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EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1726804 - RJ (2018/0018687-8)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO


EMBARGANTE : J&F INVESTIMENTOS S.A
ADVOGADOS : JOSÉ CARLOS VAZ E DIAS - RJ147683
THIAGO LOMBARDI CAMPOS DA COSTA - RJ174834
RAPHAEL FALCÃO ARGÔLO - RJ160755
EMBARGADO : DRAGAO QUIMICA INDUSTRIA E COMERCIO LTDA
ADVOGADOS : ELIANE YACHOUH ABRÃO - SP028250
PEDRO PEREIRA DE ALVARENGA NETO E OUTRO(S) -
SP275935

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


RECURSO ESPECIAL. RECURSO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO
NCPC. OMISSÃO, OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OU ERRO
MATERIAL. INEXISTÊNCIA. NULIDADE. CERCEAMENTO DE
DEFESA. INOCORRÊNCIA. PEDIDO DE ADIAMENTO DE SESSÃO
DE JULGAMENTO. INDEFERIMENTO. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO A
DEFESA. PARTE REPRESENTADA POR MAIS DE UM ADVOGADO
COM OS MESMOS PODERES DE ATUAÇÃO. PRETENSÃO DE
REJULGAMENTO DA CAUSA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. Aplica-se o NCPC a este recurso ante os termos do Enunciado
Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de
9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015
(relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016)
serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do
novo CPC.
2. Os embargos de declaração destinam-se a suprir omissão, afastar
obscuridade ou eliminar contradição eventualmente existentes no
julgado combatido, bem como corrigir erro material.
3. Ausentes as hipóteses do art. 1.022 do NCPC, não merecem
acolhimento os embargos de declaração que têm nítido caráter
infringente.
4. O pedido de adiamento da sessão de julgamento, por
impossibilidade de comparecimento do advogado da parte não
constitui causa de omissão, contradição ou mesmo de nulidade no
julgado. Hipótese em que havia outra causídica substabelecida para
representar a parte e com poderes para realizar o ato. Ausência de
prejuízo a sua defesa.
5. Reconhecimento na origem da inexistência de prática de
concorrência desleal entre a utilização da trade dress bem como que
as marcas conviviam harmonicamente desde a década de 70, sem
nenhum embaraço ou contrariedade na utilização das roupagens.
6. Pretensão de rejulgamento do feito. Impossibilidade.
7. Embargos de declaração rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em
sessão virtual de 03/11/2022 a 09/11/2022, por unanimidade, rejeitar os embargos de
declaração, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo
Villas Bôas Cueva e Marco Aurélio Bellizze votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.

Brasília, 09 de novembro de 2022.

Ministro MOURA RIBEIRO


Relator
EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1726804 - RJ (2018/0018687-8)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO


EMBARGANTE : J&F INVESTIMENTOS S.A
ADVOGADOS : JOSÉ CARLOS VAZ E DIAS - RJ147683
THIAGO LOMBARDI CAMPOS DA COSTA - RJ174834
RAPHAEL FALCÃO ARGÔLO - RJ160755
EMBARGADO : DRAGAO QUIMICA INDUSTRIA E COMERCIO LTDA
ADVOGADOS : ELIANE YACHOUH ABRÃO - SP028250
PEDRO PEREIRA DE ALVARENGA NETO E OUTRO(S) -
SP275935

