após terminar o jantar aquela pergunta foi o ápice:
“Como estava a comida? Gostou? Se sente sonolento?”
E eu confirmei tudo, deveria ter fugido, mas a sonolência me ganhou
e caí no sono em cima da mesa de jantar.
Horas ou dias se passaram, não consigo raciocinar, estou dolorido e
cansado, machucado e sangrando, estou enojado pelo cheiro pútrido
que vem de mim mesmo. Me sinto um animal que foi caçado apenas
pela diversão do caçador e foi deixado pra apodrecer.
Fico me lamuriando por meus erros, como se fosse mudar algo. Ouço
a porta abrir e ele entra acompanhado de um copo d’água e uma
vasilha. Observo uma faca no coldre de sua calça.
“Não me olhe assim com este olhar julgador, afinal foi você que
aceitou isso! E foi tão fácil, uma presa inocente e doce”.
“M-MONS-MONSTRO!”
Digo, dificultosamente sentindo minha garganta arder e doer a cada
som que faço;
“Não, eu não sou um monstro, sou um humano, um ser de falhas e
desejos; alguns sendo doces e estranhos e outros bem aterrorizantes e
nojentos bom aqui esta sua refeição”.
“HAA- AAAHH”
Aquele... aquele ser deplorável
Gotas Literárias 16
Se...
Se...
Se eu não fosse tão fraco e idiota isto não estaria acontecendo
O que é...
Coff...Coff...Coff...
É, parece que dessa vez é meu fim. O sangue sendo expelido a cada
tosse mostra que a comida jazia veneno e um que está a me matar
pouco a pouco reflito sobre o que está a acontecer e de repente
começo a me perceber de que a cena a minha volta mudou. Vejo o
que havia antes e agora há algo mais:
Uma figura alta, esbelta, com duas faixas com olhos acima da face
sem boca aparente, uma auréola dourada acima da cabeça, o ser era
branco com detalhes dourados em si e em suas vestes também
brancas. Suas asas tinham uma cor de ouro escuro, o ser a minha
frente murmurava as palavras “sinto muito, é..., eu tentei, eu te
avisei, mas você não quis me ouvir”.
Logo, ouço passos se aproximando e me viro, vejo uma mulher com
um braço e parte do rosto de caveira se aproximando de mim
“Oh! Pobrezinho, ele fez outra vítima. Não fique triste, ele será pego
e pagará por aqueles que machucou pequeno protetor e você, venha,
não fique amedrontado com minha aparência”.
“Está bem, mas, foi tanto tempo junto com ele eu sei, ele era ingênuo
e obediente, mas não merecia isto”.
“Certo, certo pare de chorar e venha vamos levá-lo para outro lugar”.
Ela o abraçou e depositou um beijo em minha testa. Ouço um
barulho alto e me viro, era a porta do lugar onde estava, meu corpo
encostado na parede coberto de sangue e um homem olhando
aterrorizado e enojado que logo gritou:
“te-tem um corpo aqui”.
E outros vindo
Me viro novamente de frente e começamos a andar, o lugar muda
para uma ponte grande com três finais cobertos; cada um por uma
névoa diferente: o da direita era azul, o do meio cinza claro e o
último um vermelho vibrante.
Nós paramos na frente da ponte, a mulher larga minha mão e vai
minha frente ficando cara a cara comigo, aonde temos um pequeno
diálogo:
Gotas Literárias 16
“A partir daqui é entre você e ele; siga para aquele que mais lhe
chamar atenção, está bem? Agora eu preciso ir, logo irão dar um jeito
naquele serial killer, então fique tranquilo; ele pagará pelo que fez a
você e aos outros”.
“certo, muito obrigada”.
“vamos não tenha medo”
“certo, está bem”.
“então vamos”.
Seguimos andando juntos até aonde as névoas começavam, me virei
e olhei em seus múltiplos olhos. Sorri gentilmente e lhe disse um
singelo: “obrigada por tudo”
E segui meu trajeto na neblina. Nem parei pra pensar, já sabia o que
me chamava atenção e segui reto na névoa cinzenta. Encontrei uma
porta de moldura de esqueleto com uma caveira de manto negro
pintada; a admirei e logo me dispus a abri-la e a adentrar.
- E depois o que você viu?
- Várias pessoas parecidas com aquela mulher que me guiou,
algumas eram só esqueletos, outros metade- metade, até havia
alguns com asas e vários olhos que nem aquele ser dourado e branco
que me acompanhou.
- Jura? E o que eles eram? Você viu o ser novamente, ou a mulher? E
o assassino o que ouve com ele?
- Calma! Uma pergunta de cada vez, eles eram ceifadores ou
Shinigamis como preferir chamar, ah, sim, encontrei. Hoje somos
amigos já busquei a alma de dois acompanhantes dele. Ele chorou de
alegria e me abraçou quando me viu de vez em quando nos
encontramos por aí conversamos. E a mulher, virou meu supervisor
e a acompanhei em várias de suas viagens para guiar almas.
- Ah sim, parece, mas e o assassino, o que ouve com ele?
- Deve fazer uns 283 anos já foi logo após de me tornar um ceifador,
fui designado a guiar a alma dele.
- E o que você fez?
- Como assim o que eu fiz? Eu concluí meu trabalho oras! O busquei
e guiei até o local aonde a neblina começava já que o protetor dele
não queria ir até lá sozinho com ele. Eu o deixei ir e virei supervisor
dele 200 anos depois dele sair do purgatório. Você pode não
acreditar, mas ele foi o mais esforçado que eu já treinei.
Gotas Literárias 16
- Então você o treinou normalmente? O cara que te matou?
- E engraçado não? Depois de um tempo fazendo o meu trabalho eu
parei de ligar pra isso. Bom, levanta daí que ainda não é sua hora,
você ainda vai fazer muita coisa boa nessa vida e não seja ingênuo
como fui, está bem?
- Certo, muito obrigada.
- De nada! E não tente fazer isso de novo, pode não ter tanta sorte, ele
é um bom garoto, só precisa de tempo.
- Mas e se ele tentar de novo eu não posso fazer nada pra impedir.
- Faça-o lembrar que está com ele, afinal ele pode sentir, se você o
tocar.
- Obrigada pelo que fez a ele.
- Só fiz minha obrigação.
Saio daquele quarto vendo o garoto acordar sendo segurado por uma
mulher desesperada.
- Vamos Henry, temos almas para guiar e criaturas sem medo da
morte para darmos sermão.
-Ei Theodore eu sou seu mais esforçado aluno.
-Sim você é, mas não fique se achando. Vamos, antes que lhe dê
umas bofetadas por ler o nome errado.
- Mas a culpa não é minha se trocaram as datas e me deram o papel
errado.
- Calado! Vamos!
Nunca vou admitir em voz alta, mas adoro o meu atual aluno
bestinha e meio doido. Ele sempre disse que eram os melhores tenho
que concordar.

