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P r e f á cio d e A n a M ar ia H a d da d B ap t is t a

Dom Casmurro
M a c h a d o d e A s s i s
Câmara dos Deputados Academia Brasileira de Letras
56ª Legislatura | 2019-2023 Diretoria

Presidente Presidente
Rodrigo Maia Marco Lucchesi
1º Vice-Presidente Secretário-Geral
Marcos Pereira Merval Pereira
2º Vice-Presidente Primeira-Secretária
Luciano Bivar Ana Maria Machado
1ª Secretária Segundo-Secretário
Soraya Santos Edmar Bacha
2º Secretário Tesoureiro
Mário Heringer José Murilo de Carvalho
3º Secretário
Fábio Faria
4º Secretário
André Fufuca
1º Suplente
Rafael Motta
2ª Suplente
Geovania de Sá
3º Suplente
Isnaldo Bulhões Jr.
4º Suplente
Assis Carvalho

Secretário-Geral da Mesa
Leonardo Augusto de Andrade Barbosa
Diretor-Geral
Sergio Sampaio Contreiras de Almeida
Câmara dos
Deputados

Série Prazer de Ler

Dom Casmurro
Machado de Assis

Prefácio de Ana Maria Haddad Baptista

2ª edição

edições câmara
Câmara dos Deputados
Diretoria Legislativa: Afrísio de Souza Vieira Lima Filho
Centro de Documentação e Informação: André Freire da Silva
Coordenação Edições Câmara dos Deputados: Ana Lígia Mendes

Editor: Wellington Brandão


Revisão: Jaynne Lima e Luzimar Gomes de Paiva
Projeto gráfico: Giselle Sousa e Thiago de Lima Gualberto
Capa: Thiago de Lima Gualberto
Ilustrações: Diego Moscardini
Diagramação: Giselle Sousa

2016, 1ª ed. e 1ª reimpr.; 2017, 1ª ed. 2ª reimpr.; 2018, 1ª ed. 3ª reimpr.

Linha Cidadania, Série Prazer de Ler.


SÉRIE
Prazer de Ler
n. 7 papel
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
Coordenação de Biblioteca. Seção de Catalogação.
Mariangela Barbosa Lopes – CRB: 1731

Assis, Machado de, 1839-1908.


Dom Casmurro [recurso eletrônico] / Machado de Assis ; prefácio de Ana Maria Haddad Baptista.
– 2. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2019. – (Série prazer de ler ; n. 7
e-book)

Versão e-book.
Modo de acesso: livraria.camara.leg.br.
Disponível, também, em formato impresso.
ISBN 978-85-402-0789-9

1. Literatura, Brasil. I. Título. II. Série.

CDU 869.0(81)

ISBN 978-85-402-0788-2 (papel) | ISBN 978-85-402-0789-9 (e-book)

Direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/2/1998.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem prévia autorização
da Edições Câmara.
Venda exclusiva pela Edições Câmara.

Câmara dos Deputados


Centro de Documentação e Informação – Cedi
Coordenação Edições Câmara – Coedi
Palácio do Congresso Nacional – Anexo 2 – Térreo
Praça dos Três Poderes – Brasília (DF) – CEP 70160-900
Telefone: (61) 3216-5833
livraria.camara.leg.br
Apresentação
O clássico é inevitável, algo que não podemos conhecer apenas de ou-
vir falar. Mesmo quando não nos identificamos com ele, a experiência de
conhecê-lo é válida e serve como referencial até mesmo para o posiciona-
mento contrário.
Quando se trata de livros, nada pode esgotar ou substituir os clássicos. Eles
são indispensáveis para a construção da identidade nacional: por meio deles é
possível conhecer a herança cultural e a alma coletiva de uma sociedade.
Segundo Monteiro Lobato, “um país se faz com homens e livros”.
Podemos extrapolar e dizer que os sonhos de uma nação se tecem em sua
literatura. A cada nova leitura dessas obras, os sentidos ali registrados se
renovam, iluminando o passado, contrastando-se com o presente e enrique-
cendo as aspirações para o futuro. Assim, mais que a história, a literatura é o
testemunho palpitante de um povo.
É por esta razão que a Série Prazer de Ler traz os grandes clássicos dis-
poníveis em domínio público. Nela, são contemplados os principais títulos
dos maiores autores brasileiros. A Edições Câmara busca, dessa forma, con-
tribuir com o desenvolvimento da cultura nacional, compartilhando o nosso
patrimônio literário com uma roupagem moderna para leitores de todas as
faixas etárias.
Os títulos da série estão disponíveis na Livraria da Câmara (livraria.
camara.leg.br), onde é possível comprar a obra impressa ou fazer download
gratuito do seu formato digital. Além disso, essas publicações podem ser
baixadas nas lojas Amazon, Google, Apple e Kobo.
Boa leitura!