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


RECURSO ESPECIAL. RECURSO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO
NCPC. OMISSÃO, OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OU ERRO
MATERIAL. INEXISTÊNCIA. NULIDADE. CERCEAMENTO DE
DEFESA. INOCORRÊNCIA. PEDIDO DE ADIAMENTO DE SESSÃO
DE JULGAMENTO. INDEFERIMENTO. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO A
DEFESA. PARTE REPRESENTADA POR MAIS DE UM ADVOGADO
COM OS MESMOS PODERES DE ATUAÇÃO. PRETENSÃO DE
REJULGAMENTO DA CAUSA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. Aplica-se o NCPC a este recurso ante os termos do Enunciado
Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de
9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015
(relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016)
serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do
novo CPC.
2. Os embargos de declaração destinam-se a suprir omissão, afastar
obscuridade ou eliminar contradição eventualmente existentes no
julgado combatido, bem como corrigir erro material.
3. Ausentes as hipóteses do art. 1.022 do NCPC, não merecem
acolhimento os embargos de declaração que têm nítido caráter
infringente.
4. O pedido de adiamento da sessão de julgamento, por
impossibilidade de comparecimento do advogado da parte não
constitui causa de omissão, contradição ou mesmo de nulidade no
julgado. Hipótese em que havia outra causídica substabelecida para
representar a parte e com poderes para realizar o ato. Ausência de
prejuízo a sua defesa.
5. Reconhecimento na origem da inexistência de prática de
concorrência desleal entre a utilização da trade dress bem como que
as marcas conviviam harmonicamente desde a década de 70, sem
nenhum embaraço ou contrariedade na utilização das roupagens.
6. Pretensão de rejulgamento do feito. Impossibilidade.
7. Embargos de declaração rejeitados.

RELATÓRIO

J&F PARTICIPAÇÕES S.A. (J&F) ajuizou ação inibitória por violação a


direito de marca e prática de concorrência desleal, cumulada com indenização por
perdas e danos e antecipação de tutela contra DRAGÃO QUÍMICA INDÚSTRIA E
COMÉRCIO LTDA. (DRAGÃO), a fim de compelir esta última a se abster de usar os
produtos e materiais informativos ou publicitários que contenham o sinal TRATEX,
idênticos ao produto NEUTROX, além de condená-la ao pagamento de indenização por
danos morais e materiais decorrentes do uso indevido da marca.

Os pedidos foram julgados procedentes (e-STJ, fls. 650/654).

DRAGÃO interpôs apelação que foi parcialmente provida, conforme a seguir


ementado (e-STJ, fls. 796/811):

DIREITO EMPRESARIAL. TRADE DRESS. PARASITISMO


COMERCIAL. INOCORRÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE IMITAÇÃO
SERVIL A CONFIGURAR ATO DE CONCORRÊNCIA DESLEAL.
TENDÊNCIA DE MERCADO. AUSÊNCIA DE INEDITISMO E DE
DIREITO À EXCLUSIVIDADE NA UTILIZAÇÃO DOS
SINAIS/ELEMENTOS QUE FORMAM O CONJUNTO VISUAL DOS
PRODUTOS. AUSÊNCIA DE ILICITUDE. INOCORRÊNCIA DE
DANOS MORAIS E MATERIAIS. PROVIMENTO PARCIAL DO
RECURSO. As partes opuseram embargos de declaração que foram
rejeitados (e-STJ, fls. 861/866 e 861/866).

J&F interpôs recurso especial, com fundamento no art. 105, III, a, da


Constituição Federal, sustentando, em síntese, violação dos arts. 130, III, e 195, III, da
Lei nº 9.279/96 e do art. 373 do NCPC, ante a comprovação, nos autos, da notoriedade
e anterioridade no uso da marca e trade dress de NEUTROX, a autorizar a proteção
legal contra a concorrência desleal praticada por DRAGÃO, em relação ao uso e
exploração comercial da marca TRATEX (e-STJ, fls. 868/892).

DRAGÃO ofertou contrarrazões (e-STJ, fls. 930/977).

Inadmitido na origem (e-STJ, fls. 981/983), foi interposto agravo em recurso


especial (e-STJ, fls. 1.004/1.020), o qual conheci para determinar a sua autuação como
recurso especial (art. 253, II, d, do Regimento Interno do STJ – e-STJ, fls. 1.082/1.083).