Maria Clara Lima Coutinho


5ª Lugar

Gotas Literárias 16
MEMÓRIAS
AMADOR

Gotas Literárias 16
PENSAMENTOS A CAMINHO DA ESCOLA

Eram seis e meia da manhã. Meus pés geravam a força que precisava,
e o atrito me empurrava para a frente. A capa de chuva amarela
protegia-me de chegar à escola encharcado; o toró não cessa desde
ontem à noite. Sinto frio. Na tentativa de aquecer-me, coloco minha
mão num dos bolsos da calça; a outra, sustenta o guarda-chuva.
Vagarosamente, sinto a água se acumular no coturno. Me apresso em
passos lentos. Removo os fones de ouvido e os guardo, e a voz de
Renato Russo desvanece: “mas é claro que o sol vai voltar amanhã...”
Chuto uma pedra que aparece no meio do caminho; há alguns anos,
eu daria tudo para poder voltar à escola. Voltar à rotina de uma vida
simples. Voltar à minha vida. Foram dois longos anos de quarentena
em casa, devido à pandemia do COVID-19 e hoje sinto as coisas
voltarem ao normal, embora saiba que nunca voltará a ser como
antes, ao mesmo “normal” que conhecemos... ou melhor,
conhecíamos.
Quantas vezes percorri este trajeto? O que eu mais sinto falta, entre
todas as coisas, é do caminho que percorria até a escola: este mesmo
trajeto que estou percorrendo agora. Mais à frente está um tronco de
uma árvore, bem pequeno, cortado um pouco acima da raiz.
Antigamente, essa era uma colossal mangueira, que me presenteava
com a deliciosa sombra a qual eu parava sob para tomar um gole
d’água e descansar o corpo antes de continuar a andar.
Neste mesmo caminho, à direita, nos fins de tarde, sempre havia
algumas crianças jogando bola na rua. Eu as observava de relance: o
lampejo de coragem e determinação que surgia em seus rostos
quando seus pés tocavam a bola, aquela faísca de esperança no fundo
de seus olhos quando viam a oportunidade perfeita de marcar um
golaço, e então chutavam, e todos gritavam “GOL!”. E o goleador
então, extasiado, removia a camisa, girava-a contra o vento,
pulava de emoção. O suor escorria pelo seu corpo, mas o sorriso
contagiante revelava que foi recompensador. Que o esforço valeu à
pena. Ele sequer imaginaria quando seria a última vez que marcaria
um gol desses com seus amigos. Nunca imaginaria que dali a um
tempo, iria sentir saudade desses dias de ouro. Nunca. E por mais
clichê que possa parecer, nunca imaginaria que essa era a época em
Gotas Literárias 16
que eram felizes, mas não sabiam.
Hoje são outros tempos. A mangueira não existe mais. Só resta a raiz.
A rua iluminada com os gritos felizes das crianças brincando, uma
rua outrora repleta de alegria, hoje é escura e vazia; as crianças
cresceram.
Desapercebida, uma lágrima escorre pelo rosto. Mantenho registros
diários aqui comigo.
Em dias assim, acho importante relembrar das coisas boas. Dos
velhos bons tempos, mas não para lamentar o presente e desejar que
seja diferente, mas para um olhar de nostalgia, para dar
força. Para que todos os sorrisos do passado instiguem força no
coração. Instiguem esperança.
Afinal, esse é o papel de cada escritor, um papel importantíssimo. O
fazer literário: um caminhar entre tempos. Afinal, por meio de
simples palavras num pedaço de papel, vistas ao mais vil par
de olhos é possível registrar memórias, sentimentos, lugares,
acontecimentos, sorrisos e caminhar entre tempos.
Desvencilho-me da dor da nostalgia. Lembro de Drummond de
Andrade, de Lygia Fagundes, de Clarice Lispector. E até mesmo da
pequena grande Anne Frank. Tão jovem, um destino tão horrível,
como milhões de outras crianças judias da época. Em seus registros,
a menina se questionava: “Quem, além de mim mesma, lerá estas
cartas? Quem me confortará
senão eu mesma? Preciso muito de conforto, frequentemente sinto-
me fraca e descontente comigo. Minhas deficiências são grandes
demais. Eu sei disso e a cada dia que passa procuro melhorar”; em
suas poucas fotos, é possível ver o olhar doce e seu sorriso gentil.
Anne seria uma mulher incrível quando crescesse. Mas ainda na
época, a menina imaginava que ninguém sequer se interessaria nos
relatos diários de uma judia de apenas 13 anos; em 25 de junho de
1947, os relatos da menina de olhar doce transformaram-se em livro,
e hoje conta com milhões de exemplares vendidos, tornando-se um
importante registro para documentação da Guerra.
O papel do escritor é esse: além de registrar memórias, sentimentos,
lugares, acontecimentos, sorrisos, é caminhar entre tempos, é levar
um pouco disso para o coração das pessoas. Levar algo de bom. Algo
real, algo fictício; mas trazer à tona no rosto do leitor, um sorriso ou
Gotas Literárias 16
uma lágrima. Lembrá-lo do que é ser humano. Lembrá-lo que
palavras podem conectá-lo aos sentimentos de alguém que viveu há
décadas atrás.
Observo novamente o relógio de pulso: 6h03. É incrível como a
mente humana passa por lembranças tão profundas em segundos.
Então, abaixo o guarda-chuva. Cesso o ponderar, acelero o passo,
dessa vez, mais decidido. Quantas vezes percorri este trajeto?
Inúmeras, incontáveis. Inexprimivelmente, quem sabe eu sinta falta
disso tudo no futuro, assim como já senti uma outra vez. As nuvens
findam o choro, a chuva gradativamente diminui, e o céu abre
espaço para um azul vívido que vem à tona. Surge um sorriso em
meu rosto ao ver um arco-íris se formando. Alegro-me com a rara e
diária chance dilemática e maravilhosa de viver. Alegro-me com
tudo isso ao meu redor. Em memórias, caminho entre tempos; em
caminhos, deleito-me de momentos, aproveito todos esses lentos, e
sinto orgulho de ser escritor: posso registrar todas as coisas, todos os
momentos raros e cotidianos de uma vida dilemática, que poucas
pessoas ousam reparar. Sorrio ao chegar na escola. Cumprimento
meus colegas e professores.
Há oportunidade de viver, de ser sol em dia chuvoso, de escrever
essa história novamente.
Finalmente a tempestade cessara

Ryan Damasceno dos Santos


1ª Lugar

Gotas Literárias 16
Hoje lembrei da minha avó Vitória

Dona Vitória que eu chamava de dindinha. Ela era muito mão boa
para plantar, tudo que plantava dava resultado garantido.
Lembrei das vezes que ela me levava com ela para plantar
amendoim, ela ia abrindo as covas para colocar aquelas sementes
bonitas, saudáveis e sem agrotóxicos e eu com minha inocência dos
meus Cinco aninhos ia retirando as sementes das covas e comendo
uma a uma.
Quando minha avó voltava para cobrir as covas percebia que as
sementes não estavam ali e ela então com toda paciência de uma avó
baiana e carinhosa, me perguntava: Glorinha! Há! Ela me chamava
de Glorinha porque este seria meu nome de batismo, mas minha mãe
resolveu colocar o nome que meu pai escolheu.
Continuando com o plantio, a minha avó falava: Glorinha cadê
amendoim? Era para plantar minha filha, não era para comer não.
Daí ela me dava as sementes e dizia, vá colocando nas covas e eu vou
cobrindo com a terra. Assim fazíamos até terminar o plantio.
Depois ela ia tirar as ervas daninhas das outras plantações, colher
legumes e eu a danada da Glorinha, ia arrancar bonecas de milho
para fazer penteados com as diversas cores de cabelo.
No meio do milharal eu me perdia e me embaraçava toda nas folhas.
Ouvia minha avó gritando: Glorinha! Você está onde?
Eu respondia: aqui
Ela perguntava: aqui aonde?
No milho dindinha!
Perdida no meio do milharal e com a saia do vestido rodado e de
chita, cheio de bonecas de milho, aquelas com cabelos lindos e
coloridos.
Depois de muito procurar no milharal, ela me encontrava com uma
boa qualidade de bonecas de milho.
Assustada, porém boazinha ela falava: minha filha, não arranca as
bonecas não, deixa crescer pra gente fazer canjica.
Eu falava: É só esse pouquinho dindinha. Para eu brincar tá bom?
Chegava o final da tarde e a gente voltava pra casa feliz, eu com
minhas bonecas e ela com abóbora, maxixe e até umas pimentinhas
para o molho do jantar.
Gotas Literárias 16
Oh saudade daquela velhinha, e da minha infância no meio da
pequena roça onde a fartura era tanta que onde tinha fartura, e tudo
tinha um cheiro muito bom.
A gente chegava em casa lá para o final da tarde, a minha mãe
chegava no mesmo horário, ela vinha da colheita do cacau e às vezes
do café.
Duas pessoas batalhadoras e que não tinham tempo nem para
reclamar de dor.
Fui crescendo nesse meio, tomando gosto pela vida e hoje estou aqui
pensando como tudo passa e que bom seria se tudo tivesse
congelado para gente descongelar quando precisasse reviver.
Oh saudade daquela época!

Maria Emília Alves Vieira


2ª Lugar

Gotas Literárias 16
CHUVAS DA INFÂNCIA

Ao olhar pelo vidro da janela aqui de casa, contemplo uma


maravilhosa chuva, que me faz entrar na máquina do tempo, o
hipocampo cerebral, que é nossa caixa de memórias marcantes
e assim viajar até o início da década de 80. Visualizo claramente as
brincadeiras que fazíamos nas chuvas da minha infância em
Paragominas, no campinho de terra no bairro Cidade Nova, perto
de onde é atualmente o mercado municipal, era o delicioso inverno
de janeiro a maio, inesquecível.
Brincávamos de corrida, batalha da lama e o banho de calha que era
nossa cachoeira deliciosa, água tão geladinha que parecia o polo
norte. A gente fazia fila para aproveitar esse prazer, uma profunda
conexão com a diversão. Mas o nosso entretenimento predileto era
jogar futebol na chuva. Nosso campo era cheio de poças d’águas.
Escorregar e cair na lama eram só felicidades, eram sorrisos para
todo lado. Nos esbaldávamos na chuvarada e ficávamos
ensopados como pintinhos molhados e tremendo de frio, pois batia
um vento congelante. Porém, nada tirava nosso bom humor. Quanto
mais intenso e duradouro o temporal, mais alta a animação e maior
ainda a vontade de permanecer criança para sempre.
Tudo começava quando eu olhava para o alto e ficava com os olhos
arregalados. Eram tantas nuvens como uma grande cortina cobrindo
rapidamente o céu. As pessoas correndo procurando abrigo. Era o
sinal que atiçava a galera da água. São Pedro estava abrindo os
chuveiros do céu e nós prontíssimos para nos envolver por completo
nesta experiência pluvial.
Pegava minha velha bola de borracha e ia com os colegas para a
piscina ou melhor, para o campinho encharcado.
E o céu se abriu. Era abundante água por todos os lados. Tínhamos
que correr para o corpo se aquecer e o futebol era a melhor opção.
Uma sensação agradável comemorar o gol pulando na chuva ou
escorregando de barriga nas poças d’águas. Apesar de a chuvarada
atrapalhar nossa visão, dava para tratar bem a bola. Era toque de
calcanhar, domínio no peito, drible da vaca, toque de letra, gol de
bicicleta e o aviãozinho técnico, sem esquecer os gols de cobrança de
pênalti que nos deixava com o coração acelerado. Até gol olímpico
Gotas Literárias 16
não era raro. Na nossa brincadeira não tinha juiz, muito menos
cartão amarelo ou vermelho, nós mesmos fazíamos as regras. Quem
chutasse a canela, brigasse ou xingasse a mãe do outro era
automaticamente expulso, não tinha conversa, a regra era clara.
Sonhávamos quando crescêssemos, jogar em um grande clube do
Brasil e do exterior ou mesmo vestir a camisa cinco estrelas da
seleção brasileira em uma copa do mundo, infelizmente ninguém
conseguiu, mas tínhamos uma mente tão forte, quanto a chuva que
não parava.
Nossas tardes eram tão alegres que o tempo passava como um vento.
Inúmeras vezes entrávamos na noite só pelo prazer de se divertir.
Encharcados, exaustos, frequentemente com a canela machucada, pés
inchados, joelhos e tornozelos doendo, sem falar no resfriado que
sempre nos incomodava, mas estávamos totalmente felizes até
debaixo d’água. Torcendo para amanhã chover novamente.