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MACHADO DE ASSIS •5•


Machado de Assis: pelos subterrâneos
da condição humana
O século XIX talvez tenha sido um dos momentos mais decisivos da his-
tória da humanidade. Século de grandes transformações. Queda de impé-
rios corroídos pelos gritos de identidade e liberdade. Avanços imponderáveis
nas ciências, assim como mudanças radicais em todas as esferas artísticas.
Particularmente no Brasil, visto que sua independência ocorreu, oficialmen-
te, em 1822, as mudanças e os anseios, em todos os sentidos, deram forma
a uma luta incansável por novos valores e uma literatura que, realmente,
desse conta de uma identidade mais brasileira. Foi em tal clima que nasceu
Joaquim Maria Machado de Assis em 1839 na cidade do Rio de Janeiro. Fale-
ceu na mesma cidade em 1908.
Machado de Assis foi um homem plural. Atuou em diversas esferas pú-
blicas na cidade do Rio de Janeiro. Grande jornalista e um dos principais
responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras em 1897, assim
como eleito, por unanimidade, seu primeiro presidente. Suas posições, em
inúmeros segmentos, eram firmes e, em geral, influenciavam a atmosfera
política, cultural e social da época.
O seu conjunto de obras, se optarmos por uma tipologia textual didáti-
ca, abrange crônicas, poesias, ensaios, peças de teatro, contos e romances.
Como afirma Marco Lucchesi:1

Cada um de nós traz uma ideia de Machado.


Ideia vaga, talvez, difusa, mas eminentemente sua, apaixonada e intrans-
ferível. Como se guardássemos um fino véu a se estender sobre a cidade
do Rio de Janeiro.
Paisagem pela qual vamos fascinados e diante de cuja natureza suspiramos.
Todo um rosário de ruas e de igrejas – Mata-cavalos, Santa Luzia, Latoeiros e
Candelária. Nomes e sonoridades perdidas. Morros derrubados. Praias ausen-
tes. Tudo o que perdemos move-se ainda nas páginas de uma cidade-livro.
Cheia de árvores e de contradições, por vezes dolorosas. Chácaras e quintais

1 LUCCHESI, Marco. Ficções de um gabinete ocidental: ensaios de história e literatura. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 97.

MACHADO DE ASSIS •7•


compridos. Aqueles mesmos quintais que assistiram aos amores de Bentinho
e Capitu e dentro de cuja educação sentimental nos formamos.

Se “cada um de nós traz uma ideia de Machado”, quase impossível não


imaginá-lo um homem profundamente apaixonado pela vida. Apaixonado
pela humanidade e comprometido com o Brasil. Haveria uma grande lacuna
na memória coletiva de nosso país se o conjunto de obras de Machado não
se fizesse presente. Nem por isso deixou de lado os seus amores e as suas
paixões pessoais:2

2 de março de 1869
Minha querida Carolina,
Recebi ontem duas cartas tuas, depois de dois dias de espera. Calcula o
prazer que tive, como as li, reli, e beijei! A minha tristeza converteu-se em
súbita alegria. Eu estava tão aflito por ter notícias tuas que saí do Diário
à uma hora para ir a casa e com efeito encontrei as duas cartas, uma das
quais deveria ter vindo antes, mas que, sem dúvida, por causa do correio,
foi demorada. [...]
Obrigado pela flor que mandaste; dei-lhe dois beijos como se fosse a ti
mesma, pois que apesar de seca e sem perfume, trouxe-me ela um pouco
de tua alma.