Por acórdão desta Terceira Turma, de minha relatoria, foi negado provimento
ao recurso especial, nos termos da ementa abaixo transcrita (e-STJ, fls. 1.103/1.117):

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


MANEJADO SOBRE A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO INIBITÓRIA.
VIOLAÇÃO A DIREITO DE MARCA. IMITAÇÃO DE TRADE DRESS.
CONCORRÊNCIA DE DESLEAL. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE
INEDITISMO, CONFUSÃO AO CONSUMIDOR OU DESVIO DE
CLIENTELA. RECONHECIMENTO PELO TRIBUNAL CARIOCA.
REVOLVIMENTO DA MATÉRIA FÁTICA. ÓBICE DA SÚMULA 7, STJ.
SUPRESSIO. PERDA DO DIREITO DE APROPRIAR-SE DA
ROUPAGEM, POR CARÊNCIA DE ÂNIMUS. CONVIVÊNCIA
HARMÔNICA ENTRE AS MARCAS, HÁ MAIS DE QUARENTA ANOS.
RECURSO IMPROVIDO. MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS. ART.
85, § 11, NCPC.
1. Recurso interposto na vigência do NCPC, razão pela qual devem
ser exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma nele
prevista, nos termos do Enunciado Administrativo nº 3 aprovado pelo
Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016:Aos recursos interpostos com
fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de
18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade
recursal na forma do novo CPC.
2. Para a caracterização da infringência de marca, não é suficiente que
se demonstrem a semelhança dos sinais e a sobreposição ou
afinidade das atividades. É necessário que a coexistência das marcas
seja apta a causar confusão no consumidor ou prejuízo ao titular da
marca anterior, configurando concorrência desleal. Precedentes.
3. A doutrina criou parâmetros para a aplicação do 124, XIX, da Lei nº
9.279/96 ao caso concreto, listando critérios para a avaliação da
possibilidade de confusão de marcas: a) grau de distintividade
intrínseca delas; b) grau de semelhança entre elas; c) legitimidade e
fama do suposto infrator; d) tempo de convivência delas no mercado;
e) espécie dos produtos em cotejo; f) especialização do público-alvo; e
g) diluição.
4. Com base nos elementos fático-probatórios dos autos, o Tribunal de
origem concluiu pela inocorrência de concorrência desleal pela marca
TRATEX em relação a marca NEUTROX, já que convivem desde os
anos 70.
5. Falta de originalidade/pioneirismo e vulgarização das roupagens
utilizadas, que seguiram as tendências de mercado, como outras
tantas marcas do mesmo segmento, não havendo se falar em
confusão ou má-associação entre os consumidores.
6. A revisão do entendimento firmado na instância ordinária atrai a
incidência da Súmula nº 7 do STJ.
7. Hipótese que se subsome a supressio, por carência de animus na
defesa do trade dress. Inércia que culminou na perda do próprio direito
de apropriação do conjunto-imagem. Convivência harmônica entre as
marcas há mais de quarenta anos, sem notícias de litígio ou conflito,
no período. Ausência de concorrência real entre as marcas.
8. Não provimento do recurso, com majoração dos honorários, nos
termos do art. 85, § 11 do NCPC, não sendo aplicável, no caso, o
limite previsto no § 2º do mesmo artigo porque a verba honorária foi
fixada com base em equidade (art. 20, 4º do CPC/73).

Contra o acórdão, J&F opôs estes embargos de declaração, alegando, em


síntese, que: (1) houve omissão no julgado quanto ao pedido de adiamento da sessão
de julgamento, para que o advogado Dr. José Carlos Vaz e Dias, principal advogado do
caso e impedido de comparecer na data designada, pudesse fazer sua sustentação
oral; (2) o julgamento estabelece uma situação diametralmente oposta ao que nossa
melhor doutrina prescreve; (3) houve obscuridade pela afirmação de que não haveria
exclusividade e nem direito de proteção em razão da suposta permissão que a
Embargante deu, no passado, para outras marcas que cometeram a mesma violação;
e (4) existem provas nos autos que comprovam a anterioridade da marca NEUTROX (e
esse era o direito alegado), não havendo razão para se comprovar pioneirismo, sendo
cabível ao titular da marca zelar pela sua integridade, em caso de tentativa de desvio
de clientela (e-STJ, fls. 1.121/1.181).
Foram apresentadas contrarrazões (e-STJ, fls. 1.183/1.191).
É o relatório.