Albino Lopes
3ª Lugar

Gotas Literárias 16
LEMBRANÇAS DE UM AMOR

Como eu queria uma máquina do tempo, para no passado poder


voltar, para minhas escolhas mudar e de você nunca me separar.
Como eu queria, na minha mocidade poder voltar, e você de novo
ver e nunca mais te deixar.
Minha eterna dor, lembranças de um amor, você que nunca mais vi.
Relembrar é a mágoa, a dor, o amor que um dia existiu novamente
sentir.
Sua cama era meu castigo...
Seus lábios, seus toques, seus carinhos eram meu paraíso, eram como
tocar os céus e do mais puro néctar dos deuses provar.
Eras meu amado, dentre todos, o mais querido dos amigos;
Amava-me as noites e pela manhã ao ter de deixar-te, meu
sofrimento começava...
Meu pensamento era você, minha vida era você, mas você em mim
não pensava, não me amava, e, para não te prender, te deixar viver,
tive que partir.
Decisão devastadora, realidade de um mundo cruel, nos faz viver e
sonhar e do nada nos tira o chão, e, assim, nos tira o doce gosto do
mel, ficando deste modo você no coração.
Ficando assim para trás, minha paz, meus sonhos e tudo que um dia
de mais belo sonhei um dia ter.
Hoje, me pego novamente a relembrar, e, novamente a chorar, me
pergunto:
-Onde estás meu coração? Onde estás meu anjo? Onde está aquele
que me apresentou o mais belo dos sentimentos? Onde está aquele
que consigo levou meu
coração e a minha paz?
Hoje, vivo no mundo a vagar, sem a paz nunca mais encontrar e o
meu amor nunca mais achar.
Hoje, só me resta a solidão viver e dessas lembranças me alimentar...
Pois, ao menos em meus sonhos, posso te encontrar, e lá, sei que não
irás me abandonar.
Queria poder no tempo voltar e do seu lado nunca ter saído, assim,
esse vazio sem fim nunca teria existido.
E, assim, minha eterna dor, são as lembranças de um antigo amor.
Gotas Literárias 16
Lilian Cristina dos Santos
4ª Lugar

Gotas Literárias 16
CORDEL
AMADOR

Gotas Literárias 16
Os valentes Nusa Feitosa e Vicente risca-faca

Vou contar uma história


De dois cabras da peste
Eram dois homens valentes
Vindos das bandas do Nordeste
Que atravessaram o sertão
E migraram rumo ao oeste.
Dois moços muito dispostos
Que vieram para essa terra
Trabalhavam o dia inteiro
Subindo e descendo serra
Mas onde eles moravam
Provocaram brigas e guerra.
Por isso assim eu digo
Nesse mundo não tem santo
Que ninguém é perfeito
Só de belezas e encanto
E se alguém não tem defeito
É de me causar espanto.
Um deles é Nusa Feitosa
Que veio do Maranhão
Que nasceu em São Bernardo
Bem perto de um Riachão
Era um homem muito temido
Quando empunhava o facão.
Chegou aqui no Pará
Casado com Josefinha
Mulher bonita e guerreira
E dedicada na cozinha
Que cuidava de quase tudo
Do roçado, porcos e galinhas.
Mesmo assim Nusa Feitosa
Com seu jeito agressivo
Se chegasse em uma vila
E não fosse bem recebido
Puxava seu facão afiado
Gotas Literárias 16
E dava logo o seu bramido.
Não gosto de falsidade
Nem de preconceito não
Porque se me desrespeitarem
Vou fazer muita confusão
Pois sou homem positivo
De uma só opinião.
Agora chegou a vez
De outro homem valente
Corajoso e destemido
No meio da sua gente
Venham todos com prazer
Conhecer o Manel Vicente.
Esse tal Manel Vicente
Veio do sertão do Ceará
Viajou dias e noites
Até chegar no Pará
Onde escolheu Maria Santa
Para ser logo seu par.
Um dia Manel Vicente
Chegou em uma festa
Convidou uma outra moça
Pra dançar naquela seresta
Ela então lhe virou a costa
E com ele não quis conversa.
Vicente disse para a moça
Nessa festa você não dança
Não aceito ser destratado
Nem mesmo por uma criança
Nem que me tratem mal
E com toda desconfiança.
A moça ficou surpresa
Com aquela resposta afiada
Mas ela não lhe deu ouvidos
E nem ficou abalada
Não passou muito tempo
Por outro rapaz foi convidada.
Gotas Literárias 16
Um rapaz bem afeiçoado
Foi lhe puxando para o salão
Vicente estava encostado
Apoiado em um mourão
Quando viu essa cena
Foi grande a confusão.
Eu bem que lhe avisei
Que não podia mais dançar
Porque não dançou comigo
Não pode a outro aceitar
Puxou a faca da cintura
E ao rapaz começou a furar.
O rapaz saiu correndo
Com o corpo ensanguentado
Seguraram Manel Vicente
Que estava endiabrado
Por conta da sua raiva
Teve que ser amarrado.
Esse homem se enfureceu
E ficou muito injuriado
Porque de onde ele veio
Isso era grave destrato
Então provou para todos
Porque ficou enraivado.
Minha gente nessa terra
Eu vim para trabalhar
Com todos vivendo em paz
Para sorrir e festejar
Mas se não me quiserem bem
Vão ter que me tolerar.
Por isso eu vos peço
Que me tratem como igual
E assim eu viverei
Sem causar nenhum mal
Porque se for o contrário
Puxo a faca e o punhal.
Da terra de onde eu vim
Gotas Literárias 16
Nunca vi outro tão bom
Que puxasse bem a faca
E nascesse com esse dom
No combate sou ligeiro
Mais rápido que a luz e o som.
O povo daquela terra
Não puniu Manel Vicente
Pois na lei desse povo
Ele agiu corretamente
Porque não se pode destratar
Um cidadão bravo e decente.
O valente Nusa Feitosa
Tinha um filho adotivo
Que se chamava Raimundo
Moço muito prestativo
Que para ajudar a família
Sempre foi muito ativo.
Esse moço assim vivia
Com os seus quatro irmãos
Por todos bem respeitado
Vivendo em boa união
Mas quando as coisas apertavam
Era tratado como um peão.
Seus irmãos assim diziam
Você não é um de nós
Pois não tem o sangue dos Feitosa
Herdado dos nossos avós
Você deve ir embora
Que vai ser melhor para nós.
Por isso é que esse Raimundo
Vivia assim tão tristonho
Pensava em subir na vida
Esse era seu maior sonho
Ter um trabalho melhor
E largar a vida de colonho.
Um dia Nusa Feitosa
Chegou em uma vendinha
Gotas Literárias 16
Pediu uma boa cachaça
Trouxeram uma cervejinha
Pediu um pastel de carne
Mas serviram uma coxinha.
Então não se aguentou
E respondeu ao quitandeiro
Me atenda certo senhor
Seja comigo certeiro
Porque se errar de novo
Te despedaço inteiro.
O quitandeiro calou-se
E pegou outro pastel
Nusa então mordeu
E bradou seu infiel
Prepare-se para morrer
E ir direto para o céu.
Aquele novo pedido
De novo estava errado
Pois quando Nusa provou
O recheio tava passado
Com cheiro já bem ruim
E com gosto de estragado.
O quitandeiro nem teve
Para onde correr ou fugir
Pois Nusa puxou o facão
Bem rápido como o guarim
Pulou para cima do homem
O cortando igual picadim.
Nusa foi ao delegado
Mas ele não o quis prender
Considerou uma grave crime
Pastel estragado vender
E o tal do quitandeiro
É que deveria então se deter.
Raimundo foi passear
Naquelas terras bendita
Quando avistou uma moça
Gotas Literárias 16
Muito jeitosa e bonita
Era a filha de Vicente
Por nome de Aparecida.
Ele logo se encantou
Por seu encanto e beleza
Nunca viu outra jovem
Com tanto talento e destreza
Que ajudasse a família
Com força e delicadeza.
Essa moça aqui descrita
Era esperta e inteligente
Das Oito filhas a mais nova
De Maria e Manel Vicente
Trabalhava com as irmãs
para ajudar a sua gente.
Apesar de sua condição
Era uma jovem sonhadora
Que sonhava com nova vida
Ser tratada como patroa
Não queria para ninguém
Essa vida sofredora.
Raimundo não demorou
A Aparecida assim cortejar
Porém não teve coragem
De ir a Vicente enfrentar
E desse namoro escondido
Os pais ouviram falar.
Aparecida então pensou
Em casar-se com Raimundo
E sair daquela vila
Em busca de um novo mundo
Onde pudesse conquistar
Os seus sonhos mais profundos.
Mas quando seus pais souberam
Dos seus planos escondidos
Ficaram bem irritados
E se sentiram traídos
Gotas Literárias 16
Pelo plano do casal
Casariam até mesmo fugidos.
Então seu Manel Vicente
Na sua pobre condição
No começo até pensou
Que seria ocasião
De ir na casa do vizinho
E buscar uma satisfação.
Já com seu Nusa Feitosa
A notícia não foi diferente
Não queria que os seus filhos
Casassem com as de Vicente
Não os via com bons olhos
De com eles serem parentes.
Nusa Feitosa e Manel Vicente
Marcaram uma reunião
Juntaram as duas famílias
Debaixo de um mangueirão
Puseram então os seus termos
Para autorizar a união.
O casamento então seria
As custas do jovem rapaz
Que viveria com a noiva
Com amor, alegria e paz
Essas foram as condições
Impostas pelos seus pais.
O casamento então ocorreu
Com muita festa e alegria
O povo contente festejou
Com toda aquela família
Dançaram a noite inteira
E até o raiar do dia.
Agradeço ao Deus do céu
Pela sua infinita bondade
Pois certo que essa história
Tem um pingo de verdade
Por se tratar de uma história
Gotas Literárias 16
Dos meus pais na mocidade.
Graças a Deus meus avós
Nunca foram de confusão
Por isso deixo bem claro
Essa parte é ficção
Escritas por um poeta
Com muita imaginação.
Sou grato ao Deus bendito
Que me deu esse talento
De escrever em verso e rimas
O que vem no pensamento
De contar essa história
Dos Feitosa e Nascimento.