O fragmento da carta em questão, de Machado de Assis para Carolina


Augusta Xavier de Novais, nascida em Portugal, ilustra, em grande parte, sua
paixão por aquela que ficaria ao seu lado até a morte.
No entanto, como via de regra ocorre com a maioria das biografias, há
muitas inverdades a respeito da vida de Machado de Assis. Nas palavras es-
clarecedoras de Marco Lucchesi:

A ideia, por exemplo, de um menino mais pobre do que realmente foi e


de compleição mais frágil do que teve. E a lista seria longa: não consta
que Machado tivesse tentado apagar suas raízes ou que lhe faltasse amor
pela família; a existência da padaria Gallot, onde teria aprendido francês,
carece de documentação plausível; o primeiro poema que publicou não
foi “A palmeira”, mas “À Ilma. Sra. D. P. J. A.”; Carolina não ampliou as lei-
turas de Machado nem tampouco lhe aperfeiçoou o estilo; o espaço entre
a primeira e a segunda fase da obra, cuja fronteira seria Memórias póstumas

2 NÓBREGA, Isabel da, Cartas de amor de gente famosa. Estoril: Prime Books, 2009. p. 42.

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de Brás Cubas, deixou de ser vista como um abismo; não faltam árvores e
quintais no coração da narrativa e a natureza não está fora de seus qua-
dros, como também as cartas que escreveu não respiram frias distâncias;
por último, Machado jamais deixou de lado as questões políticas como o
caso Christie, a escravidão e a República.

Um dos pontos mais relevantes ressaltados por Lucchesi estaria, justa-


mente, na questão de se colocarem classificações, em especial, nos roman-
ces do autor. Machado de Assis possui um conjunto de obras muito diversifi-
cado. Seria muito impreciso dividir seus romances em fase romântica e fase
realista. Para um grande mestre da linguagem, como ele, não existem clas-
sificações. Rigorosamente, sabe-se, cada livro é um livro. Tal fato não nega
que as obras de Machado estejam dentro de um determinado período histó-
rico e literário. Trata-se, apenas, de esclarecer alguns processos, que julga-
mos fundamentais, para todos aqueles dignos de serem reconhecidos como
inovadores e arejadores da linguagem. Justamente um dos principais objeti-
vos da literatura. O que se pode afirmar, com mais segurança, é que todo e
qualquer escritor possui algumas obras em que a maturidade, em todos os
graus, é percebida de maneira mais clara.
Nas palavras de Machado:3

Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia de feitiço, precário
e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos
da criação. Era isso Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante,
pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma de-
voção, – devoção, ou talvez medo; creio que medo.
Aí tem o leitor em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoa que de-
via influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos. Tu que
me lês, se ainda fores viva, quando estas páginas vierem à luz, – tu que me
lês, Virgília amada, não reparas na diferença entre a linguagem de hoje e a
que primeiro empreguei quando te vi? [...] Cada estação da vida é uma edi-
ção, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição de-
finitiva, que o editor dá de graça aos vermes.

Observe-se que nada como a expressão do grande mestre para que se en-
tendam melhor as questões de maturidade, não somente intelectual, mas de
tantas outras fases de nossa vida que se interseccionam e, efetivamente, nos

3 ASSIS, Machado. Memórias póstumas de Brás Cubas. Brasília: Edições Câmara, 2018. p. 58.

MACHADO DE ASSIS •9•

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