VOTO

Os embargos de declaração devem ser rejeitados.

Inicialmente, vale pontuar que o presente recurso integrativo foi interposto


contra acórdão publicado na vigência do NCPC, razão pela qual devem ser exigidos os
requisitos de admissibilidade recursal na forma nele prevista, nos termos do Enunciado
Administrativo n.º 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos
recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a
partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal
na forma do novo CPC.

Nos termos do art. 1.022 do NCPC, os embargos de declaração se destinam


a suprir omissão, afastar obscuridade, eliminar contradição ou sanar erro material
existente no julgado, podendo-lhes ser atribuídos, excepcionalmente, efeitos
infringentes, quando algum desses vícios for reconhecido.

De acordo com a jurisprudência desta Corte, a contradição ou a obscuridade


remediáveis por embargos de declaração são aquelas internas ao julgado embargado,
devido à desarmonia entre a fundamentação e as conclusões da própria decisão.

Já a omissão que enseja o oferecimento de embargos de declaração


consiste na falta de manifestação expressa sobre algum fundamento de fato ou de
direito ventilado nas razões recursais, o que não se vislumbra no presente caso.

Nas razões destes aclaratórios, J&F alegou que houve omissão no julgado,
pelo indeferimento de seu pedido de adiamento da sessão de julgamento, o que, em
seu entendimento, ocasionou cerceamento a sua defesa.
Segundo sustentou (e-STJ, fls. 1.122 e 1.125):

Não houve qualquer consideração acerca do pedido formulado pelo


patrono da Embargante, a despeito da comprovação do impedimento
de seu patrono de comparecer ao julgamento, e mesmo da informação
que pretendia fazer uso da palavra, com apresentação de memorais e
sustentação oral.
Não se trata de mero capricho.
O Dr. José Carlos Vaz e Dias é o principal advogado da Embargante,
que realizou todos os atos de blindagem da marca e conjunto de
imagem da NEUTROX desde antes da propositura desta ação, há 11
anos atrás.
(...)
O indeferimento do pedido de adiamento provocou-lhe imediato
prejuízo: impedido de atuar, seu patrono não pode trabalhar pelo
sucesso de seu recurso, o que poderia ser decisivo para o bom
resultado. Por outro lado, o adiamento não representaria qualquer
prejuízo, já que não houve pedido de sustentação oral pela parte
adversa (e ainda que houvesse, pelo princípio da isonomia, há
previsão legal que ainda assim resguardaria os interesses da
Embargante).

Contudo, sem razão.


Não se verifica nenhum prejuízo à defesa de J&F.
Ainda que o Dr. José Carlos Vaz e Diaz seja considerado pela parte o
principal advogado do caso e mais tarimbado, verifica-se que o referido causídico, ao
interpor este recurso especial, ofertou substabelecimento para a advogada Dra.
Fabiana Marcello Gonçalvez Mariotti, autorizando-a a praticar todos os atos
necessários para a defesa dos interesses da embargante (e-STJ, fl. 93).

Portanto, possuindo os mesmos poderes de atuação, a aludida patrona


poderia realizar a sustentação oral, não se justificando o adiamento da sessão de
julgamento, tampouco prejuízo a sua defesa.

Ademais, conforme já decidiu o STJ:

PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO. SUSTENTAÇÃO ORAL.