José Ricardo do Nascimento Feitosa


1ª Lugar

Gotas Literárias 16
Paragominas: O descortinar dos tempos

Nesta escrita relato


Meu berço desde a infância
Querida Paragominas
Cidade da abundância
Não escrevo para exaltar
Mas temos que respeitar
Nosso posto de liderança
Essa cidade que é bela
Carrega um grande legado
Com um futuro promissor
E um curioso passado
Já houve dias cinzentos
Mas o seu desenvolvimento
Tá sempre sendo superado
Assim como todo povo
É repleto de memórias
Paragominas também tem
Seu punhado de histórias
Livros contam a grande parte
Vemos também na nossa arte
Essa fase transitória
Se você não nasceu aqui
Deve estar bem curioso
Não se avexe que eu te conto
A tal história desse povo
Vou começar do início
Quando tudo era difícil
Até um futuro honroso
Se começa no passado
Preste muita atenção
Quando aqui por essas bandas
Não descia avião
Só existia natureza
E uma grande beleza
De alegrar o coração
Gotas Literárias 16
Tudo aqui era floresta
Terra pura, inabitada
Juscelino Kubitschek
Era o cara que mandava
Atual presidente então
Tinha um projeto na mão
Construção de uma estrada
Rodovia Belém-Brasília
Projeto de integração
Ligaria a Amazônia
Ao restante da nação
O projeto foi ousado
Pois moveu vários estados
Causando uma migração
Um mineiro arretado
Quando viu essa colônia
Logo sonhou gigante
UMA CIDADE NA AMAZÔNIA
Sangue no zoi e coragem
E com força de Vontade
Foi pra uma luta medonha
Seu Miranda tinha Papo
E logo foi no presidente
Apresentou seu interesse
A esse cabra valente
Que um sim lhe concedeu
Disse: "o projeto é seu"
Siga imediatamente
Pessoas de todo lado
Se empenharam a ocupar
Nas margens da rodovia
Começaram a trabalhar
E ali começou a nascer
O povoado que ia ser
Paragominas do Pará
Hoje muitos me perguntam:
“Mas porque Paragominas?”
Gotas Literárias 16
“PARÁ” é do nosso estado
Miranda veio de “MINAS”
“GO” é do povo Goiano
Que se empenhou ajudando
Essa cidade tão divina
E como todos podem ver
A cidade é bem planejada
Frutos de Célio Miranda
Pela atenção redobrada
A morte cedo o levou
Porém na história ficou
Por muitos sendo contada
As riquezas nesta terra
Sempre se fez presente
Tinha madeira de todo jeito
E para extrair tinha gente
ipê, jatobá, timborana
Tudo isso virava grana
e o povo seguia em frente
Vários financiamentos
Incentivo ao pioneiro
Alavancou exploração
Nos pedaço de terreiro
Cresceu a economia
Pois da pecuária nascia
O famoso fazendeiro
Desmatamento começou
Pois dá pastagem precisava
E com sustentabilidade
Ali ninguém se preocupava
Agricultura e Serraria
Somaram a economia
E a cidade aumentava
A madeira da cidade
Ficou muito conhecida
Dentro e fora do País
Era muito requerida
Gotas Literárias 16
Se não me falha a memória
Um pedaço dessa história
Num museu em paris é vivida
O tempo Logo passou
E o município nasceu
Com o povo se organizando
A cidade desenvolveu
Mas logo um acontecimento
Traria entristecimento
E a todos surpreendeu
Ocupação desenfreada
Deste novo município
Trouxe muita violência
Sem ordem e sem princípios
Chamada de Paragobala
A cidade se achara
A beira do precipício
O preço custou bem caro
Era triste de ouvir
O grito da natureza
Ao ver a árvore cair
Um grito de protesto
Que aquilo não era certo
Que precisavam intervir
Cultura do desmatamento
Ali já era tão tamanha
Que a cidade saiu na lista
Das piores na façanha
Um descaso descomunal
desaprovação nacional
E de tamanha vergonha
Atitudes, comportamentos
Precisávamos mudar
Para que uma vida boa
Pudéssemos desfrutar
A natureza em harmonia
o ser humano em sintonia
Gotas Literárias 16
Para a história transformar
Nossa cidade foi alvo
De Intervenção federal
Operação Arco de fogo
Força tarefa sem igual
Aqui ficou 40 dias
Fechou muitas serrarias
Com poder judicial
Com esse acontecimento
A cidade colapsou
Interveio na economia
E a muitos prejudicou
Falta de Trabalho e comida
Tornou-se difícil a vida
Para o povo que ficou
Em meio a todo caos
Nasceu um herói pro povo
Prefeito Adnan Demachki
Queria fazer um renovo
Chamou a sociedade
Para falar da cidade
Evoluir para algo novo
Foi cobrado certa urgência
Para cada um mudar
Em nome da esperança
De conseguirmos estar
Onde a sustentabilidade
E também a honestidade
Pudesse acompanhar
A partir desta reunião
A história mudaria
Um pacto de união
O povo ali firmaria
Nasceu um decreto sério
Por desmatamento zero
O município renascia
Estar nesta lista negra
Gotas Literárias 16
Foi muito prejudicial
Pois impedia a cidade
De levantar capital
Sair dessa lista então
Era a nova missão
De importância vital
Na certeza de bons tempos
Investimos em ação
Em tarefas de vitória
Que trazem satisfação
Para mudarmos a história
De desgraça para glória
Estava na nossa mão
Um projeto à cidade
Logo foi apresentado
E de “Município Verde”
Este mesmo foi chamado
Em busca de evolução
Seguimos a luta então
Por um futuro Desejado
Foi importante lutar
Para mudar aquele momento
Para poder efetivar
Um bom modelo de pensamento
Pois um povo trabalhador
Com a ajuda de um bom gestor
Foi o melhor investimento
A prefeitura não deixou
O povo desamparado
Foi dando oportunidade
A muitos desempregados
Cursos de geração de renda
Fez aumentar a agenda
Desse povo esforçado
Através da parceria
Vem a rentabilidade
O progresso é consequência
Gotas Literárias 16
Do trabalho em unidade
E aos poucos foi tudo andando
A cidade se recompondo
Com trabalho de verdade
Paragominas começou
Ter a atenção desejada
O projeto foi muito além
De algumas árvores plantadas
Dentro das escolas chegou
A criançada cooperou
Com essa missão ousada
O projeto alcançou
Avanços significativos
Porém uma prova de fogo
Pôs ao avanço em perigo
Um grupo de desordeiros
Liberou os madeireiros
Que tinham sido apreendidos
E foi uma confusão
Que esse povo aprontou
Carros, motos e prédios
Do fogo não escapou
Um ato bem desumano
Feito por um povo insano
Muito nos atrapalhou
A notícia se espalhou
Sim, bem negativamente
O vandalismo custou caro
A nós Paragominenses
Os esforços da população
Naquele momento então
Pareceu não ir pra frente
O prefeito se reúne
Novamente com o povão
Editando em conjunto
Uma carta à nação
Repudiando tais atos
Gotas Literárias 16
E mantendo os fatos
Da nossa evolução
Como um povo forte
levantamos novamente
Desistir não era opção
Então seguimos em frente
Não demorou muito tempo
Pro nosso desenvolvimento
Ser notado diferente
E a cidade ganhou mídia
Alcançou todo o Brasil
E as críticas do passado
Pouco a pouco sumiu
Da vergonha nasceu o orgulho
Motivo de fazer barulho
Por tudo que resistiu
Sem precisar desmatar
Conseguimos gerar riqueza
Desenvolvimento sustentável
Tirou muitos de pobreza
Uma grande revolução
História de superação
Mantendo o verde e a beleza
Com todos esses avanços
Não era o suficiente
Paragominas queria mais
Impulsionar a cidade a frente
Mais um pacto viável
Produto legal e sustentável
Foi firmado entre a gente
Esse pacto era o seguinte
Produzir do jeito certo
Ser justo socialmente
Ecologicamente correto
Mais uma luta que enfrentamos
E com certeza ganhamos
Pois o alvo era concreto
Gotas Literárias 16
De cidade que mais devastava
Tornou-se exemplo padrão
Seguida por outras cidades
De toda essa região
Símbolo de excelência
De agir com inteligência
Pelo bem da população
O sucesso foi tão grande
Que explodiu de repente
Saímos da lista negra
Ganhamos o “Chico Mendes”
Os primeiros de seu tempo
A receber reconhecimento
Sobre meio ambiente
O primeiro município
De todo esse Brasil
A sair de uma lista negra
De uma pauta tão hostil
É motivo de comemorar
Bater no peito, se orgulhar
Esse é nosso perfil
Até os olhares da mídia
Que nos taxava um mau exemplo
Tornou-se bem positivo
Valorizando nosso talento
Uma de muitas conquistas
Paragominas sendo bem-vista
Fruto do planejamento
Cuidando da natureza
Conquistamos felicidade
E com certeza fizemos
Uma boa sociedade
E com uma boa gestão
Com todos em união
Semeamos prosperidade
Hoje Paragominas
Vive um novo momento
Gotas Literárias 16
Onde a sociedade
Divide um bom pensamento
E isso nos traz alegria
Sem dúvidas certeza contagia
Nosso desenvolvimento
Plantamos o verde aqui
No pulsar do coração
E toda nossa conquista
Foi de cada cidadão
Que sempre perseverou
Com paixão sempre lutou
Pela nossa região
E os frutos colhemos hoje
Em todos os seguimentos
Sempre nos reinventando
Nos mantendo como exemplos
Ficou para trás o passado
Pois esse foi superado
Por todo nosso talento
Ostentamos com muito orgulho
Um santuário florestal
Ao alcance de todos
Nosso parque ambiental
Lugar de paz e tranquilidade
Onde se relaxa de verdade
Com a beleza natural
Muitas árvores e cores
Lá é fácil de encontrar
Um cenário estimulante
A quem quiser se inspirar
Dá pra caminhar ou correr
Dá pra brincar ou pra ler
Ou só pra admirar
Não se engane pensando
Que é apenas pra lazer
Pois também foi planejado
Para todos aprender
Gotas Literárias 16
Principalmente as crianças
Aprendendo desde a infância
Um jeito sustentável de ser
Temos também o Lago verde
Nosso orgulho da Cidade
Referência na região
Rico em biodiversidade
Onde tudo era lixo
Criamos um paraíso
Pra toda sociedade
Sempre transmitindo
Que mudar é possível
Só precisa de trabalho
E que seja acessível
Pois para um povo que quer
Pode vir o que vier
Que nada é impossível
Hoje temos grandes méritos
Na nossa educação
Atividades e projetos
Ajudam na inclusão
Dos nossos jovens e crianças
De adultos da vizinhança
Que com o legado seguirão
Temos universidades
Com cursos de formação
Diversidade não é problema
Aqui não falta opção
Temos acesso ao deficiente
Com tecnologia eficiente
Para a melhor execução
Ensino de qualidade
Com muitos profissionais
Todos bem esforçados
Sendo o melhor no que faz
Desculpa pra aprender
Aqui você não vai ter
Gotas Literárias 16
Pois nós somos funcionais
Temos muito a oferecer
Além do lazer e educação
A saúde aqui na cidade
Vem em primeira mão
Aqui se investe pesado
Na cidade não tem folgado
Nosso lema é motivação
Paragominas tem ar saudável
É só prestar atenção
De manhã ou pela tarde
A sua dedicação
Focada no exercício
Seja corrida ou ciclismo
Ou pela musculação
Nas praças temos projetos
Que ajudam a perder peso
Danças bem divertidas
Que dão resultados cedo
Que mostra a população
Que o tempero da união
Para evoluir é o segredo
Aqui não taxamos idade
Tamanho ou religião
O requisito é amor
Paixão e dedicação
Pois quando tem unidade
Juntos com a liberdade
Nós formamos campeões
No âmbito econômico
Movemos muito dinheiro
Produtos das nossas terras
Conhecem o mundo inteiro
Em todo canto é notado
Nosso potencial elevado
De trabalho e de emprego
Aqui nós valorizamos
Gotas Literárias 16
Quem vem de fora e quem é de dentro
Pois todos acreditamos
No trabalho e no crescimento
Por isso um ambiente
Estratégico, inteligente
Estamos desenvolvendo
Hoje o agro tem foco
Somos destaque em produção
Nossas colheitas representam
As maiores da região
Um fato pra se orgulhar
Produzir e alimentar
Mais que a nossa população
O mercado que mais cresce
Na cidade e no Brasil
É satisfatório ver
O quanto a gente evoluiu
É algo muito profundo
Alimentarmos o mundo
É sinal que progrediu
Produzindo carne e leite
Temos a nossa pecuária
Atividade que é pioneira
Presente na culinária
Abastecemos o estado
Também temos exportado
Os produtos dessa área
O solo também é rico
De diversos minerais
A bauxita do alumínio
Aqui nós temos demais
Mantém muitos empregados
A economia tem a ajudado
A crescer muito mais
Essa cidade é incrível
E isso eu posso provar
Pois nesse tanto de terra
Gotas Literárias 16
Tem gente de todo lugar
E não falo com exagero
Pois aqui o mundo inteiro
É capaz de se encaixar
Aqui você encontra
O que vier procurar
A mistura de culturas
Pode te impressionar
De ponta a ponta do mundo
Sabor autêntico e profundo
Aqui você pode achar
Nossos abraços são quentes
O povo é hospitaleiro
Na arte de Parceria
Nós ganhamos em primeiro
Na busca do crescimento
Veio o desenvolvimento
Um resultado costumeiro
Hoje a cidade é grande
Mas ainda não congestiona
O trânsito é organizado
E a muitos Impressiona
Aqui tem sinalização
Pra segurança e proteção
Podemos dizer que funciona
Minha cidade é o que é
É pura superação
Ao ver a história dela
Me vem a inspiração
E se você for esperto
Vai ver, não é só aspecto
É do fundo do coração
Se hoje já é assim
No futuro pode esperar
Pois ainda vamos ser
A melhor de todo o Pará
Sempre levando a fé
Gotas Literárias 16
E se mantendo de pé
Pra muito mais conquistar
Agradeço ao Senhor
As conquistas que nos deu
Pois toda essa vitória
Só pode ter dedo de DEUS
Essa história não terminou
Só mudará o escritor
Pro futuro que suceder.