ADIAMENTO. FALTA DE DECISÃO. NULIDADE. NÃO
OCORRÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. REJEIÇÃO.
1 - A falta de decisão acerca de pleito, visando adiar sessão de
julgamento, não enseja nulidade, porquanto o pedido de sustentação
oral tem o único efeito de imprimir ao processo respectivo uma
preferência de julgamento na sessão originariamente agendada,
da qual as partes e seus advogados já estão devidamente
cientificados.
O adiamento a pedido de advogado de apenas uma das partes
somente tem cabimento na hipótese de comprovado e justo
motivo que impeça o causídico de comparecer à sessão de
julgamento; caso contrário o pleito deverá ser intentado pelos
advogados de ambas as partes, sob pena de violação ao
contraditório.
2 - Não ocorrentes as hipóteses insertas no art. 535 do CPC,
tampouco equívoco manifesto no julgado recorrido, não merecem
acolhida os embargos.
3 - Embargos rejeitados.
(EDcl no REsp n. 520.547/SP, relator Ministro Fernando Gonçalves,
Quarta Turma, julgado em 16/12/2003, DJ de 16/2/2004, p. 266 - sem
destaques no original)

Assim, rejeito a alegada omissão e contradição no julgado.


No tocante aos demais argumentos desenvolvidos nestes
aclaratórios, verifica-se a nítida pretensão de rejulgamento do feito, o que não se presta
nesta seara recursal que visa apenas ao esclarecimento do julgado, nas hipóteses
previstas no art. 1.022, do CPC/15.

O acórdão embargado apreciou, com clareza e coerência,


concluindo, fundamentadamente que para a caracterização da infringência de marca,
por usurpação ou arremedo de sua “roupagem”, não é suficiente que se demonstrem a
mera semelhança de cores, embalagens, sinais, sobreposição ou afinidade das
atividades. É necessário que o ato apontado como desleal seja de tal relevância
que a coexistência das marcas, em decorrência da identidade de suas 'trade
dresses', cause confusão no consumidor ou prejuízo ao titular da marca anterior,
a impor uma ação do Estado a fim de reprimir a conduta (e-STJ, fl. 1.108 - grifos
originais).

E concluiu que, na hipótese, o Tribunal fluminense, soberano na análise de


provas e fatos constantes dos autos, bem como, amparado pelos critérios legais e
doutrinários, decidiu que, apesar das características de notoriedade e similaridade
entre os produtos comercializados pelas partes, não houve prática de concorrência
desleal por parte da DRAGÃO em relação a J&F, seja por falta de originalidade e
pioneirismo seja pela própria vulgarização da roupagem utilizada, não havendo se
falar em confusão ou má-associação entre os consumidores (e-STJ, fls.
1.111/1.112 - com destaque no original).

Por outro lado, reconheceu-se aqui nesta Corte a presença da supressio,


pois a ausência de defesa, embaraço ou irresignação na utilização da trade dress, por
décadas - frise-se, o TJRJ consignou que desde os anos 70 as referidas marcas
utilizam tais conjunto-imagens (e-STJ, fls. 800/802) – importou o falecimento do
interesse na defesa desse direito, por carência de animus por parte da J&F (e-STJ, fl.
1.115).
Nada mais claro, portanto.
Repise-se, os embargos de declaração constituem recurso de estreitos
limites processuais, somente sendo cabíveis nas hipóteses previstas no art. 1.022 do
NCPC, ou seja, para sanar omissão, contradição, obscuridade ou corrigir erro material
no acórdão, o que não ocorreu no caso presente.

A mera veiculação de inconformismo não é finalidade a que se prestam.

Nesse sentido, confiram-se os precedentes:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO


OU OMISSÃO OU ERRO MATERIAL. INEXISTÊNCIA. VIOLAÇÃO DO
ART. 1.022 DO CPC/2015. NÃO OCORRÊNCIA.
1. Rejeitam-se os embargos declaratórios quando, no acórdão
embargado, não há nenhum dos vícios previstos no art. 1.022 do
CPC/2015.
2. Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl no AgRg no AREsp 214.812/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO
DE NORONHA, Terceira Turma, julgado em 19/5/2016, DJe
24/5/2016)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DOS
REQUISITOS DO ART. 1.022 E INCISOS DO CPC DE 2015.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. Depreende-se do artigo 1.022, e seus incisos, do novo Código de
Processo Civil que os embargos de declaração são cabíveis quando
constar, na decisão recorrida, obscuridade, contradição, omissão em
ponto sobre o qual deveria ter se pronunciado o julgador, ou até
mesmo as condutas
descritas no artigo 489, parágrafo 1º, que configurariam a carência de
fundamentação válida. Não se prestam os aclaratórios ao simples
reexame de questões já analisadas, com o intuito de meramente dar
efeito modificativo ao recurso.
2. No caso dos autos não ocorre nenhuma das hipóteses previstas no
artigo 1.022 do novo CPC, pois o acórdão embargado apreciou as
teses relevantes para o deslinde do caso e fundamentou sua
conclusão.
[...]
5. Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl no AgRg no AREsp 817.655/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, Quarta Turma, julgado em 19/5/2016, DJe 27/5/2016)

Como consequência, afasta-se a existência dos vícios referidos no julgado


aqui embargado.

Se J&F não se conforma com a fundamentação do julgado, não há que ser


por meio de embargos de declaração que logrará obter a sua reforma.

Ademais, como ressaltado pelo e. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE, no


julgamento do EDcl no AgRg no AREsp n.º 468.212/SC, [...] não cabe a este Superior
Tribunal, que não é órgão de consulta, responder a 'questionários', tendo em vista que
os aclaratórios não apontam de concreto nenhuma obscuridade, omissão ou
contradição no acórdão, mas buscam, isto sim, esclarecimentos sobre situação que os
embargantes consideram injusta em razão do julgado.

Portanto, o que se verifica é o mero inconformismo da parte.

Dessa forma, mantém-se o aresto embargado, porque não há motivos para


a sua alteração.

Nessas condições, pelo meu voto, REJEITO os presentes embargos de


declaração.

É o voto.
TERMO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
EDcl no REsp 1.726.804 / RJ
Número Registro: 2018/0018687-8 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
04794876320118190001 201724504104

Sessão Virtual de 03/11/2022 a 09/11/2022

Relator dos EDcl


Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : J&F INVESTIMENTOS S.A


ADVOGADOS : JOSÉ CARLOS VAZ E DIAS - RJ147683
THIAGO LOMBARDI CAMPOS DA COSTA - RJ174834
RAPHAEL FALCÃO ARGÔLO - RJ160755
RECORRIDO : DRAGAO QUIMICA INDUSTRIA E COMERCIO LTDA
ADVOGADOS : ELIANE YACHOUH ABRÃO - SP028250
PEDRO PEREIRA DE ALVARENGA NETO E OUTRO(S) - SP275935

ASSUNTO : DIREITO CIVIL - RESPONSABILIDADE CIVIL

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

EMBARGANTE : J&F INVESTIMENTOS S.A


ADVOGADOS : JOSÉ CARLOS VAZ E DIAS - RJ147683
THIAGO LOMBARDI CAMPOS DA COSTA - RJ174834
RAPHAEL FALCÃO ARGÔLO - RJ160755
EMBARGADO : DRAGAO QUIMICA INDUSTRIA E COMERCIO LTDA
ADVOGADOS : ELIANE YACHOUH ABRÃO - SP028250
PEDRO PEREIRA DE ALVARENGA NETO E OUTRO(S) - SP275935

TERMO

A TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 03/11/2022 a 09


/11/2022, por unanimidade, decidiu rejeitar os embargos de declaração, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva e
Marco Aurélio Bellizze votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.
Brasília, 10 de novembro de 2022

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