Daniel Sousa Mendonça


2ª lugar

Gotas Literárias 16
Sonho e Conquista

Nossa história inicia,


Na terra de Canaã,
Terra de fé e promessa,
Numa suave manhã,
Quando Jacó, ancião,
Ordena ao filho querido,
Que vá atrás dos rapazes,
Seus irmãos despercebidos,
José manso e obediente,
Partiu sem hesitação,
Não sabia que os outros,
Tramavam no coração:
Livrar-se do jovem moço;
Um plano de traição!
Ao notarem ainda longe,
Planejaram sua ação:
Combinaram a maneira,
Bem pertinho da estrada,
De separar o moço,
Do Pai que tanto o amava.
Ao lhe dar as vestes novas,
Jacó não valorizava,
O amor aos outros filhos,
Coisa que ignorava !
Assim, com tal sentimento,
Sempre armavam ciladas,
Ao invés da comunhão,
A inveja dominava!
Com vil indignação,
E bastante indiferença,
Puniram o jovem José,
Esta foi sua sentença:
Foi vendido como escravo,
À caravana estrangeira,
Que passava por acaso,
Gotas Literárias 16
Naquela hora certeira,
De um dia inesquecível
Nebuloso e sem beleza !
O Patriarca ouviu,
Toda tragédia narrada,
Pelos irmãos de José;
Não podia fazer nada ..
Só lhe restava, chorar,
Curtir a sua tristeza
Atingido pela dor,
Engano e vil sutileza!
Olhemos para José,
Sofredor mas confiante,
No Egito, agora longe,
Peregrino e sem destino,
Jamais perdeu sua fé,
O virtuoso menino,
Chega a casa do patrão,
Potifar é o seu nome,
Trabalha, faz o melhor,
E assim não passa fome.
Por sua dedicação,
O rapaz é promovido;
Conquista o seu espaço,
Por todos reconhecido.
Não tarda em atrair,
Cruéis e vis inimigos!
E logo vem o ataque,
Para provar seu valor:
A mulher de Potifar,
Dizendo sentir amor,
Aproximou-se do jovem,
Mordomo do seu senhor!
Intentou fazer o mal,
Mas em vão foi sua trama,

Foi preso sem merecer,


Gotas Literárias 16
Mas honrou a sua fama:
De jovem simples fiel,
Que nunca pisa na lama!
Na prisão foi colocado,
Mas agia com prudência,
Seu Deus estava com ele,
Lhe concedeu competência,
Então o chefe dos presos,
Lhe demonstrou confiança,
Entregando os companheiros,
Sob sua liderança.
Mesmo José sendo preso,
Nunca perdeu a esperança,
De um dia ver seu pai
Na terra da sua infância!
De um dia no futuro,
Conquistar suas promessas,
De prosperar e vencer,
Com muita fé, e sem pressa !
Encarcerado e sozinho,
José vivia então,
Mas sabia que de Deus,
Viria sua provisão.
Mas um dia sem saber,
Deus falou ao coração,
Do monarca do Egito,
De noite em uma visão,
Onde ele via animais,
Bovinos com perfeição,
Tragados por outros feios,
Magros sem explicação,
Em seguida observou,
Belas e cheias espigas,
Logo foram devoradas,
Por outras demais esquisitas,
Como saber a mensagem,
Oculta, sob segredo,
Gotas Literárias 16
Neste sonho, tão cruel,
Repleto de dor e medo?
Assim, chegou aos ouvidos,
De toda população,
Que Faraó desejava,
Do sonho, explicação.
Falaram-lhe de José,
O hebreu encarcerado,
Homem de muito talento,
De visão e preparado,
Diante daquele rei,
Demonstrou sabedoria,
Atribuindo ao seu Deus,
O milagre desse dia,
Agradeceu sua sorte,
Sua vida protegida,
Pelo Deus que o guardava,
Longe da terra querida!
Faraó então contou,
O sonho em pouco tempo,
Parecia tão real,
Que o deixou sem alento.
Aquele homem pagão,
Faraó, rei soberano,
Apesar de poderoso,
Precisava de um plano!
Disse que sete anos viriam,
De saúde e fartura,
Mas depois sucederia,
Sete anos de penúria!
Precisavam armazenar,
Mantimento em abundância,
Fazer bom uso da terra,
Aproveitando a bonança,
Ao encerrar sua fala,
José ouviu Faraó,
Que muito preocupado,
Gotas Literárias 16
Sentiu-se perdido e só,
Onde acharia alguém,
Com tanta capacidade,
Para gerir seu país,
Tomar conta da cidade?
Foi então que de repente,
Um pensamento ocorreu:
“Onde encontrar alguém
Como esse jovem hebreu?”
Nomeou sem perder tempo,
O rapaz tão eloquente,
Jamais iria arriscar,
Seu governo, sua gente!
E José foi o segundo
Naquele reino emergente,
Trabalhou e prosperou,
Sendo fiel e prudente!
Sua fama correu longe,
Atravessando fronteiras,
Quem diria que o escravo
Subiria na carreira!
irmãos, preocupados,
Não queriam perder tempo,
Chegaram até Faraó,
Suplicando com lamento,
Precisavam em desespero,
De ração e alimento,
Por que essa aflição,
Tanta dor e sofrimento?
Eis que surge na memória,
Imagem de um menino,
Incomodando os autores,
Daquele vil desatino...
Olhos puros, inocentes,
Sem futuro, sem destino.
Oh! Quanta dor e remorso,
Envolve aquele momento,
Gotas Literárias 16
Será que vive José?
Insiste o cruel pensamento!
Finalmente, se encontram
Com o famoso Mercador,
Tão altivo, vigoroso,
Só lhe chamavam “senhor”
Apelaram, com fervor,
Por urgente audiência,
Mas o homem insensível,
Perdeu logo a paciência;
Eram filhos de Jacó,
Homem simples e preciso,
Morador de Canaã,
Esquecido paraíso !
“Ainda vive meu pai?”
Quanta falta me faz isso!
Mas precisava de tempo,
Para dar a conhecer,
Seus irmãos, agora homens,
Haveriam de entender,
O que a vida nos reserva,
Pelo nosso proceder...
Momentos pra refletir,
Onde devemos ceder.
São horas de grande luta,
Temos que reconhecer!
Quero lhes fazer menção
Deste encontro emocionante,
Entre José e seu pai,
Naquele dia marcante:
Para o velho Israel,
Parecia mais que um sonho,
Já havia treze anos
Que perdera a esperança,
De rever seu filho amado,
Que trazia na lembrança !
É lindo ver como Deus,
Gotas Literárias 16
Reserva tanta surpresa,
Ao servo que acredita,
Apesar das incertezas! ,
José ao rever seu pai,
Lançou-se ao seu pescoço,
Jacó, diante da cena,
Abraçou bem forte o moço,
Palavras jamais expressam,
O que vai no coração,
Em um momento sublime,
Tomado por emoção,
Um sonho de tantos anos,
Agora realizado,
Explode dentro do peito,
Qual mar, bravio agitado,
De dois homens valorosos,
Marcados pelo passado!

Sidney José R.Castro


3ª Lugar

Gotas Literárias 16
POEMA
AMADOR

Gotas Literárias 16
Angústia da Mente Incongruente

um caos
um só
um pó
em versos tristes
versos secos
como o peito
arde e bate forte
por todo corpo
pulsando sangue frio
e distribuindo pensamentos mil
não fluídos como rio
mas embaraçados
como um linho desfiado por um gato
um trapo
cada verso escrito
um grito que atormenta
uma facada encravada no peito
delírio?
um enleio despertando a culpa
a angústia
o desistir da luta
de ser quem sou
de entender esse trapo que restou
Gotas Literárias 16
na profundidade de um ser
impossível de ler
matando e ressuscitando
quem tem a má sorte de ter
o barulho incessante
procurando o significado
de ser um nó
que traz a nota dó
faz verso chorando
faz verso sorrindo
se despindo
nesse recorte
que não é mais uma arte
é um fazer palavras loucas
quase um estrondo afônico
trágica e amarga súplica
a tradução da mente
que é gelo quente
que poderia ser apenas um réquiem
agora é só o vazio
de se estar vivo e morto
ouvir estando surdo
um mundo mudo
até mesmo a confusão
com seu próprio barulho
Gotas Literárias 16
desistiu desse poço tão profundo
buscando subterfúgio
de sentir e não se ferir
e não sentir
sem querer para o escuro fugir
agora só me resta partir
o “para onde”
nem sei o nome
seguirei com meu singelo “banal”
sendo eu apenas, um terrível plural.

Yala Fernanda de Souza Farias


1ª Lugar

Gotas Literárias 16
JÁ FUI...
Já fui escritor
Registrei memórias de um coração sonhador
Deitei e deleite-me em mares de versos
Fugi de corações perversos
E aproximei-me daqueles cheios de versos
Com sentimentos diversos de versos inversos
E de versos em versos,
Já fui passarinho céu
Já voei pelo mundo no
Decolei, saí do ninho lá
Conheci um abismo profundo
Já fui magistral
Já fui estudante
Já viajei pelo espaço sideral
Já li, ri, e reli os livros da estante
Já caminhei entre tempos
Já vivenciei e registrei momentos:
Foi mágico
Já vi todo um universo numa só gotinha de orvalho
A gota literária, regando um colossal carvalho
Já nadei em mares de palavras
Fui poeta, fui atleta
Fui amor, fui escritor

Gotas Literárias 16
Vi o passar dos tempos,
Vivenciei o belo e o fugaz dos momentos
Efêmeros
Já vi o azul do céu
Metamorfosear-se em aquarela num pedaço de papel
Já vi o escarlate no ódio dos adultos
Em birras, formar escarcéu
Hoje, não sei quem sou
Talvez um pouco disso, um pouco daquilo...
Coisas que eu sei, aprendi
Coisas que aprendi, sofri
Coisas que sofri, também sorri
E hoje sou escritor
Sou porta entre tempos
Sou mensageiro do amor
Sou colecionador de momentos
E, ao mesmo tempo, não sei quem sou
Pois já fui passarinho,
Fui poeta, fui amor.

Ryan Damasceno dos Santos


2ª lugar

Gotas Literárias 16
Transborda Menino!

Aqui dentro mora um menino, que já viveu tanto


Que chega causar espanto, o tempo não o amargou
Talvez seja algo divino, pois em tudo vê encanto
Seu sorriso de canto a canto, nunca se apagou
Não se iluda ele já sofreu, já magoaram seu coração
E com tudo aprendeu, que há grandeza no perdão
Há paz, tranquilidade, aceitação. Fica mais leve seu “EU”
Descarregar o que não é seu, te poupa limitação
Esse menino tem seus delírios, devaneios da imaginação
Não tem medo de mudar os trilhos, se manda a intuição
Talvez dê lírios, talvez dê risos, flores. Depende, da estação.
Ele distribui amor, independente da direção.
Esse menino vive sem culpas, pois toda culpa vira passado
Os erros não foram esquecidos, viraram aprendizados
Tais erros moram nos ciclos, os ciclos moram no tempo
E o tempo faz a vida, composta por cada momento
Aqui dentro mora um menino, que sabe da sua essência
Que estampa sua beleza, pra não viver de aparências
Através de sua vivência, vê que em tudo há dois lados
Vê que tudo é reflexo, do que se tem ofertado
Aqui dentro, o menino estranha, diz que o externo é anormal
Alega que o estampado de fora, é só uma construção social
Eu, que me acho tão sábio! Sei que no fundo é verdade.

Gotas Literárias 16
Me pergunto, será que de algum modo, saboto a felicidade?
Menino, você não ocupa o espaço inteiro, mas respeito seu lugar
Pois quando eu erro o dia inteiro, é você que está lá
Me dizendo que os recomeços nunca acreditam nos pontos finais
E que sou sempre capaz, de fazer bem mais, sempre...
Nascer e morrer, mesmo que eu acredite que esse é o resumo da vida
Esse menino sempre me lembra que existe outra versão, não
resumida.
Ô menino, tu que vives a me observar, sei lá.
Será que podes transbordar? Vem pra cá, para o lado de fora.

Daniel de Sousa Mendonça


3ª Lugar

Gotas Literárias 16
O Viajante
Lá vai o viajante
com um olhar contagiante,
para mais uma aventura,
conhecer outra cultura.
Dizem que ele é do bem,
não fala mal de ninguém.
Já conheceu o protetor,
o nosso Cristo Redentor.
Ouvi falar de uma viagem,
na qual não houve bagagem.
E o viajante espertinho
conheceu o Pelourinho.
Outro dia me contaram,
não sei se exageraram,
que o viajante foi pro Sul,
e explorou as Cataratas do Iguaçu.
Afirmaram também que ele é destemido,
encarou o boi Caprichoso e o Garantido.
Conheceu muitos Sertões,
e bebeu água do Rio Negro e Solimões.
Foi do Norte pro Nordeste,
do Sul ao Centro-oeste.
Segue sendo o maioral,
Conheceu até onça no pantanal.
Gotas Literárias 16
E lá vai ele de novo,
conhecer um novo povo.
Sabe quem é a criatura?
É o viajante da leitura!

Antônio Ailton Dias Mendes


4ª Lugar

Gotas Literárias 16
HÍFEN

Na conotação de teu sorriso efêmero


Quisera eu juntar-lhe palavras, respeitando ou não a arbitrariedade
da semântica
(você-eu)
Numa falha tentativa de emendar-nos
Há um hífen entre nós e este é o silêncio incerto e agora paira sobre a
mesa do jantar
Os espaços, traços e fronteiras que caminhamos tornaram-se os
gestos de nossa rotina
Abraça-me em parênteses?
Preciso refutar as informações acrescidas e rasgar a falsa lógica dos
meus planos
(o teu espaço é imensurável e as minhas palavras tão distintas
acompanharam os teus
trações ilegíveis por essa fronteira que se tornou perigosa de mais
para atravessá-la)
Sozinho…
Nesse texto subjacente tento psicografar-te, considerando quase
sempre a incompletude e o holístico
No agora e em seu tempo.
Horizontalmente me despojo à essa ordem não linear de tempo para
te recitar poesia
Se não puder ouvi-las, volte o seu olhar ao meu e percebas nestes
sinais que só metade dizem
E então recorda-me!
Quando de amor falamos, tudo é quase tão silêncio que não sobra
espaço para hifens
e para outras conversas?

Fabio Alves Silva


5º Lugar

Gotas Literárias 16
SOBRE VOCÊ

Eu quero escrever algo impressionante


Algo que nunca antes
Atravessou as linhas dos seus lábios
Indo na sua mente e encontrando o caminho
Até seu coração e voltando em círculos
Pela sua espinha dorsal e dançando
Sob sua pele, eriçando seus pelos
Algo tão lindo quanto o fogo
Quero que saia do mais íntimo de mim
Escorrendo como areia
Pelas pontas dos meus dedos
Ágeis, finos, tímidos e nervosos
Eu quero escrever algo que te emocione
Que te faça duvidar e se questionar
Algo que mexa com seus sentimentos
Com as lindas linhas do teu pensamento
Eu quero escrever algo para você
Sobre você
Digno de ser uma poesia ou uma obra de arte
Algo que o mundo inteiro veja
Que seja simples em si e que seja transcendente
Eu quero escrever a sua história
Quando cruzou a minha
Escrever sobre o que você fez comigo
Seria um texto lindo
Um poema, um romance, um conto
Quero ser capaz de encontrar as palavras
Para descrever como você
Arrumou meus cômodos
As partes bagunçadas em mim
Que eu já não me importava mais
Escrever sobre como você chegou
Em mim e achou descanso
E me fez descansar
Quando eu já não sabia que eu poderia
Gotas Literárias 16
Tem que ser algo digno de você
Da sua grandeza humana e falha e linda
Suas imperfeições, da pele e da alma
Que em todas as linhas você esteja
Que seja a verdade de você
Quando transformou a minha própria
Daquele tempo que eu não acreditava
No poder das estrelas, do universo, dos deuses
Ou como o fogo do sol
Seria purificador
E que eu não queimaria
Por causa dos meus pecados
E você não se importou; não perguntou
Quero escrever
Sobre minhas cicatrizes e a forma que elas têm
Como a profundeza que você é em mim
Preenchendo tudo que antes era grande vazio
Enchendo de vida os meus desertos
Todos te comtemplarão
Com os lábios lerão você; tudo que você é
Mas não sei ao certo como
Terminar um texto assim
Paraliso como a primeira vez
Quando sua alma cruzou a minha
E eu congelo o pensamento até as pontas dos dedos
Diante dos seus olhos
Porque não sei como descrever
Ou tecer essas linhas
Para falar de salvação e
Como eu fui salvo dentro de você

Alan Souza Cesário


6ª Lugar

Gotas Literárias 16
A TAL NOVIDADE

Minha vida estava boa


Pois eu era um cidadão
Grécia era onde eu vivia
Mas agora não vivo não

Moro hoje em Nova Iorque


Onde a modernidade se instaurou
Coisas novas posso ver
Pois o mundo já mudou

Descubro que a minha Grécia


Agora, é Grécia Antiga
Pois viajei para o futuro
Onde a novidade habita

A novidade é muito boa


Pelo menos em parte,
Pois aumentaram as riquezas,
Mas a distribuição é um descarte

Essa novidade que falo


Trouxe conexão a todos
Excluindo alguns
Mas eles são chamados de “poucos”

Posso navegar, sem navio


Conversar, sem pessoas ao redor
A não ser os “sem – conexão”
Deles, eu tenho dó

Percebo que a desigualdade


Nessa tal modernidade
Mas então o que era
A tal novidade?
Gotas Literárias 16
A novidade, eu não conto
Pois já voltei para minha Grécia
Lá, não tem o mundo novo
Mas tem o que me interessa.

Moises Lemos Damacena


7ª Lugar

Gotas Literárias 16
SAUDADE DA INFÂNCIA

Um sentimento que dói no peito


Bate logo a solidão
das brincadeiras e de ralar o joelho
de cansar e sentar no chão.
Pira-pega e pique-esconde
era hora de diversão
Todos correndo para o lado e para o outro
na maior empolgação.
Quem dera se fosse fácil
voltar a ser criança,
mas o tempo passa de pressa
e só nos resta as lembranças.
Ser criança é ter liberdade
de imaginar, brincar, sonhar
de sair correndo pela rua
de pular e tropeçar.
Tililim, Tililim
era o som da buzina do seu João
As crianças corriam com as garrafas
só pra ganhar e saborear o doce algodão.
Traquinagem são com elas
Não pode perder de vista
Antes que vire as costas
é tão rápida que sai faísca.
“Chegar em casa conversamos”
Era o que eu não queria escutar
Batia logo a tristeza
e o medo de apanhar.
Ser criança é isso
Chorar, sorrir e brincar
É carregar o mundo na cabeça
E a sabedoria no olhar.
uma alegria imensa
sempre cheia de esperança
Carrego essa marca no peito
Gotas Literárias 16
que saudade da minha infância.
Flor do dia.

Kenia Almeida da Silva


8ª lugar

Gotas Literárias 16
Metade

Tu és
Minha metade
Metade dos sonhos que sonhei
Metade dos risos que dei
Metade das lágrimas que derramei
Metade das palavras que me engasguei
Metade do rio que nadei
Tu és
Metade do caminho orvalhado
Metade do meu rosto marcado pelo sol, pela dor não sei.
Tu és
Metade dos sonhos mais bonitos
Metade dos desejos ocultos
Metade do caminho que parei
Tu és
Metade da resposta que deixei pra lá
Metade da insegurança que me fez pensar
Metade de mim
Metade de nós
Tu és
Pessoa ou anjo?
Sonho ou pesadelo?
Só sei que tu está sempre onde estou.

Maria Emília Alves Vieira


9ª lugar

Gotas Literárias 16
PARAGOMINAS

Paragominas, hoje és desenvolvida.


Quantas vezes na sua história tu parecia perdida?
Muitos dos teus antepassados morriam por tua causa;
Tu eras tudo o que eles tinham, mesmo para aqueles que não tinham
nada.
Desde o seu descobrimento fostes muito observada.
Atraía muitos espectadores para te ver crescer.
Eles procuravam teus melhores lugares
Para não perderem nenhum capítulo de sua história.
A cada trilha que surgia
Tu acomodavas seus queridinhos.
Sustentava-os com o fruto de sua terra,
Como quem não abandona seus filhinhos.
Tu também guardavas riquezas,
Mas não foi forte o bastante para impedir.
Levaram embora sua madeira
E queriam manchar teu nome, por fim.
Mas tu deste a volta por cima.
Da beira da degradação tu te reergueste.
Pôde dar vida aos teus rios e florestas
E hoje, o verde faz grande o teu nome e resplandece a tua formosura.

Oziel Miranda da Silva


10ª Lugar

Gotas Literárias 16
Suspiros à Rosa

Aquele sorriso simples, foi o meu preferido.


Me deixava sem jeito, me tirava as palavras,
Deixando-me incapaz de descrever o quanto a amava,
E o quanto, ainda lá no fundo, amo tudo nela.
Uma Linda Rosa, com espinhos para defender o que lhe é tão
importante, Seu coração, cheio de sentimentos bons que a fazem se
sentir bem, Família, amor, crença, carinho, valores e muitas outras
coisas a qual gosta.
Um coração sem fundo, infinito em cada medida.
Seu perfume me fez tão bem, era único.
Fui honrado por ter sido escolhido um dos seus jardineiros,
Que enquanto tal, busquei ao máximo fazê-la feliz,
Regando amor, carinho, sentimentos bons que para ela
São água e nutrientes importantes para seu crescimento.
Ela escolheu ir, crescida já estava.
Talvez volte um dia,
Mas espero sem me iludir,
Sua cor e perfume poderão ter mudado
E com eles, também, seus sentimentos.

Danilo Almeida da Silva


11ª Lugar

Gotas Literárias 16
Um amor que fique

Eu quero um amor que fique.


Já que tudo tem sido tão passageiro
Nada de largar após chilique
Eu quero algo puro e verdadeiro.
Eu quero um amor que escolha ficar
Já que isso é uma decisão
Da feita que alguém se entregar
Que se doe de coração.
Eu quero um amor leal
Já que todos enfrentam seus desejos
E mesmo frente a tentação mais fatal
Que sempre escolha os meus cortejos.
Eu quero um amor de aliança
Anel chamativo dando um chega pra lá,
Já que não existe melhor bonança
Do que saber que alguém é o seu par.
Eu quero um amor pra ser infinito
Pra chamar de benzinho, e andar de mãos dadas
Já que sou exigente, precisa ser tudo bonito
Um casal de duas almas apaixonadas.
Eu quero um amor, eu quero um amor!
Repito pois preciso ser mais insistente
E Deus sabe o quanto que é tentador
Ter um alguém pra chamar de “a gente”.

Marcos Endrey Araújo dos Santos


12ª Lugar

Gotas Literárias 16
OS ENCANTOS DE PARAGOMINAS

Quantos encantos e quantas cores


Escolherei escrever nesses versos?
De uma terra de matas e flores
Que cresceu para ser sucesso.

Hoje Paragominas é realidade


De uma história linda ao longo do tempo
Construída por gente forte e trabalhadora
Que chegou aqui em busca contentamento

Célio Miranda primeiro chegou


Em busca de realizar seu sonho e missão
Antes que o tempo ceifasse sua vida
Ficou na história da nossa fundação

Na comitiva de Célio Miranda


Também vieram outros nobres pioneiros
Eliel Faustino, Manoel Alves e Severino
Escreveram o seu o nome entre os primeiros

Fico pensando se eles imaginavam


Que um povoado simples em meio a Amazônia
Se tornaria uma linda cidade
De encantos e riquezas tamanha!

O que falar da nossa gente


De tantos costumes e diversidade?
Vieram com sonhos e vontade de crescer
E fazer florescer nossa linda cidade

O tempo passou, nossa cidade cresceu


Em meio as atividades, trabalho e construções
Paragominas se tornou querida e amada
Por seus filhos natos ou por adoções
Gotas Literárias 16
Hoje temos um Lago Verde para passear
Praça Célio Miranda e Parque Ambiental
Arena Verde, ruas limpas e iluminadas
Cidade tão bela não tem outra igual.

José Ricardo do Nascimento Feitosa


13ª Lugar

Gotas Literárias 16
GOSTO DE VOCÊ

Gosto de você assim, com defeitos, imperfeito, com riscos e


arranhões, com avarias, mesmo assim perfeito ou imperfeito gosto de
você assim.
Gosto de você mesmo calado, inibido, envergonhado, estando do
meu lado eu gosto sim.
Gosto de você pensativo, mesmo estando longe daqui
Gosto de você assim quieto, eu imagino que estás pensando em nós
Gosto de você do jeito que vier do jeito que for.
Se não gostar então é amor.
Parece sol da manhã, brilhante e aquecedor se não é gostar com
certeza é amor.
Gosto sem motivos, sem incentivos também, gosto sem saber por que
tu me fazes tão bem.
Gosto sem explicação, sem motivos, sem porquê
Gosto de você porque não sei dizer.
Gosto porque não sei, só sei que gosto de você.

Maicon Breno Vieira


14ª Lugar

Gotas Literárias 16
MEU QUERIDO PASSADO E FUTURO

Meu querido eu do passado


seu primeiro nome foi vazio?
e é por isso que se sente angustiado
e é por isso que no amor faz desvio.
Meu querido eu do futuro,
pra mim a vida era apenas escuridão infinita
eu me sinto muito maduro
por isso a vida pra mim não é normal e nem bonita.
Meu querido eu do passado
o silêncio da escuridão sussurrava ao seu redor
por isso que você já deveria estar conformado
por isso que você deveria entender, que pode encontrar alguém
melhor.
Meu querido eu do futuro, a escuridão e o desprezo era o meu lar!
já estava acostumado por isso eu vivi desamparado
por isso eu vivi sem querer viver.
Eu criei coragem e me rastejei para fora da minha bela escuridão
estava maravilhado com aquilo que senti pela primeira vez
meu amor não correspondido foi apenas um não?
O primeiro amor da minha vida me rejeitou sem pensar em um
talvez.
Meu querido eu do passado
você desistiu de você fácil demais
a razão do seu sofrimento foi apenas a sua fraqueza
tem certeza que você consegue esquecer, será que é capaz?
A dor vai insistir em te perseguir, mas você é inteligente
esqueça tudo e siga em frente
tenha uma vida feliz e independente
esqueça tudo que não te leva pra frente.
amor é algo inexplicável, mas tente entender
essa dor que você sente no seu peito logo vai desaparecer
não existe só uma pessoa no mundo!
E logo esse sentimento bom vai reaparecer…

Maria E. Sousa Barroso


Gotas Literárias 16
15ª Lugar

Gotas Literárias 16
BELEZAS DO BRASIL

Como é lindo o meu Brasil


Seu povo ordeiro, festeiro.
Sua face alegre colorida.
Brasileiro tem alma varonil!
Tem natureza rica, exuberante
O deslumbrante azul do mar.
Tem gaúcho com seu berrante
E o índio com o seu cocar!
Tem Belém, cidade das mangueiras
Orgulho do meu Pará!
E mulatas dançando faceiras
Tem frevo, baião, boi-bumbá!

Maria Raimunda de Freitas Aguiar


16ª lugar

Gotas Literárias 16
Indagações

Como manifestar a dor de um coração fragmentado?


Quando as lágrimas não são mais o suficiente para quem sente...
Desprezar a dor seria a resposta certa...
Ou uma covarde atitude daquele que não ficou alerta?
Expressar traria paz
Ou atrairia mais caos?
O caos de uma relação.
Relação que sempre teve um dominante
Aquele se importava menos a todo instante.
Ainda não há resposta para a primeira pergunta.
Seria o esquecimento profundo
O desenlace para tudo?

Lauren Ribeiro Prestes


17ª Lugar

Gotas Literárias 16
A passos lentos

Todos os dias eu passo naquela faixa ela não estava ali há vinte anos
atrás
Tornou-se uma obrigatoriedade parar na faixa de pedestre
Então eu praticamente me acostumei a parar automaticamente na
faixa de pedestre
Que fica em frente a uma livraria muito antiga no município de
Paragominas.
Aquela livraria, ah como eu me lembro
Há muito tempo atrás ela era cheia de vida
Não existia computador há alguns anos atrás, e os livros eram
valorizados.
Ter um livro era como ter o mundo nas mãos
Através deles podíamos atravessar de um lugar para outro
Desta forma fiquei pensando como aquele lugar tão cheio de vida
hoje se tornou
obsoleto.
Por um leve instante e parada naquela faixa me ocorreu esta
lembrança,
Mais ao ouvir a buzina de um carro despertei daquelas doces
lembranças e vi um
senhor terminando de atravessar a faixa a passos cansados, este
senhor era o dono da
livraria Bastos.

Joelma Almeida dos Passos


18ª Lugar

Gotas Literárias 16
Bons tempos

Lembro-me de quando olhava para o céu e


via tantos desenhos, eram tão reais, eu amava isso.
O tempo não corria tanto quanto hoje, e
até parecia que a terra girava lentamente.
E aqueles pingos de chuvas? Eles pareciam nunca acabar,
foram os melhores banhos que já tive com meus amigos.
O percurso da escola era uma viagem, voltávamos da escola e
ríamos das maiores besteiras que víamos na rua, chegava até doer a
barriga.
Me recordo de fazer das minhas bonecas as mais bem vestidas e
masterchefes,
aquele barro era o melhor chocolate que fazíamos,
não tinha Netflix ou tantos canais pra assistir desenhos,
mas nos contentávamos com o Tom e Jerry,
o Piu Piu e Frajola, o Pica-pau e suas artimanhas.
Eram tempos bons que não voltam mais. E embora
não veja tantos desenhos no céu como antes,
ainda consigo admirar a paisagem. E também vejo muito algodão
doce.
Nunca deixe de apreciar o belo nas pequenas coisas da vida.

Raquel de Sousa Pereira


19ª Lugar

Gotas Literárias 16
Vagamente
As palavras ditas, os momentos que passamos
Nada tem mais significado.
Odeio fingir alegria, quando estou cheio de tristeza
Dói sentir isso sozinha, você nem sequer me amou?
Onde estar aquele sentimento?
Mentiras contadas na forma de canção,
Para encobrir a mentira conspiratória.
Só queria você, sem barreiras
O que falta em meu amor?
Ainda não me doei o suficiente?
Não restou nada, só uma dor imensa;
Jogado nesse inferno de emoções,
Estou quebrado.
Só me der um motivo, quero uma razão para te odiar.
Essa esperança que não morre, o desejo de você voltar permanece.
Queima como fogo e me machuca como uma faca,
Me faça entender, esse sentimento é vácuo.
Não existe mais nada em seu coração?
As cores estão tão sem graça,
Onde está o arco-íris que me prometeu?
Destroços vão com o vento, até onde devo suportar;
Sem escapatória, sem forças, sem nada.
Tire essa venda, não quero mais me perder
Me ajude a achar a saída.
Esse caminho só me machuca.
Meus pés não mais suporta, meus braços não sabem onde segurar.
Tudo tão escuro, sem onde me apoiar,
Desmoronando nesse chão frio, sem onde me aquecer.
Desejo ser aquele que fará lembrar dos sentimentos bons.
Aquele que você irá procurar, mas não vai mais encontrar.
Será então a sua caminhada entre nossos momentos,
Uma procura por um tempo que passou.
Seus gritos de dor serão distantes para mim,
Uma melodia antiga que já não me interessa.
Renata Conceição Rocha

Gotas Literárias 16
20ª Lugar

Gotas Literárias 16
CRÔNICA
AMADOR

Gotas Literárias 16
PASTEL CROCANTE

Um imponente banner pendurado em frente à lanchonete, no centro


da cidade, atrai não somente meus olhos, como também minha
saliva. Com a boca cheia de água, paro por instante admirando e
imaginando o sabor desta delícia crocante. Era um pastel super
recheado com carne de frango, molho de catupiry e o saboroso queijo
italiano muçarela e ao lado um copão de suco de cana de açúcar,
também conhecida por garapa, que é doce como mel. Pareciam de
verdade, despertando-me um profundo desejo gastronômico.
Se um pastel simples já é tudo de bom, imagina um deste todo
inusitado, com temperos e ingredientes selecionados, irradiando
vontade, sabor e prazer – Falei com meus botões.
A minha pressa acabou, o compromisso pode esperar, mas a
expectativa saborosa não.
Entrei e logo senti um cheirinho atraente. Uma jovem bem simpática
me atendeu. Acho que ela percebeu que sou fissurado em pastel
crocante. Deve ter me visto focado no banner.
-Boa tarde! Quero aquele que vi no banner e também o copão de
garapa! – Disse ansioso
para saboreá-los.
-Senhor temos outras opções deliciosas de pastéis – Disse-me
mostrando o cardápio todo personalizado em vermelho com detalhes
em branco e com belas fotos de pastéis.
Tinha pastel para todos os gostos. De picadinho com palmito, de
quatro queijos, pastel de carne com queijo, filé ao molho madeira,
frango com catupiry, pastel de feijoada com molho de
limão, de milho com bacon, de strogonoff, frango com palmito ao
molho de pimentinha, carne de sol com jambu, camarão picado ao
molho, dentre outras cores e sabores de brilhar os olhos, alagar
a boca e encantar o estômago.
-Quero aquele do banner! - Falei decidido e apontando para o local
onde estava o marketing.
Preciso sentir este sabor excêntrico. Gosto do recheio tradicional,
especialmente os de carne bovina e frango. Também sou daqueles
que a onde dá para colocar queijo, estou acrescentando. Você
Gotas Literárias 16
também é assim? Gosta de queijo? Ainda mais combinando com a
calabresa!
É nocaute.
Passaram-se 10 minutos que pareciam uma eternidade...
-Vai demorar?
-Vai não, o seu é o próximo!
A primeira mordida foi caprichada, do tamanho da vontade. Detonei
20% do salgado. Senti o estralejar do pastel nos dentes, 100%
crocante e recheio transbordante onde se destaca a combinação de
ingredientes regionais.
-Éeeegua de pastel, imponderável, imensurável, intangível,
incomensurável!
Não lhe faltam adjetivos categóricos, muito menos amor no preparo
da receita. Ao degustá-lo lentamente, extraio toda esta receita
brasileira, percebendo que a vida, por mais difícil que seja,
tem muito sabor.

Gotas Literárias 16

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